Revista Ella

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A revista delas, feita por ellas, para todas elas

Laura Margutti Lorena Valeri Letícia Mares Guia Cecília Carrilho

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S A L L E S A L L E S E A S A L L E S A L L L E L S E S A L L E S A L a L l E l e s a l l e S LA Essa revista se configura e se posiciona como um jornalismo feminino e feminista. ELLA procura enfatizar histórias de mulheres que além de excelentes profissionais, têm suas fragilidades e próprias trajetórias no projeto de tornarem-se mulheres.

Além disso, existem os atravessamentos entre gênero e o mundo do trabalho; onde curiosamente mulheres não só passam pelo preconceito em todos os âmbitos, como também não parecem ser permitidas de se especializarem em profissão alguma.

Ciência, política, entretenimento e sexo. Todos os polos que são negligenciados quando operados por uma mulher e são construídos em nosso imaginário como inúteis dentro do universo feminino. Estamos aqui para produzir um jornalismo delas, feitos por ellas e para elas. As histórias de nossas entrevistadas e as temáticas trazidas por todas essas personalidades mostrarão que quando se é uma mulher, a ocupação de qualquer espaço é um ato revolucionário.

Mulheres extraordinárias com quem conversamos detalham suas carreiras para a Ella Heloísa Roberty, arquivo pessoal

Cíntia Milanese, reprodução: Instagram

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A astrônoma formada pela UFRJ Dra. Heloísa Roberty explica como é ser uma astrônoma no Brasil e a trajetória que uma mulher, em especial, percorre para isso. Valorizando a ciência e abrindo caminho para mais mulheres e meninas que queiram adentrar esse universo.

Cíntia Milanese, mulher preta e periférica pauta tópico tão complexo quanto os próprios preconceitos que enfrenta: a sexualidade e prazer feminino. A psicóloga especializada em sexologia conta o porquê desse ainda ser um assunto que gera tanto tabu.

Fernanda Baronne, reprodução: Instagram

Rebeca Zadra, reprodução: Instagram

Amanda Gondim, reprodução: Facebook

MÁRIO Fernanda Baronne e Rebeca Zadra, dubladoras renomadas, compartilham suas experiências na indústria do entretenimento.

Elas abordam sobre os desafios superados, enquanto também discutem as transformações ocorridas na indústria.

Por meio da conversa com as dubladoras, explora-se a evolução das personagens femininas em animações. É analisado os estereótipos e como as mudanças sociais são refletidas ao longo das décadas.

Enquanto os homens brancos cisgêneros sobram nos espaços políticos, as mulheres lésbicas e bissexuais brasileiras não sentem que têm seus interesses representados. Amanda Gondim conta como a realidade do país ainda é hostil para aquelas que se arriscam na política.

Sob a luz das estrelas

Letícia Mares Guia

“Eu fiquei fascinada com as distâncias e os tamanhos gigantescos. Essa grandeza e a coisa pequena que nós somos” Heloísa Maria Boechat-Roberty nascida em Três Pontas, Minas Gerais, é graduada em Astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973). Realizou mestrado em Engenharia Nuclear pela mesma universidade (1977) e doutorado em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (1990).

Seu amor pela astronomia nasceu com observação do céu, quando perto de sua casa ela se deitava no chão e contemplava as estrelas e a Via Láctea. Seu pai teve forte influência em sua infância e em fomentar seu interesse pela ciência, já que atuava como o médico da cidade. Para terminar o ginásio (correspondente ao atual ensino fundamental II), Heloisa

se mudou para Niterói no Rio de Janeiro, cidade onde também cursou conservatório de música. E foi no Rio de Janeiro, que já em época de prestar o vestibular, Heloisa descobriu na Universidade Federal do Rio de Janeiro o curso de Astronomia. Ela conta que a astronomia era muito pouco desenvolvida no Brasil à época.

Roberty cursou a graduação de quatro anos na UFRJ, com aulas que aconteciam tanto no Observatório do Valongo quanto na Ilha Universitária do Rio de Janeiro, conhecida como Ilha do Fundão.

