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P cu AL co ltu AV R m r m u av Ax i n or i su P te ca al IX do çã do EL o te . S m xt er in o? á a a
NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO AINDA ESTÃO POR SER INVENTADAS E JÁ HÁ PROFISSIONAIS QUE VIVEM DE DESCOBRI-LAS
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Janeiro, fevereiro, março e abril de 2020
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casperlibero.edu.br
CÁSPER
Mestrado em Comunicação
O Programa de Mestrado da Cásper Líbero investiga a dinâmica dos avanços tecnológicos, dos mercados profissionais e dos processos e produtos da mídia. Além das aulas, o aluno é desafiado a se envolver na vida acadêmica, trabalhando com professores e colegas em atividades de pesquisa, grupos de estudo e eventos nacionais e internacionais, sem esquecer o compromisso com a produção científica.
Linhas de Pesquisa:
• Produtos Midiáticos: Jornalismo, Imagem e Entretenimento • Processos Midiáticos: Tecnologia, Cidadania e Mercado
Mestrado Cásper Líbero O universo da Comunicação em perspectiva crítica.
´ CASPER ISSN 2446-4910
FUNDAÇÃO CÁSPER LÍBERO PRESIDENTE Paulo Camarda SUPERINTENDENTE GERAL Sérgio Felipe dos Santos FACULDADE CÁSPER LÍBERO DIRETOR Welington Andrade REVISTA CÁSPER NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS COORDENADORA DE ENSINO DE JORNALISMO Tatiana Ferraz EDITOR-CHEFE Eduardo Nunomura EDITORES Ana Carolina Navarro e Renan Lima CONSELHO EDITORIAL Adalton Diniz, Eduardo Nunomura, Fábio Caim, Marcelo Rodrigues, Marco Antonio Vale, Marli dos Santos, Patrícia Salvatori, Roberta Brandalise, Tatiana Ferraz e Welington Andrade REPORTAGEM Amanda Franco, Ana Carolina Navarro,Henrique Artuni, Larissa Basilio, Rafaela Bonilla, Renan Lima e Thiago Bio COLABORADORES Carolina Terra, Fabio Caim, Fábio de Paula, Jorge Paulino, Mei Hua Soares, Michelle Prazeres, Patrícia Bellas, Rafael Dall’Anase,Stephanie Manchado e Welington Andrade EDITORA DE ARTE E FOTOGRAFIA Amanda Franco PROJETO GRÁFICO Giulia Gamba
TEMPO, TEMPO A revista CÁSPER que tem em mãos quer refletir sobre o futuro. Essa palavra guarda em si vários sentidos: o que há de ser, acontecer ou vir, o vindouro, o porvir, o destino, o resto da vida. Nada mais oportuno do que falar desse tema para quem entra agora no ambiente universitário e o futuro parece ter, enfim, chegado. Ou para quem, mais veterano, está sempre se atualizando nesse mundo de constantes transformações. As duas principais reportagens desta edição são fruto dessa reflexão. Na página 32, falamos do futurismo no mundo das comunicações. A expressão foi cooptada por publicitários e outros comunicólogos para planejar produtos, campanhas e ações que vão estar na boca do povo nos próximos anos. A tecnologia, ligada umbilicalmente à ideia de futuro, tem inventado novas formas de se estabelecer a comunicação. A computação cognitiva, que facilita a interação homem-máquina, chegou e com ela a possibilidade de utilizar a inteligência artificial para inúmeras funções. Já se pode pedir para um assistente pessoal ler notícias no café da manhã ou programar um robô para vasculhar todos os dados de um site de e-commerce. O vindouro traz também desafios para os comunicadores. Sejamos honestos: revistas impressas como a CÁSPER, que trata dos temas da comunicação em diferentes áreas, têm perdido a disputa com os conteúdos ligeiros que chegam pelos smartphones. Em mundo que privilegia o instantâneo, o texto tem perdido a disputa para a informação visual. Isso não parece bom, mas também não é ruim. Tratamos desse assunto a partir da página 18, em uma reportagem especial (e orgulhosamente textual). A publicação traz ainda outros temas variados e atualíssimos, como a comunicação nas periferias, o futuro incerto para a pós-graduação, o embate Lava-Jato versus Vaza-Jato, o branded content e inbound marketing, os pôsteres clássicos do cinema e a fotografia feita com latas de alumínio. Numa rede social, iríamos pedir um “like” depois que lesse o conteúdo que preparamos especialmente para vocês, leitores. Aqui, basta recomendar uma boa leitura a todos.
DIAGRAMAÇÃO Amanda Franco, Henrique Artuni, Larissa Basilio e Thiago Panscica REVISÃO Fernanda Almeida e Tiago Tortella NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS Avenida Paulista, 900 – 5º andar 01310-940 – São Paulo – SP (11) 3170-5874/5814 revistacasper@casperlibero.edu.br revistacasper.casperlibero.edu.br
CC
BY
Se não houver um © explicitado, você pode copiar, adaptar e distribuir os conteúdos desta revista, desde que atribua créditos
EDUARDO NUNOMURA
Editor-chefe
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SUMÁRIO O MERCADO DO ESPORTE
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Inovação em jornalismo esportivo
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BRANDED CONTENT Marcas apostam no jornalismo para contar boas histórias, como a campanha da C&A com o HuffPost
26 NOVAS VOZES NO JORNALISMO
Coletivos de comunicação ampliam a visibilidade de regiões periféricas
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INTERCEPT BRASIL
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A PESQUISA EM PERIGO
A agência de notícias que mexeu com o tabuleiro da política nacional
Os cortes na educação ameaçam programas de Comunicação
IN MEMORIAM INFLUENCIADORES DE LIVROS
Os bookgrammers criam conteúdos sobre literatura e estimulam leitura entre os jovens
56 :: ANTENADOS ::
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Homenagem ao professor José Augusto Dias Jr. (1961-2019).
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A ERA DO VISUAL Como a palavra sobreviverá em um mar virtual de fotos, vídeos, GIFs e figurinhas
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FUTURISMO
Os estudos disruptivos sobre o futuro e seus impactos no mercado de comunicação
PÔSTERES
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janeiro •fevereiro• março • abril 2020
Essas obras de arte sintetizam um filme inteiro em uma imagem só
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PÓS GRADUAÇÃO é na Cásper
AS MELHORES OPORTUNIDADES CHEGAM PARA QUEM ESTÁ BEM PREPARADO. O mercado da comunicação é muito dinâmico e, por isso, é fundamental se atualizar. Obtenha o título de especialista na Faculdade que é referência na área da educação. • PRODUÇÃO E PRÁTICAS JORNALÍSTICAS NA CONTEMPORANEIDADE Capacita o aluno a produzir e gerir conteúdo jornalístico a partir de demandas do mercado atual, como infotenimento, geopolítica, jornalismo de dados, modelos de gestão e empreendedorismo editorial. • PRODUÇÃO, CRIAÇÃO E GESTÃO AUDIOVISUAL TRANSMÍDIA Contempla aulas teóricas, dedicadas a apresentar e aprofundar as bases da convergência midiática e da economia contemporânea do audiovisual, e aulas práticas ministradas em laboratórios de produção digital. • MARKETING E COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA Capacita o aluno a produzir e gerir conteúdo de branding para multiplataformas, abordando temas como marketing digital, consumer insights, transmídia, storytelling, pesquisa e planejamento de mídia, empreendedorismo e startups. • COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS Contempla o planejamento integrado e a gestão organizacional, transitando por conteúdos como identidade, imagem e reputação nas organizações, gestão de crises, governança corporativa e sustentabilidade. Aulas durante a semana ou final de semana com duração de 18 a 24 meses.
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POR ONDE ANDA RENAN REPÓRTER LIMA
Sem descanso Título da matéria
:: JORNALISMO :: A imparável jornalista Carla Jimenez faz história nas redações pelas quais passa
:: ASSUNTO EM JOSEFINBOLD :: Olho em Montserrat light
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u lembro do primeiro texto que tive que ler na faculdade em 2006. Não entendi nada e pensei: esse curso não dá para mim.” O texto era do teórico da comunicação Walter Benjamin. Mas, pouco a pouco, o casperiano foi se familiarizando com as disciplinas e se tornou um apaixonado pelo audiovisual. Em 2007, teve experiência como monitor da coordenadoria do curso de Rádio, TV e Internet. No ano seguinte, conseguiu um estágio na Gazeta AM e lá ficou por dois anos. Na rádio, foi operador de áudio, cuidou da central técnica e chegou a apresentar o programa Tarde Gazeta. Diploma na mão, foi contratado como cabo man na TV Gazeta. Era um emprego de carteira assinada, mas desde os tempos da Faculdade alimentava o desejo em trabalhar com produção. Quando recebeu um convite da veterana Regiani Ritter para produzir programas esportivos, não pensou duas vezes. Como assistente de produção, foi para a Argentina cobrir a Copa América de 2011. Na volta para o Brasil, soube que a Fox Networks tinha uma vaga para produção. Conquistou o emprego em 2012. Em sete anos na Fox, hoje é responsável pela supervisão editorial e artística das produções originais do grupo. Em 2011, fez mestrado na Cásper Líbero em Comunicação e deu aula no curso de pós-graduação na Anhembi Morumbi. “Me deixou com gosto de quero mais”, diz sobre a experiência como professor. Similaridades entre a academia e o mercado audiovisual? “Meu Carla Jimenez trabalho é fazer as pessoas felizes. Acho isso tão tem bonito quanto ser professor”, sorri. lembranças afetivas de seu tempo na Cásper
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setembro • outubro • novembro • dezembro 2019
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ara a workaholic Carla Jimenez, ser editora-executiva do El País Brasil está sendo a experiência “mais louca, interessante e cansativa” de sua vida. “Tenho a sensação de ser testemunha de uma história que está sendo escrita em tempo real, e me orgulha muito ter meu nome vinculado a um jornal que veio para mexer com as estruturas da imprensa brasileira”. Aos 16, entrou na Cásper Líbero e dois anos depois já estava cobrindo o fim da ditadura do general Augusto Pinochet. O que seria só uma visita à família no Chile, seu país natal, tornou-se um freela para a Rádio Eldorado e umas das vivências profissionais da qual mais se orgulha. De volta ao Brasil, a jornalista passou pela Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Estadão, Época, Agência Estado Online, Canal RH e até empreendeu na área de comunicação institucional. Aos 38, aceitou o convite inesperado para comandar o jornal Brasil Econômico. A volta às redações passaria ainda pela IstoÉ Dinheiro antes de chegar ao El País. Olhando para o tempo de Cásper, Carla lembra das aulas de ética do jovem professor Clóvis de Barros Filho, hoje filósofo midiático, ou da frase “Jornalista que não lê não zela o nome do jornalismo”, do Augusto Nunes (de quem ela discorda em quase tudo, mas o ensinamento ficou) e guarda uma foto com o paraninfo de turma, Otávio Frias Filho. Para o futuro, ela quer auxiliar na expansão do El País Brasil, escrever um livro, gravar um documentário e voltar a estudar. Fora de cogitação, só mesmo a ideia de ficar parada.
BITS & BYTES HENRIQUE ARTUNI
Meus dados, minhas regras :: SEGURANÇA :: Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil estabelece uma nova realidade para coleta e tratamento de informações pessoais
Todos os dias, grandes e pequenas empresas processam algo sobre nós, desde nome e idade, até fotos e vídeos. Com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGDP), o Brasil passa a fazer parte de países, como os Estados Unidos e os da União Europeia, que impõem regras para proteger a privacidade das informações online de seus cidadãos.
OLHAR E PROTEGER
PRIVACIDADE CONSCIENTE, USO TRANSPARENTE
“Seus dados serão usados para melhorar nosso serviço e serão repassados a nossos parceiros comerciais.” Frases genéricas como essa fazem parte dos termos de uso que concordamos sem nem ler direito quando instalamos aplicativos ou criamos contas em redes
sociais. As novas diretrizes exigem que empresas encontrem alternativas para esses “textões”. Que dados serão usados e para quais melhorias,quem são esses parceiros e que isso seja explicado em vídeos ou tutoriais que explicitem quais dados está disponibilizando.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados será subordinada à Casa Civil e terá o papel de fiscalizar a aplicação da lei. Vazamentos de informações estarão sujeitos a multas que podem chegar a 50 milhões de reais. Caberá ainda à autoridade analisar casos como o das publicidades com câmera no metrô de São Paulo: elas captam as reações do público ou conseguem reconhecer as faces individualmente? Neste último caso, é um dado sensível que nenhum passageiro aceitou ceder – ainda.
O QUE ESTÁ EM JOGO
JOGADA DE SORTE QUEM VIGIA O VIGILANTE?
A versão mais completa da LGPD, aprovada em julho de 2019, trouxe alguns vetos que geraram desconfiança. No texto anterior, a pedido do cidadão, decisões automatizadas poderiam ser revisadas por agentes humanos. Agora a parte de carne e osso não é mais obrigatória, a revisão poderá ser feita por máquinas, e o estado tem permissão para transferir a órgãos públicos e privados dados de quem tenha feito solicitações por meio da Lei de Acesso à Informação. Como garantir que isso não poderá resultar em perseguição?
A nova legislação exige que as empresas contratem funcionários especializados e elaborem novos serviços para se adequarem aos requisitos – o que gera custos. Mas soluções de segurança eficazes e transparentes agregam valor às marcas. E aumentam as possibilidades de “comércio de dados”, em que empresas recompensam usuários que fornecerem certos tipos de informações com pontos e vantagens.
A LGPD categoriza os dados sob duas formas: Aqueles que permitem a identificação direta ou indireta de uma pessoa, como RG, CPF, endereço, telefone, e-mail, IP e até mesmo cookies de navegador. São os que fazem referência à origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico.
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M A R K E T I N G D I G I TA L
A JORNADA DA VENDA
Como agências de marketing estão se aproveitando da análise de dados e da proliferação de informações digitais para vender uma ideia POR RAFAEL DALL’ANESE* NESTE EXATO INSTANTE, MILHARES DE PESSOAS fazem parte de uma jornada, sem que elas precisem sair do lugar. Tampouco desconfiam que dados sobre elas estão sendo cruzados no mundo digital para saber a mensagem certeira para impactá-las. Elas são potenciais consumidores que nem sequer conhecem uma marca, um produto ou se interessavam por realizar uma compra. Essa é a jornada de vendas, normalmente representada pela figura de um funil. No topo, o importante é fazer com que a pessoa descubra que tem um problema. Sempre que se solicita que o cliente preencha um formulário com nome, e-mail, profissão ou qualquer outra informação importante, dados estão sendo coletados e podem ser úteis para descobrir as principais dúvidas dos clientes. “Muito antes da primeira troca comercial, o que ocorre é a troca de informação”, explica Fernanda Roque, sócia da agência DDWB, especializada em marketing digital e inbound marketing. Nessa primeira etapa, a empresa passa a se comunicar por meio de e-mail marketing para que elas não esqueçam de sua marca e sempre saibam quando um novo conteúdo foi produzido.
O meio do funil está voltado para o reconhecimento do problema. As pessoas já estão em busca de atender suas necessidades, mas ainda não sabem como fazer isso. Apesar de se começar a trabalhar a solução, a empresa ainda não oferece um produto. O objetivo é fazer com que as ideias amadureçam antes de se chegar à última etapa, a da venda. Isso significa que a pessoa precisa percorrer um longo caminho até estar pronta para consumir um produto. Esse percurso pode demorar seis meses ou mais.
