Brasil21 1#1

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ANO 1 NÚMERO 1 Julho \ Agosto de 2012

mobilidade urbana O que muda com a nova Política Nacional

Pedala Manaus O Movimento que tirou bicicletas da garagem

metareciclagem Saiba o que fazer com aparelhos eletrônicos antigos


Carta ao leitor

Olá, leitor!

A Ano1 Número 1 Julho\ Agosto de 2012 Editoração gráfica: Beatriz Aguiar Jéssica Sant’Ana Rosângela Menezes Thais Jordão Arte: Beatriz Aguir Rosângela Menezes Colaboração: Beatriz Aguiar Jéssica Sant’Ana Thais Jordão Edição Rosângela Menezes Capa: Nara Vieira Contato: revista.brasil21@gmail.com @ revistabrasil21

revista Brasil 21 colocará em pauta os principais assuntos ligados a sustentabilidade e a redução de consumo. Nesta primeira edição traz um especial sobre Mobilidade Urbana, o que muda com a Lei nº 12.587/2012 que entrou em vigor no dia 13 de abril. Ainda falando em meios de transporte não-motorizados a entrevista é com Ricardo Romero, um dos fundadores do Movimento Pedala Manaus que é pioneiro na discussão sobre como usar a bicicleta para o transporte na capital amazonense. Outro destaque desta edição é a rede MetaReciclagem, um grupo de pessoas que desmontam computadores fora de uso e transformam em novos visando a inclusão social, através de projetos que facilitem a interação da população de baixa renda com as tecnologias de informação e comunicação. Boa leitura.

Equipe Brasil 21


Foto: Ania K. \ sxc

Foto: kresimir vorich\ sxc

Sumário 4

EM FOCO

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ECONOMIA

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Reciclagem de equipamentos eletrônicos fora de uso promovem a inclusão social

Brechós tornam-se populares e contribuem para redução de consumo

ECO SHOPPING Novos produtos comprometidos com o Meio Ambiente

CAPA Os novos desafios da Política Nacional de Mobilidade Urbana

ENTREVISTA

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ENERGIA

Foto: Mihai Dumitri \ sxc

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Ricardo Romero: “O Pedala Manaus participou ativamente do aquecimento do mercado de bicicletas no Amazonas”

Brasil é lider na produção de energia através da biomassa


EM FOCO

METARECICLAGEM O que fazer com o lixo eletrônico? Existe utilidade para os computadores depois que outro de tecnologia mais avançada é produzido Por: Beatriz Aguiar

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odos já devem ter se perguntado pelo menos uma vez: o que fazer com um mouse antigo, um monitor usado ou um teclado obsoleto? A solução reside na MetaReciclagem, uma rede de projetos sociais que tem como base o uso de software livre, a desconstrução de hardwares e apoio às licenças abertas. Presentes em diversas cidades brasileiras, como Brasília, Curitiba e Teresina, as oficinas de MetaReciclagem recebem os computadores usados, reformam os equipamentos e montam laboratórios para uso social, incentivando a exploração da internet para divulgar informações e os resultados dos projetos. Tudo começou em 2002 com uma rede de discussão online integrada por pessoas de todo o Brasil. O que era, a princípio, um fórum de assuntos diversos se tranformou no projeto Metá:fora que, em parceria com a ONG Agente Cidadão, realizou a captação e reforma de computadores direcionados a projetos sociais de base. Com o tempo, a ideia ganhou força e ideologia própria: o objetivo era formar uma inteligência coletiva, ligando comunicação e tecnologia. Hoje, projetos como esse se desenvolvem por todo o Brasil, reaproveitando equipamentos para uma maior produção de conhecimento comunitário. O Acessa São Paulo, coordenado pela Secretaria de Gestão Pública do Governo do Estado de São Paulo, é um programa de inclusão digital que desenvolve projetos comunitários envolvendo o uso da tecnologia; produz conteúdos digitais e não-digitais para capacitar a população; realiza pesquisas sobre inclusão digital e promove o uso da internet e das tecnologias pelo cidadão. Para isso, o grupo man4

