poéticas na quarentena - arte na espreita e na espera 6

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realização

poéticas na quarentena arte na espreita e na espera

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Apresentação O catálogo Poéticas na Quarentena surgiu no momento em que a pandemia começava a nos acuar em toda a vida social brasileira. Nas áreas de expressão da cultura e da arte, meus pares artistas e literatos estavam mais do que tristes com cancelamentos de eventos e as incertezas do porvir.

A minha ideia era não deixar que o processo criativo de alguns parasse no meio da espera e da incerteza, e na espreita, criar um diálogo instigante e provocativo entre fazedores e os que precisam da arte mais do que nunca para viver. Sobreviver nunca, pois é um estado indigno para o ser humano.

Chegamos ao 6º número que é ainda mais especial pela homenagem que presta a Augusto de Campos ao completar 90 anos de uma existência luminosa na cultura do mundo.

A organização desta edição dividi com o amigo Walter Silveira, pela intimidade que já tem há anos com a obra do poeta homenageado. E, pela mesma razão, resolvemos confiar o projeto gráfico e direção de arte a André Vallias, a quem eu especialmente agradeço porque extrapolou as atribuições usuais de um designer gráfico.

Augusto de Campos — poetamenos — como ele se autodenomina, é mais que poeta, é um dos mais importantes intelectuais da alta-cultura brasileira, além de um raro artista visual de poemas em que palavras/imagens vão além da semiótica e dos ardis verbais.

Ele é um agente transformador influente da cultura e da arte no país e uma das suas mais veras e afluentes fontes do que se pode se chamar de verdade poética, ética e estética.

Campos está sempre a pulsar potente contra o medíocre da falsa linguagem.

Aqui reunimos muitos dos que são tributários de sua poesia vasta, de suas traduções/recriações luminares e de seus ensaios iluminadores.

Sua poesia, pode-se dizer, é a mais perfeita tradução da alma paulista. Campos tatuou na pele do imaginário de Sampa poemas que parecem ter o som ou o barulho visceral da cidade em respiração rítmica pulsante, tanto virtual como virtuosa na visualidade inquietante, perturbadora, veloz.

Augusto mantém uma coerência quase absurda de lealdade à sua poética/estética tão amalgamadas à sua busca obsessiva pela síntese e originalidade visual que só vamos encontrar em raros como Rubem Valentim nas artes visuais. Aliás, os dois se admiravam muito mutuamente. É uma honra para nós poder homenageá-lo junto com muitos dos que o admiram e amam, quando chega aos 90 anos tão jovem e pleno como sempre.

Augusto está no agora atuante em suas renovações de linguagens, nas desconstruções das palavras e sentidos, com articulações digitais extraordinárias que pulsam diariamente para nosso prazer, como as contribuições recentes que deu generoso para o Poéticas na Quarentena nº 5.

Ele não só se renova a cada obra, mas transcende a si mesmo e seu tempo. Sem tempo!

Augusto já “tem coragem de saber que é imortal” como cantou Caetano.

Nossa homenagem é de vasto amor e imensa gratidão pela sua presença de 90 luminosos anos inspiradores e instigantes entre nós.

Bené Fonteles janeiro de 2021 3

Augusto de Campos, 90 anos!

Conheci o poeta na metade exata desse percurso — lá se vão 45 anos —, na livraria Informática, apresentado pelo Zé dos Livros, figura simpática que transitava com uma enorme e pesada bolsa de livros pelos campi da PUC e da USP, vendendo obras pouco encontráveis e bastante procuradas. Augusto, ao saber que eu fazia poemas visuais, me passou gentilmente seu número de telefone.

Nessa época, 1976, a poesia concreta ainda não estava publicada comercialmente, e os livros e revistas iniciais do grupo Noigandres, esgotados ou com escassa distribuição. A primeira publicação de Augusto que eu pude adquirir encontrei na livraria Teixeira, no centro de São Paulo: um exemplar de POETAMENOS, edição de 1973, provavelmente deixada em consignação pelo próprio autor.

Dos anos 1980 em diante, tive o privilégio de me envolver com o poeta nos mais variados e instigantes projetos. Entre os que guardo com maior carinho e orgulho na lembrança destacase o espetáculo verbivocovisual POESIA É RISCO, que realizamos, Augusto, Cid Campos e eu, a partir de 1996 — e durante quase uma década — em diversas cidades do Brasil e do mundo. Encontros e viagens memoráveis, cujo riquíssimo registro videográfico eu ainda desejo e pretendo ver transformado num documentário à altura da singularidade e beleza dos eventos.

Hoje, só me cabe agradecer ao mestre inventor Augusto de Campos pela generosidade, amizade e infinita paciência que tem despendido às minhas solicitações nesses mais de 40 anos.

Os artistas/poetas — de várias gerações e linguagens — que conseguimos reunir aqui, nesses tempos tão conturbados de pandemia e desmonte cultural, proporcionam apenas um vislumbre circunstancial da magnitude de Augusto de Campos. O conjunto das contribuições é, antes de tudo, uma celebração.

“Em Amsterdam, 1996, durante a turnê POESIA É RISCO, navegando com Cid e Augusto, num barco que apelidamos de bateau ivre para conhecer a parte nova da cidade/city/cité”.

Agradeço a Bené Fonteles pelo desafio que me propôs e a confiança depositada em mim. Aos amigos/parceiros Cid Campos, Fernando Laszlo, Júlio Mendonça e Omar Khouri pelo generoso apoio que prestaram ao projeto. E ao grande André Vallias pela dedicação e competência com que deu forma a esta edição especial do catálogo Poéticas na Quarentena.

Que ele sirva de aperitivo, a nós leitores e espectadores, para aquilo que verdadeiramente interessa: o banquete inesgotável que nos oferece Augusto de Campos!

Walter Silveira fevereiro de 2021 4

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lygia

antes agora sempre

lygia de azeredo campos

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saudação a augusto l. c. vinholes

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Acima: Norma Graça, José Luiz Paes Nunes, H. J. Koellreutter, Tomie Ohtake, L. C. Vinholes e Teresinha Schnorrenberg na exposição de Tomie Ohtake, salão da Escola Livre de Música, São Paulo, 1957.

Abaixo e pág. anterior: Exposição Poesia Concreta Brasileira, Tóquio, 1960.

Foi em 1953 que um público jovem e curioso lotou o pequeno auditório da Escola Livre de Música da Pró Arte, em São Paulo, para ouvir o diretor da instituição falar sobre a experiência que tivera na sua primeira visita ao Japão. Ali foi nosso primeiro encontro. Depois, novamente em São Paulo, foi na 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, em dezembro de 1956. Na época, iniciamos e cultivamos afinidades e interesses comuns que se concretizaram em amizade para durar décadas. Nos anos que se seguiram, Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, apresentaram o Plano Piloto da Poesia Concreta, zelaram pelo que havia nascido e expandiram os novos horizontes.

De julho de 1957 em diante, estando em antípodas, entre nós criaram-se elos que permitiram realizar um dos eventos mais importantes na história das relações culturais entre o Brasil e o Japão.

Vale registrar que em 1960, desde o primeiro momento em que decidi divulgar a poesia concreta brasileira no País do Sol Nascente, reconhecendo ser ela uma das marcantes contribuições para o desenvolvimento da cultura literária e poética no Brasil, apresentei-me como voluntário representante de uma plêiade de poetas. Em nome deles me fiz presente, em nome deles falei e em nome deles recebi os elogios e as críticas dos parceiros japoneses.

Em todos os momentos tive sempre a impressão de que, como se fossem minha sombra, todos me acompanhavam e me davam o indispensável apoio para continuar.

Neste momento, resta-me reiterar ao último dos moicanos, Augusto de Campos, meus agradecimentos pelo muito que fez e a ele apresentar os merecidos cumprimentos quando comemora suas nove décadas de profícua e gratificante existência.

L. C. Vinholes 10

Abertura da exposição Poesia Concreta Brasileira, em Tóquio, 1960.

Esta e as demais fotos do acervo de L. C. Vinholes foram doadas ao Centro de Referência Haroldo de Campos da Casa das Rosas, em São Paulo.

Cartão-convite para a exposição Poesia Concreta Brasileira.

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brinde

regina silveira

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augusto joão/agrestes

caetano veloso

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uma

fala

tão

fratura

tão

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tão

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contra

mais

a

favor

faca posta aço só

outro nem abraço aprendiz

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depoimento e leitura do poema: “joão/agrestes” ( 1985 ), de augusto de campos.

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tristes trópicos gilberto gil

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“Quando eu fiz 70 anos, Augusto me mandou esse poema que ele fez. Agora que ele faz 90 anos, eu lhe devolvo o poema...”

Gilberto Gil

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com título #2 o país num psiu! joão bandeira

Com Título #2 João Bandeira, 2020 19

O PAÍS NUM PSIU!

