Revista do Comércio #18

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Ano 4 • Número 18 • 4 de maio de 2014 • R$ 5,00

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s Os arquivo a r u d a t i d a secretos d

J au COPAS E LENDAS Conheça histórias curiosas do torneio

A LABUTA

Acompanhe o dia a dia de trabalhadores

CHILE

País é muito mais que vinhos e cordilheira



Expediente

Editorial

Nunca será demais A Revista do Comércio é uma publicação do Jornal Comércio do Jahu. Rua Marechal Bittencourt, 935 Centro – Jaú (SP) – CEP: 17202-160 Diretora de Redação: Ana Karina Victor Editora: Bianca Zaniratto Reportagens: Bianca Zaniratto Flaviana de Freitas João Guilherme D’Arcadia José Renato de Almeida Prado Matheus Orlando Natalia Gatto Pracucho Ricardo Recchia Fotografia: Aline Furlanetto Carolina Chamaricone Flaviana de Freitas Diagramação: Aline Furlanetto Ana Karina Victor João Vasconcelos Floriani Revisão: Luciane Maria Marcoantonio Silva Redação: (14) 2104-2100 redacao@comerciodojahu.com.br Departamento Comercial: Andreza Perez (14) 2104-2109 (14) 2104-2108 comercial@comerciodojahu.com.br Departamento de Assinaturas: (14) 2104-2100 (14) 2104-2130 saa@comerciodojahu.com.br Tiragem: 5 mil exemplares Impressão: Gráfica Tiliform

www.facebook.com/revistadocomercio Os artigos publicados nesta edição são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando necessariamente a opinião da Revista do Comércio

Repressão e tortura marcaram os anos de chumbo no Brasil. Dissolução de assembleias de sindicatos, de diretórios acadêmicos, mordaça na imprensa e em qualquer pessoa que ousasse declarar posicionamento contrário ao dos que estavam no poder. Os 50 anos do golpe militar neste ano trazem à tona o período trágico e doloroso que marcou a história do Brasil. Dirão alguns que a Lei nº 6.683, de 1979, concedeu anistia a todos, “absolveu” torturados e torturadores e, dessa forma, deveria ter encerrado a questão. Enganam-se. Refletir sobre a história do País, principalmente sobre um dos períodos mais tumultuados, nunca será demais. Analisar a história é exercício edificante ao conhecimento – concede àquele que tem interesse elementos para comparar e desconfiar de tudo que ocorre ao seu redor. É o nobre mecanismo do pensamento, que dá ao cidadão capacidade de avaliar e construir suas próprias convicções, evitando ser conduzido por opiniões de terceiros. Com esse propósito, a Revista do Comércio iniciou ampla pesquisa sobre o período militar em Jaú. O ponto de partida foram 80 fichas encontradas no Arquivo Público do Estado de São Paulo, em meio a mais de 400 mil sob guarda do órgão. Os documentos disponíveis foram abertos há mais de 20 anos para consulta e só recentemente puderam ser acessados pela internet, por qualquer pessoa. A partir dessa possibilidade, os repórteres usaram como palavra-chave no campo de busca “Jaú” – sem e com o “h”. A matéria especial “Nos dois lados do golpe” é dossiê inédito da participação do Município e de seus cidadãos, a favor e contra o regime imposto pelos militares. As fichas são documentos comprobatórios de que nada escapava ao olhar dos militares: pessoas físicas, empresas, movimentações de entidades sindicais, greve de estudantes e de médicos em instituições da cidade. A reportagem traz também o relato do jauense Roberto Cardoso Ferraz do Amaral, que fez parte da Vanguarda Popular Revolucionária. O economista aposentado foi preso, torturado e exilado. Em seu calvário nas celas, encontrou o também jauense e delegado Wanderico de Arruda Moraes, que ao saber de sua origem não deixou de ameaçar o preso político. Tenho assistido, desde o fim de março, a Mulheres em Luta, exibido pelo GNT. O documentário mostra como estão hoje mulheres que foram presas no período do regime militar, como sobreviveram aos anos de chumbo e como encaram a vida desde então. Entre tantos depoimentos carregados de emoção, o da advogada e conselheira da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça Rita Sipahi, 79 anos, resume a forma como os militares estraçalhavam a honra dos que se opunham ao regime imposto. A frase abaixo é dela, para reflexão. “A intenção do torturador é que você seja destruído. Pense em um canto de parede, você totalmente nua, com sapato de salto. Onde fica sua dignidade nessa hora?” Boa leitura e até a próxima edição! Ana Karina Victor Diretora de Redação REVISTA DO COMÉRCIO s 3


ÍNDICE

18 8

Jaú, 50 anos depois

A cidade se fez representar nos dois lados do regime militar

Todas as Copas

Publicações resgatam fatos marcantes do maior evento esportivo

29 44 14 38

Viagem

Chile encerra maravilhas naturais, enogastronômicas e culturais

Trabalho de peso

Profissionais mostram que dedicação é o maior trunfo para o serviço de qualidade

Social

Eventos marcam celebrações familiares e profissionais

49

De volta

Cultura de décadas passadas volta com força total e motiva jovens

Risotto per tutti Os segredos dessa delícia vinda da Itália

58

A temporada começou

Coleção outono-inverno tem peças amplas e coloridas



JORGE João Marques de Oliveira

 é promotor de Justiça e professor de Direito Penal aposentado

Coisas abomináveis e deleitáveis

Coisas deleitáveis: chegar aos 80 anos com boa saúde; começo das férias

O escritor Paulo Mendes Campos publicou uma crônica intitulada “Coisas abomináveis”, elencando, entre outras 8.329 coisas que tornam a existência humana menos apetecida, das quais não tinha tempo de se lembrar, dezenas de crimes – no entender dele – contra a criatura humana. Veja alguns deles: “uísque ostensivamente falsificado; sujeito falsamente importante; bafo de respiração em nossa nuca dentro do elevador; jornal largando tinta; mão suada; dor de dente, sobretudo depois de 30 anos; discurso em geral, mas, notadamente, os empolados e compridos (...)”. Atendendo aos pedidos de amigos, ele publicou, em seguida, outra crônica com o rol das coisas deleitáveis. Eis algumas delas: “andar descalço em relva úmida; comer pão saído do forno; matar aula; rever Luzes da Cidade; banho de cachoeira antes do almoço; fogueira na praia; coceira de bicho-de-pé; ler na cama; água de geladeira, às quatro da manhã, depois de uma festa; retirar o gesso; ‘sua pressão está ótima’; achar dinheiro (...)”. Percebe-se que a quase unanimidade de nós subscreveria uma e outra lista. As coisas abomináveis e aquelas deleitáveis são como são para o grosso dos seres humanos. O elenco delas é infinito. Posto isso, apresento uma modesta relação, que se ajusta ao espaço disponível, de coisas que têm o condão de aporrinhar a humanidade e de outras que levam à felicidade. Coisas abomináveis: morrer quando não se está doente; ser assaltado; banheiro sem papel higiênico; criança fazendo birra; pais que deixam criança fazendo birra; perder os arquivos do computador e do celular; pneu furado em dia de chuva; levar um fora da pessoa amada; alarme do vizinho (e também o nosso) que dispara de madrugada; queimadas urbanas; unha encravada; cair na malha fina do Imposto de Renda; pegar duas gripes no mesmo mês; ver nosso time perder a final do campeonato; encontrar-se com um chato e ter que ouvir aquela piada longa, sem graça e conhecida,

6 s REVISTA DO COMÉRCIO

mesmo depois de falar pra ele: “Ah, essa eu já conheço”; visita inesperada de parente; estar doente e depender da saúde pública; cano furado no sábado à noite; filas (todas!); barulho, especialmente de britadeira e de motorzinho do dentista; motoqueiro apressado (olha o pleonasmo!) que quebra o espelho retrovisor do nosso carro; ouvir alguém prolixo; dar aval ou fiança; pedir aval ou fiança; propaganda política obrigatória; cigarro aceso; pessoa dissimulada; mosquitos, especialmente os da dengue, e pernilongos; ligar para o SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor; fanatismo religioso (...). Coisas deleitáveis: chegar aos 80 anos com boa saúde; começo das férias; dar uma boa gargalhada; falar mal de político; cheiro de terra molhada, de mata fechada, de pão saindo do forno, de pizza com muito manjericão, de flor de laranjeira e de carro novo; beijo na boca; ver nosso time ser campeão; pescar, isolado do mundo, por cinco dias; fisgar o maior peixe na pescaria; voltar pra casa depois de pescar, por cinco dias, isolado do mundo; comida de mãe; um abraço dos pais ou dos filhos; ganhar na loteria; chupar jabuticabas apanhadas do pé; saber o momento certo de soltar alguns palavrões; marcar aquele gol que o Pelé não fez; churrasco e cerveja gelada; estar apaixonado; noite de amor, com a chuva batendo na janela; mulher charmosa; pão com ovo frito; dormir em paz; praia deserta; sorvete; a sensação do dever cumprido; deitar na rede de madrugada e contemplar o céu no outono; ar-condicionado no verão e lareira no inverno; ler novamente qualquer bom livro; assistir, outra vez, ao filme Perfume de Mulher; cometer, sem culpa, três dos pecados capitais: gula, preguiça e luxúria; um poema de Pessoa ou de Quintana; música de Bach ou Mozart; aprender a dizer não; ficar conversando com os amigos do peito até a choperia fechar; ouvir um tico-tico cantar ao longe e ver o pôr do sol bem perto; descobrir que se pode ser feliz com pouco (...).



ENTREVISTA Geração de Zico e Sócrates encantou fãs do futebol, mas não levou a taça em 1982

Era uma vez uma

Copa

Divulgação

Jornalista paranaense reúne em livro momentos históricos do maior espetáculo do esporte mundial 8 s REVISTA DO COMÉRCIO

Ricardo Recchia ricardo@comerciodojahu.com.br

Ainda garoto, Lycio Vellozo Ribas montou em sua máquina de escrever um livro sobre Copas do Mundo – os originais nunca chegaram a ser publicados, mas serviram de ponto de partida para o recém-lançado O Mundo das Copas: Edição Especial (Academia do Livro, 2014), uma das obras que revisitam os 80 anos de história do maior evento esportivo do mundo (confira uma seleção de outras publicações do gênero na página 11). Em sua enciclopédia, o jorna-

lista paranaense mergulha no universo do futebol e descreve todos os jogos já disputados em Mundiais. O trabalho minucioso é fruto de quase seis anos de pesquisa nos arquivos oficiais da Fifa, internet, revistas e jornais antigos, entre outros meios de comunicação. São quase 800 partidas de um dos maiores espetáculos da Terra. Ribas é jornalista esportivo desde 1998, ano em que começou a trabalhar no Jornal do Estado (atual Bem Paraná), em Curitiba. Era subeditor de esportes durante a Copa do Mundo de 1998. Depois,


chegou aos cargos de editor e secretário de redação, que ocupou durante as Copas de 2002, 2006 e 2010. Mas sua paixão pelas Copas teve início durante o Mundial de 1982, quando, de posse de um álbum de figurinhas, ele acompanhou a competição daquele ano. Assim como milhões de brasileiros, sentiu-se órfão de uma seleção de craques como Falcão, Sócrates e Zico, que encantou os fãs de futebol de todo o planeta, mas não levantou a taça. “Da minha parte, acho que houve até aquela perda de inocência com o futebol depois da derrota do Brasil para a Itália”, diz na entrevista a seguir.  Revista do Comércio – Quando começou seu interesse pelas Copas do Mundo? Lycio Vellozo Ribas – Fiquei fascinado por Copas do Mundo em 1982, época em que tínhamos uma seleção até hoje reverenciada, com Falcão, Sócrates e Zico. Eu tinha de 9 para 10 anos. Mas só em 1986 comecei a juntar coisas de Copas. Com o passar dos anos, fiz um arquivo que hoje tem um tamanho bem razoável. Tornei-me jornalista esportivo apenas em 1998, um pouco antes da Copa na França. Meu chefe na época viu que eu tinha um certo traquejo para a coisa e me colocou como subeditor de esportes do Jornal do Estado, de Curitiba, para mexer nas edições daquela Copa.

