Amazônia 125

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ISSN 1809-466X

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Ano 18 Número 125 Janeiro/2024 R$ 29,99 €

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ECOS DA COP28 COMO DESACELERAR AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS SISTEMAS ILPF MITIGAM EMISSÃO DE GASES NA AMAZÔNIA


COP30

Obras estratégicas para receber os participantes do evento e que ficarão como legado para Belém: • Parque ecológico São Joaquim • Duplicação da Av. Bernardo Sayão • Programa de Macrodrenagem da Bacia do Mata Fome (Prommaf) • Reforma do complexo

EDUCAÇÃO • 60 escolas construídas ou revitalizadas

SANEAMENTO • 37 escolas climatizadas

• 29 em obras

• 61 atendidas com energia solar

• R$ 90.8 milhões investidos em obras

• 66,3 mil alunos beneficiados

do Ver-O-Peso • BRS-serviço rápido de ônibus Júlio César • Reforma e requalificação do Mercado de São Brás • 300 ônibus com ar-condicionado e wi-fi

PROGRAMA DONAS DE SI

8 obras simultâneas em andamento, que mudam a realidade de mais de 270 mil pessoas com as obras e ações do Programa de Saneamento da Bacia da Estrada Nova. São projetos de macrodrenagem, microdrenagem, infraestrutura, saúde, abastecimento de água, esgoto sanitário, habitação, urbanização e mobilidade urbana • 2.375 pessoas atendidas com cursos gratuitos de qualificação profissional • 86,84% Mulheres – a maioria chefe de família

• 61 bairros atendidos • R$ 1.805.425,00 investidos em cursos • 3.626 vagas contratadas até maio de 2024

SAÚDE • 30 novas equipes na Estratégia Saúde da Família • 148 profissionais do Mais Médicos e mais 71 até o final do ano • Retomada do atendimento odontológico nas unidades de saúde • Reforma e novo tomógrafo no PSM da 14 • Nomeação de 1.120 agen- • 09 em obras para entrega • Aquisição da Unidade de Saúde Fluvial Camillo tes comunitários de saúde em 2024 Vianna, o barco da saúde • 18 unidades de saúde refor- • Reforma e aparelhamento madas ou construídas do Hospital de Mosqueiro • Casa Rua Nazareno Tourinho. 12 REVISTA AMAZÔNIA

Referência nacional com pessoas em situação de rua • 1.120 agentes comunitários e 295 agentes de endemias recém-aprovados para atuação em Belém • Pagamento do Piso Nacional da Enfermagem • Projeto Saúde Digital vai oferecer teleatendimento para mais de 1 milhão de pessoas em um ano • Aumento de 420 mil para 1 milhão e cinquenta mil as pessoas assistidas pela Estratégia Saúde da Família

Na pandemia: • Mais de 100 mil pessoas tratadas e recuperadas • Criação de 200 leitos exclusivos • 16 estruturas de atendimento • Aquisição de 2 usinas de oxigênio • Mais de 90% da população com pelo menos duas doses contra covid-19 revistaamazonia.com.br


REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA • 9.500 títulos de propriedade definitivos entregues • 12 bairros atendidos com segurança patrimonial para as famílias

ILUMINAÇÃO PÚBLICA Troca de luminárias antigas por led em cada bairro D C 3

PAVIMENTAÇÃO, DRENAGEM E ASFALTAMENTO

• 3.500 títulos em processo de finalização nos cartórios 160 ruas, 21 bairros e o Distrito de Outeiro beneficiados • Reforma da Avenida Celso Malcher na Terra Firme • Nova Senador Lemos: restauração completa • Rua dos Mundurucus

• Revitalização completa na rua Dois de Dezembro no Tapanã • Avenida Gentil Bittencourt • Avenida Serzedelo Correa

PRAÇAS

Mais de 20 praças reformadas entregues e outras já programadas para 2024 • Praça Doroty Stang e Parque dos Skates, na Sacramenta • Praça F, no Gleba I, Marambaia • Praça O, no Gleba I, Marambaia • Praça K, no Gleba I, Marambaia • Praça H, no Gleba I, Marambaia • Praça Sônia Maria, no Gleba II, Marambaia • Praça João XXIII, Val-de-Cans

• Praça Almir Gabriel, Maracangalha • Praça Independência, Umarizal • Parque Esportivo Cultural Iracema Oliveira, Cidade Velha • Complexo Ver-o-Rio, Umarizal • Portal da Amazônia, Jurunas • Praça Pet Índia, Doca • Praça São Sebastião, Sacramenta

PROGRAMA BORA BELÉM • R$ 60 milhões investidos em parceria da Prefeitura com o Governo do Estado

• 18 mil famílias beneficiadas • Auxílio de até R$ 500

• 25 mil pessoas beneficiadas por ano

GASTRONOMIA • Boulevard da Gastronomia Paulo Martins • R$ 5 milhões investidos • Sistema de iluminação em LED • Ciclofaixa • Novo paisagismo • Fortalecimento do artesanato, cultura e gastronomia Escola de Gastronomia de Mosqueiro • 1ª turma de tecnólogo em gastronomia • 01 Restaurante-Escola • Oficinas de alimentação para a comunidade • Ações de estímulo ao turismo e geração de emprego e renda

• 40 mil lâmpadas de LED instaladas de janeiro até novembro de 2023

• 40% de modernização da iluminação pública de toda a cidade

HABITAÇÃO

BANCO DO POVO • 440 pessoas atendidas com Crédito Solidário a juros quase zero gerando emprego e renda • R$ 1,3 milhão para quem não consegue crédito nos bancos comerciais • R$ 2,6 milhões devem ser investidos até 2024 • 50 bairros atendidos pelo Crédito Solidário

• 1.000 famílias já receberam a casa própria • 3,4 mil moradias em construção para entrega em 2024

• 2.024 novas moradias aprovadas para construção pelo Governo Federal, atendendo às demandas crescentes

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EXPEDIENTE PUBLICAÇÃO

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Após duas semanas de negociações, foi encerrada a cúpula do clima da ONU COP28 em Dubai. Foi a maior participação na história das COP’s – reuniu 97.000 delegados, de mais de 190 países, juntamente com negociadores, líderes empresariais e intervenientes não estatais, refletindo a crescente dinâmica e atenção dos líderes públicos, privados e da sociedade civil sobre esta questão crítica, de 30 de Novembro a 13 de Dezembro Antônio Guterres, chefe da ONU, disse que a menção ao principal contribuinte mundial para as alterações...

ONU: TERRA AQUECERÁ ATÉ 2,9°C, MESMO COM AS ATUAIS PROMESSAS CLIMÁTICAS

Tendo em conta os planos de redução de carbono dos países, o PNUA alertou que o planeta está num caminho para um aquecimento desastroso entre 2,5ºC e 2,9ºC até 2100. Com base apenas nas políticas existentes e nos esforços de redução de emissões, o aquecimento global atingiria 3ºC . Mas o mundo continua a injetar níveis recordes de gases com efeito de estufa na atmosfera, com as emissões a aumentarem 1,2% entre 2021 e 2022, afirmou o PNUA,..

10ª SESSÃO DO CONSELHO DIRETIVO DO ITPGRFA

Reunindo decisores políticos, agricultores e criadores de plantas, o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (ITPGRFA ou Tratado) visou conservar a diversidade das culturas e partilhar os seus benefícios para o bemestar humano e planetário. Destacou a importância da diversidade de culturas para a segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e o bem-estar socioeconómico, face aos desafios globais, incluindo as alterações climáticas. Sublinhou as contribuições...

PLANTAÇÃO DE ÁRVORES NATIVAS DA AMAZÔNIA RECUPERA ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO SUDESTE DO PARÁ

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Os sistemas integrados de produção têm um balanço positivo nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) no bioma Amazônia. Sejam de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), integração lavourapecuária (ILP) ou integração pecuária-floresta (IPF), eles sequestram mais do que emitem carbono na natureza. Um estudo realizado no maior experimento da ILPF do País mostra ainda que até uma pecuária solteira, quando bem manejada, é eficiente no balanço desse gás. O Brasil tem todas as condições para ser protagonista no cenário...

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Isso é especialmente importante quando enfrentamos os impactos interconectados do colapso climático, declínio da biodiversidade e rápidas mudanças ambientais que levaram à degradação dos ecossistemas em todos os lugares. Nosso precioso ar, rios, oceanos, terras e alimentos são afetados por resíduos plásticos, poluentes e destruição, levando à extinção, epidemias e pandemias. Associado a isso está o aumento da desigualdade e a deterioração dos direitos humanos, juntamente com o agravamento das injustiças enfrentadas pelas comunidades indígenas. Simultaneamente, também testemunhamos...

SISTEMAS ILPF MITIGAM EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NO BIOMA AMAZÔNIA

DIRETOR

Rodrigo Barbosa Hühn pauta@revistaamazonia.com.br

PRODUTOR E EDITOR

Ronaldo Gilberto Hühn amazonia@revistaamazonia.com.br

COMERCIAL

Alberto Rocha, Rodrigo B. Hühn comercial@revistaamazonia.com.br

ARTICULISTAS/COLABORADORES Ana Laura Lima, César Baima, Brendan Bane, Embrapa Agrossilvipastoril, Embrapa Amazônia Oriental, Emily Cassidy, Gabriel Faria, Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico, Museu de História Natural de Londres, Ronaldo G. Hühn, Vinicius Soares Braga;

FOTOGRAFIAS Alexander Farnsworth, Ariful Azmi Usman/Shutterstock, British Antarctic Survey, Carbon Brief, Climate Change, Copernicus,Divulgação/Internet, Dr. Eden Tekwa, Enilson Solano, ESA, Escola de Terra e Meio Ambiente de Leeds, Gabriel Faria, GEOMAR, IISD/ENB | Matthew Ten Bruggencate, IISD/ENB | Mike Muzurakis, IPCC, Jan Steffen, JHGilbert via Pixabay, Joshua Stevens, Kuring, Ocean Color Web, Lauren Dauphin, NASA, Nature, Nature Communications Earth & Environment, Nature Geoscience, Observatório da Terra da NASA/Norman, Paul Souders via Getty Images, PLOS One,© Romain Millan, Serviço de Mudanças Climáticas/Getty Images, Sriram Murali, Sylvia Heredia, SK Hasan Ali/Shutterstock, Universidade de Colúmbia Britânica, Universidade de Bristol, Universidade de Leed, Unsplash, Zuhaib Ahmed Pirzada, UNEP, UNEP-WCMC, Unsplash, Unsplash/ Caleb Cook, Zhuravleva, A. et al (2023), Wanmei Liang, WEF

DESKTOP Rodolph Pyle NOSSA CAPA

MAIS CONTEÚDO [16] Colapso da camada de gelo da Antártica Ocidental é “inevitável [19] Simulações climáticas para desviar dos desenvolvimentos reais no Pacífico tropical e sua importância para as terço do seu volume [28] Em setembro passamos de 1,5 graus. Em novembro, caímos mais de 2 graus pela primeira vez. O que está acontecendo? [32] Como desacelerar as alterações climáticas [43] A cor do oceano está mudando [46] Os tamanhos da vida [49] Fotos de Vida Selvagem 2023 [52] Auroras Vibrantes [58] Calor extremo provavelmente causará próxima extinção em massa [62] 99 Cidades costeiras ao redor do mundo estão afundando

CIC

I LE ESTA REV

Preservar a biodiversidade é vital para a segurança alimentar. Aimee Seager, ex-oficial associada do programa do UNEP-WCMC, explora a pesquisa do TRADE Hub que foi influente na estruturação da Estrutura Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF). Foto: UNEP-WCMC

EARTH PHOTO 2023

projeções do clima futuro [22] Plataformas de gelo da Groenlândia já perderam mais de um

FAVOR POR

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Editora Círios SS LTDA

RE

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Trabalho participativo da pesquisa junto a agricultores familiares do Sudeste do Pará revela que o plantio de espécies nativas - florestais e frutíferas - é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na região amazônica. Para áreas de reserva legal, a recomendação é a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Realizado no projeto de assentamento Mamuí, no município...

EDITORA CÍRIOS

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ECOS DA COP28

Editora Círios SS LTDA ISSN 1677-7158 CNPJ 03.890.275/0001-36 Rua Timbiras, 1572-A Fone: (91) 3083-0973 Fone/Fax: (91) 3223-0799 Cel: (91) 9985-7000 CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

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ECOS da COP28 Fotos: Divulgação/Internet, IISD/ENB | Mike Muzurakis, Unsplash

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pós duas semanas de negociações, foi encerrada a cúpula do clima da ONU COP28 em Dubai. Foi a maior participação na história das COP’s – reuniu 97.000 delegados, de mais de 190 países, juntamente com negociadores, líderes empresariais e intervenientes não estatais, refletindo a crescente dinâmica e atenção dos líderes públicos, privados e da sociedade civil sobre esta questão crítica, de 30 de Novembro a 13 de Dezembro Antônio Guterres, chefe da ONU, disse que a menção ao principal contribuinte mundial para as alterações climáticas surge depois de muitas anos em que a discussão desta questão foi bloqueada. Ele enfatizou que a era dos combustíveis fósseis deve terminar com justiça e equidade. “Para aqueles que se opuseram a uma referência clara à eliminação progressi-

va dos combustíveis fósseis no texto da COP28, quero dizer que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é inevitável, gostem ou não. Esperemos

Simon Stiell, secretário executivo das Nações Unidas para as Alterações Climáticas

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que não chegue tarde demais”, acrescentou o secretário-geral. As Partes adotaram uma decisão sobre o primeiro balanço global no âmbito do Acordo de Paris, que reconhece a necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE), em linha com as trajetórias de 1,5°C. Incentiva as partes a apresentarem, nas suas próximas contribuições determinadas a nível nacional, metas ambiciosas de redução de emissões para toda a economia, abrangendo todos os GEE, setores e categorias e alinhadas com a limitação do aquecimento global a 1,5°C. “A COP 28 também precisava de sinalizar uma paragem brusca no problema climático central da humanidade – os combustíveis fósseis e a sua poluição que queima o planeta. Embora não tenhamos virado a página da era dos combustíveis fósseis em Dubai, este resultado é o começo do fim”.

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Pela primeira vez desde que as COP’s do clima tiveram início em 1995, os países signatários da UNFCCC, apelaram oficialmente à aceleração da implantação de tecnologias de baixas emissões, incluindo a energia nuclear, para ajudar a alcançar uma descarbonização profunda e rápida, particularmente em sectores difíceis de reduzir, como a indústria e através da produção de hidrogénio com baixo teor de carbono. “Isso demonstra que existe agora um consenso global sobre a necessidade de ampliar esta tecnologia limpa e confiável para alcançar os nossos objetivos vitais em matéria de alterações climáticas e desenvolvimento sustentável”, disse o Diretor Geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi.

