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A motivação deste trabalho é compreender as transformações geracionais observadas nos álbuns de família ao longo do tempo. Para isso, foram investigadas as condições de produção, impressão e armazenamento de imagens de famílias brasileiras de diferentes origens, no período entre 1940 a 2020.
O envolvimento dos familiares dos integrantes do grupo foi essencial para desvendar um rico acervo de fotografias, cartas, convites e cartões postais, elementos oriundos da fonte mais íntima da história de uma família.
Por fim,foram realizadas reflexões acerca do declínio do hábito de construir esses acervos, a fim de compreender o papel desempenhado pelos telefones celulares e as redes sociais nesse fenômeno.





Maria Aparecida Ferreira de Freitas, 17 anos. Formatura para professora no colégio interno em Formiga,Minas Gerais.
O país dependia da importação de câmeras, lentes e outros materiais de produção, cuja disponibilidade foi impactada pela Segunda Guerra Mundial.
O pequeno acervo encontrado reflete o acesso limitado das famílias brasileiras à produção fotográfica nesse período histórico. Também evidencia a perda ou o desaparecimento de muitos desses registros ao longo dos anos.

A revelação de fotografias demandava laboratórios fotográficos especializados, comumente escassos fora dos grandes centros urbanos da região sul e sudeste do país.
A dificuldade de acesso à fotografia a tornava quase exclusiva para ocasiões especiais, como formaturas e casamentos. Além disso, o alto custo fazia com que fosse comum reunir várias pessoas em uma única foto.
Câmeras analógicas com filmes em preto e branco.
Encontrada em um porta-retrato na casa de sua filha mais velha, que a guardou de recordação em Piumhi, Minas Gerais.




Infância de Fermino Cardin em Lins, São Paulo. 1940


Essa foi a primeira foto tirada de Soraya Freitas depois do seu nascimento. Essa é a primeira e única foto encontrada de sua infância com sua mãe.



Câmeras portáteis como a Rolleiflex e a Leica também tornaram-se mais populares.



A década de 1950 foi um grande marco na incorporação da fotografia na vida cotidiana brasileira. Houve uma expansão dos estúdios fotográficos para além dos grandes centros urbanos, o que facilitou o acesso ao processamento de filmes.

Infância de Ana Rosa Vieira Cardin, no interior da Bahia.




Retratos 3x4 família Cardim

A infraestrutura para revelação e ampliação de fotografias continuou expandindo através dos estúdios fotográficos.

Família Takagi


Toda a família Freitas.

É possível encontrar fotografias com poses repetidas, o que sugere algumas melhorias em relação à escassez produtiva. No entanto, essa questão não foi totalmente superada, como evidencia a permanência do hábito de reunir grandes grupos em uma única foto.

A fotografia brasileira viveu um momento de expansão e diversificação, influenciada pelo contexto de modernização. A popularização de câmeras portáteis como a Kodak, Instamatic e a Polaroid facilitou o registro amador de momentos cotidianos.



Primeiros indícios de fotografia colorida. Preto e branco permanece sendo predominante.










“
Como você fez esse ensaio dos seus filhos Era muito caro, e eu não contratei o fotógrafo pelo telefone. Eles passavam de casa em casa aqui na rua e ofereceram o ensaio de foto de criança. Não tinham opção colorida, só preto e branco. Nós tínhamos uma câmera só nossa, da kodak. A gente usava pra tirar foto de viagem e foto da casa. Para imprimir as fotos íamos às lojas para revelar, na época a retes era muito popular. Ter uma foto do seu casamento era uma coisa importante, uma questão de status.”





Ensaio de fotos profissional dos filhos de Ivone Maria da Silva, Luciano Augusto Moreira da Silva e Ana Cristina. Belo Horizonte, 1976.


“
Até a década de 70 era difícil o acesso à fotografia porque eram câmeras manuais, então poucas pessoas tinham câmeras em casa. Por isso, na infância do meu pai, não tiravam fotos com frequência. Acho que era mais ou menos 1 ou 2 reais para revelar cada foto, o que eu acho caro. Ao ver as fotos sinto nostalgia, me transporto a esses momentos. E espero que as próximas gerações que encontrarem esses álbuns valorizem essas lembranças”

Aniversário de 1 ano de Reinaldo Tomiyama, 3 de novembro de 1971.

Reinaldo e Esther Tomiyama, natal de 1972.










Fotos diversas dos anos 70. Interior de São Paulo, Interior de Minas Gerais, Belo Horizonte, Curitiba.




À direita, Luciano Augusto Moreira da Silva segura uma câmera Kodak Instamatic






A câmera Kodak Instamatic, um modelo que revolucionou o mercado fotográfico ao tornar a fotografia mais acessível e prática para o público geral, especialmente para famílias e amadores. Compacta e fácil de manusear, a Instamatic conquistou popularidade graças ao seu design portátil e funcionalidade simplificada. Entre seus diferenciais, destacava-se o flash embutido, que facilitava o registro de momentos em diversas condições de iluminação.