No fundo do funil, chega o momento em que o cliente está pronto para fazer a compra, pois ele já percebeu o problema, quer solucioná-lo e até sabe quais são suas opções. A empresa que o ajudou a percorrer esse caminho acaba sendo vista como uma referência no assunto. Ela tem, assim, muito mais credibilidade do que o concorrente que preferiu esperar o consumidor passivamente. 8
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Para Fernanda Roque, da DDWB, e Vitor Peçanha, da Rock Content, o marketing não pode mais abrir mão das métricas
O funil descrito na página ao lado é uma estratégia criada pelo marketing tradicional, porém adaptada para o ambiente digital. Diversas ferramentas ajudam a criar as táticas necessárias para atrair o consumidor. Hoje, é possível saber o comportamento exato dos usuários, que tipo de informações eles pesquisam e pelo que se interessam. Por meio de métricas, metodologias e bases de dados, a criação de campanhas publicitárias segmentadas se tornou realidade. “As pessoas estão o tempo todo falando sobre os seus interesses. No Google, por exemplo, cada vez que elas digitam uma palavra-chave, cada busca se transforma em uma informação estatística que deve ser usada por quem trabalha com marketing”, explica o CEO da Rock Content, Vitor Peçanha. Não que o marketing tradicional não se apoiasse em métricas. Sempre se baseou em dados, e o principal deles era o alcance de uma publicação. Para qualquer veículo de comunicação de massa, o que mais importava era atingir o maior número de pessoas. Mas essa métrica criava um problema difícil de solucionar. Ao levar a mensagem para muitas pessoas é difícil criar um conteúdo personalizado. Nessas condições, o marqueteiro precisava valorizar o produto, criando campanhas focadas em falar de bene-
fícios e qualidades. É claro que deixar as pessoas com o nome de uma marca na cabeça sempre será ótimo, porque elas vão comprar mais de empresas com as quais têm familiaridade. Porém, não dá mais para se pensar exclusivamente no alcance. Dentre as principais estratégias para se criar esse posicionamento estão o marketing de conteúdo, o inbound marketing e o branded content (Veja reportagem na página 10). Elas têm, em comum, o objetivo de atrair e converter clientes apresentando a eles conteúdo relevante. “As pessoas vão querer comprar das marcas que as inspiram, que vão fazer com que se sintam bem e passem confiança. Em um mundo com abundância de ofertas, se sua marca não se diferenciar, vai ser só mais uma. Invariavelmente vai cair em uma disputa de quem oferece o produto mais barato”, sintetiza Peçanha. A preocupação se justifica. O investimento em publicidade digital, hoje em torno de 30% da verba total, chegará a 50% em 2023, segundo estudo da consultoria PwC. Na jornada de venda, um dos pontos mais importantes para se criar uma estratégia digital é saber quem se quer atingir. Foi a partir dessa necessidade que os marqueteiros passaram a adotar o conceito de persona. Ela nada mais é do que a evo-
lução do público-alvo, só que muito mais detalhada e melhor trabalhada. Fernanda Roque, da DDWB, conta que a persona é um personagem fictício, criado com base nos melhores clientes da empresa. Nesse exercício, explica ela, cria-se um cliente ideal: “Esse personagem tem nome, idade, cargo, medos, desafios, dúvidas, etc.” Com base na persona são criados conteúdos para suprir suas necessidades, seus sonhos e seus medos. Isso vai sendo trabalhado ao longo do funil da jornada de venda, primeiro de forma mais abrangente para, no final, restringir-se a conteúdos mais específicos. Com a persona criada e com todos os dados e métricas em mãos, fica mais claro como atingir o público. Nesse novo marketing, pensar em qualidade se tornou mais relevante do que quantidade. Pode até atingir um público menor. Mas, em compensação, ele será mais qualificado e de alguma forma já tem interesse pelo produto. Resultado: a empresa gasta menos energia para convencer o cliente a optar pelo seu produto. @
*Rafael Dall’Anese é jornalista e aluno da pós-graduação lato sensu em Jornalismo da Cásper Líbero
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PUBLICIDADE
feito para vocÊ Marcas apostam em conteúdo patrocinado e conhecimento jornalístico para fisgar seu público POR ANA CAROLINA NAVARRO
OITO SEGUNDOS. Esse é o tempo que as pessoas gastam, em média, consumindo conteúdos digitais. É precisamente o quanto as marcas têm para apresentar e cativar o público com suas histórias. E se o tempo já não fosse curtíssimo, muitos usuários ainda instalam ad blockers para não serem perturbados ou apertam o botão “pular anúncio” antes de vídeos no YouTube (os “intermináveis” cinco segundos). Para uma audiência cada vez mais cansada da propaganda tradicional, surgem novas formas de se fazer publicidade por caminhos menos óbvios. E é aí que entra em cena o branded content (ou “conteúdo de marca”, em tradução livre), que veio para ressignificar a ideia de material patrocinado. “Se seu foco é vender e sua estratégia for produto e preço, você realmente está fadado a falir”, sentencia o diretor de Comunicação da Leroy Merlin, Paulo José. A varejista de materiais de
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construção e bricolagem é uma grande adepta do branded content e tem investido em projetos de conteúdo no online e na TV paga. Para ele, o consumidor só é fisgado por histórias bem contadas se houver uma campanha ancorada a um conteúdo que seja, de fato, relevante. Em vez de diálogos forçados, o objetivo é repensar as estratégias de marketing, incluindo derrubar antigos tabus. E um deles é tratar a marca como coadjuvante das histórias que ela mesma se propõe a contar. A Previsão Global de Marketing de Entretenimento Patrocinado, promovida pela PQ Media, avalia que esse mercado movimentou 16 bilhões de dólares em 2018 – um crescimento 4% maior que o apresentado pela propaganda tradicional no mesmo período. A pesquisa, feita nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Taiwan, Argentina e Brasil, mostra que o conteúdo patrocinado já é uma realidade que se materializa
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LEMBRANÇA DA MARCA
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AFINIDADE INTENÇÃO DE RECOMENDAR INTENÇÃO DE COMPRAR
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BRANDED CONTENT PRE-ROLL AD
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CONTEÚDO QUE TRAZ RESULTADOS Marcas que apostam em branded content se tornam mais relevantes do que as que investem em anúncios de publicidade em vídeo que aparecem para usuários antes de conteúdos no YouTube (pre-roll ad). Fonte: Nielsen, 2016. em exemplos polpudos. Em outubro de 2019, a Nestlé anunciou uma parceria com o Buzzfeed para produzir um série de conteúdos para seu canal no YouTube Receitas Nestlé. A transnacional suíça espera alcançar mais 60 milhões de acessos à plataforma e defender o posto de um dos cinco principais sites de receitas preferidos pelos brasileiros. A parceria também inaugura um novo modelo de negócios para o portal americano, que até então apenas veiculava os conteúdos patrocinados. “É preciso ser verdadeiro. Não adianta uma marca querer abordar uma causa se não praticar efetivamente esses valores”, alerta a jornalista Ana Raquel Hernandes, head do Ryot Studio Brasil. A empresa é um braço da gigante de mídia digital americana Verizon e atua com a equipe de vendas do grupo desenvolvendo projetos de conteúdo patrocinado. Entre outros projetos, o estúdio de criação foi responsável pela realização do Todo Dia Delas, uma parceria entre o portal de notícias Huffpost Brasil, a empresa de mídia digital out of home Elemídia e a varejista de moda C&A. A ideia nasceu dentro da redação do Huffpost e encontrou no patrocínio a possibilidade de mobilizar recursos de que o veículo não dispunha para tornar o projeto uma realidade. O Todo Dia Delas contou as histórias de 365 mulheres de norte a sul do Brasil, de 8 de março de 2018 a 8 de março de 2019 – uma campanha duradoura em celebração ao Dia da Mulher. Os conteúdos foram ao ar em um portal próprio para o projeto, que teve chamadas diárias nas cerca de 8 mil telas da Elemídia espalhadas em elevadores e pontos comerciais. O diretor editorial do Huffpost Brasil, Diego Iraheta, afirma que em tro-
ca de custear a produção, a C&A exigiu apenas que as entrevistadas fossem fotografadas com looks da marca e que deixou a equipe editorial livre para tocar o projeto. Mulheres de diferentes setores, etnias e faixas etárias se associaram à marca por meio das reportagens realizadas por um time de jornalistas e fotógrafas – todas mulheres – especialmente montado para a produção desses conteúdos. “Houve uma convergência: a C&A mostra que veste todo tipo de mulher e o Huffpost mostra que conta histórias de todo tipo de mulher. Isso pra mim é uma parceria perfeita”, conta Iraheta. Para ele, o patrocínio de conteúdos não contamina a produção jornalística. Muito pelo contrário: é um modelo de negócio capaz de sustentar o exercício da profissão. Enquanto veículos buscam se reinventar para sobreviver no mercado, o jornalista vê no branded content um modelo rentável para seguir produzindo conteúdo de qualidade. “Meu desafio é olhar para o que eu tenho, olhar essas fortalezas e convencer a equipe de vendas de que isso é vendável, ou iniciar por mim mesmo esses movimentos”, explica Iraheta. Com relação à interferência na produção de conteúdo, o diretor do Huffpost diz já ter tido dificuldades com marcas que ainda não sabiam o que é branded content. Algumas querem fazer e testar, sem considerar que o conteúdo de marca deve ter uma linguagem que leve em conta a estrutura editorial do veículo. E cabe ao diretor editorial fazer a avaliação das propostas que recebe, enxergando como o mercado pode se apropriar das conversas que o portal estabelece com seu público. A parceria da Leroy Merlin com o Decora GNT surgiu dessa forma. Paulo José conta que sua equipe foi
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procurada por Maurício Arruda, apresentador do programa da emissora de TV a cabo, e que a varejista deu liberdade para que o conteúdo se construísse de forma orgânica. Tudo para se conectar com histórias reais de pessoas que precisavam de ajuda na reforma de suas casas. O executivo ressalta a importância das marcas estarem abertas a construir histórias espontâneas em parceria com o produtor de conteúdo, mas reconhece o grande desafio que é defender essa postura internamente: “Quando você tira o viés mais comercial, a empresa inteira cai em cima de você falando ‘ok, mas tem que ter produto, tem que ter preço’ e temos que falar que esse não é o foco, que a gente quer por conteúdo relevante na TV.” Um levantamento realizado pela Nielsen em 2016 revelou que marcas que apostam em conteúdos cocriados com veículos de comunicação apresentam um brand lift (interesse do consumidor na marca) 50% maior do que quem escolhe publicar apenas em sites próprios. Ter o conteúdo certeiro entregue para o público certo é uma grande vantagem. Para Ana Raquel Hernandes, formada em Jornalismo pela Cásper Líbero, um benefício de criar conteúdos com veículos é que o conhecimento jornalístico possibilita uma inteligência para construir interesse em torno de um assunto. Na prática, abre espaço para estruturar melhor o formato, a distribuição e a definição de quais elementos da narrativa a marca quer contar servirão para engajar as pessoas. “Se existem bons contadores de histórias, são os jornalistas, que contam histórias reais”, diz. Estudos de neurociência conduzidos nos Estados Unidos com pessoas que possuíam lembranças vívidas do atentado de 11 de setembro em Nova York comprovam que a memória funciona, entre outros fatores, a partir de uma lógica de storytelling e apego emocional. Isso acontece porque o cérebro humano é fascinado por histórias. Elas são capazes de fisgar a audiência e de provocar as emoções humanas. Hernandes concorda: “Isso sempre será poderoso, é algo da natureza humana: a gente quer compartilhar histórias, experiências e se identificar com o grupo. Isso passa pelas marcas também”, resume. @
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A ativista Neide Santos fotografada para o Todo Dia Delas, uma realização do Huffpost Brasil com a C&A
A parceria do Decora GNT com a Leroy Merlin nasceu quando o apresentador Maurício Arruda procurou a marca
O canal Receitas Nestlé contará, a partir de 2020, com conteúdos produzidos pelo portal Buzzfeed
GIRO GIROPELO PELOMUNDO MUNDO
DISPUTA DE GIGANTES :: ECONOMIA DA ATENÇÃO :: Spotify, Apple, TikTok, Facebook, Honda, Walmart, Mastercard, Buzzfeed só pensam em grandes números
DE OLHO NO ESPORTS
FOME DE MAÇÃ
OS STORIES DO TIKTOK
O maior campeonato de League Of Legends nos Estados Unidos será patrocinado pela Honda. A montadora japonesa firmou parceria com a equipe tricampeã Team Liquid para produção de peças publicitárias e ativações. Gigantes como Walmart e Mastercard também patrocinam o eSports para se conectar a geração Z – jovens que já não consomem tanta publicidade como os mais velhos. A audiência global para eSports é de 450 milhões de pessoas, de acordo com a Newzoo. Tão respeitável quanto o futebol americano ou o beisebol. (Ana Carolina Navarro)
O Spotify e a Apple travam uma verdadeira batalha na “podosfera”, o universo dos podcasts. Enquanto a empresa criada por Steve Jobs detém o domínio de mais ouvintes por países, a gigante do streaming de música é a única a continuar apostando forte nesse formato. Em 2019, o Spotify investiu 500 milhões de dólares em podcasts. Entre março e outubro, a empresa assumiu a liderança em quase toda a Europa e em parte da África e da Ásia. A fatia da Apple corre o risco de diminuir mais, uma vez que 74% do mercado mundial de smartphones usa o sistema operacional Android. (Renan Lima)
O TikTok, a rede social que mais cresce no mundo hoje, virou mania entre crianças e adolescentes. O aplicativo criado em setembro de 2016 pela empresa chinesa ByteDance já passa da marca de 1,5 bilhão de downloads. A proposta de veicular vídeos de 3 a 15 segundos, com música e efeitos divertidos, levou o app ao top 5 mundial - o único a não ter o Facebook como dono. Mark Zuckerberg quis copiar criando a plataforma Lasso, mas viu o TikTok ultrapassar até o Instagram em mais de 238 milhões de downloads ainda em 2019. (RL)
tube, Instagram, Snapchat e Vine), companhias de mídia (MSN, AOL, Condé Nast, Terra) e até aplicativos de mensagens instantâneas (Viber, WeChat e Weibo). Cerca de um terço do faturamento de 300 milhões
de dólares do BuzzFeed é proveniente de produtos que não existiam até 2017. As duas principais apostas da companhia são e-commerce e produção de vídeos. (Eduardo Nunomura)
MUITO MAIS DO QUE MEMES Foi-se o tempo em que o BuzzFeed era apenas um endereço virtual de memes e listas-de-tudo-quanto-é-coisa. Hoje, 80% dos negócios da empresa vêm de fora do site. São parcerias com canais de vídeo (You-
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EDUCAÇÃO
TEMPO FECHADO PARA A PÓS-GRADUAÇÃO Medidas do primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro tornam incerto o futuro das pesquisas em Comunicação no Brasil POR RENAN LIMA
DE UM MINISTÉRIO QUALQUER, espera-se que esse órgão seja capaz de promover a sua área. No da Educação, as expectativas se tornam ainda maiores. É da formação de estudantes que se garante a manutenção dos bons empregos, a geração das melhores oportunidades profissionais, o avanço da ciência e tecnologia, o progresso de um país e a lista prossegue. Em 2019, deu-se o oposto do esperado. Direto de Brasília, o ministro Abraham Weintraub partiu para o ataque. Em maio, ele se disse a favor da cobrança de mensalidade em cursos de pós-graduação de universidades federais. Congelou, e depois voltou atrás, mais de 11 mil bolsas da Coordenação de Aprimoramento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em setembro. E, se dependesse dele, as ciências humanas deixariam de ser prioritárias no Brasil, pois “geram pouquíssimas publicações de impacto científico”, conforme declarou em audiência na Câmara dos Deputados. O ano de 2020 começa nebuloso para a educação e, particularmente, para os programas de pós-graduação da área da Comunicação. A começar pela perspectiva de corte de aproximadamente metade do orçamento anual destinado à Capes. O projeto de lei orçamentária para o ano prevê que a instituição vinculada ao MEC conte com 2,2 bilhões de reais, quase a metade da previsão de 2019 (51,7%). O próprio coordenador da área de Comunicação e Informação da entidade, Edson Dalmonte, teme a estagnação de muitos programas de pós-graduação. A medida, segundo ele, afeta sobretudo as disciplinas que dependem basicamente de recursos públicos para se desenvolverem. “Áreas como Saúde e Engenharia têm mais facilidade para captar recursos da iniciativa privada do que as pesquisas em Comunicação”, exemplifica. A Capes é a maior financiadora da pós-graduação
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no Brasil, com cerca de 7 mil cursos de doutorado e mestrado acadêmicos e profissionais em 49 áreas do conhecimento. No ano passado, a entidade já operou no limite mínimo de investimentos públicos. “O reflexo imediato é a diminuição da oferta de bolsas. É ter cada vez menos pesquisadores, menos pessoas interessadas em ciência e até a fuga de talentos para outros países”, avalia Marli dos Santos, coordenadora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero. No Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a situação é igualmente desesperadora. No Projeto de Lei Orçamentária Anual para este ano, divulgado em agosto de 2019, havia uma previsão de queda de 87% na verba de fomento a pesquisa e 93% nos recursos referentes a divulgação e popularização da ciência. Para o órgão, outro grande financiador da pesquisa no Brasil, isso significa que editais do governo federal, publicações, eventos e congressos poderão contar ainda menos com apoio público. A última edição do Congresso Anual da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), o mais popular entre os comunicólogos brasileiros, foi a primeira a não contar com o financiamento do CNPq. E embora ela tenha atraído mais de 2.600 congressistas, o atual presidente da Intercom, Giovandro Ferreira, não sabe o que esperar de 2020: “Como fazer um congresso desse porte com tamanha restrição?”, questiona. Já a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), obteve da Capes e do CNPq 40 mil reais para realizar seu prestigiado congresso anual - em 2018, a associação teve o dobro de verbas. Para o presidente da Compós, Maurício Ribeiro, não é possível mensurar precisamente os impactos des-
48,3%
SERÁ A REDUÇÃO DO ORÇAMENTO DA CAPES PARA 2020 EM RELAÇÃO A 2019
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BOLSAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA CAPES CHEGARAM A SER BLOQUEADAS EM 2019
87%
SERÁ A QUEDA DA VERBA PARA AS ATIVIDADES DE PESQUISA DO CNPQ EM 2020
