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Celebrar Nossa Cultura by Ricardo Câmara
coluna celebrarnossa cultura
by Ricardo Câmara
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A guerra que marcou as artes de MS
Como em qualquer parte do mundo, a arte em Mato Grosso do Sul foi marcada por inúmeros eventos sociais e políticos que mudaram os rumos da história e criaram um ambiente de divisões e enfrentamentos. A expressão dos artistas sintetiza os momentos de medo e ilumina os períodos de trevas.
O primeiro grande acontecimento que influenciou a cultura e também a identidade sul-mato-grossense foi a Guerra do Paraguai. A Grande Guerra, como é conhecida por nossos vizinhos, foi travada pela Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai contra a grande potência sul-americana da época, o Paraguai, entre os anos de 1864 a 1870. Muitas batalhas aconteceram no solo onde hoje é nosso Estado. Com a derrota do país Guarani, parte de seu território foi entregue para os argentinos e outra parte foi anexada ao sul do antigo Mato Grosso.
A memória da guerra ficou impressa tanto nas manifestações populares como nas expressões artísticas. Na poética oral, chamada de Causos, os contadores trazem sempre à tona os temas bélicos. O mito do enterro de tesouros, por exemplo, está relacionado com a fuga rápida dos paraguaios, que não tiveram outra opção a não ser enterrar seus valores antes de partirem. Na música regional, essa questão aparece na obra-prima de Paulo Simões e Almir Sater, Sonhos Guaranis, que nos lembra que, se não fosse a guerra, quem sabe hoje seríamos um outro país. Nas artes plásticas, podemos ver a predominância do vermelho nas obras de Humberto Espíndola, Ilton Silva, Júlio Cézar Alvarez como uma lembrança do sangue que encharcou essa fronteira. Wega Nery (1912-2007), reproduz, em seus abstratos, as cores quentes, em forma de explosões, que podem remeter às batalhas reproduzidas pelo grande pintor colonial Pedro Américo (1843-1905).
O primeiro filme que levou as terras mato-grossenses para o cinema também teve a guerra como tema. Alma do Brasil, de 1932, do cineasta Líbero Luxardo (1908-1980), reconstitui com suas imagens a dramática Retirada da Laguna. A obra teve locações em Guia Lopes da Laguna e trouxe, como protagonista, a lendária atriz portuguesa, radicada em Campo Grande, Conceição Ferreira (1904-1992).
A Guerra do Paraguai está presente ainda no teatro e na literatura sul-mato-grossense e sua memória nos alerta para o sofrimento e a destruição que a violência traz e as feridas que ela deixa por gerações. As milhares de vidas que foram perdidas no chão em que vivemos devem servir como lâmpadas para nossos passos e luz para nosso caminho na defesa da paz.
Onde Dormem as Âncoras Wega Nery, 1986 Ricardo Pieretti Câmara, Doutor em Humanidades pela Universidade Autônoma de Barcelona. Presidente da Fundação Nelito Câmara.






