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Opinião - Guilherme Macalossi Caricatura de conservadorismo
GUILHERME MACALOSSI Apresentador do programa Bastidores do Poder, na Rádio Band
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CARICATURA DE CONSERVADORISMO
Oconservadorismo político caiu na boca do povo. Que pena. O que antes era circunscrito a certos círculos de estudos virou um rótulo, um slogan, uma peça de propaganda. Virou, portanto, tudo aquilo que o conservadorismo de Russell Kirk e Edmund Burke jamais foi. A natureza anti-ideológica dessa corrente de pensamento acabou pervertida em militância por gente que confunde a preservação de valores com a defesa de uma mentalidade tacanha. ceitos, muitas vezes instada de forma premeditada. E, apesar da necessidade de preservarmos costumes, é puro reacionarismo achar que a sociedade deve permanecer imobilizada e presa num passado idealizado.
É na falta de coesão e uniformidade de pensamento do conservadorismo brasileiro que atuam os demagogos e populistas de direita. Transformaram seus receios, suas conspiracionices e suas cafonices retóricas em dogmas ideológicos. Veem em qualquer ideia de sociedade plural uma ameaça ao que chamam de “família tradicional”, em qualquer modalidade de amparo social o ressurgimento do comunismo comedor de criancinhas, e em qualquer ideia de troca cultural um ataque à pátria.
Em "Política da Prudência”, Kirk exalta a ideia de transcendência, mas não no sentido que os beócios das redes sociais lhes dão. O conservador é, acima de tudo, o fiador da moldura institucional, que deve e pode ser modificada ou aperfeiçoada, mas a partir de princípios como a prudência e a razoabilidade. São esses os pressupostos para mudanças construtivas, que são alcançadas sempre
por meio da modera“ção do dissenso. Eis aí a necessidade de uma ordem legal a regrar a convivência humana por meio da representação e dos poderes constituídos. É isso ou cabeças rolando, como na França dos revolucionários jacobinos. Ao contrário da Europa, ou mesmo dos Estados Unidos, o Brasil nunca teve uma tradição conservadora unificada no campo da política. O nosso conservadorismo sempre foi moral e difuso, muito mais ligado à característica majoritariamente religiosa de nossa população. É daí que vem a confusão de con-
O nosso conservadorismo sempre foi moral e difuso, muito mais ligado à característica majoritariamente religiosa de nossa população. É daí que vem a confusão de conceitos, muitas vezes instada de forma premeditada Nossos sedizentes conservadores precisam de menos movimentos políticos, menos ativismo em redes sociais, e muito, muito mais estudo, reflexão e ponderação. Até aqui, o que eles conseguiram não foi a preservação de qualquer coisa que preste, apenas a produção de uma caricatura política medonha que não presta para nada.