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João Bandeira Uma frase solta, ouvida por acaso de conversa alheia na rua, fora de contexto, tende a soar apenas irrelevante e normalmente nem fica na memória. Mas às vezes tem a qualidade de uma tirada sugestiva, na forma de comentário tão curto quanto exato. Nesse caso, suas palavras adquirem especial substância e, como numa faísca, nomeiam para quem ouve uma percepção recorrente. Dependendo do que vai pela cabeça desse ouvinte, se ele ou ela for mais ou menos atento ao que acontece à sua volta, as poucas palavras podem ganhar inesperada atualidade, como perfeito emblema de determinado estado de coisas coletivo. Esta afirmação, por exemplo, pescada inadvertidamente há pouco tempo numa esquina de São Paulo: “Todo mundo agora quer mostrar o focinho”.

Já o que nos chega como pronunciamento público de alguém em posição de destaque no país, mesmo quando sucinto como aquela frase ouvida na rua, não costuma oferecer o estalo que ilumina e pede decifração. Como a declaração do então recém-alçado ao cargo de presidente do Brasil, feita há alguns meses em discurso na sede da Fiesp — Federação das Indústrias do Estado de São Paulo: “Essa coisa de ideologia está totalmente fora de moda”2. Diante dela, o bom senso recomenda lembrar que aí está uma coisa que — goste-se ou não — há milênios não sai de moda, muito antes de ter recebido esse nome, seja no sentido de configuração geral de ideias que sustentam opções éticas, ou mesmo no de falsa consciência. Como diz Norberto Bobbio, “a árvore da ideologia está sempre verde”.

A frase que trata ideologia como coisa de moda aponta,

portanto, para o contrário do que enuncia. E há ainda, conforme os jornais, um trecho que a completa: “As pessoas querem é resultados”. Para além do truísmo, cabe considerar que, afinal, ideologias estão intimamente relacionadas aos “resultados”.

E, tendo em vista os acontecimentos posteriores ao impeachment de Dilma Roussef, é razoável concluir que, dadas a fonte e o local onde foi feita a declaração, o termo “as pessoas” diz respeito a um grupo bem menor do que a ideia insinuada de representação de uma maioria. Esse expediente verbal também é, por assim dizer, um fenômeno de todos os tempos.

Comparadas para além de seu valor de face, a frase colhida na rua é o oposto da espécie de deixa-disso capcioso da declaração presidencial — que teve a seguir muitas variantes na mesma linha da má dissimulação de comprometimentos ideológicos. “Todo mundo agora quer mostrar o focinho” espelha não apenas o visível desarranjo em curso nos altos círculos de poder, como, a partir daí, o clima disseminado de confronto, muitas vezes do tipo nós-contra-eles absoluto, que tomou corpo no país sob várias formas de manifestação.

Nesse clima, ganha atualidade o poema “PSIU!”, de Augusto de Campos, de meados dos anos 1960, mostrado para além dos livros na exposição Rever. Até então pouco conhecido na forma do objeto que é, constituído por recortes de jornais e revistas da época montados sobre um disco de madeira de cerca de 70 cm de diâmetro, esse poema-colagem tão rente ao seu tempo parece falar de perto ao nosso3.

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TODOS CONTRA TODOS Desde as chamadas “jornadas de junho de 2013”, mas crescendo bastante na campanha que levou Dilma ao segundo mandato, e especialmente ao longo do tortuoso processo que desembocou na sua deposição da presidência, a moda que pegou foi justamente a da polarização acalorada de opiniões.

Uma de suas marcas continua sendo a intolerância liminar para com a diferença, que alcança muitas vezes — nem sempre à direita, diga-se — níveis baixos, quando não baixíssimos, de consciência política e respectiva qualidade argumentativa, embora altos em matéria de truculência na expressão. Em amplo espectro, os exemplos vão das falas de parlamentares ou membros de outros poderes até as frases espontâneas ou bem modeladas que se propagam nas ruas, passando pelas delações e conversas telefônicas vazadas, tudo amplificado pelos mais diversos meios das empresas de comunicação, na chave da deslavada maledicência ou na da dita objetividade analítica, e rebatido ao infinito nas redes sociais. Fiel à Lei de Gerson que ela mesma formulou a partir de uma velha prática nacional, a de levar vantagem em tudo, a publicidade, por seu turno, aproveita aqui e ali as palavras de ordem para incrementar as vendas, realimentando o alvoroço.

Tem sido comum apontar a similaridade desse cenário com o daquelas batalhas entre esquerda e direita (que, evidentemente, não eram blocos unitários) no seu período mais barulhento, a partir de 1963 — antes de o ruído da primeira ir sendo abafado, ao longo dos anos posteriores ao do golpe militar de 1964, até precisar reduzir-se ao volume de uma voz baixa, com a decretação do AI-5. Sem dúvida, qualquer análise conjuntural mais cuidadosa chega logo a diferenças importantes.

Mas por uma real coincidência esses dois momentos dominados pelo clima de tiroteio generalizado parecem, sob certos aspectos, entrar em sincronia no poema cinquentenário de Augusto de Campos. Apreciar com atenção o que o poema segue mobilizando, e de que maneira, envolve antes rememorar alguma coisa da época em que foi realizado, mesmo se ao preço de começar chovendo um pouco no molhado.

NAQUELES TEMPOS Descontados os simples e perigosamente ignorantes ou os atuais amnésicos por conveniência, é bem conhecido que ao assumirem o controle do país em 1964, depondo João Goulart, os militares e seus associados empenharam-se em controlar — por decreto ou força bruta — a sucessão de conflitos que vinham mobilizando esquerda e direita nos anos imediatamente anteriores. De modo menos explícito nas diversas iniciativas conspiratórias, ou abertamente nas declarações inflamadas divulgadas na imprensa e nos muitos comícios e passeatas, travou-se uma verdadeira guerra informacional semelhante à que se vê hoje.

Em meio a ameaças e perseguições de fato, essa movimentação continuou nos quatro anos subsequentes ao golpe, principalmente na tentativa de resistência das variadas correntes de esquerda, até ser, como se sabe, virtualmente silenciada por cerca de duas décadas.

Antes ainda de Terra em Transe, da mostra Nova Objetividade Brasileira, do espetáculo Roda Viva ou da Tropicália, as mais diversas áreas da cultura vinham passando por mudanças significativas, com a colaboração de artistas atentos ao cenário conturbado e interessados na renovação de linguagem: as primeiras encenações do Oficina e do Arena; os filmes de Nelson 21

Pereira, Glauber Rocha, Ruy Guerra e outros; Opinião, o espetáculo musical e a mostra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; a exposição Propostas 65, em São Paulo; a revista Invenção, editada pelos poetas concretos, na qual apareceu o manifesto Música Nova, assinado por Rogério Duprat, Gilberto Mendes, Julio Medaglia e outros; livros como Lugar Público, de José Agrippino de Paula, ou A Educação pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto; e, claro, muitos, muitos etc., para além do eixo Rio-São Paulo.

E, em tempos de acirramento da Guerra Fria, havia ainda a mobilização da chamada “opinião pública” progressista ou conservadora em torno de temas nacionalistas. Na ala identificada como progressista, protestava-se contra ingerências do governo norte-americano nos assuntos internos do país e reivindicava-se reformas políticas, administrativas e econômicas, tendo à frente a reforma agrária. Temas como esses vinham misturados a discussões sobre o desenvolvimento do governo revolucionário em Cuba, a Guerra do Vietnã e a oposição a ela, representada no lema “Make love not war”, mas também sobre os filmes da Nouvelle Vague e a ascensão dos Beatles nas paradas de sucesso; sobre os movimentos de libertação colonial na África, mas também sobre o prêmio obtido por Robert Rauschenberg na Bienal de Veneza, as fotos mais provocantes de Sophia Loren ou Brigitte Bardot, a nova moda dos happenings e os sinais iniciais da contracultura.

Finalmente, vale lembrar de novo a publicidade, que anunciava uma enorme gama de produtos “modernos”, disponíveis a crédito para consumidores de todas as idades. De eletrodomésticos a automóveis, de saponáceos a cosméticos, de bebidas e cigarros a roupas, promovidos em campanhas à maneira americana, investindo no tom coloquial — com frases curtas e

evocativas ou no estilo bombástico — e na articulação sedutora de palavras e imagens nas páginas de revistas como O Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos.

OS POPCRETOS Tudo isso está implicado direta ou indiretamente numa série de poemas em que Augusto de Campos emprega fragmentos de textos e imagens apropriados de jornais, revistas e outros impressos, remetendo-se ao universo da cultura de massas — o mesmo que, como se sabe, informava a pop art americana na mesma época.

No final daquele mesmo 1964, Augusto de Campos apresentou numa galeria de arte em São Paulo alguns desses seus novos poemas-colagem, dividindo o espaço com trabalhos de Waldemar Cordeiro, um de seus companheiros de estrada na definição e na defesa da poesia e da arte concretas havia mais de uma década. A abertura da exposição, nove meses depois do golpe, foi marcada por um happening movido a música erudita de vanguarda, executada ao vivo sob o comando do compositor Damiano Cozzella. Na descrição de José Geraldo Vieira, a galeria Atrium ficou “superlotada por artistas, literatos, músicos e variantes juvenis ou maduras de beats, hipsters, angry men, zazous, mods, blousons noirs”4.