Rafael Mariano Grossi, Diretor Geral da AIEA

acelerar tecnologias com zero ou baixas emissões, incluindo, entre outras, energias renováveis, energia nuclear, tecnologias de redução e remoção, tais como captura, utilização e armazenamento de carbono, especialmente em setores difíceis de reduzir, e produção de hidrogénio com baixo teor de carbono; acelerar e reduzir substancialmente as emissões que não sejam de dióxido de carbono a nível mundial, incluindo, em particular, as emissões de metano até 2030; acelerar a redução das emissões do transporte rodoviário numa série de vias, nomeadamente através do desenvolvimento de infraestruturas e da rápida implantação de veículos com zero ou baixas emissões; e eliminar gradualmente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis que não abordam a pobreza energética ou as transições justas, o mais rapidamente possível.

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Delegados comemorando a adoção do Global Stocktake

Entre outras coisas, a decisão também apela às partes para que contribuam, de uma forma determinada a nível nacional, para os esforços globais sobre: triplicar a capacidade de energia renovável a nível mundial e duplicar a taxa média anual global de melhorias na eficiência energética até 2030; acelerar os esforços para a redução progressiva da energia a carvão; acelerar os esforços a nível mundial no sentido de sistemas energéticos com emissões líquidas zero, utilizando combustíveis com zero ou baixo teor de carbono muito antes ou por volta de meados do século; abandonar os combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de uma forma justa, ordenada e equitativa, acelerando a ação nesta década crítica, de modo a alcançar zero emissões líquidas até 2050, de acordo com a ciência;

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Marina Silva Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima na COP28

Mais de 200 cientistas de todo o mundo contribuíram para o “Relatório Global Tipping Points”. O relatório com mais de 500 páginas fornece um guia confiável sobre o estado do conhecimento sobre pontos de inflexão, explora oportunidades para acelerar as transformações tão necessárias e descreve opções para uma nova governança dos riscos e oportunidades dos pontos de inflexão. revistaamazonia.com.br

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O Sultão Al Jaber , Presidente da COP 28 e Ministro da Indústria e Tecnologia Avançada dos Emirados Árabes Unidos, declarando o encerramento da COP 28

O Secretário Executivo da UNFCCC, Simon Stiell , e o Sultão Al Jaber , Presidente da COP 28 e Ministro da Indústria e Tecnologia Avançada, Emirados Árabes Unidos, comemorando o resultado

As declarações finais demonstraram quão difícil foi alcançar este compromisso. Muitos denunciaram a falta de uma referência clara à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, a linguagem fraca sobre o carvão e o metano e os riscos associados aos chamados combustíveis de transição, que a decisão diz “podem desempenhar um papel na facilitação da transição energética, garantindo ao mesmo tempo a segurança energética”. .” Outros consideraram a referência a estes esforços globais específicos demasiado prescritiva e sublinharam a natureza ascendente e nacionalmente determinada do Acordo de Paris. As Partes também adotaram o quadro para o Objetivo Global de Adaptação, lançaram a implementação do programa de trabalho sobre vias de transição justas e adotaram uma série de outras decisões.

O Presidente Al Jaber saudou o resultado como uma “vitória do multilateralismo” e um sinal de solidariedade e colaboração. Ele classificou a reunião como um “ponto de viragem histórico” que coloca 1,5°C de volta ao alcance e encerrou a COP 28 às 17h11

O Presidente Al Jaber saudou o resultado como uma “vitória do multilateralismo” e um sinal de solidariedade e colaboração

Declaração da Diretora Executivo do PNUMA sobre o encerramento da COP28

Diretora Executiva do PNUMA, Inger Andersen

“ A COP28 apresentou, pela primeira vez nas negociações sobre o clima, um apelo claro aos países para que abandonem os combustíveis fósseis. O acordo não é perfeito, mas uma coisa é certa: o mundo já não nega a nossa dependência prejudicial aos combustíveis fósseis. Agora vamos além da negociação para a ação. Como afirmou o Secretário-Geral, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é inevitável. “Isto significa uma ação real para uma transição rápida dos combustíveis fósseis, especialmente para o G20, e uma ação real sobre os muitos outros aspectos positivos acordados na COP28: o quadro do Objetivo Global de Adaptação, a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos e novos compromissos sobre resfriamento sustentável, redução de metano, triplicação das metas de energia renovável e avanços na natureza.

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“A realidade, conforme descrito no relatório sobre a Lacuna de Emissões do PNUMA, divulgado antes da COP, é que não estamos no caminho certo para criar um mundo resiliente, de baixo carbono e justo. Esta realidade ainda não mudou. Agora o árduo trabalho de descarbonização deve começar. “Para termos alguma esperança de fazer isto de acordo com o que a ciência exige de nós, devemos libertar muito mais financiamento para apoiar os países numa transição justa, equitativa e limpa, o que é especialmente importante para as nações em desenvolvimento que devem dar o salto para uma transição de baixo carbono. desenvolvimento. O financiamento e os meios de implementação são, portanto, críticos, uma vez que todos os países em desenvolvimento devem ter a capacidade de acabar urgentemente com a pobreza energética, concretizar o seu potencial de desenvolvimento sustentável e cumprir os ODS. “Temos as soluções; sabemos o que precisa ser feito. E a ação não pode mais esperar”.

O Presidente Al Jaber saudou o resultado como uma “vitória do multilateralismo” e um sinal de solidariedade e colaboração

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Segundo o Fórum Econômico Mundial, o principal resultado da COP28 foi a conclusão do primeiro Global Stock Take (GST). O GST foi uma revisão intercalar do progresso que os estados membros da ONU estavam a fazer no sentido do Acordo de Paris de 2015 (que comprometeu os países a limitar o aumento da temperatura a menos de 2°C e a atingir 1,5°C em comparação com a era pré-industrial). O GST final obteve um resultado positivo com um texto final apelando às nações para “fazerem a transição” dos combustíveis fósseis. Em suma, o Consenso dos Emirados Árabes Unidos pode ser visto como uma vitória para o multilateralismo e a diplomacia climática.

Ambição limitada do acordo? Achim Steiner, chefe do programa de desenvolvimento-UNEP, da ONU

Algumas opiniões. O acordo climático da ONU que aprovou um apelo à transição dos combustíveis fósseis foi saudado como um marco importante e um motivo para, pelo menos, um otimismo cauteloso. Mas muitos cientistas climáticos afirmaram que os sentimentos alegres dos líderes mundiais não refletiam com precisão a ambição limitada do acordo.

Ativistas climáticos protestam contra os combustíveis fósseis na conferência COP28 em Dubai no dia 13/12/2023

Remédio fraco na melhor das hipóteses Achim Steiner, chefe do programa de desenvolvimento da ONU, disse: “Alguns estão compreensivelmente frustrados porque a linguagem acordada poderia ter sido mais forte. Mas continua a ser o sinal mais inequívoco até à data de que o mundo está a ultrapassar a era dos combustíveis fósseis”.

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Michael Mann, climatologista e geofísico da Universidade da Pensilvânia, criticou a imprecisão da declaração sobre combustíveis fósseis, que não tem limites firmes e responsáveis sobre quanto os países devem fazer e até quando. “O acordo para a ‘transição dos combustíveis fósseis’ foi, na melhor das hipóteses, um chá fraco”, disse ele. “É como prometer ao seu médico que você ‘fará a transição dos donuts’ depois de ser diagnosticado com diabetes. A falta de um acordo para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis foi devastadora”.

Michael Mann, climatologista e geofísico da Universidade da Pensilvânia, criticou a imprecisão da declaração sobre combustíveis fósseis

Mann apelou a uma reforma substancial das regras da COP, permitindo, por exemplo, que as supermaiorias aprovassem decisões apesar das objecções dos estados petrolíferos resistentes, como a Arábia Saudita, e proibindo executivos do petróleo, como o presidente da COP28, Sultan Al Jaber, de presidir futuras cimeiras. “Conserte, não acabe com isso”, disse ele. “Ainda precisamos de continuar com as COP. Elas são o nosso único quadro multilateral para negociar políticas climáticas globais.

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“Mas o fracasso da COP28 em alcançar qualquer progresso significativo, numa altura em que a nossa janela de oportunidade para limitar o aquecimento abaixo de níveis catastróficos está a fechar-se, é uma fonte de grande preocupação”. Kevin Anderson, professor de energia e mudanças climáticas na Universidade de Manchester

Muitos morrerão Friederike Otto, climatologista e líder no campo da avaliação do papel das alterações climáticas em eventos climáticos extremos específicos, foi igualmente contundente. “É aclamado como um compromisso, mas precisamos de deixar muito claro o que foi comprometido”, disse Otto, que leciona no Instituto Grantham para as Alterações Climáticas. “O interesse financeiro de curto prazo de alguns conquistou novamente a saúde, a vida e os meios de subsistência da maioria das pessoas que vivem neste planeta. Johan Rockstrom, que dirige o Instituto Potsdam para Investigação do Impacto Climático – PIK: ” embora a COP não mantenha o mundo num aquecimento de 1,5°C, ainda assim é um “marco fundamental”

A sentença de morte para 1,5 C “Sem dúvida haverá muita alegria e tapinhas nas costas... mas a física não se importará”, disse Kevin Anderson, professor de energia e mudanças climáticas na Universidade de Manchester. A humanidade tem entre cinco e oito anos de emissões no nível atual antes de gastar o “orçamento de carbono” necessário para manter o aquecimento a longo prazo nos 1,5 graus Celsius necessários para evitar os piores impactos do aquecimento planetário a longo prazo, disse ele. Ativistas climáticos protestam contra os combustíveis fósseis na Expo City de Dubai durante a COP28 em Dubai

Mesmo que as emissões comecem a diminuir em 2024, o que não é um requisito do texto, precisaríamos de ter zero utilização de combustíveis fósseis a nível mundial até 2040, em vez da “linguagem fraudulenta de zero emissões líquidas até 2050” prevista no acordo, disse. Anderson. Ele descreveu-o como um “sinal de morte” para 1,5 C, com mesmo a meta menos ambiciosa de 2 C – que acarreta um risco significativo de desencadear pontos de inflexão perigosos nos sistemas climáticos globais – a tornar-se mais distante.

Dra Friederike Otto, climatologista e líder, professora no Instituto Grantham para as Alterações Climáticas...

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“A cada verbo vago, a cada promessa vazia no texto final, mais milhões de pessoas entrarão na linha de frente das mudanças climáticas e muitas morrerão.” Mas Johan Rockstrom, professor de ciências ambientais que dirige o Instituto Potsdam para Investigação do Impacto Climático, argumentou que, embora a COP não mantenha o mundo num aquecimento de 1,5°C, ainda assim é um “marco fundamental”.“Este acordo permite deixar claro a todas as instituições financeiras, empresas e sociedades que estamos agora finalmente - oito anos atrasados em relação ao calendário de Paris - no verdadeiro “começo do fim” da economia mundial movida a combustíveis fósseis”, disse ele.

Anne Rasmussen, de Samoa

A Aliança dos Pequenos Estados Insulares, países que enfrentam inundações superiores a 1,5ºC, criticou uma “ladainha de lacunas” no texto. Não tentou evitar o resultado, mas Anne Rasmussen, de Samoa, falando em nome do grupo minutos depois de o martelo ter sido lançado sobre o acordo, registou a sua clara sensação de que o acordo não foi suficientemente longe: “Fizemos um avanço incremental em relação ao acordo. negócios como sempre, quando o que realmente precisávamos era de uma mudança exponencial em nossas ações e apoio”.

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ONU: Terra aquecerá até 2,9°C, mesmo com as atuais promessas climáticas As promessas dos países de redução de gases com efeito de estufa colocam a Terra no caminho para um aquecimento muito além dos limites chave, potencialmente até catastróficos 2,9 graus Celsius neste século, disse a ONU recentemente, 20/11/2023, alertando que “estamos fora do caminho” Fotos: Divulgação, UNEP, Unsplash/ Caleb Cook

Espera-se que 2023 seja o ano mais quente da história da humanidade

Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2023: Recorde Quebrado À medida que as emissões de gases com efeito de estufa atingem novos máximos, os recordes de temperatura caem e os impactos climáticos se intensificam, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2023: Recorde Quebrado – As temperaturas atingem novos máximos, mas o mundo não consegue reduzir as emissões (novamente) conclui que o mundo está a caminhar para um aumento de temperatura muito acima dos objetivos do Acordo de Paris, a menos que os países cumpram mais do que prometeram. O relatório é a 14ª edição de uma série que reúne muitos dos principais cientistas climáticos do mundo para analisar as tendências futuras nas emissões de gases com efeito de estufa e fornecer soluções potenciais para o desafio do aquecimento global.

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endo em conta os planos de redução de carbono dos países, o PNUA alertou que o planeta está num caminho para um aquecimento desastroso entre 2,5ºC e 2,9ºC até 2100. Com base apenas nas políticas existentes e nos esforços de redução de emissões, o aquecimento global atingiria 3ºC . Mas o mundo continua a injetar níveis recordes de gases com efeito de estufa na atmosfera, com as emissões a aumentarem 1,2% entre 2021 e 2022, afirmou o PNUA, acrescentando que o aumento foi em grande parte impulsionado pela queima de combustíveis fós-

seis e por processos industriais. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apelou para que as negociações da COP28, que começam em 30 de novembro, delineiem uma “ação climática dramática”. “Os líderes não podem mais chutar a lata. Estamos fora do caminho”, disse ele, denunciando um “fracasso de liderança, uma traição aos vulneráveis e uma enorme oportunidade perdida”. Ele disse que o mundo “deve reverter o curso” e apelou a um sinal claro na reunião da COP28 de que o mundo está a preparar-se para um afastamento decisivo dos poluentes carvão, petróleo e gás.