 Revista do Comércio – E como surgiu a ideia de produzir o livro? Ribas – Ali por 2004, a Rachel (hoje minha esposa, e na época minha namorada) me deu a ideia de fazer um livro bem completo sobre Copas do Mundo. Isso depois de ela ter visto todo o material que eu havia juntado. Uma mulher comum diria que eu tinha que jogar tudo fora antes de dividir um lar, mas ela não. Ela me incentivou a fazer um livro. Mesmo porque até então não tinha nada parecido no mercado, pelo menos não no mercado brasileiro.  Revista do Comércio – Quanto tempo você demorou para fazer a pesquisa para a publicação? Ribas – Levou um pouco mais de cinco anos. Mas depois da Copa de 2010, na África do Sul, tive de pesquisar um monte de coisas novas. Até porque a própria Fifa alterou vários dados oficiais dos jogos, principalmente dos Mundiais mais antigos. Revista do Comércio – Em um trabalho dessa envergadura, o que foi mais complicado para você como pesquisador? A compilação das fichas técnicas dos jogos, as imagens, as resenhas? E quais fo-

ram suas principais fontes de informação? Ribas – Usei de tudo como fonte de informação. Jornais, revistas, livros, álbuns de figurinhas, filmes oficiais das Copas e vídeos de gols das partidas. E, lógico, a internet. A parte mais complicada foram as resenhas de jogos das Copas anteriores à 2ª Guerra Mundial, difícil de achar nos dias de hoje. Já as escalações deram trabalho mais por causa da dissonância entre as fontes. Mas a parte mais complicada mesmo foi achar imagens de referências de jogadores – um por partida – e desenhá-los para usá-los no livro. Não porque foi especialmente difícil de achar, mas porque foi trabalhoso.  Revista do Comércio – Após pesquisar sobre todos os 19 Mundiais, tem alguma Copa com a qual você mais se identifica ou que rendeu melhores histórias? Ribas – Por ter sido a primeira Copa que vi, a de 1982 é a minha preferida. Da minha parte, acho que houve até aquela perda de inocência com o futebol depois da derrota do Brasil para a Itália (3 a 2 na segunda fase). Mas, no geral, todas as Copas renderam boas histórias. A de 1930, por ser a primeira. A de 1954, por ser Divulgação

"Uma mulher comum diria que eu tinha de jogar tudo fora antes de dividir um lar, mas ela não" Lycio Ribas e sua mulher, Rachel, que o incentivou na publicação da enciclopédia das Copas REVISTA DO COMÉRCIO s 9


a com melhor média de gols por partida. A de 1958, com o primeiro título do Brasil. E por aí vai. Até a de 2010 teve histórias divertidas, como a do elefante que atrasou o treino dos Estados Unidos e a da rainha da Espanha que entrou no vestiário com quase todo mundo pelado lá dentro.  Revista do Comércio – Sabemos que a preparação para o Mundial deste ano não é das mais tranquilas. Você acha que a segunda edição de uma Copa no Brasil deixará um legado esportivo para o País? Ribas – Difícil dizer. Esse lega-

do, seja ele qual for, só será percebido daqui a alguns anos. Nossos últimos jogadores de ponta, pelo menos em termos ofensivos, foram Neymar e Oscar. Não surgiu mais ninguém de “primeira linha”. Se surgir, não sei se será por causa da Copa ou se será porque surgiu naturalmente. Em termos de organização esportiva, o Mundial ensinou muito mais as coisas que não se devem fazer do que as coisas que se devem fazer. Infelizmente, não sei se essas lições serão levadas adiante. Fora do âmbito esportivo, torramos muito dinheiro público e desperdiçamos uma grande

chance de melhorar muita coisa no País, como aeroportos e estradas. Tudo funcionará paliativamente.  Revista do Comércio – Quais são seus favoritos para erguer a Taça Fifa no Maracanã, no dia 13 de julho? Ribas – Não necessariamente nessa ordem, mas o Brasil, por jogar em casa; a Alemanha, por ter um time forte em todos os setores; e a Espanha, por ser a atual campeã mundial e ter um estilo de jogo que todo mundo conhece, mas quase ninguém consegue anular.

NO MUNDO DAS COPAS Fatos marcantes do torneio que talvez você não sabia

Na partida entre Iugoslávia e Bolívia, na primeira Copa do Mundo em 1930, os 11 jogadores bolivianos estavam com letras em suas camisas para formar a frase “Viva Uruguay”, tentando garantir o apoio da torcida vizinha, mas um dos jogadores não estava na foto oficial e a imagem registrou a seguinte frase: “Viva Urugay”. Naquela época não houve polêmica, mas se fosse nos dias de hoje...

Intimidação

Partiu do ditador Benito Mussolini a ideia de oferecer o país como sede da Copa do Mundo de 1934. Ele fez uma ameaça disfarçada para o técnico da equipe da casa, Vittorio Pozzo: “Que Deus o proteja se essa seleção falhar”. A Itália foi campeã e o pescoço do técnico foi poupado. Na mesma Copa, a seleção da Alemanha sofreu alterações no elenco por sugestão de Adolf Hitler 10 s REVISTA DO COMÉRCIO

Às moscas

Até hoje o menor público registrado em jogos de Copa do Mundo foi de 300 pessoas, na partida Romênia 3 x 1 Peru, na primeira competição da história

Bolivianos homenageiam os anfitriões uruguaios na Copa do Mundo de 1930

Não aos domingos

Durante a Copa de 1966, na Inglaterra, os jogos aos domingos foram proibidos pela igreja anglicana, uma vez que o dia era sagrado e esportes não deveriam ser praticados nessa data

Volta por cima

Durante a Copa de 1970, no México, terremoto destruiu parte do Peru. Mesmo abalados, os jogadores da seleção peruana conseguiram virar o jogo contra a Bulgária, vencendo a partida por 3 a 2. Eles só caíram nas quartas de final, contra o Brasil

Fotos: Divulgação

Gafe

Em 1970, a seleção do Peru, do craque Cubillas, superou trauma de um terremoto que destruiu seu país

Fonte: livro “O Mundo das Copas” (Academia do Livro, 2014)


GOLS DE CABEÇA Uma escalação sugerida para a época em que todo mundo fica louco pela bola

“Febre de Bola” Nick Hornby, Companhia das Letras, 2013

“As Melhores Seleções Brasileiras de Todos os Tempos” Milton Leite, Contexto, 2014

“Sarriá 82” Gustavo Roman e Renato Zanata, Maquinária Editora, 2012

“Infográficos das Copas” Gustavo Longhi de Carvalho e Rodolfo Rodrigues, Panda Books, 2014

“Os Donos do Mundo” Luís Augusto Simon e Rubens Leme da Costa, Editora Leitura, 2010

“Os 55 Maiores Jogos das Copas do Mundo” Paulo Vinicius Coelho, Panda Books, 2010

“A História das Camisas de Todos os Jogos das Copas do Mundo” Paulo Gini e Rodolfo Rodrigues, Panda Books, 2014

“A Magia da Camisa 10” André Ribeiro e Vladir Lemos, Verus Editora, 2006

“Os Sem-Copa” Clara Albuquerque, Maquinária Editora, 2014

“Gabriel e a Copa do Mundo de 2014” Ian Brenman, Brinque Book, 2014

“Pelé Eterno” (DVD) Aníbal Massaini Neto, Europa Filmes, 2010

Fonte: reportagem local

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DIA A DIA

Profissionais do futuro Divulgação

A obra “Operários”, de Tarsila do Amaral, ressalta a diversidade existente entre os trabalhadores brasileiros

Reportagem acompanha quatro trabalhadores em Jaú que exercem seu serviço com zelo e dedicação Flaviana de Freitas flaviana@comerciodojahu.com.br

“Ao trabalhador que realiza seu trabalho com zelo e persistência, sempre o êxito será o seu quinhão. Quem segue devagar e com constância sempre chega na frente.” Esopo, ao colocar esta frase como a moral da história da fábula A Tartaruga e a Lebre, estava, na 14 s REVISTA DO COMÉRCIO

verdade, fazendo um ensinamento atemporal sobre o mundo profissional. O Dia do Trabalho foi comemorado na última quinta-feira, data significativa para aqueles que, todos os dias, se levantam com o objetivo de fazer o seu melhor em determinado setor. Por isso, a Revista do Comércio resolveu relatar o dia a dia de quatro profissionais em Jaú. A reportagem acompanhou trabalhadores de cada área considerada de existência fundamental para a vivência em sociedade. Assim, vivenciamos o cotidiano dos professores, que representam a educação; dos agentes de polícia, que fazem parte da segurança pú-

blica; dos enfermeiros, essenciais para a saúde; e dos catadores de lixo, que são o segredo para o meio ambiente sustentável. Entre profissões tão diferentes, a mensagem que ficou foi a de que Esopo sempre teve razão. O zelo e a persistência são características presentes naqueles trabalhadores que sonham em fazer um serviço bem feito e tornar o mundo melhor. Cada história, cada determinação e cada empenho, se juntos, constroem um trabalhador admirável, cada um em sua área. Conheça, nas próximas páginas, o cotidiano de pessoas que dedicam seu tempo a melhorar a sociedade e a torná-la um lugar melhor para a nossa existência.


Valentina Bonilha: "Saímos com a missão cumprida"

Pela segurança pública São 8h30 e o delegado titular da Delegacia de Investigações Gerais e de Investigações sobre Entorpecentes (DIG-Dise) de Jaú, Gustavo Alonso Garmes, acabou de iniciar seu trabalho, em pleno sábado, no Plantão da Polícia Civil. Em sua equipe, há outros profissionais, entre eles o agente policial Cícero Manoel da Silva. Logo no início, chegam policiais rodoviários para registrar acidente de trânsito em rodovia. Na sala de espera, estão várias pessoas, por diversos motivos: edícula furtada, mulher que recebe ameaças pelo celular, aci-

Flaviana de Freitas

Valentina é forte, batalhadora, enfermeira. Chega, todos os dias, ao Hospital Amaral Carvalho (HAC) entre 6h30 e 7h. Só vai embora para casa depois de mais de 12 horas de trabalho. No seu dia a dia, está presente a missão constante de salvar vidas. Este é o trabalho da coordenadora de enfermagem do HAC, Valentina Soffner Jorge Bonilha. Logo pela manhã, o pronto-atendimento do hospital está lotado. “Ontem foram 45 pessoas aqui. Fora os casos de internação, de quimioterapia, que são de outros setores do HAC”, relata. A enfermeira, embora tenha uma sala de supervisão geral, não fica parada nem por um minuto. Anda pelos inúmeros corredores do hospital para verificar se tudo está correndo bem. Voltando do setor de quimioterapia, Valentina se depara com uma moça chorando. “Minha sogra está na casa de apoio e não tem como vir”, conta a moça. Na mesma hora, a enfermeira arruma uma maneira de profissionais do HAC buscarem a senhora. “É tudo muito corrido, mas no fim do dia saímos com a missão cumprida.” Para Valentina, o mais importante é a gratidão que o paciente sente em ser bem atendido e em ter seu problema solucionado. Para ela, a enfermagem é uma arte e precisa ser feita com o coração. “Tem dia que ficamos descabelados, é muito corrido. Mas temos de explodir sozinhos, sem nunca descontar no paciente.” Após percorrer os corredores do hospital, Valentina sai para reunião com a Diretoria Regional de Saúde (DRS). Depois volta para o HAC. A correria permanece, mas, como ela mesma afirma, a missão é cumprida.

Aline Furlanetto

Enfermagem em prol da vida

dente de trânsito no perímetro urbano da cidade. “Mas o plantão durante o dia é bem tranquilo. É na parte da noite, principalmente no sábado, que o bicho pega”, diz Garmes. As piores ocorrências normalmente são registradas no período noturno do fim de semana. A cada caso registrado no plantão, inicia-se uma cadeia enorme de trabalho. Silva faz boletim de ocorrência com os dados de policiais militares sobre acidente no perímetro urbano. Mas também precisa acionar a perícia, para verificar os danos do acidente, e o Instituto Médico Legal (IML) porque houve vítima ferida. Enquanto isso, Garmes adianta inquéritos policiais da DIG-Dise. “No caso de um crime grave, vamos até o local”, comenta. E assim segue o sábado. Se houver prisão, a pessoa é colocada na carceragem e outra equipe policial de plantão leva o preso para a cadeia. Garmes ressalta que o plantão é distinto do trabalho na DIG-Dise. “Aqui é como se fosse um pronto-socorro. Recebemos de tudo, depois as ocorrências são triadas e mandadas para a delegacia responsável”, conclui o delegado.  REVISTA DO COMÉRCIO s 15


Catadores reciclam esperança Fotos: Flaviana de Freitas

Gilda e Benedito dos Santos (à direita) percorrem ruas de Jaú e ganham de R$ 30 a R$ 40 por dia

Ainda é cedo e o ar está frio. Dona Gilda e seu Benedito arrumam seu carrinho de coleta para começar mais uma jornada de trabalho. O pneu reserva, o saco de plásticos, as caixas de papelão. Os catadores verificam se pegaram todos os itens necessários para iniciar a busca por material reciclável em Jaú. Logo no começo, a subida é árdua: o casal mora no Jardim Maria Luiza 4 e subir a ladeira de sua rua empurrando o carrinho de recicláveis não é tarefa fácil. Mas Benedito dos Santos, no auge dos seus 63 anos, leva o carrinho por toda a subida. E assim começa o dia de trabalho. “Hoje a coisa está fraca, não estamos vendo nenhum papelão na 16 s REVISTA DO COMÉRCIO

rua”, conta Gilda dos Santos, 55 anos. Por longo percurso, ambos andam calados, sem encontrar material próprio para venda e reciclagem. Ao passar na frente de uma loja, o vendedor chama. Há caixas disponíveis para o casal. Eles tomam um café quentinho e continuam a jornada. Dona Gilda conta que, quando conseguem encher o carrinho de recicláveis, tiram de R$ 30 a R$ 40 por dia. “Mas hoje isso aqui não deve dar nem R$ 20”, afirma seu Benedito, em tom chateado. Ao passar em frente de outros estabelecimentos, mais pessoas fornecem papelão. Com muita disposição, eles percorrem vários bairros, como os Jardins Maria Luiza 2 e Estádio e Vila Assis. Por

volta das 11h, param para almoçar a comida que levaram de casa. Esta é a rotina de dona Gilda há aproximadamente um ano. Antes, ela cuidava dos netos enquanto Benedito dos Santos ia recolher recicláveis. “Agora que os netos estão grandes, resolvi ajudar meu marido”, diz. Após comer, descansam um pouco e procuram mais produtos de plástico e papelão. No fim da tarde, por volta das 16h, vão a ferro-velho localizado no bairro Santo Antônio, onde vendem o que foi arrecadado. Depois, voltam para casa a pé, com o carrinho vazio. O que permanece é a esperança de que mais pessoas separem o lixo reciclável, por uma causa ambiental e social.


Na Avenida Dr. Quinzinho, a Escola Estadual de Tempo Integral está de portões abertos e recebe seus estudantes. São 7h30 e, na frente da escola, está a vice-diretora Patrícia Adolf Lutz. Os alunos entram e todos os docentes vão para a sala de professores. A missão, assim como em todos os outros dias, é clara: tornar o estudante protagonista de seu próprio aprendizado, lidando, assim, com todas as situações necessárias à vida acadêmica. Na escola, percebe-se um clima diferenciado. Os alunos parecem interessados em aprender e os professores estão empolgados. “Além das aulas convencionais,

temos o projeto de vida que cada aluno faz e as aulas eletivas, que são complementares”, conta a coordenadora-geral Daniele Aparecida Buoso Alves. Em uma das salas do 1º ano do ensino médio, a professora de português Patrícia Alessandra Mangili dá exercícios de vestibulares para seus alunos. “Aqui temos estudantes que ficam na escola nove horas por dia, então, há tempo para trabalhar bastante o conteúdo”, diz. Os professores da Escola Estadual de Tempo Integral também ficam nove horas por dia no local. Para eles, a novidade também é um aprendizado, visto que a escola começou a funcionar no início deste ano. Para a diretora Silvana Turchiai de Conti, a equipe de docentes da escola é fundamental para o aprendizado efetivo. E esses professores, que largaram suas escolas estaduais para viver o novo e tentar aplicar uma educação melhor, parecem empolga-

Carolina Chamaricone

A arte de desenvolver cidadãos

Patrícia Alessandra Mangili explica aos alunos a importância de escrever bem

dos com a oportunidade. Em sua aula de projeto de vida, a professora de filosofia e sociologia Amanda Raquel de Menezes ressalta: “Vocês têm de buscar o que querem e traçar um projeto de vida. Para isso, é preciso estudar”.

