Continente #029 - O enigma chinês

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EDITORIAL

Rumo ao Ocidente Foto: Divulgação A imprensa ocidental costuma dar mais espaço a um espirro de um príncipe-herdeiro britânico, do que às profundas transformações culturais, políticas e econômicas em andamento na China. Desde que, em 1986, culminando mudanças políticas anteriores, o Partido Comunista chinês abandonou o materialismo histórico e adotou a tese da “construção de uma civilização espiritual socialista”, muita água correu sob as pontes do rio Yang-tsê. Começou, então, a experiência única do “socialismo com características chinesas”, isto é, uma economia aberta com sistema político fechado. Hoje, o “Reino do Meio”, com 1,2 bilhão de habitantes, marchando celeremente rumo a uma “ocidentalização,” mas mantendo valores e práticas tradicionais, alcançando notáveis estágios de prosperidade ao lado de mazelas sociais típicas das nações capitalistas, constitui-se num claro enigma: que papel representará o gigante asiático neste novo século? A pergunta torna-se particularmente dramática no momento em que os Estados Unidos da América do Norte emergem como potência hegemônica mundial e como tal vêm se comportando. Cidade de Zhuhai, novo pólo de Já no começo do século 20, o filósofo e esteta norte-americano desenvolvimento, ao sul da China Ernst Fenollosa, que foi professor de Filosofia na Universidade de Tóquio e curador de Arte Oriental do Museu de Belas Artes de Boston, vaticinou com notável intuição: “o problema chinês de per se já é tão vasto que nenhuma nação pode se permitir ignorá-lo”. É o que fazemos nesta edição, por meio de entrevistas com sinólogos, depoimentos de repórteres que lá estiveram, resenha de livros e uma exposição sobre as relações culturais Brasil-China. Outro tema que procuramos aprofundar, neste mês em que se realiza no Rio mais uma Bienal do Livro, é a questão do baixíssimo índice de leitura no Brasil. E ouvindo escritores, professores, livreiros e editores, detectamos um terrível círculo vicioso que faz com que sejamos lamentavelmente um país de poucas letras. Ao leitor, o resultado desse esforço de oferecer material atual, consistente e aprofundado, no grau esperado de uma revista dedicada aos temas culturais em sua multidisciplinaridade.

Continente maio 2003


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