Os líderes não podem mais chutar a lata. Estamos fora da estrada’, disse Antonio Guterres

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“Modo soneca” O Acordo de Paris de 2015 viu os países concordarem em limitar o aquecimento global a “bem abaixo” de 2ºC acima dos tempos pré-industriais – com um limite mais seguro de 1,5ºC, se possível. Quase 1,2ºC de aquecimento global até agora já desencadeou uma onda crescente de impactos mortais em todo o planeta. O PNUA afirmou que as temperaturas ultrapassaram os 1,5ºC durante mais de 80 dias já este ano, embora os limites de aquecimento de Paris sejam medidos como uma média ao longo de várias décadas. O relatório sobre a Lacuna de Emissões analisa a diferença entre a poluição que provoca o aquecimento do planeta e que ainda será libertada no âmbito dos planos de descarbonização dos países e o que a ciência diz ser necessário para cumprir os objetivos do Acordo de Paris. Até 2030, afirmou o PNUA, as emissões globais terão de ser 28 por cento inferiores às que as políticas actuais sugerem para permanecerem abaixo dos 2ºC, e 42 por cento inferiores para o limite mais ambicioso de 1,5ºC. A chefe do PNUMA, Inger Andersen, disse que era crucial que os países do G20 – as economias mais ricas do mundo, responsáveis por cerca de 80 por cento das emissões – “avançassem” e liderassem as reduções, mas observou que alguns estavam em “modo soneca”.

“O clima não vai esperar” Ao abrigo do acordo de Paris, os países são obrigados a apresentar planos de redução de emissões cada vez mais profundos, conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC).

Vapor de água sobe das torres de resfriamento da usina a carvão de Weisweiler, perto de Eschweiler, Alemanha

A Organização Meteorológica Mundial disse que os níveis dos três principais gases de efeito estufa bateram recordes no ano passado

O PNUMA concluiu que a implementação integral de NDCs “incondicionais” para 2030 – que os países planeiam independentemente do apoio externo – daria uma probabilidade de 66 por cento de a temperatura média da Terra aumentar 2,9ºC até 2100.

Os cientistas alertam que o aquecimento destes níveis pode tornar vastas áreas do planeta essencialmente inabitáveis para os seres humanos e arriscar pontos de ruptura irreversíveis em terra e nos oceanos. Os NDC condicionais – que dependem de financiamento

A humanidade batendo todos os recordes errados em matéria de alterações climáticas

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Você não pode pressionar o botão de pausa

internacional para serem alcançados – provavelmente reduziriam este valor para um aumento ainda catastrófico da temperatura de 2,5ºC neste século, afirmou. O PNUA afirmou que se todas as NDC condicionais e os compromissos de zero emissões líquidas de longo prazo fossem cumpridos na sua totalidade, seria possível limitar o aumento da temperatura a 2ºC. Mas advertiu que atualmente estes compromissos líquidos zero não eram

considerados credíveis, com nenhum dos países do G20 a reduzir as emissões em linha com as suas próprias metas. Mesmo no cenário mais optimista, a probabilidade de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC é de apenas 14%, afirmou o PNUA. Guterres apelou a “uma explosão de ambição” em relação aos países que definem os seus NDC – que deverão ser atualizados até 2025. Andersen disse estar optimista de que

os países conseguirão fazer progressos na COP28 de 30 de Novembro a 12 de Dezembro, apesar das fraturas causadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia e pelo conflito entre Israel e o Hamas. “Os países e as delegações compreendem que, independentemente destas divisões profundas que existem e que são inegáveis, o ambiente não espera e o clima certamente não o fará”, disse ela. “Você não pode pressionar o botão de pausa”.

São necessários objetivos mais rigorosos – especialmente para os grandes emissores – para manter o mundo habitável

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O acordo da COP28 sobre a adaptação às alterações climáticas lança o verdadeiro desafio no futuro A COP28 foi concluída com uma reação mista. O acordo do Dubai extraiu a promessa de quase 200 países de abandonarem os combustíveis fósseis, mas deixa muitas questões sem resposta quando se trata de evitar que as temperaturas médias globais aqueçam mais de 1,5°C por *César Baima

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Fotos: Ariful Azmi Usman/Shutterstock, IPCC, SK Hasan Ali/Shutterstock, Unsplash, Zuhaib Ahmed Pirzada

mundo está rapidamente ficando sem tempo para limitar as temperaturas a este nível – um limiar crucial para muitas comunidades que vivem em ilhas baixas e em ecossistemas delicados, como os recifes de coral. O último ano foi o mais quente de que há registo, com inundações catastróficas na Líbia, calor extremo no sul da Ásia, na Europa, na China e nos EUA, e secas em toda a África Oriental, que se tornaram mais prováveis como resultado das alterações climáticas. Mesmo que o mundo se mantenha nos 1,5°C, os países ainda precisarão de se adaptar aos efeitos de um clima mais severo. Se as temperaturas ultrapassarem 1,5°C, isso será ainda mais difícil. Na COP28, os países acordaram as primeiras metas para orientar o esforço global de adaptação. Então, será que vão suficientemente longe para fazer face à escala crescente dos impactos climáticos?

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Adaptação é essencial Sou um investigador que está escrevendo um livro sobre as escolhas difíceis que o mundo tem de fazer para se adaptar às

alterações climáticas. Há 12 anos que trabalho no planeamento e financiamento da adaptação, participando nas negociações da ONU e pesquisando como tornar a adaptação mais ambiciosa e inclusiva. Cada fração de grau de aquecimento evitada pela redução das emissões dará às comunidades mais espaço para respirar e se adaptarem. A adaptação envolve fazer mudanças para acomodar o clima mais quente e diminuir os seus efeitos. Os agricultores da África Subsariana que lutam para cultivar alimentos devido às mudanças nas precipitações podem adaptar-se com formas melhoradas de irrigação e novas variedades de culturas para manter um nível semelhante de produtividade. As comunidades costeiras podem construir diques para protegê-las de tempestades ou plantar florestas de mangue para evitar que a terra sofra erosão tão rapidamente. O Bangladesh desenvolveu sistemas de alerta precoce e investiu em abrigos contra ciclones. Comparando os impactos climáticos

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O quadro global para as metas de adaptação estabelece o que os países devem fazer e onde é necessário fazer o maior progresso para atingir objetivos como a redução da escassez de água induzida pelo clima. Até mesmo a obtenção deste acordo foi um sucesso, dados os desafios técnicos e políticos na medição de algo como a adaptação, que abrange tantas coisas diferentes, desde dar aos agricultores na Ásia melhores informações sobre a precipitação até aumentar a sombra e os espaços frescos nas cidades. Dispomos de formas limitadas de compreender se o mundo está no caminho certo em muitas destas áreas e o acordo contém um programa de trabalho de dois anos para desenvolver indicadores. Temos mais informações sobre os sistemas e planos necessários. Por exemplo, 101 países dispõem de sistemas de alerta precoce sobre múltiplos riscos – o objetivo é que estes sejam todos os países até 2027. O quadro orientará o investimento e moldará a implementação de medidas de adaptação para a próxima década. Permitirá à comunidade global verificar se este processo está no bom caminho e mudar de rumo se não estiver.

A meta atenderá à escala do desafio? Um ponto de discórdia fundamental para os países em desenvolvimento nas negociações no Dubai foi garantir dinheiro suficiente dos países desenvolvidos (os maiores emissores históricos e, portanto, os maiores culpados do caos climático) para realmente implementarem estas ações necessárias. Os países desenvolvidos não conseguiram entregar os 40 mil milhões de dólares (31 mil milhões de libras) a 50 mil milhões de dólares por ano prometidos como parte de uma duplicação do dinheiro para a adaptação acordada em 2021. Isto faz parte da meta financeira global de 100 mil milhões de dólares por ano – acordado para mitigação (corte de emissões) e adaptação em 2009. O último relatório da ONU sobre a adaptação mostrou que apenas 21 mil milhões de dólares foram entregues em 2021, enquanto as necessidades financeiras para a adaptação são 10 a 18 vezes superiores ao montante de financiamento público disponível. O acordo sobre adaptação no Dubai fala genericamente da necessidade de mais financiamento, mas assume poucos compromissos. revistaamazonia.com.br

Bangladesh enfrentará tempestades mais intensas num futuro mais quente

O último relatório da ONU sobre a adaptação mostrou que apenas 21 mil milhões de dólares foram entregues em 2021

Em África, dezenas de milhares de pessoas morrerão devido ao calor extremo, a menos que sejam tomadas medidas radicais de adaptação. Entre 800 milhões e 3 mil milhões de pessoas não terão água suficiente com um aquecimento global de 2°C – e até 4 mil milhões com um aquecimento global de 4°C. Também temos muito poucas provas de que as medidas de adaptação financiadas estejam a funcionar. O acordo no Dubai sinaliza que o esforço de adaptação está fora do caminho e destaca áreas de ação como água, alimentação, cuidados de saúde e infraestruturas. Criticamente, ainda oferece poucos detalhes para verificar o progresso global – precisaremos de esperar um ano por uma nova meta financeira e mais dois anos por indicadores que possam avaliar o progresso na adaptação de vidas e meios de subsistência. Os quadros podem criar incentivos à ação e é vital que o novo quadro global crie pressão para a ambição e o financiamento. Mas os países terão de esperar para chegar a acordo sobre os detalhes sobre o dinheiro e as metas que lhe darão a força de que necessita.Embora a COP28 tenha produzido progressos incrementais, o mundo aguarda um salto em frente no ritmo e na escala da adaptação climática. COP29 no Azerbaijão

As medidas de adaptação também podem reduzir as emissões

Isto não é suficiente, mas o trabalho detalhado sobre o próximo acordo financeiro está agendado para a COP29. O acordo do próximo ano terá como objetivo estabelecer uma nova meta para a mobilização de dinheiro para reduzir as emissões e adaptar-se – a meta substituirá os 100 mil milhões de dólares por ano que vigoram até 2025. A investigação mostra que o progresso na adaptação tem sido lento, fragmentado e desigual em todo o mundo. Entre 3,3 e 3,6 mil milhões de pessoas vivem em locais que se prevê serem altamente vulneráveis às alterações climáticas.

[*] Editor/The Conversation

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Colapso da camada de gelo da Antártica Ocidental é “inevitável” Os investigadores do British Antarctic Survey descobriram que o aumento futuro do derretimento da plataforma de gelo da Antártica Ocidental ao longo do século XXI, é inevitável, independentemente das ações para limitar as emissões de gases com efeito de estufa Fotos: British Antarctic Survey, Nature Climate Change, Paul Souders via Getty Images

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taxa de derretimento da camada de gelo da Antártica Ocidental irá acelerar nas próximas décadas e é agora uma consequência “inevitável” das alterações climáticas, conclui um novo estudo. Mesmo que os países consigam limitar as emissões de gases com efeito de estufa e limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius (2,7 graus Fahrenheit) acima dos níveis pré-industriais – a meta adoptada pelos líderes mundiais no histórico Acordo de Paris de 2015 – o derretimento aumentará três vezes mais rapidamente durante o resto do mundo. século XXI do que durante o século XX.

Pingentes de gelo pendem de um iceberg derretido na Ilha Petermann, na Antártida

Mapa das tendências médias do conjunto na temperatura do oceano e no derretimento basal da plataforma de gelo no cenário Paris 2 °C

A temperatura é calculada em média na faixa de profundidade de 200 a 700 m. As tendências são calculadas em cada ponto usando campos médios anuais de 2006 a 2100. As regiões brancas não indicam nenhuma tendência significativa. A região do Mar de Amundsen visualizada aqui (projeção latitude-longitude) está delineada em vermelho no mapa inserido

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da Antártica (projeção estereográfica polar). A linha tracejada preta mostra o contorno de profundidade de 1.750 m da quebra da plataforma continental e a linha tracejada azul delineia a região da plataforma continental utilizada para análise. Os rótulos indicam plataformas de gelo (G, Getz; D, Dotson; Cr, Crosson; T, Thwaites; P, Pine Island; Co, Cosgrove; A, Abbot)

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“Parece que perdemos o controle do derretimento da camada de gelo da Antártida Ocidental”, disse em comunicado a principal autora do estudo, Kaitlin Naughten, pesquisadora do British Antarctic Survey especializada em modelagem de oceanos e gelo . “Se quiséssemos preservá-lo no seu estado histórico, teríamos precisado de medidas sobre as alterações climáticas há décadas”. Há água suficiente presa na camada de gelo da Antártica Ocidental para provocar um aumento de até 16,4 pés (5 metros) no nível do mar , de acordo com o comunicado. Atualmente, a maior contribuição para a subida do nível do mar nesta região parece provir das plataformas de gelo flutuantes no Mar de Amundsen, que estão a derreter como resultado das temperaturas mais altas no Oceano Antártico. Naughten e os seus colegas realizaram simulações num supercomputador para prever quanto deste derretimento ainda poderia ser evitado através da redução das emissões de gases com efeito de estufa. Tendo em conta os eventos climáticos e a variabilidade, como os efeitos globais induzidos pelo El Niño, os

O aumento do derretimento do manto de gelo da Antártida Ocidental não pode ser evitado neste século. Assista o YouTube: www.youtu.be/Ds31XYRvsLQ

investigadores encontraram poucas alterações na taxa de perda de gelo entre quatro cenários diferentes delineados no Acordo de Paris. Os três cenários que preveem o menor aumento na temperatura média global – 1,5 C acima dos níveis pré-industriais, 2 C (3,6 F) acima dos níveis pré-industriais e entre 2 e 3 C (2,6 e 5,4 F) acima dos níveis pré-industriais – ti-

veram efeitos quase idênticos no taxa de derretimento no Mar de Amundsen, de acordo com o comunicado. O cenário que previa o maior aumento na temperatura média global - que é considerado improvável de ocorrer, mas levaria a 4,3 C (7,7 F) acima dos níveis pré-industriais - divergiu dos três inferiores, mas apenas depois de 2045, quando projetou mais derretimento de

Série temporal da temperatura do oceano nos cinco cenários principais

A média da temperatura é calculada na plataforma continental e na faixa de profundidade de 200 a 700 m, e uma média contínua de 2 anos é aplicada. Para cada cenário, a linha sólida indica a média do conjunto, enquanto

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a região sombreada mostra a faixa completa do conjunto. As linhas verticais tracejadas mostram o início dos cenários futuros (2006) e o momento em que o RCP 8.5 diverge dos outros três cenários (2045)

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Série temporal da temperatura do oceano nos cinco cenários principais

Implicações do derretimento simulado para o reforço de plataformas de gelo

a , Efeito do afinamento da plataforma de gelo local na elevação do nível do mar, calculado para o Mar de Amundsen usando um modelo independente de manto de gelo (Métodos). O BFRN, seguindo a ref. 23 , é a razão entre as mudanças totais no fluxo de massa através de todas as linhas de aterramento e a magnitude do afinamento da plataforma de gelo aplicado localmente. Valores mais altos (observe a escala logarítmica) indicam o afinamento da plataforma de gelo em uma determinada região, causando maior aumento do nível do mar. Valores negativos, indicando afinamento da plataforma de gelo que reduz o gelo do que os outros cenários. Até então, o derretimento estimado era comparável para os quatro cenários, segundo o estudo, publicado recentemente na Nature Climate Change. As conclusões são sombrias, mas prever as consequências das alterações climáticas pode ajudar-nos a preparar-nos para elas. “O lado positivo é que,

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fluxo da linha de aterramento, estão mascarados em azul claro. Etiquetas pretas indicam plataformas de gelo como na Fig . b , Tendências médias de derretimento basal da plataforma de gelo em função do BFRN para cada cenário central. Os valores BFRN em a são divididos em 40 compartimentos, seguindo uma escala logarítmica. Todos os valores <0,01%, incluindo valores negativos, estão contidos no primeiro compartimento. As tendências de fusão são calculadas em média nas regiões correspondentes a cada compartimento; onde as tendências médias do conjunto não são significativas, elas são definidas como zero

ao reconhecer esta situação antecipadamente, o mundo terá mais tempo para se adaptar à subida do nível do mar que está por vir”, disse Naughten. As nossas ações para limitar as emissões de gases com efeito de estufa podem não chegar a tempo de evitar “o colapso da camada de gelo da Antártida Ocidental”, segundo o estudo, mas

abrandar a taxa de subida do nível do mar ainda é um objetivo vital. “Não devemos parar de trabalhar para reduzir a nossa dependência dos combustíveis fósseis”, disse Naughten. “Quanto mais lenta for a mudança do nível do mar, mais fácil será para os governos e a sociedade se adaptarem, mesmo que isso não possa ser interrompido”.