Concomitantemente ao seu estudo de piano no conservatório. Ela se formou em 1973 astrônoma, no Rio de Janeiro. A Dra. explica o acesso a informações sobre astronomia na universidade, “Era

tudo muito precário, você quase não tinha acesso a livros, internet nem pensar. Tinha dificuldade, inclusive, com xerox porque não tinha cópia, tinha que ir para as bibliotecas. Então era tudo muito mais difícil. Eu sempre buscava, e acho que passei a ser meio autodidata, eu comecei a buscar informações, mesmo que não tinha. O curso não tinha tanta informação como eu gostaria”. Após se graduar ela ingressou no mestrado em Engenharia Nuclear na UFRJ pois, segundo a doutora, não existia mestrado ou doutorado em Astronomia no Rio de janeira no período. Ela explica que seu estudo em Engenharia Nuclear se voltou para as reações termonucleares dentro das estrelas. Posteriormente realizou o doutorado em São Paulo, em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.

se tornou diretora da instituição, cargo que ocupou até 2002.

Em 1980 a Dra. Heloisa se tornou professora efetiva na UFRJ e começou a colocar em prática o plano de fundar a pós-graduação na universidade, “Eu estava preocupada com isso, porque nós dávamos os cursos de graduação em astronomia, preparavamos os alunos de graduação, davamos todas as informações, faziamos iniciação científica, mas não tinhamos o mestrado e doutorado.

Aí entregavamos de bandeja. A USP já tinha o mestrado, e o Observatório Nacional também já tinha. Eu pensei, vou montar um curso de pós-graduação”. Roberty conseguiu que futuramente os programas de mestrado e doutorado fossem implementados no observatório, e em 1995 ela

A Dra. Heloisa finaliza falando sobre como ela conversa com suas alunas a respeito do futuro e transmite força com a mensagem: “O que eu sempre falo é que elas têm que escolher um tema e agarrar aquilo com todas as forças. Se dedicar muito. Eu acho que você tem que ter muita dedicação para conseguir as coisas. E, principalmente, gostar do que faz, aquela coisa do brilho no olho, tem que ter aquele brilho. Aquela vontade de fazer, porque se não tiver isso não adianta, você não faz”.

A Dra. Heloísa é uma inspiração para todas as mulheres e pessoas que querem adentrar o campo da ciência, que seu exemplo ilumine tão fortemente quanto o brilho das estrelas.

Roberty conta que ao construir uma carreira, sendo uma mulher na área da astronomia, ela se deparou com o machismo, no entanto relata que no ambiente universitário a situação não era tão agravada, “Na universidade a coisa não é tão ferrenhamente dependente de ser mulher, apesar de existir um machismo muito grande. Mas eu acho que na universidade não é tanto assim não.

Porque todas as mulheres e os homens fazem concurso, entram e têm o mesmo salário, e mesmo assim tem aquela preferência pelo homem. Acham que por ser mulher então vai engravidar. Na minha época eu tive dois filhos, então foi muito complicado para gerenciar o meu início de carreira”.

Mulheres que atravessaram

- Hipátia de Alexandria, Caroline Herschel, Williamina Fleming - Duília de Mello, Maritza Soto Ao longo da História várias mulheres que contribuíram para o que é a astronomia hoje foram esquecidas e apagadas dos registros simplesmente por serem mulheres. Nos últimos anos tem-se redescoberto a biografia dessas personalidades femininas que finalmente ganham o reconhecimento que tanto merecem.

Aqui se apresentam cinco astrônomas de diferentes épocas e nacionalidades que foram essenciais para o desenvolvimento da astronomia e para que tantas descobertas fossem realizadas a respeito do universo.

Hipátia de Alexandria Hipátia, segundo a revista National Geographic, é considerada uma das primeiras mulheres astrônomas. Os registros apontam que ela viveu em Alexandria, no Egito, por volta da metade do século IV e morreu no ano de 415 d.C. Hipátia contribuiu para as áreas da geometria e astrometria e sua dedicação é considerada fundamental para a criação do importante instrumento astrolábio, utilizado para medir a posição dos astros no céu. Hipátia deixou duas opiniões registradas que foram resgatadas e expressão um pouco de sua personalidade: “Reserve o seu direito de pensar, pois mesmo pensar mal é melhor do

que não pensar” e “Ensinar superstições como verdade é uma coisa terrível” .