Vieira, que além de crítico de arte também era romancista, adota em seguida o relato no presente, acrescentando que “não se pode circular para ‘agredir’ o material exposto”, por conta da orquestra que tem “seu instrumental espalhado pelo chão, pelas cadeiras e pelos degraus”. Essa presunção de que as obras expostas poderiam ser atacadas fisicamente justificava-se no texto pela comparação do evento e de seus participantes 22

com ações e artistas das novas e das primeiras vanguardas do século XX, especialmente com o círculo Dada, que, de tantas maneiras, fez mais do que o possível para atrair o ódio conservador. De qualquer forma, a hipótese de Vieira acabou se confirmando. No final do período de exposição, os poemas de Augusto e os trabalhos de Cordeiro — que receberam o nome comum de Popcretos, cunhado pelo poeta — foram atacados de fato, com rabiscos e xingamentos escritos, numa situação mal explicada que envolvia uma pessoa da própria equipe da galeria, tida como integrante ou ao menos simpatizante do Comando de Caça aos Comunistas. Entre os poemas expostos estava o conhecido “Olho por olho”, colagem de uma coleção de imagens de olhos (entre eles os de figuras famosas como Pelé, Brigitte Bardot, Françoise Hardy, Sean Connery, Bertrand Russell, John Kennedy, Fidel Castro e Miguel Arraes, embora dificilmente identificáveis), algumas bocas e mais uma ou outra coisa, arranjados em perspectiva linear. E lá atrás, no ponto de fuga, três placas de trânsito, que, segundo os manuais para motoristas então em vigor, significam proibido virar à esquerda (hoje quase apagada no original), sentido obrigatório em frente e direita livre, encimadas por uma última placa com o sinal de perigo.

Na trajetória de Augusto, a série dos Popcretos consolida uma nova fase de experimentações, em relação aos poemas que ele vinha dando a público desde meados dos anos 1950, de acordo com o projeto desenvolvido em conjunto com Haroldo de Campos e Décio Pignatari 5 no grupo Noigandres: a poesia concreta. Uma das características dessa nova fase diz respeito à estruturação do poema em termos gráficos. Isso envolve não só diferentes soluções de diagramação do texto ou das imagens na página, mas também a exploração de fontes 23

tipográficas as mais diversas, para além do tipo Futura Extrabold, majoritariamente utilizado nos poemas concretos da dita “fase ortodoxa”, quando a brevidade e a redução gramatical daqueles poemas era associada aos princípios geométricos e de economia formal da letra desenhada por Paul Renner, seguindo a linha dos conceitos difundidos pela Bauhaus.

Avançando na trilha de “Cubagramma”, poema que remete à revolução cubana e às pressões do estado norte-americano contra ela, os Popcretos passam da organização extremamente enxuta do texto na poesia concreta propriamente dita a outro tipo de articulação sintática, que se aproxima dos usos da colagem na arte moderna, desde a primeiras décadas do século. O mesmo acontece com trabalhos contemporâneos desses novos poemas de Augusto, como, em primeiro lugar, os de Waldemar Cordeiro e sua proposta de um “realismo ao nível da cultura de massas”, mas também os de Rauschenberg ou Mimmo Rotella, participantes da 5ª e da 7ª Bienal de São Paulo, e, de modo geral, a arte de assemblagem, motivo de uma grande coletiva intitulada The Art of Assemblage, no MoMA, em 1961.

PSIU! O título da série foi estendido a mais um poema de Augusto de Campos, “PSIU!”, publicado em 1966 na revista Invenção. Como os poemas apresentados na galeria Atrium dois anos antes, “PSIU!” faz uso de uma imagem e de fragmentos de textos escolhidos em jornais e revistas. Há nele dois campos semânticos principais. As palavras, expressões ou frases inteiras recortadas compõem um vocabulário que, por um lado, remete à temperatura política daquele momento no país6 e, sendo o Brasil área de influência dos EUA, suas implicações geopolíticas na Guerra Fria. Indício claro desse contexto é a menção aos sucessivos Atos Institucionais (na colagem, identificados com o número 1 ou com o azarado 13 — este àquela altura ainda fictício), posicionada próxima a outras referências em dois recortes. O primeiro com a expressão “a dura”, evocação pouco sutil do termo ditadura, reforçada pelo caco de letra existente antes do primeiro “a”, e mais o recorte com uma palavra cujas letras estrategicamente incompletas permitem duas leituras: “hoje”, mas também “nojo”. Nessa área está encaixada 24

a declaração de Miguel Arraes, ao embarcar para o exílio após ser deposto do governo de Pernambuco pelos golpistas de 1964 e preso por longo tempo: “Saber viver, saber ser preso, saber ser solto’’. No mesmo âmbito, aparecem ainda palavras como “revolução, “paz”, “bomba”, “América”, “do sul” e “livre”. E esta última forma a manchete “Arraes livre!”, por debaixo de uma das pontas da frase citada do político; ainda que o seu nome esteja disfarçado, atrás de mais um recorte.

O outro campo semântico predominante no poema é o dos assuntos econômicos, mais especificamente o mundo do comércio de mercadorias, evocado em recortes com os dizeres “vamos falar de dinheiro?”, “liquidação”, “sem entrada”, “mensais”, “tudo mais barato”, além de outras palavras isoladas e várias conexões possíveis entre diversas delas.

Ou seja, estão envolvidas aqui duas das dimensões que mais afetam a vida diária de qualquer cidadão. No limite, sua sobrevivência. Talvez por isso, uma impressão de urgência vibra nas palavras do poema-colagem, potencializada, é claro, por seu arranjo gráfico. É o tempo veloz das simultaneidades, tratadas por teorias diversas ao longo de todo o século XX, e ainda hoje. Mas o conjunto sugere também uma subjetividade assolada pelas projeções de tempo (“amanhã”, “hoje”, “mensais”, “novo” etc.) justapostas no seu real aqui-agora: o momento do Psiu! E esse instante carregado está perfeitamente cifrado na espécie de palavra-valise “AMEPSIU!AÇA”. Ela contém o título do poema e sustenta a alternativa entre o que poderia ser um aviso “de amigo” ou, ao contrário, uma ordem de silêncio, ambos em face dos possíveis desdobramentos de alguma coisa que, com o reforço do material empregado, é notícia. Algo que aconteceu recentemente ou está acontecendo. Ou que pode vir a acontecer.

Uma ameaça, portanto. Ameaça nomeada/evocada na composição tipográfica dessa palavra-valise, que — estendida pela intrusão em negrito da interjeição PSIU! — expressa também, em pleno agora daquela subjetividade, o tempo da espera, e eventualmente (bastante normal naquela conjuntura) o do temor.

Essa palavra-valise condensa um aspecto decisivo na economia geral do poema, que inclui passagens entre seus campos semânticos principais. Por exemplo, na potencial sequência “amanhã / sem entrada / liquidação”, no sentido de um futuro político nada promissor. Ou em palavras como “bomba” e “revolução”, não estranhas à retórica das grandes promoções de venda. De qualquer modo, as muitas possibilidades de articulação armam-se sobre um verdadeiro panorama de contrastes.

Não apenas entre as duas dimensões — a esfera política e o mundo da mercadoria — mas no próprio interior delas, por força de divergências de significado como as que se estabelecem entre, por exemplo, “livre”/”solto” versus “preso”; “bomba” x “paz” ou “revolução” x “paz”; “ditadura” x “revolução”; “hoje” x “amanhã”; “dinheiro?” x “000.000”; “vamos falar” x “psiu!”. E há conflitos também — o que, nesse caso, é fundamental — na visualidade do poema, na diagramação cerrada dos fragmentos de texto, que cria choques entre palavras e expressões superpostas ou aproximadas abruptamente, assim como na própria alternância de fontes tipográficas e suas variações de tamanho, peso e espaçamento de letras.

Finalmente, sobressai a diferença entre a massa de texto e a imagem central da boca feminina com um dedo encostado no lábio inferior, incluindo o contraste de seu vermelho predominante (hoje descorado na colagem) e o preto-e-branco dos recortes de palavras. Imagem que é como uma citação do universo iconográfico da publicidade, agora deslocada de sua 25

função, talvez servindo, na origem, a um anúncio de cosmético (mas que poderia estar ligada à promoção de quase qualquer coisa, uma vez que, ontem como hoje, a publicidade usa o corpo feminino como chamariz para tudo e mais um pouco).

“PSIU!” não é, assim, um poema-colagem à moda Dada.

Passado o primeiro contato, se observado com atenção, está mais para algo como uma “confusão organizada” de textos, cuja periferia compõe um círculo, tendo como núcleo, por assim dizer, a forma hexagonal onde está a imagem da boca.