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tém espaços públicos com computadores reutilizados de acesso livre à internet e abertos à comunidade. Com doze anos de atendimento, o Acessa São Paulo conta com 672 postos de atendimento e atende a pelo menos 525 municípios. Se há algo em comum entre as iniciativas é a preocupação com o fim social da atividade, que deve focar na comunidade, senão beneficiá-la com a produção e divulgação de conhecimento. O Projeto Eco-Eletro – Reciclagem de Eletrônicos foi desenvolvido em uma parceria do Instituto GEA com o Laboratório de Sustentabilidade (LASSU) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). No intuito de aumentar a renda dos catadores de material reciclável de São Paulo e regiões metropolitanas e também de evitar que o lixo eletrônico seja descartado de maneira indevida, as ações do projeto pretendem habilitar os catadores a trabalharem com produtos tecnológicos, realizando a separação por diferentes tipos de material e encaminhando as peças para as empresas devidas. “Separar e classificar o lixo eletrônico por tipo de material e encaminhá-lo para diferentes empresas de reciclagem especializadas pode render aos catadores até 100 vezes mais, em algumas peças, que a atual forma de tratamento”, é o que consta na descrição do projeto. E dessa forma, pequenas ideias podem contribuir para uma rede de atitudes, a MetaReciclagem, iniciativa essencialmente brasileira e de mais nenhum lugar no planeta. E você? Já fez a sua parte hoje?


A cultura da comunicação digital O Pontão Ganesha de Cultura Digital, criado em 2009 por meio de convênio com o Ministério da Cultura, é um dos projetos que trabalham com a MetaReciclagem na área de comunicação, incentivando a produção cultural independente e a democratização da informação no sul do Brasil. O grupo trabalha em quatro pautas: produção de conteúdo; animação de redes; instrumentalização e tecnologia. Com o objetivo de fortalecer a cultura digital (ou seja, os textos, sons e imagens como manifestação cultural na internet), o Pontão Ganesha difunde a cultura brasileira em âmbito regional ou nacional. Além disso, exerce o jornalismo cidadão, que é, nas palavras do grupo, “voltado à divulgação, discussão e solução dos problemas de uma comunidade”. Enquanto os grandes meios de comunicação focam nas matérias de violência, entretenimento e esporte, o Pontão aposta na produção colaborativa e na veiculação de informações que não seriam divulgadas pela imprensa convencional. O Ganesha publica notícias em seu site <www.ganesha.org. br> e assessora os movimentos sociais, os produtores de cultura independente e os Pontos de Cultura – entidades que, apoiadas financeiramente pelo Ministério da Cultura, desenvolvem projetos sociais nas suas comunidades de atuação. Além da produção multimídia, o grupo edita a revista mensal Ganesha Digital, com a compilação do conteúdo disponibilizado no portal.

Onde levar o lixo eletrônico Amazonas

E-mail: alessandro@cdiamazonas.org.br Telefone: (92) 3234-8654

Bahia

E-mail: cdiba@cdi.org.br Telefone: (71) 3473 – 3131

Campinas

E-mail: helena@cdicampinas.org.br Telefone: (19) 3273-0626

Ceará

E-mail: cdiceara@cdi.org.br Telefone: (85) 3091 4629

Espírito Santo

E-mail: cdi-es@cdi-es.org.br Telefone: (27) 3315 - 6043

Goiás

E-mail: cdigoias.org@gmail.com Telefone: (62) 3211-2659

Minas Gerais

E-mail: rochelana.feitosa@cdimg.org.br (31) 3280-3313 I 3373-2150

Pará

E-mail: cdi@cesupa.br Telefone: (91) 4009-2140

Pernambuco

E-mail: cdipe@cdi-pe.org.br Telefone: (81) 3271 – 4849

Rio de Janeiro

E-mail: cdirj@cdi.org.br Telefone: (21) 2201-7770 / 2583-1203

Rio Grande do Sul E-mail: cdirs@cdirs.org.br Telefone: (51) 3330-1959 Santa Catarina

Email: presidente@cdisc.org.br Site: http://www.cliquefuturo.org.br

São Paulo

Telefone: (11) 3666-0911 Fundação: 19 de janeiro de 2004

Sergipe

E-mail: cdisergipe@cdisergipe.org.br Telefone: (79) 3209 1684

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Foto: Piotr Bizior \ sxc

ECONOMIA

Uma das formas de reduzir o consumo é doar as roupas antigas para instintuições ou vendê-las em brechós

A moda agora é economizar Nos brechós é possível reduzir, reutilizar, reciclar e gastar menos Por: Thais Jordão

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alar em reciclagem, reutilização e sustentabilidade remete a separação de resíduos orgânicos como latas, garrafas PET, papelão e vidro. Mas e as roupas usadas no dia a dia, para onde elas vão quando não servem mais? A indústria têxtil brasileira produz cerca de 10 bilhões de peças por ano. E parte dela tem como destino final a lata de lixo. O Brasil, não tem dados publicados da quantidade descartada, mas na Inglaterra, um milhão de toneladas de roupas são jogadas for a todo ano, sendo que 80% delas estão em condições de uso. O problema dos resíduos sólidos e suas conseqüências para o meio ambiente fez a moda reciclável virar tendência e isso já rendeu boas alternativas sustentáveis. A multinacional fornecedora de uniformes da seleção brasileira de futebol, apresentou em 2010 as camisetas que o Brasil vestirá na Copa do Mundo de 2014, com um diferencial importante: o material utilizado na confecção foi desenvolvido com um novo tecido o Dri-fit, em que cada camiseta é produzida com oito garrafas Pet. A designer de jóias Junia Machado criou uma coleção chamada “Luxo do Pet” em que transforma garrafas PET e ouro em bijuterias em formato de flores e borboletas, inspiradas no artesato popular.