Caroline Herschel Caroline viveu entre 1750-1848. Ela teria sido, segundo a National Geographic, a primeira mulher cientista remunerada e a primeira astrônoma profissional da corte do Rei George II, da Inglaterra. Sua dedicação rendeu frutos em forma da descoberta de três novas nebulosas e oito novos cometas, sendo catalogadas em parceria com seu irmão. Em seu aniversário de 96 anos Herschel recebeu a Medalha de Ouro da Ciência do Rei da Prússia em reconhecimento por seus estudos.

o espaço-tempo da História

Williamina Fleming Fleming trabalhou como diarista de Edward Pickering, diretor do Observatório de Harvard. Segundo a revista Superinteressante, ela era uma imigrante escocesa e professora de matemática que, para poder sustentar a filha que criou sozinha, trabalhou com serviço doméstico na casa de Pickering. Ele ao perceber o talento de Fleming com os números a contratou como assistente do observatório em 1881.

Fleming recebia metade do salário que os homens anteriores em seu cargo recebiam e, mesmo assim, catalogou mais de 10 mil novas estrelas. Fleming assumiu o cargo de curadora das placas fotográficas que se utilizavam para catalogar as estrelas na época e foi a primeira mulher a ocupar um cargo de destaque nos quadros de Harvard.

Duília de Mello Mello é a primeira mulher latina a assumir a vice-reitoria de uma universidade em Washington, segundo o jornal O Globo. Brasileira, astrônoma e consultora

Letícia Mares Guia

da Nasa, Duília terminou seu doutorado em 1995 e em 1997, enquanto trabalhava em um observatório do Chile, fez a descoberta de uma supernova chamada de 1997D, sendo essa uma importante descoberta para o meio astronômico.

“Eu decidi que eu ia estudar astronomia e que eu ia entender o universo como se fosse a palma da minha mão”, afirmou a astrônoma em entrevista para O Globo.

Maritza Soto A astrônoma chilena descobriu, com apenas 25 anos, a existência de um novo planeta e, com 28 anos, mais dois exoplanetas gasos denominados K2-237 b e K2-238 b. Os exoplanetas tem massa ligeiramente maior que Júpiter, segundo reportagem do Él País. Após as descobertas Sotto foi indicada ao prêmio Natilda Chileno del Ãno 2018, o prêmio que reconhece chilenos que se destacaram durante o ano. O primeiro planeta detectado foi nomeado HD110014C e tem massa três vezes maior que Júpiter. Sotto não foi a primeira pessoa a avistá-lo, mas a primeira a catalogá-lo e registrar sua existência.

Cíntia Milanese

Perfil de

Cíntia Milanese é uma psicóloga e sexóloga que ao exercer sua profissão, estuda e compreende as opressões de raça e gênero. Por sua atividade, já é perceptível a desconstrução de Cíntia, que desafia a estrutura machista ao falar sobre o prazer feminino. Em seu Instagram, Milanese se posiciona como uma mulher feminista e reflete bastante sobre as construções sociais do que se convenciona ser mulher.

“Certa vez ouvi de uma pessoa portadora de próstata que ela era mais mulher que eu. Os argumentos estavam completamente voltados aos estereótipos de feminilidade; por ser uma mulher negra e gorda, quer dizer que não faço parte do grupo de mulheres que possuem padrões ideais de beleza” Em sua infância, Cíntia conta ter sito criada na periferia, o que descreve ter sido essencial para que “conhecesse um lado que muitas pessoas acham que conhecem, mas que só quem vive aquela realidade sabe como é”. Sua mãe, uma mulher preta retinta, a criou de maneira solo e influenciou a formação de sua personalidade; inclusive, com a educação sexual. para muitos é um tabu: sexo.

Um dado do IBGE estima que menos de 20% das escolas públicas brasileiras tem educação sexual ampla e contínua no Ensino Fundamental; o que dificulta a compreensão social em geral sobre a importância do sexo, sua prevenção e riscos, inclusive de abusos.

“Acredito que, por conta de ter crescido na periferia, eu conheci um lado que muitas pessoas acham que conhecem, mas só quem vive aquela realidade sabe como é. Aquilo que trouxe muita consciência de classe e muita consciência de raça também.

Em seu dia a dia, o que alegra Cíntia são as simplicidades do seu cotidiano: sente alegria em brincar com seu gato, ir à praia, ler e bater papos filosóficos com seus amigos. Além disso, tem muito interesse em tudo que é ligado a arte e conta que inclusive, foi sua primeira formação: “Minha primeira formação não é a psicologia, sou artista, tenho DRT e tudo. Acabei percebendo que a vida de artista no Brasil é muito difícil pra quem precisa se sustentar”, comenta Milanese.