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Simulações climáticas para desviar dos desenvolvimentos reais no Pacífico tropical e sua importância para as projeções do clima futuro O fortalecimento da circulação atmosférica e dos ventos alísios desacelerou o aquecimento da superfície tropical do Pacífico. O leste do Oceano Pacífico está esfriando... Se continuar, pode reduzir o aquecimento dos gases do efeito estufa em 30% – mas também trazer uma megaseca para os EUA

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odelos de computador simulam como o clima da Terra mudou sob a influência do aumento das concentrações de gases de efeito estufa e como ele se desenvolverá no futuro. Um estudo do GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research Kiel publicado na Nature Communications Earth & Environment mostra que os modelos simulam tendências durante as últimas décadas no Pacífico tropical que são parcialmente inconsistentes com as observações. Uma representação mais precisa da dinâmica do clima na região é de grande importância para projeções robustas do clima futuro. Nos últimos meses, as temperaturas médias na superfície do mar foram mais altas do que em qualquer outro momento desde o início das medições por satélite há cerca de 40 anos. O aquecimento global causado pelas emissões humanas de gases de efeito estufa - especialmente o dióxido de carbono (CO 2 ) - é o principal responsável pelo aumento constante da temperatura dos oceanos, o que é confirmado pelos modelos climáticos. No entanto, existem diferenças marcantes entre as regiões oceânicas: algumas aqueceram de forma particularmente forte, outras até esfriaram ligeiramente.

Fotos: GEOMAR, Jan Steffen, Nature Communications Earth & Environment

Partes do Pacífico tropical aqueceram menos do que o simulado pelos modelos ou até esfriaram ligeiramente nas últimas décadas

Em um estudo agora publicado na Nature Communications Earth & Environment, uma equipe de pesquisadores das unidades de pesquisa Meteorologia Marinha e Oceanografia Física do GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research Kiel relata que, em contraste com simulações de modelos históricos, partes do Pacífico tropical aqueceram menos que a média global ou até esfriaram ligeiramente durante o décadas passadas. Segundo os pesquisadores, isso prova que uma melhor compreensão da dinâmica climática na região tropical do Pacífico é necessária para uma previsão mais confiável das futuras mudanças no clima.

Um navio de pesquisa cruzando o Oceano Pacífico

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Simulações climáticas para desviar dos desenvolvimentos reais no Pacífico tropical e sua importância para as projeções do clima futuro.indd 19

“Precisamos de uma compreensão ainda mais precisa dos processos de pequena escala no sistema climático”, enfatiza o professor Dr. Mojib Latif, principal autor do estudo. “As razões para as diferenças entre as simulações do modelo e o desenvolvimento real no Pacífico tropical ainda não são compreendidas. Agora precisamos esclarecer os mecanismos por trás da tendência de resfriamento e estender os modelos de acordo para fortalecer ainda mais a robustez das futuras projeções climáticas regionais”. O estudo fornece razões para o desenvolvimento inesperado da temperatura no Pacífico tropical. Por exemplo, os pesquisadores documentam ventos alísios mais fortes sobre a região nas últimas quatro décadas. Esse fortalecimento tem compensado o aumento da temperatura na região causado pelos gases do efeito estufa – tanto por processos dinâmicos no oceano quanto pela troca de calor entre o ar e o mar. Os modelos climáticos atuais ainda não conseguiram reproduzir as tendências observadas na circulação atmosférica. “O Pacífico tropical é uma região chave para as mudanças climáticas.

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Tendências na Circulação Pacific Walker (PWC)

a – d Tendência linear 1981-2020 no PWC, conforme expressa pela função de fluxo de revolvimento zonal, em ERA5, AMIP (1979-2014), corridas históricas estendidas e 1%-CO2 . O pontilhado indica em ( a ) uma tendência significativa ao nível de confiança de 90%, e em ( b – d ) que pelo menos dois terços dos modelos concordam com o sinal da tendência. e – h Distribuição de tendência linear do índice PWC (função de fluxo de capotamento zonal com média sobre a caixa 145°W – 180°, 700 hPa – 200 hP a) em CMIP6-AMIP, corridas históricas estendidas, 1%-CO 2corridas e nas corridas de controle pré-industriais (PICTL). As tendências médias do conjunto são dadas pelas linhas verticais azuis claras e a tendência do ERA5 pelas linhas verticais amarelas

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Tendências da temperatura da superfície do mar (SST) 1981–2020 (°C por 40 anos)

Esquerda a , c , e: Tendências lineares completas, direita ( b , d , f ) tendências lineares relativas (tendências médias globais removidas). a , b Observações, ( c , d ) simulações históricas estendidas com simulações empregando o cenário RCP8.5, ( e , f ) diferenças entre ( a , b ) e ( c , d ). As tendências observadas são as médias sobre as tendências calculadas a partir de 6 conjuntos de dados SST diferentes Isso é ilustrado pelo fenômeno climático El Niño que se desenvolve atualmente no Pacífico tropical e seus impactos no clima global. Os modelos climáticos previram corretamente o evento El Niño com vários meses de antecedência – bem como o desenvolvimento de temperatura global induzido pelo homem a longo prazo nas últimas décadas”, explica o professor Dr. Latif.

“No entanto, não podemos descansar sobre os sucessos dos últimos anos: as análises apresentadas em nosso estudo apóiam a suposição de que uma maior resolução do modelo, em combinação com a inclusão de processos de pequena escala anteriormente não resolvidos, pode ser um passo importante para tornar o clima modelos ainda mais precisos na escala regional”.

Por um lado, isso requer capacidades computacionais significativamente maiores, por outro, uma ligação ainda mais estreita entre os modelos e as medições. Mas, apesar de alguns desvios regionais entre os modelos e as observações, está claro que o aquecimento global continuará inabalável se as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa continuarem a aumentar.

Influência das tendências do vento na temperatura da superfície do mar (SST)

a ) SST (K) e resposta ao vento de 10 m (ms -1 ) simulado pelo Kiel Climate Model (KCM) forçado pelas tendências de estresse do vento observadas 1981–2020. É mostrada a diferença média do conjunto das médias de 40 anos entre os experimentos forçados e uma integração de controle imperturbável no mesmo período. b) Anomalias SST (K) devido à mudança do fluxo de calor latente induzido pelo vento local calculado com o modelo GREB forçado pelas tendências do vento de superfície ERA5 1981–2020. A média global foi removida revistaamazonia.com.br

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Plataformas de gelo da Groenlândia já perderam mais de um terço do seu volume As maiores plataformas de gelo flutuantes no manto de gelo polar perderam mais de um terço do seu volume desde 1978 Fotos: ESA, Nature, © Romain Millan

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um estudo publicado na Nature Communications, cientistas do CNRS, juntamente com os seus colegas dinamarqueses e americanos, estabeleceram que a maior parte deste afinamento deve-se ao aumento das temperaturas circundantes dos oceanos, o que provoca o derretimento das extensões flutuantes dos glaciares. Até agora, os glaciares desta região eram considerados estáveis, ao contrário de áreas mais sensíveis da calota polar, que começou a enfraquecer em meados da década de 1980. Localizadas no norte da Groelândia, estas plataformas de gelo desempenham um papel essencial na regulação da quantidade de gelo descarregada no oceano, agindo como enormes “barragens” congeladas. Embora a Groelândia já seja responsável por 17% da atual subida do nível do mar, qualquer enfraquecimento destas barreiras poderá levar a um aumento na quantidade de gelo libertado, acelerando novas subidas do nível da água.

Reduzir simultaneamente as emissões de ozônio de baixo nível e outros poluentes climáticos de vida curta, bem como o dióxido de carbono de vida longa, poderia reduzir a taxa de aquecimento global pela metade até 2050, mostra um novo estudo

Os glaciares do Norte da Groelândia albergam gelo suficiente para elevar o nível do mar em 2,1 m e há muito que são considerados estáveis. Esta parte da Groelândia é sustentada pelas últimas plataformas de gelo remanescentes do manto de gelo. Aqui, mostramos que

Foto do satélite europeu Copernicus Sentinel-2 mostra duas fissuras gigantescas se formando ao longo da borda da geleira Pine Island, na Antártida, uma das geleiras que encolhem mais rapidamente no continente

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desde 1978, as plataformas de gelo no Norte da Groenlândia perderam mais de 35% do seu volume total, três delas colapsando completamente. Para as plataformas de gelo flutuantes que permanecem, observamos um aumento generalizado nas perdas de massa das plataformas de gelo, que são dominadas por taxas de derretimento basal aumentadas. Entre 2000 e 2020, houve um aumento generalizado nas taxas de derretimento basal que acompanha de perto o aumento da temperatura do oceano. Estas geleiras estão mostrando uma resposta dinâmica direta às mudanças na plataforma de gelo com o recuo das linhas de aterramento e o aumento da descarga de gelo. Estes resultados sugerem que, sob projeções futuras de forçamento térmico oceânico, as taxas de derretimento basal continuarão a aumentar ou permanecerão em níveis elevados, o que pode ter consequências dramáticas para a estabilidade dos glaciares da Groelândia. Estes resultados foram obtidos através de observações de campo, fotografias aéreas e dados de satélite, combinados com modelos climáticos regionais.

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Mudanças nas plataformas de gelo no norte da Groelândia

Mudanças na posição frontal da plataforma de gelo e na linha de aterramento entre 1990 e o presente ( a – h ). A velocidade do fluxo de gelo é codificada por cores em uma escala de cores linear e sobreposta em uma versão sombreada do modelo digital de elevação do Bedmachine v3 ( a – h ). i Localização de todas as plataformas de gelo no Norte da Groenlândia com sua extensão máxima durante o período de estudo. A partição é mostrada como gráfico de barras para o período 2001–2021, com Balanço de Massa Superficial (SMB) em azul, fusão basal em preto e parto em verde. O orçamento de massa cumulativa total para cada plataforma de gelo é anotado no gráfico de barras em Gt (negativo para perda de massa). FA/GR indica mudança positiva na massa da plataforma de gelo desde o parto, que normalmente é encontrada quando a área flutuante aumenta com o recuo da linha de aterramento (GR) ou avanço da frente de gelo (FA, ver Métodos). As cores das plataformas de gelo correspondem à porcentagem de mudança de volume desde 1978. As portas de fluxo são mostradas como linhas verdes claras pontilhadas. Nenhuma linha de aterramento está disponível em 1997–2010

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10ª Sessão do Conselho Diretivo do ITPGRFA Sob o tema “Das sementes às soluções inovadoras, salvaguardando o nosso futuro: contribuindo para a implementação do Quadro Global de Biodiversidade para sistemas alimentares sustentáveis” Fotos: Divulgação/Internet, IISD/ENB | Matthew Ten Bruggencate,

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eunindo decisores políticos, agricultores e criadores de plantas, o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (ITPGRFA ou Tratado) visou conservar a diversidade das culturas e partilhar os seus benefícios para o bem-estar humano e planetário. Destacou a importância da diversidade de culturas para a segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e o bem-estar socioeconómico, face aos desafios globais, incluindo as alterações climáticas. Sublinhou as contribuições dos agricultores para a biodiversidade agrícola e chamou a atenção para as interligações entre o Tratado e a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB). Após intensos debates...

Para salvaguardar a biodiversidade agrícola de forma mais eficiente e equitativa, para o bem-estar humano e planetário

Aprovação do Relatório e Plenária de Encerramento Ao final, a relatora Milena Savic Ivanov apresentou o projeto de relatório do GB 10 (IT/GB 10/23/Projeto de Relatório). Sobre a proposta suíça de alteração do Tratado, os delegados incluíram que “o Governo da Suíça reafirmou a sua proposta de alteração do Tratado e que esta será, novamente, considerada na próxima Sessão do CA”. O plenário adotou então o relatório. A Secretária Nnadozie informou ao plenário que o GB 11 será realizado no último trimestre de 2025, num local a ser decidido em consulta com a Mesa, fora de Roma.


Nas declarações regionais, os delegados expressaram a sua gratidão ao Secretariado e à Presidente cessante, Yasmina El Bahloul, pela sua notável liderança, e felicitaram o novo Presidente do GB, Alwin Kopše. ÁFRICA apelou ao progresso nos direitos dos agricultores e ao reforço do MLS. A ÁSIA destacou a disparidade de opiniões em torno dos três “pontos críticos” no processo de melhoria do MLS. O GRULAC expressou satisfação com a reconvocação do Grupo de Peritos sobre os Direitos dos Agricultores. O Comitê Internacional de Planejamento para a Soberania Alimentar apelou a um compromisso de emergência para apoiar a conservação e disponibilidade de sementes dos agricultores em territórios afetados pela guerra e apelou à resolução das questões internacionais de rastreabilidade e à proibição de patentes na DSI. A Sociedade Civil centrou-se na necessidade de: reconhecer os direitos dos agricultores como uma questão transversal na implementação do Tratado; responsabilização e transparência no aprimoramento do MLS, inclusive no DSI; e atenção às lacunas legais e de governação na expansão do Anexo I. A Academia felicitou o Presidente El Bahloul por liderar com sucesso a integração do reconhecimento das mulheres como guardiãs da diversidade das culturas e pela sua contribuição para a agricultura sustentável e a segurança alimentar.