De tal maneira, que se pode pensar numa irradiação de discursos, num equivalente da avalanche visual de mensagens no ambiente urbano (nos mais diversos impressos, mas evocando principalmente as manchetes noticiosas e os slogans publicitários em jornais, revistas, cartazes, outdoors) e também do vozerio de suas correspondentes origens ou repercussões sonoras (anúncios, interpelações, declarações, conversas etc.), ou, ainda, da difusão audiovisual de tudo isso no cinema e, sobretudo, na dinâmica da televisão. Em suma, um processo comunicacional de expansão, que, no poema, parte do centro em seis direções mais ou menos simétricas, saindo das laterais do hexágono no qual está inserida a boca-fonte (direções que dão o gabarito para as posições da maior parte dos recortes de texto), e se espalhará continuamente para todos os lados, como sugerem as sobreposições e também a forma circular da mancha gráfica do poema. Uma imagem icônica dos meios de comunicação de massa em ação, incluindo ecos do ativismo pacifista e de lemas contraculturais (“paz”, “ame”, “amar”, “ar”).

Sendo assim, a interjeição “PSIU!” que dá título ao poema está no paradigma do ato de chamar alguém e sua atenção para alguma coisa — nesse caso, para muitas coisas —, isto é, na lógica daquela espécie de aviso amistoso mencionado acima,

do tipo: “Olha, que interessante”. Ou, um pouco mais carregado, algo como “Quem avisa amigo é” ou “Cuidado com isso!”, dependendo, em tempos bicudos, do grau de justificável paranoia de quem está alertando e/ou sendo alertado.

Essa mesma configuração geral pode ser entendida de modo inverso, dando indícios de um processo de contração.

Aqui é a amplitude potencialmente infinita da comunicação na era dos meios de massa que está sendo restringida, como se pode ver em toda a borda do poema, com palavras amputadas, e na diagramação truncada dos recortes em seu interior. Desse ponto de vista, uma força de censura vem do entorno mudo do poema e fecha progressivamente o seu círculo, desorganizando os discursos à medida que pressiona-os contra as quinas da figura central, o hexágono que contém a boca entreaberta. Outra imagem eficiente, mas agora comparável aos métodos de cerceamento da expressão, que então iam se tornando mais e mais violentos sob a nova ordem instaurada pelo governo militar.

Um movimento em sentido contrário ao das tendências à “liberalização dos costumes” (diriam seus detratores), também em curso na época, amplificada em falas e imagens pelos grandes meios de comunicação, como, de resto, acontece agora, numa proliferação de novos canais. O “PSIU!”, nesse caso, seria o de uma imposição de silêncio, um verdadeiro “cala a boca!”

Entretanto, reparando bem, a boca entreaberta com o dedo apoiado no lábio inferior (que pode ser vista metonimicamente como a corporificação de um sujeito que testemunha toda essa movimentação discursiva ou antidiscursiva) aparenta um ar interrogativo. Um estado semelhante ao nosso, quando envolvidos no processo tentativo de leitura que esse poema-colagem propõe, saltando de palavra em palavra ou testando conexões de entre elas. Tudo se coloca, então, num regime em que 26

predominam o fragmentário e a justaposição. Mas — e esse ponto é o importante — abrindo possibilidades que escapam da mera oposição, mediante diversas passagens e articulações de sentido entre impulsos contrários, aqui sumariamente interpretados em termos de expansão e contração. E, para voltar às ressonâncias de “PSIU!” no imaginário e na prática atuais do todos contra todos no país, se conflitos são parte incontornável da convivência, o seu regime de leitura sugere também opções de passagens e articulações entre, por exemplo, dissuasão e convocação, isolamento e associação, condições específicas de compromisso e pura exclusão. E que assim, acredito, torna presente bem mais do que alguma coisa das tensões vividas na época em que foi realizado, solicitando o tempo da reflexão (ideologias e focinhos inclusos) cada vez que nos depararmos com este e aqueles Psiu!

João Bandeira NOTAS 1. Publicado originalmente na revista Serrote n.25, do Instituto Moreira Salles, março, 2017.

2. Folha de S. Paulo, caderno Mercado, 9/6/2016.

3. O poema pôde ser visto em sua forma original nessa exposição

retrospectiva da produção de Augusto de Campos, curada por Daniel Rangel, inaugurada em maio de 2016 no Sesc Pompeia, em São Paulo.

4. “Espetáculo Popcreto”, Folha de S. Paulo, seção Artes Plásticas, 17/12/1964.

5. A partir de certo momento, acompanhados de Ronaldo Azeredo e José Lino Grünewald.

6. Em seu Brasil: uma biografia (Companhia das Letras, 2015), Lilia Schwarcz e Heloisa Starling assinalam que em 1966 se reacendem as passeatas, com participação maior dos estudantes.

Augusto de Campos — da série POPCRETOS: p. 23, “Olho por olho”, 1964; p. 24, ”Psiu, 1966; ao lado, “O anti-ruído”, 1964.

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90 velas!

loja do livro italiano tom zé

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rever

daniel rangel

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Augusto de Campos; da cidade, city, cité; da poesia concreta brasileira; dos carbonos coloridos e da máquina de escrever; dos datilogramas; do poetamenos; do noigandres; do verbivocovisual; da futura bold; da Invenção; das colagens e apropriações; dos Popcretos; das experimentações de suportes; dos objetos, esculturas e desenhos; do letraset; dos livros de artista; das holografias; das serigrafias; das sonorizações; dos vídeos e animações; das parcerias; da poesia concreta, visual, tropicalista, tribalista e do instagram; das críticas; das traduções e intraduções; do Pulsar e do Quasar; das performances ao vivo; da D. Lygia; do Cid e do Roland; dos paulistas, brasileiros, chilenos, argentinos, italianos, norte-americanos, franceses e húngaros; do REVER; dos prêmios Pablo Neruda e Janus Pannonius; de Mallarmé, Pound, cummings, Duchamp e Cage; de Pagu e Sousândrade; da música; das artes visuais; da poesia; feliz 90 anos!

Daniel Rangel

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cidade/city/cité ariane stolfi

p. anteriores: fotos de REVER (2016), retrospectiva de Augusto de Campos no Sesc Pompeia – Fernando Laszlo (p. 28, 30 e 31) e Aaron Kawai (p. 29) — ; de Poema cidade pela cidade (2021), na Biblioteca Mário de Andrade – PC Pereira (p. 32) —, ambas sob curadoria de Daniel Rangel.

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ariane.stolfi.org/augusto90 37

no

arnaldo antunes

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augustus, 90

carlos ávila

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augustus, 90

singrar mares revoltos afrontar marés adversas per aspera ad astra carlos ávila 45

militantes

dácio galvão

p. 43-44: Ready-made de Augusto de Campos sobre obra de poeta homônimo; plaquete de 4 páginas, edição do autor.

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pontadas de poeta raquel campos

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o tygre

josé wagner garcia

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O TYGRE o refinado exemplar da caligrafia islâmica do século 19 — originalmente inscrito na parede de um mosteiro dervixe na turquia — augusto de campos transpôs ao negrume do papel (ressignificando-o em novas simetrias) para compor uma de suas mais brilhantes intraduções: a do poema “the tyger”, do visionário poeta/artista william blake. resolvi inscrever na minha própria pele a apropriação do poeta para intraduzir a gratidão que sinto pelo nosso longo convívio e diálogo, e estampar no corpo um sinal indelével de nossa amizade e minha profunda admiração. parede

papel

pele

orgulho-me especialmente de ter introduzido augusto no campo das novas tecnologias. foi para a exposição level 5, organizada por mim e mario ramiro no MASP em 1983-1984, que criamos — na produtora olhar eletrônico, sob a competente batuta do mestre fernando meirelles — a primeira animação do poema “pulsar”, musicado por caetano veloso. agora, nesse jubileu de nove décadas, envio ao poeta meu mais caloroso abraço e esta modesta contribuição para seu vasto álbum de tatuagens! josé wagner garcia fevereiro de 2021

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flor da pele

marcia xavier

p. 56: reprodução da quarta página dupla (e final) da intradução “O tygre” (Blake), 1977; in: CAMPOS, Augusto de. VIVA VAIA — POESIA 1949-1979; São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1979.