Explica, portanto, que ser sexóloga foi uma escolha tomada por um conjunto de vivências que a levaram ao aprofundamento na pauta sexual.

A OUSADIA DE SER UMA MULHER QUE SENTE PRAZER

O prazer feminino, para muitos, pode variar em divergentes impressões: tanto um mito, quanto um tabu. A profissional Cíntia Milasnese aponta que a dificuldade de compreensão sobre o assunto vem do machismo estrutural. Desse modo, meninas não são incentivadas a explorarem suas próprias sexualidades e suprirem suas curiosidades; enquanto homens exploram os próprios desejos e se sentem libertos a conhecerem os próprios corpos.

Milanese, afirma já ter sido reprimida de maneira opressora quando mais nova e justifica que isso acontece porque quando a vontade de sexo vem de uma mulher, o desejo é inviabilizado e rapidamente reprimido.

O sexo, de acordo com a psicóloga, é uma experiência muito particular. Sendo assim, é importante que comece com a prórpia jornada de autoconhecimento.

A sexualidade feminina sempre é muito mais reprimida, desde que somos crianças. A maneira como nos é apresentado, a maneira como nos é introduzida.

Genitálias, tabus e machismo estrutural De acordo com nova pesquisa da USP (Universidade Paulista) uma expressiva parcela de 40% de mulheres não se tocam ou não costumam se tocar. Isso lança luz sobre os efeitos do machismo estrutural no cotidiano da autodescoberta femininas e a persistência de tabus que cercam uma prática natural e essencial para o entendimento do póprio corpo dentro do universo sexual.

Além disso, Cíntia aponta que existe um grande elo entre o prazer feminino e a autoestima da mulher. Historicamente os padrões estéticos reprimem a autoconfiaça e o conforto feminino em relação a própria aparência.

Q&A COM DUBLADORAS BRASILEIRAS Fernanda Baronne e Rebeca Zadra falam sobre dublagem, o desafio de ser mulher e a representação de personagens femininas.

noite, entre elas, eu e minha

FERNANDA BARONNE irmã. Aí depois do carrossel Como você entrou no mundo eu me apaixonei mesmo pela profissão e não parei mais. da dublagem?

Eu comecei muito cedo. E, na verdade, eu acabei entrando porque a minha mãe, a Marlene Costa, é dubladora, e eu vivia pedindo pra ela. Aí teve aquela novela mexicana chamada Carrossel, que o Silvio Santos na época disse que queria criança fazendo criança, porque naquela época, 1990 e poucos, era muito adulto que dublava criança. Minha mãe ia dirigir essa novela e ela teve que arrumar um monte de criança do dia para

Foi querendo, mas também, obviamente, tinha a facilidade da minha mãe estar no meio.

Mas, como a gente costuma dizer, você pode até ter uma força pra entrar, mas se você não conseguir fazer o negócio de verdade, você não fica, né?

Você já enfrentou desafios relacionados à desigualde de gênero?

Sem dúvida. Na verdade, o mundo do cinema, dos roteiros, das séries, hoje em dia começou a melhorar um pouco. Mas se você for pegar os elencos da maioria dos filmes, você vê que principalmente até a década de 2000 e poucos e 2010, o elenco é 80 homens e duas mulheres. Então, assim, eu nunca tive uma situação na dublagem em que me menosprezaram por eu ser mulher, ou perdi um trabalho por eu ser mulher, porque realmente não tem jeito, mulher dubla mulher.

Então eu nunca passei por esse tipo de desigualdade, mas a desigualdade ela tá instaurada eternamente.

Em Oppenheimer, por exemplo, eu dublei a Emily Blunt. De mulher lá só tem a Emily Blunt e a Florence Pugh. Não lembro se tem alguma outra mulher. E aí as pessoas falam: “ah, mas você tem que entender que é um retrato de uma época”, então façam outros retratos. Os homens eles têm uma certa dificuldade de entender esse tipo de colocação, meus amigos atores falam: “ah, mas você tem que admitir que tá mudando, que hoje tem muito filme que a mulher tem protagonismo”. Sim, está mudando, mas está longe de estar ganho o jogo. A coisa ainda gira muito em torno do homem, ou da mulher relegada ao papel de mãe, como se a mulher só pudesse ser ou mãe ou objeto de desejo do homem. Então todo filme eu fico prestando muita atenção nisso, eu fico assim: “só tinha duas mulheres”, “olha quanto homem”.