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Foto: Akit Yilmaz \ sxc

vende a peça que seria jogado no lixo e economia para quem decide levar a roupa para casa. A estudante Taynara Macedo compra em brechós uma vez por mês, principalmente pela variedade das peças, segundo ela, a loja costuma vender modelos de roupas que não encontraria nos shoppings. “Com R$ 100 numa loja convencional eu sairia no máximo com duas peças; num brechó com esse mesmo valor eu consigo comprar em média seis peças de roupas de ótima qualidade”, afirmou.

Foto: Moodboard \ Corbis

Além de criar tecidos e jóias através da reutilização de embalagens é possível também reaproveitar as peças de roupas que seriam jogadas no lixo: customizá-las, transformá-las em outras mais modernas – calça jeans que viram bolsas ou saias, por exemplo- ou comercializá-las em Brechós. Na loja, é possível vender peças, comprar ou trocá-las. Dessa forma, além de diminuir a quantidade de resíduos sólidos nos aterros sanitários é possível também gerar lucro para quem

Foto: Moodboard \ Corbis

A primeira loja de rou- ços mais baixos, quanto pas usadas chegou no pelo lado ecológico. país em 1972, a ideia foi Uma calça jeans, por trazida da Europa pela exemplo varia de R$10 cantora Maysa Monjar- a R$ 50 em um brechó, dim que criou o Malé nas lojas convencionais lixo. A inovação levou 30 a peça é vendida a partir anos para se popularizar de R$ 50. Os brechós são e hoje está espalhada por sustentáveis e lucratitodo o país e ganha força vos, todos são beneficiana internet. Aos dos: quem venpoucos, as pesde consegue Uma calça soas foram se dinheiro e jeans, por exemplo acostumanum espavaria de R$10 a R$ 50 do a com- em um brechó, nas lojas ço extra prar em no armáconvencionais a peça é brechós e rio, quem vendida a partir de com a moda compra R$ 50. vintage em economiza e alta o preconceios proprietários to de usar roupas de se- se transformam em emgunda mão foi perdendo presários bem sucediespaço. Assim, promo- dos. Segundo pesquisa vendo a reutilização de divulgada pelo SENAI é roupas, sapatos e aces- necessário um capital sórios as lojas ganharam inicial de R$ 6 mil para adeptos: pessoas que abrir uma loja e o lucro querem estar na moda, mensal é de aproximatanto pela exclusividade damente R$ 4 mil reais. de algumas peças e pre-

Foto: Robert Linder \ sxc

O pioneiro foi criado pela cantora Maysa

O tempo de composição de um sapato de couro é de aproximadamente 50 anos e o de uma camiseta de algodão de 5 meses.

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ECOSHOPPING

Absorventes Ecológicos O coletor de menstruação é uma alternativa ecológica para “aqueles dias”. Cada mulher descarta no meio ambiente em média 10 mil absorventes ao longo da vida fértil, isso significa cerca de 100 kg de lixo que levam 100 anos para se decompor. O Moon Cup, como é conhecido nos Estados Unidos, é um copo produzido com silicone medicinal. Ele é inserido dentro da vagina para coletar o sangue menstrual e pode ser utilizado por um período de até 12 horas, depois é só lavar e guardar. A vida útil do produto é de aproximadamente 10 anos. No Brasil ele é produzido pela empresa Miss Cup e tem dois tamanhos: uma para mulheres com menos de 30 anos que ainda não tiveram filhos e outros para mulheres acima de 30 anos. O valor médio do coletor é de R$ 70. E para quem não é adepta ao absorvente interno, mas não abre mão de usar produtos sustentáveis, pode utilizar o absorvente de pano, produzido com tecido de algodão. O Valor médio é de R$ 12 e a duração é de 6 a 10 anos.

