Revista do Comércio #16

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Ano 3 • Número 16 • 15 de dezembro de 2013 • R$ 5,00

Jauenses no divã Especialistas definem as principais causas que levam à procura de terapia

Da cor da moda

Além do branco, festas de fim de ano vão bombar com cores vivas

Invasão virtual

Divulgação de fotografias íntimas de adolescentes preocupa a sociedade

Eu com a caneta

Homens públicos contam o que fariam em 2013 se fossem o prefeito de Jaú



Expediente

Editorial

Já casou? A Revista do Comércio é uma publicação do Jornal Comércio do Jahu. Rua Marechal Bittencourt, 935 Centro – Jaú (SP) – CEP: 17202-160 Diretora de Redação: Ana Karina Victor Editora: Bianca Zaniratto Reportagens: Alcir Zago Ana Karina Victor Bianca Zaniratto Flaviana de Freitas João Guilherme D’Arcadia Matheus Orlando Natalia Gatto Pracucho Paulo Roberto Cruz Ricardo Recchia Estagiários: Carolina Chamaricone Otávio Frabetti Fotografia: Aline Furlanetto Diagramação: Aline Furlanetto João Vasconcelos Floriani Revisão: Luciane Maria Marcoantonio Silva Foto capa: Aline Furlanetto A produção da foto foi feita na Lumare Eventos com apoio da Floratta Redação: (14) 2104-2100 redacao@comerciodojahu.com.br Departamento Comercial: Andreza Perez (14) 2104-2109 (14) 2104-2108 comercial@comerciodojahu.com.br Departamento de Assinaturas: (14) 2104-2100 (14) 2104-2130 saa@comerciodojahu.com.br Tiragem: 5 mil exemplares Impressão: Gráfica Tiliform

O ditado popular decretou que para o homem ser completo é preciso, durante a vida, plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Ao longo do tempo, no entanto, novos fatores foram adicionados a esse ranking da felicidade. É preciso ter a profissão consolidada e salário polpudo, mesmo que para isso tenha de abdicar totalmente do tempo com sua família, amigos e para você; estar sempre com a parafernália tecnológica atualizadíssima, mesmo que não saiba tirar proveito de todas as funções do smartphone; viajar para destino badalado, mesmo que queira apenas, e tão somente, o silêncio e o descanso do lar. Para a mulher, as cobranças se avolumam. Passar dos 30 sem ter casado é como uma sentença de morte. Não vão faltar pessoas que, depois do “como vai”, logo engatam o “casou?”. Já se tiver constituído matrimônio, é obrigatório ser, sem pestanejar, a profissional de rendimento acima da média, a mãe dedicada, a esposa compreensível e sempre disposta. Não é à toa que fica um nó na garganta, independentemente de ser homem, mulher ou criança – sim, os pequenos também entraram no rol dos que sofrem pressões. Em busca de um padrão considerado perfeito, surgem depressão, ansiedade, crises nervosas e a dificuldade na aceitação das diferenças e limitações do outro. Estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo e que a doença acomete pelo menos 5% das pessoas que vivem em comunidade. Partindo dos números globais e focalizando nossa realidade, a pergunta que fica é o que afeta o jauense? Com esse questionamento, a pedido da Revista do Comércio, sete especialistas revelaram o que angustia habitantes da cidade. E a obrigação imposta pela sociedade de “ser alguém”, de ter e de ser impreterivelmente “feliz” é realidade no divã desses profissionais. Estamos massacrados por padrões de comportamento e somos reféns da aceitação de quem está a nossa volta. Há necessidade de preencher um vazio, que não encontra definição ou termo correto no dicionário. Sentimo-nos obrigados a prestar contas (para quem?), apesar das escolhas serem individuais. Angustiada, a alma pede socorro. Se o autoconhecimento não é a resposta certeira das inquietações humanas, talvez possa ser o começo para compreender melhor a si mesmo e fazer opções sem as amarras impostas por seu grupo social. Pense nisso. Boa leitura e até a próxima edição! Ana Karina Victor Diretora de Redação

www.facebook.com/revistadocomercio Os artigos publicados nesta edição são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando necessariamente a opinião da Revista do Comércio REVISTA DO COMÉRCIO s 3


ÍNDICE

24 38 42 47 52 70 64 76

Em busca do amor próprio

É possível encarar o vazio existencial com boa dose de autoconhecimento

20 60 12 35 16 8

2013, por terceiros

Políticos de Jaú falam sobre como agiriam nos principais fatos da cidade neste ano

Booktubers

Leitores criam canais para discutir experiências que cercam o universo do livro

Caminho para os fiéis

Papa Francisco coloca no papel as mudanças que almeja para a igreja

Abuso on-line

Na era da autoexposição, divulgação de pornografia com adolescentes preocupa

O sexo pode esperar?

Movimentos cristãos colocam o ensinamento de Deus acima da sexualidade

Vida privada, dados públicos Advogado mexicano fala sobre a questão

Um novo começo

Jauenses rompem barreira e aprendem a ler e escrever na idade adulta

Pão e... cerveja!

Culinária alemã vai além do joelho de porco e dos salsichões

É um estouro!

Volte a ser criança e entre no divertido universo da pipoca

Social

Casamento em Jaú e festa para o Galo são destaques

Raio X da serra

Gramado, no Rio Grande do Sul, tem orgulho de sua história e é amiga do Papai Noel

Réveillon colorido

Branco sai de cena e abre espaço para peças coloridas que agregam valor à chegada do ano-novo

Além do azul e rosa

Opções não faltam para as mamães decorarem o quarto do bebê



JORGE João Marques de Oliveira

 é promotor de Justiça e professor de Direito Penal aposentado

Depois de mim

Dá para imaginar os dois, Senna e Quintana, seguindo juntos na viagem que leva ao lado de lá

Eu tinha uns 6 anos de idade e morava na Rua Francisco Glicério, logo abaixo do cruzamento com a Rua 13 de Maio. Por volta das 7h, saí de casa a pé e desci em direção à padaria do senhor Vitalino. Buscar o pão, que saía quentinho do grande forno a lenha, conferia-me certa importância, pois a mãe confiava a mim a caderneta em que o valor da compra era anotado. A conta era paga só no final do mês. Quando atravessei a Rua Gomes Botão (a padaria ficava na esquina), cruzei com o Criolando, que carregava flores e subia apressado pela Francisco Glicério a caminho de algum velório. Naquela época os velórios eram feitos na casa da família do morto. A figura mística do Criolando me infundia medo. A avó havia me contado que um anjo vinha avisá-lo no exato momento em que alguém falecia em Jaú. E lá ia ele, de terno e chapéu, levar a solidariedade aos parentes do falecido. Criolando choraria se soubesse que não temos mais um cemitério para o repouso dos nossos mortos. E diria o quê? Até hoje eu não lido bem com a ideia de finitude que a morte traduz. No velório de algum parente ou amigo fica sempre a sensação de que fiz menos por ele do que poderia ter feito, de que deveria tê-lo procurado antes para um dedo de prosa, um abraço ou a penúltima cerveja. Então, no tribunal da minha consciência, um Torquemada implacável me acusa. A velha tese de defesa não convence: falta de tempo e excesso de atribuições. Sou condenado sem direito aos embargos infringentes. No dia 1º de maio de 1994 morreu o ídolo Ayrton Senna. Quatro dias depois, Mário Quintana – o poeta da simplicidade – nos deixou. Foi-se depois de bater três vezes à porta da Academia Brasileira de Letras e não conseguir entrar. Esses, que atravancaram seu caminho, passarão. Ele, passarinho. Dá para imaginar os dois, Senna e Quintana, seguindo juntos na viagem que leva ao lado de lá. Aquele, dizendo

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da importância dos milésimos de segundo. Este, contando que a eternidade cabe em um verso. No mês de setembro último, o milionário Chiquinho Scarpa anunciou que iria enterrar seu carro de luxo, avaliado em mais de R$ 1 milhão, no jardim da mansão onde mora. Excentricidade? Foi, evidentemente, execrado pela mídia, que perguntava por que ele não doava o carro para alguma obra de caridade. Na data marcada para o evento, Chiquinho não sepultou o veículo. Em vez disso, leu um texto e disse estranhar que o criticassem, uma vez que todos enterravam coisas muito mais valiosas: os órgãos de seus entes mortos. Era uma campanha para incentivar a doação de órgãos. A mais criativa campanha publicitária que vi nos últimos tempos. Se eu fosse deputado federal (Deus me livre!), tentaria modificar a lei de doação de órgãos. Todos nós seríamos, ao morrer, doadores compulsórios. Assim, reduziríamos o império da frase latina “mors omnia solvit” (a morte tudo apaga). Depois de Mim é o título de um poema que fiz. Quase um epitáfio. Ei-lo: “Quando a figura esquálida da morte/vier pousar sobre mim a face pálida,/que eu não seja avisado com antecedência/nem possa imaginar que o fim se aproxima./Só quero ficar exposto o tempo necessário/para que aqueles que precisam chorar/chorem por mim com a mesma sinceridade/com que eu choraria por qualquer deles./Sem demora, que retirem do meu corpo/tudo que aprouver a quem precisa e espera/com a condição de que também ele doe de si/a outrem, algum dia, e assim viveremos mais./Os meus olhos deixo para quem sonha/enxergar além do pôr do sol e das estrelas;/o meu coração vai para aquele que acredita/que a vida sem amor não vale a vida./ Depois, serei cremado ao som de Perhaps Love/nas vozes de Plácido Domingo e John Denver./Parte das minhas cinzas será lançada ao vento/como um derradeiro tributo à liberdade./E o que sobrar de mim tornado ao pó/seja espalhado de madrugada e sem alarde/nas águas plácidas do meu rio Jaú/ por onde seguirei em busca do mar”.



ENTREVISTA

O dilema entre informação e privacidade “Revista do Comércio” conversa com o advogado mexicano José Guillermo Garcia Murillo

Flaviana de Freitas flaviana@comerciodojahu.com.br

O velho paradoxo entre o direito à informação e o direito à intimidade voltou à tona no Brasil nos últimos meses com a polêmica das biografias não autorizadas. Ao mesmo tempo em que a Constituição Federal protege a liberdade de informação, também tutela o direito à privacidade, ambos em seu artigo 5°. A Lei nº10.406, de 2002, determina em seus artigos 20 e 21 que a utilização da imagem de uma pessoa pode ser proibida e que a vida privada de cada um é inviolável. De um lado, escritores e editoras tentam derrubar esta legislação para liberar as biografias não autorizadas no País. De outro, artistas se mostram terminantemente contra e defendem a própria privacidade. Para esclarecer do que se trata o tão aclamado direito à informação, a Revista do Comércio en8 s REVISTA DO COMÉRCIO

trevistou o advogado, professor da Universidad de Guadalajara e coordenador do Instituto de Estudios Jurídicos, José Guillermo Garcia Murillo. O especialista em direito à informação esteve em Jaú no dia 25 de novembro, quando ministrou palestra sobre o tema e firmou convênio entre o curso de direito das Faculdades Integradas de Jaú, pertencente à Fundação Educacional Dr. Raul Bauab, e o Instituto de Estudios Jurídicos, localizado em Guadalajara, no México. Para Murillo, o direito à informação é importantíssimo e deve ser exercido por todos os países, pois está no rol das garantias fundamentais do ser humano. É necessário, entretanto, que este direito não dane a privacidade do indivíduo, o que pode ocorrer no caso das biografias não autorizadas.


 Comércio – O que é o direito à informação? José Guillermo Garcia Murillo – No México, a partir de 1977 se consagrou o direito à informação para todas as pessoas, mas somente em 2002 ele foi devidamente regulamentado. Com isso, todos os cidadãos podem ter acesso à informação pública nas mãos do Estado. A informação que a população deve obter precisa ser oportuna, clara e objetiva para que auxilie na tomada de decisões. Este é um aspecto importante em uma democracia moderna. Se o povo está bem informado, então pode tomar decisões acertadas. Mas se o governo não passa as informações devidamente, o cidadão se torna vulnerável ante o Estado. Aqui também percebemos um papel importante dos meios de comunicação, que têm maior facilidade para acessar a informação pública, investigar e, assim, difundir para todos o direito à informação como uma garantia constitucional.

imprensa, advogados e órgãos públicos. A população fez apenas um pedido de informação para a Câmara e dois pedidos para a Prefeitura, mostrando que o povo ainda faz pouco uso desta lei. O que o senhor acha disso? Como é este acesso à informação pública no México? Murillo – No México temos duas leis. Como vocês sabem, também somos uma federação, igual ao Brasil. Temos a legislação federal de transparência e acesso à informação pública e também as leis locais de cada Estado. As garantias constitucionais existem para ser exercidas. Se ninguém as conhece e exerce, são letra morta. Tornam-se letra enunciativa apenas, um direito que está previsto, mas que ninguém exerce. O acesso à informação no México também passou por um período de pouca adesão. Apenas os jornalistas pediam informações e publicavam os dados, além dos estudantes para fazer trabalhos 

 Comércio – Como é o direito à informação no México em comparação a outros países do mundo? O país está avançado neste quesito? Murillo – Em relação ao direito à informação e à transparência, o México está trabalhando e avançando. Em compensação, ainda não há grandes avanços em relação à proteção de dados pessoais. O México acaba de fazer uma reforma constitucional para proteger os dados sensíveis das pessoas, cujas informações o Estado deve somente manejar, e não transferir. Nesse sentido, em comparação a outros países, estamos ainda apenas caminhando. A proteção aos dados pessoais é a outra dimensão do direito à informação, que é uma moeda de duas caras. De um lado, está permitir todo o acesso à informação, e do outro lado, é proteger tudo que seja reservado por questões de segurança nacional ou porque são dados que pertencem ao cidadão.

"Se o governo não passa as informações, o cidadão se torna vulnerável ante o Estado"

 Comércio – Em setembro do ano passado, após quatro meses de vigor da Lei de Acesso à Informação Pública, o Comércio fez uma matéria com o número de solicitações recebidas pela Prefeitura. No período de quatro meses, haviam sido feitas apenas 15 solicitações, a maioria de órgãos de

Fotos: Aline Furlanetto

 Comércio – Em maio de 2012, no Brasil, entrou em vigor a Lei de Acesso à Informação Pública, que é uma forma das pessoas conseguirem obter informações relacionadas aos órgãos públicos. O que o senhor pensa sobre esta lei? Há legislação parecida em outros países? Murillo – Todos os países irmãos, pertencentes à América Latina, firmaram o Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos). O direito à informação é parte de um controle de convencionalidade em que todos formamos parte, é uma garantia dos direitos fundamentais e direitos humanos que estão de acordo com o Pacto de San José. Todos os Estados americanos concordaram com este pacto e, por isso, têm a obrigação, como democracia, de reconhecer que onde há dinheiro público deve haver transparência. Hoje em dia, há exigência internacional para que as democracias tenham seus governos baseados no acesso à informação. Por isso, as medidas que visam a garantir este acesso são extremamente necessárias.

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universitários. Então, a princípio, foram apenas os setores jornalístico e acadêmico que se utilizaram das informações públicas, o povo não. Foram necessárias grandes campanhas de publicidade para as pessoas começarem a solicitar mais informações, pois grande parte do país nem sabia da existência desta garantia constitucional. É preciso que haja publicidade. Se os direitos são exercidos, se aperfeiçoam e não são esquecidos.

"Grande parte do país nem sabia da existência desta garantia constitucional"

 Comércio – Qual é o limite entre o direito à informação e o direito privado? Murillo – No México, o artigo 6º da Constituição estabelece o direito à informação, enquanto o artigo 7º prevê o direito à liberdade de expressão. Mas todas as liberdades não podem ser absolutas, devem estar limitadas também para garantir o direito dos demais. No meu país, em relação à liberdade de expressão, há limites quando se perturba a ordem social, a paz pública, o direito de terceiros e a moral. O que quer dizer a moral? Ela está estabelecida em função de nossos valores, nossos princípios e do ponto de vista ético é boa para todos. Uma informação que dane, que minta, que não tenha qualidade, pode acabar com a imagem da sociedade. Todo mundo pode expressar tudo o que quiser, mas sem danar

a dignidade de terceiro, sem perturbar a ordem pública e sem ir de encontro com a moral pública.  Comércio – O Brasil passa por uma polêmica sobre as biografias não autorizadas. De um lado, estão as pessoas que querem as obras biográficas sem autorização dos biografados. De outro lado, estão artistas, que são contra as biografias não autorizadas. Qual é a opinião do senhor sobre o assunto? Murillo – Também passamos por este debate no México. Mas o que é da vida privada deve ser respeitado, porque também estão em jogo os dados sensíveis das pessoas. Uma preferência sexual, por exemplo, não deve ser uma questão de caráter público ou que interesse às pessoas, é parte da vida particular do indivíduo. Que interesse público devem ter as questões ideológicas ou religiosas? Se a pessoa tem uma doença degenerativa e que pode causar discriminação pública, onde está o interesse da sociedade? Entre o público e o privado, me parece mais justo o direito à intimidade. A liberdade de expressão está sim consagrada, mas é necessário respeitar a intimidade das pessoas. Agora, se a pessoa dá sua autorização, seu consentimento para que se publique tudo, não há mais nada para proteger, visto que ela deu consentimento por se considerar uma figura pública.

Aline Furlanetto

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 Comércio – Antigamente, havia monopólio das informações pelos meios de comunicação. Com a entrada da internet, no entanto, a forma de captar, tratar e difundir a informação mudou drasticamente. O que vemos hoje nas redes sociais é que todo mundo passa informações, claro que sem o tratamento e a ética jornalística. Até que ponto o senhor acredita que as redes sociais, com suas informações livres, favorecem o processo de formação da cidadania? Murillo – Hoje em dia, as redes sociais têm papel importante na comunicação e na formação das pessoas. Entretanto, é necessário ter cautela com tudo que se publica nas redes sociais. Se publico uma foto minha ou de outra pessoa no Facebook, ou uma informação, isto deixa de pertencer a mim e passa a pertencer à rede social. O Facebook é dono de toda informação que os usuários postaram. Quando você concorda com os termos da rede social, de certa forma está renunciando à sua privacidade. Há mais lados negativos do que positivos nas redes sociais, mas está sim havendo uma revolução da informação. Em muitas ocasiões, graças às redes sociais, a informação é mais rápida que nos meios de comunicação. Acho que é importante regulamentar o uso destas redes, sobretudo pelos efeitos negativos que se podem causar aos jovens.