A gente tem que ficar chamando atenção para isso até o momento em que realmente mude.

Você acha que as vozes femininas são valorizadas e reconhecidas da mesma forma que as vozes masculinas?

Tenho minhas dúvidas. Tenho minhas dúvidas porque os dubladores que tem mais seguidores são homens, por exemplo. Então, eu não sei se as mulheres fazem menos propaganda ou se realmente é mais fácil você sendo um cara. É bem possível né?

Que seja mais fácil porque você é um cara. Então, eu já parei pra pensar nisso. Eu acho que os fãs de dublagem valorizam o nosso trabalho. Eu sou super agradecida, eu recebo muito carinho. Mas eu acho que, ainda assim, nesse ponto os homens ainda estão em vantagem. Eles têm mais destaque.

REBECA ZADRA

Você tem alguma preferência entre dublar personagens de desenhos ou live-actions?

Ah, cada personagem é muito diferente. Quando a gente faz um desenho, que é uma coisa muito fora da nossa realidade, o desenho permite milhões de possibilidades, e a gente acaba se divertindo mais.

Não que em um filme ou até mesmo num reality, um documentário, a gente não se divirta, né? Eu acho muito gostoso. De fato, é um trabalho que eu amo fazer, eu realmente gosto de estar no estúdio gravando. Mas assim, jogo é uma coisa que eu gosto muito porque é um universo que eu pertenço.

Eu jogo, então é muito interessante para mim poder participar desse processo do outro lado, da construção do personagem.

Mas realmente, quando a gente pensa em coisas muito legais para fazer, são desenhos, que daí a gente pega umas coisas doidas.

Desenhos tem inúmeras possibilidades. Eu já fiz uma maçã, já fiz a bolinha de brinquedo de um cachorro. E qual a chance, né? De fazer uma coisa tão fora da casinha?

As possibilidades são infinitas quando a gente faz um desenho.

Você acha que a representação de personagens femininas evoluEu acredito que sim.

Eu acredito que tem se falado sobre isso, a gente vê uma clara preocupação em colocar personagens femininas com mais poder, tirar a mulher daquele lugar de coadjuvante, de assistente, né? Quando uma mulher protagonizava uma coisa, era uma coisa romântica que ela estava atrás de um parceiro. Então estão tentando tirar a mulher desse lugar só romântico e colocando a mulher nos filmes de ação, nos filmes de terror, nos filmes de herói. Eu acredito que em algum momento isso vai ser normal, não vai precisar pegar um personagem que era masculino e colocar feminino como a gente vê em algumas produções. Essas personagens vão ter trilhado o lugar delas e isso não vai ser mais uma questão. Eu espero! Eu vejo nos últimos anos essa evolução.

As personagens femininas estão sendo menos sexualizadas atualmente?

Eu acho que ainda existe muita sexualização por uma questão de comércio. O sexo vende, a sexualidade vende. Principalmente a da mulher, ela é muito objetificada na maioria das produções. As pessoas querem querem fazer uma coisa para ter lucro. Tem algumas exceções, produções onde você vê que existe uma

preocupação de ter uma mensagem por trás do que está sendo vendido, muitos projetos também pensam por esse lado. Assim, apesar de eu ainda achar que existe muita sexualização da mulher, eu vejo já uma preocupação em não fazer isso em algumas produções. Já é um bom começo, é muito recente isso mas eu vejo esperança de não colocar a mulher só nesse lugar.

O que você mais gosta na dublagem?

O que eu mais gosto é cada dia ser uma coisa diferente. A cada momento você pode experimentar uma sensação nova. A gente aprende muito porque a gente consome muita coisa do que a gente faz. Então eu acho que o legal é isso: uma hora eu sou uma arquiteta, aí eu vou trocar de escala e sou a bolinha do cachorro. Aí eu vou trocar de escala e sou uma heroína. Isso tudo no mesmo dia.

Cecília Carrilho

A REPRESENTAÇÃO DE PERSONAGENS Os desenhos animados são uma forma de entretenimento que acompanham crianças e adultos há décadas. Ao longo do tempo, as personagens femininas retratadas nessas produções mudaram significativamente.

