Revista Atuação – Ano 7 – Nº 14 – Dezembro de 2016 – ISSN 2525-8079

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ARTIGO

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historiadora portuguesa Raquel Varela, na introdução do livro Para onde vai Portugal?, lembra que “otimista é um tolo”, como escreveu Ariano Suassuna, “e um pessimista um chato”, “bom mesmo é ser um realista esperançoso”, como ele rematava. A realidade pode ser diferente do que é: mesmo que a Terra pareça estar parada, ela se move. A sociedade não muda sozinha para melhor. Os revolucionários – aqueles que querem mudar o mundo – sabem que se não o mudarmos, ele pode nos transformar em seres tão feios e brutos como ele. Percebe-se, atualmente, um novo vigor na discussão política. A política voltou a ocupar as ruas, as mentes e os corações. Política no sentido original do termo, criada pelos gregos do século V a. C., como a arte do bem comum. Política como a arte de corrigir as distorções que o próprio desenvolvimento

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da vida em sociedade produz. É preciso, também, seguir as orientações do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) e diferenciar a “pequena política” da “grande política”. A primeira reduz a política à sonolenta e desinteressante rotina dos gabinetes. O que interessava aos partidos políticos eram as questões parciais e cotidianas no interior de uma estrutura já estabelecida. Era a política do dia a dia, da escolha do “melhor candidato”, da articulação parlamentar. Um universo restrito a corredores de intrigas e conchavos. O que se estabeleceu, então, foi a politicagem, as picuinhas, a mera disputa pelo poder sem questionar a quem serve o poder. A segunda, a “grande política”, é o campo no qual os embates eram travados entre classes sociais antagônicas, com vistas à formulação de propostas alternativas de sociedade. O problema é que a “pequena política” praticamente sequestrou a “grande

política”. O grande desafio dos nossos dias é dar novamente voz e protagonismo à “grande política”, a fim de restituí-la ao seu local de origem – do qual nunca deveria ter saído: as praças, as ruas e os espaços públicos. Todos irmanados na convicção de que outro mundo, outra organização social é possível, é urgente e é necessária. A consciência de que a mobilização popular é um sólido instrumento de pressão e de conquistas sociais. Estamos caminhando nesse sentido. O terreno da “grande política” voltou a se mover ao redor do mundo. Slajov Zizek (2012), no livro O ano em que sonhamos perigosamente, discute as diversas rebeliões mundiais ocorridas em 2011, analisando os sonhos de emancipação que mobilizaram milhares de manifestantes em Nova York, com o Occupy Wall Street; na Espanha, com a Revolta dos Indignados; nos protestos nos subúrbios de


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