sas medidas, porque não há uma retirada instantânea de bolsas de pós-graduação: “Elas se diluem no tempo”. As bolsas são bloqueadas apenas no momento em que ficam vagas, quando são redirecionadas para um novo aluno. DIANTE DA SITUAÇÃO em que vivem as agências federais, instituições estaduais se tornam opções para quem busca uma pós-graduação. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que, conforme previsto pela Constituição paulista de 1989, recebe 1% do orçamento tributário arrecadado pelo Estado, também sente os efeitos do corte de verbas no MEC: “A demanda por bolsas é muito grande, o que faz com que a competição seja enorme e os projetos em julgamento, muito competitivos”, explica Esther Hamburger, da Coordenação da área de Ciências Humanas e Sociais da Fapesp. Para a coordenadora, as pesquisas em Comunicação ainda vivem um momento de consolidação. Nesse contexto, o próprio avanço do conhecimento na área é prejudicado. Os impactos na vida de uma pessoa formada para ser pesquisadora são reais e desoladores. Juliana Doretto dedicou 20 dos seus 38 anos para o mundo acadêmico: “É a minha carreira, como eu me vejo no mundo, meu lugar social”, resume. Em maio, ela conseguiu uma bolsa de pós-doc da Capes. A solicitação para iniciar a pesquisa foi atendida em agosto, mas, semanas depois, a bolsa foi retirada do sistema e seu projeto cancelado. Hoje, ela tenta conciliar a rotina de professora universitária, na Faculdade das Américas, com a de pesquisadora independente. Mas sente que a dupla jornada prejudica a qualidade das empreitadas tocadas em paralelo. Doretto, que é especialista em jornalismo infantil, teme que seu objeto de estudo – já
tão pouco explorado pelo mercado midiático – se torne ainda menos relevante. “Eu estudo algo que está morrendo, e é justamente por isso que pesquiso”, argumenta. Em outubro, o governo Bolsonaro anunciou que estudava fundir o CNPq com a Capes, o que resultaria na possível criação de uma nova agência subordinada ao MEC. O anúncio repercutiu negativamente na comunidade científica, que na mesma semana protestou em frente ao prédio do CNPq, em Brasília. A classe defende que os órgãos desempenhem funções distintas no fomento à pós-graduação e a pesquisa no Brasil, e que a junção dos dois, sob a justificativa de corte de gastos, prejudicaria as instituições de pesquisa e as universidades. Até o ministro Marcos Pontes, responsável pela pasta do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) à qual o órgão é vinculado, se disse contrário à fusão, “pois seria prejudicial ao desenvolvimento científico do País”, disse em sua conta no Twitter. No mesmo mês, em uma coletiva de imprensa, o ministro Abraham Weintraub anunciou o descontingenciamento de 1,1 bilhão de reais anteriormente destinado a instituições de ensino federais – 771 milhões para universidades e 336 milhões para institutos. Segundo Dalmonte, a medida, que impactou primeiro as verbas discricionárias das instituições de ensino, deve ter um efeito cascata e chegar à Capes nos recursos referentes a bolsas, em especial àquelas com maior urgência. Dalmonte, Marli do Santos, Maurício Ribeiro e outros acadêmicos da área dizem não saber o que de fato esperar do futuro da pós-graduação em Comunicação no País. Fazer previsões assertivas parece uma tese que nenhum deles consegue sustentar neste momento. @
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JORNALISMO FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL
Manifestantes no Rio de Janeiro em protesto a favor da Lava jato e das investigações da Polícia Federal, em 2017
PANDORA À BRASILEIRA Em três anos no Brasil, The Intercept mudou os rumos da Operação Lava Jato e se tornou referência de jornalismo investigativo POR RAFAELA BONILLA EM 16 DE MARÇO DE 2016, o então juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro vazou para a imprensa um grampo telefônico ilegal de Dilma Rousseff em conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A gravação sugeria que Dilma agia para evitar a prisão de Lula. Panelaços e manifestações inflamadas surgiram em 19 Estados. O impeachment da presidenta ocorreu em agosto daquele
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ano. Àquela altura, ninguém poderia imaginar que no mesmo mês, aportaria no Brasil um então desconhecido site americano que denunciaria as parcerias nebulosas entre Moro e procuradores da Lava Jato. E, mais do que isso, convocaria para jogar no seu time tradicionais veículos como Veja, Folha de S. Paulo, El País e UOL. “A gente não é o tipo de redação que faz jornalismo só para contar
historinha, a gente faz para ter impacto social”, diz Leandro Demori, editor-executivo do Intercept Brasil, à CÁSPER. O site nasceu em uma garagem no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, e chegou a ter uma equipe só de três pessoas. Hoje, são quase 30 funcionários. De tanto incomodar, conta até com um departamento jurídico. Entre as pautas que já cobriu estão o envolvimento de
tuação com mais cuidado. “Tudo era bombástico e irresistível. Havia interesse público e era nossa obrigação divulgar essas informações amplamente, mas muitas vezes isso foi feito sem o devido cuidado”, justifica-se. Veículos tradicionais, como Veja e UOL, e independentes, como Agência Pública, se uniram nessa parceria midiática. Apesar do Intercept ter um forte posicionamento de esquerda, os jornalistas dos veículos parceiros têm autonomia para explorar o acervo de documentos da Vaza Jato. Quando a reportagem está pronta, a única condição é passar por um pente-fino dos editores do Intercept. “É um novo jeito de fazer um trabalho investigativo”, explica outro repórter da Folha, Flávio Ferreira. Balthazar completa: “Seria um problema se houvesse incoerência entre nossas reportagens e o que eles publicam. Isso nunca ocorreu, eles são livres para expressar suas opiniões”. Para se assegurar sobre a veracidade dos dados da Vaza Jato, Balthazar e Ferreira encontraram suas conversas originais com funcionários da operação. Mas Demori rebate as dúvidas que pairam sobre o Intercept Brasil: “É muito estranho que perguntam para a gente o tempo todo como fazemos e o que fazemos, mas ninguém questionou o Lauro Jardim, do jornal O Globo sobre o grampo do Joesley [Batista, dono da JBS]”. Para o jornalista, as tentativas de deslegitimação da Vaza Jato por outros veículos são porque, provavelmente, há algum tipo de compromisso da parte deles com o establishment @ político atual. LARISSA BASILIO
milícias no assassinato da vereadora ringue de boxe, mas os ânimos estão Marielle Franco em 2018 e o envolvi- mais que exaltados. mento do ministro do Meio Ambien“Antes as instituições não mexiam te, Ricardo Salles, com mineradoras em crimes e denúncias em andamene empresas de agrotóxicos. to, porque estavam pressionadas pela Mas o grande furo jornalístico veio opinião pública. É ingênuo acreditar em junho, com a publicação da Vaza que o jornalismo vai dar conta disso Jato. A partir de um enorme banco de tudo sozinho. Ele é um pontapé, a dados obtidos por meio de uma fonte gente abriu a caixa de pandora”, ponanônima, o site publicou uma série de tua Demori. Para o editor-executivo reportagens investigativas revelando do Intercept, mudar a opinião pública diálogos entre membros da Lava Jato já não é mais suficiente. Ele defende pelo aplicativo Telegram. As conver- que órgãos como o Supremo Tribusas apontam os abusos de poder co- nal Federal tomem medidas efetivas metidos por procuradores e juízes da a respeito das ilegalidades cometidas operação. A quase inabalável popula- pelos membros da Lava Jato. ridade de Sérgio Moro caiu dez pontos É caso de estudo compreender em um mês, segundo o Datafolha. na como a mesma imprensa que se nuépoca, Moro já era ministro da Justiça triu da Lava Jato virou parceira do e Segurança Pública de Jair Bolsonaro. Intercept. O repórter da Folha de Glenn Greenwald, editor, cofun- S.Paulo Ricardo Balthazar, ex-editor dador e colunista do site, foi um dos de política e economia, lembra que o primeiros a receber as mensagens ritmo em que os procuradores e juanônimas. “Fiquei chocado com o ízes, durante a Lava Jato, liberavam conteúdo, mas sabia que Sérgio Moro sigilos era frenético e isso impossibitinha uma [boa] imagem construída litava as redações de analisarem a sidurante cinco anos com apoio da mídia daqui”, Leandro Demori revelou aos presentes e Glenn Greenwald, em um evento no Larem coletiva na go São Francisco, em Faculdade de agosto de 2019. O ato Direito Largo São Francisco era em solidariedade a Greenwald, que desde a divulgação das mensagens, tornou-se alvo de hostilidades. A mais surreal delas partiu do também jornalista Augusto Nunes, veterano de redações, que durante uma entrevista no programa Pânico na rádio Jovem Pan, partiu para os sopapos contra o norte-americano. Nunes acusou-o de ter roubado os polêmicos materiais e questionou a legalidade da guarda de seus filhos com o deputado carioca David Miranda. Raras foram as vezes em que o jornalismo virou um
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LINGUAGEM
DO TEXTUAL AO
VISUAL
A jornada da comunicação através dos tempos revela os efeitos da tecnologia na forma como contamos e vamos contar nossa história POR ANA CAROLINA NAVARRO E EDUARDO NUNOMURA
SE DECIDIR LER ESTE TEXTO ATÉ O FIM, é importante que saiba que sua leitura levará em torno de 25 minutos. Nesse período, a internet terá registrado 1.500 horas de vídeos publicados no YouTube, 86,8 mil fotos postadas no Instagram e a circulação de 120 milhões de GIFs. Ótimo, obrigado por continuar aqui. A maioria teria preferido pegar o smartphone para procurar alguma coisa em meio a esse mar de informação. E, preferencialmente, algo imagético. Não é mais preciso ignorar o óbvio: o texto vem perdendo feio para áudios e vídeos no mundo da comunicação. Precisar de 13.651 caracteres (com espaços) para transmitir uma mensagem irrita muitos, sobretudo os mais jovens. Um meme é mais eficiente do que um “textão”, devem estar pensando. Um velho ditado, atribuído a Confúcio, afirma que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Como para um segundo de vídeo são necessárias, no mínimo, 25 imagens, então um story de oito segundos no Instagram equivaleria a mais de 200 mil palavras – algo em torno de um livro de 100 páginas. Exageros à parte, a supremacia do visual é um fenômeno que já acumula algumas décadas. No ano passado, 77% do tráfego da internet era para transmissão e consumo exclusivo de vídeos: 15% para textos (sites, e-mails e outros dados baseados em caracteres) e 3% para jogos online. Em 2005, ano em que a Cisco produziu o primei-
ro relatório Visual Networking Index, o compartilhamento de arquivos (que incluía músicas e filmes piratas) foi responsável por 68% dos dados que trafegaram pela rede mundial de computadores. Os textos correspondiam a 24% do total. Uma virada de jogo – afinal, desde a invenção da imprensa escrita, o texto ocupou a centralidade da comunicação humana. Nos primórdios dos computadores, a palavra escrita ganhou ainda mais força. Nos anos 1980, os que passavam a ter acesso a computadores pessoais poderiam se tornar potenciais publicadores de documentos impressos. A internet, ao contrário do que muitos podem imaginar, nasceu valorizando a força do texto. Os primeiros sites estavam longe de ter apelos visuais. Muitos usuários logo se tornaram blogueiros e podiam disparar e-mails ou escrever embrionários tuítes – obviamente, centenas ou milhares deles. Ligações telefônicas eram preteridas pelos SMS (short message service). O conteúdo é rei, dizia uma frase muito em voga no mundo da publicidade. Naqueles tempos iniciais da convergência digital, o conteúdo foi predominantemente textual. Então surgiram os celulares com câmeras. Logo em seguida, vieram os smartphones. E a internet acabou por se tornar um bem tão difuso quanto a eletricidade. Essa evolução tecnológica de telas, lentes e banda larga fez desabar
DA PIRATARIA AO STREAMING Como o tráfego da internet mudou do compartilhamento de arquivos para a transmissão de vídeos
Compartilhamento
Jogos
Textual
Audiovisual
Fonte: Cisco VNI 2005, 2012 e 2018
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“Até os anos 1950, a literatura tinha uma força incrível’’
a era textual. Ainda que seja prematuro, e até arriscado, utilizar a expressão “a morte do texto”, não é de todo errado pensar que estamos apenas no princípio de uma outra etapa da civilização. E ela é, como já foi nos primórdios, plenamente visual. A mídia contemporânea já se pauta mais pelo uso de imagens do que pela palavra escrita. Para o diretor da Faculdade Cásper Líbero, Welington Andrade, isso se deve ao fato de a dinâmica social vigente nas mídias digitais exigir uma linguagem simplificada: “Se dizia que com o e-mail o jovem escreveria muito mais e melhor. E isso não necessariamente acontece. São mensagens muito mais curtas baseadas em rápida visualização. As normas sociais hoje pedem que tudo seja rápido, instantâneo”. Doutor em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo, Andrade retoma o gramático Evanildo Bechara, que propõe dois padrões de conduta para a comunicação: a linguagem veicular, que transmite conteúdos imediatos e informações cotidianas, e a linguagem de consciência, que registra conteúdos complexos da experiência humana. A cultura moderna tem cada vez mais planificado os conteúdos e levado os discursos veiculares a lugares sociais onde antes predominava a linguagem de consciência, como no ambiente acadêmico, científico e artístico. “Esses chamados conteúdos de consciência são fundamentais para criar criticidade na sociedade. A literatura e as ciências sociais têm que ser complexas, do contrário você planifica tudo e o mundo só veicula informações”, explica o diretor da Faculdade. “Acho que essa velocidade da informação e da troca de mensagens e de notícias, que é instantânea, se deve à tecnologia. Mas a literatura já tinha perdido sua centralidade
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para a televisão a partir dos anos sessenta, setenta. Até os anos 1950, a literatura tinha uma força incrível”, afirma à CÁSPER Milton Hatoum, um dos principais escritores brasileiros contemporâneos. Cioso da importância do texto – fato evidenciado nas 16 versões manuscritas de seu primeiro livro, Dois Irmãos (Companhia das Letras, 2000) –, Hatoum afirma que a boa narrativa exige algo que as pessoas parecem não estar mais dispondo. “Essa falta de tempo tira a predisposição que o leitor teria para encarar um romance mais complexo. É por isso que os best-sellers são livros muito fáceis, assim como os thrillers, pseudo-romances, receitas de bem viver.’’ Ter um mundo cada vez mais visual é, admitamos, mais divertido. Quando as pessoas puderam apontar suas câmeras para qualquer direção, a transformação parecia pequena. Eram álbuns e mais álbuns de fotos familiares e com os amigos se acumulando dentro dos aparelhos celulares. Facebook, Flickr, Google e hoje, o Instagram, descobriram que podiam colaborar para esse tipo de armazenamento de dados. Os conteúdos e, por tabela, a história, de alguma forma, precisavam ser preservados. E, como a tecnologia parece estar sempre disposta a nos oferecer mais, mesmo não sendo necessário, aplicativos como Snapchat e Vine surgiram com a ideia de que o mundo era instantâneo demais para precisarmos salvar esses conteúdos corriqueiros. O efêmero virou moeda corrente. Em 24 horas, tudo poderia desaparecer. Essa lógica não só vingou como foi incorporada nos stories do Instagram, Facebook e WhatsApp. Na cultura visual que transforma as relações humanas, nem tudo ficará para a posteridade. Se antes a comunicação era feita por textos, hoje ela pode
ser apenas baseada em áudios e vídeos. E isso tem mudado a linguagem social, traduzida em GIFs, emojis, memes, transmissões ao vivo e figurinhas. A ORALIDADE é um conceito importante nos estudos da comunicação. Autores como Marshall McLuhan examinaram os impactos sociais produzidos pelas inovações tecnológicas na escrita, impressão e distribuição de conteúdos. A comunicação, quando se tornou textual, ajudou a construir uma história da humanidade muito mais rapidamente do que aquela que não pode ser preservada. Sociedades puramente orais não tinham a capacidade de armazenar tão facilmente o conhecimento. “No sentido da agregação de informações, a gramática ou a lógica das novas mídias se opõe totalmente à da sociedade oral”, afirma o cineasta israelense Oren Soffer, no artigo The Oral Paradigm and Snapchat. O filósofo alemão Walter Benjamin, um dos maiores pensadores da comunicação, compreende a linguagem para além de uma mera transmissão de dados da realidade. No ensaio O Narrador, o teórico defende que, para ser transmitida e absorvida, é necessário que a linguagem se transfigure numa rede de relações entre conhecimento e experiência por meio da narração. A narrativa enriquece
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a linguagem, mas na era da tecnologia e do culto à rapidez e a simplificação, a informação pura tem sido privilegiada. No contexto de valorização de uma mensagem simplificada e rápida, a linguagem se planifica. Para Welington Andrade, a tendência é a de que tanto textos quanto imagens se tornem mais hiper informativos. A fotógrafa Simonetta Persichetti, professora de fotojornalismo da Cásper Líbero, reitera que ao lermos de forma superficial textos cada vez menores e imagens cada vez mais óbvias, a capacidade de contemplação e reflexão se perdem: “Se eu não reflito, não consigo nem ser a favor e nem contra aquilo que eu estou vendo, só recebo”. A docente, que coordena o grupo de pesquisa Comunicação, Cultura e Visualidades na Cásper, afirma que a interpretação de uma imagem é muito direcionada pelo texto ou pela legenda que a acompanha, e nesse sentido, o jornalismo atual tem prestado um desserviço. Para ela, é preciso que ambas as linguagens se complementem, e a imagética tem sido empregada de forma redundante. As fotos que circulam na imprensa e nas mídias sociais são apenas expressões literais do texto, quando não um sensacionalismo puro: “As fotos nas redes são feitas para terem uma leitura rápida pelo celular. São ‘foto-choques’ ineficientes para a compreensão do que acontece no mundo”. A emblemática foto do levante chileno que viralizou nas redes sociais em novembro ajuda a compreender a importância do contexto de uma imagem: ao pôr do sol, um grupo de pessoas sacode a bandeira do Chile, compondo um belo retrato. Mas sozinho não permite a compreensão dos fatos. “Uma fotografia é sempre um recorte feito num milésimo de segundo. Existe um antes e um depois, ela não é um momento único. Existe uma edição, uma intencionalidade e uma construção de discurso”, justifica Persichetti. Essa forma de linguagem cria um contato imediato com o espectador. Não é como um texto, que exige parar para decodificar o símbolo. A leitura da imagem chega imediatamente.