Qu Dongyu , Diretor Geral da FAO

O Secretário Nnadozie expressou o seu apreço às partes pela sua confiança, dizendo que o Tratado não é apenas um instrumento jurídico, mas um símbolo de colaboração e cooperação. Instando a que o espírito de cooperação continue na próxima sessão, o Presidente El Bahloul encerrou a reunião às 17h50.

Sementes em solo fértil As crises globais inter-relacionadas de perda de biodiversidade e alterações climáticas representam ameaças significativas à segurança alimentar

global. A perda de biodiversidade limita os recursos genéticos e perturba os sistemas agrícolas, reduzindo a resiliência a pragas, doenças e fenómenos meteorológicos extremos. As alterações climáticas agravam estes desafios com padrões climáticos cada vez mais imprevisíveis, que afetam negativamente o rendimento das culturas. A pandemia global da COVID-19 destacou estas interligações críticas entre a saúde humana e a saúde dos ecossistemas. Como foi o caso de todos os processos internacionais, a pandemia perturbou significativamente o ciclo regular bienal do Tratado, necessitando do adiamento do GB 9 de 2021 para 2022. O GB 10 reuniu-se assim apenas 14 meses após o GB 9, marcando o período interseções mais curto no história do Tratado, em que foram realizadas um número recorde de 21 reuniões. Ao mesmo tempo, o ano passado foi marcado por importantes desenvolvimentos globais na governação da biodiversidade, alterando o ambiente em que o Tratado funciona. A adopção do GBF em Dezembro de 2022 marcou um passo significativo em direção à colaboração internacional na salvaguarda da biodiversidade, sinalizando um compromisso coletivo para reverter a perda de biodiversidade e construir um futuro mais sustentável. Como parte do GBF, o acordo para estabelecer um mecanismo multilateral a partir da utilização de


informação de sequência digital (DSI) concluiu anos de debate sobre se a comunidade internacional deveria garantir uma partilha justa e equitativa dos benefícios da utilização de DSI em recursos genéticos. Refletindo os avanços na genômica e na bioinformática, que correm o risco de tornar obsoletos os instrumentos de acesso e partilha de benefícios (ABS), este acordo visa garantir que os requisitos de partilha de benefícios se estendem à utilização do conteúdo informativo dos recursos genéticos. A dinâmica continuou a crescer quando o novo tratado sobre a biodiversidade marinha fora da jurisdição nacional também reconheceu os requisitos de partilha de benefícios decorrentes da utilização da DSI. Estes desenvolvimentos afetam diretamente as negociações plurianuais em curso sobre o reforço do MLS do Tratado. O DSI é uma das principais áreas controversas identificadas pelos copresidentes do grupo de trabalho como exigindo atenção urgente, juntamente com a expansão da lista de culturas no MLS e da estrutura e taxas de pagamento. Representando as diversas prioridades das partes negociadoras, estas áreas estão altamente interligadas. Os países em desenvolvimento chamam a atenção para a partilha extremamente limitada de benefícios monetários acumulados pelos utilizadores do

Os pequenos agricultores guardam, utilizam, partilham e melhoram a diversidade de sementes das culturas

MLS e apelam ao foco no seu aumento, incluindo a partir da utilização do DSI. Os países desenvolvidos concentram-se em grande parte na necessidade de expandir o acesso aos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura (PGRFA) e evitar impor restrições à investigação agrícola e ao acesso à DSI. Estas posições foram reiteradas no GB 10, embora o verdadeiro foco da reunião

tenha sido o avanço do processo. O CA mandatou o Grupo de Trabalho sobre a melhoria do MLS para realizar quatro reuniões durante o próximo biénio, juntamente com consultas regionais e informais, para permitir progressos suficientes nas negociações. O verdadeiro impacto da decisão da CDB de estabelecer um mecanismo multilateral de partilha de benefícios da utilização de DSI continua a ser visto, à medida que estas negociações se desenrolam paralelamente ao desenvolvimento e operacionalização do mecanismo multilateral da CDB sobre DSI.

Das Sementes às Soluções Inovadoras

Os recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura (PGRFA) desempenham também um papel fundamental na adaptação às alterações climáticas e na evolução das condições de produção alimentar

O GB 10 reuniu-se sob o tema “Das sementes às soluções inovadoras, salvaguardando o nosso futuro: contribuindo para a implementação do GBF para sistemas alimentares sustentáveis”. O tema sublinhou o papel fundamental do Tratado na conservação da biodiversidade agrícola e na partilha dos benefícios da sua utilização de forma justa e equitativa, para a segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e a resiliência dos sistemas alimentares, destacando ainda mais os objetivos interligados do Tratado e do GBF.


Para além do MLS e da governação da DSI, a necessidade de sinergias foi levantada durante as discussões sobre vários itens da agenda do GB 10. As discussões sobre o projeto de estratégia de desenvolvimento de capacidades do Tratado, por exemplo, fizeram com que os participantes apontassem para a necessidade de complementaridade com o quadro estratégico de longo prazo da CDB para a capacitação e desenvolvimento para a implementação do GBF. Os participantes também chamaram a atenção para programas de capacitação que atendem aos objetivos de ambas as convenções, como os do CGIAR. Outros observaram que surgiriam oportunidades de financiamento para a conservação do PGRFA em relação ao recém-criado Fundo GBF.

O intercâmbio contínuo de recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura (PGRFA) é necessário para a investigação agrícola e para garantir a segurança alimentar global

Para expandir o acesso aos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura (PGRFA) e evitar impor restrições à investigação agrícola e ao acesso à DSI

As discussões sobre a DSI também proporcionaram uma oportunidade para mostrar as lacunas e necessidades

de capacidade e para reiterar os apelos para melhorar o desenvolvimento de capacidades e a transferência

Tratar a agricultura como mais do que um setor econômico: também contribui para objetivos de sustentabilidade, como o bem-estar social, a saúde dos ecossistemas e a segurança alimentar e nutricional

de tecnologia. Ao mesmo tempo, os apelos à interoperabilidade entre os sistemas de informação existentes no âmbito dos dois instrumentos sublinharam a necessidade de aumentar a transparência em torno dos direitos e obrigações dos utilizadores ao acederem, partilharem e utilizarem os PGRFA e informações associadas. Os países em desenvolvimento esforçam-se por melhorar as suas capacidades de gestão e utilização de dados para objetivos de conservação e de desenvolvimento sustentável, aproveitando os pontos fortes da CDB e do Tratado. A partilha de avanços científicos e tecnológicos, incluindo a utilização da DSI, continuará a ser um elemento-chave das soluções inovadoras para o Tratado, sendo as colaborações Sul-Sul e triangulares fundamentais para a redução das desigualdades globais.


Em setembro passamos de 1,5 graus. Em novembro, caímos mais de 2 graus pela primeira vez. O que está acontecendo? Em setembro, o mundo ultrapassou 1,5°C de aquecimento. Dois meses depois, atingimos 2°C de aquecimento. É justo imaginar o que está acontecendo. O que estamos vendo não são alterações climáticas descontroladas . Estes são picos diários e não o padrão de longo prazo que precisaríamos para dizer que o mundo está agora 2 graus mais quente do que no período pré-industrial por Daniel Scheschkewitz

Fotos: Karen Robinson

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stas primeiras violações dos limites de temperatura são os alarmes mais altos até agora. Eles ocorrem no momento em que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente alerta que o mundo ainda está a caminho de um aquecimento “infernal” de 3°C até o final do século. Mas eles não sinalizam o nosso fracasso. O aumento repentino do aquecimento em 2023 deve-se a uma combinação de fatores: alterações climáticas, um forte El Niño, falha na recuperação do gelo marinho após o Inverno, redução da poluição por aerossóis e aumento da atividade solar. Existem também factores menores, como as consequências da erupção vulcânica perto de Tonga.

Quão significativos são esses fatores? 1. Mudanças climáticas Isto não pode ser explicado por causas naturais. A linha azul mostra a contribuição estimada para a mudança de temperatura da Terra devido a causas

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naturais, como mudanças na atividade solar e erupções vulcânicas. Estes são responsáveis por parte da variação nas temperaturas globais, mas não conseguem explicar o aquecimento geral. A linha laranja mostra a contribuição estimada do aquecimento global induzido pelo homem, causado pela queima de combustíveis fósseis ou outras formas de poluição. Uma vez que esta linha segue de perto as temperaturas observadas no mundo real, mostra que o aquecimento global pode ser atribuído em grande parte à atividade humana. No entanto, ainda não é uma correspondência exata. A linha vermelha mostra os impactos combinados das mudanças naturais e induzidas pelo homem. Esta linha corresponde mais de perto às temperaturas observadas e mostra que as alterações induzidas pelo homem, além de algumas forças naturais, causaram o aquecimento global que vemos hoje. Este é de longe o maior fator. O que muitos de nós não reconhecemos é o quão recente é o nosso período intenso de emissões. Se você nasceu em 1983, 50% de todas as emissões da humanidade foram para a atmosfera desde o seu nascimento. As emissões humanas e outras atividades contribuíram até agora com cerca de 1,2°C para o aquecimento. Os gases de efeito estufa retêm o calor, e é por isso que a Terra não é uma bola de neve. Mas os 2 biliões de toneladas de carbono fóssil que retirámos do subsolo e devolvemos à atmosfera estão a reter mais calor. E mais calor. E continuaremos a fazê-lo até pararmos de queimar combustíveis fósseis para obter calor ou energia.

Este gráfico mostra como as temperaturas globais aumentaram nos últimos 170 anos, utilizando a ciência da atribuição para compreender as causas desta mudança e suavizar as flutuações naturais

A linha preta mostra observações reais da temperatura média global. Embora haja alguma variação de ano para ano, a temperatura da Terra tem aumentado constantemente desde a década de 1960. Isto não pode ser explicado por causas naturais. A linha azul mostra a contribuição estimada para a mudança de temperatura da Terra devido a causas naturais, como mudanças na atividade solar e erupções vulcânicas. Estes são responsáveis por parte da variação nas temperaturas globais, mas não conseguem explicar o aquecimento geral. A linha laranja mostra a contribuição estimada do aquecimento global induzido pelo homem, causado pela queima de combustíveis fósseis ou outras formas de poluição. Uma vez que esta linha segue de perto as temperaturas observadas no mundo real, mostra que o aquecimento global pode ser atribuído em grande parte à atividade humana. No entanto, ainda não é uma correspondência exata. A linha vermelha mostra os impactos combinados das mudanças naturais e induzidas pelo homem. Esta linha corresponde mais de perto às temperaturas observadas e mostra que as alterações induzidas pelo homem, além de algumas forças naturais, causaram o aquecimento global que vemos hoje.

2. El Niño

Fãs protegidos do calor antes do adiado show de Swift no Rio-RJ, recentemente

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O ciclo climático El Niño-Oscilação Sul no Pacífico tem a maior influência natural no clima. Isso porque o Pacífico é enorme, representando 30% da superfície da Terra. Quando na fase El Niño, os mares da América do Sul esquentam. Isto, por sua vez, geralmente torna as temperaturas globais médias mais quentes. Neste momento, há uma onda de calor perigosa no Brasil, onde o calor e a umidade combinados fazem com que pareça 60°C . O calor intenso contribuiu para a morte de um fã no show de Taylor Swift no Rio, na semana passada. O El Niño provavelmente atingirá o pico nos próximos dois meses. Mas os seus efeitos poderão persistir ao longo de 2024, elevando as temperaturas médias globais em talvez 0,15°C.

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3. O gelo marinho da Antártica não está se recuperando Os declínios no gelo marinho do Ártico são bem conhecidos. Mas agora também o gelo marinho da Antártida não está a conseguir recuperar. Normalmente, o anel de água do mar congelada em torno do continente gelado atinge a sua extensão máxima em Setembro. Mas o máximo deste ano está bem abaixo de qualquer ano anterior. À medida que entramos no verão, isso significa que mais água escura ficará exposta. E como as superfícies escuras absorvem mais calor enquanto as brancas o refletem, isso significa que ainda mais calor irá para os oceanos, em vez de voltar para o espaço.

Por que o Mar Ártico está diminuindo e o Mar Antártico não?

4. Aumento da atividade solar Nosso sol funciona em um ciclo de aproximadamente 11 anos, oscilando entre uma produção mais baixa e mais alta. O máximo solar foi previsto para 2025, e um claro aumento está ocorrendo este ano. Isto traz auroras espetaculares – mesmo no Hemisfério Sul, onde os residentes viram auroras no interior até Ballarat, em Vitoria. Os máximos solares adicionam calor extra. Mas não muito – o efeito é de apenas cerca de 0,05°C, cerca de um terço de um El Niño.

5. A ressaca vulcânica Normalmente, as erupções vulcânicas arrefecem o planeta, pois as suas vastas nuvens de aerossóis bloqueiam a luz solar. Mas a maior erupção vulcânica deste século perto de Tonga, em Janeiro de 2022, fez o oposto.

Por que o Mar Ártico está diminuindo e o Mar Antártico não?

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Isso porque o vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai estava no fundo do mar. A sua força explosiva evaporou grandes volumes de água do mar – e o vapor de água é um gás com efeito de estufa . Embora alguns céticos gostem de apontar esta erupção como a causa raiz do nosso recente aumento no aquecimento, a erupção de Tonga é um pontinho – estima-se que adicionará 0,035°C durante cerca de cinco anos.

6. Reduzir a poluição por aerossóis. Em 2020, novas regras de transporte marítimo internacional entraram em vigor, exigindo combustíveis com baixo teor de enxofre. Isto reduziu as emissões de dióxido de enxofre em cerca de 10%. Isso é bom para a saúde. Mas os aerossóis na atmosfera podem, na verdade, bloquear o calor. A redução da poluição pode ter contribuído para o aquecimento. Mas, mais uma vez, o efeito parece pequeno, acrescentando cerca de 0,05°C de aquecimento até 2050.

Emissões globais de SO2 do transporte marítimo internacional do conjunto global de dados de aerossóis (CEDS) (1970-2019). Estimativas posteriores de Leon Simons baseadas nos efeitos projetados das regulamentações de combustíveis com baixo teor de enxofre introduzidas em 2020. Gráfico de Zeke Hausfather para Carbon Brief, usando Highcharts

O que devemos tirar disso? O clima é extremamente complexo. Deveríamos encarar o primeiro dia 2°C mais quente do que o mesmo dia do período pré-industrial como um aviso severo – mas não como um sinal para desistir. Em suma, esta não é uma mudança radical. É uma combinação de fatores que impulsionou esse aumento. Alguns deles, como o El Niño, são cíclicos e retrocederão.