Amaciantes concentrado A Ypê lançou uma linha de amaciantes de roupas concentrado, que economiza água. Uma garrafa com 500 ml e rende a mesma quantidade que uma embalagem de 1L. Os novos produtos possuem uma cápsula de perfume que se rompem durante a lavagem e a fragrância de roupa lavada dura mais tempo. O valor médio é de R$ 5. 8

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Jeans sustentável

Eco Pincéis Produzido com cabo de bambu e ponteira de alumínio reciclado. As cerdas são sintéticas e macias e não utiliza pelos de animais. O Kit contém 4 pincéis: um para pó, dois para sombras e um mini-kabuki, para o retoque da maquiagem. O estojo é produzido com fibras naturais. O preço médio do kit é R$50.

A marca carioca Reserva criou a linha Eco Friendily produzida com sobras de retalhos de jeans que seriam jogadas no lixo. O tecido volta para o processamento e os fios ganham uma nova roupagem. A grife lançou 20 modelos que vão desde o corte tradicional reto, passando por skinny e saruel até as peças com lavagens desgastadas. O preço médio da peça é R$ 429 e está a venda nas lojas da marca.

Calçado Biodegradável A Gucci lançou no final do mês de junho a linha de sapatos Sustainable Soles . A coleção é fabricada em plástico biodegradável e inclui um tênis masculino, batizado de California Green e um feminino, o Marola Green. Os dois modelos são assinados pela diretora criativa da marca, Frida Gianini. julho \ agosto 2012

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O TRANSPORTE

DA VEZ Em ano de Rio+20, ressurgem as discussões sobre o meioambiente, a mobilidade urbana e as alternativas aos meios de transporte poluentes

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m março deste ano ciclistas de todo o mundo se reuniram nas ruas portando nada mais do que suas bicicletas e reivindicações para a melhoria da segurança e assessibilidade nas cidades. O movimento conhecido como World Naked Bike – Pedalada Pelada, no bom Português – trouxe à tona a preocupação com o meio-ambiente, a saúde, o bem-estar, a sustentabilidade, a mobilidade urbana e a segurança daqueles que pedalam pelas ruas em busca de meios de transporte menos nocivos ao meio-ambiente. Vinte anos depois da ECO-92, a Organização das Nações Unidas (ONU) resgata a preocupação com a sustentabilidade e degradação do planeta na Rio+20, sediada na cidade do Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho deste ano. A discussão é válida: carros, ônibus, caminhões e motos consomem mais da metade dos combustíveis fósseis do mundo, além de causarem 80% da poluição do ar nas cidades de países em desenvolvimento e de serem responjulho\agosto 2012

sáveis por um quarto das emissões de C02, segundo dados da ONU. A situação pode se resolver com um investimento na infraestrutura de transporte público e aumento na eficiência dos veículos, o que reduziria em 70% as emissões de poluentes. Entre os dados sobre sustentabilidade, a solução é investir em outras formas de transporte menos poluentes, com a criação de ciclovias e bicicletários públicos nas grandes cidades brasileiras. A medida já foi aplicada em Salvador (BA), que às vistas da Copa do Mundo 2014, investe no Projeto Cidade Bicleta – Mobilidade para Todos, cuja principal medida é a implantação de 217km de malha cicloviária em Salvador e Lauro de Freitas. Em São Paulo, o bicicletário Mauá, conhecido por ser o maior da América Latina, disponibiliza estacionamento para aproximadamente 2.000 usuários por dia, além de serviços de manutenção e centro de reparos. Juntos, o metrô paulistano e a Companhia Metropolitana de Trens possuem cerca de 44 bicicletários e disponibilizam 10.600 vagas para bicicletas.

Fonte: DesastreMoi/Deviantart

Fonte: Bryant Scannell/Deviantart

Fonte: Sylwia Nehring/Deviantart

Fonte: Xessencex/Deviantart

CAPA


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Fonte: DesastreMoi/Deviantart