“Uma fotografia é sempre um recorte feito num milésimo de segundo” CÁSPER
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“A imagem precisa de uma ancoragem verbal” ARTE: ANA CAROLINA NAVARRO
Há três anos, o New York Times publicou uma história em 360 graus que transporta o leitor para dentro do front de batalha no Iraque. As longas descrições da cena se tornam desnecessárias. Mas a reportagem Fight for Fallujah, embora tenha tido mais de 3,6 milhões de visualizações, disputa a atenção com uma infinidade de outros conteúdos audiovisuais. Não passa, assim, de uma agulha em um palheiro. Para Simonetta Persichetti, não vivemos na era da supremacia da imagem, mas ela reconhece que a maior parte das informações que circulam em nosso dia a dia seja do campo imagético. “Se a gente vivesse numa sociedade da imagem, poderíamos prescindir do texto, mas para entender a imagem a gente precisa de uma ancoragem verbal”, explica. JOVENS NASCIDOS ENTRE 1995 E 2012 compõem a chamada geração Z. Como sendo a primeira de nativos digitais, eles não só têm acesso mais fácil à informação como querem e sabem consumi-la de forma imediata. No meio publicitário, já se diz que se você não souber se comunicar com uma grande imagem e cinco palavras, não conquistará a geração Z. Com a capacidade de atenção diminuindo, sem que se possa apontar um agente único
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causador desse fenômeno, é compreensível que o audiovisual se sobressaia em relação ao texto. Assim, os jovens não só preferem as imagens, estáticas ou em movimento, como realizam multitarefas em várias telas (conte quantas abas estão abertas agora no navegador do seu celular). Os millennials, que vieram antes, se comunicavam em duas telas e por texto. A linguista Luciani Ester explica que a linguagem humana é representada por meio de diferentes suportes, a depender do desenvolvimento tecnológico. Professora da Universidade Estadual Paulista, ela define o “internetês” como o registro linguístico difundido nos espaços digitais como blogs e redes sociais, que se distancia da norma culta da língua ao fazer uso de abreviações e aproximar a escrita ao registro oral. “A internet favorece múltiplas possibilidades de comunicação humana que são inovadoras porque estão assentadas em novas tecnologias”, diz. A humanidade vive um período de integração tecnológica que inaugura uma nova fase da linguagem, emblematicamente representada por memes e figurinhas, que não devem durar para sempre. “Como todas as formas de comunicação, essa cultura também será alterada e poderá desaparecer até o final deste mesmo século. Vivemos em constante mudanças.”
No coemço dos aons 2000, criuclou uma iamegm na itnrenet de um txeto tdoo embraalahdo, cmoo etse, e anida asism era posívsel lê-lo nromlaenmte. Isso porque nosso cérebro vê essas palavras não como um conjunto de letras sequenciais, mas como uma imagem única. Esse sistema opera de forma semelhante no caso das imagens que são bombardeadas cotidianamente, inclusive nos smartphones. Porém, o ser humano é dotado da incrível capacidade de identificar cada uma delas em apenas 13 milissegundos, conforme descobriu Mary Potter, pesquisadora do MIT, nos Estados Unidos. Os homens das cavernas, mesmo não dominando a linguagem oral, eram capazes de se comunicar por meio de pinturas rupestres. Eles faziam inscrições – que hoje seriam chamadas de infográficos – narrando perfeitos storytellings. Havia desde o número de caças e armas utilizadas até a forma como os animais eram abatidos. Se inimigos entrassem em uma dessas cavernas teriam uma boa ideia, por meio dessas ilustrações, de quem era o dono do pedaço. Naquele tempo, e hoje também, o con-
texto das imagens, novas ou não, é o que faz com que o cérebro seja capaz de compreender a mensagem que se quer passar. E daí compreendemos por que a remixagem, um conceito definido por Henry Jenkins como a reutilização de uma mesma imagem diversas vezes recriando novos significados, virou uma febre na internet. A professora de português Viviani Xanthakhos dá aulas desde 2006 e há 7 anos corrige redações em cursinhos de São Paulo. Na sua experiência, ela considera que os estudantes estão escrevendo cada vez melhor, mesmo estando mais conectados com um mundo predominantemente visual. Ainda que haja erros de português, o repertório da escrita teve melhorias. “Há espaço para todas as formas de linguagem. A internet não favorece um aprofundamento textual, é um espaço de leitura rápida. Mas não quer dizer que essa leitura dinâmica não seja necessária”, conta a professora. Segundo ela, novas mídias não devem ser vistas como inimigas da alfabetização, mas como complementares, afinal um cidadão ideal deve ser capaz de interpretar linguagem híbridas. @
“Há espaço para todas as formas de linguagem”
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L I T E R AT U R A
NÁDIA TAMANAHA A jornalista largou o emprego e recomenda livros para 22,5 mil seguidores
PEDRO PACÍFICO O advogado criou um perfil para incentivar a leitura. Tem hoje 130 mil seguidores
ALLÊ BARBOSA O músico e escritor, com quase 300 mil seguidores, acaba de lançar seu primeiro livro
O QUE ELES INDICAM
Influenciadores se destacam ao divulgar autores e livros por meio do Instagram, chamando a atenção das editoras POR STEPHANIE MANCHADO*
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LISTAS DE BEST-SELLERS e obras recomendadas em seções de cultura de jornais e revistas já não são mais tão influentes. Leitores querem saber das últimas novidades no mundo dos livros por meio dos bookgrammers – influenciadores digitais que compartilham conteúdo sobre literatura no Instagram. As dicas de leitura migraram, em questão de cliques, para posts e stories das páginas desses comunicadores. E tudo porque os seguidores têm se identificado com indicações de “pessoas comuns”, que mostram seus hábitos e suas rotinas, indicando livros e contando mais sobre histórias que podem ser também interessantes para eles. De tanto ler postagens sobre literatura, o tema virou assunto do dia a dia de Pedro Pacífico. E era justamente o pontapé que esse advogado de 26 anos precisava. Quando criou o perfil @book.ster, Pacífico pensava na experiência de recomendar livros. Queria, de alguma forma, incentivar seus seguidores a lerem. “As pessoas se identificam com o fato de eu ser um leitor comum, que não estudou Letras ou que trabalhe no mercado editorial, e pensam: ‘Se ele está lendo isso, eu também posso ler’”, arrisca o agora influenciador, até o momento com 130 mil seguidores. Essa nova tendência de divulgação de livros logo chamou a atenção de editoras do País interessadas em um potencial mercado. A Companhia das Letras e o Grupo Editorial Record se tornaram parceiros de Pedro Pacífico e Nádia Tamanaha. Ela foi outra influenciadora que entrou no radar das grandes editoras. Jornalista de 32 anos, Tamanaha decidiu largar o emprego fixo e investir em sua página @namanita, que tem mais de 22,5 mil seguidores. A estratégia de divulgação tem dado certo porque o público gosta de acompanhar a rotina de suas referências pelo Instagram. E, entre um perfil e outro, os leitores conseguem perceber quais são aqueles que mais se encaixam ao seu estilo de leitura. Diferentemente de ler uma rese-
nha em um jornal, os posts no Instagram romperam a barreira invisível que se erguia entre críticos literários e público. O compartilhamento de informações na rede social faz com que os seguidores se sintam amigos dos influenciadores. Chegam a trocar mensagens, enviam sugestões e dividem experiências. Por não serem especialistas em literatura, a abordagem feita pelos bookgrammers pode não ser tão profunda. E não há um embasamento teórico para as críticas e os comentários, o que pode, em alguns momentos, tornar a análise dos livros mais superficial, formada apenas por opiniões. “Vejo meus seguidores como pessoas que gostam das mesmas coisas que eu, possibilitando trocar ideias, conversar e compartilhar dicas. Essa parte da interação é uma das minhas preferidas e fico muito feliz de ter estabelecido essa troca com as pessoas”, completa. Em uma postagem, por exemplo, ela dá dicas de como adquirir o hábito de leitura: “Leia todos os dias, crie uma meta diária e se esforce para cumpri-la. Não precisa ser nada megalomaníaco! Aliás, é importante que ela seja condizente com sua rotina, senão só irá trazer frustrações”. ALGUNS BOOKGRAMMERS utilizam-se de desafios e brincadeiras com os seguidores para aumentar o engajamento. Recebem, muitas vezes, kits das editoras para sortearem entre o público – uma forma de marketing em franca ascensão. São tarefas simples, como o desafio de ler um número de páginas por dia ou definir uma lista de livros a serem lidos durante um ano. No YouTube, onde essa onda chegou antes. Alguns booktubers cobravam de 2 a 5 mil reais para divulgar um livro. Cobrando ou não, eles se tornaram uma peça importante dentro das estratégias de divulgação das editoras num mercado que depende de empurrões. Este relacionamento cada vez intenso e próximo entre os influenciadores e seguidores tem transformado também a vida de produtores de
conteúdo autoral. Allê Barbosa (cujo perfil @allebarbosza tem 298 mil seguidores), músico, compositor e escritor, e sempre gostou de escrever. Mas foi por meio do Instagram que suas frases e seus pequenos textos foram ganhando espaço. A rede social impulsionou Barbosa a publicar o livro Quando você for sua em 2019. “Aos 42 anos de idade, lancei meu primeiro livro e duvido muito que eu pare nele”, alegra-se. Ao analisar o conteúdo literário na rede social e a interação existente entre “criador”, “criatura” e espectador, é possível perceber que o meio digital impulsiona – e não desincentiva – a leitura. “Ninguém fala sobre o livro que está lendo, nem pergunta para a pessoa que senta ao seu lado no trabalho qual foi o último livro que leu. Então, é preciso reinserir esse tema no nosso dia a dia”, justifica Pacífico. Para Pacífico, Tamanaha e Barbosa, o feedback e as mensagens dos seguidores são essenciais. Tamanaha comenta que a interação retroalimenta os próprios influenciadores. Não é incomum que um seguidor conte sobre um livro e o bookgrammer sinta-se tentado a lê-lo. A comunicação passa a ser uma troca de experiências e não mais uma voz especialista que conversa em mão única. Sentir-se parte da história é fundamental para os seguidores e humaniza a literatura. @
* Stephanie Manchado é jornalista e aluna da pósgraduação lato sensu em Jornalismo da Cásper Líbero
“Vejo meus seguidores como pessoas que gostam das mesmas coisas que eu” NÁDIA TAMANAHA
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J O R N A L I S M O C O M U N I TÁ R I O
EM PRIMEIRA PESSOA
Coletivos de comunicação trazem protagonismo para comunidades periféricas ao retratar suas realidades e lutar por visibilidade POR LARISSA BASILIO E THIAGO BIO
ALMA PRETA, CONTATO, Énois, Perifacon, Agência Mural, Periferia em Movimento e Voz das Comunidades. Representantes das novas vozes do jornalismo brasileiro, esses grupos têm mais coisa em comum: são coletivos que realizam ações locais para ampliar a visibilidade das suas comunidades. Lutam, e a palavra é essa, para criar espaços midiáticos para setores sociais marginalizados. A escola e agência de jornalismo Énois começou em 2009 a partir de
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um projeto no Parque Santo Antônio. Por causa do alto índice de homicídios, o bairro e os vizinhos Capão Redondo e Jardim Ângela, na zona sul paulistana, faziam parte do “triângulo da morte”, como eram chamados os maiores veículos de comunicação se referiam a eles. Os cinco finais de semana de oficina na ONG Casa do Zezinho se tornaram cinco meses para os integrantes da Énois. Poucos jovens apareceram no primeiro dia, mas logo o grupo cresceu para 30. O
resultado das atividades foi uma revista colorida de 16 páginas. “A gente percebeu ali que existia uma demanda por fazer jornalismo naquele território, eles queriam falar e se sentiam muito pouco representados pela imprensa”, explica Amanda Rahra, jornalista e cofundadora da Énois com a também jornalista Nina Weingrill. Hoje o coletivo está presente no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e no Recife. A oficina se tornou tão referencial que já é reconhecida pelo
DIVULGAÇÃO / ÉNOIS
A Escola de Jornalismo seleciona dez jovens de periferias que tenham interesse por comunicação. Eles recebem uma bolsa-auxílio e têm de publicar uma reportagem coletivamente a cada três meses
“Eles queriam falar e se sentiam muito pouco representados pela imprensa” AMANDA RAHRA
nas redações, criando uma cobertura mais próxima da realidade nacional. “Veículos das periferias também distribuem o que a gente faz. A gente dialoga muito com a rede de jornalistas das periferias”, diz.
Fundo Municipal da Criança e do Adolescente e por essa razão recebe financiamento público previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. A Énois recorre a leis de incentivo (Rouanet e Proac) para imprimir o guia gastronômico Prato Firmeza, um roteiro de onde comer bem nas periferias paulistanas. Mais do que produzir conteúdo, o coletivo aposta na formação de novos comunicadores. A Escola de Jornalismo da Énois seleciona dez jovens
de periferia – com renda de até três salários mínimos – para um curso de um ano no qual recebem uma bolsa de 600 reais e publicam uma reportagem coletiva a cada três meses. Entre os veículos parceiros estão BBC, CBN, Folha de S.Paulo, Huffington Post, Intercept, The Guardian e UOL. “Muitos dos jovens, depois da formação, acabam indo trabalhar nesses lugares”, conta Rahra. A contribuição dessa escola é enorme para reduzir a falta de diversidade
O TERMO “PERIFERIA” adotado pelos jornalistas da Énois e por outros grupos de comunicação comunitária – produzida nos bairros a partir da propriedade coletiva e da inserção dos moradores locais – refere-se a lugares afastados por diferenças sociais, econômicas, geográficas e de mobilidade, emprego e lazer. “Quando se fala em periferia, não há como dizer uma coisa apenas. Fazer essa definição não é algo tão simples”, adverte Cíntia Gomes, cofundadora e editora da Agência Mural, outro projeto que também começou como uma oficina, em 2010. Estudantes de jornalismo se reuniram num curso promovido pela Folha de S.Paulo sobre Jornalismo Cidadão para produzir reportagens locais. “Nós líamos jornais para tentar identificar o que encontrávamos sobre os nossos bairros e víamos que era mais violência”, conta. Os conteúdos da oficina ganharam espaço na Folha, que apadrinhou o projeto até 2015, quando se tornou um conglomerado independente
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de 87 correspondentes que moram em bairros afastados de São Paulo. “Acreditamos que há histórias que só quem vive pode contar”, analisa a editora Gomes. Os “muralistas” se reúnem uma vez por mês num pequeno sobrado na Vila Mariana para definir pautas e discutir estratégias de comunicação. As produções são veiculadas na Folha, na rede de jornalistas Global Voices, na rádio CBN e no canal de televisão Band – todos parceiros da agência, que também tem ações com veículos internacionais. Outra agência comunitária que alcançou projeção internacional é a ONG mineira Contato. Além de dez jornalistas fixos, possui colaboradores e instituições parceiras em mais de 15 países da África, América Latina e Europa. Desde sua fundação em Belo Horizonte há 19 anos, a Contato capacita os jovens, promovendo o diálogo entre eles, artistas e produtores do audiovisual e da música. “O que a gente tenta traduzir nessas ações é consolidar dentro das comunidades núcleos de pessoas que possam, por meio da sua própria voz, contar suas histórias”, explica o coordenador
Helder Quiroga. Os recursos para colocar as ações de pé chegam por meio de projetos de lei de incentivo ou de convênios. NA PRIMEIRA CONVENÇÃO NERD das periferias, a Perifacon, era quase certo que tudo podia dar errado. Mas deu muito certo. Em março de 2019, na Fábrica de Cultura do Capão Redondo sete jovens viram seu sonho de serem representados se tornar realidade. Ao contrário da exclusão de eventos como Comic Con Experience (CCXP) e Brasil Game Show (BGS), por causa da distância, do valor dos ingressos, do público e até dos preços da praça de alimentação, na Perifacon a entrada era gratuita. A relações públicas Luíze Tavares é uma das fundadoras da Perifacon e conta que o evento só foi possível por causa da internet. Oito mil reais foram arrecadados na plataforma de financiamento coletivo Catarse para a realização da conferência, que teve a maior parte da divulgação pelas redes sociais. O evento no Facebook tinha 5,2 mil perfis interessados e, segundo
estimativas do grupo, quatro mil pessoas compareceram. “Se não fossem nós, alguém iria lá criar”, comenta Tavares sobre a demanda para esse tipo de evento nas periferias. A Perifacon também virou podcast em setembro de 2019 e já tem data e local marcados para uma segunda edição: 11 e 12 de abril de 2020, no Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes, na zona leste. A casperiana Luiza Giovancarli, mestra em Estudos Culturais pela Universidade de São Paulo, se interessou por essa forma de jornalismo após ser convidada para participar do Jornal da Várzea, do Jardim Pantanal, no extremo leste paulista. A publicação procurava uma forma de retratar as realidades positivas do bairro, e não apenas a violência. A pesquisadora comenta que é essa a função da comunicação comunitária: além de informar e diminuir desertos de notícias (áreas sem cobertura de assuntos locais), esses coletivos querem tirar a visão distorcida de suas comunidades e disputar espaço com grandes veículos que pouco representam suas opiniões e vivências. @
DIVULGAÇÃO / AGÊNCIA MURAL
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Atualmente, o principal financiador da Agência Mural é a Open Society. Na prática, isso significa que os conteúdos produzidos pelos “muralistas” são remunerados
ANDERS RINALDI
A 2ª edição da Perifacon acontecerá nos dias 11 e 12 de abril de 2020, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT)
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SEM INTERMEDIÁRIOS Pense em um anúncio de produtos de uma empresa de artigos esportivos em um blog sobre futebol. Um caminho natural seria comprar um banner no Google Ads ou no Facebook Ads. O blockchain acaba com essa intermediação, inclusive na venda de espaços de mídia digital.