RELIGIÃO

Desafio da mudança

Igreja Católica reflete sobre como colocar em prática a nova direção dada pelo papa Francisco

Thomaz Silva/ABr


Aline Furlanetto

Sérgio Henrique Van Der Heyden crê que padres devam ir em direção aos fiéis

Alcir Zago alcir@comerciodojahu.com.br

Eleito em março deste ano papa Francisco, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio demonstrou em várias oportunidades – incluindo na Jornada Mundial da Juventude, realizada em julho no Rio de Janeiro – uma nova forma de conduzir a Igreja Católica. O propósito é torná-la mais missionária, misericordiosa e atuante na defesa dos pobres e dos oprimidos. Após ter sido escolhido para essa missão, o papa Francisco tornou pública em novembro a exortação apostólica Evangelii Gaudium – na tradução do latim, a alegria do Evangelho. Trata-se de um documento que consolida o pensamento e o posicionamento do religioso e serve como orientação para a igreja no mundo todo em relação àquilo que entende ser o rumo da evangelização. O desafio agora é como as dioceses e as paróquias devem proceder para que os apontamentos do papa Francisco sejam colocados em prática. O bispo da Diocese de

São Carlos, dom Paulo Sérgio Machado, acredita que pode haver reação à mudança. Como exemplo, cita a realização do Concílio Vaticano II, em 1962. “Quando o papa João XXIII convocou o concílio, encontrou muitas dificuldades por parte daqueles que não queriam as mudanças propostas pelo papa”, conta. “No entanto, elas foram feitas. E agora novas mudanças são necessárias e serão feitas.” Opinião semelhante tem o doutor em ciências sociais e livre-docente em teologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo João Décio Passos. “Por mais carismática e legítima que seja a figura dele (papa Francisco), tem como grande desafio lidar com uma instituição milenar e com estrutura consolidada”, afirma Passos, autor de livro sobre o cardeal argentino. ESTUDO

Para o abade emérito e pároco da Igreja São João Batista de Jaú,

Sérgio Henrique Van Der Heyden, a igreja nasceu missionária e deve manter sua função de ir ao encontro dos mais pobres e oprimidos. Ele acredita que os padres devam conhecer melhor sua paróquia e atuar de forma a “sair” da igreja e ir em direção ao povo. Na opinião do assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), monsenhor Antônio Luiz Catelan Ferreira, a exortação apostólica deve ser estudada pela igreja local por meio de sessões de estudo e de divulgação. O segundo passo é levar o conteúdo aos fiéis. O papado de Francisco coincide com um período em que a tecnologia da informação vive momento sem precedentes no mundo todo. A comunicação entre as pessoas se tornou mais dinâmica e instantânea. A própria Igreja Católica pode usar essas ferramentas para transmitir sua mensagem, agora sob a proposta de reforma defendida pelo papa.  REVISTA DO COMÉRCIO s 13


Nem tudo é transformação

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As mudanças propostas pelo papa Francisco terão efeito prático quando as paróquias estiverem abertas ao mundo, em diálogo, indo ao encontro das pessoas. A proposta é do coordenador de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, padre Tarcísio Mesquita. Conforme Mesquita, a paróquia deve ser um lugar e situação de encontro, revitalização, mas sem redomas. “Devemos ser acolhedores e nos preocupar com as pessoas de hoje, seus dramas, suas

dificuldades, suas vitórias”, diz Mesquita. Na opinião do coordenador, o maior desafio para a concretização das mudanças defendidas pelo pontífice é a indisposição que muitas pessoas têm pelas mudanças, incluindo párocos. “Muitos padres também não se animam a mudanças”, afirma. “Alguns já se consideram açodados de obrigações, responsabilidades e veem as mudanças como mais empenho e mais trabalho.”

Tânia Rêgo/ABr

As mudanças na Igreja Católica defendidas pelo papa Francisco não devem ser radicais sob determinados aspectos. Em seu texto, o pontífice estabelece hierarquia de verdades do Vaticano e propõe moderação nas normas católicas, mas não altera, por exemplo, a oposição do Vaticano ao aborto. Costumes históricos da igreja podem, até, ser deixados de lado se não servirem mais para comunicar a fé católica. “A substância e o fundamento não serão alterados”, avisa o abade Sérgio Henrique Van Der Heyden. “Há valores que são ideais, transcendentais e duradouros. Mudanças na roupagem podem ser vistas.” Na opinião do assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), monsenhor Antônio Luiz Catelan Ferreira, a Igreja tem Código de Direito Canônico que vale para todas as paróquias. Sob esse prisma, os ensinamentos contidos no documento não sofrerão mudança. Já as orientações podem ter outra interpretação. O bispo da Diocese de São Carlos, dom Paulo Sérgio Machado, cita duas situações que são passíveis de reformulação. A primeira é o celibato dos padres. Conforme o bispo, trata-se de disciplina e não de um dogma e, por isso, pode ser discutido. Outra questão são os casais em segunda união. Machado diz que a separação é um “acidente de percurso” e todos os casais podem vivenciar essa situação. Para ele, é preciso analisar o caso de forma individual.

Com espírito missionário

Papa Francisco abençoa garoto na Comunidade de Varginha, no Rio

Livro destaca ruptura Francisco: Renasce a Esperança. Esse é o título do livro publicado logo após a escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para comandar os destinos da Igreja Católica no mundo. A autoria é dos professores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo João Décio Passos e Afonso Maria Ligório Soares Passos explica que a obra analisa o contexto da eleição, a crise que levou à renúncia do papa Bento XVI e o significado da escolha do novo pontífice. Também apresenta o perfil dele como papa

latino-americano. Há ainda, no final do livro, reflexões sobre os desafios que Francisco enfrentará nesse pontificado. A obra destaca que a renúncia do papa Bento XVI revelou vínculos de crise mais ampla e profunda na Igreja Católica. A situação impossibilitou o pontífice de continuar seu mandato, conforme a tradição secular. O livro reflete a novidade representada pela eleição de Francisco como bispo de Roma. Pela primeira vez a escolha recai sobre um latino-americano. A própria opção do nome Francisco representa primavera na Igreja Católica, uma volta às origens, retomando o caminho dos pobres e da pobreza, por meio de reforma evangélica.



COMPORTAMENTO

Eu escolhi esperar.

E daí? Movimento cristão prega que jovens façam sexo somente após o casamento

Ana Carolina Monari Especial para a Revista do Comércio Otávio Frabetti redacao@comerciodojahu.com.br

“Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Assim também a mulher solteira e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e espírito.” O trecho acima faz parte do capítulo sete da Primeira Carta aos Coríntios, texto que integra a Bíblia. A virgindade, desde antes do século 21, é tabu entre jovens de todas as idades. Ser virgem é motivo de risos entre grupo de amigos, principalmente após a maioridade. A razão é simples: a liberdade sexual conquistada pelos movimentos feministas e a geração beatniks, composta por escritores e poetas das décadas de 50 e 60 que encabeçaram o movimento da contracultura. A mídia também influenciou o processo por meio das 16 s REVISTA DO COMÉRCIO

novelas e da divulgação massiva dos métodos contraceptivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara que o sexo é atividade para o bem-estar físico e emocional de qualquer pessoa. Quem acompanha a novela Amor à Vida, da Globo, se deparou com o drama da enfermeira Perséfone, que tentava de inúmeras formas perder a virgindade. “Personagens são exemplos. Elas só interferem nas mulheres que possuem o complexo de inferioridade por continuar virgens, uma vez que a maioria delas não chega a essa condição aos 18 anos”, afirma o sexólogo Joaquim Vailton de Mota. CASTIDADE

Para preservar a pureza do corpo e incentivar a sexualidade apenas depois do casamento surgem

movimentos cristãos como o Eu Escolhi Esperar. Atualmente, sua página em rede social possui aproximadamente 1,8 milhão de seguidores das mais diversas religiões e seitas. Lá, os jovens podem encontrar textos, vídeos e orientações de como se manter virgem, apesar da extrema liberdade sexual vivida neste século. O idealizador Nelson Neto Junior iniciou a campanha em 2011 para auxiliar os que decidiram fazer sexo somente após o casamento; os que tiveram essa experiência mas escolheram, a partir de determinado momento, se guardar para o matrimônio; e os pais desses adolescentes ou jovens adultos. Segundo ele, qualquer um pode participar, seja cristão ou até ateu. O trabalho é pela salvação da sexualidade. “A cada dez jovens


Opção católica: Namoro Santo

Aline Furlanetto

que frequentam uma igreja no Brasil, sete não são mais virgens. Nós trabalhamos com sexualidade pura e saudável, norteados por princípios cristãos, e batemos forte nessa banalização que existe em que se vivem relacionamentos descartáveis”, explica Neto Junior. A coordenadora do grupo de jovens da Paróquia São Benedito em Jaú, Maria Conceição Poyo, também faz esse trabalho com os fiéis de sua igreja. Ela divulga os mesmos princípios bíblicos do Eu Escolhi Esperar, porém com enfoque na religião católica. “O padre já falou em pregações que ninguém tem noção de quantos casais são virgens antes do casamento. Embora a maioria ache que ‘tudo está perdido’, nós percebemos que ainda há muitos casais castos”, conta.

A Igreja Católica prega, desde os primórdios, a castidade. O sexto mandamento escrito na Bíblia recomenda que os fiéis não pequem contra essa condição. Uma vertente do movimento Eu Escolhi Esperar é o Namoro Santo, cuja página em rede social chegou a 700 mil seguidores. A professora de matemática Amanda Ferreira Verardo, 23 anos, e o engenheiro Bruno Henrique Boni Bilia, 26 anos, estão juntos há cinco meses e a relação é baseada nos preceitos católicos e na espera em Deus. Ambos falam abertamente sobre o assunto, desde que o público esteja aberto a entender os propósitos de suas escolhas. “O Namoro Santo ajuda a conhecer melhor a si mesmo e ao parceiro. Ele faz que vivamos cada etapa com muita intensidade e reser-

vando cada coisa ao seu tempo, seja na amizade, no namoro ou no matrimônio”, diz Amanda. Bilia resume o Namoro Santo como um grande desafio, pois você deve buscar conhecer o Deus que existe no outro. “Por isso vemos o parceiro como precioso, único e mesmo com todos os defeitos que um ser humano carrega ele se torna divino.” Os solteiros também têm espaço no movimento. A professora Flávia Cristina Wolf, 23 anos, espera que Deus mande o seu ‘José’. “É difícil essa espera, mas peço todos os dias para Deus me dar paciência. Acredito que Ele esteja preparando o meu ‘José’, ou seja, um namorado para mim”, brinca. O José citado por Flávia é na realidade parecido com São José, esposo de Maria, mãe de Jesus.  Arquivo pessoal

Amanda Ferreira Verardo e Bruno Henrique Bilia: preceitos católicos REVISTA DO COMÉRCIO s 17


Sem padrão

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sideram um grande problema. O sexo depois do casamento é um preceito. “Quando o casal não faz sexo, os dois são tentados a trair. Se não acha dentro de casa, procura fora. Sexo é uma manifestação de carinho, amor e cumplicidade do casal”, completa Giovana. A igreja que eles frequentam não proíbe o uso de métodos contraceptivos e até indica que a sexualidade deve ser exercida para o prazer, além da procriação. * Os nomes apresentados foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados

Arquivo Pessoal

Evandro*, 19 anos, Giovana*, 20 anos, e Mayara*, 27 anos, optaram por uma vida diferente de outros jovens da mesma idade. Eles escolheram esperar. Todos fazem parte da Igreja Protestante Sara Nossa Terra e do movimento Eu Escolhi Esperar. Mayara esclarece que a escolha foi natural porque sempre fez parte da igreja e até namorou pessoas que não eram evangélicas, mas o relacionamento não foi para frente. “No início do relacionamento ele sabia da minha decisão, mas chegou uma hora que ele não conseguiu esperar. Nós tínhamos vidas diferentes. Foi um conjunto que não deu certo. Mesmo que tivéssemos transado não daria certo”, observa. Já Giovana e Evandro não seguiram o mesmo caminho. Ambos se converteram já adolescentes e começaram a namorar há seis meses por causa da religião. Ela tem passado turbulento, mas encontrou a paz e a felicidade que tanto buscava em Deus. O relacionamento deles é normal. “Quando comecei a ir à igreja, aprendi que não podia fazer sexo antes do casamento. Por isso, eu respeito e não forço nada. Até não ficamos muito tempo sozinhos para não criar muita intimidade”, comenta Evandro. Os três jovens afirmam sofrer preconceito quanto à escolha fora do ambiente religioso, mas não con-

Nelson Neto Junior: idealizador do Eu Escolhi Esperar

EXPRESSÕES

A professora de antropologia da Universidade Estadual Paulista Verônica Sales Pereira aponta que a sociedade possui uma multiplicidade de formas e expressões de sexualidade e que há inúmeras maneiras de experimentá-la. Por isso, esses movimentos não devem ser encarados com choque porque são opção de vida entre as existentes. Carusa, no entanto, faz um alerta. “Os jovens ‘escolhentes’ tendem não somente a localizar o casamento como evento principal do projeto de vida, mas também tendem a antecipar o matrimônio para experimentar o sexo em detrimento da obtenção de escolaridade e emprego, o que pode gerar frustrações futuras.”

Aline Furlanetto

Jovens enfrentam preconceito

A virgindade é considerada sagrada, por exemplo, para a religião islâmica, o que indica que o conceito possui interpretações e significados distintos ao redor do mundo. O sexo é uma atividade aprendida, por isso não possui tabela indicando qual é o momento certo de praticá-lo. A antropóloga e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Carusa Gabriela Biliatto indica a pesquisa da antropóloga Maria Luiza Heilborn, realizada em 2006, que revela a idade média da iniciação sexual de jovens entre 18 e 24 anos. Entre os consultados, homens perdem mais cedo a virgindade, com 16,2 anos; já as mulheres têm a “primeira vez” aos 17,9 anos. “Há um alto grau de variabilidade da idade de iniciação sexual no sexo feminino conforme renda, o grau de escolaridade da mãe e religião. Moças de camadas populares têm iniciação mais cedo. Por outro lado, a idade dos homens independe de fatores sociais”, ressalta Carusa.


“Eu escolhi esperar em Deus porque Ele sabe o que é melhor para

mim. Agora eu penso no casamento, mas antes eu falava: casar para quê? O homem precisa construir um lar, orar e esperar a hora certa de Deus. E eu vou esperar porque é tudo questão de tempo”

Renan, 23 anos

“Sexo para mim é uma celebração no casamento, é um presente de Deus. O ato é abençoado quando está dentro do matrimônio, porém fora dele é maldição. Não sofro preconceito, mas existem pessoas que não compreendem ou julgam ser radical. Acho apenas que existem opiniões diferentes”

Thaís Araújo, 24 anos, cantora

“Atualmente estou tranquila quanto a esperar a

pessoa certa. Mas tenho aprendido que quando cuidamos das coisas de Deus, Ele cuida das nossas e peço a Ele que cuide dos meus sentimentos. Sexo foi criado por Deus com propósito e não para ser feito aleatoriamente, sem compromisso, como acontece muito hoje”

Maressa Cruz, 24 anos, professora de música

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POLÍTICA

Se eu fosse prefeito... 2013 acabou e a “Revista do Comércio” revê os fatos perguntando o que os políticos fariam se fossem Rafael Agostini João Guilherme D’Arcadia joao@comerciodojahu.com.br

Dizem que criticar é fácil, mas elogiar também é. Na tentativa de dosar o que situação e oposição pensam sobre o primeiro ano de mandato do prefeito Rafael Agostini (PT), a Revista do Comércio conversou com membros dos dois grupos para que eles falassem o que fariam se estivessem no cargo mais alto do Poder Executivo. As entrevistas também foram uma forma de rever os principais acontecimentos de 2013 – que, definitivamente, foi um ano atípico, não apenas em Jaú, mas em todo o País. Basta ver que foi neste ano que ocorreram as maiores manifestações de rua do período pós-democrático, o que não é pouca coisa. O primeiro ano de gestão petista foi marcado por medidas extremas, tomadas pela administração como inescapáveis. Não faltou quem não concordasse com Agostini, mas também foram muitos os que disseram que o prefeito não tinha outro caminho. Entre as medidas aplicadas pela gestão estiveram o arrocho financeiro determinado em função de suposto rombo nas contas

16 s REVISTA DO COMÉRCIO 20

públicas, o anúncio da concessão do Serviço de Água e Esgoto do Município de Jaú (Saemja), a revisão da Planta Genérica de Valores em 40% e a retomada de prédios públicos. O começo do mandato também foi marcado por uma tumultuada negociação salarial com os servidores públicos municipais, queda de braço levada a cabo pelo governo e a diretoria da Santa Casa e os próprios manifestos de junho. PARTICIPANTES

Para falar sobre estes assuntos – e sobre como agiriam caso estivessem na Prefeitura – a reportagem ouviu o ex-prefeito Paulo Sergio Almeida Leite (PMDB), os vereadores Lucas Flores (PT), Ronaldo Formigão (DEM), Charles Sartori (PMDB) e Fernando Frederico de Almeida Júnior (PMDB), o ex-vereador Carlos Alexandre Ramos (PHS) e a presidente do Sindicato dos Funcionários da Prefeitura, Autarquias e Empresas Municipais de Jaú (Sinfunpaem), Eliana Aparecida Contarini. Com a palavra (e a caneta), os próprios.


Lucas de Barros Flores

Fernando Frederico de Almeida Júnior

é jornalista e vereador pelo PT

Revista do Comércio – Você é prefeito e identifica que o valor venal dos imóveis de Jaú está defasado. Ao mesmo tempo, precisa criar mecanismos para aumentar a arrecadação. O que você faz? Fernando Frederico de Almeida Júnior – Em setembro de 2010 disse na tribuna da Câmara que o grande desafio dos administradores do poder público em todo o País é alcançar a justiça tributária sem a diminuição da capacidade de investimento das administrações municipais. Uma vez identificada a defasagem do valor venal dos imóveis, surgiria a necessidade de conciliar o problema de eventual recolhimento de receita tributária inferior à arrecadação potencial, que caracteriza o descumprimento ao artigo 11 da Lei de Responsabilidade Fiscal, com a necessidade de se aprimorar a justiça tributária e respeitar a capacidade econômica do cidadão, garantida constitucionalmente (art. 145, § 1º). Diante disso, encomendaria minucioso estudo técnico, com ampla participação da sociedade civil, com o objetivo de dividir o município em zonas fiscais ou aumentar o número de zonas fiscais existentes em Jaú. A atualização paulatina da Planta Genérica de Valores, respeitando-se as dezenas de zonas fiscais distintas, certamente proporcionaria maior diferenciação entre os contribuintes, fato que implicaria em mais justiça e em efetivo respeito à capacidade contributiva de cada cidadão, além de evitar impacto negativo no orçamento familiar.