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ESPECIAL Waldemar Bauab e Ernesto Geisel inauguram a rodoviária de Jaú; acessos, sem portas, são traços arquitetônicos marcantes em época em que não se podia falar em liberdade (ao lado)

Reprodução

Nos dois lados do golpe Levantamento inédito revela participação de jauenses no apoio e na resistência ao regime militar João Guilherme D’Arcadia joao@comerciodojahu.com.br José Renato de Almeida Prado joserenato@comerciodojahu.com.br Natalia Gatto Pracucho natalia@comerciodojahu.com.br

O regime militar – instituído há 50 anos e encerrado em 1985 – 16 s REVISTA DO COMÉRCIO 18

teve a participação sigilosa ou declarada de jauenses, tanto no enfrentamento das forças ditatoriais quanto no seu apoio, inclusive financeiro. Documentos inéditos reunidos pela Revista do Comércio indicam que as movimentações de resistência realizadas na cidade eram acompanhadas pelos órgãos de repressão, o que resultou no fichamento de pessoas, entidades e reuniões. Revelam ainda que empresários da cidade constam como apoiadores que sustentavam operações militares. O dossiê começou a ser forma-

do pela análise de 80 fichas disponibilizadas pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, e que antes estavam vinculadas ao Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops), extinto em 1983. O órgão estatal apurava eventuais crimes contra a “ordem” e teve atuação mais incisiva durante o período militar – muito embora, por alguma razão desconhecida, tenha “fichado” em 1947 o comandante João Ribeiro de Barros, de conduta política sabidamente conservadora.


Aline Furlanetto

Nos anos da ditadura, a atuação de sindicatos era constantemente monitorada. Há ao menos 37 referências a encontros e constituições de grupos que lidavam com interesses dos trabalhadores. Movimentos grevistas, inclusive em instituições particulares e hospitais, eram de conhecimento do Estado. Foi o caso, por exemplo, de paralisação deflagrada no Hospital Amaral Carvalho, em 1979. Alguns jauenses foram para a linha de frente. O economista aposentado Roberto Cardoso Ferraz do Amaral, hoje com 73 anos, foi preso por atuar na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Ironicamente, seu nome consta no inquérito policial presidido pelo delegado Wanderico de Arruda Moraes, também de Jaú, que chefiou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) por quatro anos. O Comércio do Jahu entrevistou Moraes em julho de 1987 e a Revista do Comércio conversou no mês passado com Ferraz do

Amaral, que mora em São Paulo (leia textos). MOVIMENTAÇÕES

Segundo técnicos do Arquivo do Estado, quaisquer movimentações que criassem desconfiança eram monitoradas. Não por menos, reuniões partidárias ocorridas em Jaú nas décadas de autoritarismo eram vigiadas. Em 1976, assembleia do MDB realizada no Aeroclube foi considerada importante para o departamento estatal. Compareceu o então senador Franco Montoro, que depois governou o Estado (19831987). O Comércio, na ocasião, zombou do “pequeno público presente, que não teve a empolgação própria dos acontecimentos desta natureza”. Encontro da comissão provisória do Partido Progressista (PP), que reunia dissidentes tanto da Arena quanto do MDB, consta em ficha do Deops de 1981. À

reunião compareceu o então prefeito de Tietê Cláudio Lembo, que governou o Estado em 2006. O jornal também acompanhou as discussões, mas sempre com distanciamento. No geral, no período em que vigorou o regime militar, o Comércio evitou o embate, embora os nomes de jornalistas que trabalhavam na redação e da direção da empresa constem em ficha. Movimentos estudantis – tão embrionários no interior – foram rastreados. Uma das fundadoras do Diretório Acadêmico (DA) 15 de Agosto da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Maria Antônia Galvão de Barros aparece em pelo menos duas fichas. Ela foi informada pela reportagem de que a ditadura monitorou sua atuação como líder do DA. “Nós sabíamos que existiam em Jaú pessoas ligadas ao Dops, mas a nossa preocupação na época não era política, era fazer a escola funcionar”, comenta a professora. Um episódio curioso culminou  REVISTA DO COMÉRCIO s 19


unânimes nas cidades do interior, a ditadura contava com substanciosos apoios financeiros advindos de empresários não ligados aos grandes centros. Documentários e relatos compilados pela Revista do Comércio mostram a suposta participação de Sebastião Ferraz de Camargo Penteado, da Camargo Corrêa no financiamento da Operação Bandeirante (Oban). O centro de informações foi criado pelo Exército nos primeiros anos da ditadura para monitorar braços armados da resistência (leia texto). A reportagem contatou a assessoria de imprensa da Camargo Corrêa, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno. O dossiê segue nas próximas páginas e sinaliza, 50 anos depois do golpe, que os dois lados do regime se fizeram representar em Jaú e que, não fosse pela liberdade advinda do período democrático, jamais seria revelado.

OPERAÇÃO BANDEIRANTE

Além de braços políticos, quase 20 s REVISTA DO COMÉRCIO

Reprodução

em suposição bastante provável: a construção do terminal rodoviário de Jaú, inaugurado em 1976 pelo presidente Ernesto Geisel, foi possível em função do regime. A criação de um grande espaço para recepcionar coletivos fazia parte do Plano de Desenvolvimento Acelerado, levado a cabo pelo prefeito Waldemar Bauab em sua primeira gestão (1973-1977). O prédio, reverenciado até hoje como um dos expoentes da chamada Escola Paulista de Arquitetura, foi projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985), que em 1969 foi cassado da Universidade de São Paulo (USP) por ser comunista. Com dedicação exclusiva para seu escritório de arquitetura, conduziu 15 projetos em Jaú entre 1976 e 1986. Sua vinda à cidade foi intermediada pelo ex-prefeito Zezinho Magalhães, que, por causa da ligação com o XV de Jaú, conheceu o trabalho de Artigas na edificação do Morumbi. “Ele foi contratado para fazer um Plano Diretor para a cidade de Jaú e a rodoviária fazia parte disso”, relata a filha do arquiteto, Rosa Artigas. “Jaú o sustentou como arquiteto durante um bom tempo e foi solidária ao Artigas, apesar das circunstâncias da época”, menciona. As circunstâncias eram justamente a ditadura e o afastamento do arquiteto da USP. Rosa supõe que Waldemar Bauab, filiado à Arena, pertencia a uma ala mais “flexível” do partido que sustentava o regime, razão pela qual a contratação de Artigas não foi obstaculizada. “Não existia apenas uma Arena no Estado de São Paulo”, aponta. Pesquisadores da obra do arquiteto indicam que a rodoviária de Jaú materializou a conduta de Artigas, que defendia a “espacialização da democracia”, motivo pelo qual o prédio não tem portas de entrada ou saída – apenas acessos.

Relação das fichas de Jaú* Sindicatos Câmara Prefeitura Meios de comunicação Reunião partidária ou comitê Faculdades ou diretórios acadêmicos Hospitais Clubes Delegacias Outros

37 2 4 3

Total

80

9 14 1 1 2 7

* Foram pesquisadas no site http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memrev/memrev_pesquisa.php as palavras Jaú e Jahu Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo


Reportagens sobre greve (acima e abaixo) e reunião do MDB (página ao lado): eventos estão entre os fatos fichados pela ditadura

Hospitais de Jaú em crise em 1979 Uma das fichas encontradas nos arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) é relativa a uma crise na Fundação Amaral Carvalho, datada de 16 de outubro de 1979. Conforme informações do Comércio do Jahu, de meados de outubro daquele ano, o Amaral Carvalho entrou em greve e o Thereza Perlatti foi interditado. Com policiais e delegados pelos corredores, o dia 11 de outubro foi o ápice de uma crise que vinha se arrastando desde fevereiro de 1979, quando um grupo de médicos, constituído pela maioria dos clínicos do Amaral Carvalho, denunciou publicamente diversas irregularidades que estariam sendo praticadas no hospital pelo então diretor clínico e seu administrador. Durante o período, o caso tramitou pela Justiça, sendo demitidos funcionários envolvidos nas irregularidades denunciadas. O corpo clínico queria ainda o

afastamento do diretor, o que não ocorreu por causa de mandados de segurança. Foi realizada assembleia, mas o resultado não foi admitido pela diretoria anterior e foi nomeado um interventor. O delegado encarou esta resolução como “uma medida saneadora, que traga paz e acabe com a crise dentro do hospital”. Quando terminou a reunião, os funcionários deflagraram uma greve por causa do Fotos: Reprodução

não recebimento de seus salários. A paralisação durou pouco mais de um dia. Depois de 25 horas de negociações com o Hospital Amaral Carvalho, os 150 funcionários que estavam concentrados na frente do hospital voltaram ao trabalho tendo em mãos os cheques correspondentes aos seus salários. THEREZA PERLATTI

Por causa de irregularidades encontradas nos processos administrativos do Hospital Thereza Perlatti, 72 pacientes credenciados pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) foram transferidos para o Hospital Vera Cruz, em Sorocaba. Foi decretado que, por tempo indeterminado, ficaria suspenso qualquer convênio entre o Thereza Perlatti e o Inamps. Dois dias depois foi noticiado que apenas 23 pacientes foram transferidos.  REVISTA DO COMÉRCIO s 21


Jauense foi diretor do

Wanderico Moraes presidia inquéritos e tinha como subordinado Sérgio Paranhos Fleury

O temido Departamento de Ordem Política e Social (Dops) teve como titular, entre 1967 e 1970, um jauense. O delegado Wanderico de Arruda Moraes teria iniciado a primeira fase da campanha contra o “terrorismo” no Brasil. Entre suas ações, coordenou a operação que prendeu 793 jovens no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) – entre eles o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – em sítio em Ibiúna. Seu nome é citado em livros escritos sobre a ditadura, como em Autópsia do Medo, do jornalista Percival de Souza, mas não há contra ele nenhuma denúncia de que tenha participado pessoalmente de tortura a presos políticos. O jauense tinha funções administrativas e de inteligência, organizando ações de informação e contrainformação. Embora tenha conduzido interrogatórios, seu trabalho era dar a forma legal, redigindo e presidindo os inquéritos policiais. Nesse período teve como subordinado indireto o famigerado Sérgio Paranhos Fleury, que comandaria a segunda fase das operações. Em julho de 1987, fui escalado pelo Comércio do Jahu para entrevistar Moraes, que voltara a residir em Jaú depois de se aposentar na Secretaria de Segurança Pública. Era um senhor de estatura meã, com 76 anos, completamente calvo, voz mansa. Com gestos contidos, defendia ter agido dentro da legalidade. Afirmou não ter participado de torturas, mas era reservado sobre o assunto. “(...) houve muita coisa. O Fleury teve diversos ‘bate-fundos’ com os terroristas.” A entrevista durou cerca de três horas. Mais à vontade, Moraes mostrou-me um arquivo com có22 s REVISTA DO COMÉRCIO

Arquivo pessoal

Dops

pias dos inquéritos que presidiu no Dops. Quando o delegado aposentado morreu, em 2006, aos 94 anos, esses documentos tiveram destino até hoje ignorado. Em 2010, o vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP, Marcelo Zelic, requereu informações sobre os documentos ao procurador da República Marcos Salati, para que fossem integrados ao acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Salati determinou abertura de procedimento investigativo em 30 de março daquele ano. Contatou

o filho do delegado, José Luiz Corrêa, e outros parentes, mas todos afirmavam desconhecer os papéis ou seu paradeiro. Uma dessas cópias era a do primeiro inquérito policial que pedia a prisão preventiva de 68 indiciados por assaltos a banco, atentados a bomba e sequestro de diplomatas, datado de 23 de janeiro de 1969. Entre os indiciados estavam Carlos Mariguella, Carlos Lamarca e um jauense: Roberto Cardoso Ferraz do Amaral, que acabaria preso e exilado. (José Renato de Almeida Prado)


O economista aposentado Roberto Cardoso Ferraz do Amaral, 73 anos, ainda traz consigo boas lembranças de Jaú, sua terra natal. Os banhos no Rio Jaú, as aulas no Colégio São Norberto, os carnavais do Jahu Clube, o XV e o footing no Jardim de Cima. Aos 18 anos, em 1962, deixou a cidade para fazer cursinho pré-vestibular em São Paulo. Nem imaginaria que dois anos depois estaria fazendo parte dos quadros da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop), na resistência contra o golpe militar. Acabaria preso, torturado e exilado. Quando o regime endureceu, a partir de 1967, o jauense entrou para a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) – organização da luta armada que tinha em sua liderança Onofre Pinto, Diógenes José Carvalho de Oliveira. Na caderneta de Diógenes, foi encontrada a anotação de um “ponto” – um encontro que ele teria ainda naquele dia com Roberto Amaral. “Quando fui ao encontro eles me prenderam”, relata o jauense. Amaral foi levado ao quartel da Polícia Especial do Exército (PE), onde passou cinco dias. “Levei

choque elétrico no pênis, na boca, no ouvido, me puseram no pau-de-arara, tomava cacetadas, foi um período difícil”, recorda. Os torturadores eram exímios em espancar todos os detidos, em busca de informações que pudessem levar a Carlos Lamarca. Roberto Amaral foi, em seguida, levado à sede do Dops, onde permaneceu preso por quatro meses, incomunicável. As torturas prosseguiram, não tão intensas como no Exército. Naquelas dependências, foi interrogado por seu conterrâneo Wanderico de Arruda Moraes. “Ele sabia o que ocorria e quando descobriu que eu era de Jaú passou a me ameaçar. Não torturava pessoalmente, mas ameaçava”, declara. O jauense só pôde se comunicar com a família ao ser transferido para o presídio Tiradentes, onde teve por “contemporâneos” os dominicanos frei Tito e frei Betto (articulista do Comércio), Caio Prado Júnior, Renato Tapajós e o deputado Hélio Navarro, entre outros. A próxima parada foi a penitenciária do Carandiru. Amaral permaneceu preso até janeiro de 1971. Fez parte do grupo de 70 presos libertados em troca do

Arquivo pessoal

Economista enfrenta choque e pau-de-arara

Roberto Amaral foi interrogado pelo também jauense Wanderico Moraes

embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado pela VPR em 7 de dezembro de 1970. Partiu para o exílio em Santiago do Chile, onde permaneceu até o golpe militar deflagrado por Augusto Pinochet. Teve de partir para a Cidade do México. Ainda moraria por três anos em Paris, onde concluiu um curso de graduação, e mudou-se para Portugal, para lecionar economia na Universidade de Lisboa. Retornou ao Brasil em meados de  1979, com a anistia.