Este ano, poderemos até ver as emissões provenientes da geração de energia finalmente atingirem o pico e depois começarem a cair

Mas enquanto os negociadores se preparam para as negociações climáticas da próxima semana, a COP28, é mais um sinal de que não podemos ceder. Estamos – finalmente – a ver sinais de progresso real na implementação da energia limpa e dos transportes limpos. Este ano, poderemos até ver as emissões provenientes da geração de energia finalmente atingirem o pico e depois começarem a cair. Então, ainda não falhamos. Mas estamos num planeta em rápido aquecimento – e agora podemos ver claramente o efeito, mesmo nestes novos recordes diários de temperatura. [*] Em The Conversation Mais um sinal de que não podemos ceder

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Como desacelerar as alterações climáticas por *Brendan Bane, Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico

Fotos: IPCC, One Earth, Peggychoicair | Pixabay, Unsplash

À medida que a COP28 e um potencial excesso de temperatura se aproximam no horizonte, os cientistas apontam para três grandes esforços que poderão conter o aquecimento global. O aumento contínuo da ambição é fundamental para limitar o aquecimento global a 1,5°C

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apenas algumas semanas da COP28 – Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2023, os países farão em breve um balanço do seu progresso no esforço mundial para abrandar e adaptar-se ao aquecimento global. A conferência oferece aos países a oportunidade de cumprirem e coordenarem os seus compromissos de mitigação climática, como alcançar a neutralidade carbónica até 2050 ou o pico de emissões até 2030. Três esforços em larga escala podem fazer a diferença. O aumento contínuo da ambição é fundamental para limitar o aquecimento global a 1,5°C Estudos anteriores sugerem que, se os compromissos atuais forem mantidos, o mundo está praticamente a caminho de manter o aquecimento abaixo dos 2°C. Mas o objetivo original do Acordo

Num novo artigo comentado, os investigadores apontam para três grandes esforços que poderão ajudar a limitar o aquecimento global a 1,5°C. Aumentar a remoção de dióxido de carbono e abordar melhor outras emissões, como o metano e os gases fluorados, estão entre os esforços mais valiosos que recomendam

de Paris – o tratado sobre alterações climáticas de 2015 , no qual 196 países aspiravam limitar o aquecimento global

Mitigar as emissões de todas as fontes será fundamental para limitar o aquecimento a menos de 1,5°C”, disse Gokul Iyer

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a 1,5°C até ao final deste século – permanece teimosamente fora de alcance. “Aí estão as más notícias”, disse Haewon McJeon, professor visitante do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia, cuja pesquisa muitas vezes se concentra na avaliação de compromissos climáticos. “Fizemos um balanço dos atuais compromissos climáticos em todo o mundo e tudo fica muito aquém da meta de 1,5°C. Não é suficiente”. O que podem os países fazer para que o objetivo volte a estar ao seu alcance? Num novo comentário publicado na One Earth , os investigadores destacam que os maiores ganhos de mitigação climática podem ser obtidos através de três esforços globais: controlar as emissões não-CO2, como o metano e os gases fluorados, aumentar a remoção de dióxido de carbono e travar a desflorestação. Faça progressos suficientes nestas áreas, disseram os autores, e o objetivo de 1,5° poderá recuar na nossa mira.

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“Mitigar as emissões de todas as fontes será fundamental para limitar o aquecimento a menos de 1,5°C”, disse Gokul Iyer, autor principal do comentário e cientista da Terra no Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico do Departamento de Energia. “Embora a maioria dos esforços até à data se tenham centrado nas emissões de dióxido de carbono no sector energético, essas três áreas apresentam oportunidades para aumentar ainda mais a ambição”. Uma oportunidade de ajustar o rumo está se aproximando rapidamente. O Acordo de Paris contém um mecanismo de “catraca” integrado, um processo de correção de rumo onde os países podem rever regularmente os seus compromissos climáticos em incrementos de cinco anos. O seu objetivo é levar a cabo ações mais ousadas e ambiciosas no âmbito do esforço para conter o aquecimento. A COP28 marca a primeira vez que os países participantes serão submetidos a esta “avaliação do progresso”, conhecida como Balanço Global, que definirá os compromissos ajustados. O dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais conhecido, mas é um entre vários. Embora menos prevalentes, outros gases como o metano e o óxido nitroso podem reter ainda mais calor. Este último pode permanecer na troposfera da Terra por mais de um século antes de passar para a estratosfera, onde destrói a camada de ozônio. A redução das emissões de óxido nitroso e de outras emissões que não o CO2, mais cedo ou mais tarde, disseram os autores, poderia ajudar a conter o pico de aquecimento neste século. “Fazer isso poderia ‘achatar a curva’ de um excesso de temperatura, onde as temperaturas globais excedem 1,5°C e eventualmente esfriam novamente”, disse

Emissões globais de GEE nas trajetórias modeladas usando o GCAM

As trajetórias de emissões variam consoante os pressupostos sobre o nível de ambição em 2030, a taxa mínima de descarbonização pós-2030 e o calendário de zero emissões líquidas para países com compromissos de zero emissões líquidas. A cor preta corresponde aos casos ‘NDC’, laranja aos casos ‘NDC+’ e azul aos casos ‘NDC++’. Cada grupo de cores compreende nove caminhos. As linhas grossas em negrito em cada grupo de cores correspondem aos pressupostos centrais sobre a descarbonização mínima pós-2030 (2%) e o ano de emissões líquidas zero (ano alvo conforme especificado). As linhas tracejadas grossas correspondem ao caminho mais ambicioso dentro de cada grupo de cores. As linhas mais claras dentro de cada grupo de cores correspondem a diferentes pressupostos sobre a taxa mínima de descarbonização pós-2030 e o calendário dos compromissos de emissões líquidas zero Yang Ou, coautor do estudo e pesquisador da Faculdade de Ciências Ambientais e Engenharia de Pequim. Universidade.

As instituições e os governos podem retardar as alterações climáticas regulando e reduzindo a utilização de refrigerantes halocarbonados

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Já foram feitos alguns progressos neste domínio, nomeadamente o Compromisso Global para o Metano, no qual mais de 150 países se comprometeram voluntariamente a reduzir as emissões de metano. No entanto, são necessárias ações mais detalhadas, disseram os autores. Felizmente, muitas das tecnologias necessárias para reduzir as emissões não-CO 2 já existem. A substituição de agentes de refrigeração ecológicos, a detecção e reparação de fugas de gás natural e a recuperação de refrigerantes aquando da eliminação de ar condicionado ou equipamento de refrigeração, tudo isto poderia ajudar a diminuir essas emissões. Mudanças generalizadas na dieta, como comer menos carne, também poderiam ajudar a reduzir as emissões no sector agrícola.

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A remoção de carbono pode ser realizada de várias formas, desde novas tecnologias até práticas de manejo da terra

Ainda assim, disseram os autores, é necessário mais progresso. Os países poderiam abordar uma gama mais ampla de emissões não-CO 2. Atualmente, o metano tem um grande foco, enquanto o óxido nitroso e os gases fluorados são igualmente, se não mais importantes, de acordo com o novo trabalho. E à medida que surgem novas medidas de mitigação em torno destas emissões há muito não abordadas, os países poderiam beneficiar se considerassem todos os sectores e fontes de onde fluem, desde a pecuária até à produção de energia.

Aumentando a remoção de dióxido de carbono Remover o dióxido de carbono da atmosfera da Terra é essencial, disseram os autores.

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Destacam uma lacuna importante entre a quantidade de dióxido de carbono que os países se comprometeram a remover e a quantidade que deve ser removida para cumprir os objetivos do Acordo de Paris. Os compromissos atuais são insuficientes, segundo os autores; devemos extrair anualmente 1-3 gigatoneladas adicionais de dióxido de carbono da atmosfera da Terra até 2030, e 2-7 gigatoneladas anualmente até 2050. Caso contrário, o objetivo de 1,5° provavelmente permanecerá fora de alcance. Muitas tecnologias de remoção de dióxido de carbono permanecem incipientes e caras. No entanto, para atingir o objetivo de aquecimento, devem ser rentáveis e implantadas em larga escala. A próxima década, disseram os autores, é fundamental.Apelam a incentivos para incentivar a investigação, o desenvolvimento, a demonstração e a implantação de métodos novos e alternativos de remoção de dióxido de carbono.

Uma abordagem abrangente à remoção de carbono oferece o caminho mais seguro, desde a florestação e reflorestação até à utilização de biocombustíveis combinada com a captura e armazenamento de carbono. Os autores observam algum progresso: os investimentos em tecnologia de remoção de dióxido de carbono aumentaram nos últimos anos, totalizando 4 mil milhões de dólares em investigação financiada publicamente. No entanto, apenas alguns países fizeram tais investimentos, que se concentraram principalmente num número limitado de métodos de remoção.“Uma participação mais generalizada poderia, em última análise, reduzir os custos”, disse McJeon, também coautor do novo comentário. “E poderia demonstrar um ponto importante: que a remoção de dióxido de carbono pode ser realizada em todo o mundo de várias maneiras, já que cada região é mais adequada para alguns métodos de remoção do que para outros”.

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A morte dos recifes de coral, as inundações extremas e a desertificação são todos impactos climáticos prováveis sob um aumento de temperatura de 2˚C.

Parar o desmatamento. Os autores do novo comentário apontam para 4,1 milhões de hectares de floresta tropical perdidos devido à desflorestação só em 2022. Uma parte significativa das emissões globais – 16% – resultou da desflorestação e de outras formas de alteração da utilização dos solos entre 2012 e 2021. Em algumas regiões, as florestas que outrora foram sumidouros de carbono transformaram-se em fontes. Como poderia ser uma maior ambição nesta área? Os autores sugerem vários cursos de ação. Colocar limites ao aumento das taxas de desflorestação poderia ajudar. Cessar ou reduzir o consumo de produtos como o óleo de palma ou a soja também

poderia proteger as florestas em regiões importantes como a América do Sul. Uma melhor monitorização da mineração e da caça ilegais, a criação de novos incentivos para proteger as florestas propensas a incêndios contra incêndios florestais graves e os compromissos de financiamento para proteger as florestas são exemplos de esforços que valem a pena, disseram os autores. A equipe presta elogios à União Europeia, ao Reino Unido e ao Brasil, cujos governos relataram recentemente quedas significativas nas taxas de desflorestação desde julho de 2022. A Parceria dos Líderes Florestais e Climáticos – uma declaração conjunta para travar e reverter a perda florestal e a degradação da terra até 2030 — foi

Proteger as florestas propensas a incêndios contra incêndios florestais graves

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assinado por mais de 100 países na COP27. Se quisermos atingir o objetivo de aquecimento, no entanto, um progresso semelhante deve ser feito numa escala mais ampla, segundo os autores. “Embora o próximo processo de balanço global provavelmente se concentre na avaliação das ações climáticas e do progresso alcançado até o momento”, disse Iyer, “será importante concentrar as negociações e discussões em iniciativas para aumentar a ambição em áreas até então ignoradas. moldar a trajetória das emissões globais nas próximas décadas e aumentar as nossas chances de permanecer abaixo de 1,5°C.” Este trabalho deriva do Joint Global Change Research Institute, uma parceria entre o Centro para Sustentabilidade Global da Universidade de Maryland e o Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico. Lá, pesquisadores de uma ampla gama de disciplinas colaboram para modelar os sistemas humanos e terrestres, desde aqueles que aproveitam e fornecem energia às nossas casas até aqueles que governam condições climáticas extremas. As suas conclusões ajudam os decisores políticos a tomar decisões informadas sobre a vasta gama de potenciais consequências que decorrem da ação social.

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Plantação de árvores nativas da Amazônia recupera áreas de preservação permanente no Sudeste do Pará O planejamento de espécies nativas - florestais e frutíferas - é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na agricultura familiar da região amazônica. Já na recuperação das áreas de reserva legal a implantação de Sistemas Agroflorestais é a estratégia adotada por agricultores e técnicos. O objetivo do trabalho é reduzir o desmatamento e melhorar a condição socioprodutiva dos agricultores. Tecnologias e alternativas de baixo custo para os plantios são adotadas na região, além de estratégias de construção coletiva do conhecimento Texto * Vinicius Soares Braga , Ana Laura Lima Fotos Enilson Solano, Vinícius Braga

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rabalho participativo da pesquisa junto a agricultores familiares do Sudeste do Pará revela que o plantio de espécies nativas - florestais e frutíferas - é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na região amazônica. Para áreas de reserva legal, a recomendação é a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Realizado no projeto de assentamento Mamuí, no município de Itupiranga, o trabalho aposta na adoção de estratégias de baixo custo de restauração florestal, como o plantio de sementes pré-germinadas e mudas de espécies já existentes no local. O objetivo maior da iniciativa é reduzir o desmatamento e melhorar a condição socioprodutiva dos agricultores familiares na Amazônia.

O plantio de espécies nativas para recuperação de áreas de preservação permanente e a implantação de SAFs são recomendados para restauração florestal na região amazônica

Vista área do projeto de assentamento

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O Sudeste do Pará concentra uma grande quantidade de projetos de assentamentos que abrigam milhares de famílias de agricultores. Em geral, a ocupação cumpre uma lógica de abertura de áreas de floresta para atividades produtivas, seguindo o processo tradicional de derrubada e queima. “Os locais próximos a nascentes e igarapés são os mais vistos para derrubados. É uma estratégia do pequeno agricultor instalar casas nesses locais, para ter acesso à água e salvar animais peçonhentos”, explica o pesquisador Ademir Ruschel , da Embrapa Amazônia Oriental . Estas áreas, no entanto, são consideradas pela legislação como de preservação permanente e o seu desmatamento gera um passivo ambiental para a propriedade.

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Pesquisador Ademir Ruschel , da Embrapa Amazônia Oriental .

mudas e insumos, e com adubação, viveiros e transporte até as áreas de plantio. “Esses custos são altos na Amazônia. A entrega de sementes de espécies florestais nativas é outro gargalo, assim como o conhecimento sobre seu desenvolvimento germinativo”. Para contornar as dificuldades, a equipe do projeto avaliou em conjunto com a comunidade a utilização da técnica de plantio de sementes escarificadas ou pré-germinadas, que, entre outros benefícios, diminui os custos na etapa de viveiro (semeadura, repicagem e condução) e sem transporte até o local definitivo de plantio. “É uma técnica simples e barata que pode ser aplicada pelo produtor com facilidade”, explica o pesquisador Ademir Ruschel, integrante do projeto Nessa técnica, as sementes das espécies escolhidas germinam diretamente sobre o solo, protegidas por uma cobertura de palha umedecida, e depois são levadas para o plantio nas áreas de recuperação. “No fim do processo, elas se desenvolvem tão bem quanto uma muda que começou num saquinho com substrato e protegido pelo viveiro, ou mesmo avantajada, por preservar a formação radicular, principalmente mantendo a raiz pivotante provida da coifa, o que fisiologicamente favorece a saúde da planta”, avalia Ruschel.