Revista do Comércio – Você é prefeito e, durante sua gestão, o País e sua cidade enfrentam a maior onda de manifestações das últimas décadas, como ocorreu em junho deste ano. O que você faz? Lucas de Barros Flores – A voz das ruas, quando é genuína, merece ser ouvida. Em alguns momentos ou situações, todos nós já nos deparamos com insatisfações. Em um país grande e rico em pluralidade, como é o Brasil, conciliar pensamentos e unificar ideais eleva-se ao status de missão impossível. Mas é preciso ter maturidade para entender que movimentos feitos nos primeiros seis meses de mandato não acontecem por descontentamentos adquiridos na administração em vigor. Isso posto, se eu fosse o prefeito, seguiria firme no planejamento do governo, porque os resultados de um governo planejado podem até não aparecer de maneira imediata, mas não falham.

Aline Furlanetto/25.nov.2013

Aline Furlanetto/25.nov.2013

é advogado e vereador pelo PMDB

Carlos Ramos é filiado ao PHS, professor e foi vereador de 2005 a 2012 Revista do Comércio – Você é prefeito e encontra uma situação preocupante no Serviço de Água e Esgoto do Município de Jaú (Saemja), como dívidas e baixa capacidade de investimentos. O que você faz? Carlos Ramos – Em primeiro lugar é preciso fazer auditoria séria na autarquia, coisa que eu sempre cobrei desde o início do mandato do Osvaldo (Franceschi Junior). É preciso ter números públicos e precisos, ninguém sabe ao certo qual o “buraco” do Saemja. Em segundo lugar, por princípio e convicção política e administrativa, eu não concederia o Saemja na íntegra, como vem sendo colocado. Alguns setores da autarquia, assim como de outras repartições, podem ser terceirizados por algum momento, como a frota ou alguns outros serviços. Isso faria parte de um projeto de reestruturação. Entregar a autarquia por 35 anos, o que vai aumentar os custos das tarifas e as cobranças de ligamento, vai nos colocar como reféns. A partir do diagnóstico preciso e do plano de recuperação, reveria também os contratos das concessões que já foram feitas. O Município não é obrigado a permanecer refém das duas concessionárias.

Aline Furlanetto/19.ago.2012

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Eliana Aparecida Contarini é servidora pública municipal e preside o Sindicato dos Funcionários da Prefeitura, Autarquias e Empresas Municipais de Jaú (Sinfunpaem)

Carolina Chamaricone

Paulo Sergio Almeida Leite (PMDB) é advogado e foi prefeito de 1997 a 2000

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Aline Furlanetto/16.abr.2013

Revista do Comércio – Você é prefeito e se depara, nos primeiros dias de governo, com cheques voltando, fornecedores cobrando e com incapacidade até para pagar salários do funcionalismo. O que você faz? Paulo Sergio Almeida Leite – Diante de tudo o que a gente soube pela imprensa no início do ano, faria mais ou menos como o atual prefeito fez, com um período de total recessão para conhecer realmente a situação e tentar pôr a casa em ordem. Acho que ele (Rafael Agostini) agiu corretamente. Eu peguei a Prefeitura com deficit público da ordem de 27,5% e fui diminuindo paulatinamente, entreguei com 7,8%. Mas não peguei a Prefeitura da forma como ouvimos que o atual prefeito recebeu, na minha época eram dívidas administráveis, muito embora o orçamento também fosse muito menor que o atual, cerca de um quinto do que está aí hoje. Porém, em razão da dívida ser administrável, nós conseguimos fazer algumas realizações já no primeiro ano de mandato. Mas, como o Rafael assumiu com dívida de mais de R$ 100 milhões, se ele não faz o que fez logo no primeiro ano, poderia ver todo seu mandato comprometido.

Revista do Comércio – Você é prefeita e está em campanha salarial com os mais de 3 mil funcionários da Prefeitura e do Saemja. O que você faz? Eliana Aparecida Contarini – Eu faria a reestruturação dos cargos e salários no segundo ano de mandato, partindo do princípio de que essa foi minha promessa de campanha. Já que “ajeitei a casa” no primeiro ano e pude fazer o orçamento para 2014, eu preveria a reestruturação e surpreenderia o funcionalismo com esta notícia. Eu pediria que a equipe técnica elaborasse esse plano por meio de levantamento de função a função na iniciativa privada e no serviço municipal da região, chegando à média ideal para cada posto. Muito provavelmente, haveria funções cujo reajuste seria de 4% a 140%, mas isso precisa ser apurado caso a caso, como ocorreu em cidades da região. Isso foi promessa da campanha e seria necessário que a Prefeitura tivesse feito estudo para ver a melhor forma de cumpri-la. Eu colocaria funcionários por conta disso, com o objetivo de me entregar o melhor plano para que o orçamento do segundo ano de mandato contasse com isso.


Ronaldo Formigão

é professor e vereador pelo PMDB

é policial militar aposentado e vereador pelo DEM Revista do Comércio – Você é prefeito e recebe autuação da Receita Federal, apontando suposto crime de fraude na gestão anterior, e obrigando o pagamento de R$ 15 milhões por causa de supostas compensações previdenciárias irregulares. O que você faz? Ronaldo Formigão – Desde que o Município recebeu o auto de infração, o que deveria ter sido feito era utilizar todas as ferramentas às quais eu tivesse direito, principalmente o fato de que havia 30 dias para apresentar recurso. O ideal era ter ido até o fim desta luta, assumir a dívida deveria ter sido o último caminho. O Município já tinha pago a empresa (Bernardo Vidal Consultoria Ltda.) para fazer a recuperação fiscal. Se isso já estava pago, com certeza havia outro caminho. Na época foi dito que ou o Município assumia a dívida ou pagava R$ 43 milhões, de multa. Eu tinha certeza de que a Prefeitura tinha como reverter isso, mas hoje ficamos tristes porque sabemos que está se descontando do Fundo de Participação dos Municípios uma dívida que poderia ter sido renegociada ou paga de alguma outra forma.

Aline Furlanetto/25.nov.2013

Revista do Comércio – Você é prefeito e percebe que a Prefeitura aluga muitos imóveis para abrigar repartições, mas, por outro lado, “empresta” prédios próprios para outros serviços, alguns muito importantes para o Município. O que você faz? Charles Sartori – Uma cidade desde sua fundação exige que a Prefeitura se responsabilize pela oferta de espaços e serviços públicos como hospital, escola, delegacia, posto de saúde e cemitério, entre outros serviços, isso é natural. Acontece que no decorrer desses últimos 20 anos existiu política administrativa que pensava e agia de forma a resolver os problemas de espaços públicos de maneira imediata, optando muitas vezes pelo aluguel de espaço de terceiros sem a visão de investimento permanente. Em contrapartida, também nessas duas últimas décadas a forma paternalista da gestão municipal em oferecer espaço público próprio a terceiros como entidades e associações acabou gerando um “delta negativo”, que hoje é um grande problema. Eu trataria essa questão de forma lógica, o que é privado é privado, o que é público é público e o que é parceria público-privada tem que ser bom para as duas partes, monitorando sua utilização ou subutilização. Gerenciaria investimentos para construção em definitivo de espaços públicos próprios e permanentes. Não se faz política sem primeiro se administrar, é uma questão de gestão e respeito ao erário. É necessário diminuir o “delta” e ganhar na prestação de serviço público.

Aline Furlanetto/25.nov.2013

Charles Sartori

REVISTA DO COMÉRCIO s 23


ESPECIAL

Existo, logo tenho vazio existencial Apesar de ser inerente a todo ser humano, é possível lidar com o sentimento de que sempre nos falta algo

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Bianca Zaniratto biancazaniratto@comerciodojahu.com.br Flaviana de Freitas flaviana@comerciodojahu.com.br

Aline Furlanetto

Após saborear um delicioso café expresso feito na minha nova cafeteira elétrica, pego o carro com ar-condicionado e rumo ao trabalho. Lá, por meio da internet, me informo sobre tudo – ou quase tudo – que acontece na minha cidade, País e no planeta Terra. No meio do expediente, falo com minha amiga que está de férias na Europa por meio de aplicativos de celulares. No almoço, não preciso caçar a carne ou pescar o salmão que está no meu prato. Findo o batente, calço o tênis que amortece o impacto das pisadas e monitoro minha frequência cardíaca. À noite, saio com amigos para relaxar ou alugo um filme para assistir em casa, regado a pipoca feita no micro-ondas. Parece perfeito. Se vivemos em um mundo cujo conforto nossos antepassados não puderam nem sequer imaginar, qual a razão de continuarmos nos comportando como a hiena Hardy, personagem de desenho animado criado em 1962 pela dupla de cartunistas Hanna-Barbera? Pessimista por natureza, a hiena vivia se lamuriando pelos cantos com seu famoso bordão: “Oh céus! Oh vida! Oh azar! Isto não vai dar certo!”. Assim somos nós. Eternos descontentes. Não importa a época em que vivemos, a impressão é que a crise existencial sempre nos acompanha e nos assombrará como um fantasma ao longo da história da humanidade. Objeto de estudo de correntes filosóficas e psicanalíticas, a crise existencial nada mais é do que a sensação de que algo nos falta para alcançar a verdadeira felicidade. Desde a mais tenra idade, colecionamos bichos-papões, que teimam em não descer do telhado. Para atingir a plenitude, precisamos de um quê a mais, o qual é personificado na profissão dos sonhos, no relacionamento perfeito, na aquisição de bens materiais considerados “essenciais” ou até

mesmo no rol de amizades. “A angústia existencial é algo inerente ao ser humano, como o próprio nome já diz. Eu tenho angústia e logo existo. Freud (Sigmund Freud, psinacalista) traz que todos convivemos com algo que falta, como se a gente tivesse impressa uma marca que falta um pedaço. Se isso de um lado é muito bom, pois nos obriga a buscar mais e mais, por outro lado, causa frustrações. Temos de saber administrar isso e ter uma vida prazerosa, ao mesmo tempo”, pondera a psicanalista Vera Maria Párice. Apesar de os dois intelectuais terem pontos de divergência, a teoria de Jean-Paul Sartre também se debruça sobre o vazio inerente ao homem. Para o filósofo parisiense, “o homem está condenado a ser livre”, ou seja, somos inteiramente responsáveis por tudo que está a nossa volta, principalmente nossas escolhas e atitudes. Então, temos de encontrar o ponto de equilíbrio entre a busca interminável e o contentamento de acordar todos os dias, assumindo a consequência dos nossos atos. Falando assim, parece fácil. Mas quem descobrir a fórmula, seguramente encabeçará a próxima lista de milionários da Forbes. PADRÕES

Quem disse que precisamos ter a profissão dos sonhos, o relacionamento perfeito, casa, carro do ano, viagens internacionais e um milhão de amigos para sermos felizes? Quem garante que, se tivermos tudo isso, realmente entraremos no seleto círculo de privilegiados que enchem a boca para bradar: “Sou feliz”. A sociedade atual impõe padrões de comportamento cruéis. Desde como deve ser seu cabelo até o que você deve comer e pensar, o coletivo dita regras, a maioria insana. E, como personagens de George Orwell, na obra 1984, seguimos sendo massacrados pelo Grande Irmão, a coletividade. E, pior do que isso, incorporan-  REVISTA DO COMÉRCIO s 25


EU SOU X EU ESTOU

Quando o vocalista do Capital

Liza Monte Alegre recomenda que todos voltem os olhos a si mesmos

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Vera Parice diz que é preciso saber administrar sentimentos

Fotos: Carolina Chamaricone

do esse papel, somos carrascos de nós mesmos e dos que nos cercam. Queremos que a nossa verdade seja a verdade do outro. É aí que está a causa dos conflitos. “Somos 7 bilhões de habitantes no planeta Terra. São 7 bilhões de verdades e o ser humano foi feito para viver em grupo. Agora, como respeitar a diversidade e aceitar o diferente? Isso causa conflitos psicossociais. É difícil conviver com o diferente, respeitá-lo e amá-lo”, afirma o psiquiatra José Egberto Mattosinho. Esse choque assemelha-se a uma ferida. Como o ferimento é “cutucado” insistentemente, pois não mudamos hábitos da noite para o dia, pelo contrário, demoram-se gerações para alteração de padrões, ele não cria aquela casquinha necessária à cicatrização. Assim, mantém-se permanentemente aberto e a “cicatriz” se manifesta na forma dos mais diversos males da alma, como depressão, angústia, ansiedade, crises e síndromes nervosas e uma infinidade de doenças, com desdobramentos somáticos.

Inicial, Dinho Ouro Preto, entoa a estrofe da música Quatro Vezes Você, parece exortar os fãs: “O que você faz quando/Ninguém te vê fazendo/Ou o que você queria fazer/Se ninguém pudesse te ver”. As estrofes são um convite à reflexão. Na verdade, quem somos nós, desprovidos da roupagem social, a qual nos tolhe? A confusão que fazemos entre “eu sou” e “eu estou” também

está na base do nosso sofrimento. “O pior é a afirmação do ‘eu sou’. ‘Eu sou depressiva, eu sou ansiosa’. A depressão é um estado muito complicado, mas é apenas um estado, não é uma forma de ser da pessoa. O problema emocional é um estado e o que limita o paciente é ele mesmo”, afirma a terapeuta holística Liza Monte Alegre. Para a especialista, a geração


Frustrações podem causar depressão

de conflitos começa desde a primeira infância, na chamada “mente do ego”, a qual está assentada em um tripé formado pela culpa, medo e tempo (nunca vivemos no presente).

Aline Furlanetto

Sentimento de tristeza, baixa autoestima, dificuldade de lidar com as pessoas. Estas estão entre as principais reclamações das pessoas que buscam terapia. Há inúmeras causas para estes problemas, que acabam originando a depressão e a não aceitação do outro. O psiquiatra André Gustavo de Jesus Pellizzari diz que, hoje, a depressão é um dos principais fatores que levam as pessoas aos consultórios de terapeutas. Entre as causas, está a dificuldade do paciente em aceitar a si mesmo. Geralmente, a pessoa não consegue corresponder às expectativas da sociedade e começa a se sentir mal. “A depressão é um dos males do mundo moderno. As pessoas chegam aqui extremamente tristes, com casos reais de depressão. Além do tratamento com remédios, é necessário que o paciente faça terapia e descubra os motivos que o levam a ficar depressivo”, afirma. Normalmente, a depressão tem maior porcentagem entre as pessoas adultas. A psiquiatra Carla Salati comenta que, em seu consultório, os jovens normalmente têm quadros nervosos e de ansiedade. Os adultos com mais idade possuem sintomas depressivos. De acordo com Carla, as pessoas não aceitam as próprias frustrações. “Isso faz que os sintomas surjam ou se mantenham. Todos temos frustrações ao longo da vida

Carla Salati: jovens também estão sobrecarregados

e temos que saber lidar com elas”, ressalta. Apesar da incidência maior da depressão em adultos, a doença tem se tornado comum entre os mais jovens. A causa está no nível de sobrecarga psíquica e emocional que a sociedade impõe aos jovens. “Há um excesso de informação

e competitividade pelo mercado de trabalho, para passar no vestibular. Além disso, eles têm de ser bem-sucedidos, estar com o corpo malhado, estar em evidência em todas as esferas da vida. Há também uma falência da família e isso deixa os jovens mais inseguros e expostos às drogas e à depressão”, acrescenta Carla.

“Essa mente é irreal, é a mente do ego que cria ansiedade, tristeza, depressão e o sentimento de rejeição. Comece a observar, a partir de hoje, os sentimentos que são gerados por medo. Medo

de não ser entendido, de ser rejeitado, de não corresponder ao que a sociedade espera de você. Estes medos são irreais. Eles são tão covardes que se você bater de  frente eles somem.” REVISTA DO COMÉRCIO s 27


“Terapia é buscar o amor próprio”

Carolina Chamaricone

“Eu era uma pessoa muito insegura comigo mesma, não gostava de mim, me sentida gorda, tinha a autoestima muito baixa. Eu era triste, não estava feliz. Conversando com uma amiga, ela me orientou a fazer terapia. Foi quando comecei a fazer o tratamento com a terapeuta, que pegou meus pontos de insegurança e de tristeza e começou a tratar. Em seis meses virei outra pessoa. Hoje, após um ano de terapia, me sinto mais bonita, não tenho tanta insegurança, não choro. Eu sou mais firme, me amo mais. Sou esteticista e tudo começou quando fui pedir emprego em uma clínica e não consegui a vaga por estar acima do peso. Na época, me falaram que não poderia trabalhar com estética por estar fora do padrão de beleza. Isso reforçou a minha insegurança, fiquei destruída. Também sempre fui muito ansiosa, então, fiquei melhor depois que comecei a terapia. Eu aconselho as pessoas a procurar ajuda, porque, pelo simples fato de você conversar com o terapeuta, você começa a ver que sua vida está melhor. É uma vitória minha, hoje penso ‘nossa, eu estou curada’. A terapia é ótimo, você vai para resolver um problema e acaba conseguindo resolver outros, que muitas vezes você nem sabia que tinha. Eu estou me amando mais e o amor próprio é uma descoberta que leva muito tempo. Mas acho que é isso, a terapia é buscar o amor próprio.” Ana Silvia do Amaral Carvalho Aranha, 44 anos, esteticista

Cobrança social se relaciona à ansiedade Hoje, as pessoas se sentem extremamente cobradas em atender ao ideal da sociedade. Maior produtividade no trabalho, padrões de beleza e tipos de relacionamento estão entre os fatores que mais causam angústia nos pacientes em consultórios psicológicos e psiquiátricos. “As queixas estão relacionadas aos relacionamentos com o outro. Todas estas reclamações têm sintoma muito claro de angústia e de ansiedade, o que leva a casos como síndrome do pânico e crises nervosas. Estes problemas vão além das questões no trabalho ou na família e estão ligados às mudanças da sociedade, com o ritmo de vida mais acelerado”, afirma a psicóloga Mi28 s REVISTA DO COMÉRCIO

chelle Gomes de Pádua. Michelle usa como exemplo as mulheres que, por volta dos 30 anos, com a vida profissional extremamente ativa, resolvem ter filho. “Isso causa uma angústia gigante, pois a mulher começa a sentir que não está correspondendo às expectativas da sociedade. Não consegue ser a mãe perfeita porque precisa cuidar do trabalho, mas também não é a mesma profissional de antes porque agora é mãe”, conta a psicóloga. Os terapeutas ainda percebem que, nos dias de hoje, as pessoas têm alto grau de exigência interna, principalmente por causa do dia a dia competitivo. A psicóloga Regina Mombach explica que, normal-

mente, os ansiosos sofrem muito com os relacionamentos. “Em relacionamentos conjugais e no trato com a chefia no trabalho, os ansiosos têm grau de exigência muito grande do outro, então, começam a se sentir frustrados com os relacionamentos. Na verdade, o ansioso sofre pressão externa e interna”, comenta. Muitas vezes, a ansiedade extrema se torna patológica e começa a ocasionar crises nervosas, como, por exemplo, a síndrome do pânico. Para Regina, é necessário que a pessoa ansiosa aprenda a lidar melhor com as frustrações da vida e comece a encarar os problemas, como forma de combater as crises nervosas.



