Amazonia 34

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Garimpos clandestinos devastam Amazônia A crescente presença dos garimpos na Amazônia brasileira, estimulada pelo aumento do preço do ouro no mercado nacional e internacional, traz à tona um alerta ambiental que vai além da visível degradação de solos e margens de rios. O uso de substâncias como mercúrio e cianeto na separação e limpeza do mineral transforma o garimpo de ouro em uma das atividades mais poluidoras, contribuindo para a contaminação de peixes e animais silvestres e afetando a saúde humana

no norte do estado, que já teve forte movimento da atividade e hoje está em fase final, e Juruena, no noroeste mato-grossense, onde o garimpo foi menos explorado. “Tem garimpos por toda a região e tem empresas com direitos minerários reconhecidos para atuar lá”, relata.

Como ainda há muito ouro superficial que atrai os garimpeiros ilegais, a área tem sido alvo de conflitos. As empresas tentaram solucionar o problema no final do ano passado, quando procuraram o governo de Mato Grosso e o DNPM. “A notícia que tive é que a reunião não

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foi muito boa. Parece que o governo local tomou partido do garimpo”, disse ele. “Os garimpos mais problemáticos são os de ouro e diamante. Na Amazônia, incluindo o norte de Mato Grosso, estão os mais problemáticos e irregulares, tanto por estarem em áreas proibidas, como por serem clandestinos.” A Reserva Roosevelt, no sul de Rondônia, a 500 quilômetros da capital, Porto Velho, é outro ponto recorrente do garimpo ilegal. A propriedade de mais de mil índios da etnia Cinta-Larga, rica em diamante, foi palco de um massacre, em 2004, quando 29 garimpeiros, que exploravam clandestinamente a região, foram mortos por índios dentro da reserva. O episódio foi seguido por várias manifestações dos Cinta-Largas, incluindo sequestros, que pediam autorização para explorar a reserva. “Agora existe um grupo de garimpeiros atuando junto com os índios, ilegalmente. Agora, eles estão de mãos dadas. A gente viu fotografias com retroescavadeiras enormes”, diz o geólogo. Os garimpos na Reserva Roosevelt voltaram a ser desativados, quando o Ibama deflagrou mais uma operação na região, com o apoio da Polícia Federal. Marini explicou que ainda não é possível contabilizar os números da atividade praticada ilegalmente na região. “Não há registro. Na região do Tapajós, onde o garimpo está na fase final, falava-se em valores muito altos, em toneladas de ouro que teria saído de lá, mas o registro oficial é pequeno, a maior parte é clandestina. Ouro, diamante e até estanho, que é mais barato, na fase de garimpo, mais de 90% era clandestino”.

O terrivel mercúrio O mercúrio metálico Hg +2 e particularmente o metilado Hg ( CH3) + , é uma substancia tóxica para o organismo humano e animal. Por uma afinidade com o ouro, o mercúrio é usado para separá-lo do cascalho. Adicionado à areia, ele forma com o ouro, e só com ele, um amálgama. Ao ser aquecido a altas temperaturas, esse amálgama se separa em gás mercúrio e ouro líquido, que rapidamente se solidifica no recipiente da operação. Assim, o mercúrio entra no meio ambiente na forma gasosa, liberada para atmosfera, e na forma líquida, no descarte da areia contaminada. A quantidade de mercúrio metilado descartado no ambiente vai entrar na cadeia alimentar dos peixes. Convém notar que na Amazônia o nível natural de mercúrio em muitos rios é mais elevado que o permitido chegando a 70 ppm no Rio Negro, onde o máximo permitido pela OMS é de 50 ppm.A maior taxa de periculosidade ocorre em populações que se alimentam de peixes. O mercúrio se acumula no organismo e sua eliminação se dá de forma muito lenta.Assim, ao ingerir peixe contaminado diariamente, as taxas de mercúrio, no corpo, crescem muito. Estudos realizados no Rio Tapajós revelam distúrbios neurológicos e mutagênicos recorrentes nas populações ribeirinhas.” revistaamazonia.com.br


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