REVISTA DO COMÉRCIO s 23


Camargo Corrêa teria financiado a Oban O empresário Sebastião Ferraz de Camargo Penteado, da Camargo Corrêa, que teve seu nome fortemente ligado a Jaú, supostamente teria feito parte de grupo de industriais brasileiros que contribuiu financeiramente com a Operação Bandeirante (Oban) – centro de informações, investigações e de torturas montado pelo Exército nos primeiros anos da ditadura. O nome de Sebastião Camargo aparece em citações de diversas fontes que tratam sobre o surgimento e manutenção da Oban, instalada em 1969, com a justificativa de que combateria a esquerda armada. Era o braço paramilitar do aparelho de inteligência e tortura do regime militar e grande parte de suas atividades teria sido custeada por empresários paulistas, a partir de coletas na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A arrecadação do dinheiro seria coordenada pelo empresário Henning Albert Boilesen, dinamarquês que viveu no Brasil e foi presidente da Ultragás, do Grupo Ultra.

Ele foi executado pelo Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e pela Ação Libertadora Nacional (ALN), em 15 de abril de 1971. Sua história é contada no premiado documentário Cidadão Boilesen, de 2009, dirigido por Chaim Litewskie. NOMES

Uma lista de empresas que financiavam a tortura teria sido encontrada com o grupo que matou o dinamarquês, entre elas a Camargo Corrêa. Um dos detidos, Antonio André Camargo Guerra, do MRT, declarou que teria recebido no mês de janeiro daquele ano, quando esteve na Guanabara, uma relação contendo três nomes: Henning Albert Boilesen, Pery Igal (ambos do grupo Ultra) e Sebastião Camargo, os quais deveriam ser “levantados” pelo MRT. A solicitação teria sido feita por Carlos Lamarca. O jauense Sebastião Camargo já era, àquela época, o maior empreiteiro de obras públicas do Brasil.

Reprodução

Reprodução do documentário “Cidadão Boilesen”: citação de Camargo

24 s REVISTA DO COMÉRCIO

“Perigos para a ordem pública” As pesquisas do Arquivo Público do Estado de São Paulo apontam que toda entidade, partido ou sindicato de interesse do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops) era fichado. Os manuais policiais “ensinavam” que a polícia deveria conhecer os “perigos para ordem pública para exercer eficientemente suas funções preventivas e repressivas”. As informações são do diretor do Centro de Acervo Permanente do Arquivo Público do Estado de São Paulo, Marcelo Thadeu Quintanilha Martins. Segundo Martins, o uso de fichas para conhecer a população foi estabelecido na França por volta de 1870 e se espalhou pelo “mundo civilizado” rapidamente. O Brasil importou o método francês, por volta de 1895, para identificar criminosos e anarquistas. Esse sistema deu origem às carteiras de identidade que usamos hoje. A diferença das fichas do Deops para as fichas das outras delegacias é que a polícia política procurava reunir o máximo de informações sobre cidadãos, políticos, partidos, empresas, sindicatos e locais de reunião, colecionando extenso arquivo de 1.538.000 fichas. “Nas cidades do interior, os delegados tinham ordens de repassar ao Deops informações sobre políticos e organizações políticas”, diz Martins. Os documentos do Deops foram abertos há 20 anos e disponibilizados recentemente pela internet.


CUIDAR DE VOCÊ. ESSE É O PLANO.

Inscrições Abertas

NAS – Núcleo de Atenção a Saúde realiza Encontro de Gestantes e de Cuidadores

Informativo Saúde! Ano 4 - Edição 23 – Jaú, maio de 2014 Informativo Saúde! é uma publicação da Unimed Regional Jaú Diretor Presidente: Dr. Paulo De Conti Diretor Vice-Presidente: Dr. Antônio José Craveiro Faria Diretor Superintendente: Dr. Paulo Fernando Campana Diretor Desenvolvimento e Educação: Dr. José Carlos Berto Diretor Secretário: Dr. Luiz Alfredo Teixeira Junior

A Unimed Regional Jaú investindo em medicina preventiva e promoção de saúde colocou a disposição da população, por meio do NAS – Núcleo de Atenção a Saúde, duas iniciativas em favor da melhoria da saúde e qualidade e vida: Encontro de Gestantes e Encontro de Cuidadores de Idosos. Ambos são realizados gratuitamente nas manhas de quatro sábados seguidos durante uma hora, com aulas ministradas por profissionais de saúde com conhecimentos específicos das áreas. O Encontro de Gestantes é totalmente voltado para gestantes e companheiros e tem como principal objetivo informar sobre o pré-natal, parto, período puerperal e amamentação. O Encontro de Cuidadores é voltado para pessoas maiores de 18 anos com interesse em aprender a lidar com a rotina de cuidados especiais que um idoso necessita. Para se inscrever basta entrar em contato com o NAS através do telefone (14) 3621-4877.

Assessora de Marketing e Comunicação: Fernanda de Almeida Conrerp 2ºr - 4092 Jornalista Responsável: Nádia De Chico MTB – 46538/SP Redação/Fotos: Fernanda de Almeida Nádia De Chico Diagramação: Comércio do Jahu Distribuição: Comércio do Jahu Informativo Saúde! Rua Álvaro Floret, 565 - Vila Hilst - Jaú/SP - Cep: 17207-020 Central de Relacionamento: 0800 10 53 33 www.unimedjau.com.br Elogios, críticas e sugestões de pauta nadia.chico@unimedjau.com.br

Agenda do Mês 27° Encontro de Gestantes

Inicio: 10/05/2014 Horário: 08h30 às 09h30

19° Encontro de Cuidadores

Inicio: 10/05/2014 Horário: 10h00 às 11h00

Prontosocorrização da Pediatria: colocando crianças em risco  Página 2

Atualize seus dados  Página 3


Prontosocorrização da Pediatria:

COLOCANDO CRIANÇAS EM RISCO Para quem atende em prontos-socorros, é importante entender que o conceito de urgência e emergência é diferente para médicos e pacientes. Em grande número de atendimentos, a urgência é a ansiedade da família e esta tem ser entendida e atendida com muita paciência e sensibilidade. Entretanto, mesmo para problemas corriqueiros, por comodidade ou pela dificuldade de agendar uma consulta ambulatorial, as mães não estão levando seus filhos para o consultório, mas para o pronto-socorro, sobrecarregando-o. Para muitas, existe o mito da sua resolutividade, onde o atendimento é imediato, sem marcação de horário, o médico já pede exames, faz o diagnóstico, indica o tratamento e o problema esta resolvido. Essa ideia é completamente equivocada! Há muito o pronto-socorro de Pediatria deixou de ser serviço de atendimento de urgências e emergências para se tornar serviço de conveniência! Esta situação esta colocando toda a geração das crianças de hoje em risco! Nós temos que mudar isso! É muito importante que o pediatra que atende no pronto socorro, ao dispensar o paciente,

Foto: Salvi Cruz

Autor: Mario Roberto Hirschheimer Presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo Fonte: Boletim Pediatria Informe-se

alerte sua família que lá só foi dada atenção inicial à urgência que motivou aquele atendimento. Saindo de lá, ela deve marcar uma consulta com o pediatra da criança. É no atendimento Ambulatorial em Puericultura em consultório que a relação médico-paciente adquire peculiaridades diferentes, na qual a empatia é determinante para o sucesso do resultado pretendido. Uma assistência segmentada, presta em pronto-socorro, é inapropriada porque não estabelece vínculos ou compromissos. Afeta um elemento essencial - a confiança. E confiança não se impõe – se conquista! É no consultório do pediatra que a criança e sua família receberão não só a orientação sobre a continuidade do tratamento iniciado no pronto-socorro, mas principalmente um atendimento que promove a saúde e previne agravos, com as orientações sobre os cuidados que a criança requer para um bom crescimento e desenvolvimento. É dessa maneira que estaremos cumprindo o nosso principal objetivo, que é orientar a formação de futuros cidadãos saudáveis e capazes de construir uma sociedade melhor.


A UNIMED SEMPRE TEM UMA MENSAGEM PARA VOCÊ

MANTENHA SEUS DADOS ATUALIZADOS! Você, beneficiário da Unimed Regional Jaú, está com todos os seus dados atualizados em nossos cadastros? Dados pessoais, endereço completo, telefone e e-mail devem ser sempre informados a Cooperativa no caso de qualquer mudança. A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS exige que todas as operadoras de plano privado de assistência à saúde mantenham atualizadas as informações cadastrais de seus clientes. De acordo com a coordenadora de Cadastro da Unimed Regional Jaú, Adriana Cristina Martins Rodrigues dos Santos os beneficiários que mantem os dados atualizados sempre recebe um atendimento mais rápido nos momentos em que utiliza o plano. “É importante, também, manter os dados atualizados para que seja possível participar da pesquisa de satisfação dos beneficiários de Planos de Saúde realizada pela ANS. A agência utiliza esses dados para poder entrar em contato com o beneficiário e saber o grau de satisfação com a operadora”, diz Adriana, acrescentando ainda que o envio de correspondência é sempre mais ágil e eficaz para esses clientes. Para atualização dos dados é necessário apenas entrar em contato com um dos canais de atendimento ao beneficiário da Unimed Regional Jaú (listado abaixo) e ter o cartão de identificação do beneficiário em mãos.

CONSULTA AGENDADA! Se não puder comparecer, avise o consultório o mais rápido possível. Libere o horário para outra pessoa que pode estar aguardando.


CTU Jaú realiza palestra educativa O Centro de Treinamento Unimed – CTU de Jaú realizou com as atletas do programa a primeira palestra educativa de 2014 com o intuito de contribuir e preparar para o exercício pleno da cidadania. O evento aconteceu em 25 de março no Sesi de Jaú com o objetivo de proporcionar as meninas a experiência de um profissional que alcançou o sucesso através de valores adquiridos com a prática de esporte. O palestrante foi o professor de educação física Ademir Testa Junior que, por meio das suas conquistas mostrou às meninas que desde a infância a prática de esporte o ensinou a ser responsável, disciplinado, dedicado e persistente, características essas que o ajudaram a superar todos os obstáculos e hoje ser um profissional de sucesso e premiado pelo trabalho que realiza. Junior é ganhador do prêmio Victor Civita 2009 com o Projeto Movimento,

Campeonato Panamericano de Jiu-Jitsu

Gabriel Molan Chenale, com patrocínio da Unimed Regional Jaú, participou em março do Campeonato Panamericano de Jiu-Jitsu, em Irvine – Califórnia classificação conquistada através da seletiva que ocorreu no fim de 2013 quando foi campeão categoria faixa azul pesadíssimo!

Divulgação/Unimed

O CTU de Jaú conta com a parceria realizada entre Unimed, Sesi e a Prefeitura Municipal.

Saúde e Qualidade de vida, desenvolvido com alunos de uma escola estadual de Bocaina, que teve como obje-

tivo inserir, em sala de aula, o estudo dos temas que envolvem as atividades físicas.

DENGUE

CAUSAS, TRATAMENTO E PREVENÇÃO

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A infecção adquirida pela picada do mosquito Aedes aegypti, desde que infectado com o vírus causa uma doença de amplo quadro clínico, que abrange desde casos com poucos sintomas até quadros graves que podem evoluir para o óbito. De acordo com a infectologista cooperada da Unimed Regional Jaú, Paula Yukiko Urakawa Tokunaga a manifestação mais comum da doença é a febre alta (entre 39°C e 40°C). “Os sintomas podem ocorrer de 3 a 15 dias após a picada e, associados a febre podem ocorrer dor de cabeça e atrás dos olhos, dores pelo corpo e nas juntas, manchas vermelhas, falta de apetite, diarreia, náuseas, vômitos e astenia (incapacidade para realização de suas tarefas e/ou rotina)” explica Paula. O tratamento da dengue se baseia na hidratação adequada dos pacientes, uso de sintomáticos para febre, além do repouso. “A hidratação é muito importante, o médico deve orientar a quantidade de líquidos a serem ingeridos por peso/dia onde deverá ser 1/3 de soro e 2/3 de outros líquidos” diz a especialista, informando que para a prevenção o mais importante é cuidar para não existir focos de procriação do mosquito e que não há indicação absoluta para o uso de repelentes, pulseiras com cheiro de citronela, inseticidas elétricos, porém, podem ser usados como uma forma de prevenção.


GASTRONOMIA

Mangia che te fa bene!