Cibele Cardin e suas amigas no parque, no interior de São Paulo.


















“
Eu trabalhava num jornal e meu chefe esqueceu a câmera comigo. Eu já disse “corre gente, vamos nos produzir e gastar esse filme”. Então eu e minhas cunhadas (Ana Cristina e Cristiana Moreira) nos arrumamos e tiramos fotos pela casa”


Nos anos 90, houve inovações tecnológicas acerca das câmeras.Era possível utilizar recursos automáticos que facilitaram o manuseio dos equipamentos ao capturar as fotos e a qualidade das imagens progrediu bastante. As câmeras digitais começam a entrar no mercado, porém com preços muito acima da média. Por esse motivo, os filmes de 35mm ainda eram os favoritos. Os laboratórios fotográficos passaram a ser mais acessíveis, com o custo da impressão um pouco mais baixo comparado à década anterior.



































A década de 2000 foi uma cheia de transformações tecnológicas marcantes e de imensa importância nas condições de produção de imagens caseiras, que revolucionou ambas as maneiras de se tirar as fotos mas também as de armazená-las.
No início da década, a fotografia amadora ainda era apoiada por câmeras analógicas descartáveis, com rolos de filme de 12, 24 ou 36 poses. Porém, com a digitalização do mundo a todo vapor, se popularizou o uso das câmeras compactas digitais. Iniciou-se o comércio das câmeras digitais com o lançamento de modelos como a Kodak DCS em 1991, por exemplo. Embora inovadoras, essas câmeras tinham preços extremamente altos e resoluções inferiores às câmeras analógicas da época. Nos anos 2000, a resolução das câmeras digitais aumentou significativamente, os preços começaram a cair e as câmeras digitais se tornaram um pouco mais acessíveis para o consumidor médio, especialmente no modelo compacto.

No final da década, ainda houve a ascensão da fotografia digital em celulares, mas com baixa qualidade (VGA e resoluções inferiores a 2 MP).

Quanto à distribuição e armazenamento das imagens, o armazenamento em álbuns físicos ainda era uma prática comum nos anos 2000, porém, o formato digital das fotos também permitiu o armazenamento de imagens em computadores, pen drives e HDs externos. Os álbuns de família, portanto, ficaram mais restritos a eventos e datas mais especiais, visto que o acesso dessas imagens agora também poderia ser feito nos computadores, marcando o início da queda do álbum físico. No fim da década, já era comum compartilhar imagens em CDs, virtualmente via e-mail e, eventualmente, em redes sociais da época como Orkut e Fotolog.



Festa do pijama, 2OO8

Parque Guanabara, Belo Horizonte, 2OO6

Marcela Freitas em celebração natalina


Patrícia Marinho de Barros em festa de formatura

Bolo em festa de aniversário de 5 anos de idade - 17 de setembro de 2OO6




Até o ano de 2009 e 2010 a Retes era uma empresa muito consolidada no mercado em Minas Gerais, ela tinha 65 anos de existência. Ela entrou num projeto de franquia e eu fui o primeiro franqueado da rede. Eu abri [uma loja], lá no bairro Mangabeiras, no fim da Avenida Afonso Pena, perto da Praça da Bandeira.
A revelação de fotos era predominante, mas já estavam entrando os smartphones bons do mercado (Iphone 3G, Iphone 3GS, Iphone 4). As fotos feitas em celular a resolução costumava ser em VGA, e elas não ficavam com a qualidade boa, apenas se impressas no tamanho 3X4.
Então a revelação ainda existia. Se a pessoa não tinha muita experiência em fotografia, ela acabava por tirar 12, 24 ou 36 fotos sem saber o que ia sair. Foi aí que os telefones celulares entraram: você pode tirar quantas fotos quiser com o seu celular ou câmera digital, e depois escolher a melhor para imprimir. A indústria fotográfica teve que se adaptar. O foco agora eram os fotopresentes: as canecas, os copos “feliz dia dos pais” “melhor mãe do mundo”, as camisas, os chaveiros.
Nesse meio tempo, muitas empresas não conseguiram acompanhar a crescente tendência da impressão de fotos digitais e queda da revelação das fotos, então elas fecharam no Brasil, como a Kodak. Já a Fuji se tornou a principal fornecedora de papel fotográfico no mundo.
Você acha que essa modernização técnica impactou no declínio da prática de produzir álbuns de família?
Sim. Muito muito muito. Eu mesmo devo ter 30 mil fotos arquivadas. E isso impacta negativamente na qualidade técnica das imagens, já que as fotos arquivadas no computador ou na galeria do celular perdem a qualidade com o passar do tempo. Isso deixa a definição da impressão em papel fotográfico pior quando comparada com a definição das fotos reveladas em filme.
Fotografia é arte. Da mesma forma como uma pintura, da mesma forma de quem vive de música, de poesia. É arte. E não é todo mundo que admira a fotografia, não é todo mundo que admira um quadro, não é todo mundo que admira um poema.
A surpresa da revelação estava justamente em não saber o que ia aparecer. Você precisava comprar um filme, que não era barato, para fazer uma revelação, que também não era barato. A surpresa da revelação estava justamente em não saber o que ia aparecer. “Será que aquela foto que tiramos juntos vai sair?” “Será que ficou legal?”. Então as pessoas tinham muito mais cuidado com o que iriam registrar. Não era qualquer abraço. Não era uma selfie qualquer. Tinha um zelo. E isso se perdeu.