Mesmo assim, na última avaliação – três anos após o plantio -, a sobrevivência se mostrou superior a 50%”, explica Ruschel. Também nesses locais, foram plantadas diversas mudas de espécies florestais fornecidas por viveiros para uma maior diversidade de espécies. A produção de mudas em viveiro deve ser aliada à técnica de plantio direto de sementes, principalmente em virtude da necessidade de armazenamento e período de plantio. “Sugerimos frutíferas nativas, a exemplo do bacuri, açaí, taperebá, castanha-do-Pará, piquiá, graviola, cacau, cupuaçu, ingá, uxi, buriti, puxuri, e espécies que fornecem óleos e resinas, como andiroba, cumarú, pracaxi , e copaíba”, completa. O açaí nativo ( Euterpe oleracea ) foi outra aposta dos técnicos e dos agricultores nas áreas de preservação permanente, conta Michelliny Bentes. “Com isso o projeto conseguiu conciliar dois objetivos: reintroduzir uma espécie nativa no seu habitat natural e promover a atração da fauna e o aumento da polinização, que se destaca com um dos mais nobres serviços ecossistêmicos para a restauração ecológica”, explica. Mais de 50 espécies arbóreas nativas, algumas já praticamente escassas na região, foram introduzidas nas áreas de preservação permanente que anteriormente estavam cobertas com pasto e uma regeneração secundária empobrecida. Entre elas jatobá, amarelão, mogno-brasileiro, maranhoto, timborana, pau-preto, jarana, sumaúma, fava-arara-tucupi, angelim-branco, oiti, bacaba e bacuri.

Também contém o quadro de manipulação ambiental para a agricultura e a peculiaridade com baixa adoção de tecnologia, descrito pela queda e queima, e que depende do abandono e reabertura de novas áreas para renovar a fertilidade do solo. A região é um dos pontos de implantação das ações do Inovaflora , um dos 19 projetos que fazem parte do Projeto Integrado da Amazônia ( PIAmz ), parceria entre a Embrapa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES ), com ações financiadas pelo Fundo Amazônia. No projeto de assentamento Mamuí, por meio da troca de experiências, informações e tecnologias e da construção coletiva do conhecimento, a equipe e os agricultores implantaram sistemas de recomposição com base na diversidade de espécies de florestas nativas, frutíferas, e outros cultivos agroalimentares já utilizados ou de Pesquisa e agricultores familiares juntos em trabalho participativo interesse das comunidades.

Tecnologias e diversidade para produzir sem desmatar “Levamos tecnologias e construímos alternativas com os agricultores para que eles possam se adequar à legislação e produzir mais em suas áreas”, explica a engenheira florestal Michelliny Bentes , pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e coordenadora do Inovaflora. Segundo a pesquisadora, um dos principais gargalos nos trabalhos de recuperação envolve os custos com a produção ou aquisição de sementes,

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Seguindo essa técnica, nas áreas de preservação permanente escolhidas para recuperação, as sementes escarificadas ou pré-germinadas foram plantadas de forma adensada e sem dobro da quantidade de indivíduos previstos. “Isso em função da previsão de perda por mortalidade natural (seleção), condições ambientais adversas e entrada de animais e de que nem todos os tratos silviculturais sejam aplicados até o fim do estabelecimento das espécies plantadas.

Engenheira florestal Michelliny Bentes, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e coordenadora do Inovaflora

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Seu João e a restauração florestal A animação, inspirada na experiência do projeto Inovaflora, no Sudeste do Pará, mostra a história do seu João, personagem fictício que representa um pioneiro na ocupação de lotes na Amazônia. O reflorestamento com espécies nativas foi uma solução encontrada para melhorar a condição produtiva do lote e promover a adequação ambiental.

A história do seu João Assista o YouTube: www.youtu.be/YStxrPlLXcY

SAFs para reserva legal Do grupo de oito agricultores que aderiram à recuperação das áreas de preservação permanente, três também tiveram interesse em recuperar a reserva legal. Nesse trabalho, foram implantados sistemas agroflorestais em parcelas de 3.500 metros quadrados divididos em três componentes: núcleo de produção, frutíferas de pequeno porte e essências florestais nativas. O primeiro é o que reuniu o maior número de plantas distribuídas entre açaizeiro, bananeira e cacaueiro. A família do agricultor Antônio Maurício é uma das que obteve a recomposição da reserva legal. O agricultor atualizou um sistema agroflorestal para recuperar uma nascente localizada no seu lote. “Foram 45 mudas de banana, 90 de açaí, 90 de cacau, além de mogno, andiroba, buriti e ipê. Tudo para

Agricultor Antônio Maurício

proteger a água da minha área”, conta. Ele tem observado que uma vegetação nascente é condição fundamental para manter a qualidade da água.

“As nossas áreas de preservação permanente devem ser cobertas com vegetação nativa e produtivas também. Se descobrirmos tudo, isso compromete a qualidade da nossa água”, acredita. A pesquisadora Michelliny Bentes destaca que um importante benefício ecológico oferecido nas avaliações a campo, nas áreas do projeto de assentamento Mamuí, é a formação de pequenos corredores ecológicos, que estão interligados à reserva legal das propriedades. “No médio prazo, teremos uma nova formação florestal trazendo mais benefícios às famílias de agricultores, além da produção diversificada com os SAFs que também já começaram a dar os primeiros resultados de produção”, finaliza Bentes (*)Embrapa Amazônia Oriental

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Benefícios que vão além do ambiente A pesquisa aponta diferentes estratégias de restauração e a escolha de uma depende do contexto local e dos objetivos da intervenção na área, que podem ser resgatar os serviços ecossistêmicos, melhorar a produção agropecuária e florestal ou diminuir passivos ambientais. Entre as estratégias estão a reabilitação produtiva da área; o reflorestamento com sistemas integrados de produção, como Sistemas Agroflorestais e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF); o reflorestamento com plantio de espécies arbóreas; e uma regeneração natural. Joice Ferreira , também pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, explica que os serviços ecossistêmicos são funções que os ambientes naturais são fornecidos para os seres humanos. “A polinização, a produção e qualidade da água, do solo e outros são exemplos. A restauração tenta justamente resgatar esses serviços que foram perdidos a partir do desmatamento e manipulação. Trazendo a floresta de volta, permitimos o aumento da produção de água, de frutos, de culturas agrícolas, de alimentos e outros serviços”, acrescenta. Em locais onde o uso da terra é mais recente, com a presença de florestas remanescentes por perto, a regeneração natural, que envolve apenas o isolamento da área, é uma boa estratégia, segundo os especialistas. Já em áreas que foram abertas há mais tempo e onde não existem

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florestas por perto, o reflorestamento com o plantio de espécies nativas e também a implantação de sistemas integrados são mais indicados. “É importante que o agricultor tenha consciência de que esse ambiente é uma área que vai ser perenizada. Então a restauração ou recuperação desse ambiente degradado tem que ser atrativa para o agricultor com o uso de sistemas de baixo custo e também com a obtenção de benefícios”, ressalta o pesquisador Ademir Rushell. “A recuperação pode, portanto, especificar a função de restaurar o ambiente e trazer benefícios sociais e econômicos ao agricultor”, conclui.

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Estudo conclui que a adoção de ILPF, em diferentes combinações, tem um balanço positivo nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) no bioma Amazônia. O balanço líquido de carbono equivalente, no fim de quatro anos, foi negativo

Sistemas ILPF mitigam emissão de gases de efeito estufa no bioma Amazônia por *Gabriel Faria

Fotos: Gabriel Faria

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s sistemas integrados de produção têm um balanço positivo nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) no bioma Amazônia. Sejam de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), integração lavoura-pecuária (ILP) ou integração pecuária-floresta (IPF), eles sequestram mais do que emitem carbono na natureza. Um estudo realizado no maior experimento da ILPF do País mostra ainda que até uma pecuária solteira, quando bem manejada, é eficiente no balanço desse gás. O Brasil tem todas as condições para ser protagonista no cenário da peculiaridade sustentável do futuro. Os resultados da pesquisa foram tema de artigo em revista internacional e podem embasar políticas públicas A atividade peculiar com uso de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em diferentes símbolos, tem um balanço positivo nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) no bioma Amazônia. Essa é a conclusão de um estudo realizado no maior experimento da ILPF do País, localizada na Embrapa Agrossilvipastoril (MT).

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Alyce Monteiro, doutoranda no Cena/ USP, primeira autora do trabalho

Uma pesquisa mensurou e comparou dados de pastagem solteira de Brachiaria brizantha cv. Marandú ; integração

lavoura-pecuária (ILP), com dois anos de cultivo de soja na safra e milho com braquiária na segunda safra, seguido por dois anos de pecuária; integração pecuária-floresta (IPF) com renques triplos de eucalipto a cada 30 metros; e ILPF, com a mesma rotação da ILP, porém com linhas simples de eucalipto a cada 37 metros. Os resultados demonstraram que o balanço líquido de carbono equivalente ( ver quadro nesta matéria ) no fim de quatro anos foi negativo em todos os sistemas, ou seja, houve um sequestro maior do que as emissões. O maior saldo foi o do sistema IPF, com 51,3 toneladas de carbono equivalente por hectare (ton/CO2eq/ha), seguido pelo ILPF, com 39,5. A ILP teve saldo positivo de 18,8 ton/CO2eq/ha e até mesmo a peculiar em sistema convencional sequestrou mais carbono do que emitido, com 26,8 ton/CO2eq/ha ao longo de quatro anos. A pesquisa usou como referência de comparação uma área de pasta degradada, de forma a simular o que aconteceria se ela fosse recuperada com um desses sistemas produtivos.

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“Como estamos tentando proporcionar sistemas mais sustentáveis para o Brasil, usamos como referência de comparação uma pastagem degradada. Sistemas sustentáveis são aqueles que produzem bem, com neutralização de emissões de gases. É isso que chamamos de intensificação, é você sair de um local com baixa produção animal e de forragem para uma maior produtividade, com aumento da qualidade do solo”, afirma a doutoranda no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) e primeira autora do trabalho, Alyce Monteiro. Bruno Pedreira, atualmente na Universidade do Tennessee, mas na época do estudo pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril e coorientador de Alyce Monteiro, destaca o fato de que mesmo a pecuária solteira, quando bem manejada, se mostrou eficiente no balanço de carbono equivalente. Para ele, isso indica como é possível melhorar a sustentabilidade da atividade no Brasil. “Fazer a pecuária de uma maneira bem feita representa para nós a possibilidade de vender uma carne com balanço positivo de carbono. São sistemas que elevam a perspectiva ambiental da peculiaridade para o futuro. O Brasil é o País que tem potencial para fazer isso como nenhum outro”, afirma Pedreira.

Pegada de carbono Além de medir o carbono equivalente emitido por hectare em cada sistema, o estudo estudou unidades de medida de pegada de carbono, como CO2eq por quilograma de carcaça (carne) e por quilograma de proteína de consumo humano (percentual

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Diagrama de cada sistema nos anos 1 e 2 (A) e 3 e 4 (B).

de proteínas presentes nos grãos e na carne). A madeira produzida não foi contabilizada nos cálculos de pegada de carbono, uma vez que o corte final ainda não foi feito. O sistema ILP foi o que teve maior emissão de gases de efeito estufa por quilograma (kg) de produção produzida. O número foi 7% maior do que a ILPF, 32% maior do que a IPF e 42% maior do que a pecuária solteira.

Quando expresso o balanço líquido de emissões pelo volume de carcaça, todos os sistemas tiveram números negativos, ou seja, sequestraram carbono para cada quilograma de carne produzido. Os sistemas com árvores tiveram um balanço negativo maior do que o ILP e a pecuária. O sistema silvipastoril (IPF) foi o que teve o maior balanço negativo quando expresso em kg CO2eq/kg de proteína de consumo humano, ou seja, foi o que mais sequestrou carbono por quilograma de proteína de alimentação humana. Foram 69,32 kg CO2eq estocados a cada kg de proteína digerida pelo homem por meio da carne e dos grãos produzidos. Esse resultado foi duas vezes maior do que a pecuária, 5,2 vezes maior do que a ILPF e 11,4 vezes maior do que a ILP. Entretanto, os sistemas ILP e ILPF foram os que tiveram maior produção de proteína de consumo humano por hectare, com 3.010 kg/ha, contra 755 kg/ha da pecuária e da IPF. O estudo avaliou ainda o percentual da contribuição de cada gás de efeito estufa nos sistemas. O metano é sempre o gás de maior impacto, chegando a 85% das emissões na pecuária isolada e na IPF, 68,6% na ILPF e 66,1 na ILP.

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dadas no bioma em sistemas integrados de produção. Ou seja, não há necessidade de abertura de novas áreas, mas sim fazer com que as áreas já abertas sejam utilizadas de forma mais eficiente”, pontua.

Apoio a políticas públicas

Passo a passo da pesquisa A coleta de dados da pesquisa ocorreu no experimento de ILPF com foco na produção de carne, grãos e madeira da Embrapa Agrossilvipastoril entre 2015 e 2018, porém também foram usadas referências como informações coletadas nesse mesmo experimento ao longo de mais de dez anos. Para se chegar aos números foi necessário mensurar dados de produtividade dos animais e do trabalho, sobre o crescimento das árvores, insumos utilizados, acúmulo de carbono no solo em todos os sistemas, estimativa das emissões de óxido nitroso, emissão de metano entérico pelos animais e consumo de combustível e energia para a produção. Para a mensuração das emissões de metano entérico, por exemplo, foi utilizado o equipamento GreenFeed, que mede o metano expelido pelo animal enquanto este se alimenta em um cocho. Dados da literatura foram usados para fazer os devidos específicos e extrapolações. “Trabalhamos com três anos de dados da Embrapa Agrossilvipastoril. Foi muito difícil, pois é um banco de dados muito grande. Tio que relaciona vários fatores de envio. Isso tudo exige muito cuidado quando se trabalha com modelagem para não haver nenhum erro nos resultados”, afirma Alyce Monteiro. O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Ciro Magalhães é um dos responsáveis pela condução do experimento e também coautor do trabalho. Ele destaca o papel dessa plataforma experimental de larga escala e longa duração.