BRAND-SAFETY NO CENTRO O blockchain representa uma alternativa para solucionar o problema das fraudes online, porque inibe a ação de anúncios falsos e as visualizações por robôs. Isso garante a entrega da mensagem para a audiência certa. A saúde da marca agradece.
COM CRIPTOMOEDAS Essa tecnologia permite ainda negociar mídia digital com moedas digitais, as criptomoedas. Isso simplifica a relação com clientes e fornecedores de outros países, já que evita problemas comuns em transações entre bancos internacionais.
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FEITO À MÃO AMANDA FRANCO
:: INOVAÇÃO :: Entenda a tecnologia e como essa plataforma de registros pode trazer inovação e resultados estratégicos no mercado de publicidade O blockchain é uma base de dados distribuída, formada por blocos de registros à prova de violação. Cada bloco opera como elos acrescidos um a um até formarem uma grande cor-
rente. Nessa cadeia de blocos, é possível armazenar uma série ilimitada de informações e elas serão sempre rastreáveis. No marketing, a tecnologia já tem sido utilizada para fidelizar os con-
sumidores, prevenir fraudes nas negociações, validar a estratégia de e-mail marketing e medir o engajamento das campanhas. E as métricas são100% confiáveis. (Renan Lima)
LIVRE DO ROBÔS O blockchain tem uma grande capacidade de inibir, em peças publicitárias, a ação de bots. Nada de “robôs” simulando que visualizaram a campanha. A tecnologia blockchain garante que as interações em anúncios serão de e com perfis de pessoas reais.
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I N O VA Ç Ã O
POR ANA CAROLINA NAVARRO E RENAN LIMA
PENSAR SOBRE OS DIAS QUE VIRAO SEMPRE FASCINOU A HUMANIDADE. HOJE, MAIS DO QUE CURIOSIDADE, ESTUDAR E ANTECIPAR TENDENCIAS SE TORNARAM VITAIS PARA SOBREVIVER NO MERCADO E PRATICAR COMUNICAÇÃO. ENTENDA COMO O TRABALHO DE QUEM PENSA O FUTURO PROFISSIONALMENTE JÁ IMPACTA SUAS ESCOLHAS.
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É UM JANTAR DE UMA FAMÍLIA COMUM: a avó prepara a refeição colocando uma pequena pizza desidratada em um forno e retirando-a segundos depois, suculenta e pronta para o consumo. Enquanto serve a mesa os netos estão entretidos com seus óculos de realidade virtual. O pai recebe uma videochamada de um colega de trabalho e se retira da cozinha para atender à ligação em uma grande tevê de tela plana. Era uma proposta de negócio que resolveria todos os seus problemas financeiros. Ele aceita e faz uma transação ilegal com seu cartão. Finalizada a conferência, uma outra é conectada em seguida. Era seu chefe, que monitorava a transmissão e o demite. Por fax. A cena do clássico De Volta para o Futuro 2 (1989) projeta como seria a vida no – ainda distante à época – ano de 2015. Embora se trate de uma obra hollywoodiana, o jantar da família Mcfly é resultado do trabalho de pessoas que pensaram sobre um tempo à frente do seu. Trinta anos após o lançamento do filme, não só os roteiristas exploram comercialmente essas projeções. Há um grupo de pessoas dedicado a investigar o que está por vir. Mas no lugar do humor e da fantasia, existe pesquisa e método. O campo de Future Studies (ou Estudos do Futuro, em tradução livre) ainda não possui escopo nem nomenclatura unânimes e é composto por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Eles baseiam suas previsões em materiais que vão desde inovações tecnológicas, pesquisas de mercado, análises sociológicas, até obras de ficção científica. Em comum, nutrem a paixão por identificar novas tendências e comportamentos a fim de compreender para onde está caminhando a civilização humana — e fazer disso um trabalho. Mas, afinal, é possível estudar o futuro? Se essa pergunta fosse feita ao alemão Ossip K. Flechtheim, sua resposta seria afirmativa. Isso porque ele foi um dos primeiros a discutir a necessidade de uma definição que abarcasse o tratamento crítico e sistemático de questões referentes ao futuro. Em 1943, ele cunhou o termo “futurologia”, definindo-o como a ciência que “aborda o destino da Humanidade, o futuro da sociedade e o amanhã da cultura”. Outros autores e profissionais optam pela palavra “futurismo”, que afasta o sufixo logia, de estudo, e se aproxima da lógica comercial de mercado. Mas este segundo termo pode ser confundido também com um movimento artístico e literário do início do século 20, cujos adeptos rejeitavam o passado e exaltavam o crescente urbanismo e a vertiginosa velocidade com que surgiam inovações tecnológicas. “Todo exercício que fala de futuro está falando, na verdade, sobre o presente. Não faz muita diferença se você pratica futurismo, futurologia, análise de tendência ou planejamento estratégico. Todos são tentativas de extrapolar o presente e olhar para o que pode acontecer”, explica à CÁSPER Michell Zappa, CEO da Envisioning, consultoria especializada em análise de tecnologias emergen-
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FALANDO A LINGUA DO FUTURO OS ESTUDOS DO FUTURO INTRODUZIRAM UMA SÉRIE DE NOVOS CONCEITOS E PRÁTICAS DE MERCADO. CONHEÇA AGORA ALGUMAS DELAS: FUTUROLOGIA OSSIP K. FLECHTHEIM CRIOU O TERMO EM 1943 DEFININDO-A COMO A DISCIPLINA QUE ESTUDA O “DESTINO DA HUMANIDADE, O FUTURO DA SOCIEDADE E O DO AMANHÃ DA CULTURA” COOL HUNTING É A FUNÇÃO DESEMPENHADA PELO PROFISSIONAL QUE PESQUISA E OBSERVA (“CAÇA”) COMPORTAMENTOS E MODISMOS QUE TOMARÃO CONTA DA CULTURA DE MASSA NO FUTURO TREND FORECASTING EM TRADUÇÃO LITERAL, PREVISÃO DE TENDÊNCIAS. A PRÁTICA ANALISA MOVIMENTAÇÕES DE MERCADO E HISTÓRICOS DE VENDAS PARA DETERMINAR POSSÍVEIS TENDÊNCIAS FICÇÃO CIENTÍFICA GÊNERO ARTÍSTICO BASEADO NA ESPECULAÇÃO DE AVANÇOS CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE. É VISTA COMO FERRAMENTA DE PESQUISA PARA FUTURÓLOGOS
tes. Para ele, a tecnologia é a indústria que mais impacta a sociedade, porque afeta diversos aspectos da experiência humana, como religião, comunicação, processos de tomada de decisão e até a forma como nos relacionamos. Basta refletir sobre sua vida cotidiana, observar quantos gadgets o cercam e pensar quanto tempo faz que nós, humanos, vivemos com e para eles. Autores como Nicholas Carr (em um viés negativo), Enrique Dans (positivo) e Manuel Castells ou Henry Jenkins (neutros) já refletiram sobre essa figura do Homo tecnologicus. A tecnologia é tão vasta e evolui tão rápido que não há um único lugar que meça, compare e avalie todos os seus aspectos. MIT Technology Review, Singularity Hub e Futurism são apenas alguns portais que abordam o tema da inovação. Em 2009, o Singularity Hub foi pioneiro ao levantar o debate de que jornalistas profissionais talvez fossem substituídos por robôs em um futuro não tão distante. À época, um programa de computador desenvolvido pelo laboratório de inteligência da infor-
a tecnologia de maneira quantitativa e não apenas descritiva. “Olhamos as tecnologias do presente e analisamos a velocidade com que elas estão se manifestando, o tempo que levarão para tomar certas proporções e tentamos antecipar as consequências da sua entrada na sociedade”, explica Zappa. Para tanto, as análises da empresa adotam uma ferramenta de mensuração desenvolvida pela Agência Espacial Americana (Nasa), o Technology Readiness Level (em tradução livre, Nível de Prontidão Tecnológica), que afere o grau de desenvolvimento necessário para uma tecnologia ir a mercado.
Acima, a futuróloga e casperiana Lidia Zuin, que defende que olhar para o futuro é pensar também no que fazemos hoje. Abaixo, o Festival Path em São Paulo, um dos maiores encontros sobre inovação do País.
mação da Northwestern University, em Illinois, escrevia matérias textos partidas de beisebol. O programa analisava as estatísticas de um determinado jogo e, a partir delas, escrevia uma descrição lance-a-lance, ou seja, sem levar em conta eventos inesperados ou detalhes sutis. Dez anos depois, ferramentas similares já são usadas amplamente em grandes veículos da mídia internacional, como Associated Press e The Guardian. Aproximadamente um terço de todo conteúdo produzido pela Bloomberg News, empresa e agência de notícias de tecnologia e dados para o mercado financeiro, utiliza alguma forma de jornalismo automatizado. Consultorias como a Envisioning propõem abordar
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL já permeia desde ferramentas de atendimento ao cliente baseada em interação com chatbots até anúncios publicitários de mídia out of home, distribuídos em telas com leitura de reações em tempo real. No ano passado, pesquisadores da Universidade da Califórnia criaram uma tecnologia que capta ondas cerebrais a partir de memórias. Acredita-se que ela poderá substituir os retratos falados. Esse exemplo de interação homem-máquina representa um avanço da chamada computação cognitiva. Tiago Mattos, um dos principais futuristas brasileiros e o único sul-americano a lecionar na Singularity University, escola do Vale do Silício criada em parceria do Google com a Nasa e referência mundial na área, já declarou não ter dúvidas de que a inteligência artificial irá ultrapassar a humana completamente: “Mas isso não ocorrerá tão cedo. O que temos até o momento são alguns ambientes em que ela entrega resultados de forma mais rápida e mais efetiva que nosso cérebro orgânico”, disse em entrevista à IstoÉ. Vivemos hoje o que alguns especialistas chamam de era pós-digital, em que a tecnologia é tão onipresente que sequer a percebemos como um agente externo e apenas damos falta dela quando não está mais lá. Para os futurólogos, estamos ainda à beira da Revolução GNR, caracterizada pelos avanços científicos nas áreas de genética, nanotecnologia e robótica. As mudanças que vêm sendo impostas ao nosso cotidiano têm levantado mais incertezas do que segurança, e o anseio social por respostas em meio a um ambiente cada vez mais imprevisível faz com que muitas pessoas sintam a ne-
“todo exercício que fala de futuro está falando na verdade sobre o presente” michell zappa CÁSPER
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cessidade de se reunir para discutir sobre o que está por vir. O maior exemplo disso é a conferência South by Southwest (SXSW), fundada em 1987, na cidade americana de Austin, no Texas. Ela, que reúne palestras, oficinas, premiações profissionais, exibições de arte e apresentações musicais, e é hoje referência global em inovação. A edição de 2019 durou dez dias e recebeu o recorde de 80 mil visitantes. A SXSW é como uma meca para aqueles que buscam debater tendências e pensar sobre o futuro. Um modelo que é exportado inclusive para o Brasil, como acontece no Festival Path. Rafael Vettori, idealizador do evento tupiniquim, sentiu que era possível estender esse sentimento a outras pessoas quando foi ao SXSW pela primeira vez. Hoje, o Path é um dos mais importantes encontros de inovação do País e chegou a reunir 65 mil visitantes na edição do ano passado. No Brasil, a última década presenciou o nascimento de conferências como o Path, Campus Party, WHOW!, Innovation Week e Rio Creative Conference. E não é algo restrito às grandes capitais. O festival Hacktown acontece em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, desde sua primeira edição, em 2016. Apesar de pequena, a cidade é lar de mais de 150 empresas de tecnologia e startups, e isso – somado a viagem ao SXSW –, inspirou Ralph Petcov e seu sócio Carlos Henrique Vilela a fundarem no interior mineiro uma nova conferência de inovação. Com quatro dias e 600 atividades entre oficinas, palestras e showcases, a 5ª Hacktown mobilizou 6 mil pessoas, dez vezes mais que a primeira edição. Para Petcov, o aumento exponencial do público se deve à democratização dos temas de inovação. “Hoje é algo mais aberto, ao alcance de qualquer um e não somente nas mãos das agências de publicidade”, diz. Pesquisa de mercado e mapeamento de tendências não
são uma novidade no universo da comunicação. Empresas como Euromonitor e WGSN operam desde a década de 1980 com análises encomendadas a peso de ouro por clientes e outras de iniciativa própria. Elas ganharam notoriedade observando comportamentos do público jovem e analisando dados de mercado. E deram certo. Hoje, a WGSN atua em todo o mundo atendendo a mais de 6,5 mil empresas. Sergei Epof, diretor-executivo de marketing da Panasonic no Brasil, explica os motivos de a empresa contratar o pacote da WGSN. “A atenção da companhia a tendências globais e regionais é fundamental para que a entrega aos consumidores seja relevante e uma resposta às necessidades das pessoas no dia a dia”, diz. Dados e informações sobre comportamento dos consumidores, direcionamentos e tendências para o futuro são utilizados também com o objetivo de explorar um novo segmento de mercado ou novo país, afirma Epof. AS CONSULTORIAS DE FUTURO se tornaram um importante ator do mercado de comunicação, atendendo tanto empresas quanto outras agências. Elas não só alimentam a criatividade como buscam tendências de mercado. Previsão de demanda, experiência do consumidor e até cores de produtos que serão preteridas na próxima temporada surgem a partir desses estudos. Precursora deste universo no cenário brasileiro, a Box1824 fez história em 2004 com uma pesquisa que culminou no desenvolvimento do Olympikus Tube, um calçado para prática esportiva. O método, pouco ortodoxo para a época, de reunir um grupo de jovens de 18 a 24 anos – inclusive os próprios mediadores – para debater o que queriam de um tênis fez nascer o produto mais vendido até hoje no portfólio da marca. Obras de ficção científica também são fontes de inspi-
PREVISOES PARA O FUTURO DA COMUNIÇAO
1.
A CÁSPER PERGUNTOU A FUTURÓLOGOS QUAIS AS PRINCIPAIS INOVAÇÕES QUE IRÃO IMPACTAR O MERCADO DE COMUNICAÇÃO NOS PRÓXIMOS ANOS. CONFIRA AS TENDÊNCIAS APONTADAS POR ELES:
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIOS E AUDIÇÃO DE TEXTOS
FERRAMENTAS COMO GOOGLE DOCS (COM TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIOS) E TRANSLATE (QUE LÊ TEXTOS CURTOS) SE TORNARÃO AINDA MAIS FREQUENTES PARA OS COMUNICÓLOGOS.
2.
MICRO-CÂMERAS
3.
IMPRESSORAS 3D
AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE JÁ TESTAM A FUNCIONALIDADE DE NOVOS PRODUTOS POR MEIO DESSAS MÁQUINAS QUE MATERIALIZAM PROTÓTIPOS. NO FUTURO, SERÃO POPULARIZADAS.
MICRO-CÂMERAS VESTÍVEIS SERÃO USADAS POR PROFISSIONAIS COMO FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS E POLICIAIS PARA TRANSMITIR AO VIVO SUAS ATIVIDADES.
4.
HISTÓRIAS IMERSIVAS
O USO DE FERRAMENTAS DE REALIDADE AUMENTADA E VIRTUAL SERÁ INTENSIFICADO. AFINAL, POR QUE LER UM REPORTAGEM SE VOCÊ SER TRANSPORTADO PARA DENTRO DELA?