“As letras, no corpo do tigre, perfazem uma inscrição maometana, que significa, em parte: ‘Em nome do leão de Deus, da face de Deus, do vitorioso Ali, o filho de Ebu Talet’. (T. K. Birge, “The Bektashi Order of Dervishes, London, 1952).” Excerto da N. do A. 57

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“flor da pele” augusto de campos, 1959 marcia xavier, 2021 59

augusto nos campos da mantiqueira bené fonteles

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ão

josé miguel wisnik

p. anteriores: “cubogramas” de Augusto de Campos, CAIXA PRETA (1975), fotografado por Bené Fonteles no sítio Rosa dos Ventos (MG) 65

ÃO depoimento e leitura do poema “ÃO” (1994), de augusto de campos 66

anagrama p/ augusto

wagner barja

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só boas lembranças alice ruiz

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outros de alma carlos adriano

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fotografia: Augusto de Campos; rua 14 Washington, abril 1968

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querido Augusto, o livro e a exposição de suas fotos autorais — FOTOMENOS (segundo sua sugestão de título) ou exfotos (na minha primeira proposta, como os ex-votos de um fiel ateu) — até podem não pintar a tempo da efeméride. uma fotografia tem um tempo próprio de exposição, time-lapse que encapsula (entre-lapsos) os cristais de prata da viagem transtemporal que é a vida. e o tempo de uma revelação (por vezes também chamada epifania) pode demandar e demonstrar outras esperas químicas.

desde então esta imagem habita o altar da cabeceira que ilumina as infinitas noites de insônia, junto com livros seus de poemas, traduções, ensaios. no criado mudo, local onde me calo, este mísero servo do mistério tenta conjugar a definição derridiana de poesia: aquilo que se quer aprender de cor*. enigmagem às margens; margem imagem enigma. o que está à margem da imagem? à imagem do enigma? à margem do enigma? a imagem da margem?

aproveito o convite dos editores do catálogo Poéticas na Quarentena para esta homenagem, e faço minha genuflexão diante desta fotografia que você tirou em Washington em 1968 e me encantou desde que você generosamente a compartilhou comigo, entre outras muito belas de sua coleção inédita, em função de meu projeto.

revolta. revoltar-se (contra), o poeta em greve. re volta, voltar de novo (alheio a alhures). revolver, resolver, volver de novo. retorno e repetição. alguns timbres da operação de trabalhar sobre o material de arquivo.

em email de 09/06 às 00h09, você me contou:

a found picture — como se diz de found footage no cinema. um achado; sacado da vitrine do real. uma parada pros manos da quebrada escravarem seu recado.

e agora me lembrei tanto do abril de 1968, quando, com Haroldo e Lygia, passei por Washington a caminho de NY para um tour de talkings sobre poesia concreta Austin-Bloominton-Madison-NY. Martin Luther King tinha sido assassinado uma semana antes, e nos levaram para uma volta de carro na 14th Street, onde as lojas comerciais estavam semiqueimadas com vitrinas em pedaços, exceto nas pixadas SOUL BROTHER. meiofotografei do carro, e aqui vai a foto para a sua coletânea, em positivonegativo.

composição com a posição do olho em disposição de sentido. prontidão. um poema visual com palavras garatujadas, entre o pixo e o graffiti. fotografou no seu rolê reflexo (fluxo pelas ruas), revelou-se a ingratidão dos que não sabem ver (nem com olhos livres). e se potencializa com sua intervenção de fazer um díptico, negativo à sombra. em dezembro, traço estas mal traçadas (mal digitadas, fim de um ano indigno), onde afirmou-se inapelavelmente que vidas pretas importam — a partir do assassinato brutal de George 74

Floyd, acossado enquanto pedia ar. e, neste 2020, por acaso (?), ainda realizei o que Há em Ti, um de meus “cinepoemas da recusa”.

e, do corte do quadro, na foto sobrou “others”. o mano de WA escravou ali a hashtag “brothers of / soul old / black / brothers”.

outra relevância-reverberação desta imagem batida nos convulsivos 1968, ano de explosões planetárias em diferentes latitudes da terra: naquele ano houve o processo dos sete de Chicago, que na verdade eram 8, se contarmos o selo cancelado de Bobby Seale.

aquela cabine na 14th street de Washington DC — depois dos Campos —, é uma cabine de projeção. as palavras pintadas projetam-se mais de meio século depois, atualizando um grito de revolta e um giro de poesia.

recorto algumas porções da imagem como se fosse a decupagem para o roteiro de um cinepoema que ainda gostaria de fazer sobre esta fotografia. a primeira, que me impactou logo de pronto. pela posição da câmera (a sua posição na cena), lê-se na imagem “others of soul”. “outros de alma” — poderia haver melhor tradução para a sua forma de tradução-arte de poesia? como o “s” saiu da grifa e caiu no obturador (a pequena janelaklee vazada à esquerda no quadro), sobra “oul”, que, pela manuscritura, quase se lê “out”. out old ? soul out? soul old? o enquadramento da tomada cortou o “br”. ah, o expletivo que inevitavelmente remete à sigla da escória deste pobre e podre Brasil dos tempos vis e atuais; em novembro, João Alberto Silveira Freitas foi brutalmente assassinado nas dependências de um carrossel de mercadorias.

s.o.s. somos nós a sós. aqueles náufragos no mar de Arnaut. irmãos e ímãs de alma. neste 2021 você completa 90 anos e faz 40 de nosso encontro pessoal (pele a palavra, do verso do poema à película do fotograma). tomo esta imagem como espelho do tempo. com amor e admiração do seu (como consta em dedicatórias assinadas em alguns exemplares meus de livros seus) “cinepoeta preferido”. carlos adriano são paulo, 21/12/2020

* “Poesia é aquilo que se quer aprender de cor: imparare a memoria.”

Derrida, Jacques. “Che cos’è la Poesia?” in Points de Suspension.

Paris: Galilée, 1992. (CAMPOS, Augusto de. Poesia da Recusa.

São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 328.)

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blue moth

p/ augusto de campos fernando laszlo

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espirais pós-tudo

tereza e iara guedes

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para os 90 anos de augusto de campos

villari hermann

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as cores do poema omar khouri

P. anterior: “Para os 90 anos de Augusto de Campos” Villari Herrmann, 2021 Arte final: Luciana Herrmann e Kiko Gomes 86

No apartamento da Rua Bocaina, Perdizes, São Paulo: em 12 de janeiro 1980; da direita para a esquerda: Lygia de Azeredo Campos, Augusto de Campos e Omar Khouri; foto: Paulo Miranda.

AS CORES DO POEMA Esta, foi uma das muitas vezes em que estive com Lygia e Augusto de Campos, em sua casa – a primeira havia sido em novembro de 1974, ocasião em que recebi, das mãos do Poeta, “Viva Vaia”, Colidouescapo, Equivocábulos, um exemplar de Código 1, entre outras preciosidades, mais o contato de Edgard Braga, que conheci ainda em dezembro do mesmo ano. Nossos encontros na Bocaina eram constantes, com almoços memoráveis e conversas que se estendiam por 3, 4, 5 horas, porém, raramente registrados em fotografias.

A generosidade aliada à paciência, era marca registrada do casal: a nossa conversa, girava em torno principalmente de poesia e música e eu, obviamente, mais ouvia que falava. Quase sempre recebia, do Poeta, publicações suas e de outros fazedores, que ele se incumbia de distribuir aos amigos: das Edições Invenção

à Noa Noa, passando por números de Código, publicação de Erthos Albino de Souza. Nós da Nomuque Edições (Paulo Miranda e eu), de quando em quando, deixávamos com Augusto alguns exemplares de edições autônomas de poemas, além de Artéria, revista com a qual ele sempre colaborou, e com materiais inéditos (e isto acontece até hoje).

Penso que um dos pontos que acabaram por diferenciar a poesia visual daqueles ligados a São Paulo, da dos que não se relacionaram diretamente com a Pauliceia é justamente o fato de os primeiros terem tido a chance-privilégio de conviver com os concretos históricos, como Augusto de Campos, nisto que eu costumo chamar de Era Pós-Verso (apesar do verso).

A Poesia Concreta havia sido uma revelação para mim e o repertório que fui adquirindo com a convivência, mais o esforço próprio, pude passá-lo, em parte, para os meus mais de dez mil alunos, ao longo de uma carreira docente, por quatro décadas e meia e em todos os níveis. E uma das estratégias por mim utilizadas para isto foi a da elaboração de antologias, tendo em mente o rigor concretista e sugestões que os poetas concretos vinham fazendo há muito tempo, e valendo-me da noção de Paideuma, como o entendeu Ezra Pound.

Em 1980, elaborei a 2ª edição da Pequena Antologia da Poesia Ocidental – séc. XVI-XX, que trouxe na capa o “Viva Vaia”, de Augusto de Campos, em impressão serigráfica — a arte, fi-la baseada na edição de 1972, mas com filme de recorte, porém, utilizando o processo fotográfico, via luz solar. Nessa mesma antologia, já figura o “eis os amantes” (texto azul e laranja: as cores utilizadas como elementos de ordem estrutural, no poema), 87

tal como aparece na edição comemorativa (1973) dos 20 anos de Poetamenos. Também, impressão serigráfica, com gravação feita a partir de fotolito que, ano após ano, emprestava-me Augusto de Campos, até que, depois de um interregno de 6 anos, elaborei a última antologia, totalmente em serigrafia: Não muito mas muito da poesia em língua portuguesa (1992).