Aline Furlanetto

Risotto ai gamberetti (camarão) finalizado com azeite 0,1% e decorado com salsinha picada

Bianca Zaniratto Biancazaniratto@comerciodojahu.com.br

A combinação perfeita entre arroz, caldo e carne, legumes ou peixe ou frutos do mar parece ser a pedida perfeita para os dias frios que se avizinham. A explosão de aromas e sabores, além da exuberância visual, faz do risoto (ou risotto, em italiano) um dos pratos mais apetitosos da gastronomia italiana. Original das terras da

Saída das terras da Lombardia, no Norte da Itália, essa mistura única de arroz e caldo é pedida ideal para o inverno

Lombardia, no Norte do país da tarantela, a mistura de arroz refogado, cozido em caldo e finalizado com manteiga ou azeite ganhou o globo e hoje é apreciada nos quatro cantos do mundo. Diferentemente da pizza, porém, o risoto não permite muitas brasilidades. Com uma história secular, o prato mantém as características originais: arroz – das qualidades arbóreo ou carnaroli –, caldo de carne,  REVISTA DO COMÉRCIO s 29


legumes ou peixe, e o ingrediente escolhido – geralmente que dá nome ao risoto. “O segredo de um bom risoto é basicamente respeitar os fundamentos da cozinha: para o de vegetal, você tem de ter um bom caldo, um brodo; no caso de peixes ou frutos do mar, um bom fumet de peixe”, diz Giovanni Filippi, chef do Calzone, em Jaú. Mas como obter um bom caldo? Esqueça os industrializados que, além da indecorosa quantidade de sódio, dão um sabor industrializado ao preparo. Geralmente, o ingrediente-chave do caldo combina com o item-chave do prato. 16 s REVISTA DO COMÉRCIO 30

Fotos: Aline Furlanetto

Chef Giovanni Filippi prepara risotto ai gamberetti: passo a passo ao lado

“Mas o caldo de legumes funciona como um coringa. Demora entre 40 e 60 minutos para ficar pronto e pode ser feito antes. É simples e pode ser congelado por até seis meses”, diz o professor e coordenador do curso de gastronomia da Universidade do Sagrado Coração (USC), Paulo Frederico. Para obter um bom resultado, usam-se cebola, cenoura, salsão ou aipo e um buquê garni (o chef francês Claude Troisgros usa o talo da salsa, tomilho e folhinhas de louro, amarrados com fio de cozinha ou barbante para facilitar a retirada depois de desprendidos os aromas). Não se deve deixar fer-

ver o caldo, justamente para não escapar os sabores com o vapor, e é preciso coar o líquido. Antes de congelar, deve-se dar uma esquentada após resfriar para eliminar eventuais microrganismos. O caldo deve ser despejado quente no risoto. ARROZINHO

A palavra risotto significa arrozinho. De nada adianta um excelente caldo, se o arroz não for o adequado. Apesar dos diversos tipos do grão disponíveis para consumo, os indicados para o preparo de um bom risoto concentram-se


em duas variedades: arbóreo e carnaroli, arrozes genuinamente italianos, da região do Vale do Pó. Além do preço, a diferença entre a dupla e seus pares é a quantidade de amido presente no grão. O amido dará a cremosidade típica do prato (esqueça o creme de leite, por favor!). São dois tipos de amido, um encontrado na parte externa do grão, macio, que se desmancha durante o cozimento. No interior do arroz, o amido é duro, não se dissolve e é responsável pela característica resistência do arroz do risoto, que não chega a ser al dente (terminologia aplicada a massas). “Para saber o ponto certo do risoto, só fazendo”, brinca o chef Filippi, e emenda: “tem de ser macio, mas ainda manter certa resistência por dentro.” Para fazer um teste, a melhor dica é provar o grão durante o processo de cozimento. Quanto ele estiver macio e com apenas um pontinho esbranquiçado no centro, é aí o ponto ideal. Ah, e arroz não se lava antes de botar na panela. FINALIZAÇÃO

Diferentemente dos fundamentos do risoto, que não devem ser maculados, o ingrediente escolhido para integrar o prato pode ser variado: desde queijos, carnes, embutidos, vegetais, peixes e frutos do mar. A atenção aqui fica para a finalização: manteiga ou azeite. “No caso de risotos de peixes e frutos do mar, tem de terminar com ótimo azeite e salsinha fresca picadinha para decorar, sem queijo parmesão”, explica Filippi. Os à base de formaggio (queijo), pedem manteiga e um aromático parmesão para a última nota. No prato, o risoto tem de ficar montado, isto é, não pode desmanchar como uma sopa nem virar um bloco. E, é claro, tem de ser comido, obrigatoriamente, quente. Como é costume italiano, após a refeição, geralmente a matriarca, responsável pelo banquete do qual os comensais acabaram de se fartar, pergunta: “Contento?”.

 REVISTA DO COMÉRCIO s 31


Com qual vinho eu vou?

Paulo Agnini recomenda vinhos para acompanhamento

Aline Furlanetto

Risotos à base de queijos ou carnes vermelhas pedem vinhos mais robustos, encorpados. “Para gorgonzola, um espumante brut ou um tinto shiraz. As variedades malbec, carménère ou tannat vão bem com carne vermelha”, diz o enólogo Paulo Agnini, da Casa Di Paolo. Para os últimos, o recomendado é abrir a garrafa 30 minutos antes e colocar em um decanter para permitir a oxigenação, processo durante o qual haverá intensificação dos aromas da fruta e evaporação de um pouco do álcool, o que concede à bebida maior maciez e menor agressividade ao paladar. Somente os vinhos tintos mais duros devem ser decantados. A delicadeza dos frutos do mar cai como uma luva com espumantes brut (seco), prosecco ou brancos chardonnay. Para risoto de legumes,

Agnini recomenda sauvignon blanc, merlot ou espumante brut levemente rosé, obtido com a mistura da uva pinot noir. Para não correr o risco de errar, o livro What to Drink with What You Eat sugere chardonnay, Bardolino e pinot grigio para risotos em geral, evitando os muito frutados e os

RISOTO DE CARNE SECA E ABÓBORA CABOTIÃ INGREDIENTES

2 xícaras (chá) de arroz arbóreo ou carnaroli 400 gramas de carne seca

muito tânicos. “Os mais potentes devem ser degustados levemente refrigerados. A temperatura ideal para os brancos é entre 12ºC e 14ºC e os espumantes exigem refrigeração de 6ºC a 8ºC. A exceção fica para os vinhos de sobremesa, que devem ser servidos a 5ºC”, finaliza o enólogo.

MODO DE PREPARO

1,5 litro de caldo de legumes 1 cebola em cubos pequenos 800 gramas de abóbora cabotiã 2 taças de vinho branco seco 2 xícaras (chá) de queijo parmesão ralado finamente 1 maço de salsinha picado 3 colheres (sopa) de manteiga sem sal de boa qualidade Sal e pimenta-do-reino a gosto

Divulgação

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Cozinhe a carne seca dessalgada em uma panela de pressão por cerca de 40 minutos. Deixe escorrer e desfie finamente. Corte a abóbora em cubos de cerca de 2 centímetros. Refogue a cebola com uma colher de manteiga e adicione a abóbora. Em seguida, adicione o arroz e refogue por 2 minutos. Coloque o vinho branco e espere até evaporar. Acrescente o caldo de legumes até cobrir o arroz, mexa até secar e repita a operação até o arroz ficar al dente, ou seja, cerca de 18 minutos. Acrescente a carne seca desfiada e tempere com o sal e a pimenta. Tire o risoto do fogo e acrescente o restante da manteiga e o queijo parmesão ralado. Misture bem. Adicione salsinha picada e sirva. Fonte: Paulo Frederico


A Itália leva tão a sério o assunto que uma marca secular italiana de arroz para risoto, Riso Gallo, edita desde 1998 um guia com os melhores risotos ao redor do mundo. Na sua nona e mais recente edição, lançada em 2013, o Guida Gallo traz dois restaurantes brasileiros em sua lista dos “risotti dei migliori ristoranti del mondo”. Ambos – Tre Bicchieri e Vinheria Percussi – ficam em São Paulo. Segundo Alejandro Titiunik, responsável pela exportação dos produtos da marca para o Brasil, o objetivo da publicação é preservar e difundir a cultura do arroz e, de quebra, esse prato da “cucina povera”. O ranking – feito por especialistas da empresa – é composto por 101 risotos e comprova que atualmente é possível comer o prato em qualquer canto do mundo. São 53 estabelecimentos italianos e 48 pontos em 24 países. Além das receitas vencedoras, o guia traz uma indicação dos restaurantes, dicas e mapas para referência. A próxima edição está prevista para 2016.

Variedades e tipos de arroz Agulha ou agulhinha É o arroz branco polido, o mais comum na culinária. Pode ser classificado em tipo 1 e tipo 2, dependendo do tamanho e da porcentagem dos grãos quebrados Arbóreo Rica em amido, essa espécie libera a substância durante o cozimento, dando cremosidade aos pratos. Ideal para risotos Carnaroli Como o arbóreo, os grãos dessa variedade possuem amido, liberado quando cozido, propiciando cremosidade. Grãos são gordinhos e arredondados, os quais permitem absorver sabor de outros ingredientes Preto Grão escuro, curto e arredondado, textura firme, com sabor e aroma diferenciados. Rico em proteínas e fibras, além de vitaminas Selvagem Os grãos são escuros também e se destacam pelo comprimento. Assim como o preto, são usados em pratos mais sofisticados Cateto Também conhecido como arroz japonês. Com grãos curtos, curvados e transparentes, possui amido e é usado no preparo de sushi Integral Preserva a película e o gérmen, onde se concentram fibras, vitaminas e minerais. Além de aumentar a sensação de saciedade, ajuda a controlar o colesterol

Fotos: Divulgação

Melhores do mundo

Fonte: reportagem local

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ARNALDO Grizzo

 é editor das revistas “Adega”, “Almanaque do Vinho” e “Revista Tênis”

As três grandes da América do Sul

No mundo do vinho, nem sempre as apostas certas são as que se saem melhor na mesa

Há cerca de 5 mil variedades de uvas viníferas no mundo e algumas delas, inconscientemente, acabam ligadas a um país. Não há quem desvincule a Touriga Nacional do vinho português, por exemplo, mesmo sabendo que essa casta típica de Portugal vem sendo plantada com sucesso em diversas outras regiões do planeta. O mesmo se dá com a Pinotage, híbrida criada na África do Sul. A relação é tamanha que fica quase impossível dissociar uva e país. Isso se dá também do lado de cá do Atlântico. Como boa parte das uvas nativas das Américas não é ideal para a produção de vinho, os colonizadores trouxeram suas mudas. Com o tempo, algumas delas se tornaram tão intrinsecamente ligadas à vitivinicultura local que se tornaram sinônimo de vinho em países como Argentina, Chile e Uruguai. A Carménère é um dos exemplos mais interessantes. É uma cepa francesa que compunha boa parte dos vinhos de Bordeaux até 1850. Naquela época, contudo, a praga da filoxera dizimou seus vinhedos e ela foi considerada extinta. No entanto, sobreviveu escondida no Chile, sendo redescoberta acidentalmente em 1994. Os produtores chilenos, então, aproveitaram o fator exclusividade e passaram a promover seus vinhos de Carménère – comumente com sabores e aromas herbáceos, um fundo de especiarias e taninos redondos – mundo afora. Mas antes mesmo do fenômeno da Car-

36 s REVISTA DO COMÉRCIO

ménère chilena, a Argentina já havia se estabelecido no mercado internacional como uma grande produtora de Malbec. Assim como a Carménère, esta casta também fez parte dos vinhos bordaleses, mas sua adaptação na árida e elevada região de Mendoza, aos pés dos Andes, foi ótima. Com vinhos frutados, suculentos, quase doces de tão maduros e de taninos sedosos, os produtores argentinos conquistaram um público cativo. Outra variedade francesa que se deu bem em terras sul-americanas foi a Tannat. Em meados do século 19, um imigrante basco chamado Pascual Harriague trouxe mudas dessa casta para o Uruguai, que logo a tomou como “uva nacional”. Porém, a fama dessa casta também é recente, pois há pouco tempo cientistas descobriram que ela é uma das que possuem maior concentração de polifenois benéficos para a saúde. Seu nome deriva de tanino (que nos faz sentir essa adstringência na boca ao beber) e resulta em vinhos sempre muito potentes, perfeitos para acompanhar carnes gordurosas. Apesar de essas três castas terem ganhado fama nesses três países e serem capazes de produzir vinhos excelentes, um bom enófilo não deve ficar restrito a elas. No mundo do vinho, nem sempre as apostas certas são as que se saem melhor na mesa, vale a pena arriscar, pois há muito mais para se descobrir não só na América do Sul, mas no mundo todo.