KLEBER e LAURA

Mazziero

 Kleber Mazziero é maestro e cineasta e Laura é estudante de Comunicação (ESPM) e de Letras (USP)

Punhos cerrados, braços cruzados

Se estivessem por aqui em 2013, Platão, Aristóteles e Kant teriam orgulho do Brasil

Platão, Aristóteles e Kant teriam orgulho do Brasil de novembro de 2013. O filósofo trabalha em busca do saber; o saber filosófico passa pela construção de conceitos que entendem e contribuem para o melhor modo de vida do ser humano e do ser humano em sociedade. É parte do trabalho do filósofo. Um conceito-chave da filosofia platônica é o conceito de Belo. O termo grego όμορφος (ómorfos) indicava, no século 4 a.C., mais do que o rosto maquiado da celebridade. Belo, na primeira filosofia grega, era a qualidade essencial, pertencente ao Mundo das Ideias, que ladeava o Bom e o Justo, as três Virtudes que o ser humano deveria buscar ao longo da vida. Aristóteles, discípulo de Platão, apresentou em sua filosofia o conceito de Prazer. O termo grego ευχαρίστηση (efcharístisi) indicava, no século 4 a.C., mais do que estar no bar com os amigos à beira de um copo de cerveja. Prazer, na primeira filosofia grega, tinha o sentido de “completude” e de “gratidão pelo compartilhar”. Tanto assim que o termo derivado de prazer ευχαριστία (efcharistía), “dar graças”, nos leva à tradução para o latim, que aponta para a expressão gratiarum actio, o sentido pleno do termo eucaristia. Mais de dois milênios depois, o filósofo alemão Immanuel Kant apresentou o conceito de Complacência. O termo grego συμμόρφωση (symmórfoosi) indicava, no fim do século 18, muito mais do que a tradução para o português empresta ao termo. A filosofia alemã utilizou o radical grego que remetia ao Belo, de Platão όμορφος (ómorfos), e Complacência complementou o sentido aristotéli-

30 s REVISTA DO COMÉRCIO

co de “compartilhar do prazer”, de “comprazer-se”, de “comprazer-se com e pelo outro”. Ao ver, em novembro de 2013, os punhos cerrados de dois dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, Platão, Aristóteles e Kant teriam orgulho do Brasil. Os punhos cerrados lembraram o modo como Pelé comemorava seus gols. José e Dirceu socavam o ar e o Brasil comemorava o gol cívico (o golaço cívico) marcado numa longa, difícil e ainda bastante incipiente partida contra a corrupção e a impunidade. Ao ver, em novembro de 2013, os braços cruzados de 22 jogadores em campo nos mais diversos campos dos quatro cantos do País, Platão, Aristóteles e Kant teriam orgulho do Brasil. Os braços cruzados e os semblantes sérios (seriíssimos) apontaram a tomada de posição do jogador de futebol brasileiro, um profissional até então mimado, despreparado, alheio ao processo social brasileiro e que, finalmente, percebeu a importância de seu papel e de sua função social e política. Eles cruzaram os braços, sentaram-se no chão, ajoelharam-se no gramado, e o Brasil comemorou o gol cívico (o golaço cívico) marcado numa longa, difícil e ainda bastante incipiente partida contra a corrupção e a passividade. Em junho, as manifestações cívicas pacíficas tomaram as ruas; em novembro, alguns resultados cívicos na Corte Suprema e novas manifestações cívicas no Campo de Jogo. Se estivessem por aqui em 2013, Platão, Aristóteles e Kant teriam orgulho do Brasil. Afinal, a sociedade brasileira pode compartilhar do prazer de ver a beleza de gestos simples do cidadão no exercício de sua cidadania. É parte do trabalho da gente.


Auditoria Médica – Uma segunda opinião  Página 32

1ª Caminhada Regional das Unimed do Centro Oeste Paulista reuniu cerca 400 pessoas em Jaú  Página 34

Informativo Saúde! Ano 4 - Edição 21 – Jaú, dezembro de 2013 Informativo Saúde! é uma publicação da Unimed Regional Jaú Diretor Presidente: Dr. Paulo De Conti Diretor Vice-Presidente: Dr. Antônio José Craveiro Faria Diretor Superintendente: Dr. Paulo Fernando Campana Diretor Desenvolvimento e Educação: Dr. José Carlos Berto Diretor Secretário: Dr. Luiz Alfredo Teixeira Junior Assessora de Marketing e Comunicação: Fernanda de Almeida Conrerp 2ºr - 4092 Jornalista Responsável: Nádia De Chico MTB – 46538/SP Redação/Fotos: Fernanda de Almeida Nádia De Chico Colaboração: Felipe Azevedo Silva Diagramação: Revista do Comércio Distribuição: Revista do Comércio Informativo Saúde! Rua Álvaro Floret, 565 - Vila Hilst - Jaú/SP - Cep: 17207-020 Central de Relacionamento: 0800 10 53 33 www.unimedjau.com.br Elogios, críticas e sugestões de pauta nadia.chico@unimedjau.com.br

Confraternização promoveu integração e aprendizado

Confraternização do Centro de Treinamento Unimed acontece em Jaú As equipes do Centro de Treinamento Unimed – CTU reuniram-se, em 23 de novembro, no SESI Jaú, para confraternização organizada pela Unimed Centro Oeste Paulista. O evento contou com programação diversificada: danças circulares e jogos cooperativos que têm por objetivo despertar a consciência de cooperação e ensinar a considerar o outro que joga como um parceiro e não como adversário. O Projeto CTU visa proporcionar a oportunidade de aprendizado do

basquetebol para meninas de 7 a 14 anos nas cidades de Adamantina, Assis (Paraguaçu Paulista), Avaré, Botucatu (São Manuel), Dracena, Jaú, Lençóis Paulista, Lins, Marília, Ourinhos, Tupã e Presidente Prudente, além de criar condições para que estas crianças e adolescentes sejam devidamente inseridas na sociedade, através da promoção de palestras educativas e acompanhamento escolar e médico.


Auditoria Médica – Uma segunda opinião A Unimed Regional Jaú, com objetivo de viabilizar assistência médica de qualidade, possui o departamento de Auditoria Médica que atua com base nas melhores evidências científicas existentes, obedecendo a critérios éticos e técnicos na análise da assistência efetuada ou proposta aos beneficiários da operadora. De acordo com o coordenador do departamento de auditoria médica da Unimed Regional Jaú, Dr. Paulo Bigheti, o trabalho dos auditores se caracteriza como ato médico e não apenas um ato mecânico ou burocrático. “É extremamente complexo, de grande dificuldade e exige conhecimentos técnicos, plenos

e integrados da profissão”, explica Bigheti acrescentando ainda que para algumas áreas, complexas e de grande especificidade, é necessário o apoio de médico auditor especialista, como nos casos de cirurgia cardíaca, oncologia clínica, entre outras. Hoje a Unimed Regional Jaú possui no departamento de auditoria médica sete médicos (um coordenador e seis médicos auditores) atuando operacionalmente em três áreas: Autorização Prévia, Visitação Hospitalar e Revisão de Contas (veja quadro) buscando garantir que o beneficiário seja atendido com agilidade e qualidade.

AUDITORIA MÉDICA E SUAS TRÊS ÁREAS DE ATUAÇÃO: AUTORIZAÇÃO PRÉVIA

É a auditoria realizada antes dos atendimentos terem ocorrido, junto aos profissionais da assistência, com a finalidade de verificar o estado clínico do paciente, e a procedência das justificativas para as solicitações de autorizações. O médico auditor efetua a análise técnica destas solicitações, identificando se o solicitado é compatível com a patologia diagnosticada e com as respectivas coberturas contratuais, se há evidências científicas que embasem a sua utilização, e quando necessário solicita esclarecimentos junto ao médico assistente. Havendo necessidade a auditoria médica pode sugerir a avaliação de especialistas com a finalidade de obter parecer à distância, ou avaliações presenciais para obtenção de segunda, terceira ou quarta opinião, ou solicitar perícia. Pode ainda nos casos de divergência médica, quando não foi possível uma solução, solicitar que a Unimed instaure junta médica aos moldes da Resolução do Conselho Suplementar de Saúde, CONSU Nº 8.

VISITAÇÃO HOSPITALAR

O médico auditor visitador hospitalar atua junto aos profissionais que prestam a assistência, a fim de monitorizar o estado clínico do paciente internado, de verificar a procedência da justificativa da internação, bem como da terapêutica e propedêutica instituídas. É o momento no qual são auditados os procedimentos durante e após terem acontecido. É nesta hora que o auditor pode inclusive discutir com o médico assistente sobre possíveis opções de assistência médica ao beneficiário. O objetivo é monitorar as internações hospitalares, acompanhar o tratamento e a evolução dos clientes, avaliar a complexidade de procedimentos propostos, interagir com a equipe médica para compatibilizar a melhora de saúde destes pacientes, baseando-se nas melhores evidências científicas, de acordo com as respectivas coberturas contratuais, promovendo a redução do tempo de internação desses clientes para o tempo necessário e racionalizando os gastos, contribuindo para que os padrões de qualidade sejam atendidos e avaliando os serviços prestados. O trabalho do médico visitador fornece subsídios aos médicos auditores responsáveis pela autorização prévia ou revisão de contas médicas para tomada de decisões, através de elaboração de relatórios.

REVISÃO DE CONTAS

Os médicos auditam contas médicas ambulatoriais e hospitalares após os procedimentos terem acontecido. O objetivo deste trabalho é a verificação das cobranças realizadas pelos prestadores de serviços, e sua compatibilidade com o tratamento autorizado e realizado, com a patologia diagnosticada e respectivas coberturas contratuais. Os auditores solicitam esclarecimentos quando necessário, e efetuam ajustes quando preciso.


A Unimed Regional Jaú comunica o início do atendimento dos beneficiários da CABESP, a partir de 16/12/2013 De acordo com a parceria fechada, os beneficiários da CABESP poderão utilizar a rede de atendimento da Unimed Regional Jaú, em nível ambulatorial, para os seguintes serviços: - Consultas médicas eletivas (agendadas) com médicos cooperados/credenciados, em consultórios e clínicas. Consultas de urgência/emergência em nível de Pronto Atendimento e Pronto Socorro. - Exames complementares como: laboratoriais e radiológicos, inclusive tomografia computadorizada,

ressonância magnética e medicina nuclear. - Terapias em regime ambulatorial como: fisioterapia, quimioterapia e radioterapia. Para os serviços acima, os beneficiários da CABESP devem ser atendidos exclusivamente de posse do Cartão Unimed e outro documento de identificação pessoal. Já para as internações, após o pedido do médico, o hospital fará a solicitação diretamente à Cabesp. As autorizações de consultas e exames simples deverão ser realizadas

nos próprios consultórios ou clínicas, através do sistema on-line. Os exames especializados e os procedimentos de alto custo deverão ser autorizados previamente na sede da Unimed Regional Jaú. Os beneficiários receberão os cartões Unimed por correio. Mais informações sobre as formas de atendimento e autorizações dos serviços podem ser obtidas diretamente na Central de Relacionamento da Unimed: 0800-105333. Diretoria Executiva UNIMED REGIONAL JAÚ


DIA DAS CRIANÇAS NA AMU JAÚ Colaboradoras Voluntárias e Diretoras da AMU -Associação Mulher Unimed Jaú doaram em outubro brinquedos para as crianças do Programa Vida Iluminada da Associação que como objetivo assistir e auxiliar portadores de deficiência visual e família.

UNIMED REGIONAL JAÚ REALIZA IV SEMANA DE SAÚDE OCUPACIONAL

1ª CAMINHADA REGIONAL DAS UNIMEDS DO CENTRO OESTE PAULISTA EVENTO REUNIU CERCA DE 400 PESSOAS NO PARQUE DO RIO JAHU A primeira Caminhada Regional das Unimeds do Centro Oeste Paulista realizada na manhã de 27 de outubro, simultaneamente em 13 cidades da região, reuniu em Jaú, no Parque do Rio Jahu, cerca de 400 pessoas, muitos acompanhados de seus bichinhos de estimação, que percorreram cerca de dois quilômetros sob a supervisão de educadores físicos que ministraram aulas de aquecimento, alongamento e zumba. O evento arrecadou 40 quilos de ração que foram doados para a APAJA – Associação Protetora dos Animais de Jaú e 190 quilos de alimentos divididos entre Abrigo São Lourenço e ARJE- Associação de Recuperações Jovens Esperança.

Os participantes tinham a disposição circuito de aferições com teste de glicemia, aferição de pressão e peso com cálculo de IMC, além de uma tenda exclusiva com informações sobre os animais de estimação e adoção de filhotes

O DSO - Departamento de Saúde Ocupacional da Unimed Regional Jaú realizou entre os dias 22 e 24 de Outubro a IV Semana de Saúde Ocupacional. O evento reuniu diretores e demais profissionais das empresas assistidas pelo DSO no auditório Dr. Paulo De Conti localizado na cooperativa e tratou de temas relacionados com a saúde e bem estar do trabalhador: Obesidade no Trabalho com palestra da nutricionista Denise Rodrigues, Crack e outras drogas, com Dr. Amim Chahrur e Embriologia da Alma, com o Dr. Romário Araujo de Melo.


REDE SOCIAL

E-invasão de privacidade

Aline Furlanetto

Divulgação de vídeos íntimos de adolescentes pode resultar em prejuízos psicológicos e sociais

Matheus Orlando matheusorlando@comerciodojahu.com.br

Um simples clique para compartilhar fotografias eróticas ou vídeo íntimo de adolescentes na internet pode causar repercussões graves. O suicídio de duas jovens – uma piauiense e uma gaúcha – em novembro reacendeu em todo o Brasil o debate sobre o machismo e a necessidade de resguardo

pessoal. Até a região de Jaú registrou recentemente casos referentes a armazenamento de imagens de crianças e adolescentes em poses sensuais. O fato é que a rede mundial de computadores pode ser um caminho sem volta: uma vez que o conteúdo não autorizado é veiculado e visto por milhares – ou milhões – de pessoas, as conse-

quências, como constrangimento e linchamento social, são sérias. Se a vítima for menor de idade, mais grave ainda. A psicóloga Maria Cristina Maruschi comenta que hoje a sexualidade é mais livre nos adolescentes, que provavelmente são influenciados pela forma positiva como programas de televisão, em especial reality shows, abordam a  REVISTA DO COMÉRCIO s 35


Para reduzir a incidência de divulgação de imagens íntimas, Roseli recomenda, acima de tudo, que a jovem não se deixe fotografar ou filmar em condições que julgar privadas. “A melhor forma de proteção é não fazer o vídeo. Mas se porventura alguém divulgar uma imagem sua de forma indevida, é possível usar as vias legais, o que não impede que vejam o conteúdo”, afirma. Em Jaú, o Conselho Tutelar e a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) podem ser procurados nesses casos. Roseli defende que o governo, escolas e famílias disponibilizem campanhas educativas e meios para que crianças, jovens e adultos desenvolvam o uso ético da internet. “A ação inadequada de poucos não pode prejudicar a liberdade da internet.” APOIO

A adolescente que teve material pornográfico divulgado na web sem autorização precisará de suporte total. “Os pais precisam dar apoio incondicional, mesmo que a menina tenha errado. Ela vai se sentir totalmente invadida e usada. Haverá muita repercussão do ponto de vista emocional e pode ser necessário buscar apoio profissional com psicólogos”, recomenda Maria Cristina.

Divulgação

autoexposição. Para ela, controlar o que os filhos acessam no mundo virtual é mais um desafio para os pais. “O comportamento do adolescente nunca foi fácil. Cabe aos pais não permitir excessos, mas alguns adultos nem sabem dos perigos da internet. O jovem pode estar em seu quarto, mas se envolvendo com pedófilos ou tomando decisões erradas”, pontua. Para Maria Cristina, a falta de reflexão, típica dos adolescentes, os leva a gravar vídeos íntimos. Ela explica que o adolescente sente a necessidade natural de se autoafirmar e que essa vontade pode ser saciada por meio da gravação de vídeos pornográficos ou até pela transmissão em tempo real de cenas de sexo. “Os pais devem estabelecer diálogos desde a infância e favorecer momentos de reflexão sobre diversos assuntos.” Na visão da psicóloga e membro do Conselho Federal de Psicologia Roseli Goffman, após a divulgação de material íntimo, a situação é pior para as garotas em função do sexismo e do preconceito contra a mulher. “Existe ainda repreensão à sexualidade feminina e isso é resultado da profunda e chocante violência de gênero que ainda temos no País”, atesta.

Psicóloga recomenda maior número de campanhas alertando crianças, jovens e adultos sobre uso da internet

Aline Furlanetto

16 s REVISTA DO COMÉRCIO 36


Conselho e delegacia podem ser acionados No caso de vazamento de vídeos íntimos ou fotografias pornográficas de crianças e adolescentes, o Conselho Tutelar e a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Jaú podem ser acionados. O presidente do conselho, Marivaldo Araujo de Souza, explica que o órgão instrui os responsáveis legais a registrar boletim de ocorrência (BO) por se tratar de crime. A delegada titular da DDM, Isabel Cristina Maziero Martignago, informa que, depois de o fato ser comunicado via BO, a Polícia Ci-

vil investigará. Isabel explica que, ao veicular vídeo íntimo de adolescente, a pessoa poderá responder pelo crime tipificado no artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cuja pena é de reclusão de três a seis anos e multa. Já o suspeito que apenas armazena fotografia ou vídeo íntimo de adolescente, sem divulgá-los, também pratica crime, e responde pelo artigo 241-B do ECA, cuja pena é de reclusão de um a quatro anos e multa.

