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34 LITERATURA
Antonio Candido, o primado da elegância São conhecidas as contribuições do intelectual nas áreas da Sociologia, História e Crítica Literária Daniel Piza
A
ntonio Candido, que neste mês comemora 85 anos, andou sempre equilibrado sobre um tripé que, antes e depois dele, fez balançarem e caírem muitos outros intelectuais: a sociologia, a história e a crítica literária. Essa sensação de equilíbrio, que já poderia começar por sua figura de cavalheiro, é dada em primeiro plano por seu texto, cuja qualidade central se resume no adjetivo “elegante”: uma combinação de fluência e precisão, uma exposição prudente e cristalina dos argumentos, uma habilidade de abordagem que jamais abandona o objeto à frente. Mas é, principalmente, resultante de sua tentativa – nem sempre bem-sucedida – de unir as virtudes das três disciplinas, colocando-as em diálogo, porém mantendo-as em zonas sutilmente delimitadas. O historiador não quer se deixar prenContinente julho 2003
der pelos esquemas do sociólogo e tampouco ditar as regras para o crítico literário, que por sua vez olha constantemente para o contexto social e a perspectiva histórica. As contribuições de Candido em cada uma dessas áreas são conhecidas. O historiador deixou o incontornável Formação da Literatura Brasileira, um clássico pelo qual todos os interessados devem passar. O sociólogo fez o inovador Os Parceiros do Rio Bonito, um estudo sobre o interior paulista. O crítico literário deixou avaliações consistentes sobre as letras nacionais e mundiais em coletâneas como Brigada Ligeira, O Observador Literário e Vários Escritos. Os três aspectos, ainda, estão unidos em ensaios como os de Tese e Antítese e em Literatura e Sociedade. A coerência de todos vem de um olhar que é franco por natureza, que não tem vergonha inclusive de sugerir ou tatear