Essas representações em desenhos muitas vezes refletiam e refletem as normas e valores da sociedade da época em que foram criados, o que pode ser visto como uma mistura de progresso e limitações, algo falado pelas dubladoras entrevistadas.

SEXUALIZAÇÃO E ESTEREÓTIPOS A sexualização de personagens femininas em desenhos animados é uma questão controversa que pode perpetuar padrões prejudiciais de beleza e reforçar a ideia de que o valor das mulheres está ligado à sua aparência.

A luta por personagens menos sexualizados é uma luta antiga, mas que ainda gera debates. Essa sexualização frequentemente busca agradar aos homens, promovendo uma idealização física e comportamental das mulheres.

Personagens como She-Ra, Lola Bunny e personagens da Marvel e DC são exemplos de como a sexualização está presente em desenhos animados.

Algumas dessas personagens foram recentemente repaginadas com roupas mais próximas do contexto de suas histórias. Entretanto, essas mudanças geraram muitas críticas vindas do machismo velado.

No caso dos estereótipos, a representação de personagens femininas em animações era comumente limitada a papéis estereotipados e secundários. Era muito comum ver mulheres resumidas ao papel de dona de casa, ou como a única integrante menina de um grupo. As mulheres eram frequentemente representadas como “melhores amigas” ou em papéis submissos aos personagens masculinos, como “donzelas em perigo” que precisavam ser salvas por um herói.

Ao longo do tempo, a representação de personagens femininas em desenhos animados começou a evoluir, com personagens mais complexas e diversas ganhando espaço.

No entanto, diversos desafios persistem, e alguns desenhos animados continuam a recorrer a estereótipos de gênero.

FEMININOS EM DESENHOS ANIMADOS 1910 a 1930

Cecília Carrilho

Em 1914, Gertie the Dinosaur foi pioneira como a primeira personagem feminina animada. Minnie Mouse fez sua estreia em 1928 como a companheira de Mickey Mouse, e Betty Boop, inicialmente concebida como um poodle antropomórfico, evoluiu para um visual humano em 1932. Durante essas décadas, figuras como Betty Boop, Olivia Palito e Branca de Neve frequentemente desempenhavam o papel de donzelas em perigo.

1940 a 1960

Nas décadas de 40 e 50, a representação de mulheres na animação era limitada. Produções como “Tom e Jerry” e “Bambi”, tinham poucas personagens femininas, e essas eram retratadas como mães ou interesses românticos.

Na década de 60, houve um aumento de personagens femininas. Desenhos como “Os Flintstones,” “Corrida Maluca” e “Scooby-Doo” deram mais destaque às mulheres. No entanto, seus papéis muitas vezes se limitavam a ser mães ou donas de casa, embora houvesse exceções notáveis, como Penélope Charmosa, Velma e Daphne.

1970 a 1990

Na década de 70, “Josie e as Gatinhas”, a estréia da Mulher-Maravilha em animações e os curtas da Turma Da Mônica marcaram a época. Em 1980, “A Caverna do Dragão” e “She-ra” se destacaram com personagens femininas notáveis, como Diana e Sheila em “A Caverna do Dragão” e um elenco predominantemente feminino em “She-ra”. Na década de 90, tanto animações ocidentais (“Onde está Carmen Sandiego?”, “Meninas Super-Poderosas” e “Mulan”) como animes (“Sailor Moon” e “Princesa Mononoke”) trouxeram protagonistas femininas fortes, contribuindo para a diversidade.

2000 a 2020

Houve avanços significativos na representação feminina em 2000, década em que o Studio Ghibli lançou “A Viagem de Chihiro” e a Disney introduziu princesas com histórias mais complexas, como “A Princesa e o Sapo”, a primeira princesa negra. Na década de 2010, “Hora de Aventura”, “A Lenda De Korra” e “Steven Universe” refletiram mudanças sociais, promovendo uma maior inclusão.

A década de 2020 está no início, mas já nota-se uma grande representatividade. Em “The Owl House”, de 2020, há uma ótima representação feminina e LGBTQIA+ em suas protagonistas. Embora os desafios persistam, houve melhorias significativas na representação feminina ao longo dos anos.

Laís, Guadalupe e Gabriela têm uma coisa em comum além de se relacionarem com mulheres: se sentem pouco ou nada representadas na política brasileira– mesmo que as mulheres lésbicas ou bissexuais representem pelo menos 1,7% das mulheres brasileiras acima dos 18 anos.