Jaú e Brotas registram casos A região de Jaú conta com casos de suspeita de divulgação de material pornográfico envolvendo menores de idade. Morador de Jaú, cuja identidade não foi divulgada, foi investigado pela Polícia Federal (PF) em novembro durante a Operação Glasnost, que teve como objetivo combater a pedofilia e a propagação de conteúdo pornográfico infantil. Conforme o Comércio do Jahu publicou na edição do dia 20 do mês passado, o morador de Jaú não foi preso porque em sua re-

sidência não foram encontrados indícios que configurassem o flagrante, mas ele teve computador, cartões de memória e pen drives apreendidos. Os itens serão periciados pela PF e, caso seja constatada atividade pornográfica infantil e juvenil, o averiguado poderá ser preso. Também em Jaú, homem de 56 anos foi preso em flagrante no dia 26 de novembro por manter armazenadas em seu notebook fotos íntimas da enteada de 15 anos. Segundo a delegada titular da De-

legacia de Defesa da Mulher, Isabel Cristina Maziero Martignago, a vítima teria sido ameaçada pelo suspeito para posar para as fotos quando tinha 11 anos. Em outubro de 2012, guarda de escola estadual em Brotas, então com 46 anos, foi preso porque tirava fotos e gravava vídeos com cenas de pornografia e sexo explícito envolvendo cerca de 30 crianças e adolescentes, a maioria alunas do colégio onde trabalhava. De acordo com a delegacia da cidade, o suspeito está em liberdade. REVISTA DO COMÉRCIO s 37


EDUCAÇÃO

Carolina Chamaricone

Admirável mundo novo Alfabetização abre perspectivas para pessoas que cresceram sem saber ler e escrever Paulo Roberto Cruz paulocruz@comerciodojahu.com.br

A Secretaria de Educação de Jaú promoveu, no dia 3 de dezembro, mais uma formatura de alunos da rede municipal, na Câmara. A cerimônia teve discursos, aplausos e familiares orgulhosos com a entrega dos diplomas. A diferença em relação a eventos semelhantes no final do período letivo é que entre os formandos 38 s REVISTA DO COMÉRCIO

havia homens e mulheres, uns com mais de 60 anos, que concluíram os cursos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Parte deles teve somente agora o primeiro encontro com a leitura e a escrita – e se encantaram com o saber. Na abertura da cerimônia, todos os presentes cantaram os hinos Nacional e a Jaú. O que foi inusitado para muitos que estavam ali é que, pela primeira vez, puderam

também ler a letra das canções, exibida nas telas do auditório do Legislativo. Os formandos tiveram acesso a um mundo repleto de significados e de oportunidades, que até recentemente lhes era como terra estrangeira, desconhecida. EM NÚMEROS

O Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o Município teria 5.151 pessoas, a partir dos 10 anos, que não sabem ler e escrever, o equivalente a 5,65% dos habitantes. Em todo o Brasil, o número chega a 15,5 milhões de pessoas, ou 7,9% da população. A história daqueles que não são alfabetizados geralmente é semelhante. Nasceram em famílias pobres, cresceram em zonas rurais e tiveram de começar a trabalhar muito cedo, com menos de 10 anos. Acabaram por trocar o aprendizado pela garantia de ter um pequeno salário no fim do mês.


Jovens tentam retomar ensino Depois de dois anos, o adolescente Felipe de Assis do Nascimento, 16 anos, voltou para a escola. Ele terminou o segundo ciclo do Educação de Jovens e Adultos (EJA) e não pretende mais abandonar a escola. A interrupção dos estudos ocorreu porque ele estava com muitas faltas e dificuldades para prosseguir com a turma. Antes que o afastamento se tornasse maior, e acreditando que para obter uma boa vaga de trabalho necessita de formação mais especializada, Nascimento decidiu que tinha de recomeçar. Optou pelo EJA porque a formação é a cada seis meses, mais rápida. Ele diz que não pretende cometer novamente o erro de

deixar os estudos. Aos 34 anos, Jorge Luiz Luque, atualmente desempregado, ficou mais tempo afastado da escola. Ele parou de estudar aos 18 anos, antes de terminar a antiga 8ª série, atual 9º ano. Voltou neste ano, concluiu o ensino fundamental e não pretende parar antes de conseguir formação que lhe garanta um trabalho melhor. “Estou entregando panfletos, quer dizer, estou praticamente sem trabalho”, declara. Luque parou de estudar porque na época, há cerca de 15 anos, achou que não precisaria concluir o “ginásio” para conseguir trabalho. Hoje ele percebe que estava enganado. Sua intenção é fazer, em breve, curso técnico. 

Aline Furlanetto

Antes de a formatura ter início, o trabalhador rural Benedito da Silva, 49 anos, se preocupava com a camisa. Conversava com sua esposa para saber se estava bem arrumado, preparado para pegar o “canudo” do primeiro ciclo do EJA, equivalente aos quatro primeiros anos do ensino fundamental. Ele nasceu em Cambará, no Paraná. Frequentou o colégio regularmente durante cerca de dois anos, mas faltava com frequência para ajudar o pai na roça. Na época, se todos da família não trabalhassem o sustento do mês não estava garantido. Aos 12 anos decidiu que não voltaria para a escola porque não conseguia mais acompanhar a turma. E durante 36 anos dependeu de outras pessoas para interpretar corretamente contratos de trabalho e o próprio holerite. Hoje, já está matriculado para o segundo ciclo do EJA, até o 8º ano do ensino fundamental, e quer mais. “Eu vou ver se faço depois o colegial e uma faculdade. Quero ser engenheiro agrícola”, diz Silva. Para a calçadista Rosineide Maria da Silva, 34 anos, a educação foi interrompida pelo casamento. Ela se casou aos 15 anos, em Pernambuco, e na época começava a estudar. O marido, no entanto, decidiu que ela tinha de cuidar da família e que a escola não era prioridade. Rosineide tentou várias vezes

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contrariar a decisão do esposo, mas, para evitar desavenças, decidiu que iria cumprir a ordem. Ela, porém, nunca desistiu da intenção de se formar. Seu maior desejo era aprender a escrever corretamente. “Para ler a gente se virava, alguém ajudava”, conta. Mãe de quatro filhos, chegou a Jaú há três anos e viu a oportunidade de finalmente ter o primeiro diploma. Discutiu um pouco em casa, se matriculou no EJA, concluiu até o 4º ano e vai seguir se possível até chegar a um curso técnico ou à faculdade. QUE ÔNIBUS É ESSE?

Sem nunca ter frequentado uma escola, José Messias dos Santos, 43 anos, nascido em Alagoas e há 18 anos morador de Jaú, diz que sentia o peso do analfabetismo principalmente quando tinha de tomar um ônibus. “Sempre precisava perguntar que ônibus era, para onde ia. Ainda bem que sempre tinha alguém para falar”, comenta. Santos é operador de máquinas e para isso a leitura não fazia muita falta porque ele se acostumava aos comandos necessários para operar seus equipamentos. Nas ruas, em lojas, em supermercados, no dia a dia, no entanto, sempre dependia da ajuda dos outros. Ele nunca frequentou uma escola porque sua família se mudava constantemente em Alagoas. Por causa da falta de trabalho, seus pais tinham sempre de procurar novas oportunidades. Quando chegou à adolescência, Santos achou que havia passado muito tempo. Agora, decidiu mudar sua história. Quer pelo menos chegar ao ensino médio, “para melhorar um pouco no serviço também, né?”, fala. Além desses casos, há outros que emocionam a coordenadora do EJA de Jaú, Eunice Ribeiro dos Santos Cecatto. Atualmente o Município oferece 300 vagas para o segundo ciclo do EJA (até o 8º ano) e não há limite de matrículas para o primeiro ciclo (do 1º ao 4º ano). 40 s REVISTA DO COMÉRCIO

Formas diferenciadas Ensinar um adulto analfabeto ou semianalfabeto a ler e escrever não pode ter o mesmo processo de educação ministrado a crianças. É preciso entendimento da realidade dos alunos, que se tornaram pais e provedores de suas famílias, para que o sistema tenha sucesso. A afirmação é da professora Ednéia Gonçalves, da organização não-governamental (ONG) Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação. A instituição existe há 20 anos, tem sede em São Paulo e trabalha exclusivamente com projetos para melhorar a educação de jovens e adultos. Uma pessoa com 30, 40 e até por volta dos 50 anos, tem seu trabalho como centro de sua vida. Para que frequente um curso regularmente, terá de encontrar horários compatíveis com sua rotina e lugares próximos de sua casa. Caso contrário, dificilmente vai concluir um módulo de ensino. No Brasil, a média de evasão em aulas para adultos chega a 20%. A professora alerta para outra situação que normalmente não é pensada. Os educadores que trabalham com adultos repetem com eles o ensino que aprende-

ram na infância e na adolescência. “Mas será que um homem e uma mulher, pais de família, trabalhadores, vão aprender como uma criança? Não vão. O processo tem de ser diferente”, recomenda Ednéia. O ideal seria cada município preparar seus professores de educação de jovens e adultos para que interajam com os estudantes adultos, de forma que o conhecimento que acumularam ao longo da vida possa ser usado em sala e levado para o dia a dia. Isso fará que incorporem o ensino à rotina e queiram mantê-lo. TECNOLOGIA

A professora acredita que o trabalho realizado atualmente com jovens e adultos analfabetos em todo o Brasil é adequado, mas pode e deve melhorar. A começar pela introdução de tecnologia nas aulas, afinal, a maioria das pessoas, independentemente da idade, possui ao menos um celular. Vencidas essas barreiras, a erradicação do analfabetismo total ou funcional no Brasil vai ocorrer, estima Ednéia, sem precisar data para a realização desse ciclo.



GASTRONOMIA

Culinária germânica vai além das

salsichas

Natalia Gatto Pracucho natalia@comerciodojahu.com.br

Joelho de porco, cerveja e salsichões. Esses três elementos poderiam ser suficientes, na concepção dos brasileiros, para se remeter à gastronomia alemã. São, no entanto, exemplos ínfimos perto da diversidade da culinária germânica. Um passeio pelos pratos alemães revela muito mais do que os brasileiros conhecem. A culinária alemã é famosa no mundo inteiro pela variedade de salsichas, mas a carne é considerada a pedra angular dessa cozinha (suína e bovina), podendo ser apresentada de diversas maneiras: 42 s REVISTA DO COMÉRCIO

bolinhos, assados e embutidos. Batatas, maçãs, cervejas e pães, no entanto, não podem ser desprezados, pois estão sempre presentes na mesa farta alemã. A sensação que os brasileiros têm de que a comida alemã é “pesada” – principalmente por causa dos três elementos – não induz ao erro. O engenheiro de alimentos do Alameda Quality Center, Paulo de Tarso Guimarães, afirma que, como as temperaturas na Alemanha são baixas, a comida realmente é calórica, porque combina com o clima da região. “Mas, por outro lado, eles popularizaram no mundo, com os

Cozinha alemã é diversificada e revela mais que pratos fortes, embutidos e cervejas encorpadas

belgas, a cerveja, que representa alegria, frescor e combina com tudo o que a culinária alemã traz”, fala Guimarães. A cerveja, portanto, nem sempre é encorpada. A mais refrescante e mais consumida em Munique, no verão, é a de trigo. “Eu a considero mais refrescante que a nossa pilsen. É bastante leve”, diz o engenheiro de alimentos. Ainda é possível, também, conciliar o alto teor calórico presente em pratos alemães com dietas mais balanceadas. Os pães, por exemplo, base da cozinha germânica, são ricos em grãos. Guimarães também explica que a carne de porco, se consumida


O pai do hot dog é alemão de maneira adequada, é saudável e tem alto teor de proteína. “Obviamente que o bacon, em quantidades inadequadas, não é bom, mas o lombo, o filé-mignon suíno e o joelho de porco têm pouca gordura e são saudáveis.” O chucrute – repolho fermentado – também é recomendado. DIA A DIA

A maioria dos brasileiros pode ter a concepção de que os pratos alemães são complexos e demorados, como o joelho de porco, mas em geral são simples e podem ser incorporados ao dia a dia da re-

Fotos: Aline Furlanetto

Paulo de Tarso Guimarães: alimentos mais calóricos

feição familiar. “A cozinha alemã é caseira, muito saborosa e muito simples de se reproduzir em casa”, afirma a professora de gastronomia do Centro Universitário Senac – Águas de São Pedro Ludmilla Ferreira Fonseca. Ludmilla acrescenta que os pratos são bem acessíveis, pois boa parte dos ingredientes e produtos utilizados é também encontrada em supermercados, feiras e açougues brasileiros. “Somente os embutidos, e alguns produtos específicos importados, são mais caros, mas nada absurdo.” A incorporação dos pratos alemães à mesa dos brasileiros se torna ainda mais fácil quando os clássicos joelho de porco e salsichão são esquecidos e outras receitas surgem para inovar. Compota de maçã – acompanhamento constante para assados e embutidos de porco – e carne cozida com legumes e frutas, como ameixa e cereja, são preparações bem comuns para os alemães. O laberkäse, espécie de embutido caseiro feito com lombo de porco, toucinho e carne bovina, triturado e assado, pode vir acompanhado das mostardas escuras e da cerveja alemã. E os pães alemães, que são perfumados, aromáticos e saudáveis, também podem ser preparados em casa, pois boa parte é feita com farinha integral e grãos.

O hot dog é uma comida típica norte-americana, em que se coloca uma ou mais salsichas dentro de um pão comprido, de leite. Nos Estados Unidos, usa-se como recheio o picles à base de pepino, mostarda e catchup e também são comuns o chucrute (repolho fermentado) e o chili – massa de feijão com carne moída picante. No Brasil, a iguaria foi apelidada de cachorro-quente, mas o picles, o chucrute e o chili foram substituídos por mostarda, catchup, molho de tomate, batata-palha e, em algumas regiões, purê de batata e milho-verde. Apesar de a comida ser bastante apreciada pelos brasileiros, a maioria desconhece a verdadeira origem do hot dog: a Alemanha. No país europeu, no entanto, usa-se o nome da salsicha mais famosa, Bratwurst, para designar o sanduíche. O lanche é feito com um pão redondo e crocante, recheado com mostarda e com a salsicha Bratwurst comprida e grelhada. “Ele é vendido grelhado, por pessoas fantasiadas, nas ruas de Berlim”, diz o engenheiro de alimentos do Alameda Quality Center, Paulo de Tarso Guimarães. “Um americano, em um jogo de beisebol, precisava fazer um prato mais rápido e que durasse mais. Ele fez um pão de leite, mais resistente, cozinhou a salsicha em vez de grelhar e deu o nome de hot dog.”  REVISTA DO COMÉRCIO s 43


S

PRATO

S

TÍPICO

ES

ALEMÃ

CERVEJA O que é: cerveja de trigo, de cor amarelo turvo Avaliação: a impressão inicial, pelo que se ouve falar da cerveja alemã, era de que seria encorpada e forte, mas ocorreu o contrário. A cerveja é bastante leve, refrescante, ideal para dias quentes

Fotos: Aline Furlanetto

PRETZEL DE LIMÃO COM PIMENTA O que é: pão com formato de nó Avaliação: assada no forno a lenha, a massa é firme e o tempero bastante saboroso. No sabor, predomina a pimenta, mas é cheiroso por causa do limão. Não é um prato, no entanto, de aceitação total, porque a pimenta o deixa bastante picante e forte

MIX DE SALSICHAS O que é: vários tipos de salsichas alemãs, como salsicha branca de vitela, branca com carne suína e vitela, miniaperitivo e com alho Avaliação: as salsichas alemãs não possuem corantes e o sabor da carne é mais acentuado que as nacionais. Algumas delas se assemelham ao sabor da linguiça defumada; outras ao da calabresa. A variedade de sabores é grande e o mix é ideal para ser apreciado como aperitivo. Como acompanhamento, são indicadas as mostardas (escura, forte e adocicada)

APFELSTRUDEL O que é: sobremesa de massa folhada mais conhecida na Europa Central. Recheada de maçã e uvas passas e servida com sorvete de nata Avaliação: o cheiro de canela, colocada por cima do sorvete, é a primeira das sensações provocadas pelo prato. A mistura do quente com o gelado o deixa refrescante e faz que o doce não seja enjoativo. É realmente incrível

EISBEIN O que é: joelho de porco acompanhado por chucrute (repolho fermentado) Avaliação: o joelho é assado por duas horas para deixar a carne macia e bem sequinha. Posteriormente, o joelho é finalizado na brasa, para formar a pururuca crocante na casca. Praticamente sem gordura, a carne é extremamente saborosa. O chucrute, feito com repolho fermentado, tem sabor adocicado 44 s REVISTA DO COMÉRCIO

PAPRIKA SCHNITZEL O que é: lombo grelhado e fatiado em tiras com molho de páprica doce, acompanhado de arroz e das tradicionais knödels – esferas de batata cozidas, parecidas com nhoque Avaliação: o lombo não é seco e sim extremamente macio, com um pouco de gordura. A batata, que não possui tempero, realmente lembra o nhoque, principalmente pela consistência (meio grudenta). O lombo é o destaque do prato


Um jauense na Alemanha está na lista de sua preferência, que são como esfirras, uma massa em forma de bolsinha com carne moída dentro. “Em vez de assado, é frito. A massa de pastel seria perfeita para esta receita.” Marcos Menha diz preferir a comida brasileira à alemã, porque as comidas do país europeu são mais pesadas e com bastante óleo. “Mas aqui tem chucrute e muita salsicha, que normalmente são vendidas com curry e bem apimentadas, brancas ou vermelhas. Às vezes as salsichas vêm acompanhadas com verduras e sempre com batatas fritas ou cozidas.”