Sempre presente nesse trabalho a força e a inteligência de Paulo Miranda, que tudo acompanhava, e com alegria. O fotolito, acondicionado num envelope da casa de discos Bruno Blois (ou seria Brenno Rossi?), passou a conhecer de cor o trajeto Rua Bocaina-Rua Dona Veridiana, onde eu residia. As muitas antologias por mim elaboradas visavam, também, a satisfazer as exigências dos amigos-poetas, que as recebiam (além dos discentes).

A partir de um certo momento, passando eu para o Ensino Superior e contando o Brasil, já, com edições acessíveis e Internet, senti que tais antologias não necessitariam mais ser impressas, mas bastariam as minhas indicações para o alunato.

O Poeta Augusto de Campos chega, agora, aos 90 anos produzindo e, por mais que se diga sobre ele, nunca o dito será o bastante. As gerações futuras irão se ocupar de sua obra, com o distanciamento necessário e todo apreço a que a mesma faz jus.

XAIPE!

Omar Khouri São Paulo, inícios de 2021

Sequência de fotos de AC feitas na Oficina Cultural Oswald de Andrade/ Paço das Artes – São Paulo, em 30 de abril de 2016, durante a abertura da mostra ISSOÉOSSODISSO, de Lenora de Barros; fotos: Omar Khouri; composição: Peter de Brito.

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os boedas

lenora de barros

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a palavra poetas nasce em mim, menina, boedas todix na sala eu a ouvê-los da escada de olho fixo no som: boesia festa rupturas a moeda concreta da fala no ar #memória 90

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todos os sons

augusto de campos 1979

gravação realizada pela equipe da radiovisual, da 7ª bienal do mercosul — grito e escuta, 2009 fabrizio rosa angélica seguí emanuela pegoraro julia assef denis nunes p. 97: lenora, fotografada por seu pai, geraldo de barros, em meados dos anos 50

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lição de coisa

paulo miranda

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LIÇÃO DE COISA O cartão postal, com alívio, confesso não saber onde estará.

O ano? Um deles, pouco depois do de 1975.

Endereço? Rua Bocaina 23, 6º andar, Perdizes, São Paulo.

Era uma das minhas primeiras visitas ao apartamento de Augusto e Lygia, onde Amizade, Elegância, Generosidade e Poesia sempre me esperaram.

Passemos ao cartão postal: uma vista noturna do centro da Paulicéia, tomada a partir do Largo do Paissandu, culminando com o prédio do Banespa.

Eu, de posse de várias cartelas de Letraset ou Decadry – aplicava às imagens impressas dos luminosos da paisagem, alguns dos radicais do poema “cidade”, por mim muito admirado:

Aprendera: não se retoca a Invenção.

Não se reforma o feito do Inventor.

Não se enfeita uma Obra-Prima.

Consciente do meu canhestro espírito diluidor fui, pouco a pouco, concordando com meus limites e, serenamente, afastei-me do Reino dos Poetas, dedicando-me a ser um Agente de outras Viagens.

Paulo Miranda

Mostrei minha peripécia inacabada ao Poeta que, em sua infinita paciência, comentou estar bem feita, elogiando o cuidado na seleção da tipomorfia.

Ao me despedir do casal, lembro-me de ter observado, não pela primeira vez, emoldurada no corredor que levava da porta de entrada à área íntima do apartamento, a grande versão impressa do “cidade”.

Num segundo de lucidez — nunca consegui entender o porquê — aprendi.

E não toquei mais naquele postal.

Da esquerda para a direita: o diluidor Paulo Miranda e o Inventor Augusto de Campos; foto de Omar Khouri em 12/01/1980 – Rua Bocaina 23, 6º andar.

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do inferno de bolstreet júlio bressane

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O disco risca o circuito de uma esfera musical-políticaiconológica. Entre parêntesis surge a imagem de um aparecimento hieroglífico, fotogramas de um filme onde todos os sentidos são convocados. Filme com íris, luz, música (sovegna vos a temps de ma dolor), montagem, enquadramento, miseen-scène, o movimento do abraço e a ascensão de um corpo musical ao Limbo. A tomada de cena com os três poetas indigitados na visão do inferno, Souzândrade (Orfeu, Dante e Enéas ao inferno desceram / O Inca há de subir), Virgílio (No ímpio Tártaro, à esquerda, os maus padecem... / Foi três vezes nos braços apertá-lo, / Três abarcada a sombra lhe escapa, / Como aragem fugaz, ligeiro sono.), Arnault Daniel (Aura amara / branqueia os bosques... / Esse sabor / de amar ninguém me toma.), faz vir ao pensamento o quadro Dante e Virgílio na Barca de Delacroix e completa a alusão autobiográfica, os 3 poetas Haroldo, Décio e Augusto. Experiência de poesia que arrasta, não sem humor, a pintura. Circula nesta esfera do poema a música a biblioteca a pinacoteca a cinemateca, os ritmos se multiplicam no sortilégio criado pela forma, pela disposição, pelos trocadilhos que disparam raios, raios de um tridente de fogo dividido em três pontas, trisulco, raios de santa Bárbara que atroam e atingem como pólvora...

Contrapoema de Augusto de Campos, publicado no Instagram em julho de 2020, com intervenção fotográfica de André Vallias feita a partir de “SOUSÂNDRADE 1874-1974 (fotopsicograma)”, de AC.

Notas musicais, fonemas privilegiados em repetição, acabam por recompor uma figura não esperada e pestilencial e infame e infernal A coroa bolsonara... Poesia para os ouvidos e para os olhos, que se eleva sobre os limites da tradição.

Estrela de Luz Eterna.

Júlio Bressane 96

videograma p/ augusto gabriel kerhart

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videograma p/ augusto, 2021 montagem: gabriel kerhart p. 97 paródia da mise-en-scène “rosa d’amigos”, no filme treva é a matinée de farsália, do grupo riverão; da direita para esquerda: os poetas gabriel kerhart, walter vetor e diego diasa. p. 98 “logograma ac” – erthos albino de souza; e. e. cummings/james joyce; oswald de andrade/vielimir khlébnikov ezra pound/marianne moore; john cage/sousândrade; anna akhmátova/dante alighieri p. 99 décio pignatari/arnaut daniel; marina tzvietáieva/ronaldo azeredo; haroldo de campos/paul valéry josé lino grünewald/judith lauand edgar braga/gertrude stein “código” – augusto de campos

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augusto

guilherme mansur

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voz/faça joão diniz

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“Voz” da série “Decifráveis” 70 x 70 cm 104

“Faça” da série “Decifráveis” 30 x 30 cm 105

kariguramu lica cecato

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anarcologo p/ augusto

gil jorge

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inestante/tour lucio agra

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memória

almandrade

Poemas de Augusto de Campos lidos por Lucio Agra: inestante, 1983 tour, 1999 113 113

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pulsar dados

gastão debreix

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Poesia Dado Gastão Debreix, 2010 210 dados colados em madeira 48 x12 cm

adaptação vídeoanimada de “poesia dado” para o poema “pulsar” (1975) de augusto de campos 116

augusto recicla-se aos 90

luís turiba

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digital

(p/ augusto de campos) michel favre

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abraço de anos luz regina vater

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É um desafio para mim ter que traduzir em palavras, o peso, a feição, afeição e profundidade da minha gratidão por tudo que a amizade que estabeleci com Augusto de Campos contribuiu para a minha visão da arte e do mundo.

Foi Hélio Oiticica quem me apresentou a ele por meio epistolar. Graças à Olga Savary, que me mostrou pela primeira vez o poema “luxo/lixo”, sobre o qual desenvolvi quase toda a minha obra nova-iorquina (1973-1975).

Lembro-me especialmente de uma vez que Augusto levou ao meu apartamento na rua Batatais o professor Antonio Medina Rodrigues, de quem acabei me tornando amiga também.

Apresentou-me à Medina porque este, como grande especialista em literatura greco-latina, estava escrevendo um livro sobre o meu tataravô, Odorico Mendes, poeta maranhense do séc. XIX, primeiro tradutor brasileiro de Virgílio e Homero. Como eu havia mencionado a Augusto o quão pouco sabia sobre esse meu ilustre antepassado, ele teve esse gesto que nunca mais esquecerei.

Augusto foi uma das pessoas mais marcantes com quem iniciei contato após meu retorno a São Paulo em 1975.

Ele, Lygia e Cid ainda moravam nas colinas de Perdizes.

Visitá-los no apartamento da Bocaina era sempre muito rico.

Além de sairmos iluminados pela conversa reveladora, sempre levávamos de lá algum presente: um livro, uma publicação de um amigo, uma revista…

Foi então que comecei a minha coleção de poesia visual cujo encadeamento veio dar na mostra Brazilian Visual Poetry no Mexic-Arte Museum Austin em 2002, que cuja versão virtual ainda se encontra online: http://imediata.org/BVP/.