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Laís Catarino, mulher sáfica– ou seja, que se relaciona com mulheres– e fonoaudióloga de 28 anos, explica que mesmo que ela e outras conhecidas tenham votado em mulheres LGBTQs, ainda tem dificuldades em enxergar algum tipo de representatividade na Câmara dos Deputados.

“A maioria dos deputados são homens cis, heterossexuais e brancos. As mulheres que elegemos até o momento são sempre lidas como agressivas ou vitimistas por defenderem pautas de direitos humanos.”, diz a fonoaudióloga.

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Já Guadalupe Pereira, publicitária de 27 anos e Gabriela Sampaio, estudante de gastronomia de 20 anos, se sentem representadas como parte da comunidade LGBTQIA+, mas não como mulheres lésbicas. Elas questionam onde estão as pautas específicas para mulheres sáficas: “Sinto que

tudo relacionado à relação entre mulheres é muito esquecido, além de que raramente se vê uma figura lésbica sendo destaque”, comenta Gabriela.

Na outra ponta, Amanda Gondim luta pela representatividade sáfica na Câmara de Uberlândia.

Ela é a primeira vereadora abertamente lésbica e PCD da cidade e abraça as pautas de diversidade e direitos humanos, mesmo que isso signifique ser atacada: “Eu já recebi diversas ameaças só pelo fato de ser uma mulher lésbica na política, e é diferente com o que é feito com os meus outros colegas parlamentares.”

Para Amanda, o que ela sofre na Câmara de Uberlândia representa o que as mulheres lésbicas e bissexuais sofrem em suas vidas. “Carregar esses estigmas no meu corpo, me colocar publicamente à disposição nesses grandes debates mostra que tem todo um grupo de pessoas

que eu represento que também está ameaçado dentro da nossa democracia.”, destaca a vereadora.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS Uma pesquisa de caráter experimental do IBGE de 2019 revela que ao menos 0,9% da população feminina brasileira acima de 18 anos se identifica como homossexual e 0,8% como bissexual. Além disso, 3,4% não sabe ou se recusa a responder sobre sua orientação sexual.

Existe também um dado assustador que assola o povo brasileiro: segundo o Dossiê Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQs no mundo pelo 14º ano seguido, tendo acumulado, só em 2022, 273 vítimas.

EXISTE SOLUÇÃO? No dia 29 de agosto de 2023, dia da visibilidade lésbica, a Deputada Federal Daiana Santos propôs alguns Projetos de Lei de acolhimento e proteção às mulheres sáficas. Um deles, por exemplo, determina medidas do poder público para atender as vítimas de lesbofobia.

“Eu acredito que existe uma questão meramente formal aí, porque o Brasil tem sido historicamente omisso e negligente a nível de políticas sugeridas pelo legislativo”, opina Amanda sobre o assunto. Ela acredita que a prioridade é que o Congresso tipifique a criminalização da LGBTQfobia.

Afinal, como resolver o problema do Brasil, que é tão violento com a população LGBTQIA+? Gondim defende que a representatividade é o caminho. “Nós precisamos estar em mais parlamentos, em mais casas legislativas, ocupando os espaços da política. A questão é a gente abraçar isso não só enquanto uma pauta, mas por a gente viver isso”, enfatiza. Ela acredita que os avanços que estão sendo feitos serão colhidos nas próximas gerações.| Lorena Valeri

CONHEÇA

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Meu nome é Lorena Valeri e eu sou uma estudante de jornalismo e apaixonada pela escrita desde criança. Acredito que seja uma ferramenta importante para mudanças na sociedade. Amo escrever sobre cultura, direitos humanos, beleza e comporta-

Sou a Laura Margutti, tenho 19 anos e sou estudante de jornalismo. Sou apaixonada por jornalismo político e áreas que envolvem cultura e direitos humanos.

Tento dar um contexto social e político emtodas as minhas produções.

Sou Letícia Mares Guia, estudante de jornalismo apaixonada pela escrita. Revistas são meu objeto de fascínio e me interesso por pautas de jornalismo ambiental.

Meu nome é Cecília Carrilho e sou estudante de jornalismo com uma paixão vibrante por leitura e entretenimento, especialmente por desenhos animados. Busco explorar narrativas cativantes e comunicar histórias de maneiras envolventes.

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