Fonte: AyrtonKDeviantart

“A sustentabilidade pode começar em casa? Eureka! Recicle os materiais deles”, é o que diz o quadro ao lado, explicando que com atitudes simples se pode ajudar o meio-ambiente Já em Florianópolis, a situação é diferente. criados 120 quilômetros de ciclovias, bem como Apontada como a cidade com o pior índice de mo- caminhos seguros para pedestres, com o objetivo bilidade entre as capitais brasileiras, a Ilha da Magia de fornecer um sistema alternativo de transporte só perde para Phuket, na Tailândia, no índice de pior e contribuir com a diminuição das emissões de poluentes. As ciclovias estão localizadas em avemobilidade urbana do mundo. Além disso, a cinidas principais e ruas secundárias, mas dade ainda possui a segunda maior tarifa também atravessam alguns parques de transporte público do país (R$2,90). da cidade. O estudo é de Valério Augusto Soares de Medeiros, da Faculdade de Pensar em novos Arquitetura e Urbanismo da Unimeios de transporte versidade de Brasília (UnB). A Para aqueles que deixaram o solução para o problema é a iné essencial para carro de lado e optaram pela tegração entre vários meios de bicicleta, os benefícios são transporte, a criação de mais lidiminuir a emissão muitos. Uma atividade regular gações entre a Ilha e o Continenna bicicleta pode consumir de te e a aposta nas ciclovias como de poluentes 300 a 500 calorias e ajuda a melhopossibilidade de deslocamento em rar a capacidade cardiorrespiratópequenos trajetos. Para resolver a ria, reduz o peso corporal, contribui na questão, a prefeitura de Florianópolis prevenção e no tratamento de hipertensão, desenvolveu o Projeto Velocidade, no intuito de ampliar e melhorar a eficiência da mobilidade do infarto do miocárdio e do colesterol alto, entre outros problemas de saúde. Além disso, a atividade por bicicletas pela cidade. Fora do Brasil, algumas cidades já experi- trabalha os músculos inferiores, da coxa, da panturmentam a alternativa da bicicleta para desobstruir rilha e do glúteo, o que pode ser um ótimo exercício o trânsito. Em Bogotá, capital da Colômbia, foram para quem quer aparecer bem no verão.

Os benefícios

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Mas pedalar na cidade exige certo cuidado, já que o ciclista pode topar com alguns contratempos e ser prejudicado pela falta de estrutura das ruas e avenidas para esse tipo de atividade. “Use sempre capacete e mantenha a bicicleta revisada, tendo sempre em mãos uma câmara reserva para o pneu e um canivete multiferramentas”, aconselha o doutorando em Física, Maurício Schappo (23), que tem a bicicleta como principal meio de transporte diário. Outra dica é o uso de refletores e luzes para bicicleta quando for pedalar à noite, o que pode evitar atropelamentos.

O que diz a Lei

da comoA LeiLeidanº12.587/12, mais conheciMobilidade Urbana, en-

trou em vigor em 13 de Abril deste ano e tem como objetivo a integração entre os meios de transporte e a melhoria da mobilidade e acessibilidade urbanas. A prioridade, assim, passa a ser dos meios de transporte coletivo – que desobstruem o trânsito da cidade – e meios não-motorizados de transporte, como bicicletas. O Governo Federal, juntamente com Estados e Municípios, injetará 30 bilhões de reais em infraestrutura de mobilidade urbana por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2). Com a medida, espera-se também uma melhora nas questões ambientais, com a redução de emissão de poluentes e o incentivo de outras formas de transporte.

O uso de bicicleta no Brasil A bicicleta veio para cá em meados do século XIX por meio do contato com imigrantes europeus, que se instalaram no sul do país. Logo de início, a bicicleta foi popular entre trabalhadores, em especial os empregados de indústrias e pequenos estabelecimentos das áreas urbanas. Nos pequenos centros urbanos do Brasil (menos de 50 mil habitantes), a bicicleta é o veículo individual mais utilizado para o deslocamento. Nas grandes ci-

dades brasileiras, o uso das bicicletas se manifesta mais nas regiões periféricas, visto que há mais oferta de transporte coletivo e um tráfego mais denso de veículos nos centros metropolitanos. De acordo com a cartilha do Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, o Brasil possui a sexta maior frota de bicicletas entre todas as nações, perdendo somente para China, Índia, Estados Unidos, Japão e Alemanha.

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ENTREVISTA

Ricardo Romero

pedala manaus

O biólogo é um dos organizadores do movimento que estimulou a população amazonense a tirar as bicicletas da garagem

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Pedala Manaus é um movimento criado em 2010 por estudantes do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), que defende a utilização da bicicleta como meio de transporte, lazer e esporte. O grupo começou com poucos participantes, mas hoje reúne quase 500 pessoas para pedalar nas ruas da capital amazonense. Além da programação

semanal- terça tradição e quinta coletiva, e da anual – semana do meio ambiente, hora do planeta e dia mundial sem carro - o movimento organiza também bicicletadas com o objetivo de divulgar a bike como meio de transporte. Em abril, o Pedala Manaus convidou a sociedade amazonense a discutir sobre a questão da mobilidade urbana no I Fórum de bicicleta de Manaus.

