Revista Arkhé # 02_2015

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atuam em uma escola que parece ser mais flexível, deveriam investigar isto de forma mais sistematizada. Eu diria assim, no tipo de exercício feito no Atelier, no tipo de reflexão. Acho que o conteúdo é tão marcante que a gente deve dar a partida. Por melhor que sejam as nossas capacidades, as nossas metodologias, pode ser que os alunos não entendam de saída, mas pode ter certeza que três/quatro tentativas vão dar um rumo mais consistente. Se fizermos isto paulatinamente a base da profissão poderá ser transformada. É um trabalho de no mínimo duas gerações futuras. Aí essa discussão de formação de cultura, de país, de forma mais amadurecida de projeto deverá nortear as ações. Talvez seja esta realmente a nossa contribuição no momento. Somar com a cultura das regiões e países. O local integrado ao global. Está tudo por fazer. Os outros países também não estão certos nesse aspecto, entendeu? Está tudo sendo transformado, mas ainda muito com visões do ego, auto- expressões, que são relevantes, reais, mas fragmentos de metodologias não podem direcionar a expressão cultural enquanto forma de estruturação da profissão. Às vezes o mesmo escritório, ou arquiteto estando em evolução, faz um projeto integrando tudo e em outro, não sei quais foram seus condicionantes; não se utiliza de todas as possibilidades. Então eu vejo que as universidades deveriam estar se preocupando mais com isso, com o que fazer, aonde focar, o que considerar. Como definir e reavaliar as principais variáveis de uma metodologia projetual? Este é um ponto em aberto na profissão, em todo o mundo. ARKHÉ – O lote urbano, que é um negócio que fica ali, num quadrado... E o plano diretor é um negócio que “emburrece” o projeto... A iniciativa da Pedra Branca pode ser uma alternativa a esta forma de fazer cidade e arquitetura? NTN – O estudo da cidade e do processo de preservação do patrimônio urbano é um conhecimento que tem aí no máximo uns 120 anos. Conhecimento de como a cidade foi se organizando e suas “multiespacialidades” foram combinando de acordo com uma estrutura de poder. Trata-se de uma estrutura de poder, porque a relação econômica, o papel do capital, a estrutura dos negócios, o valor da infraestrutura, o valor da terra também definem as macros – relações que configuram a cidade. Os planos devem estudar e criar mecanismos de controlar e entender a forma que estas variáveis podem ou deverão ser integradas no desenho urbano. Entender como elas estruturam as cidades seria um dos principais desafios da Arquitetura e Urbanismo. Eu vou tentar dar um exemplo bem prático de como seria. Temos um lote, ok! Mas quais são as variáveis que interferem no problema? Dinheiro é certo 30

IMAGEM: © José Angelo Mincache.

ENTREVISTA

que interfere, é o capital que vai dizer seguindo determinadas regras urbanas e econômicas se isso aqui vale tanto. Se a gente dominasse um pouco mais isso, que não é tão complicado, a gente poderia dizer assim: Quais são os itens que seriam mais relevantes para a vida social? Quanto ao aproveitamento deste lote ou desta quadra? Você prioriza a vida social ou o capital? Algum destes Ítens poderiam ser negligenciados, quais os outros que são relevantes e prioritários? Como qualificar os espaços do térreo até o quarto andar, por exemplo. O que interessa como um todo e como qualificar? Isso poderia ser uma tese de doutorado, ensaios críticos de mestrado. Como fazer com que pudesse ter outros espaços públicos no conjunto dos prédios? E como trabalhar o topo deste prédio? Se eu começasse por aí, com alguns critérios, combinando intenções sociais, poder do dinheiro, valorizações do repertório projetual de ruas, praças, galerias, e outros que contribuam para a vida da cidade e qualifiquem os espaços públicos da cidade, talvez os Planos Diretores em um processo dinâmico de decisões e reavaliações contínuas pudessem contribuir mais. Como estão sendo feito, com metodologia desatualizadas, variáveis que não consideram claramente o problema, estrutura técnica de confecção e reavaliação quase inexistente, é muito difícil que resolvam ou apoiem o desenvolvimento das necessidades Temos que recriar tudo, estrutura de poder decisória com mais produtividade e eficiência nos mecanismos de controle e representatividade, metodologia de projeto, processo de reavaliação do que está sendo implantado, estudo de novas tendências e suas aplicações. O caso muito discutido do nº de pavimentos de um prédio é um exemplo. No meu ponto de vista, não interessa se são dez andares, quinze andares ou até vinte andares, desde que você saiba socialmente, funcionalmente, espacialmente o que você quer. E aí você poderia dizer assim: não eu até te dou capital, eu te dou até mais um andar, se você fizer algo que melhore a

ARKHÉ | REVISTA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – UNIVALI


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