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SOCIAL

O carinho entre os noivos Renato Luchini Sparapan e Maria Martins é demonstrado em todos os momentos da cerimônia

Uma data inesquecível O início do outono foi o período escolhido pelo casal Maria Martins e Renato Luchini Sparapan para selar a união de mais de cinco anos de relacionamento. Apaixonados desde quando começaram a namorar – em 11 de setembro de 2008 – o noivado não demorou a se concretizar. Ao completar um ano juntos, durante uma viagem, Renato surpreendeu Maria com o pedido de casamento. A data oficial da união – 22 de março de 2014 – foi marcada 18 meses antes do tão esperado “sim”. Os mesmos 18 meses foram preenchidos com aquela loucura boa que é organizar um casamento e esperar – na torcida – para que o grande dia seja o mais especial da vida do casal. E foi. Em cerimônia realizada na Igreja São Benedito de Jaú e com festa de arromba para amigos e familiares, Maria e Renato enfim se tornaram marido e mulher e realizaram o desejo de efetivamente poder ficar juntos, para sempre. 38 s REVISTA DO COMÉRCIO

Fotos: Foto Show


As daminhas Alice Martins e Anna Julia Pinheiro Ribeiro e os pajens Pietro Favaro Granada, Otavio Henrique Martins e Bruno Henrique Martins posam com os noivos

A noiva entra acompanhada do pai, Antonio Martins, e da mãe, Odete Pinheiro Martins

A noiva recebe os cumprimentos dos sogros, Maria Regina Luchini Sparapan e José Roberto Sparapan. O pai do noivo, que é diácono, foi quem conduziu a emocionante cerimônia

O esperado primeiro beijo dos casados é dado em meio a aplausos dos convidados

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Os pais da noiva, Odete Pinheiro Martins e Antonio Martins, estavam visivelmente emocionados

Maria Regina Luchini Sparapan e José Roberto Sparapan demonstraram muita alegria com o casamento do filho

O irmão da noiva, Marcio Martins, com a esposa, Juliana Martins, e os filhos, Otavio Henrique Martins e Bruno Henrique Martins, foram escolhidos para estar ao lado dos noivos nesse momento especial

Em meio a muita animação, a noiva brinca com as solteiras presentes ao jogar o buquê 40 s REVISTA DO COMÉRCIO

Ricardo Luchini Sparapan e Natalia Barro Canal Sparapan, irmão do noivo e cunhada, estão sempre ao lado do casal

Em meio a muita animação, a noiva brinca com as solteiras presentes ao jogar o buquê


SOCIAL

1 década em 354 páginas

Estrela da noite, Rogério Piccino Braga agradeceu a presença de familiares e amigos

354 páginas, mais de 200 textos e uma história de dez anos. A parceria de uma década entre o advogado Rogério Piccino Braga e o Comércio do Jahu resultou no livro Ideias Articuladas. Fotos: Aline Furlanetto

Adilson Borelli Braga e Eunice Piccino Braga, pais do advogado e escritor, não esconderam o orgulho do filho

Mirna Cury Bauab, diretora do “Comércio do Jahu”, marcou presença no evento

Presidente da OAB de Jaú, Júlio César Fiorino Vicente compareceu para apoiar o colega

O promotor de Justiça aposentado e articulista da “Revista do Comércio” Jorge João Marques de Oliveira, atento ao discurso de Rogério Braga

Os simpáticos Eduardo Henrique Martimiano e Jéssica Burgo Basílio no lançamento

Os advogados Faiz Massad e Geraldo Navarro – representantes do direito jauense que curtiram o lançamento do livro REVISTA DO COMÉRCIO s 41


SOCIAL

“O negócio é passar bem” Com esse lema, o crítico gastronômico jauense Saul Galvão soube aliar a labuta com o prazer. Com a mesma motivação, o festival que homenageia o ilustre filho da Terra Roxa é um convite ao hedonismo. Até o dia 11 é possível provar as delícias criadas pelos restaurantes e bares participantes.

Thais Lucato e Maurício Botelho gostam de curtir a noite jauense e descobrir novos lugares, principalmente se tiver lanche no cardápio. Ambos não resistem a um bom sanduíche

Daniel Zorzella e Natália Miranda estão sempre em busca de novos lugares para desfrutar a boa mesa. Quando elegem um restaurante, viram clientes da casa 42 s REVISTA DO COMÉRCIO

Fotos: Aline Furlanetto

O simpaticíssimo casal Luiz Fernando Pádua e Michelle Gomes Pádua comemorou uma década de união. Para brindar a ocasião, nada melhor do que a companhia do filho, Pedro

Ana Silvia Mello de Souza Amaral é um paparico só com os filhos Maria Luiza e Tiago (à frente). O mesmo carinho é dispensado para o amiguinho das crianças, Caio Zago Campana


Namorados há quatro anos, Elisa Martins de Oliveira e Igor Rafael Martins aprovaram a iniciativa do Festival Saul Galvão

O médico André Breda Bauab curte a noite ao lado do filho André Breda Bauab Filho. Apreciador da alta gastronomia, dá uma pausa na correria para passar agradáveis momentos ao lado do herdeiro

Tatiana Peccioli e Murilo Peccioli foram prestigiar o primeiro dia do evento que resgata a memória do saudoso Saul Galvão. Têm em mente a importância da iniciativa para a cidade Jonny Meneghello e Roberta Meneguello são parceiros de vida há 15 anos e gostam de frequentar restaurantes. Eles acreditam que Jaú está bem servida nesse quesito

De bem com a vida, Maurício Vieira e Arlete Vieira conhecem a boa mesa e sabem aproveitar os momentos juntos. Aportaram há 20 anos em Jaú e dizem que a Terra Roxa se torna mais acolhedora dia a dia

Mariana Mizzaci e Luciano Nunes fizeram questão de pedir o prato preparado exclusivamente para o festival: medalhões de filé mignon com gorgonzola, redução de vinho tinto e especiarias, servidos com batatas rústicas ao alecrim. Um luxo! REVISTA DO COMÉRCIO s 43


VIAGEM

Além da cordilheira

Fachada do Mercado Central: às margens do Rio Mapocho

Chile, com sua vibrante capital Santiago, tem de ser explorado em toda sua diversidade Bianca Zaniratto biancazaniratto@comerciodojahu.com.br

Ela está lá. Linda e majestosa. Mesmo sendo dezembro e sua característica cobertura branca não fazer mais parte da paisagem, é impossível não contemplar a ca16 s REVISTA DO COMÉRCIO 44

deia de montanhas altíssimas que abraçam Santiago. Para onde quer que se olhe, a Cordilheira dos Andes lembra habitantes e visitantes o quão pequenos somos e, ao lado dos vinhos, conhecidos mundialmente, constitui o principal cartão

de visita do país. O Chile, porém, está muito além de enquadramentos. A capital, Santiago, lembra a incansável São Paulo, mas com muito mais charme. A claridade até as 21h, no verão, dá aos cerros (colinas, existentes às dúzias na metrópole) uma luminosidade única. O mais famoso deles, o Cerro Santa Lucia tem fácil acesso (somente para chegar, porque para subir...) e está ligado à história de


tes, como o Pueblo Los Dominicos, famoso pela feira de artesanato, o deslocamento na capital pode ser feito tranquilamente de trem. AO SOL

Fotos: Bianca Zaniratto

fundação da cidade. Em 1541, o conquistador espanhol Pedro de Valdívia achou que o ponto era estratégico na guerra contra a etnia indígena mapuche e fundou ali a cidade de Santiago de la Nueva Extremadura. Se chegar até lá, respire fundo e suba até a Torre Mirador, cujo nome dispensa qualquer explicação. Como o sistema metroviário é eficiente e cobre bem desde o Centro até as localidades mais distan-

Aos domingos, esqueça os centros de compras, grandes e cheios de tentações como em qualquer metrópole, e curta uma manhã próximo à natureza no Parque Metropolitano de Santiago. Apreciado por chilenos e estrangeiros, o local é ponto de encontro de várias tribos. Há muitas famílias, esportistas, jovens e turistas desfrutando o passeio no funicular (espécie de trem), a subida ao Cerro San Cristóbal (não desanime, são muitas colinas no parque!) ou simplesmente contemplando a vista da cidade. Obrigatório provar o mote con huesillo, bebida feita com grãos de trigo, pêssegos desidratados e suco com caramelo. A “bebida” – cujo trigo e pêssego têm de ser comidos – tem poder energético. O exotismo da culinária chilena ainda encontra guarida na centolla, crustáceo gigante e caríssimo, vindo das frias e profundas águas do Sul do país. A maior concentração de restaurantes que oferecem a iguaria está no Mercado Central. Mas, se quiser provar o supercaranguejo vai ter de dispensar algumas centenas de reais. O mercado, aliás, é um shopping para os fãs de frutos do mar e talvez seja o local onde se concentra o maior número de brasileiros, de ambos os lados dos balcões. Ainda na toada glamourosa, dê uma volta na Avenida Isidora Goyenechea, para mirar os Andes mais de perto e, de quebra, os restaurantes requintados e as lojas de grife. Caminhe um pouco mais para almoçar no Restaurant Giratorio, no bairro Providencia, que, além da magnífica refeição a preço justo, presenteia os clientes com uma vista em 360º da capital. Ah, para sobremesa, esqueça o requinte dos pratos prontos: nada mais chique do que comprar frutas silvestres frescas em barraquinhas de rua.

Mercado Central: frutos do mar e brasileiros

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Após perceber a mudança brusca de solo, clima e luminosidade presente na faixa de apenas 200 quilômetros que separa a Cordilheira dos Andes da costa do Oceano Pacífico, no eixo horizontal do país, a associação Wines of Chile decidiu redesenhar o mapa vinícola nacional. O eixo foi dividido em três categorias – Andes, Entre Cordilheiras e Costa – para respeitar as diferenças de terroir e aprimorar a classificação do vinho chileno. “A redefinição será importante para todos os produtores”, diz Germán Riesco, da Vinícola Undurraga, situada nos arredores de Santiago, com fácil acesso por ônibus intermunicipal originário da Estação Central. Apesar de o Chile possuir variedade de cepas, a que mais caracteriza os vinhos de lá é a uva carménère. Originária da França, a casta fora dizimada na Europa por uma praga, a filoxera. Julgada extinta teve sua redescoberta em meados da década de 90 no Chile, misturada inadvertidamente às cepas de merlot vindas também da França. A comprovação foi possível tanto nas videiras (folhas), quanto no processo de maturação e nas notas existentes nas bebidas. A carménère, frágil, encontrou pouso ideal no país andino, protegida das pragas que atacam os vinhedos por suas barreiras naturais – Andes, Deserto do Atacama e Oceano Pacífico. 46 s REVISTA DO COMÉRCIO

Divulgação/Undurraga

Redescoberta da uva

Herança mapuche Castigado por terremotos, o povo do Chile encontra nas raízes mapuches a força para enfrentar tais desgraças naturais. No fim de fevereiro de 2010, o tremor alcançou 8,8 na escala de magnitude, matou centenas de pessoas e devastou várias cidades do país. No início de abril, outros sismos fatais chacoalharam a região central. Recentemente, a cidade de Valparaíso foi tomada por um incêndio que destruiu mais de 2 mil casas e matou uma dezena de pessoas. Mas não se veem traços de amargura nos chilenos quando questionados sobre o poder de

destruição dos tremores e o quanto estão à mercê das forças da natureza. Pelo contrário, a bravura para enfrentar esse tipo de intempérie lembra os guerreiros mapuches, que destemidamente lutaram contra os invasores espanhóis. A expressão indômita do povo ganhou destaque mundial após acidente na mina San José, também em 2010, quando 33 mineiros passaram mais de 60 dias soterrados a quase 700 metros de profundidade após desmoronamento de terra. O resgate, maior do mundo nesse tipo de salvamento, e o drama das famílias foram transmitidos pela televisão e acompanhados por milhões de pessoas. Naquela ocasião, todos fomos um pouco chilenos e poderíamos nos juntar ao coro: “Chi-Chi-Chi-le-le-le-viva los mineros de Chile”.


O poeta irreverente

Divulgação/Undurraga

Chile se destaca como um dos principais produtores de vinho do mundo: plantação do Vale do Colchagua, da Undurraga e Casillero del Diablo, da Concha y Toro Divulgação/Concha y Toro

Inconcebível visitar o Chile e não conhecer pelo menos uma das três casas do poeta Pablo Neruda – La Chascona, encravada no pé de uma das colinas de Santiago, La Sebastiana (Valparaíso) e em Isla Negra (com passeios a partir de Santiago ou Valparaíso). Repletas de significados e referências poéticas, o contato com o legado do escritor mais adorado do Chile permite uma viagem no tempo. Em La Sebastiana, não deixe de comer uma ciruela (lembra uma acerola), graciosamente colhida do pomar de Neruda (cuidado com os seguranças!). De quebra, é possível adquirir um suvenir. Na capital, além de toda a carga histórica – o poeta fora velado na casa e sepultado em Isla Negra – La Chascona remete à história de amor entre Neruda e Matilde Urrutia, sua terceira e última mulher. O nome – La Chascona – faz referência aos cabelos de Matilde, “a descabelada”.

Divulgação/Fundação Pablo Neruda

Divulgação/Fundação Pablo Neruda

La Chascona, em Santiago, e vista do mar de Valparaíso em La Sebastiana: refúgios do poeta REVISTA DO COMÉRCIO s 47


Bianca Zaniratto

Partidários e simpatizantes comemoram vitória de Michelle Bachelet na La Alameda

Festa nacionalista Era fim de tarde do domingo 15 de dezembro de 2013 quando os canais de televisão chilenos anunciaram a eleição da presidente Michelle Bachelet, da coalizão Nova Maioria, com 62,16% dos votos válidos, ante 37,83% dos sufrágios direcionados à concorrente Evelyn Matthei. Vale registrar que a abstenção foi de 58%. A obrigato-

Divulgação

Mote con huesillo: energético 48 s REVISTA DO COMÉRCIO

riedade do voto foi derrubada em 2011. Michelle esteve à frente do Palácio de la Moneda de 2006 a 2010. Após um dia praticamente parado, justamente por causa do pleito – a minoria dos estabelecimentos funcionou –, o cenário na Avenida Libertador General Bernardo O’Higgins, ou somente La Alameda, não poderia ser mais contrastante. Em minutos, milhares de chilenos devidamente paramentados com bandeirolas, espumas e confetes comemoravam a vitória da candidata. Quando a política subiu no palanque improvisado, partidários e simpatizantes explodiram num grito uníssono. “Michelle! Michelle”, ovacionava a multidão. Em seu discurso, a mandatária da nação tratou do grande porcentual de abstenção, da reforma constitucional, maioria no parlamento, reformas sociais, etc.