Fotografias diversas dos anos 2010, econtradas em HD externos de armazenamento

Era das Redes Sociais

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“Para onde foi o álbum de família?” foi a pergunta que guiou nossa investigação. Apesar de nossas infâncias estarem repletas de registros fotográficos meticulosamente organizados em álbuns aparentemente intermináveis, percebemos que essa tradição está se tornando rara, quase extinta nos dias de hoje.
Para responder a essa questão, iniciamos explorando nossos próprios álbuns de família. Buscamos entender o que motivou sua criação, como foram feitos e qual era seu conteúdo. As conversas com nossos familiares nos ajudaram a compreender melhor o conceito de “álbum de fotos” e, consequentemente, a investigar o seu paradeiro atual.
A fotografia e, por extensão, o álbum de família, surgem de um desejo universal: eternizar o efêmero, capturar a alegria de um momento para que ele não seja perdido na fluidez do tempo. É uma tentativa humana de desafiar o esquecimento e de fixar na memória um instante de êxtase ou significado. Ao folhearmos esses álbuns, percebemos que o único padrão é a intenção de preservar algo que, de alguma forma, foi considerado digno de ser lembrado: apresentações de dança, formaturas, casamentos, aniversários, viagens, a primeira foto com um carro novo, crianças brincando, amigos rindo. A fotografia celebra tanto o trivial quanto o extraordinário, encapsulando lapsos temporais que já pertencem ao
Entretanto, ao revisitar esses álbuns, também se torna evidente como eles mudaram com o tempo. Há as diferenças gerais, como a evolução tecnológica, que trouxe maior nitidez e qualidade às fotos. Mas há também as mudanças particulares, perceptíveis nas histórias individuais. Por meio dos álbuns, é possível acompanhar o amadurecimento das pessoas: quando crianças, elas são frequentemente fotografadas por outros, quase sempre em contextos familiares; conforme crescem, amigos começam a ocupar mais espaço nas fotos, até que, em algum momento, o ciclo recomeça, com a criação de novas famílias e novos centros de memória.

Além de preservar memórias, a fotografia exerce um impacto profundo sobre quem a observa. Walter Benjamin, ao refletir sobre o paradoxo da fotografia, descreveu com precisão as contradições emocionais que ela desperta: ao mesmo tempo em que provoca nostalgia por um passado que já se foi, também causa um estranhamento por ser uma representação de algo que já não é mais. Esse sentimento foi recorrente em nossa experiência ao olhar para fotos antigas – ver crianças que agora são adultos ou adolescentes que hoje são idosos cria uma dissonância entre a realidade atual e aquela reprodução tão vívida de um instante
No entanto, a importância do álbum de fotos vai além de ser uma simples cápsula do tempo. O processo de sua criação é igualmente significativo: começa com a captura das imagens, seguida pela seleção das mais relevantes, pela adição de legendas – muitas vezes explicativas ou humorísticas – até culminar na composição final. O álbum, então, é compartilhado em um momento coletivo, onde sua apreciação é acompanhada de conversas
Hoje, muitas dessas etapas foram transferidas para as redes sociais, como o Instagram. Escolhemos quais fotos publicar, escrevemos legendas e as compartilhamos com nossos seguidores. Contudo, a transição para o meio digital mudou o caráter social dessa experiência. Se antes o álbum era mostrado em encontros presenciais, acompanhado de histórias e comentários, agora a apreciação das fotos ocorre de forma individual, através de telas de dispositivos eletrônicos. Essa mudança reflete um sintoma mais amplo da virtualização de nossas memórias, onde a interação coletiva dá lugar a curtidas e
Durante nossa pesquisa, no entanto, resgatamos essa dimensão social perdida ao interagir com nossos familiares. Questionar e dialogar sobre o contexto das fotos se tornou uma oportunidade de reconexão e uma redescoberta do papel do álbum de família como um elo





































