5.
INTERNET DAS COISAS
DE CAFETEIRAS A ROUPAS TECNOLÓGICAS, TUDO E TODOS ESTARÃO CADA VEZ MAIS CONECTADOS. OS ASSISTENTES PESSOAIS ESTARÃO ESPALHADOS POR TODOS OS CANTOS.
O festival americano SXSW inspirou a criação de uma série de conferências sobre tecnologia e futurismo pelo mundo.
ração para quem trabalha imaginando como será o futuro. Lidia Zuin, jornalista casperiana, mestre em semiótica pela PUC-SP e futuróloga, conta que em um projeto desenvolvido para o exército da Suíça em 2018 mapeou as tecnologias fictícias dos filmes 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) e Blade Runner 2049 (2017), o livro Neuromancer (1984), além do jogo eletrônico Detroit Become Human (2018), e as comparou com tecnologias reais. Zuin, que também é head do núcleo de inovação no UP Lab, um laboratório transmídia de comunicação, afirma que empresta da formação em Jornalismo a expertise necessária para comunicar coisas difíceis de formas mais fáceis para quem é leigo. “Nosso papel como futurólogo ou futurista é mais de tradução dos conceitos científicos e técnicos para que mais pessoas entendam e construam um futuro mais desejável e positivo”, diz a jornalista, que também assina uma coluna no UOL Tab sobre inovações tecnológicas. Outra ferramenta adotada pelos futurólogos é a de determinação de cenários futuros a partir de análises de economia comportamental e a tradicional antropologia. A futuróloga americana Amy Webb, fundadora do Future Today Institute, apresenta suas pesquisas com base na probabilidade de cada versão de futuro acontecer de fato, separando as possibilidades em ce-
nário otimista, neutro e catastrófico. Independentemente do método, Camilla Ghattas, co-fundadora da consultoria de futuro Foreseekers, afirma que é primordial transformar e correlacionar os insights obtidos para informações que gerem reflexões profundas e úteis. Mas sempre mantendo em mente a compreensão de que existe uma vasta pluralidade de representações de futuros possíveis. “Hoje a nossa percepção e perspectiva de futuro está muito ligada a cópias do que acontece lá fora. As regiões devem ter uma forma muito autêntica de conseguir inovar com suas próprias realidades”, afirma. No contexto de insegurança e imprevisibilidade em que estamos imersos, qualquer um com uma vaga ideia do que pode acontecer parece ganhar a atenção da sociedade. Mas Zuin afasta a ciência da futurologia de qualquer misticismo: “Um futurista ou futurólogo não é capaz de prever nada, mas de ajudar a pensar e construir o futuro junto das pessoas, das instituições, das organizações”. Meras previsões não bastam para apontar o caminho que humanidade irá trilhar. Ser vítima do que está por vir também não. Mais do que decifrar o futuro, é preciso estar atento à capacidade de protagonismo da sociedade. Afinal, o futuro não é nada @ mais do que o resultado do que fazemos hoje.
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POR CONTA PRÓPRIA ANA CAROLINA NAVARRO
Jornalismo que veste causas
:: SUSTENTABILIDADE :: Portal aborda meio ambiente, feminismo e veganismo para mostrar o papel social do jornalismo de moda
Marina Penido cansou de ver portais de jornalismo de moda que se limitam a dar dicas de como se vestir e a divulgar produtos. Então ela decidiu criar seu próprio site, o Modefica. No começo, o sonho era mostrar que a moda também tem relação direta com temas como meio ambiente e direitos humanos. Cinco anos depois, o projeto virou um empreendimento jornalístico. Hoje, Marina investe no crescimento do Modefica, quer torná-lo referência em sustentabilidade na moda e um negócio lucrativo.
Algumas das manchetes veiculadas nas redes sociais do Modefica
relações da moda com o mundo e a gente não pode mais explorar a indicação de produtos em editoriais de revistas femininas.” PROPÓSITO NA PRÁTICA
NASCE UMA IDEIA
“Embora me incomodasse a forma como a moda era pautada, eu não entendia todas as potencialidades do tema como uma ferramenta de transformação. Comecei em 2014, debatendo sustentabilidade, mas com uma orientação de comportamento muito forte, e com o tempo crescemos para uma produção mais jornalística, com um olhar crítico e aprofundado.” VOZ ATIVA
“Não tem como falar sobre feminismo sem olhar para redes produtivas que se baseiam no trabalho, muitas vezes análogo à escravidão, de mulheres jovens em países do Sul global. E não tem como falar de moda e sustentabilidade sem falar da questão agrária e sua relação com a produção de algodão no Brasil. Existem muitas
“Temos alguns princípios, como não trabalhar com marcas de beleza que testam em animais. Isso reduz nossas possibilidades financeiras, mas temos conseguido apostar em outras frentes. Temos uma assinatura mensal de conteúdo via financiamento coletivo, lançamos podcasts, entrevistas em vídeo e uma série de pautas narradas, com ilustração e animação. A gente precisa alcançar o público de todas as formas.” NOVOS SONHOS
“Estamos tentando crescer em sustentabilidade sem perder a nossa essência de moda. Entramos num programa de aceleração da ONG Chicas Poderosas, para mulheres no jornalismo, e, com isso, entendemos como atuar com um time e uma capacidade financeira limitados.”
DESIGN
LUZ, CÂMERA, PÔSTER Tão antigos quanto os filmes, pôsteres devem traduzir o espírito da obra em uma imagem POR THIAGO BIO
NA PAREDE DO CINEMA estão os pôsteres dos longas em cartaz. Um traz os personagens amontoados em equipe à frente de um enorme “X”, olhando para o horizonte e iluminados pelo sol. Outro mostra os atores bem-vestidos de terno preto, flutuando sobre um fundo branco e carregando armas super-tecnológicas em Paris. No fim das contas, escolhemos assistir a um ou outro pela estética desses cartazes, pois assim, descobrimos do que o filme trata. O conselho de não julgar um livro pela capa não se aplica aqui.
Além de produção, roteiro, elenco, direção, figurino e efeitos especiais, uma parte nem sempre lembrada do fazer cinema são os pôsteres, fundamentais para transmitir o que o longa deseja passar. “Esse material, que vira uma peça publicitária para vender o filme, também é uma obra de arte”, comenta Henrico Cobianchi, diretor do departamento de arte da distribuidora Paris Filmes. Quase artefato de museu, alguns chegam a ser leiloados, conforme sua tiragem, raridade e de seu estado.
Em outubro de 2018, a Sotheby’s – a mais famosa casa de leilões da Europa – colocou como oferta inicial 950 mil dólares para um dos três pôsteres originais restantes do filme A Múmia, de 1932. O cartaz não conseguiu um comprador, mas bateria o recorde de o mais caro já vendido em leilão, que continua nas mãos de Drácula, de 1931, outro clássico do terror, vendido em 2017 por 525 mil dólares. “Hoje, com Instagram e Facebook, a gente segue as pessoas que a gente gosta, consegue ver o que
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MUITO ALÉM DA IMAGEM elas estão produzindo, ver o portfólio delas”, comenta Cobianchi. Ele conta que tanto James Cameron, de Avatar e Titanic, ou Steven Spielberg, de E.T. e Jurassic Park, quanto diretores mais independentes, como Xavier Dolan (Mommy, de 2014) ou Denis Villeneuve (Blade Runner 2049, de 2017), podem servir de inspiração para cores, conceitos, ilustrações ou fotografias. “É tudo muito híbrido, não precisa ter fronteiras tão fechadas.” O postermaking é um trabalho que parte do zero ao mesmo tempo que engloba o projeto em si. Em um filme que se passa no Nordeste do Brasil nos anos 1960, por exemplo, elementos como o cordel, as canções locais e a atividade das rendeiras podem servir de referência para produzir o pôster. “Toda a comunicação de um filme parte dele [o referencial]”, explica a professora de design editorial da Cásper Líbero Cândida Almeida. O problema é quando se padroniza os formatos e se adota uma fórmula pronta – como a descrita no início desta reportagem, de rostos flutuando, corpos soltos e luzes misteriosas. “Há esse padrão que eu costumo chamar de pastelaria, porque você chega na feira e não sabe o que tem dentro do pastel. É tudo igual por fora”, compara Almeida. Um pôster eficaz é um único frame que resume a essência de um filme de duas horas. Deve convidar, traduzir e criar um vínculo emocional com o público a ponto fazê-lo entrar na atmosfera do longa. Não muito diferente do que acontecia nas estantes das locadoras, onde se passava os dedos pelas caixas de VHS e DVD, hoje são pelas capas das plataformas on demand que se escolhe o próximo filme. Ao mesmo tempo em que é um fim, pensado somente na conclusão do longa, é também um início: o começo de sua vida comercial e o ponto @ de partida do espectador.
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DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964 – GLAUBER ROCHA) O pôster de Rogério Duarte é objetivo, mas repleto de simbologias. O texto retilíneo facilita a leitura, dando protagonismo para a imagem. O vermelho representa a vida e a luta; o amarelo, o cangaço, a fé e a seca; o preto e branco, por fim, a morte. Protagonista do longa, Corisco se posiciona no centro de um círculo – mirando ou na mira de alguém? Os raios ao redor da sua cabeça lembram o sol do sertão e remetem à lâminas como a que o personagem segura. A religiosidade, presente até no título da obra, é marcada pela cruz que se forma com sua lança e chapéu. A cena é um recorte do desfecho do filme, quando Corisco se coloca diante de seu próprio fim.
PULP FICTION: TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994 – QUENTIN TARANTINO) Por si só, o pôster é uma pulp fiction: revista de papel barato (note os rasgos na lateral) e de entretenimento rápido, normalmente com histórias noir. A expressão da mulher deitada mostra que ela é provocadora e não confiável, o que é reforçado pela arma à sua frente.
TUBARÃO (1975 – STEVEN SPIELBERG) A inspiração para Roger Kastel pintar o pôster partiu de fotografias de tubarões empalhados do Museu de História Natural Americano. A modelo Allison Maher, que aparece no centro simulando um movimento de natação, recebeu 35 dólares para posar para uma das imagens mais referenciadas na cultura pop.
O design de pôsteres históricos esconde uma série de símbolos ocultos e curiosidades
2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO
UM CORPO QUE CAI
(1968 – STANLEY KUBRICK)
(1958 – ALFRED HITCHCOCK)
Em 2001, o espaço não é só um vazio negro. As paisagens cósmicas pintadas à mão pelo artista Robert McCall, como a que estampa este pôster, o levaram para outros clássicos da ficção-científica, projetos espaciais da Nasa e setores nos parques da Disney World.
O designer gráfico Saul Bass construiu uma imagem minimalista que transmite o isolamento do filme. O trio de cores lembra os thrillers psicológicos, a espiral remete ao nome original do longa (vertigem, em português) e as figuras centrais desorientam quem vê o pôster.
GUERRA NAS ESTRELAS: UMA NOVA ESPERANÇA (1977 – GEORGE LUCAS) Luke e Leia concentram o foco do quadro graças ao uso de um brilho heróico. A escuridão faz de Darth Vader, ao fundo, o vilão. O pôster foi referenciado em Os Últimos Jedi (2017), oitavo filme da franquia.
ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO (1979 – RIDLEY SCOTT)
CABRA MARCADO PARA MORRER (1984 – EDUARDO COUTINHO) A tipografia conversa com a sombra que grita, se contorce e lança os braços para o alto em sofrimento. Marcas de bala perpassam a macabra silhueta, e a senhora de olhos vazios embaixo é, na verdade, a viúva do homem atrás, João Pedro Teixeira, que o documentário resgata.
No final dos anos 1970, Alien era um conceito original de ficção científica e terror. O pôster consegue transmitir toda essa atmosfera do filme – mesmo retratando apenas a imagem de um ovo. A figura arredondada flutua na escuridão, com uma fenda em formato de “V”, da qual, cedo ou tarde, deve sair o alienígena que dá título ao longa. A rachadura ainda libera um gás verde-amarelado com o qual você provavelmente não gostaria de ter contato. O chão é uma espécie de treliça, e a mesma nuvem venenosa emerge ao fundo. O título, no topo e estranhamente espaçado e pequeno, transmite ao espectador a sensação de um futuro aterrorizante sem dominar o quadro.
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ESPORTE
Como as equipes de futebol estão usando os aparatos tecnológicos para se comunicar com os torcedores além das quatro linhas do gramado POR PATRICIA BELLAS*
O torcedor que frequenta os estádios não se contenta em ter conseguido o ingresso e corre às lojas para comprar uma camisa nova. Já na chegada dispara uma coleção de vídeos ao vivo, as “lives”. Os contratempos do caminho para o jogo não são perdoados. Enquanto espera, posta o local em que está sentado e o que está consumindo. As transmissões televisivas começam e as opiniões sobre a escalação não podem ficar para depois. A partida inicia e os tuítes entram em ação até o apito final do juiz. Chegando em casa, está na hora de postar no blog ou no Facebook. A experiência futebolística não pode passar em branco para esse torcedor - e muito menos para o clube, que a essa altura já coletou todas as informações acima e muitas outras que ele nem desconfia.
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“Com as ferramentas de monitoramento e BI (business intelligence), conseguimos ver e analisar tudo o que acontece em relação ao Corinthians no universo digital. Desde uma compra de ingresso ao acesso em nossa loja virtual, passando por tudo o que é postado nas redes sociais, inclusive no momento exato do jogo”, informa Roberta Barreto, gerente de Negócios Digitais da Agência Social QI. As métricas têm se tornado tão sofisticadas a ponto de saber com precisão quem é o torcedor e, assim, engajá-lo em tudo o que diz respeito ao esporte mais praticado no País. O Corinthians possui uma impressionante sala de monitoramento de dados que fornece, em tempo real, o que está acontecendo nas redes e os aspectos que envolvem o nome do clube. Esse ambiente funciona como um bunker e está localizado no prédio de marketing
PATRICIA BELLAS
Na war room do Corinthians, cada menção ao clube vira um dado precioso de análise
do Corinthians. É formado por diversas telas com pequenas letras que não param de se mexer: dados e mais dados, com milhares de pessoas se comunicando. Batizada como “sala de guerra” (war room), da comunicação ao e-commerce, ela permite ao Corinthians detectar cada vez que seu nome é mencionado. Em entrevista, o gerente de Comunicação do Sport Clube Corinthians Paulista, Tiago Oliveira, explica que o objetivo na Corinthians TV, uma plataforma proprietária, é construir uma cultura de consumo de diversos eventos ao vivo, transmitidos pelo clube, para que no futuro seja possível explorar comercialmente. Já nas redes sociais do Youtube, Instagram, Twitter, Facebook e Medium a ideia é monetizar da melhor maneira possível e limpar o feed, removendo as campanhas que não dialogam com o universo da empresa. O Corinthians ocupava o 15º lugar mundial com 21.901.620 seguidores, liderando o ranking brasileiro em estudo realizado em janeiro de 2019 pela Result Sports. Pela plataforma alemã especializada em marketing esportivo, o Real Madrid é a referência digital no futebol somando 242.984.560 seguidores em suas redes sociais. Já pelo Ibope - Repucom, que publicou em novembro o ranking digital dos clubes brasileiros, o Corinthians aparece na segunda posi-
“O Corinthians não tem uma torcida, é a torcida que tem um clube” TIAGO OLIVEIRA, DO CORINTIANS ção, atrás do líder Flamengo com 25.560.627 seguidores. Oliveira afirma que ainda é uma grande barreira convencer os patrocinadores sobre a importância de se investir em mídias sociais e que os clubes de futebol, em geral, ainda não possuem uma verba direcionada para o setor. O gerente de comunicação do Corinthians alerta que o uso de bots e compra de seguidores fazem parte do mercado em geral, embora a própria sociedade condene a prática. Segundo ele, o Corinthians trabalha apenas com o tráfego orgânico e foi o pioneiro no esporte na criação do chatbot “Loko da Fiel” para conversar com o torcedor. “O Corinthians não tem uma torcida, é a torcida que tem um clube”, diz. O arquirrival Palmeiras também já utiliza ferramentas especializadas em monitoramento das redes sociais. Para Victor Assis, gerente de marketing do clube, o foco da produção de conteúdo digital é aproximar os times dos seus torcedores e, mesmo em um ambiente tão competitivo, é preciso agir com ética. A Sociedade Esportiva Palmeiras adota um perfil institucional, que respeita os adversários, exalta os próprios feitos e
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procura identificar palmeirenses influentes para participar das ações de marketing. Em quarto lugar do ranking do Ibope, com 10.884.976 seguidores, o Palmeiras trabalha para engajar a torcida em vez de apenas buscar ampliar a quantidade de torcedores nas redes sociais. Na opinião de Assis, falta aos clubes a internacionalização do futebol, em especial a negociação dos direitos internacionais do Campeonato Brasileiro. Essa estratégia seria uma peça-chave para o crescimento de seguidores dos clubes nacionais. Para o consultor de desenvolvimento e inovação em futebol Eduardo Tega, os clubes brasileiros operam, hoje, em um patamar inferior na relação com as receitas dos negócios e plataformas digitais. Enquanto os times internacionais têm formas mais atrativas de competições e buscam maior qualificação profissional de suas equipes internas, o Brasil tem muito que evoluir. Ele estima que essa diferença de ações e estratégias administrativas e comunicacionais gera um atraso de mais ou menos 15 anos para o Brasil.
