Revista Estimuladamente Ano I |Edição 04 | DEZEMBRO 2018

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Contos de Família

realmente despido, pela primeira vez. “Ali eu estava vendo Roberto com as suas dificuldades, com seus limites, com suas qualidades, suas não-qualidades. Esse é meu companheiro. Olho para ele e me pergunto se é com ele que eu quero seguir o meu caminho”. Não precisamos chegar até o fim para saber que essa pergunta tem um “SIM” como resposta.

É preciso silêncio interior para entender o que se encontra pela frente. E tão certos de sua condição de peregrinos, em 2017, Moema e Roberto convidaram o filho Rodrigo, na época com 23 anos, recém saído da faculdade, para juntos fazerem o Caminho de Fátima e o Caminho Português. É claro que a disposição genética falou mais alto, Rodrigo topou e lá foram eles percorrer uma outra rota, desta vez, chegaram à Santiago de Compostela após 18 dias caminhando, saindo de Portugal em direção à Espanha. “Considero o papel dos pais muito importante na formação do indivíduo e às vezes na correria do dia-a-dia, muitos ensinamentos passam despercebidos. Quando estávamos no Caminho, estávamos juntos as 24h do dia, vivendo experiências muito intensas, é um aprendizado único”.

“Unidos no Caminho” aconteceu, como aconteceu a peregrinação: sem manipulação. Já era um hábito do casal fazer diário durante suas viagens. E quando retornaram com tantos registros e reflexões, surgiu a ideia de compilar e compartilhar em forma de livro. Claro que contaram com ajuda profissional de editores e revisores, mas tudo foi fruto do registro dos relatos após cada dia de caminhada, antes de se prepararem para o descanso. A publicação já circulou por boa parte da Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Ceará, Rio de Janeiro, além de Espanha, Portugal, Inglaterra e Argentina.

A relação entre os três sempre foi muito pautada no diálogo, participação e transparência. E a liberdade sempre predominou. Moema conta que ao iniciarem o Caminho juntos, ela, ritualisticamente, liberou o filho para que ele seguisse e fizesse o SEU Caminho. Lembrando ao marido, de que era importante que houvesse essa “permissão” dele também, para que o filho seguisse as suas escolhas livremente. “Acredito que o caminho te faz passar por situações de que você precisa para enfrentar a vida com mais consciência. Foi muito leve viver essa experiência com meus pais, nos divertimos muito”, comemora Rodrigo.

A narrativa e o próprio formato do livro, que traz as confissões de cada um deles, em cada dia, deixa claro as muitas diferenças de comportamento e visões de um e de outro. Roberto sempre mais atento às construções, descreve cada passagem com toda riqueza de detalhes e traz um humor inocente aos capítulos, que ao longo dos 30 dias vão se aprofundando em observações interessantes, que nos faz refletir. Moema, confiante e completamente entregue às sensações, paisagens e reflexões que o Caminho traz, nos relata experiências de grande aprendizado de suas relações com o meio e as pessoas e um profundo mergulho em nossas essências, enquanto seres humanos.

Segundo Roberto, a grande maioria das pessoas que fazem o Caminho de Santiago faz sozinha. Uma parte faz em casal, com amigos. É raro ver famílias juntas fazendo o Caminho de Santiago de Compostela. Na Bahia, que ele conheça, não há nenhum caso. “Fazer o caminho em família é diferente. É uma experiência muito edificante para a estrutura familiar”, opina Roberto.

“Passei a admirar mais ainda a presença de Moema no nosso relacionamento, principalmente por ver o quanto ela tem paciência para lidar com as minhas dificuldades”, declara-se Roberto. Não foram raros “Quando ele colocou o pé no caminho… Gente! os momentos registrados por ambos em seus diários, Como foi bonito ver Rodrigo no Caminho. Pra mim, em que ficou clara a parceria e a admiração entre os talvez, tenha sido a melhor visão”, emociona-se dois. “Tive a certeza de que era com ela que queria Moema. continuar no Caminho e na vida”, finaliza. Mas essa é outra história, de outro livro, que tomara, vire outro Conto de Família! Até a próxima.

Palavra de origem grega, ‘peregrinos’ são aqueles que andam “por campos”, em busca de algo que o caminho sempre traz. Ano 1 | dezembro 2018

Lais Nascimento jornalismo@estimuladamente.com.br

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