Por: Rosângela Menezes

Brasil 21 - Como surgiu a ideia de criar um movimento de incentivo ao uso da bicicleta, numa cidade sem estrutura para o ciclismo como Manaus? Ricardo Romero - A ideia de incentivar o uso da bicicleta surgiu após a identificação da demanda reprimida, conforme indicou o aumento repentino de pessoas que se juntaram aos primeiros seis membros do Pedala Manaus. Em pouquíssimo tempo, pedalávamos com mais de 50 pessoas e em sua maioria, Manauaras. Hoje pedalamos com mais de 450 por semana, criaram-se diversos outros grupos com ideias parecidos e a bicicleta segue numa forte crescente na Cidade. B.21 - A primeira pedalada aconteceu com um número tímido de participante, e muito rapidamente deu um salto de dezenas para centenas de pessoas. Quais foram as principais conquistas adquiridas pelo Pedala Manaus nestes dois anos de existência? 14

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R. R. - Essa crescente no número de ciclistas nas ruas de Manaus ficou bastante evidente com os passeios pelas vias urbanas e causou um impacto positivo com relação ao trânsito e o respeito dos motoristas para os ciclistas. Nossas atividades são seguras e bem organizadas, o que proporcionou uma aproximação junto ao poder público e ao setor privado, buscando sempre formas de melhorar as condições para nossas atividades. Hoje temos um diálogo aberto com o Estado e a Prefeitura na busca de soluções voltadas para a Mobilidade Urbana em Manaus. B.21 - Em março aconteceram em várias cidades do país pedaladas em protesto a falta de segurança para o ciclista no trânsito. Já aconteceu algum acidente com participantes durante os eventos promovidos pelo Pedala Manaus? R. R. - Em Manaus também ocorreu essa Pedalada em protesto as mortes ocorridas no trânsito e tivemos uma adesão considerada

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“Hoje temos um diálogo aberto com o Estado e a Prefeitura na busca de soluções voltadas para a Mobilidade Urbana em Manaus.” de participantes. Já ocorreram inúmeros acidentes em nossas atividades, mas todos considerados “leves”. Essas pessoas que se acidentaram, logo retornaram as atividades e hoje permanecem conosco nos passeios semanais. Exatamente por conta do risco de acidentes, todos os dias de atividade os ciclistas são lembrados da importância de respeitarem as leis de trânsito, os demais ciclistas do grupo e a obrigatoriedade do uso de equipamentos de segurança, como as luzes de identificação e o capacete.


Foto: Isaac Ferreira \ Pedala Manaus

O Teatro Amazonas, principal cartão postal da cidade, faz parte da programação do grupo Pedala Manaus B.21 - O Pedala Manaus tem parceria com outros movimentos cicloativista do país? R. R. - O Pedala Manaus hoje é modelo para diversos grupos de bicicletas do País. Nosso formato de organização reflete nos resultados, como o I Fórum de Bicicleta de Manaus, parcerias com o poder público e outras atividades realizadas pelo Movimento. Com outros grupos e Movimentos, temos um diálogo aberto e direcionado, para que o Brasil cresça nas políticas públicas voltadas para a bicicleta como parte da solução dos problemas de Mobilidade Urbana nas grandes Cidades. B.21 - O movimento Pedala Manaus é independente ou recebe patrocínio de empresas ou organizações? R. R. - O Pedala Manaus é independente e sem fins lucrativos. Em breve se consolidará como Associação Ciclística Pedala Manaus e buscará recursos junto a editais públicos e privados e outras formas de financiamento através de

projetos. Hoje temos patrocínios pontuais com empresas privadas, através da publicidade da nossa página de internet e apoio do Poder Público em eventos pontuais, como o Fórum de Bicicleta de Manaus, passeio da Semana do Meio Ambiente e outras atividades. B.21 - A nova política Nacional de Mobilidade Urbana prevê a cobrança de pedágio urbano para desestimular a utilização de automóveis. O Pedala Manaus concorda com a criação desse tributo? R. R. - O Pedala Manaus apoia, de forma geral, a nova Lei Nacional de Mobilidade Urbana. São três anos para a adequação da cidade para pedestres (acessibilidade), usuários de veículos não-motorizados e transporte coletivo. Os meios para que se chegar a melhoria na qualidade de vida dos manauaras, envolve diretamente ao desestímulo do transporte individual por conta da diferença entre o volume de vendas desses veículos e a adequação das vias para recebê-los, o

que terá como resultado o colapso do sistema viário. O pedágio urbano é uma das formas de “forçar” o motorista a deixar o carro em casa e se for aplicado de forma inteligente e complementar a outras ações, poderá melhorar e muito o trânsito da Cidade.

