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7. ENTREVISTA

ENTREVISTA

Homeopatia e Trabalho Voluntário

No Brasil, o trabalho voluntário é regulamentado pela Lei 9.608, que estabelece ações com objetivos científicos, recreativos, culturais, cívicos, educacionais e assistenciais como serviço voluntário. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país conta com mais de 7 milhões de trabalhadores voluntários atuando nas mais diversas áreas. Uma delas é a Homeopatia e um bom exemplo, que une perfeitamente o alto nível do tratamento homeopático com a seriedade do trabalho voluntário é o Instituto Flávia Barits, localizado em Barueri - São Paulo. Fisioterapeuta, especialista em acupuntura e terapeuta homeopata formada na Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG), Flávia Barits começou sua prática clínica em 2010 e, três anos depois, foi convidada a ministrar cursos de Homeopatia certificados pela UFV-MG em diferentes cidades mineiras. Em 2014, Barits fundou o Instituto Flávia Barits de Homeopatia e Terapias naturais com seu esposo, Francisco Rabelo, que é farmacêutico, bioquímico e especializado em Homeopatia. Além de atuar como homeopata e professora de Homeopatia, Flávia Barits também é uma das fundadoras da União de Terapeutas Homeopatas (UTH), que oferece atendimentos gratuitos para pessoas com sintomas de Covid-19.

O Instituto Flávia Barits, criado com o objetivo de divulgar e expandir a Homeopatia, já formou mais de 250 alunos em sete cidades e que hoje atuam nas áreas de Homeopatia humana, animal e aplicada à agricultura. Além disso, o Instituto também apoia quatro projetos sociais, sustentados por ex-alunos.

Flávia Barits/Foto: Douglas Martinelly

REH: Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer pela sua colaboração com a nossa revista, Flávia. A senhora poderia começar respondendo o que lhe motivou a se dedicar ao trabalho de terapeuta homeopata voluntária? E quanto tempo a senhora dedica do seu dia a ações voluntárias?

Flávia Barits: Eu sou Graduada em Fisioterapia pela UNICID desde 2005, e durante todo o curso eu sempre procurei alguma área que realmente preenchesse a minha alma. Não satisfeita com o olhar somente “físico” do corpo, eu sempre inovava durante os estágios. Uma vez, fiz um trabalho com argila para pacientes com artrose, pois acreditava que além de utilizar as propriedades da argila eu também entraria no inconsciente com o trabalho da arte. Em um estágio de Ortopedia fiz massagem Ayurvedica em um paciente que tinha fibromialgia e não melhorava com nenhuma técnica, mas, com a massagem ele melhorou significativamente. Enfim, eu nunca estava satisfeita, sempre queria ir além e procurava algo que me mostrasse que a doença não estava somente no corpo físico.

Em 2006, me mudei e trabalhei como fisioterapeuta em uma cidade do interior de Minas Gerais (Frei Lagonegro) e logo depois iniciei uma especialização em Medicina Tradicional Chinesa- Acupuntura. Foi aí que comecei meu reencontro com minha essência! Aquele mundo fazia muito mais sentido para mim, e pude colocar em prática meus conhecimentos na prática clínica. Quando eu me formei no Curso de Extensão em Homeopatia pela UFV (2009), iniciei os atendimentos voluntários aos meus pacientes de Fisioterapia e também a quem ia me procurar somente para usar a Homeopatia. Eu sempre fiz trabalhos voluntários. Desde que me formei em Fisioterapia em São Paulo, em 2005, eu acompanhava projetos sociais e atendia voluntariamente em ONGs nas favelas de São Paulo como fisioterapeuta.

REH: Como foi o processo de criação do Instituto Flávia Barits até sua fundação? A senhora tem mais planos para o instituto no futuro ou este já atende às suas expectativas iniciais?