O jauense Marcos Menha, 30 anos, é bailarino e há 12 anos reside na Alemanha. Atualmente a cidade em que mora é Düsseldorf, localizada às margens do Rio Reno e a nona maior do país, com importante centro econômico e cultural. Menha diz que um dos pratos principais da Alemanha, encontrado no cardápio de qualquer restaurante, é o bife de porco empanado com salada de batatas. Em casa, porém, o bailarino gosta de cozinhar schinkennudeln, que é um macarrão feito com presunto e ovos fritos, fácil e rápido para preparar. O maultaschen também RECEITA ALEMÃ

FRIKADELLEN

(bolinho de carne)

INGREDIENTES 2 pães duros 250 gramas de carne bovina moída 250 gramas de carne de porco moída 1 ovo 1 cebola picada 1 ramo de salsinha picada Sal e pimenta-do-reino à vontade

Fonte: Ludmilla Ferreira Fonseca

Fotos: Divulgação

MODO DE PREPARO Amoleça o pão em água Esprema e misture com a carne Junte o ovo, a cebola e a salsinha Tempere com o sal e a pimenta Sove a massa Faça bolinhas e frite com pouco óleo

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ARNALDO Grizzo

 é editor das revistas “Adega”, “Almanaque do Vinho” e “Revista Tênis”

O calabouço de vinhos da Torre de Prata

Boa parte de seu prestígio e fama não está na culinária, no serviço formal impecável

Às margens do Sena, um pouco além da Notre Dame, na direção da Île Saint-Louis, ergue-se, em uma esquina da Quai de la Tournelle, um prédio acinzentado, quase imperceptível à primeira vista. Em Paris há tantos lugares, estátuas e detalhes neoclássicos para se olhar que esse edifício bastante simples por fora não chama a atenção. Quem passa por lá, muitas vezes, não se dá conta de que está diante de um dos mais antigos restaurantes do mundo, o La Tour d’Argent (Torre de Prata). Há relatos que apontam a criação do lugar (inicialmente como uma hospedaria) em 1582 por ordem do rei Henrique III. Diz-se que foi lá que o monarca conheceu um utensílio que mudaria a etiqueta das pessoas à mesa, o garfo. O lugar se tornou famoso pelas personalidades que recebeu ao longo do tempo. O cardeal Richelieu, por exemplo, era um frequentador assíduo e adorava o chocolate. Anos mais tarde, no La Tour d’Argent nasceu um prato célebre, o canard au sang, também conhecido como caneton Tour d’Argent – um pato feito com a redução do seu próprio sangue e do fígado, e Cognac. Em uma jogada de marketing, Frédéric Delair, então proprietário do restaurante, passou a numerar os patos servidos e hoje esse número já ultrapassa 1,1 milhão. A rica história, as celebridades que até hoje frequentam o local, o tradicional pato. Tudo isso obviamente conta no mito criado em torno do La Tour d’Argent, mas boa parte de seu prestígio e fama não está na culinária, no serviço formal impecável ou na maravilhosa vista da Notre Dame que se tem do salão. É no subsolo que se encontra a maior riqueza do restaurante. Lá, 400 mil garrafas de vinho descansam em um “calabouço”, ambiente de quase total escuridão, úmido e frio, protegidas por correntes e cadeados. Estranho? Não se

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pensarmos que lá está guardado um tesouro estimado em, no mínimo, 20 milhões de euros. A maioria dos rótulos são franceses. “Intrusos” somente algumas garrafas de Vinho do Porto e o chef sommelier, que, ironicamente, é inglês, David Ridgway. Petrus 1982 e Romanée-Conti 1999, que custam por volta de 20 mil euros cada garrafa, estão entre os rótulos mais caros na carta que conta com mais de 400 páginas de vinhos de cerca de 15 mil marcas diferentes. Complicado escolher, não? É para isso que a equipe de Ridgway está lá. Por ano, eles vendem aproximadamente 18 mil garrafas. Ir ao La Tour d’Argent é uma grande experiência, mas para poucos. São apenas 22 mesas que estão sempre lotadas – e só são aceitas reservas com dois meses de antecedência. O menu do almoço custa 75 euros por pessoa e o do jantar 200. À noite também há opções à la carte, como o tradicionalíssimo caneton numerado, que sai pela bagatela de 140 euros.

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GULOSEIMA

O maravilhoso mundo da

Divulgação

O PI P CA

Carolina Chamaricone redacao@comerciodojahu.com.br

Quando se fala em pipoca, poucos imaginam do que essa pequenina é capaz. Os grãos de milho redondos e duros ao estourar se transformam, como em um toque de mágica, em flores grandes e macias. Há toda uma magia que se espalha pelo ar a cada estouro

na panela. Adultos voltam a ser crianças, histórias são relembradas e começa uma grande brincadeira. Além de diversão, a pipoca é lembrança, é companhia para aqueles que estão sós, é um desejo para os que a amam, é preferência dos que a preparam e até é fonte de inspiração para poetas.

Este fascinante mundo da pipoca é nostálgico e sinestésico, pois é capaz de resgatar do passado as mais gostosas lembranças por meio do cheiro (no momento) do preparo até seu sabor inigualável. “As pessoas falam que a minha pipoca é diferente, mais gostosa, explico para elas que é a mesma que se faz em casa, mas ao parar  REVISTA DO COMÉRCIO s 47


para comprar uma pipoca na rua as pessoas relembram de uma história do passado. Aí é que está a magia. Por envolver um passeio, lembrança da infância, o cheiro e o sabor mudam. É a mesma pipoca, mas com sabor e cheiro da infância”, conta a pipoqueira Vera Lucia Abilio de Souza Rubio, 52 anos.

Aline Furlanetto

GOURMET

Mesmo com tanta tecnologia, a pipoca feita na panela é a mais gostosa. Doce, salgada, picante ou temperada, é item indispensável na despensa de casa e vem sendo usada pelos chefes de cozinha no preparo de pratos personalizados. Se estourada com ar quente ou sem gordura, é ótimo alimento que pode ser consumido todos os dias, por ser pouco calórico, rico em fibras e antioxidantes. “Por uma questão de sabor, grandes quantidades de açúcar, gordura e sódio são muitas vezes adicionadas à pipoca preparada, que pode rapidamente se converter em uma escolha muito pobre para aqueles que têm dietas restritas”, comenta o professor do curso de tecnologia em gastronomia do Centro Universitário Senac – Águas de São Pedro Mauro Mason Adorno. Para deixar o prato mais saudável, o professor recomenda que o grão de milho seja estourado com água no lugar de óleo ou só com ar quente, sem adição de gordura. A pipoca também é usada para dar “crocância” a bolos e tortas e é adicionada a outros alimentos para complementar o prato, assim como em sorvetes, chocolates e até em sopas. Aromáticos, como azeites trufados ou infusões, também são adicionados para dar sabor à pipoca. Há ainda bufês com pipocas e lojas especializadas no produto. Colorida e de diversos sabores, a pipoca saiu de casa e dos carrinhos de pipoca para deixar a vida como uma grande brincadeira.

48 s REVISTA DO COMÉRCIO

Carolina Chamaricone


Muita história para contar tudo começou. Para ela, é importante não deixar morrer a história da pipoca na Terra Roxa. “É muito gratificante fazer parte disso, ajudar a relembrar as histórias de infância das pessoas”, relata. Marcilio Levorato foi outro pipoqueiro a compor a história da cidade. Em 1961, comprou carrinho de pipoca e começou sua trajetória no Caiçara Clube de Jaú. Levorato fez sucesso entre as crianças e seus familiares. Hoje, sua filha ocupa o lugar do pai no maravilhoso ofício.

Carolina Chamaricone

Aline Furlanetto

A pipoca se reinventa a todo instante, mas, afinal, quem teve a ideia de aquecer o grão da espiga de milho e transformá-la em algo que pudesse ser consumido? Tudo teria começado com os povos indígenas, que, por não possuírem fogões, colocavam a espiga em espeto e a levavam em uma fogueira, antes de Cristóvão Colombo descobrir a América (1492). Há relatos que estimam sua origem a 3600 a.C., no México e Peru, pois o grão de milho é originário dessas regiões. Em Jaú, existem muitos pipoqueiros que fazem parte dessa história. O “ponto da pipoca” na Rua Major Prado existe há mais de 40 anos e começou com José Costa, o famoso pipoqueiro conhecido pela televisão em cima de seu carrinho. Trabalhador e inventor, Costa vendia pipoca de segunda a segunda, e marcava presença todo fim de semana na saída de missas na cidade. O filho de Costa, José Carlos Costa, 60 anos, relembra da história com orgulho e, ao ser perguntado sobre seu pai, ri e responde: “fomos todos criados com pipoca”. Sidney Bensová foi outro pipoqueiro que assumiu o tão famoso ponto da Major. Hoje, é Vera Lucia Abilio de Souza Rubio, que sempre ajudou sua sogra, Leonor Bermudes Rubio, a ocupar o local. Leonor foi a primeira pipoqueira na cidade. Vencendo preconceitos, elas começaram a vender pipoca na saída das escolas e eventos. O carrinho de Vera é datado de 1976, mais ou menos quando

Vera Lucia Rubio monta saquinhos com pipoca colorida

REVISTA DO COMÉRCIO s 49


Feita na areia

Aline Furlanetto

Como os índios pré-colombianos, os quais não contavam com a comodidade do gás encanado, os indianos também usavam a areia quente para obrigar o milho a se transformar em pipoca. O peculiar é que os descendentes de Sidarta mantêm o método arcaico até os dias atuais. Principalmente em cidades ribeirinhas, como Rishikesh, no Norte da Índia, à beira do Rio Ganges, é possível acompanhar o ritual milenar, feito sempre nas ruas. Uma lata com carvão faz as vezes de fogão. Uma bateia com areia é colocada sobre o recipiente. Nesse momento, os milhos ainda estão separados por uma espécie de chapa de ferro. Assim que a areia atinge o ponto de quentura ideal, o milho é despejado e misturado aos grãos. Minutos depois, a água de dentro do milho vira vapor e possibilita o milagre gastronômico: está pronta a pipoca. Com uma peneira, faz-se a separação da guloseima e da areia. Ensaca-se ali mesmo, na rua, e o produto está pronto para ser consumido. Os indianos adoram uma pipoca. Você arriscaria experimentar uma pipoca feita assim?

Lata com areia faz o “trabalho” do fogão, na Índia: venda nas ruas

Aline Furlanetto

Divulgação

50 s REVISTA DO COMÉRCIO



SOCIAL Felizes e emocionados, João Guilherme D’Arcadia e Natalia Gatto Pracucho no principal templo de Jaú, a Matriz Nossa Senhora do Patrocínio

Fotos: Foto Show

O grande dia Quando Natalia Gatto Pracucho e João Guilherme D’Arcadia se encontraram pela primeira vez na faculdade em Bauru, em 2006, talvez não soubessem que a vizinha Jaú estivesse marcada no destino dos dois. Ela, cuja família é jauense, passava as férias por aqui, visitava avós, tios e primos; ele, que é legítimo mineiro de Poços de Caldas, havia ouvido falar do lado de lá do Rio Tietê da cidade de João Ribeiro de Barros. Obra do acaso ou não, os dois passaram a trabalhar na Terra Roxa, sedimentaram o namoro e decidiram que 2013 seria a data escolhida para firmar o compromisso mais importante de suas vidas. A partir desse momento, muita organização e sonhos virando realidade. O cenário não poderia ser outro e a tradicional Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio acolheu parentes e amigos para a cerimônia religiosa. Depois do sim perante a lei de Deus, balada com mesa farta, quitutes deliciosos e muita música para celebrar a união.

52 s REVISTA DO COMÉRCIO


Orgulhoso, João Batista Pracucho caminha com sua filha Natalia no corredor principal da matriz. A noiva usou buquê com rosas equatorianas em várias tonalidades

João Guilherme entra na matriz com seus pais, Paulo Tadeu Silva D’Arcadia e Vera Lúcia da Costa Franco D’Arcadia

A pequena Manuela da Costa Franco Silva D’Arcadia Roumie recebe o carinho de João Guilherme e Natalia

Olho no olho: juras de amor e compromisso são firmados REVISTA DO COMÉRCIO s 53


Pétalas e palmas para celebrar os pombinhos

O local para o ensaio não poderia ser outro. A praça em frente da Abadia de São Norberto é considerada pelo casal um dos mais singelos locais em Jaú

A hora do beijo: familiares e amigos conferem a cerimônia

A família do noivo: Vera Lúcia da Costa Franco D’Arcadia, Paulo Tadeu Silva D’Arcadia, Maria Gabriela da Costa Franco Silva D’Arcadia, Manuela da Costa Franco Silva D’Arcadia Roumie no colo de João Guilherme, Natalia, Maria Cláudia da Costa Franco Silva D’Arcadia com o fofucho João Paulo da Costa Franco Silva D’Arcadia Andrades e Fagner Andrades 54 s REVISTA DO COMÉRCIO


Companheiros e padrinhos de João Guilherme

As madrinhas estilosas da noiva, que depois dos tradicionais flashes fez troca de vestido

Homenagem: os convidados puderam ver um pouquinho do casamento dos pais de João Guilherme e Natalia

A irmã da noiva, Nayara Gatto Pracucho, Abercebéia (Tica) Gatto Pracucho, João Guilherme, Natalia e João Batista Pracucho

O bolo delicioso, de chocolate, com os noivinhos no topo e a decoração com rosas, lisiantos, astromélias, bocas-de-leão e lírios-siberianos Não faltaram doces, nem alfajores, para celebrar a união REVISTA DO COMÉRCIO s 55


Rock e solidariedade

Fotos: Aline Furlanetto

SOCIAL

Os amantes do XV e do rock não se deixaram intimidar pelo potente sol poente de um domingo. As mulheres capricharam no figurino, os homens vestiram o uniforme do clube do coração e todos foram ver e ser vistos. O objetivo principal da festa: arrecadar fundos para custear contas do XV de Jaú. Uma ótima causa! A empresária Fabiana Carnaval fez bonito na festa cuja tônica foi a solidariedade

Marina Bragion, Gilmar Ferracioli e Juliana Leite, amigos de longa data, correram para cumprir agenda social; se deleitaram com os acordes de guitarras dos músicos da Terra Roxa

Vinicius Martins e Flavia Montagnoli estavam a caráter: ele um fiel torcedor do Galo da Comarca; ela, amante do rock. Bela combinação! 56 s REVISTA DO COMÉRCIO

As amigas Janaina Culuxi, Claudia Abreu, Valéria Martos e Aline Lorenti vieram para prestigiar as bandas jauenses, mas acreditam na causa do Galo da Comarca

Os organizadores do Galo Rock: Fernando Magrão, Cesar Mantovanelli e Hermes Furlanetto. Gesto nobre, o trio resolveu unir duas paixões e concretizar evento pra lá de bacana


O projetista Rafael Perasoli e o advogado Marcelo Grossi saíram bonito na foto. Fãs de carteirinha de Os Patrões, puderam acompanhar a performance de outras quatro bandas

Os namorados Tiago Bressanim e Iris Pinheiro têm agenda social intensa. Há um ano, compartilham a torcida pelo XV de Jaú e a paixão pelo ritmo de Elvis Isabel Silva e Daia Rett aliam o útil ao agradável: fazem da rotina de trabalho um exercício de bem viver. Adoram trabalhar e aproveitar a noite

As amigas Débora Gutierres e Marília Arrais não veem a hora de chegar o fim de semana para poder curtir e relaxar. Estão sempre nas melhores festas REVISTA DO COMÉRCIO s 57


A professora paulistana Denise Rosa está há quase dois anos em Jaú e gosta de badalar à noite. Sabe que nesta vida o importante são as amizades sinceras e se rodeia de pessoas queridas Raquel Souza, Joseane Carnaval e Heloísa Missassi estão sempre de bem com a vida. Fizeram do Galo Rock mais uma oportunidade para passar momentos agradáveis

Joice Zupiroli e Eneida Stefanoni tornaramse amigas por causa da profissão. Como a amizade extrapola o ambiente de trabalho, ambas foram ouvir as bandas de Jaú 58 s REVISTA DO COMÉRCIO

Amigos de longa data, Luiz Paulo Izar e Vinicius Blassioli amam as coisas da Terra Roxa. Foram dar sua contribuição à causa do XV de Jaú e assistir aos shows dos conterrâneos



TECNOLOGIA

Então,

eu li Leitores gravam vídeos para compartilhar experiências com o livro e são chamados booktubers Ricardo Recchia ricardo@comerciodojahu.com.br

Uma câmera na mão e um livro de cabeceira. Quase sempre é assim que nasce um booktuber, geralmente sinônimo de devorador de livros cuja missão é divulgar suas impressões de leitura para o maior número de pessoas. Sim, porque no Youtube você encontra gente ensinando a fazer macarrão aos quatro queijos, dançar o quadradinho de oito e também com60 s REVISTA DO COMÉRCIO

partilhando gostos literários. O curioso é que tal fenômeno nem é relativamente novo, mas foi tornando-se mais popular e convidativo recentemente. Uma rápida passagem no sistema de buscas do Youtube oferece mais de 11 mil canais com a palavra “livros”. Considerada pioneira no Brasil, a professora de inglês e tradutora Tatiana Feltrin começou a publicar suas resenhas literárias no longínquo (para os padrões da internet) ano de 2007. Inspiradas nela, centenas de pessoas criaram seus canais e têm debatido literatura pelo site de compartilhamento de vídeos. O canal de Tatiana, o badalado Tiny Little Things, tem hoje mais de 55 mil seguidores. Os booktubers defendem que as resenhas em vídeos são mais dinâmicas e têm a vantagem de mostrar aos usuários o tamanho do livro, da fonte e até a qualidade

da edição. Quem assiste acompanha comentários simples, divertidos e espontâneos sobre o que a pessoa já leu, o que ela está lendo e os livros que estão à sua espera. Na região de Jaú, são poucos os booktubers em atividade, mas eles são bastante profícuos. O estudante Daniel Destro, 14 anos, de Barra Bonita, publica semanalmente ao menos dois vídeos de resenhas literárias bem-humoradas – e algumas vezes mordazes. Em média, ele lê cinco livros por mês e são mais de 50 vídeos publicados na internet. Em pouco menos de um ano de trabalho, o jovem trouxe para seu canal Na Boa TV mais de 11 mil fãs virtuais. Ele começou a publicar no Youtube após sentir necessidade de “conversar” com alguém sobre algo que acabou de ler. “No começo fiz um vídeo com a webcam ligada mesmo. Depois apareceram os comentários, o


pessoal gostou do resultado e comecei a melhorar a parte técnica do vídeo”, conta Destro, que não gosta de se sentir pressionado a resenhar um livro. O hobby, porém, está ficando cada vez mais profissional, o que é tendência entre os booktubers. O estudante fechou parceria com as editoras Benvirá, Globo Livros, Aleph e Zahar, entre outras, que descobriram um filão para seus negócios. “Alguns escritores brasileiros também me mandam obras para eu ler e resenhar no canal”, conta o barra-bonitense. O blogueiro Gabriel Gastaldello, do site especializado em ações para promover o hábito da leitura Malucos por Leitura, conta que vlogueiros, ou seja, produtores de vídeos pessoais para internet, conquistaram espaço na rede mundial de computadores. “Disponibilizando resenhas e dicas na internet, o interesse e também a curiosidade despertam em cada um, o que acaba sendo muito bom”, acredita Gastaldello. SEM DEDO-DURO

Ricardo Recchia

A professora Renata Destro, mãe de Daniel, dá dicas de como o filho deve se portar diante da câmera, além de ajudá-lo a elaborar o roteiro das resenhas. Como principal incentivadora do filho pela leitura, Renata explica que o trabalho feito por ele “dá orgulho”, não esperava tamanha repercussão em tão pouco tempo, mas que mesmo assim os pais devem ficar atentos ao que os adolescentes veem na internet. Já a preocupação dos jovens booktubers é com o chamado spoiler – que são aquelas revelações importantes do enredo de livros e filmes que seu amigo chato adora contar. “Tomo bastante cuidado”, brinca Daniel, que procura sempre equilibrar seus comentários com pontos negativos e positivos da obra. É mesmo uma boa sacada conhecer algo novo pela internet, mas ninguém quer alguém estragando o final da história.