Raio X do país Nome: República do Chile Capital: Santiago População: 17,4 milhões de habitantes Língua: espanhol Moeda: peso chileno Localização: América do Sul (ocupa longa e estreita faixa costeira encravada entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico) Indústria: metalúrgica (aço e ferro), equipamentos de transportes, vinho e produtos têxteis Presidente: Michelle Bachelet (Partido Socialista do Chile) Religião: cristianismo (predominante) Fonte: reportagem local


COMPORTAMENTO

Ser cult é a moda da vez

Jim Morrison é reverenciado como cantor, compositor e poeta norte-americano

Divulgação

Jovens buscam elementos culturais de décadas passadas em roupas e acessórios

Flaviana de Freitas flaviana@comerciodojahu.com.br

A geração Coca-Cola, os empolgantes riffs de guitarra, as sinuosas curvas de Marilyn Monroe e o culto à paz e ao amor estão de volta. Se, em décadas passadas, estes eram elementos típicos da juventude e do cenário cultural mundial, hoje são muito mais do que isso: são a nostalgie de tempos efervescentes. Ao som do rock iê-iê-iê dos Beatles, vemos meninas andando pelo Centro da cidade, às vezes vestidas com camisetas dos Ramones e usando bolsas da Audrey Hepburn. Dois quarteirões adiante,

jovem entra em sebo, compra um belo vinil de Elvis Presley e leva sua guitarra Les Paul para trocar as cordas. Esta retomada de décadas passadas, entretanto, é real? Talvez não. Se, por um lado, mais e mais pessoas estão interessadas em cultivar a cultura retrô, por outro, os elementos de décadas passadas, por meio de ícones cult, estão mais banalizados em roupas e acessórios de massa. O professor e pesquisador do curso de comunicação social da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Marcelo Magalhães Bulhões ressalta que determinados

elementos retrô, que hoje em dia fazem parte do gosto popular, anteriormente eram considerados cult, como algo alternativo que é privilégio de um grupo minoritário. “Temos como exemplo a atriz Audrey Hepburn. No passado, era uma figura da cultura de massa. Com o passar do tempo, entretanto, se tornou uma figura erudita, adorada somente por um grupo específico de cinéfilos. Como o mercado capta tendências, hoje a Audrey está retratada em camisetas e canecas, voltando a fazer parte do imaginário popular”, explica Bulhões. O modismo retrô se mostra pre-  REVISTA DO COMÉRCIO s 49


sente em lojas de roupas e acessórios. Carteiras da Marilyn Monroe, tiaras de bolinhas e camisas xadrez, ao melhor estilo grunge, inundam as prateleiras e caem no gosto da maior parte da população. Na Tuca Acessórios, no Centro de Jaú, esgotaram-se as carteiras com fotos da consagrada Marilyn. Os acessórios de poá e as rendas estão entre os preferidos das clientes. “Há mulheres que compram porque têm o estilo retrô, mas algumas adquirem porque acham bonito. O retrô está com tudo”, conta a vendedora Ana Amélia Marchete. REFÚGIO

Se, por um lado, o gosto pelo cult mostra uma tendência da moda nos dias atuais, por outro reflete comportamento de refúgio da sociedade pós-moderna. Para muitos, objetos retrô se tornaram forma de relembrar o passado e fugir das características culturais atuais. A psicóloga Thais Coimbra Della Tonia comenta que uma pessoa, ao preferir algo de décadas passadas, tem diversas motivações. “Pode ser desde refugiar-se até criticar a ideia de atualidade. Estamos o tempo todo nos expressando por meio das músicas que ouvimos, no modo de falar e até na forma de se vestir”, ressalta Thais. O modismo cult e retrô não se manifesta apenas na moda. Cada vez é mais comum a busca por artistas antigos, por meio de filmes ou música. Nas locadoras, por exemplo, a procura pelos clássicos tem aumentado vertiginosamente. Se antes a mudez de Chaplin estava na lista dos filmes menos procurados, hoje é sinônimo de gosto elevado para os amantes de cinema. “O antigo ficou atrativo, até a juventude está procurando os grandes clássicos. Também vejo mais pessoas interessadas nos filmes mais cult, que possuem histórias diferenciadas e estão fora do circuito hollywoodiano”, afirma 50 s REVISTA DO COMÉRCIO

o proprietário da Shock Video & Café, Fernando Lazzari. Se antes, um documentário sobre Jim Morrison ou uma ilustração de Andy Warhol era para poucos, hoje está no imaginário de todos. Enquanto alguns que-

rem se deliciar nas características culturais de tempos pretéritos, outros buscam estar na moda com camiseta de bandas e tiaras de poá. E assim segue a humanidade. Afinal, o passado está presente em nosso futuro. Aline Furlanetto

Ana Amélia Marchete mostra bolsas com poás: na moda


“Sempre gostei de itens antigos, acho que têm um valor sentimental especial para o nosso dia a dia. Ser retrô não é algo da moda, é um sentimento observado no modo como vivemos o cotidiano e guardamos as memórias. Na minha casa, tenho vários objetos que podem ser considerados retrô, todos herdados do meu pai. Tenho telefone antigo, talheres e móveis estilo rococó. Coleciono exemplares de revistas do início dos anos 1990, que também recebi do meu pai. Acho muito interessante termos coisas antigas não apenas para lembrar de tempos vividos, mas também para vivenciar situações que não fizeram parte de nossa época. Tudo que tenha gosto de saudade é mais saboroso.” Maria Aparecida Castro, 51 anos, artista plástica

Aline Furlanetto

“Com gosto de saudade é mais saboroso”

Carolina Chamaricone

“Traz de volta o que não temos mais” “Eu sou da época em que só havia o vinil, então, peguei a transição para o CD. Na época não dava valor para o vinil, mas de uns tempos para cá comecei a notar como era gostoso colecioná-los e escutá-los. Também guardo videogames antigos. Hoje tenho cerca de 1,5 mil vinis em casa, a maioria de bandas de rock antigas. Percebo que, atualmente, muitas pessoas compram vinis apenas para dizer que são cults ou

estão na moda, mas acho que colecionar objetos retrô é algo muito maior do que modismo. A música de décadas passadas é muito rica, não vemos mais bandas boas como antigamente. Além disso, o vinil traz o encarte, com todo o estilo da época. É algo nostálgico, que traz de volta o que já não temos mais.” Everton Luiz da Silva Barbarossa, 32 anos, autônomo

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Modismo alienado moda do Serviço Nacional do Comércio (Senac) de Bauru, Carla Costa, explica que os artigos retrô se tornaram objeto de moda, que, para se concretizar e se manter, precisa lançar tendências. “Hoje em dia, ninguém mais inventa tendências. Elas são extraídas do próprio mundo e do comportamento das pessoas”, ressalta. Para Carla, antigamente ser descolado era sinônimo de ser moderno. Hoje em dia, entretanto, jovens são considerados descolados quando possuem estilo próprio, normalmente baseado na moda de décadas passadas. “Este estilo, que hoje é uma

Charles Chaplin é ícone cult

Fotos: Divulgação

Com bandas de rock, de pop e até de axé, o Rock in Rio do ano passado recebeu público bastante diversificado. A curiosidade, entretanto, ocorreu pelo uso recorrente da consagrada banda de punk rock Ramones. Embora a Ramones seja símbolo de protesto da juventude, hoje as camisetas da banda se tornaram ícone de moda. Seja para assistir a Claudia Leitte ou Metallica, é comum ver mulheres com a composição camiseta do Ramones, unhas e botas pretas e óculos escuros. Pesquisa feita pela reportagem do portal Terra durante o festival, em setembro de 2013, mostrou que a maioria das mulheres jovens, embora usassem a camiseta da banda, não sabia o nome dos álbuns ou de canção do Ramones. A docente da área de

tendência, permite que as pessoas ousem usar o que há muito tempo não se usava, além de permitir viver em uma época que não foi vivida”, diz Carla.

Blogueira: dia a dia

Marilyn Monroe: inesquecível para homens e mulheres

52 s REVISTA DO COMÉRCIO

Delineador marcado, batom vermelho, faixa no cabelo, tatuagens e vestido de bolinhas. Estas são algumas das características da blogueira Tatiana Gadani, que escreve textos para o blog Viva o Retrô, no link www.vivaoretro.com. Tatiana tem mais de 190 mil seguidores no Facebook e o número de visitações em seu blog, a cada post, chega a 2,5 mil. Na página, ela escreve textos sobre elementos culturais de décadas passadas e sobre a chamada moda retrô. Para ela, as décadas anteriores foram repletas de riquezas culturais, que até hoje inspiram os jovens. “O estilo de vida retrô é extremamente encantador, a estética de decoração daquela época é incrível e cheia de detalhes”, comenta a blogueira. Tatiana diz que o retrô está associado à sensação de nostalgia e à saudade de épocas vividas ou não. Em relação ao cult, ela diz não gostar do termo, pois acredita que o tom é prepotente. “Hoje esse termo é utilizado para separar quem realmente é legal e antenado dos demais. Sinceramente, não gosto do termo, por causa desta nova definição e prepotência. Acho que ser cult é você fazer o que gosta, ter sua própria fonte de cultura e principalmente não seguir modismos impostos pela sociedade ou pela mídia”, afirma Tatiana.


INFORME PUBLICITÁRIO

Presente mais que especial Guia de compras traz nesta edição dicas para você não errar na hora de presentear a mamãe. As próximas páginas mostram ofertas tentadoras que, com certeza, estão na lista de desejos dessas mulheres. A galeria que você confere a seguir traz um pouco de tudo, tanto para as mães clássicas como para

as modernas. São presentes que você pode escolher com calma e sair para as compras nesta semana que antecede o Dia das Mães. Aproveite essa seleção de presentes escolhidos com carinho, em lojas de Jaú que primam pela qualidade dos produtos e bom atendimento.


Moda e estilo Mãe moderna

A mãe moderna se informa, gosta de moda, arte, cultura e mistura tudo isso ao se vestir, brinca com texturas e estampas. O jeans está sempre presente, aliado a peças de material nobres. Também há uma linda e poderosa bolsa ou joia, suficientes para se aliar a um visual básico que o transforma, resultando em estilo despojado e chique

Mãe alternativa

Para as mais alternativas, vestidos soltos de algodão, grandes amplitudes, calças tipo pijama, cardigãs grandões e vestidos de malha. Tricô, camisetonas coloridas, tênis All Star, coletes e minissaias com meia-calça também ficam divertidas

Mãe sexy

Vestidos tubinho, calças skinny e shortinho podem ser sexy sem ser chamativos. Decotes amplos, mas não escandalosos, pernas à mostra em saias mais soltinhas e saltos altos podem ficar charmosos. Brincos de argola, anéis grandes e colares ajudam sem precisar abusar das formas


Mãe romântica

Procure explorar as estampas de flor, os tecidos leves e o movimento. Casaquetos franzidos, de gola redonda, têm um leve ar retrô. As saias rodadas, com cinto marcando a cintura, também podem ser usados, assim como os vestidinhos soltos

Mãe clássica ou executiva

Para quebrar o figurino muito duro, brinque com as cores e as estampas, misture saias ajustadas com jaquetas mais informais e se jogue nos looks masculinos de camisa, colete e cardigãs. Tecidos nobres nos casacos e casaquetos, junto ao jeans, ficam chique e deixam o visual leve Fonte: www.modaeconsultoria.com.br

Fragrâncias e estilo Mãe descolada

Se sua mãe é espontânea, original e está sempre de bom humor, o ideal é escolher fragrâncias energéticas que garantam a naturalidade e marquem o estilo dela. Uma boa pedida são os perfumes unissex

Mãe esportiva

Se ela for cheia de energia e pronta para novos desafios, escolha fragrâncias frescas e vibrantes, que proporcionam vitalidade. Nesse caso, invista em perfumes com essências como limão, bergamota, mandarina, lavanda, alecrim, pera e maçã

Mãe clássica

Original e sofisticada, as mães clássicas são independentes e elegantes. Os perfumes chypre florais, florais amadeirados ou orientais florais são ideais porque marcam um estilo mais refinado


Mãe executiva

Dona de um estilo único, as mães executivas passam segurança e classe. A dica é fragrâncias florais com toques de madeira, que marcam a feminilidade e elegância

Mãe perua

Para as mães mais ousadas, a noite é o momento ideal. Essas mulheres têm um perfil mais sedutor e pedem fragrâncias com toques adocicados, que combinam baunilha, especiarias e incenso

Mãe romântica

Se sua mãe é sensível e delicada, os perfumes florais foram feitos para ela. Tanto aqueles com os de tons de frutas quanto os florais mais delicados, com rosas, violetas e flores brancas Fonte: www.terra.com.br



MODA

Estilo até no frio! Coleção outonoinverno promete estampas e tons coloridos em roupas, calçados e acessórios Ana Carolina Monari Especial para a Revista do Comércio Fotos: Aline Furlanetto

O verão terminou há dois meses e Jaú ainda possui os resquícios da estação mais quente do ano. Prateleiras e araras de lojas, contudo, estão repletas de casacos para lembrar a chegada da temporada outono-inverno. A coleção traz mistura de estampas, tons escuros e peças pesadas para enfrentar as baixas temperaturas. O grande diferencial dessa temporada é o mix. “O floral com animal print estará em alta para relembrar que a moda está de volta aos anos 1990. Teremos também franjas em calçados, detalhes de roupa e acessórios”, diz o coordenador da pós-graduação em negócios e varejo de moda da Universidade Anhembi Morumbi, Otávio Lima. O tradicional moletom, peça que é o “must have” do inverno, aparecerá mais enxuto e será combinado com saias, calças e coturnos para criar visuais românticos e modernos. A calça skinny, bem justinha, é a preferida das brasileiras, mas a moda pede peças amplas, com modelagem navalhada e sem acabamento, ou seja, aposte nas calças flare. As cores ganharam variações de vermelho (burgundy), verde (esmeralda), amarelo e azul (carbono). 58 s REVISTA DO COMÉRCIO

Os tons do inverno, porém, são o preto e o branco, cor que também permanecerá nas coleções de 2015 e 2016, segundo Lima. A transparência, que reinou no verão, também continua, mas ganha posições novas no ombro e ao longo dos braços. Os homens não podem abrir mão do colorido. O azul carbono migra para a camisaria jeans e os sapatênis também ganham tons diferenciados. A modelagem das calças deixa de ser larga para enxugar a silhueta e marcar o corpo. NÃO DESAPEGUE

Se seu guarda-roupa permanece cheio de tendências da coleção passada, não se desespere. É possível utilizar peças que foram extremamente usadas no verão para a temporada outono-inverno. Estampas florais com fundo escuro, calças flare, principalmente em preto e branco ou verde-esmeralda, cardigãs, kaftans, camisas e a saia com babados continuam em alta. Além disso, pode retirar a jaqueta de couro esquecida no fundo do armário, porque permanece como tendência estação após estação. A Revista do Comércio preparou editorial de moda com os conceitos para o outono-inverno 2014. São opções em roupas, calçados e acessórios para copiar, usar e abusar até o frio acabar. Locação: Estação do Som (Prefeitura de Jaú) Roupas: Prótons Boutique Acessórios: Santa Felicitá Roupas e Acessórios

Blusa R$ 107,82 Calça R$ 120,96 Brincos R$ 25,00 Carteira R$ 39,90


Camisa R$ 134,98 Calça R$ 125,82 Cinto R$ 78,45

 REVISTA DO COMÉRCIO s 59


Vestido R$ 145,80 Jaqueta R$ 153,79 Colar R$ 49,90 Carteira R$ 39,90

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Camisa R$ 82,62 Saia R$ 104, 22 Brincos R$ 25,00 Óculos R$ 59,90 Relógio R$ 49,90 REVISTA DO COMÉRCIO s 61


KLEBER e LAURA

Mazziero

 Kleber Mazziero é maestro e cineasta e Laura é estudante de Comunicação (ESPM) e de Letras (USP)

Sorri, brasileiro!