Flávia Barits: Quando eu conheci meu marido, Francisco Rabelo, em 2014, ele me incentivou a montar o Instituto Flávia Barits. Na verdade, foi ele quem escolheu o nome e abriu o MEI para podermos trabalhar como micro empresa. Na época, eu dava aulas de Homeopatia e era parceira da UFV, mas já sonhava em ter minha própria escola. Meus planos para o Instituto sempre foram grandes, mas nós plantamos uma semente de cada vez, bem plantadas e regadas, para sabermos que os frutos irão crescer saudáveis! Ao longo desses anos, nós vemos os resultados do nosso trabalho com nossos alunos e com o crescimento do nosso instituto. Tenho muito orgulho de nossa caminhada!

REH: Com o Instituto Flávia Barits já consolidado, o que a fez decidir continuar atendendo pacientes como voluntária, além de manter os atendimentos particulares?

Flávia Barits: Eu acredito que a saúde deveria ser acessível para todos, e que a Homeopatia deveria ser disponibilizada para toda a população, por serem de baixo custo os medicamentos, uma prática sustentável e altamente eficiente. Eu vejo que muito desse meu lado de ajudar as 52 pessoas com trabalhos voluntários vem

dos meus pais. Minha mãe, Arlete, nascida em Minas, fez serviço social. Meu pai, nascido em São Paulo, fez administração de empresas. Eles passaram por muitas dificuldades em São Paulo quando eram mais novos e depois que conquistaram uma vida melhor, sempre ajudavam o próximo. Desde pequena, eu presenciei meus pais ajudando outras pessoas, fazendo o que muitos não tinham condições e nem coragem de fazer. Quando recebi meu primeiro salário, logo após me formar em fisioterapia, minha mãe me aconselhou a dar uma quantidade para alguém que precisasse. Eu me lembrei de um moço bem simples que sempre estava perto do apartamento onde morávamos, vendendo mandioca num carrinho de mão. Eu doei uma quantia para ele, que chorou de felicidade, pois ele não tinha vendido nada naquele dia e tinha que levar comida para os filhos em casa. Nunca mais me esqueci desse moço. Para mim, atender voluntariamente é uma missão de vida junto com tantas outras que tenho.

REH: Muitos brasileiros desconfiam do trabalho realizado por ONGs e outras iniciativas da sociedade civil, principalmente por conta de escândalos relacionados à corrupção e às chamadas “fake news”, que são, em outras palavras, campanhas de desinformação. Como o Instituto Flávia Barits trabalha para construir uma relação de confiança com sua comunidade?

Flávia Barits: Confiança nós adquirimos ao longo do tempo, principalmente por nossa transparência em relação a quem somos, de onde viemos e para quê viemos. Nós, como professores e homeopatas, temos os seguintes compromissos com nossos alunos e comunidade: expandir o tratamento com a Homeopatia e disseminar os conhecimentos homeopáticos para todos, independentemente de grau de escolaridade. Quando demonstramos que nossa missão e valores são para o bem de todos, a comunidade sempre abraça a causa. 53

Flávia Barits/Foto: Douglas Martinelly

REH: Faz mais de dez anos que a senhora atua como voluntária e terapeuta homeopata. Quais são as principais mudanças que a senhora tem notado no voluntariado brasileiro e, mais especificamente, nos grupos de voluntários formados por terapeutas homeopatas? Como a senhora avalia essas mudanças?

Flávia Barits: O número de voluntários homeopatas cresceu muito nesses últimos dez anos. Nos oito anos em que dei aula de Homeopatia, surgiram dois grupos muito significativos de trabalho voluntário: um deles começou em 2014 e foi fundado por uma amiga minha, Patrícia Lage, e por mim, em São João Evangelista – MG. Esse grupo atende mais de 200 pessoas por mês. Outro foi fundado pelos meus alunos em 2015, na cidade de Diamantina – MG, com atendimentos diários para a população local. Os dois projetos continuam acontecendo até hoje. Eu percebo que o número de alunos que fazem o curso de Homeopatia com a finalidade de ajudar em algum projeto social está maior

do que a de interessados em montar um consultório para realizarem atendimentos particulares. A maioria já se aposentou e agora quer se dedicar ao próximo ou já fazia algum trabalho antes e agora querem ajudar através da Homeopatia. Acho essas mudanças maravilhosas! O conhecimento está mais acessível, assim como as oportunidades para que essas pessoas possam se tornar voluntárias.