“O pedágio urbano é uma das formas de forçar o motorista a deixar o carro em casa” B.21 - A lei também prevê que o dinheiro arrecadado pelo fundo municipal de transporte seja revestido para melhoria do transporte coletivo e não-motorizado. O Pedala Manaus está participando dessa discussão junto à prefeitura da cidade? R. R. - O Pedala Manaus atua junto ao Poder Público e participa

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Fotos: Isaac Ferreira \ Pedala Manaus

das discussões sobre Plano Diretor e audiências sobre mobilidade urbana e outras. A questão da Lei Nacional de Mobilidade ainda é recente e por conta das eleições municipais que ocorrem daqui alguns meses, ainda não foi discutido de forma prática entre a Prefeitura e a Sociedade Civil. No I Fórum de Bicicletas de Manaus, tivemos um período exclusivo para discutir e alertar a população sobre a nova Lei e deixar claro que sem a mobilização da sociedade, nada iria acontecer; ou pelo menos não dá forma como deveria (melhoria de infra-estrutura, modais integrados e calçadas, por exemplo). B. 21 - O Pedala Manaus iniciou como uma prática entre amigos e tornou-se um incentivador para as discussões sobre a mobilidade urbana em Manaus, chegando inclusive a contribuir para o aumento da venda de bicicletas na cidade. O que representa para o movimento as conquistas adquiridas nesses dois anos? R. R. - O Pedala Manaus participou ativamente do aquecimento do mercado de bicicletas no Amazonas (conforme matérias publicadas em jornais, um aumento de 30% na produção e vendas) e no número de ciclistas que retornaram a atividade ou que começaram a pedalar. Isso, para o Movimento, é algo bastante gratificante e demonstra que estamos no caminho certo para promover a transformação da Cidade e dos cidadãos que aqui vivem. Fundamental ter pessoas mais críticas, formadores de opinião, que se posicionem de forma organizada para reivindicar as melhorias da cidade e transforme o trânsito, que hoje é caótico, numa relação mais harmônica nos diferentes modais, seja coletivo ou individual – motorizado ou não. B. 21 - Quais dicas você daria para quem quer começar a pedalar? R. R. - Pedalar em Manaus ainda não é seguro e não temos infra-estrutura destinada exclusivamente a ciclistas. O Pedala Manaus promove pedaladas organizadas e seguras para iniciantes e pessoas já experientes, proporcionando um novo entendimento/conhecimento sobre a cidade e integração entre os “pedaleiros”. Se a busca é por qualidade de vida e bem-estar, nossa dica é participar de nossas atividades nas terças e quintas-feiras e também utilizar a área da Ponta Negra aos domingos para adquirir confiança e assimilar melhor as formas de conduta para se ter melhor segurança em meio ao trânsito de Manaus. Veja mais em: www.pedalamanaus. Antes da pedalada Ricardo Romero orienta os par- org. ticipantes com dicas de segurança, como o capacete 16

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Foto: Hawry \ Deviantart

ENERGIA

Biomassa: fonte limpa de energia vinda da natureza

O uso dessa fonte renovável será a saída para o futuro sustentável do planeta Por: Jéssica Sant’Ana

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s dados divulgados de biomassa mais utilizados como pelo Greenpeace, no fonte energética são a lenha, o baRelatório Revolução gaço da cana-de-açúcar, os resíduEnergética, indicam os agrícolas, a casca de arroz e os que as fontes renová- excrementos de animais. veis de energia que mais vão crescer no Brasil até 2050 são a eólica, O Brasil é o líder a solar e a biomassa. Mas, a boa notícia, é que o uso dessas fontes Segundo os dados do relatório do limpas já é uma realidade no país. Pew Environment Group, o BraSegundo dados do Boletim de Eco- sil é pela primeira vez o líder do nomia e Política Internacional do ranking mundial de países com Instituto de Pesquisa Econômica capacidade instalada para geraAplicada (IPEA), 46% da energia ção de energia por biomassa. A consumida capacidade do são geradas nosso país chepor fontes al- 46% da energia gou a 8,7 GW ternativas. (gigawatts), A biomas- consumida são geradas crescendo 1,9 sa é a princi- por fontes alternativas GW em relação pal fonte de a 2010. energia limpa utilizada no Brasil. O Brasil registrou o terceiro mais Segundo pesquisas da Agência rápido crescimento de 2006 a Internacional de Energia, ela irá 2011, aumentando em 49% a sua fornecer 30% da energia consu- produção. O relatório também mida no mundo até 2050. Os tipos mostra que o Brasil é o líder na julho \ agosto 2012

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Foto: Roberto Ribeiro \ SXC

produção de biodiesel e o décimo maior investidor em energia limpa no mundo. No ano de 2011, foram investidos quase 15 milhões de reais em energias renováveis, um aumento de 15% em relação ao ano anterior.

a maior parte. Todo esse material era descartado em aterros, já que não tinha valor comercial. Para gerar energia, a casca de arroz é queimada, por suspensão, em caldeiras. O calor proporcionado aquece a caldeira com água, produzindo o vapor necessário para impulsionar as turbinas. As turbinas geram energia mecânica que é convertida em energia elétrica, através de transformadores, proporcionando então a energia em quilowatt.