Daniel Destro também recebe livros de autores brasileiros para resenhar em seu canal no Youtube

 REVISTA DO COMÉRCIO s 61


Fala que eu te escuto

Arquivo pessoal

Bruna Camargo gosta de publicar obras de fantasia e ficção científica em sua página pessoal

“Morria de vergonha de divulgar meus vídeos” Quando criança, Bruna Camargo tentava fazer que as pessoas lessem seus livros preferidos. Hoje, aos 22 anos, ela é aquela pessoa que os outros procuram para pedir recomendações de boas histórias. Foi assim que ela voltou seus esforços para a internet. A jovem de São Manuel conheceu um blog falando sobre livros. Aquele blog a fez conhecer outro, que a fez conhecer outro e um dia chegou aos canais literários do Youtube. “Decidi que eu também queria fazer parte daquele universo e foi assim que criei o meu canal”, conta Bruna, que se inspirou em canais como da vlogueira Verônica Valadares (Vevs Valadares) e Amanda (canal e blog Lendo e Comentando). Bruna, que gosta de publicar especialmente fantasia e ficção científica, conta que precisou vencer a timidez para postar no Youtube. “Morria de vergonha de divulgar meus vídeos para os amigos e a maioria só ficou sabendo mesmo quase um ano depois, quando eu já tinha crescido relativamente bem”, explica. Um dia, então, criou coragem e compartilhou na linha do tempo 62 s REVISTA DO COMÉRCIO

do Facebook. A partir daí, dá para imaginar o que aconteceu – o canal cresceu e atingiu outro status entre os internautas. Agora, suas postagens chegam ao Youtube ao menos uma vez por semana, mas ela pode publicar até três deles, dependendo da disponibilidade para gravá-los. CRESCIMENTO

Bruna acredita que a internet pode ser responsável por fazer o brasileiro ler mais, especialmente os mais jovens. Cita que em 2013, pela primeira vez, pessoas entre 15 e 29 anos representaram mais da metade do total do público na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. “É cada vez maior o número de blogs que falam de livros e as editoras já perceberam, grande parte delas faz parcerias com blogueiros”, conta Bruna. Assistente na biblioteca da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, em Rubião Junior, ela espera, com o término da faculdade neste ano, intensificar a divulgação e melhorar a própria estrutura dos vídeos. “É um trabalho lento, de formiguinha mesmo, mas que vale a pena.”

Booktuber que se preze não segue regras pré-definidas. A única semelhança entre a maioria deles é a parte mais técnica, ou seja, câmera estática e duração do vídeo em torno de 5 minutos, em média. Para produzir essa matéria, foram assistidos dezenas de vídeos com resenhas de canais literários. A fauna é bastante diversificada. Alguns não se contentam em falar sobre o objeto em si, o livro. O que torna essa experiência bem mais divertida. Eles falam sobre a expectativa desde a hora da compra, se a obra foi emprestada de alguém, onde guardam seus livros e até o cheiro do papel. Alguns se queixam do impulso incontrolável pela compra de livros, ou da falta de dinheiro para comprar mais, da falta de espaço na estante do quarto, das edições mequetrefes, etc. Enfim, um booktuber consegue dividir suas experiências de maneira clara e sem intermediários. Mostrando-se amigáveis, abrem espaço para críticas e sugestões. A maioria responde questionamentos sem titubear. Se forem competentes no que se propõem a fazer, promovem a leitura e incentivam outros jovens a se apaixonar por ela.


Casada, mãe de dois filhos e “booktuber”

Arquivo pessoal

A booktuber Patrícia Almeida fez amizades virtuais com apaixonados pela leitura

A experiência vivida pela estudante de direito Patrícia Almeida, 37 anos, mostra que os antigos blogueiros literários agora dão lugar para os vlogueiros, ou seja, os que publicam resenhas em vídeos. No começo com seu blog Vivo Leitura, ela achou que estava inovando, mas depois descobriu com os booktubers que estava “anos-luz” das novas ferramentas digitais. Patrícia também foge um pouco do perfil padrão do booktuber – geralmente ele é jovem, entre 15 e 25 anos de idade. Ela é casa-

da e tem dois filhos, de 12 e de 5 anos de idade. “Ainda sou nova nesse ramo de canal literário, farei um ano (de atividade) em fevereiro de 2014. Fiz grandes amigos virtuais apaixonados pela leitura assim como eu”, afirma. APRENDIZADO

Assim como uma parcela dos booktubers, Patrícia tem parceria com editoras para resenhar os livros lançados. Ela conta que não segue uma rotina metódica para as publicações, mas sempre busca oferecer novidades. Para ela, a informatização é apenas um aliado no processo de aprendizado e divulgação da leitura. “Seja em livros físicos ou digitais, tudo é válido.”

REVISTA DO COMÉRCIO s 63


MODA

Ano-novo cheio de cor Branco, tradicional no réveillon, perde espaço para tendências que agregam significado à peça

64 s REVISTA DO COMÉRCIO


Azul Cor remete a tranquilidade, paz, silêncio e harmonia Vermelho Provoca desejo, paixão, força de vontade, coragem e energia Hering Camiseta R$ 39,99 Short R$ 69,99

REVISTA DO COMÉRCIO s 65

Aline Furlanetto

Le Chateau Modas Vestido R$ 258


Branco Significa paz, serenidade pessoal, purificação e tranquilidade

Ana Carolina Monari Especial para a Revista do Comércio

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Laranja Desperta a criatividade, vitalidade, entusiasmo e estimula o otimismo Le Chateau Modas Vestido R$ 310

Aline Furlanetto

O réveillon, festa que marca a passagem de um ano para outro, sempre possuiu cor predominante: o branco. O “novo pretinho básico” das apreciadoras da moda também será o tom de 2014. A Revista do Comércio, no entanto, buscou quebrar paradigmas e mostrar que a chegada de um novo tempo pode ser vibrante e cheia de cores. Os supersticiosos acreditam que cada tom, seja quente ou frio, possui um significado. A consultora de moda Juliana Rizo indica o laranja para ativar a criatividade, ousadia, vitalidade, otimismo e entusiasmo. “O rosa é a cor do amor, carinho e romance. O amarelo traz dinheiro, prosperidade, inteligência, jovialidade e alegria. Já o azul, por exemplo, remete à serenidade e à harmonia.” Para quem não abre mão do branco, a consultora recomenda acessórios como brincos, colares, anéis, cintos e sapatos para deixar o visual mais alegre. A lingerie colorida deve ser evitada para não ficar aparente conforme a transparência da roupa. Os artistas plásticos Janaina Corteze, 23 anos, e Bruno Liziero, 22 anos, mostram as novidades para a temporada primavera-verão 2014. Nas próximas páginas, é possível conferir vestido tomara-que-caia, bermudas, camisetas, macacão e camisa, que garantem o colorido ao réveillon na praia, na casa dos amigos ou salões de festa. A proposta é fugir do tradicional e dar toque de estilo e modernidade.


Amarelo Cor do dinheiro, prosperidade, jovialidade, felicidade e inteligência Rosa Tom traz amor, romantismo, carinho e doçura Le Chateau Vestido R$ 239

Aline Furlanetto

Hering Camiseta R$ 39,99 Short R$ 99,99 Cinto R$ 39,99


Verde Cor transmite esperança, perseverança, renovação, saúde e proteção Roxo Motiva a espiritualidade, intuição e a transformação Le Chateau Modas Macacão R$ 332

68 s REVISTA DO COMÉRCIO

Aline Furlanetto

Hering Camisa R$ 89,99 Camiseta R$ 29,99



VIAGEM

Gramado se desvenda após a passagem por seu portal, com orgulho de sua colonização alemã e italiana Ana Karina Victor karinavictor@comerciodojahu.com.br

Roteiro decidido, passagens compradas e malas prontas. O destino: Serras Gaúchas no finalzinho de outubro e começo de novembro. Chegada a Porto Alegre e mais uma hora e meia, quase duas horas de ônibus até Gramado, batizada com o título de a terra mágica do Natal. A cidade, de apenas 32.273 habitantes, descobriu o filão ainda na década de 80, quando a comissão organizadora da 12ª Festa das Hortênsias criou passeio pela principal avenida de Gramado. Nascia o Natal Luz e o município ganhava em movimentação de turistas em sua baixa temporada. Chegar à cidade é como entrar em pequena vila de uma casa de bonecas. Os jardins são floridos e as hortênsias, que começam a desabrochar na segunda quinzena de novembro, estão com as fo70 s REVISTA DO COMÉRCIO

lhas bem verdinhas; casas e lojas guardam a arquitetura dos colonizadores, a começar pela sede da prefeitura; e toda a decoração que remete ao 25 de dezembro está nas ruas, nos imóveis, nos hotéis e estabelecimentos comerciais – todos, em esforço conjunto, abraçam o Natal. Engana-se, no entanto, quem imagina que não há o que fazer além de conhecer a Aldeia do Papai Noel e os eventos do Natal Luz. As atrações da alta temporada estão lá e aguardam, ansiosamente e até com bandinha alemã na entrada, a chegada dos turistas. Referendados por quem já visitou a região, os passeios mais marcantes são o da Maria Fumaça – Trem do Vinho e o Raízes Coloniais. A explicação é simples: aproximam quem visita as Serras Gaúchas dos descendentes dos colonizadores e são mestres no resgate histórico.

As paradas são, ainda, regadas a vinho ou suco de uva, para quem não pode ou não quer beber. O trajeto feito com a Maria Fumaça sai pontualmente às 10h45 de Carlos Barbosa e para nas estações de Garibaldi e Bento Gonçalves. Entre os pit stops, dá para curtir a paisagem, as músicas ítalo-gaúchas e o teatro que recria as histórias contadas pela nona. Nem pense em recusar o convite para dançar com o grupo que acompanha os cantores. O Raízes Coloniais compensa o sobe e desce do ônibus que leva o turista para o roteiro, entre a Linha Nova e a Bonita. A programação começa em propriedade rural e vai à Fábrica de Erva-Mate Marcon, onde se é recebido com abraço apertado da dona do local. Há degustação de produtos caseiros, como as frutas secas, da tradicional maçã ao caqui. Passa também pelo Moinho Nel-

Cleiton Thiele/Serra Press

Casinha de boneca


Ana Karina Victor

Cleiton Thiele/Serra Press

Rua Coberta é palco de shows, bares e restaurantes Cleiton Thiele/Serra Press

No Largo da Borges, superurso de pelúcia faz parte da decoração

Ana Karina Victor

Anjos e árvores iluminam o Centro de Gramado

PREPARE-SE

A sugestão é ficar nos hotéis próximos ao Centro e às Avenidas das Hortênsias e Borges de Medeiros. É onde tudo acontece em Gramado. Há opções, das mais simples às mais requintadas, fora desse circuito, mas que não irão compensar financeiramente o deslocamento com táxis.

Esse meio de transporte, na verdade, não é tão fácil de encontrar. Os pontos não existem em demasia e é quase impossível achar taxista disponível depois dos espetáculos de Natal. Por isso, combine o transporte antecipadamente. Talvez, uma das explicações da dificuldade de encontrar motoristas disponíveis é o fato da maioria dos restaurantes oferecer transporte, ida e volta, para seus clientes – sem custo adicional. Os próprios recepcionistas dos hotéis, após solicitados pelos hóspedes, acionam os motoristas de cantinas, pizzarias, casas de fondue e churrascarias. Quanto ao clima, não tenha medo de rechear a mala com agasalhos, botas e um casaco mais pesado. Lembre-se sempre antes de sair que está na serra e que a temperatura, no início e no fim do dia, é baixa e a umidade bem alta.

Casa da família Franzen: eles juram que nas paredes do 1º piso não há pregos

Ana Karina Victor

son Cavichion, em que histórias são contadas de como era a vida sem máquinas agrícolas, geladeira e até papel higiênico. No Museu Nelson Fireze, objetos em exposição de outras épocas, móveis, canetas, lambretas e máquinas de escrever. Para brindar o fim do passeio, com mais suco de uva, a parada é na propriedade da família Foss. Pão assado na hora, manteiga, linguiça, queijo, geleia e pão doce ao som da italianíssima La Bella Polenta.

Dá para fazer fotos antigas na maioria das cidades da serra REVISTA DO COMÉRCIO s 71


Nat al!

Sim, é Natal em Gramado bem antes do 25 de dezembro. Papais e Mamães Noéis, ursinhos com gorros, pisca-piscas na Rua Coberta e na Avenida Borges de Medeiros, a árvore colorida e a iluminação dos 12 apóstolos na Praça da Igreja São Pedro. Essa é apenas uma parte do que está por vir. O Natal Luz em Gramado, que tem 21 atrações que se revezam semanalmente de novembro a janeiro, envolve mais de 2 mil pessoas. Criado em 1986, o desafio da coordenação é inovar, sempre. “Este ano inovamos muito na decoração de rua. Tudo foi pensado para agradar ao visitante que vem todos os anos e está sempre querendo ver algo novo. Em relação aos espetáculos, trabalhamos na mesma linha, seja pelos figurinos, cenários ou trilha sonora”, explica a diretora de eventos da Gramadotur, Chania Szewczyk Chagas. A semana que antecede o início do Natal Luz é marcada por ensaios dos espetáculos, que nada deixam a desejar para as versões da estreia. Voltadas para a comunidade, as atrações são apresentadas para milhares de pessoas, que trocaram os ingressos por alimentos não perecíveis, uma vez que na temporada os preços dos ingressos variam de R$ 60 a R$ 90 (camarote). A Revista do Comércio pediu que a diretora Chania elegesse um espetáculo em especial para o Natal Luz. “Um show maravilhoso para adultos e crianças é a Fantástica Fábrica de Natal. É um espetáculo estilo Broadway, que apresenta a fábula da menina Sofia que é encantada por histórias e com elas viaja para um mundo de imaginação e fantasia”, recomenda. 72 s REVISTA DO COMÉRCIO

Cleiton Thiele/Serra Press

Então, é

Espetáculo “Nativitaten” é realizado no Lago Joaquina Rita Bier

Voltei a ser criança A noite era gelada e a jaqueta, blusa e cachecol pareciam não ser suficientes para enfrentar o frio daquela quarta-feira, 30 de outubro. Como a recomendação era chegar cedo, não tardamos e uma hora antes do espetáculo Nativitaten estávamos na fila para entrar no recinto montado no Lago Joaquina Rita Bier, no Centro de Gramado. Camarotes e arquibancadas contornam a área pública e são capazes de acomodar uma multidão. Tudo organizado – em todos os pontos há pessoas que indicam e ajudam os espectadores a encontrar seu lugar, marcado no ingresso. O início do espetáculo, que conta a história de criação do mundo com a execução de músicas cantadas ao vivo, é pontual. O coral de 75 vozes circunda todo o lago com lamparinas e deseja “boa noite”, ao que são saudados por todos que lá estão. O Nativitaten é um show de fogos de artifício, música lírica, água e fogo. Tudo se transforma e, aos poucos, os detalhes apare-

cem. Gôndolas levam os cantores até plataformas, onde ficam até o fim do espetáculo. Águas e luzes acompanham o som dos 20 integrantes da percussão. Chamas saem do lago e chafarizes desenham formas em meio a raios laser. É impossível não ficar fascinado. Voltei a ser criança e olhava os fogos de artifício como se fosse a primeira vez que havia visto o espocar no céu. Vibrava em conjunto com cerca de 4 mil pessoas que estavam no lago. Queria ter a mesma agilidade dos acrobatas que, vestidos de Papai Noel, subiram uns nos outros e montaram uma árvore de Natal. E ainda esperei o que podia me surpreender na ópera a céu aberto. Deixei a música entrar e lavar a alma. E, assim, a execução de Adeste Fideles me “fisgou”. Uma das canções mais tradicionais do Natal – que tem origem reivindicada por portugueses, franceses e ingleses – fez o coração apertar, a emoção sobressaltar e as lágrimas cair.


Magia da lenda finlandesa Espetáculo está há um ano em cartaz

Sérgio Azevedo

“Uma explosiva fusão de teatro, dança, técnicas circenses e cenários virtuais espera por você.” É dessa forma que o espetáculo Korvatunturi – A Origem do Natal, que não faz parte da programação oficial do Natal Luz, se apresenta para quem busca informações em seu site ou no Facebook. Se não é a definição perfeita, é a que mais perto consegue chegar da essência do espetáculo. Para o espectador ir até seu assento, passa por túnel que integra a apresentação. A partir do início, seus olhos não querem perder nada, da narração aos detalhes do figurino, da bailarina que gira sem parar ao contorcionista que parece ser de elástico. A atração está em cartaz há um ano em Gramado, no Centro de Eventos da Fundação de Apoio

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS), localizado na área central da cidade. É possível comprar os ingressos pela internet, por telefone e nas recepções de hotéis.