Durante a minha vida em São Paulo até me mudar para os Estado Unidos em 1979, e mesmo depois disto, nos meus breves retornos à cidade, não houve uma só exposição, uma só palestra que eu fizesse, que Augusto e Lygia não prestigiassem.

Isto sempre me fez senti-los como parte de uma família. de um apoio familiar que nunca tive a oportunidade de desfrutar.

Quando apresentei meu companheiro Bill Lundberg para Augusto em 1992, os dois entraram em sintonia imediata.

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Num de nossas retornos a São Paulo, em 1995, Augusto e Lygia nos ofereceram um almoço memorável, que começou ao meio dia e acabou às dez da noite. Sim, permanecemos na mesa conversando um dia inteiro. Tudo regado pela refinada hospitalidade de Lygia.

Aliás, com os dois tenho sempre a impressão que estar lidando com a alta nobreza.Não aquela oriunda do dinheiro e do poder, mas a a que advém do caráter e do coração. Nesse sentido, Augusto é para mim um príncipe.

E é muito difícil falar do casal sem correr o risco de me tornar sentimental, por conta da enorme generosidade e bondade que sempre me destinaram.

“EAT-FAT”. E, como produto de nossa grande admiração, há os vídeos que Bill e eu gravamos dele, entre os quais a sua primeira performance com Cid Campos, seu filho.

Isso tudo é para nós é um enorme privilégio e um régio tesouro. E, como se não bastasse, herdamos dele muitos amigos.

Sim, Augusto, além de compartilhar saber e poesia, compartilha amigos, como Omar Khouri, Paulo Miranda, Walter Silveira, André Vallias, Lenora de Barros, Arnaldo Antunes, Tadeu Jungle, entre outros. E as aproximações como os baianos Antonio Risério e Caetano Veloso. Gente-Artista de primeiro quilate que dá sustentação ao meu orgulho de ser brasileira.

Mas, além da elegância inata nos gestos e palavras, Augusto é antes de tudo um Grão-Mestre de uma confraria invisível que tenta persistentemente e — por que não dizê-lo? heroicamente — preservar no mundo o que há de melhor na cultura. É com certeza um poeta singular, de uma obra importantíssima em termos de invenção e abertura de visão poética. E foi com grande honra e alegria que pude publicar o que Augusto escreveu sobre minha obra para o catálogo da mostra conjunta com David Medalla, no Mexic-Arte Museum em Austin, em 1997. Um texto que ultrapassa em acuidade qualquer comentário crítico sobre o meu trabalho até então.

Sinto, além disso, uma forte ligação com Augusto pelas obras que trocamos entre nós. Estão com ele dois trabalhos meus pelos quais tenho o maior carinho. Um deles é o poema escultura 123

luxo lixo, e o vento leva

tainá guedes

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Luxo Lixo, e o vento leva Tainá Guedes: Berlim, 2015 350 cm x 200 cm x 200 cm materiais: cerca de construção, concreto, embalagem de alimentos, ventilador fotos: Uli Westphal 126

de sol a sol

péricles cavalcanti

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péricles cavalcanti canta “de sol a sol”, doublet de augusto de campos musicado por ele, que está na trilha-cd do filme mil e uma, de susana moraes.

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augusto

josé roberto aguilar

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90 anos de augusto de campos!

vou citar as 5 pessoas mais generosas que conheci e que, com sua generosidade, criaram uma nova pele cultural: mário schenberg, mário pedrosa, nise da silveira, haroldo e augusto de campos. gratidão total! josé roberto aguilar

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palavra outra tadeu jungle

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palavra outra, 2020 as primeiras palavras que posso dizer que vi, foram através dos poemas do augusto de campos. antes eram palavras com significados, sim, com machados e guimarães nelas, sim, mas depois de ac elas viraram mundos significantes. uma palavra, depois outra palavra, e mais uma palavra, não me pareciam escritas, mas, desenhadas, planejadas, sentidas, feitas com um rigor, traço e graça que me fizeram ficar apaixonado por elas. hoje sonho palavras. obrigado, augusto.

tadeu jungle

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o inesperado the unforseen tony de marco

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“o inesperado”/”the unforseen” (2017/2019) poema de augusto de campos feito com a fonte tipográfica concreta, criada por tony de marco e niko fernandez em 2009; animação: tony de marco.

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sem título

betty leirner

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caos koan

júlio mendonça

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oriki de indivíduo para augusto ricardo aleixo

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oriki de indivíduo para augusto

hoje o maior dos nossos (o que faz de ras tros sígnicos estrelas e ainda nos ensina a ouvê-las) re nas ce ricardo aleixo 145 145

cosmomensagem para augusto roland campos

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web1931

daniel scandurra

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jaguadarte

arrigo barnabé tetê espíndola

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a trova dos trovadores

livio tragtenberg

“Jaguadarte” – recriação, por Augusto de Campos, de duas estrofes do poema “Jabberwocky” de Lewis Carroll; musicada por Arrigo Barnabé; gravada por Tetê Espíndola no LP “Pássaros na garganta” (1982). Regravação de 2021, em vídeoclipe dirigido por Blackdorf.

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a trova dos trovadores poema: guilhèm de peitieu (séc. XIII) tradução: augusto de campos música: livio tragtenberg voz: lucila tragtenberg 153

noigandres cid campos

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noigandres Er vei vermeills, vertz, blaus, blancs, gruocs, vejo vermelhos, verdes, blaus, brancos, cobaltos, vergiers, plais, plans, tertres e vaus; vergéis, plainos, planaltos, montes, vales; e’il votz dels auzels son’e tint a voz dos passarinhos voa e soa ab doutz acort maitin e tart: em doces notas, manhã, tarde, noite: so’m met en cor q’ieu colore mon chan então todo o meu ser quer que eu colora o canto d’un’aital flor don lo fruitz si’amors de uma flor cujo fruto é só de amor e jois lo grans e l’olors de noigandres um grão só de alegria e o olor de noigandres

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“nesta tradução do trovador arnaut daniel, augusto de campos nos faz sentir de perto o canto, o amor e o olor de noigandres, levando-nos a respirar os ares dos trovadores provençais. compus e gravei essa música/vídeo em homenagem aos 90 anos de augusto, 14 de fevereiro de 2021”.

“noigandres” arnaut daniel (1150-1210) tradução: augusto de campos música e vídeo: cid campos

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auguri, augusto! adriana calcanhotto

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dizem que poesia é aquilo que é perdido quando traduzido. com augusto, que trai essa ideia, a tradução sempre ganha. o augusto poeta injeta sua voz sem tirar nem pôr da essência do traduzido. descobri os poetas que ele traduziu ou transcriou reconhecendo ao longo do tempo, mais e mais, a voz dele. era sobre isso que eu ia produzir minha participação nesse encontro que celebra os seus 90 anos de vida. então andré vallias me convidou para ler a beleza que é o lance que ele

armou especialmente para esta festa de aniversário com os nomes dos poetas traduzidos por augusto. pronto. eu não conseguiria dizer melhor. encarei como “andré vallias traduz adriana calcanhotto sobre augusto de campos tradutor”.

lendo apenas a lista de nomes já aparece o nível da empreitada em que ele vai adentrar cada poeta e trazê-lo ou trazê-la à luz da língua portuguesa, para nós, deixando transparecer claramente que quanto mais difícil for, mais atraente pra ele será. auguri, augusto!

em nome do brasil não tenho palavras para agradecer. adriana calcanhotto

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augusto de campos traduz (feat. adriana calcanhotto) andré vallias

Foto de Adriana Calcanhotto por Murilo Avesso, tirada no recital em homenagem a Augusto de Campos na Bienal de Coimbra, Auditório das Artes, 12 de novembro de 2019; a projeção sobre o rosto da artista é do poema “sem saída” (2000).