FACEBOOK PALMEIRAS
“É CLUBE, É FUTEBOL, é negócio, mas foi feito para pessoas”, acrescenta Guilherme Neto, que coordena as mídias sociais do Vasco da Gama. Ele acredita que as redes no ambiente virtual têm o poder de fazer as equipes se portarem de uma maneira diferente, não só como times de futebol, mas como agentes transformadores. Na opinião dele, os clubes têm que refletir sobre o papel que exercem socialmente, observar o que já foi transformado ao longo da história e o que ainda pode ser melhorado.
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Em 2019, o Palmeiras homenageou grandes nomes do clube nas redes sociais, como o goleiro Valdir de Morais
O gerente de marketing do Esporte Clube Bahia, Lenin Franco, afirma que um grande benefício de existirem as redes sociais é a facilidade de acesso à informação para o torcedor de todas as classes. Antes a comunicação dependia basicamente das grandes mídias tradicionais, e nem sempre essas ações chegavam a todos. No Bahia, 15º no ranking do Ibope, o Twitter é a plataforma mais interativa. Para Franco, as redes sociais fazem mais bem do que mal e explica que o torcedor que escreve e recebe uma resposta se sente acolhido. Os times precisam realizar um contínuo monitoramento sobre o que se está falando. Já houve episódios em que a direção do Bahia precisou intervir junto a jogadores sobre algum tipo de comentário polêmico, já que isso acabava por refletir na rotina dos treinos. Para Márcio Padilha, ex-vice-presidente de marketing e comunicação do Botafogo, é inevitável que quando o clube vai mal isso afete o ambiente digital. Certa vez, ele desabafou em uma entrevista que a torcida do Botafogo não estava mais participando da vida do clube. Houve uma grande agitação nas redes sociais, e ele acabou sendo exonerado do cargo. Monitorar as redes sociais serve também
FACEBOOK BAHIA
para que os clubes se atentem a questões de segurança pública. O consultor Tega explica que a violência vista no futebol é um reflexo da sociedade, e ela não é exclusiva do Brasil. A diferença é que outros países conseguiram construir mecanismos para monitorar e punir com maior rapidez. Os “haters” não surgiram com as redes sociais, mas ganharam um espaço para se expressarem sob o manto do anonimato. O que levanta outra questão: o que fazer com a enxurrada de discursos agressivos? Para Eduardo Guimarães, diretor de arte e social media da Chapecoense, se os comentários não tiverem embasamento, é melhor ignorá-los. Quanto aos momentos ruins de um clube, as brincadeiras em posts devem ser amenizadas em respeito ao sentimento do fã, que em sua maioria, “são torcedores do clube de coração”, aconselha.
“É clube, é futebol, mas foi feito para pessoas” GUILHERME NETO, DO VASCO DA GAMA
O Bahia usa sua página do facebook para divulgar as contratações de novos jogadores
A “Chape” já era admirada pelos brasileiros, mas após o tragédia de 2016, as redes sociais foram essenciais para atualizar e acalmar o torcedor. No incidente, a queda do avião que levaria o time para final da Sul-Américana, na Colômbia, matou 71 pessoas. O diretor da Associação Chapecoense de Futebol João David lembra que a equipe de comunicação se manteve preocupada em transmitir as notícias e ao mesmo tempo agradecer as inúmeras mensagens de apoio, força e oração. Para ele, as mídias sociais dão “uma dinâmica contagiante. Permite brincadeiras em tom mais descontraído e a união em momentos difíceis”. A Chapecoense hoje é o 10º clube no ranking digital do Ibope com 5.813.014 seguidores. @
*Patricia Bellas é farmacêutica. escritora e aluna da pós-graduação lato sensu em Jornalismo da Cásper Líbero
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PORTFÓLIO
ENTRE O REAL E O ONÍRICO 46
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AMANDA PAIVA / MÃO NA LATA
Os jovens do Mão na Lata percorreram as ruas de Salvador registrando a cidade a partir da obra de Jorge Amado
O projeto Mão na lata ensina jovens do Complexo da Maré, no Rio, a tirar fotos com uma latinha de alumínio usando técnica do pinhole, criada em meados do século 19 POR LARISSA BASILIO
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DEYVID FERREIRA / MÃO NA LATA
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FELIPE OLIVEIRA / MÃO NA LATA
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AMANDA PAIVA / MÃO NA LATA
DE UMA LATINHA DE ALUMÍNIO, dessas de achocolatado, leite em pó ou massa de tomate, surge uma leitura da realidade, como se fosse mágica. A técnica do pinhole, traduzida como “buraco de alfinete” (original do inglês, pin-hole, pronuncia-se “pin roule”), utiliza princípios da física para projetar uma imagem nítida a partir de um recipiente com um furo em um lado e um pedaço de papel fotográfico no outro. Desde 2003, o projeto Mão na Lata leva o pinhole até os moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Essa iniciativa surgiu da parceria entre a fotógrafa Tatiana Altberg e sa Redes de Desenvolvimento da Maré. No começo, era apenas uma única oficina de fotografia. Hoje, é um conjunto de ações em arte-educação que propõem trocas, investigações e criações coletivas, por meio da fotografia e do texto. Entre a graduação em Comunicação Visual pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a pós-graduação em Fotografia como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais (Cândido Mendes), Altberg vivenciou a transição da fotografia analógica para a digital. Quando o Mão na Lata começou, as câmeras digitais ainda não eram populares, não havia fácil acesso: “Nem eu tinha uma câmera digital ainda”, comenta. Entretanto, na Redes de Desenvolvimento da Maré, a fotógrafa encontrou os ingredientes para a receita perfeita: papéis fotossensíveis e químicos fotográficos. O material, a princípio vencido e largado em um cantinho da instituição, transformou-se em uma forma potente de expressão, já que a técnica, essencialmente, contém todos os conceitos básicos da produção de uma fotografia. A técnica foi criada em 1850 pelo escocês David Brewster.
LARISSA PAIVE / MÃO NA LATA
Registros do Elevador Lacerda,do Pelourinho em Salvador e cenas dos arredores do Complexo da Maré clicados pelos alunos do Mão na Lata
RENATO NASCIMENTO / MÃO NALATA
O projeto social de Tatiana Altberg levou seis adolescentes do Complexo da Maré para fora do Rio pela primeira vez. Acima e abaixo imagens feitas pela turma em viagem a Salvador.
FAGNER FRANÇA / MÃO NALATA
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RUAN TORQUATO / MÃO NA LATA
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TATIANA ALTBERG
JULIANA DE OLIVEIRA / MÃO NA LATA
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JAILTON NUNES / MÃO NA LATA
A primeira foto é do ensaio Rio de Machado realizado em 2012 e publicado no segundo livro do grupo.. As imagens abaixo fazem parte do primeiro livro do grupo, de 2006
“Controle não é uma palavra boa para o pinhole. Na verdade, há muito descontrole”, comenta Altberg. Graças à técnica, jovens da Maré aprendem desde a confecção das “câmeras de lata” até a revelação das imagens. O pinhole costuma ser associado aos princípios da fotografia, mas, no caso do Mão na Lata, tornou-se a linguagem fundamental. O projeto já tem dois livros publicados, Mão na Lata e Berro d’Água, de 2006 (Nova Fronteira), e Cada dia meu pensamento é diferente, de 2013 (Nau). O primeiro levou Altberg e seis adolescentes a uma viagem à Bahia para mergulharem no universo do livro A Morte e a morte de Quincas Berro D’Água, de Jorge Amado.“A experiência foi incrível, o pinhole cria essa linguagem onírica, fascinante, quase distante”, conta. Para os jovens, foi a primeira viagem para fora do Rio de Janeiro. Caminhando pelas ruas da Bahia, a expressividade da linguagem pinhole tomou conta das imagens. O quarto de hotel se tornou um estúdio improvisado. Até a confusão dos lugares passou a fazer parte das imagens, como conta Altberg sobre a fotografia do Elevador Lacerda. Ao revelarem a primeira imagem, cheia de ruídos, a turma decidiu refazê-la. Na segunda tentativa, mais nítida e limpa, perdeu-se a atmosfera ambiente. Foi unânime: todos preferiram a primeira imagem para compor o livro. Nos trabalhos do Mão na Lata, a fotógrafa afirma que não há uma preocupação com o jornalismo, mas com a subjetividade, como numa fabulação da realidade. Em exposições, centros culturais ou no próprio Museu de Arte do Rio, as imagens do projeto despertam viagens em quem as observa, transitando entre jogos de luz e sombra, ruídos e foco. Tanto os jovens quanto Altberg entendem o poder que uma imagem pode trazer, flutuando da força da realidade para a de uma irrealidade em eterno transe. @
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‘‘A mão que afaga é a mesma que apedreja’’ Em 2 de setembro, a Faculdade realizou no Teatro Cásper Líbero a “Homenagem ao Professor José Augusto Dias Jr. – Um Mestre de Muitas Histórias”. O evento reuniu familiares, amigos, alunos e ex-alunos para reverenciar a memória do querido docente, falecido em 27 de agosto de 2019. Na ocasião, foi lido o texto transcrito a seguir com algumas modificações. POR ADALTON DINIZ O que este famoso verso do poema de Augusto dos Anjos tem a ver com a homenagem ao nosso querido professor José Augusto? O que ambos os Augustos têm em comum? Assim como o poeta paraibano, o nosso historiador acreditava no caráter contraditório ou, melhor dizendo, na complexidade do ser humano. Para os dois, o sublime e o grotesco são igualmente características formadoras do ser. Por pensar dessa maneira, José Augusto nutria uma profunda aversão às teorias que buscavam descrever a natureza humana de uma forma unidimensional, temendo que elas, no esforço de moldar os indivíduos aos seus pressupostos, acabassem sempre por fundamentar projetos de ordenamentos utópicos e autoritários. Aliás, ele andava matutando escrever um livro sobre as frequentemente malbaratadas ideias utópicas. Ultimamente, o projeto era
assunto frequente em nossas conversas. Foi no esforço de expor esse ser humano plural que José Augusto publicou uma obra sobre trapaças que, a rigor, não versa somente sobre embustes. O livro é também sobre a credulidade. Para ele, o sujeito capaz de cometer a mais vil fraude também pode ser vítima da mais sublime ingenuidade. Evidentemente, trapaça e credulidade são movidas por um combustível comum: a avareza, o extremo apego aos bens materiais ou ao dinheiro. Ambos, algoz e vítima, estão unidos por um único laço em sua humanidade. Assim é que é o indivíduo que tanto afaga quanto apedreja, como diria o poeta. Mas o professor José Augusto não era um cético ou pessimista em relação aos homens. Sem dúvida, era sua crença na complexidade dos indivíduos que o fazia distribuir a quem passasse por seu caminho doses generosas de
delicadeza e sensibilidade. Ele certamente sabia que esse era o melhor artifício para fazer emanar as virtudes de que todos nós somos portadores. José Augusto revelava a complexidade humana em sua própria vida cotidiana. Ele era o professor cujas palavras “delicadeza” e “sensibilidade” sempre foram insuficientes para definir a fineza de seu espírito; mas era também o torcedor que, ante uma eventual derrota do Corinthians, proferia impropérios capazes de fazer corar o mais rude dos manos corintianos. É árdua a tarefa de homenagear a memória de um homem tão extraordinário, buscando evidenciar toda a beleza da sua verdade essencial. O que havia de mais intenso no modo de ser do nosso querido professor é que ele não se apresentava como um anjo, e sim como um ser perfeitamente humano que compreendia e respeitava a humanidade dos demais.
José Augusto Dias Jr. (1961-2019) deu aulas de história por mais de dez anos na Faculdade Cásper Líbero e sempre será uma referência querida de todos
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GRUPO GRAPETES CELEBRA DEZ ANOS DE AMOR À ARTE ANA CAROLINA NAVARRO
“A primeira coisa que o ator tem que ter é material próprio. Cadê o grampo para prender o cabelo?”, orienta Mara Faustino nos bastidores do Teatro Maria Della Costa, na Bela Vista. A atriz, professora e diretora de teatro assinou pela décima vez o espetáculo anual do Grupo Grapetes, criado em 2010 na Cásper Líbero por 17 alunos – entre eles, Fernanda Gonçalves, filha de Mara. “Este é um grupo de teatro amador no melhor sentido da palavra: essas pessoas aqui amam o teatro”, declarou o diretor da Faculdade, Welington Andrade, ao ser convidado para subir ao palco no final da peça Be My Baby, realizada em outubro e estrelada por oito casperianas. “Na aula inaugural tinha
umas 60 pessoas. Depois de dizer que tinha uma mensalidade de 80 reais e ensaios todo sábado de manhã, na aula seguinte, sobraram 8”, revela Mara. Para dar vida ao teatro, ensina ela, é preciso foco, disciplina e dedicação. O grupo abre para no-
PRESENÇA É RESISTÊNCIA ACERVO AFRICÁSPER
Em 2019, o coletivo AfriCásper completou cinco anos de ativismo no ambiente universitário da Faculdade com a palestra Negros no Funk: Ostentação e Discriminação. Artistas e produtores negros puderam expor aos presentes suas vivências e seus enfrentamentos no mercado musical brasileiro. “Esse ano
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a direção nos apoiou bastante, cedeu o Teatro e muitos professores abraçaram nosso evento levando alunos até lá”, comemora Dayane Natale, aluna de Jornalismo e co-presidente do grupo que promove debates – fechados para negros e também abertos para todos – sobre temas como racismo, cotas e carreira. A intenção é fazer com que os negros da Cásper se sintam presentes. Ela conta que o coletivo recebe novos organizadores a partir das primeiras reuniões: “Muitos bixos entram sem se identificar como negros e só por meio dos nossos encontros é que isso acontece”. (ACN)
vos integrantes todo início do período escolar acolhendo calouros, veteranos e até ex-alunos. Interessados devem ficar atentos à página do Grapetes no Facebook para a data da aula inaugural de 2020. (Ana Carolina Navarro)
TEMPORADA DE PREMIAÇÕES A ideia de substituir as paisagens bucólicas das tradicionais “correntes de bom dia” por imagens de hospedagens disponíveis para aluguel no Airbnb rendeu a Gabriel Grossi e João Barabás, alunos do curso de Publicidade e Propaganda, a Estrela de Prata na categoria estudantes do 44° Clube de Criação. “Acho que deu certo porque é algo que as pessoas recebem todo dia”, conta Barabás. Os alunos de Jornalismo Maurício Abbade e Mattheus Goto também foram reconhecidos pela produção independente Sons sem fronteiras. O documentário, que retrata a transformação e adaptação cultural vivida por imigrantes e refugiados da Orquestra Mundana Refugi, venceu o 11º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão. Goto descreveu a experiência como “a melhor que eu já tive na minha vida profissional”. (Renan Lima)
Uma aula de jornalismo esportivo MARIANA CAVALCANTI
Michelle Gianella, da Gazeta Esportiva, ministra workshop para novos jornalistas.
Partiu de Michelle Gianella, jornalista formada pela Cásper Líbero, advogada pela São Judas e gerente de esportes da Gazeta Esportiva, a iniciativa do 1º Workshop de Jornalismo Esportivo. Ela achava que os poucos andares que separam a Faculdade das dependências da TV Gazeta, Gazetaesportiva.com e Rádio Gazeta Online ainda representavam uma grande distância, e quis dar o próprio exemplo da máxima que carrega consigo ao longo da carreira: “Todo bom jornalista deve buscar sempre o aprimoramento profissional”. Em outubro, a oficina reuniu 24 alunos dos cursos de Jornalismo e Rádio, TV e Internet, que tiveram a oportunidade de colocar em prática o que aprenderam na sala de aula. Eles passaram por uma reunião de definição de pauta seguida por um ciclo de palestras e bate-papos com profissionais de peso, como Flávio Prado (apresentador do Mesa Redonda da TV Ga-
zeta), Erick Castelhero (editor-executivo da Gazeta Esportiva) e Leonardo Levatti (coordenador de produção da Rádio Gazeta). Após a qualificação das pautas de cada grupo, os alunos tiveram a missão de produzir suas matérias em uma semana. No encerramento do curso, os resultados foram tão positivos que os avaliadores decidiram fazer uma “parte dois”: os estudantes puderam então acompanhar a edição de suas matérias na própria redação da Gazeta Esportiva. O anúncio feito por Gianella de veicular as matérias de maior destaque não só se cumpriu como extrapolou qualquer expectativa. Todas foram ao ar no site e na programação da TV Gazeta. “Foi uma troca intensa em que não só os estudantes puderam aprender, como nós profissionais pudemos conhecer melhor essa nova geração, que chega muito capacitada para o mercado de trabalho”, disse a jornalista. (RL)
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LER, VER E OUVIR Nesta seção, os professores da CÁSPER trazem recomendações culturais para ajudar os comunicadores a refletirem sobre o mundo
A ANTI-CERIMÔNIA DO ADEUS
Biografia de Fernanda Montenegro faz do teatro um observatório privilegiado da história do Brasil no século 20 Os leitores de Prólogo, ato, epílogo: memórias, a recém-lançada biografia de Fernanda Montenegro, escrita com a colaboração de Marta Góes, haverão de identificar ao longo das páginas do livro os dois fios condutores por meio dos quais se estrutura a narrativa, admirados pela perspicácia da autora em entrelaçá-los de modo tão expressivo. O primeiro deles diz respeito à criteriosa recuperação das memórias pessoais – base essencial dos bons relatos biográficos, a rigor – a que a atriz se lança com tan-
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ta propriedade, concentrando-se em momentos-chave de sua trajetória, em vez de tentar recobri-la inteiramente pela via do excesso de detalhes e da exaustão cronológica. O segundo elemento que impregna o foco narrativo da obra está relacionado à dimensão sociocultural que a narradora confere ao relato, e da qual lança mão sistematicamente, fazendo com que por meio de muitos episódios pessoais de sua vida possamos entrar em contato também com a história do País que a viu nascer em 16 de outubro de 1929.