Os Biodigestores Uma solução simples, que transforma dejetos de animais em energia são os biodigestores. Essa tecnologia já é utilizada há mais de duas décadas no Brasil. O clima tropical do país facilita a implementação dessa prática, pois como as temperaturas ficam com média acima de 20ºC, é dispensável a utilização de sistema aquecimento. Ele é usado predominantemente em pequenas propriedades rurais, já que sua construção é de baixo custo.

A usina Termelétrica de São Borja, localizada na cidade de São Borja (RS), será a responsável por transformar a casca de arroz em energia. Inaugurada no mês passado, ela vai gerar eletricidade para abastecer uma cidade com 80 mil habitantes. A estimativa é que 10% do total de energia produzida seja usada para manter a própria usina e 90% seja comercializada. Noventa e seis mil toneladas de casca de arroz devem ser utilizadas por ano. Na cidade de São Borja são produzidos cerca de 10 milhões de sacos de grãos de arroz por ano. E o processamento industrial desse alimento gera resíduos, sendo que a casca do arroz corresponde 18

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julho \ agosto 2012

Foto:MOrganaAqua \ Deviantart

Casca de arroz vira energia

O cupuaçu é uma espécie nativa da Amazônia, da mesma família do cacau. A polpa do fruto é usada para a produção de bombons, musses, sorvetes, sucos e refrescos. A casca os produtores usam como adubo para as suas plantações. Mas um projeto do Centro Nacional de Referência em Biomassa, em parceira com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), está testando esse resíduo do cupuaçu como combustível para produção de eletricidade. Para a casca virar energia, é necessário que ela seja queimada dentro de um gaseificador com pouco oxigênio. A combustão incompleta produz um gás que ao ser misturado a motores movidos a diesel, reduz em 80% o consumo desse combustível. Ou seja, um motor que consome dez litros de diesel vai passar a consumir 2 litros se o gás proveniente da queima da casca do cupuaçu for misturado.

Foto: Axelle \ Deviantart

A casca de cupuaçu

Para transformar o lixo em energia, os excrementos de animais e os restos de alimentos são misturados com água no alimentador do biodigestor, que nada mais é do que um tanque protegido do contato do ar atmosférico. Dentro dele, as bactérias anaeróbicas atuam decompondo o lixo e transformando-o em gás metano e adubo. O gás é encanado e pode ser utilizado como combustível para gerar energia. O resíduo sólido que sobra é aproveitado como fertilizante.


Foto: Robert Lincolne \ SXC

O Brasil é o líder mundial em capacidade instalada para geração de energia por biomassa, com 8.7 gigawatts A SEGUNDA GERAÇÃO DE ETANOL As quarenta minivans que transportaram as comitivas participantes da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foram abastecidas com a segunda geração de etanol brasileiro. Conhecido também como E2G, o novo combustível permite ampliar a produção de etanol em 40%, já que utiliza os resíduos da plantação de cana-de-açúcar como matéria-prima. Na produção da primeira geração, a matéria-prima é a própria cana-de-açúcar. Esse novo etanol é resultado das pesquisas que a Petrobras vem realizando desde 2004 e deve estar disponíveis nos postos de combustíveis brasileiros daqui a três anos. De acordo com o presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rosseto, o preço do produto será o mesmo pago pelo etanol

usado hoje nos postos de gasoli- da, vamos produzir 40% a mais de na. A estimativa é que em 2015 a etanol. Mas o que é mais imporprodução comercial do E2G fique tante: se você pode usar o bagaço entre 80 a 150 milhões de litros de cana para produzir etanol, você por ano. pode usar o resto de qualquer ouOs estudos demonstraram tam- tra produção de alimentos para bém que uma tonelada de bagaço produzir energia”. seco da cana rende 300 litros de etanol. “As usinas para produção do E2G serão acopladas às usinas de primeira geração do combustível para garantir O novo a eficiência energética na combustível permite produção. Vamos produzir mais etanol com ampliar a produção de a mesma área plantada, usando a canaetanol em 40%, já que utiliza -de-açúcar e transformando o resíduo os resíduos da plantação de também em combustível”, explicou Rosseto. cana-de-açúcar como A presidenta Dilma matéria-prima Rousseff destacou que “Com esse novo combustível, aproveitamos melhor a cana e, com a mesma área plantajulho \ agosto 2012

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Um guia da Casa Sustentável

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