Para quem não puder ir, seja pela falta de tempo ou pelo custo do ingresso (de R$ 37,50 a R$ 85), há pocket shows gratuitos do espetáculo no Largo da Borges. Só não fique sem ver! 


PARA SE

DIVERTIR Parque Gaúcho

Parque Aldeia do Imigrante

Criado para resgatar a formação e evolução do gaúcho, em área total de 120 mil metros quadrados. O visitante é levado a grandes salões onde é possível ver peças originais e restaurações da formação do gaúcho, até uma vila recriada. O espaço faz resgate de raças de animais crioulos – local que as crianças adoram – e há área para a doma de cavalos. No fim da visita, pão de campo quentinho feito no forno a lenha, broa de milho, manteiga fresca, doce de leite uruguaio, mate gelado e suco de uva  Cidade: Gramado Fotos: Ana Karina Victor

Parque Estadual do Caracol

Para quem curte e gosta da natureza. Há trilhas e brinquedos para as crianças. O observatório ecológico é um elevador panorâmico que o leva a uma plataforma com 27 metros de altura para vista de 360º do parque. No mirante, também dá para ver a cascata, o vale e a mata nativa de todo o parque. Lojinhas estão à disposição para quem não resiste a uma comprinha  Cidade: Canela

Mundo a Vapor

De fora o complexo do Mundo a Vapor chama atenção. A locomotiva pendurada no prédio, que reconstitui famoso acidente ferroviário em Paris, em 1895, deixa o visitante de olhos bem abertos. Não pense que só encontrará itens de ferrovias, o visitante vai descobrir os multiusos do vapor, na olaria, serraria, pedreira, siderúrgica, fábrica de papel. O interior é escuro e a iluminação é direcionada para estandes, em que instrutores contam um pouco da história do vapor. A luz em apenas pontos específicos pode assustar os pequenos  Cidade: rodovia Canela/Gramado 74 s REVISTA DO COMÉRCIO

É o principal atrativo de Nova Petrópolis e resgata o passado dos imigrantes colonizadores, especialmente os alemães. O visitante é recebido com banda tipicamente alemã. Há a Aldeia Bávara – salão, quiosques, lojas de malhas e produtos artesanais e Jardim da Cerveja – e a Aldeia Histórica – a mais interessante. Foram reconstruídos prédios históricos, como casa, escola, igreja e até cemitério. O destaque é que há estruturas que foram desmontadas no interior do Estado e levadas até a serra  Cidade: Nova Petrópolis

Gramadozoo

Não espere encontrar leões ou girafas. O Gramadozoo traz animais da fauna brasileira. Em vez de grades e jaulas, vidros blindados e viveiros de imersão reproduzem o habitat das espécies. O percurso é longo – quem está com criança de colo pode alugar carrinhos de bebê por R$ 5 – e é acompanhado por educadores ambientais. Toda a extensão tem placas informativas. Fica ao lado do Parque Gaúcho  Cidade: Gramado

Lago Negro

O lago surgiu após incêndio que destruiu a mata na região, em 1953. É ideal para passar a tarde de domingo. Fazer caminhada, levar uma tolha e esparramá-la para cobrir o gramado verdinho – dá para ler livro ou tirar um cochilo. Quem tem criança, terá de ter força nas pernas para movimentar os cisnes ou as mais recentes caravelas  Cidade: Gramado


Museu de Cera Dreamland

Além de mais de 90 astros do cinema e personalidades mundiais, é possível ver a exposição do Harley Motor Show. Os ingressos são independentes, mas é possível fazer “combo” das atrações. Lady Gaga, Lady Di, Barack Obama e Smurfs ficam em cenários temáticos. A visita não é imprescindível para o roteiro de férias  Cidade: Gramado

Mini Mundo

Pense no aeroporto de Bariloche, o porto de Porto Alegre, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, a estação ferroviária de São João Del Rey e a prefeitura de Munique em um mesmo lugar. Impossível?! No Mini Mundo é real. As miniaturas reproduzem os originais e o cuidado com os detalhes é fantástico – em uma das representações de uma casa, a TV está ligada e é possível ouvir o som. Os adultos ficam boquiabertos; as crianças, se ainda forem bem pequenas, vão gostar mais do playground  Cidade: Gramado


DECORAÇÃO

crianças

Cantinho das

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Aline Aline Furlanetto Furlanetto


Segurança, conforto e criatividade são critérios para projetar o quarto dos baixinhos Marielle Francine Rosa Especial para a Revista do Comércio

Preparar o ambiente para receber e acomodar os pequenos não é tarefa fácil. O lugar precisa ser atraente, mas sem exageros, para não ficar cansativo para o bebê. Em pouco tempo as crianças descobrem os cinco sentidos e têm a curiosidade de tatear os objetos ao seu redor, por isso, cuidados são necessários. A vantagem é que em lojas de decoração infantil os pais encontram desde acessórios para enfeite até kits de cama, de todos os gostos. Milena Monteiro Brandão do Amaral, 28 anos, é mãe dos gêmeos Arthur e Lucca, de oito meses e meio. Ela, que é personal

trainer e proprietária de academia, conta que fez a decoração do quarto dos bebês sozinha. “Ninguém me orientou, fui brincando com as cores do tapete, do kit de higiene”, explica. Antes de começar a planejar o ambiente, ela esperou saber qual era o sexo do bebê. “Quando descobri que seriam dois meninos, pensei que pudesse usar móveis escuros”, comenta. As cores verde e azul do enxoval também foram escolhidas para receber os bebês. Para enfeitar o quarto, a personal optou por itens com desenhos e bordados de coruja. Milena diz que sempre quis a decoração dessa forma, mesmo se fosse menina, pois acredita que a coruja é símbolo de sabedoria, inteligência e força, além de estar na moda. BEM-ESTAR

A designer de interiores e proprietária da Juliluy, Nidia Cibele Pedroso Vieira, fala que um dos principais cuidados que se deve ter com a decoração do quarto do bebê é deixar o mobiliário bem

distribuído. Além de qualidade, é preciso que os móveis sejam sem pontas, para evitar acidentes. Já a proprietária da Flam Shopping Kids, Ana Maria Slompo, aconselha os pais a começar a procurar os móveis com cinco meses de antecedência, para não correr o risco de a encomenda chegar depois que o bebê nascer. Outra condição importante é que os berços sejam, impreterivelmente, aprovados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). “Além de organizado, o principal é um ambiente que funcione, onde tudo fique perto da mãe, para trocar o bebê, amamentá-lo e dormir”, pontua a designer. Para toda essa organização, existem peças para cada uma dessas funções, como prateleiras com varão próximas à cômoda utilizada para trocar o bebê. Para evitar bagunça e guardar os brinquedos, baús e armários baixos são indicados. Ana Maria conta que há pais que usam baús de madeira, mas a preferência são os de plástico, para ficar no quarto em que as crianças brincam. 

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A escolha do enxoval ou papel de parede para o quarto do bebê por meio de encomenda é opção favorável para quem opta por praticidade. Os pais podem escolher os produtos em casa e a encomenda chega em alguns dias. A proprietária da loja Lima Limão, Fátima Aparecida Previatello, atua no setor há dois anos. Recentemente, ela começou a investir na venda de enxovais por meio de catálogos. “Espero que tenha boa aceitação, é minha primeira tentativa”, diz. A lojista apresenta vantagens na proposta porque os produtos da lista são novidades no mercado. “Fogem daqueles temas de princesas e ursinhos. A decoração é floral, mais colorida”, completa. Os catálogos são recheados de estampas, poás, xadrez, listras e babados para compor as decorações.

Carolina Chamaricone

Sob medida

Milena Monteiro Brandão do Amaral organizou o quarto de seus filhos sozinha; abaixo, sugestão de quarto azul, branco e xadrez

Paredes personalizadas

Aline Furlanetto

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A designer de interiores Nidia Cibele Pedroso Vieira propõe, para as paredes, evitar ao máximo os exageros. Ela explica que o papel de parede pode ser usado no quarto todo se o ambiente tiver cores claras ou, se for mais colorido, pode-se optar por apenas uma parede decorada. “O ambiente sempre fica bem com papel de parede que combine com o tema do quarto e o enxoval. É onde podemos criar o sonho de cada mãe. A minha dica fica em personalizar, sempre”, sugere. Nidia conta que as cores fortes são tendência, mas, para deixar o ambiente mais clean e aconchegante, os tons mais escuros ficam para os detalhes ou móveis menores, como mesas de apoio. Além disso, móveis provençais são sempre bem-vindos. Enxoval na cor rosa antigo e estampas florais são muito usados em quarto de meninas. Já os móveis com design mais reto e estampas com temas diversificados compõem o quarto dos meninos. “As cores mais utilizadas atualmente são o verde, para o tema safári, e o azul-marinho para vários outros”, completa Nidia. Móveis coloridos ainda estão em alta, principalmente com a chegada dos berços cromatizados. “Antes, era tudo branco. Este ano entraram os berços nas cores de madeira e para o ano que vem tenho linhas com os coloridos”, diz a empresária Ana Maria Slompo.



BIANCA Giordana Zaniratto

 é jornalista

24x7

Proponho desligar o piloto automático no próximo ano. Encaremos o tempo de frente

Vi a expressão acima em um e-mail sobre pesquisa do Ibope Inteligência sobre o tempo. O resultado do levantamento: 35% dos brasileiros se sentem escravos do tempo. Empiricamente, acho que o resultado é bem maior. Outra constatação da investigação: há necessidade de que tudo e todos estejam disponíveis em um sistema 24x7 e simultâneo. “Tudo que seja lento ou atrasado, que representa espera, está em desacordo com o tempo pós-moderno.” Isso mesmo, 24x7 quer dizer 24 horas durante sete dias da semana, ou seja, todos os nossos preciosos bilionésimos de segundo. Para com isso! Aonde queremos chegar com esse ritmo. Aproximamo-nos do término de mais um ano. Mais um. Antes de fazermos resoluções – aquelas de sempre: emagrecer, se exercitar, ser mais paciente, tratar melhor as pessoas, etc., etc., etc., – as quais viram pó cósmico antes de março findar, vamos antes firmar um pacto com nós mesmos. Mesmo que não consigamos diminuir nossos afazeres diários – pelo contrário, a impressão é de que eles só se acumulam – então os façamos com consciência. Já que não podemos subjugá-lo, tentemos tornar o tempo um aliado. Caso contrário, termina-se o ano e a sensação é de que ele passou como um cavalo baio que nos deixou para trás. Se o suceder dos segundos representa experiência a mais – apesar de ser tempo a menos também – que a jornada seja prazerosa e não uma repetição contínua e interminável de “coisas a fazer”. Outro dia rumava para uma pauta com uma

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amiga e ela falava sobre uma música de Arnaldo Antunes, intitulada Envelhecer. No estribilho da canção, ele diz: “Eu quero é viver pra ver qual é/E dizer venha pra o que vai acontecer”. “Como será que deve ser envelhecer”, questiona o ex-Titãs. Fiquei com a música na cabeça. Arnaldo Antunes compôs a canção, em parceria com Marcelo Genesi e Ortinho, na beira dos 50 anos. Hoje, o poeta está com 53 anos. Sempre que escrevo, tenho a impressão de que é para mim. Nesse caso, nada mais adequado. Pessoas próximas sempre me falam que tenho medo de envelhecer. Eu nego. Não adianta. Não engano nem a mim, quanto mais a elas. Será que sofro de síndrome da velhice precoce? Já que envelhecer é inevitável, até o dia que não precisaremos mais dessa carcaça, façamos disso uma experiência única. Proponho desligar o piloto automático no próximo ano. Encaremos o tempo de frente, sem medo. Organize-se, otimize seu dia. Pare de perder horas e horas projetando acontecimentos ruins do passado para o futuro. Não sabemos o que vai acontecer. Por mais que planejemos, sempre há o imponderável, que pode nos deixar sem chão. Essa é a desgraça e a graça! 24x7 para a gente, nos aceitando como somos, cientes das nossas limitações enquanto seres humanos em eterna transmutação. Não viremos a cara para o presente. Sejamos humildes para nos colocar na situação de aprendizes e audazes para bater de frente com a vida. Que em 2014 envelheçamos com prazer!


OS LIVROS MAIS VENDIDOS*  FICÇÃO 1º A Culpa é das Estrelas John Green – R$ 29,90

5º A Guerra dos Tronos George R. R. Martin – R$ 49,90

3º Cidades de Papel John Green – R$ 29,90

2º Inferno Dan Brown – R$ 39,90

4º O Teorema Katherine John Green – R$ 29,90

 NÃO-FICÇÃO 1º Nada a Perder – Livro 2 Edir Macedo – R$ 34,90

3º Carlos Wizard Ignácio de Loyola Brandão – R$ 34,90

2º 1889 Laurentino Gomes – R$ 44,90

5º Destrua este Diário Keri Smith – R$ 24,90

4º 1822 Laurentino Gomes – R$ 44,90

 LIVROS ELETRÔNICOS No Brasil**

No exterior ***

2º Peça-me o que Quiser ou Deixe-me Megan Maxwell

2º Divergent Veronica Roth

3º Quando Estou com Você – Parte 6 Beth Kery

3º Takedown Twenty Janet Evanovich

4º Cretina Irresistível Christina Lauren

4º Allegiant Veronica Roth

5º Administração Geral e Pública Augustinho Vicente Paludo

5º The Gods of Guilt Michael Connelly

1º Playboy Irresistível Christina Lauren

1º Sycamore Row John Grishan

* A lista é feita com base na soma do número de exemplares vendidos entre 25/11 e 1º/12, divulgado por livrarias de todo o País ** Livraria Cultura, Saraiva e Travessa *** Amazon e Barnes&Noble Fonte: Folhapress REVISTA DO COMÉRCIO s 81


JOSÉ

Renato de Almeida Prado

 é jornalista e membro da União Brasileira de Escritores (UBE)

Grunhidos

Pedreiros também costumam grunhir, mas às vezes deixam escapar duas ou três palavras

A capacidade ou não de entendimento entre algumas pessoas é uma coisa intrigante. Independe de afinidade, embora isso às vezes ajude. Expressões faciais são óbvias. O erguer da sobrancelha esquerda de minha mãe sempre remetia a correições, o que podia significar palmadas ou pior: ter de enfrentar aquele chinelo que fazia curvas. Mas o que me traz espanto mesmo são os grunhidos, incompreensíveis à maioria e quase dialetais. Ocorre com todos, entre os homens em maior parte, e em situações as mais diversas possíveis. A caminho do jornal, me avisto diariamente com um notório garçom chamado pelo apelido de Tufão. Somos conhecidos de longa data e ele certamente testemunhou minhas primeiras carraspanas juvenis. Ao nos encontrarmos na mesma calçada, nos cumprimentamos de maneira um tanto peculiar. De lá e de cá o que saem são grunhidos, algo assemelhado a um oba ou um opa, mas que não é nem uma coisa nem outra. Aquilo que a ouvidos estranhos soaria quiçá como latidos graves, um “aumpr” ou “oub”, sabemos bem que representa uma interjeição de saudação. Sons guturais que trazem implícitos os votos de boas tardes, emitidos com pitada de solenidade entre aquele que acaba de sair do trabalho e aquele que vai iniciar sua jornada. Há variações infindas desses sons no ato de cumprimentar. Em reuniões familiares, um tio se dirigia aos presentes ao chegar com um “aooouuu” pronunciado de forma bem arrastada e cavernosa, qual uma tuba – não se configurando, portanto, um grunhido, mas um anúncio e escapa ao tema. Com os grunhidos, os quais nesses casos não têm a função de reclamação, há até certa distinção. Na economia de palavras, na verbalização parcimoniosa, há total compreensão da mensagem, sem resvalar na rudeza. Sobriedade cavalheiresca, diria, e que se opõe em tudo à vulgaridade do “e aí”, “véi”, “tá ligado”? Há casos, naturalmente, em que a mensagem simplesmente não atinge o receptor e tudo se perde. Nem invocando o espírito de Marshall McLuhan daria jeito. No consultório médico é muito comum. Mãos suando frio, esperando o especialista dar seu veredicto, depois de ler os resultados de todos os exames que

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havia pedido. Ele lança um olhar vítreo, diz meia dúzia de nomes científicos e emite outra meia dúzia de grunhidos intraduzíveis. Isso se você tiver um plano de saúde. Ruído total na comunicação. Resta fazer cara de paisagem, se despedir e depois perguntar tudo ao farmacêutico. Pedreiros também costumam grunhir, mas às vezes deixam escapar duas ou três palavras, o que torna possível tentar preencher os espaços em branco entre uma e outra por meio da adivinhação. O mesmo se dá com alguns mecânicos quando indagados sobre o problema no motor do seu veículo. Grunhem em servo-croata e depois apresentam faturas com valores astronômicos. Os chamados sinais corporais igualmente despertam curiosidade, mas permanecem como grandes enigmas. Psicólogos e terapeutas tentam interpretá-los, mas não sei com que grau de sucesso. Leio que os homens demonstrariam interesse por uma mulher na maneira de se portar. Estufam o peito, falam com voz mais gentil e com tom protetor, mantêm as costas eretas, barriga retraída, olhos mais brilhantes. Mas isso não é confiável. Pode ser apenas que estejam com gases. Com as mulheres, as coisas ficam ainda mais complicadas. Drummond eternizou o aforismo de que é próprio da mulher o sorriso que nada promete e permite imaginar tudo. Seus sinais são ardilosos. Manter a palma das mãos para cima, ajeitar as roupas, mexer nos cabelos, dar risos altos, inclinar o corpo em direção do homem é uma associação ambígua. É possível que signifique interesse ou tédio, nunca se sabe. Os que arriscam conferir podem se dar bem. Ou ouvir de lá apenas grunhidos. Eles de novo. Indecifráveis e obscuros. No panteão dos arcanos maiores. Um dia talvez surja alguém capaz de codificá-los em sua plenitude, até com regras gramaticais. Os grunhidos, então, de alguma forma voltarão a ocupar a primitiva importância que possuíam antes do advento da fala. Poderão ser alçados a idioma que transcenda divisões geográficas e culturais, com muito mais eficiência do que o esperanto. O presidente dos EUA grunhe de lá e recebe como resposta grunhidos da Síria, do Iraque, do Paquistão, da Rússia e da Coreia do Norte. Desde que não sejam resmungos haverá paz.




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