ANTEN DOS
Prólogo, ato, epílogo. De Fernanda Montenegro. Companhia das Letras, 392 págs.
Fernanda faz parte da geração pioneira que renovou o teatro brasileiro a partir do modernismo de 1922, não rompendo radicalmente com o passado, como propunham mais especificamente os porta-vozes da literatura e das artes plásticas, e, sim, convivendo com ele, sem perder de vista, entretanto, a necessidade imperiosa de modernização. Saber que ela no início da carreira trabalhou com nomes que representavam a velha tradição teatral a ser superada e aprendeu inúmeras lições com as estrelas de então – como a atriz-diretora portuguesa Esther Leão
(1892-1971), especializada em impostação e fonética; e Lucília Perez (1882-1962), amiga de Artur Azevedo e “arrebatado amor” de Leopoldo Fróis – reforça essa perspectiva. Os cinco capítulos que compõem o Prólogo tratam dos antepassados de Fernanda, tanto por via paterna como materna, embora destes últimos a atriz fale com mais interesse e envolvimento afetivo. O retrato traçado da imigração italiana no Brasil em fins do século XIX é precioso, não somente pelas minúcias apresentadas como também pela visão crítica que o acompanha. Segue-se depois o sumo da obra – os capítulos de Ato, que se detêm nos anos de formação da atriz – de seu ingresso como locutora na Rádio MEC à criação do Teatro dos Sete, companhia responsável, junto ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e ao Teatro Maria Della Costa, por exemplo, por dar prosseguimento ao processo de renovação da arte teatral iniciado com a montagem de Vestido de noiva pelo grupo Os Comediantes, em 1943. A administração da vida doméstica em meio a uma agenda constante de viagens, a doença do marido – o ator e diretor Fernando Torres – e o convite para ser ministra da Cultura durante o governo de José Sarney também aparecem no relato, dimensionando Fernanda ainda como mãe, esposa e cidadã. Dos anos 1980 para cá, a narrativa ganha em brevidade e assume um tom essencialmente panorâmico, embora episódios essenciais, como a indicação ao Oscar de melhor atriz por Central do Brasil, estejam lá, muito bem narrados. As quatro páginas que integram o Epílogo configuram uma espécie de despedida dessa artista vocacionada especialmente para os palcos, mas que soube tirar partido tanto do cinema experimental quanto de um veículo popular como a televisão. Talvez poucos espectadores brasileiros carreguem na memória a imagem da Alice de Seria cômico se não fosse trágico, de Friedrich Dürrenmatt, por cuja montagem em 1973 Fernanda arrebatou inúmeros prêmios. (Barbara Heliodora considerava essa a melhor encenação brasileira de um texto estrangeiro de todos os tempos). Mas certamente a maioria se lembrará da Dora de Central do Brasil e da Bia Falcão de Belíssima, cujas imagens estão aí nos diversos aparatos audiovisuais que nos cercam. Muito embora o epílogo insinue, a cerimônia do adeus, intuirá o leitor, acaba por não se concretizar. As 38 páginas posteriores, dedicadas a listar todos os trabalhos e prêmios de Fernanda, provam ser impossível se despedir de alguém cuja presença na memória da cultura de um povo é tão viva e, por isso, indelével. Welington Andrade, diretor da Faculdade Cásper Líbero
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UM OLHAR PECULIAR
Nada se vê: seis ensaios sobre pintura. De Daniel Arasse. Editora 34, 168 págs.
O franco-argelino Daniel Arasse analisa obras de arte clássicas com um estilo singular e simples, mas não menos surpreendente
A Editora 34 nos presenteou com a publicação do livro do historiador da arte franco-argelino Daniel Arasse, Nada se vê: Seis ensaios sobre pintura. Trata-se de um presente singular, pois há muito não se publicava o autor no Brasil. Historiador com uma vasta produção sobre a arte italiana, um grande estudioso do Renascimento e, em particular, de Leonardo da Vinci, era uma grande lacuna nas nossas publicações em história da arte. Em tempo, ele foi também diretor da École des Hautes Études em Ciências Sociais de 1993 até sua morte em 2003. Neste livro, Arasse elabora seis ensaios a partir de análises concisas de cinco pinturas e uma escultura. Com um estilo singular e simples, revela
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erudição e clareza na argumentação. No primeiro, que podemos chamar de epistolar, ele se dirige, em forma de carta-resposta, a uma amiga indeterminada, mas que compartilha “da mesma paixão pela pintura”. A obra em questão é Marte e Vênus surpreendidos por Vulcano, de um mestre do maneirismo italiano, Tintoretto. A partir de um espelho pintado na obra, um detalhe, um pormenor colocado ao fundo da cena representada, Arasse interpreta o conjunto da obra, conduzindo o leitor e ao mesmo tempo observador a uma leitura segura, lúcida e convincente. Esta edição foi acrescida de ilustrações das obras analisadas e dos detalhes ressaltados nos textos. Arasse propõe um questionamento sobre os aspectos metodológicos do campo de estudos da história da arte, numa crítica sutil a certa tradição historiográfica. Dirigindo-se à amiga, ele escreve: “Já sei, você não concorda com essa ideia. Eu não tenho nem texto nem documentos de arquivo
para provar o que avento e, portanto, isso não é historicamente sério. Mas temo que essa seriedade histórica se pareça mais e mais com o ‘politicamente correto’, e penso que é necessário combater esse pensamento dominante, pretensamente histórico, que gostaria de nos impedir de pensar e nos fazer acreditar que nunca houve pintores [incorretos].” Suas análises são todas assim, neste estilo peculiar. E em cada detalhe das obras em que ele se apega e ressalta, constrói sentidos e significados ricos, originais e fascinantes para as obras. Oferecer uma interpretação nova e surpreendente para a obra As Meninas de Velázquez, objeto já de tantas análises, não é para qualquer um. Como ele mesmo diz: “... o tempo não esgota As meninas, ele as enriquece”. Presente dado é para desfrutar. Jorge Paulino, professor de História da Arte
A VEIA PULSANTE DA AMÉRICA LATINA CD abraça a ideia de uma certa unidade latinoamericana Verde e amarelo, azul y blanco é um disco ambivalente. Gravado em pleno 2019, quando a voragem tecnológica se empenha tanto em anunciar o fim do futuro, ele parece estar mais preocupado em recuperar um tempo e um lugar que não existem mais. Tanto o repertório brasileiro – que reúne letras e canções de Pixinguinha, Otávio de Souza, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque e Djavan – como o argentino – que vai de Carlos Gardel a Antonio Tarrago Ros – evocam a imagem de uma latinidade com a qual ainda vale a pena sonhar, embora os mais recentes episódios políticos ocorridos abaixo da Linha do Equador indiquem a conversão do emocionante sonho de outrora no atual pesadelo da razão. Os belos arranjos de Roberto Calvo não somente prestam tributo a esse repertório clássico, como também realçam a linda voz de Tatiana Ferraz, professora da Cásper Líbero cujo domínio da técnica não abre mão em momento algum de uma bem-vinda e sutil emoção. Um disco das antigas, do tempo em que “a História era um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropelava indiferente todo aquele que a negasse”. (WA)
FRONT POÉTICO Desnudar-se poeticamente é ato-coragem. E é esse o movimento contínuo que faz do potente livro Quando fronteira, de Cândida Almeida, professora da Cásper Líbero, uma leitura vívida. Mineira como Drummond, à procura da poesia, a autora “penetra surdamente no reino das palavras em estado de dicionário” e se deixa por elas envolver, elaborando-as, encantando-as a partir de seu repertório único e elaborando jogos semiótico-semânticos que incitam o leitor à deriva. As páginas significantes, murmurantes, trazem um eu poético que, ao se revelar, nos convida a desbravar o espaço-fronteira – organizado em quatro partes –, limiar em que se desdobram temáticas como a morte (“a morte é uma vírgula” é verso único do belo poema de abertura), a busca por si, a ousadia de ser quem se é, o câncer, os vazios e solidões, as (re)descobertas e “encaixes” da sexualidade, a poesia-arma (pipocos), a inconformidade feminina (como no conto poético “Arranjo”). Há ainda versos mais ao rés-do-chão, cujas raízes crianceiras (como as de Manoel de Barros) nos devolvem ao aconchego do simples, do comum. Uma obra franca a ser lida e relida quando diante de fronteiras ou entre elas. (Mei Hua Soares, professora de Língua Portuguesa)
A BIOGRAFIA DE CÁSPER A frase “jornalista que fez escola” tem um duplo sentido. Para Cásper Líbero, representa o líder empresarial que foi dono da Gazeta, um dos maiores veículos de comunicação do Brasil. E lembra o homem que deixou expresso em testamento o desejo de “criar e manter uma escola de jornalistas e ensinamentos de humanidades”. Fundada em 1947, a Faculdade Cásper Líbero foi a primeira escola de jornalismo do País. Lançada em dezembro pela Editora Terceiro Nome, a biografia Cásper Líbero ganhou o subtítulo acima para fazer jus ao empresário que fez história e foi parte da história do País. Escrita pelo jornalista Dácio Nitrini, a obra resume em 208 páginas a intensa, porém curta, vida de Líbero. Ele morreu aos 54 anos, vítima de um acidente aéreo no Rio de Janeiro, em 27 de agosto de 1943. Nitrini foi diretor de jornalismo da TV Gazeta de 2010 a 2018, professor da Faculdade em 1985 e 1986 e casperiano da turma de 1982. O biógrafo vasculhou publicações na Biblioteca Nacional, no Arquivo Público do Estado e em livros de memórias. Reconstitui, com precisão jornalística, o início da carreira de Cásper Líbero, como repórter policial em 1910, até a sua atuação política por meio da Gazeta, onde trabalhou como repórter antes de comprá-lo em 1918, tornando o jornal um dos mais influentes do País. (Eduardo Nunomura, professor de Jornalismo em Ambientes Digitais)
Cásper Líbero, Jornalista que Fez Escola. .De Dácio Nitrini. Editora Terceiro Nome, 208 págs.
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ANIMAÇÃO ESTONTEANTE Love, Death & Robots é um presente aos aficionados por ficção científica. Essa série da Netflix explora possibilidades impensáveis a respeito do avanço da tecnologia, seus usos e impactos na vida das pessoas. Cada episódio é único, portanto, não há uma ordem exata para ser assistida. As histórias começam e terminam no mesmo capítulo, o que é muito interessante para quem não tem paciência de acompanhar grandes tramas. Todos os episódios são animações. E elas são lindas, bem feitas e originais, o que é um outro deleite para os amantes de desenhos. E o mais significativo é que esses desenhos são para adultos. Há humor em alguns, mas eles não são infantis. Por fim, o melhor episódio que assisti é o chamado Zima Blue. Traz um questionamento existencial por meio da procura de si na arte, o que é incrível – explora imagens estilizadas em tons de azul e grandiosas, para valorizar a busca da personagem principal. É como sair do complexo para atingir a simplicidade. Boa aventura para quem for assistir. (Fábio Caim, coordenador de Publicidade e Propaganda)
MARKETING DE INFLUÊNCIA Quando o assunto são os influenciadores digitais e o mercado de marketing de influência, uma das instituições nacionais de destaque é o YouPix. Com várias iniciativas de conteúdo, a organização concentra textos, estudos, pesquisas, depoimentos e reúne eventos em seus perfis de mídias sociais. Uma das propostas mais recentes lançadas pelo pessoal do YouPix é o podcast PIM (plano de influência para marcas), disponível no Spotify O áudiocast, como eles gostam de chamar, sana dúvidas que as marcas têm ao usarem o marketing de influência e, portanto, trata do universo de relacionamento entre marcas, agências e influenciadores digitais. Outra indicação é o perfil no Medium mantido pelo grupo, local em que trazem textos que discutem casos, polêmicas e temãticas que atingem o universo dos influenciadores digitais não só no Brasil como no mundo. (Carolina Terra, professora de Oficinas e Seminários de Atualização, em Relações Públicas.)
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COMUNICAÇÃO EM PODCAST O podcast do grupo de pesquisa Com+ (Comunicação e Jornalismo Digital) liderado pela professora e pesquisadora Beth Saad, da ECA-USP, versa sobre questões contemporâneas ligadas à Comunicação Organizacional, Jornalismo, Dados, Algoritmos, Mobilidade, entre outros temas. O objetivo do podcast é fazer uma ponte entre academia e mercado, trazendo um bate-papo mensal com os membros do grupo e convidados especialistas externos sobre o que acontece em ambos os universos. Um dos últimos episódios falou sobre algoritmos, dados e privacidade. Os programas sempre acabam com dicas de seriados, filmes, artigos, livros e discussões. Para acompanhar o podcast Vitamina Com+, no Spotify, o grupo ainda mantém uma fanpage que faz uma curadoria dos mesmos temas. Com posts diários, traz comentários sobre casos de mercado, pesquisas e estudos, tanto acadêmicos quanto ligados às organizações, bem como dicas de livros, seminários, eventos, congressos e atividades dos membros do grupo. (CT)
ANTEN DOS O EDUCADOR DO DIÁLOGO A biografia de Paulo Freire escrita pelo também educador Sérgio Haddad é uma obra necessária em tempos de hiperinformação, infoxicação e desinformação; uma ponte para o diálogo construída para comunicadores(as) interessados(as) na comunicação enquanto vínculo, prática O educador: Um perfil dotada de sentidos e que prode Paulo Freire.De move sentidos. Sérgio Haddad. Editora Freire era um escutador. E Todavia, 256 págs. um educador que tinha na comunicação um fundamento, na medida em que acreditava que “a palavra é a expressão da existência e não apenas um veículo de comunicação”. O ato de compreender o outro passava por conhecer o universo do outro, ensinou Freire. E a educação só seria possível a partir deste reconhecimento e de um vínculo de ressonância entre educadores(as) e educando(as). Afirmando o diálogo como “o tecido comum da interação”, Ciro Marcondes Filho conta que o termo significa “palavra que atravessa”. Na obra Educação como prática da liberdade (1994), Freire afirma que o diálogo é “uma relação
horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há comunicação”. Referência bibliográfica, humana e inspiração fundamental como educador, Freire é internacionalmente reconhecido e premiado autor da Comunicação; ainda que no Brasil, suas obras estejam mais restritas ao campo da Educação. Exilado durante a ditadura brasileira, Freire recentemente tornou-se mais uma vez alvo pelas suas ideias supostamente “comunistas” em atos de forças políticas de direita realizados no Brasil. Sérgio Haddad conta neste livro uma história que contribui para conhecer Freire mais profundamente e desconstruir o estereótipo dele, que nunca foi comunista e nunca pregou uma educação partidária. Com uma costura preciosa e uma linguagem simples, o autor vai compondo um mosaico da vida de Freire que nos conduz à compreensão de sua obra, de suas ideias e de sua ação; e da origem delas nas escutas, nos diálogos, círculos e rodas que o educador ao longo de sua vida nutriu e das quais se nutria. Michelle Prazeres, professora de Jornalismo em Ambientes Digitais
CÁSPER
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PARA ENTENDER MAIS
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POR CONTA PRÓPRIA Moda sustentável: Siga @fash_rev_brasil, @modices e @modapenochão no Instagram para saber mais sobre jornalismo de moda com pautas de feminismo a representatividade.
COLETIVOS Procuram-se muralistas: A Agência Mural recebe novos colaboradores que morem em periferias e tenham mais de 18 anos. Email para participe@ agenciamural.org.br.
EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO Acadêmicos: Os principais congressos para comunicólogos acontecerão em diversas partes do País. Programe-se: Abracorp, na Unesp de Bauru, em maio/ Compós, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, de 23 a 26 de junho/ Intercom, na Federal da Bahia, na primeira semana de setembro/ SBPJor, na Federal do Ceará, de 4 a 6 de novembro.
FUTURISMO Desvendando o futuro: O historiador israelense Yuval Harari reflete sobre o futuro da Humanidade, em Homo deus: uma breve história do amanhã (2016).