Uma bola. Murcha, gasta, podre. Uma embaixadinha. Um toque pro companheiro de labuta

A noite é maldormida, o colchão é duro, o despertador é estridente, a hora é cedo, o café é de ontem, o banho é frio, o creme dental míngua, os cabelos (que sobram) se rebelam, a barba teima em crescer, o elevador não chega, o carro (que é caro) mal pega, a garagem é estreita, a rua é cheia, o trânsito tem a intenção declarada de nos tornar a todos animais ferozes. Definitivamente. A vida cotidiana não tem poesia. O cartório é cheio, a paciência é estreita, a gente é mal paga, o atendente não chega, a fila teima em crescer, os papéis (que muitos) se rebelam, o salário míngua, o carimbo é frio, o dever é de ontem, já não é tão cedo, a buzina é estridente, o pão do bar é duro, o café (mal) dormido, a mediocridade geral tem a intenção declarada de nos tornar a todos animais ferozes. Definitivamente. A vida cotidiana contemporânea não tem poesia. A força míngua, o rádio é frio, os jovens (mal) se rebelam, a notícia é de ontem, o desmando teima em crescer, pra Copa é cedo, o dinheiro não chega, o desvio é estridente, pobre é mal pago, desgoverno é duro, a visão é estreita, a gente é (mal) dormida, a calçada é cheia. A indiferença geral tem a intenção declarada de nos tornar a todos animais ferozes. Definitivamente. A vida cotidiana contemporânea não tem a menor poesia. Paro o carro. A manhã já é quase meia quando chego em frente do prédio do novo emprego. Desço do carro e carrego um calhamaço de documentos que afirmam quem sou, asseveram o que sou, sequer imaginam como sou. Todos os papéis estampam letras que soletram minha história, carimbadas por uma mãozinha cujos dedos garantem a veracidade dos dados. Levo os papéis ao departamento. A moça carimba uns tantos, pede que eu assine outros tantos; obedeço e rabisco, um tanto alheio, o símbolo que me define. Saio dali empregado. Emprego um sorriso cortês à face marcada por linhas que contam histórias ausentes dos papéis que ficaram com a moça. Do departamento à rua,

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cumprimento um, sinalizo para outro, aceno para outrem, sem abandonar a cortesia sorridente. Alguém passa por mim vociferando contra a organização da Copa do Mundo no Brasil. Os estádios não ficam prontos, os gastos são um descalabro, a desfaçatez, a impunidade, o treinador faroleiro, o time bola-murcha, ufanismo gasto, Federação Internacional podre, Confederação Nacional, um lixo. Chego à rua conjeturando em sintonia com o rapaz: de fato, realizar a Copa no Brasil é a chance de se institucionalizar a farra-do-boi da corrupção, do desmando, da impunidade; o futebol não é mais do que pretexto para enriquecimentos – tantas vezes ilícitos; o futebol não é mais o mesmo, não é mais nada; porém, a sociedade civil, há sete anos, aprovou sobejamente a escolha do paíssede... a sociedade civil merece os (des) governos que tem?... Entro no carro. A rua está cheia. O tráfego, trancado. Um caminhão da coleta de lixo está parado. Os funcionários da limpeza pública pegam sacos de lixo. Até gosto de ficar esperando. Posso, assim, remoer meu desgosto com a Copa, com o futebol, com a gente. Disperso, penso comigo: estou cansado de tudo. Do nada, um susto! O funcionário da limpeza pública vai perder o braço! O que ele quer pegar no fundo da caçamba do caminhão? Vai prender o braço, rapaz! Tira a mão daí!... Uma bola. Murcha, gasta, podre. Uma embaixadinha. Um toque pro companheiro de labuta. Um toque de volta. Outra embaixadinha. Outra. Um sorriso. O sorriso devolveu a vida ao futebol, a mim, à gente. A gente dos carros parados na rua buzina em aplausos. Saio do carro. Aplaudo, em pé, o brasileiro pleno quando perto de uma bola. Ele ri. Agradece. Sobe no caminhão sorrindo. Vai para a vida. Ele vai, o sorriso dele vai, a vida vai. Eu fico.



BIANCA Giordana Zaniratto

 é jornalista

Joie de vivre

Pensamos que, pelo simples fato de termos sido despejados nesse mundo, nada basta

Usei uma expressão francesa para dar nome ao artigo porque não temos, na Língua Portuguesa, seu relativo. Pelo menos não é disseminado. Joie de vivre significa alegria de viver. Engraçado que justamente os franceses, famosos pelo mau humor, disseminaram a expressão pelo globo. Na verdade, ela dá nome a um romance de 1884 do escritor naturalista parisiense Émile Zola (La Joie de Vivre). É no mínimo intrigante o brasileiro, cujo bom humor e alegria fazem parte do anedotário mundial, não ter um modo usual de denominar o contentamento diante da vida. Decerto, talvez tenhamos somente a fama e sejamos um povo soturno e enfezado, que vive apenas da fama de ser “de bem com a vida”. O mestre iogue Patanjali idealizou um sistema, chamado ashtanga yoga, que é dividido em oito partes. As duas primeiras – yama e niyama - são prescrições e proscrições éticas. O niyama compreende cinco disciplinas, mas vamos nos ater a uma delas: santosha, o contentamento. O preceito determina que é preciso estar contente independente das circunstâncias da vida. Manter a joie de vivre “apenas” por poder respirar. Parece, porém, pouco. Aliás, pouquíssimo, pois pensamos que, pelo simples fato de termos sido despejados nesse mundo, nada basta. Erro bastante comum que cometemos nessa seara é jogar no outro a responsabilidade sobre o nosso contentamento. Temos a inescapável programação de preencher a lacuna interna com o pobre diabo que está ao nosso lado. Se não temos uma motivação, e geralmente não é a certa,

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a vida fica entediante, chata. Para que ou por quem eu me levanto todos os dias: para o trabalho, para o meu amor, para tomar cerveja com meus amigos após o expediente, pelos meus filhos, para ficar com o corpo sarado na academia, pelos meus pais, para concluir meus estudos, pelo meu deus, pelos meus cachorros, pelas minhas plantas, para comprar aquele carro dos sonhos. E é aí que começa a praga. Antes de pegar estrada, em um domingo de sol, passei em um posto para abastecer. Após cumprimentar corriqueiramente o frentista, me dirigi ao caixa para pagar a fatura. Na volta, ele me entrega a chave com um sorriso: “Sabe quantos bons dias eu recebi hoje?”. “Não”, rebati. “Com o seu são dois e lá se vão mais de quatro horas de expediente.” Os olhos, de ambos, marejaram. Antes de perder o resquício de fé na humanidade, e lições de educação à parte, me questionei sobre a razão daquele homem dar tamanha importância ao comportamento dos clientes. É claro que, nesse caso, há de se considerar a questão da invisibilidade social. E se aquele ser, porém, se contentasse por ele mesmo, talvez o efeito da falta de atenção (e educação!) dos outros não o machucasse tanto. Deveríamos internalizar nossas válvulas de escape, mas, ao contrário, cada vez mais as jogamos para fora. Pura ilusão. Quanto mais projetamos nosso contentamento no outro, mais adiamos o mergulho que certamente nos trará algum retorno: às nossas entranhas.


OS LIVROS MAIS VENDIDOS*  FICÇÃO 1º A Culpa É das Estrelas John Green – R$ 29,90

3º Adultério Paulo Coelho – R$ 24,90

2º Quem É Você, Alasca? John Green – R$ 29,90

 NÃO-FICÇÃO

4º O Teorema Katherine John Green – R$ 29,90

3º Assassinato de Reputações Romeu Tuma Junior e Claudio Tognolli – R$ 69,90

1º Destrua este Diário Keri Smith – R$ 24,90

2º O Tempo É um Rio que Corre Lya Luft – R$ 28,00

5º A Menina que Roubava Livros Markus Zusak – R$ 39,90

5º Eu não Consigo Emagrecer Pierre Dukan – R$ 29,90

4º 1889 Laurentino Gomes – R$ 44,90

 LIVROS ELETRÔNICOS No Brasil**

No exterior***

1º Olhos nos Olhos Raine Miller

1º The Target David Baldacci

2º Mar de Rosas Nora Roberts

2º America’s Bravest Kathryn Shay

3º O Amante Jodi Ellen Malpas

3º The Fixed Trilogy Laurelin Paige

4º Surpreenda-me Megan Maxwel

4º Allegiant Veronica Roth

5º Eu te Sinto Irene Cao

5º The Collector Nora Roberts

* A lista é feita com base na soma do número de exemplares vendidos entre 14/4 e 20/4, divulgado por livrarias do País ** Livrarias Cultura, Saraiva e Travessa *** Amazon e Barnes&Noble Fonte: Folhapress

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JOSÉ

Renato de Almeida Prado

 é jornalista e membro da União Brasileira de Escritores (UBE)

Cartão vermelho

Ela levanta a cabeça, produz longo suspiro e dirige o olhar de um lado a outro

Sentada sobre o banco do ponto de ônibus, a mulher procura algo em sua bolsa com certa aflição. Era uma senhora, não saberia precisar que idade aparentava orçar, mas suponho que carregasse alguns anos a mais que eu, a julgar pelos cabelos roxinhos, desses que levam violeta de genciana. Portanto, era uma senhora e vasculhava a bolsa, remexendo os pertences atrás de sabe-se lá o quê. Trocados, talvez, agoniada porque o ônibus logo apontaria na esquina e não queria passar o carão de subir no coletivo sem saber sequer se portava ou não suas moedas. Havia a possibilidade de que estivesse a esquadrinhar a bolsa em busca do volante da loteria para conferir os resultados, perseguindo um cortador de unhas, a oração a Santo Expedito, a modos de fazer rapidinho suas súplicas, quiçá procurasse a fotografia esmaecida do filho extinto. As mãos em movimentos nervosos e obstinados a mexelhar, botar de lado, cavucar irrefletidamente. Os olhos, não tive tempo de notá-los. Escondiam-se atrás de desusada armação de óculos, guarnecida por espessas sobrancelhas, que arqueavam em movimentos contínuos. Não desviavam do interior do objeto de couro, em esforço incessante por achar coisa de sua precisão. Era tamanho seu afã que nem se preocupou em bater a cinza que se avolumava na ponta do cigarro de palha, preso entre os lábios, e que acabou por cair-lhe ao colo. Também aquilo me despertou a atenção. Havia tempos que não deparava com pessoa a pitar um palheiro, quanto mais uma mulher, uma senhora como já restou esclarecido. Aspirava e expelia a fumaceira pelo canto da boca, sem deixar de bulir no acessório. Contagiado por tanta inquietude, por um instante, cogitei em um modo de auxiliá-la em sua tarefa, mas minha tenção poderia ser interpretada de forma equivocada e finquei pé na prudência do silêncio. Porventura, subitamente visitada por incômodo, procurasse o absorvente higiênico, para

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acomodá-lo tão logo estivesse consigo mesma a quatro paredes. Ou quem sabe estivesse à cata de sua arma, um calibre 22 niquelado, para descarregar o tambor sobre o corpo daquele que um dia lhe fora caro. As velhinhas de hoje são capazes de cada coisa! O cheiro do fumo-de-corda subia-me pelas narinas, remetendo a odores pretéritos. O velho leiteiro de nome Paganote a separar o folhelho da espiga de milho, cortá-lo com o canivete de ponta abaulada, picar o fumo e ajeitá-lo sobre o vinco da palha. Com destreza, enrolava o crioulo e dava forma e acabamento com muita saliva. Aí era só prender fogo e chupar o bicho até que viesse a fumaça. Súbito a destra da senhora cessa de movimentar, mas permanece no interior da bolsa. Ela levanta a cabeça, produz longo suspiro e dirige o olhar de um lado a outro, como se buscasse se situar, depois de transitório alheamento. Percebo que o rosto poreja; o semblante é de gente maltratada pelo sofrimento. De certo, finalmente conseguira topar com o objeto o qual tanto se esforçara por encontrar, fato que, no entanto, não pareceu minorar sua perturbação. A dona parecia prestes a trincar e desfazer-se em mil pedaços, tal o retesamento de seu corpo. Mantinha firme a mão no interior da bolsa. Em meu devaneio, imaginei que a qualquer momento aquela senhora retiraria do interior do acessório um cartão vermelho, desses empregados por árbitros em partidas de futebol, e passaria a erguê-lo a quantos cruzassem seu caminho, expulsando-os de perto, porque todos, indistintamente, carregavam consigo alguma culpa. Mas o que saiu da bolsa foi um espelho de mão e ela passou a ajeitar tranquilamente os cabelos e a amansar os pelos dos sobrolhos. Um gestual agora sereno, cheio de mansidão. Por fim, ergueu os olhos até os meus e sorriu. Um sorriso lindo, fantástico, daqueles que só as mães e as avós têm. O ônibus encostou e a senhora dos cabelos roxinhos subiu.


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