REH: Na sua opinião, o que deve ser feito para consolidar a democratização do acesso à Homeopatia no Brasil? Quais seriam os papéis da população, do governo e da sociedade civil nesse trabalho? Por que a Homeopatia permanece ainda tão desconhecida para a maioria da população brasileira?

Flávia Barits: Na minha opinião, a Homeopatia não é acessível a todos por dois fatores: falta de informação para a população e informações incorretas sobre a Homeopatia; e o fato de que, financeiramente, a Homeopatia não gera lucro. O tratamento homeopático é barato e nenhuma indústria que produz Homeopatia ou uma farmácia que vende Homeopatia enriquece e não vai enriquecer. A indústria da doença gera muito mais lucro do que você tomar um, dois ou três frascos de Homeopatia e não ter mais uma doença. Quem ganha com a sua saúde? Só você! E quem ganha com a sua doença? Milhares de pessoas e empresas!

Nosso papel é informar a população dos benefícios e do baixo custo da Homeopatia, e com o auxílio e união dos homeopatas, chegarmos aos grandes governantes para que eles deem a devida importância à Homeopatia. Precisamos da classe de Terapeutas Homeopatas unidas.

A população começou a ter um maior contato com a Homeopatia agora, por conta da pandemia do novo Coronavírus. Nós, fundadores da UTH (União dos Terapeutas Homeopatas), iniciamos os atendimentos voluntários para pessoas infectadas ou com suspeita do COVID-19, e um grande número de homeopatas ajudaram nos atendimentos e na divulgação da Homeopatia. Diversos outros grupos de homeopatas, médicos, farmacêuticos etc., também fizeram os atendimentos e divulgação da Homeopatia. Com os excelentes resultados divulgados em outros países e no Brasil, aumentou a confiabilidade do uso dos medicamentos homeopáticos. Mas precisamos manter essa divulgação.

REH: Quais foram os seus maiores feitos como terapeuta homeopata e como diretora do Instituto Flávia Barits até então?

Flávia Barits: Como terapeuta homeopata, é ver a melhora dos pacientes durante o tratamento, a mudança de hábitos de vida, uma clareza mental para seguirem suas missões, sem aquele peso que carregam quando chegam no atendimento. Como professora, é ter levado os ensinamentos da Homeopatia para cidades de Minas Gerais com os cursos presenciais e agora com os cursos online poder chegar em todos os cantos do país e até no exterior. Saber que nós plantamos uma sementinha em cada um dos nossos alunos e vê-las germinar, é fascinante!

Como diretora do Instituto, acredito que o maior feito é poder ensinar o uso da Homeopatia desde o básico, além de passar por cursos de aprofundamento e poder ajudar homeopatas que procuram um aperfeiçoamento nos seus estudos durante a sua trajetória homeopática. Ver o nosso Instituto crescer a cada ano é um sinal de que estamos no caminho certo!

REH: Quais conselhos e dicas a senhora daria para homeopatas que tenham interesse em começar a participar de trabalhos voluntários?

Flávia Barits: Eu diria para procurar pessoas e instituições que já estejam nessa caminhada para que eles possam se unir a elas e fazer um trabalho mais consistente. Mas, se não for possível, que comecem pela sua comunidade mesmo. O que não falta são pessoas precisando de ajuda e a Homeopatia, com certeza, será muito bem-vinda. O que vale é a boa vontade de ajudar e colocar isso em prática. Não deixem de fazer um trabalho voluntário por insegurança ou medo, somente façam. Com certeza vocês serão bem amparados por um Plano Maior para todas as atividades voluntárias que vocês fizerem. 54