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arnaut daniel bob brown giacinto scelsi walter savage landor lao-tsé josé assunción silva ralph waldo emerson giambattista marino peire cardenal raul pompéia muhammad ali robert johnson john wilmot guido cavalcanti john cage giuseppe ungaretti jimi hendrix robert herrick quirinus kuhlmann óssip mandelstam anna akhmátova edward lear bertran de born vielimir khlébnikov henry wadsworth longfellow ludwig wittgenstein rainer maria rilke horácio lev kropivnítski guilhèm de peitieu raimbaut d’aurenga lord byron ludovico lepòreo oliverio girondo

propércio 36 guillaume apollinaire 37 emily dickinson 38 john keats 39 james joyce 40 leonardo sinisgalli 41 charles d’orléans 42 luigi groto 43 billie holiday 44 arthur rimbaud 45 cole porter 46 iúri pankrátov 47 hart crane 48 iliazd 49 dylan thomas 50 alfonso gatto 51 tristan corbière 52 aleksiéi krutchônikh 53 gerard manley hopkins 54 friedrich hölderlin 55 charles baudelaire 56 giuseppe gioachino belli 57 richard crashaw 58 fernando pessoa 59 josep palau 60 william butler yeats 61 guillaume de machaut 62 luis de góngora 63 euclides da cunha 64 marcabru 65 angelus silesius 35

ezra pound 2 sylvia plath 3 john suckling 4 stéphane mallarmé 5 louis zukofsky 6 françois villon 7 ghérasim luca 8 george herbert 9 gérard de nerval 10 marina tzvietáieva 11 vassíli kandínski 12 paul valéry 13 jorge luis borges 14 camilo sbarbaro 15 dante alighieri 16 sierguéi iessiênin 17 eugenio montale 18 vassíli kamiênski 19 archibald macleish 20 e. e. cummings 21 august stramm 22 jules laforgue 23 paul fleming 24 confúcio 25 william shakespeare 26 bernart de ventadorn 27 alfred de musset 28 lewis carroll 29 andrew marvell 30 salvatore quasimodo 31 jean froissart 32 mark alexander boyd 33 george barker 34 raymond roussel 1

vicente huidobro 36 virgílio 37 marianne moore 38 anton giulio brignole sale 39 edward fitzgerald 40 christian morgenstern 41 augusto dos anjos 42 kurt schwitters 43 marcial 44 wallace stevens 45 omar khayyam 46 catulo 47 boris pasternak 48 li tai po 49 arnold schönberg 50 antônio vieira 51 paul verlaine 52 william blake 53 edgar allan poe 54 safo 55 ausônio 56 thomas carew 57 vladímir maiakóvski 58 aleksandr blok 59 arno holz 60 andréi biéli 61 gertrude stein 62 hugo von hofmannsthal 63 andréi vozniessiênski 64 duke ellington 65 matsuo bashô 66 john donne 67 erykah badu 35

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erratica.com.br/ac_traduz 162

objeto ac90

walter silveira

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bios

poéticas na quarentena 6

adriana calcanhotto (RS, 1965) cantora, compositora, escritora e ilustradora; alice ruiz (PR, 1946) poeta, compositora, escritora e tradutora; almandrade (BA, 1953) arquiteto, artista visual e poeta; andré vallias (SP, 1963) poeta, designer gráfico e produtor de mídia interativa; arnaldo antunes (SP, 1960) músico, compositor, poeta, escritor e artista visual; arrigo barnabé (PR, 1951) compositor, músico e ator; bené fonteles (PA, 1953) artista visual, editor, escritor e compositor; betty leirner (SP, 1959) poeta, cineasta e artista conceitual; caetano veloso (BA, 1942) cantor, músico, compositor e escritor; carlos adriano (SP, 1966) cineasta, pesquisador e ensaísta; carlos ávila (MG, 1955) poeta, jornalista e ensaísta; cid campos (SP, 1958) músico e compositor; dácio galvão (RN, 1957) poeta, compositor e editor; daniel rangel (BA, 1976) curador e gestor cultural; daniel scandurra (SP, 1988) músico, poeta e artista visual; fernando laszlo (SP, 1964) fotógrafo; gabriel kerhart (SP, 1982) poeta, artista visual, pesquisador e performer; gastão debreix (SP, 1960) artista visual e poeta; gil jorge (SP, 1960) poeta, editor e promotor de eventos; gilberto gil (BA, 1942) músico, compositor e cantor; guilherme mansur (MG, 1958) tipógrafo, poeta e editor; iara guedes (SP, 1976) vídeoanimadora e performer; joão bandeira (RJ, 1960) poeta, artista visual e ensaísta; joão diniz (MG, 1956) arquiteto, professor e artista visual; josé miguel wisnik (SP, 1948) músico, compositor e ensaísta; josé roberto aguilar (SP, 1941) pintor, escultor, escritor e performer; josé wagner garcia (SP, 1956) arquiteto, semioticista, bio- e astroartista; júlio bressane (RJ, 1946) cineasta e escritor; júlio mendonça (SP 1958) poeta, tradutor e gestor cultural; l. c. vinholes (RS, 1933) compositor, poeta e diplomata; lenora de barros (SP, 1953) poeta e artista visual; lica cecato (SP, 1956) cantora, compositora, instrumentista e artista visual; livio tragtenberg (SP, 1961) compositor, aranjador, produtor musical e saxofonista; lúcio agra (PE, 1960) poeta, performer, pesquisador, professor e ensaísta; luís turiba (PE, 1950) poeta, compositor e jornalista; lygia de azeredo campos (RJ, 1931) poeta; marcia xavier (MG, 1967) artista visual; michel favre (CH, 1947) cineasta e artista visual; omar khouri (SP, 1948) poeta, escritor, artista visual, professor, editor e impressor; paulo miranda (SP, 1950) poeta, editor e impressor; péricles cavalcanti (RJ, 1947) compositor, cantor e cineasta; raquel campos (DF, 1988) poeta, pesquisadora ensaísta; regina silveira (RS, 1939) artista visual; regina vater (RJ, 1943) artista transmídia; ricardo aleixo (MG, 1960) poeta, músico, artista visual, performer e ensaísta; roland campos (SP, 1955) físico, poeta, escritor e ensaísta; tadeu jungle (SP 1956) poeta, diretor de cinema, TV e RV; tainá guedes (SP, 1978) artista visual, ativista alimentar e escritora; tereza guedes (SP, 1947) editora e performer; tetê spindola (MS, 1956) cantora, compositora e multi-instumentista; tom zé (BA, 1936) compositor, cantor, arranjador e jardineiro; tony de marco (SP, 1963) tipógrafo, fotógrafo, ilustrador e VJ; villari herrmann (SP, 1943) poeta e artista visual; wagner barja (RJ, 1951) artista visual, educador, crítico de arte e curador independente; walter silveira (SP, 1955) poeta, performer e realizador audiovisual. augusto de campos (SP, 1931) poeta, tradutor e ensaísta 168

índice sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 apresentação bené fonteles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 augusto de campos, 90 anos! walter silveira . . . . . . . . . . . . . 4 antes agora sempre lygia de azeredo campos . . . . . . . . . . . . . . . 6 saudação a augusto l. c. vinholes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 brinde regina silveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 augusto + joão/agrestes caetano veloso . . . . . . . . . . . . . . . 14 tristes trópicos gilberto gil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 com título #2 + país num psiu! joão bandeira . . . . . . . . . . . . . 19 90 velas! + loja do livro italiano tom zé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 rever daniel rangel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 cidade/city/cité ariane stolfi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 no arnaldo antunes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 augustus, 90 carlos ávila . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 militantes dácio galvão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 pontadas de poeta raquel campos . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 o tygre josé wagner garcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 flor da pele marcia xavier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 augusto nos campos... bené fonteles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 ão josé miguel wisnik . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 anagrama wagner barja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 só boas lembranças alice ruiz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 outros de alma carlos adriano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 blue moth fernando laszlo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 espirais pós-tudo tereza + iara guedes . . . . . . . . . . . . 80 p/ os 90 anos de ac villari hermann . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 as cores do poema omar khouri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 os boedas lenora de barros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 lição de coisa paulo miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

do inferno de bolstreet júlio bressane . . . . . . . . . . . . . . . 95 videograma... gabriel kerhart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 augusto guilherme mansur . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 voz + faça joão diniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 kariguramu lica cecato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 anarcologo gil jorge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 inestante/tour lucio agra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 memória almandrade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 pulsar dados gastão debreix . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 augusto recicla-se aos 90 luís turiba . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 digital michel favre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 abraço de anos luz regina vater . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 luxo lixo, e o vento leva tainá guedes . . . . . . . . . . . . . . . . 124 de sol a sol péricles cavalcanti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 augusto josé roberto aguilar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 palavra outra tadeu jungle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 o inesperado + the unforseen tony de marco . . . . . . . . 136 sem título betty leirner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 caos koan júlio mendonça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 oriki de indivíduo... ricardo aleixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 cosmomensagem... roland campos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 web1931 daniel scandurra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 jaguadarte arrigo barnabé + tetê espíndola . . . . . . . . . 150 a trova dos trovadores livio tragtenberg . . . . . . . . . . . . . . 152 noigandres cid campos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 auguri, augusto! adriana calcanhotto . . . . . . . . . . . . . . . . 156 augusto de campos traduz andré vallias . . . . . . . . . . . . 160 objeto ac90 walter silveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 bios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168 169

poéticas na quarentena 6 augusto de campos 90 realização Instituto Antes Arte organização bené fonteles e walter silveira design e direção de arte andré vallias fotografias bené Fonteles: capa (da série “augusto nos campos da mantiqueira) fernando laszlo: fotos de ac (p. 3, com objeto-profilograma de zé neto, e p. 166); fotos do “objeto ac90” de walter silveira edição de vídeo andré vallias: para depoimentos/leituras de caetano veloso, gilberto gil, tom zé, arnaldo antunes e josé miguel wisnik apoio revista errática agradecimentos omar khouri, cid campos, júlio mendonça fernando laszlo e nelci frangipani www.erratica.com.br/ac90 pindorama, 14 de fevereiro de 2021