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“Trabalhos dessa magnitude são sempre solicitados, pois envolvem a busca contínua por recursos e também a interlocução constante com toda a equipe envolvida. Todas as ações são planejadas em conjunto, de modo a aprimorar os esforços para garantir a entrega de dados confiáveis, que irão embasar todas as ações que serão feitas posteriormente. Esse tipo de trabalho é de longo prazo e, para a obtenção de resultados, são necessários muitos anos de pesquisa”, afirma o pesquisador. Magalhães ressalta ainda a importância de se obter esse tipo de respostas científicas na região de transição entre os biomas Cerrado e Amazônia, uma região de grande interesse no que respeito diz à sustentabilidade da produção agropecuária. “É possível aumentar a produção de alimentos, fibras e energia por meio da conversão de áreas degra-

Para os pesquisadores envolvidos nesse trabalho, os resultados ajudarão a embasar políticas públicas que visam a transição para uma agropecuária de baixo carbono, como o Plano ABC+, já implementado pelo governo brasileiro. Magalhães lembra que adotar sistemas de integração, sejam eles trabalho-pecuário, pecuário-floresta ou ILPF, exigem mais esforços de todos os envolvidos. “Como são sistemas mais complexos, os sistemas ILPF bloqueiam ações de capacitação de mão-de-obra, financiamento a partir de linhas de crédito diferenciadas, estudos de mercado e investimento em infraestrutura”, observa o pesquisador. Já Pedreira lembra que mesmo uma pecuária solteira pode ser um vetor de redução de emissões de gases de efeito estufa, se houver um bom manejo de pastagem e dos animais. “Talvez seja preciso rever o que pode ser fomentado pensando em auxiliar o produtor também nos sistemas de pecuária tradicionais. Sabendo que eles podem ser altamente produtivos, se bem trabalhados, com fertilidade do solo corrigido, suplementação animal e uso das boas práticas agropecuárias, podemos reconsiderar nossas políticas no sentido de contribuição também nossos sistemas com base na pastagem”, ressalta Pedreira.

Agropecuária de baixo carbono

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Pesquisa é tema de artigo internacional Os resultados da pesquisa foram publicados no artigo Sistemas agropecuários-florestais como estratégia para mitigação de emissões de gases de efeito estufa e melhoria da sustentabilidade de sistemas pecuários forrageiros no bioma Amazônia (Sistemas ILPF como estratégia para mitigação da emissão de gases de efeito estufa e aumento da sustentabilidade em sistemas de pecuária a pasto no

bioma Amazônia) na revista Science of The Total Environment , que está com acesso aberto. O trabalho conta com a participação de pesquisadores brasileiros do Cena/USP, Embrapa Agrossilvipastoril e Universidade do Tennessee, e pesquisadores de franceses do Instituto Nacional Francês de Pesquisa em Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente ( INRAe )

Balanço líquido de emissões de gases de efeito estufa O setor agropecuário emite três gases causadores de efeito estufa principalmente, o gás carbônico (CO2), óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4). As emissões de óxido nitroso estão mais ligadas ao uso de adubação nitrogenada na agricultura, afetando restos culturais e excretas dos animais. Já a transferência de metano entérico ocorre na pecuária por meio do processo de ruminação dos bovinos e pela emissão do esterco. O gás carbônico é emitido pela eliminação de matéria orgânica e uso de energia e combustíveis fósseis, como o diesel de maquinário agrícola. Ao mesmo tempo, os sistemas produtivos sequestram carbono na forma de matéria orgânica no solo, na biomassa das forrageiras e nas culturas agrícolas e na madeira das

árvores. Também são contabilizadas as emissões evitadas pelo uso de palhada no plantio direto ao invés de adubar com uréia. Para chegar ao balanço de emissões de um sistema, os três gases são convertidos em equivalente de carbono (CO2eqv). A conversão é feita com base no potencial de dano de cada gás para o efeito estufa, sendo um para gás carbônico, 28 para metano e 265 para o óxido nitroso. Isso significa que uma tonelada de metano emitida é igual a 28 toneladas de CO2eqv. O líquido de emissões de um sistema é feito a partir da subtração do total de emissões pelo total de CO2eqv sequestrado e cuja emissão foi evitada.

[*] Embrapa Agrossilvipastoril

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A cor do oceano está mudando A cor do oceano tem mudado significativamente nos últimos 20 anos, e a tendência global é provavelmente uma consequência da mudança climática induzida pelo homem, relatam cientistas do MIT, do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido e de outros lugares Fotos: NASA e Joshua Stevens, usando dados Landsat do US Geological Survey e dados MODIS do LANCE/EOSDIS Rapid Response, Observatório da Terra da NASA/Norman Kuring, Ocean Color Web.

Mapa de locais onde a tendência SNR da cor do oceano é superior a 2 para uma série temporal anual de 20 anos

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s cientistas do MIT escreveram na Nature, que detectaram mudanças na cor do oceano nas últimas duas décadas que não podem ser explicadas apenas pela variabilidade natural ano a ano. Essas mudanças de cor, embora sutis ao olho humano, ocorreram em 56% dos oceanos do mundo – uma extensão maior do que a área total da Terra. Em particular, os pesquisadores descobriram que as regiões oceânicas tropicais próximas ao equador tornaram-se cada vez mais verdes ao longo do tempo. A mudança na cor do oceano indica que os ecossistemas da superfície do oceano também devem estar mudando, pois a cor do oceano é um reflexo literal dos organismos e materiais em suas águas. Neste ponto, os pesquisadores não podem dizer exatamente como os ecossistemas marinhos estão mudando para refletir a mudança de cor. Mas eles têm certeza de uma coisa: a mudança climática induzida pelo homem provavelmente é o fator determinante. “Tenho feito simulações que me dizem há anos que essas mudanças na cor do oceano vão acontecer”, diz a coautora do estudo Stephanie Dutkiewicz,

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pesquisadora sênior do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT e do Centro para a Ciência da Mudança Global. “Ver isso acontecendo de verdade não é surpreendente, mas assustador. E essas mudanças são consistentes com as mudanças induzidas pelo homem em nosso clima”.

“Isso fornece evidências adicionais de como as atividades humanas estão afetando a vida na Terra em uma enorme extensão espacial”, acrescenta o principal autor BB Cael PhD ‘19 do Centro Nacional de Oceanografia em Southampton, Reino Unido “É outra maneira pela qual os humanos estão afetando a biosfera.”

O arquipélago das Ilhas Frísias, que se estende da Holanda à Dinamarca, separa o Mar do Norte do Mar de Wadden; um grande corpo de água raso compreendendo planícies de maré e zonas úmidas. A notável biodiversidade da região, nomeadamente o facto de ser considerada uma das zonas mais importantes do mundo para as aves migratórias (10 a 12 milhões delas), tem justificado a sua designação como Património Mundial da UNESCO. Uma floração de plâncton na primavera é visível na costa da Frísia, juntamente com plumas de sedimentos que fluem dos rios Elba, Weser e Tâmisa. As cores de cada uma das águas da German Bight, combinadas com os movimentos das correntes, ventos e marés, criam padrões hipnotizantes. Esta imagem foi capturada em 2 de abril de 2023, pelo sensor Aqua-MODIS

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Os co-autores do estudo também incluem Stephanie Henson, do National Oceanography Center, Kelsey Bisson, da Oregon State University, e Emmanuel Boss, da University of Maine.

Acima do ruído A cor do oceano é um produto visual do que quer que esteja em suas camadas superiores. Geralmente, as águas de um azul profundo refletem muito pouca vida, enquanto as águas mais verdes indicam a presença de ecossistemas e principalmente fitoplâncton – micróbios semelhantes a plantas que são abundantes na parte superior do oceano e que contêm o pigmento verde clorofila. O pigmento ajuda o plâncton a colher a luz solar, que eles usam para capturar o dióxido de carbono da atmosfera e convertê-lo em açúcares. O fitoplâncton é a base da cadeia alimentar marinha que sustenta organismos progressivamente mais complexos, até o krill, peixes e aves marinhas e mamíferos marinhos. O fitoplâncton também é um músculo poderoso na capacidade do oceano de capturar e armazenar dióxido de carbono. Os cientistas estão, portanto, ansiosos para monitorar o fitoplâncton na superfície dos oceanos e ver como essas comunidades essenciais podem responder às mudanças climáticas. Para fazer isso, os cientistas rastrearam as mudanças na clorofila, com base na proporção de quanta luz azul versus verde é refletida na superfície do oceano, que pode ser monitorada do espaço.

As mudanças não parecerão enormes a olho nu, e o oceano ainda parecerá ter regiões azuis nos subtrópicos e regiões mais verdes perto do equador e dos pólos. Esse padrão básico ainda estará lá. Mas é ‘ será diferente o suficiente para afetar o restante da cadeia alimentar que o fitoplâncton sustenta

Mas cerca de uma década atrás, Henson, que é coautor do estudo atual, publicou um artigo com outros, que mostrava que, se os cientistas estivessem rastreando apenas a clorofila, seriam necessários pelo menos 30 anos de monitoramento contínuo para detectar qualquer tendência. que foi impulsionado especificamente pela mudança climática. A razão, argumentou a equipe, era que as grandes variações naturais na clorofila de ano para ano superariam qualquer influência antropogênica nas concentrações de clorofila.

Levaria, portanto, várias décadas para escolher um sinal significativo, impulsionado pelas mudanças climáticas, em meio ao ruído normal. Em 2019, Dutkiewicz e seus colegas publicaram um artigo separado, mostrando por meio de um novo modelo que a variação natural em outras cores do oceano é muito menor em comparação com a da clorofila. Portanto, qualquer sinal de mudanças causadas pelas mudanças climáticas deve ser mais fácil de detectar nas variações menores e normais de outras cores oceânicas. Eles previram que tais mudanças deveriam ser aparentes dentro de 20, ao invés de 30 anos de monitoramento. “Então pensei, não faz sentido procurar uma tendência em todas essas outras cores, em vez de apenas na clorofila?” Cael diz. “Vale a pena olhar para todo o espectro, em vez de apenas tentar estimar um número a partir de partes do espectro”.

O poder de sete

O instrumento Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) no satélite Aqua da NASA capturou esta imagem do Oceano Pacífico Sul ao redor da Nova Zelândia em 23 de outubro de 2022

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No estudo atual, Cael e a equipe analisaram medições da cor do oceano feitas pelo espectrorradiômetro de resolução moderada (MODIS) a bordo do satélite Aqua, que monitora a cor do oceano há 21 anos. O MODIS faz medições em sete comprimentos de onda visíveis, incluindo as duas cores que os pesquisadores tradicionalmente usam para estimar a clorofila.

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As diferenças de cor que o satélite capta são muito sutis para os olhos humanos diferenciarem. Grande parte do oceano parece azul aos nossos olhos, enquanto a cor verdadeira pode conter uma mistura de comprimentos de onda mais sutis, do azul ao verde e até ao vermelho. A Cael realizou uma análise estatística usando todas as sete cores do oceano medidas pelo satélite de 2002 a 2022 juntas. Ele primeiro observou o quanto as sete cores mudavam de região para região durante um determinado ano, o que lhe deu uma ideia de suas variações naturais. Ele então deu um zoom para ver como essas variações anuais na cor do oceano mudaram ao longo de duas décadas. Essa análise revelou uma tendência clara, acima da variabilidade ano a ano normal. Para ver se essa tendência está relacionada às mudanças climáticas, ele então olhou para o modelo de Dutkiewicz de 2019. Esse modelo simulou os oceanos da Terra em dois cenários: um com a adição de gases de efeito estufa e outro sem.

Esta foto de satélite da NASA mostra uma grande floração de fitoplâncton na costa de Nova York e Nova Jersey em agosto de 2015

Na costa da Argentina, duas fortes correntes oceânicas recentemente provocaram uma mistura colorida de nutrientes flutuantes e vida vegetal microscópica bem a tempo do solstício de verão, 21 de dezembro de 2010. O espectrorradiômetro de resolução moderada (MODIS) no satélite Aqua da NASA capturou isso imagem de uma enorme floração de fitoplâncton na costa atlântica da Patagônia

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O modelo de gases de efeito estufa previu que uma tendência significativa deveria aparecer dentro de 20 anos e que essa tendência deveria causar mudanças na cor do oceano em cerca de 50% da superfície dos oceanos do mundo – quase exatamente o que Cael descobriu em sua análise de dados de satélite do mundo real. . “Isso sugere que as tendências que observamos não são uma variação aleatória no sistema terrestre”, diz Cael. “Isso é consistente com a mudança climática antropogênica”. Os resultados da equipe mostram que o monitoramento das cores dos oceanos além da clorofila pode fornecer aos cientistas uma maneira mais clara e rápida de detectar mudanças nos ecossistemas marinhos causadas pelas mudanças climáticas. “A cor dos oceanos mudou”, diz Dutkiewicz. “E não podemos dizer como. Mas podemos dizer que as mudanças de cor refletem mudanças nas comunidades planctônicas, que vão impactar tudo que se alimenta de plâncton. Também mudará a quantidade de carbono que o oceano absorverá, porque diferentes tipos de plâncton têm habilidades diferentes para fazer isso. Então, esperamos que as pessoas levem isso a sério. Não são apenas os modelos que estão prevendo que essas mudanças acontecerão. Agora podemos ver isso acontecendo, e o oceano está mudando”.

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Os tamanhos da vida As menores e maiores criaturas compõem a maior parte da biomassa da Terra. Ao contrário de uma descoberta da década de 1960, um novo estudo revela que a maior parte da biomassa da Terra vem de organismos gigantes e minúsculos por *Dr. Eden Tekwa

Fotos: PLOS One, Sylvia Heredia, Universidade de Colúmbia Britânica

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esquisas recentes revelaram a diversidade e a biomassa da vida nos ecossistemas, mas ainda não está claro como essa biomassa é distribuída pelos tamanhos corporais de todos os seres vivos. Foram compilados os espectros de biomassa de tamanho corporal global atual para os reinos terrestres, marinhos e subterrâneos. Para alcançar esta compilação, combinamos estimativas de biomassa existentes e atualizadas com faixas de tamanho corporal não catalogadas anteriormente em todos os grupos biológicos de vida livre. Esses dados mostram que muitos grupos biológicos compartilham faixas semelhantes de tamanhos corporais, e nenhum grupo domina as faixas de tamanho onde a biomassa cumulativa é maior. Em seguida, propagamos as incertezas de biomassa e tamanho e fornecemos descrições estatísticas dos espectros de tamanho e biomassa do corpo entre e dentro dos principais domínios de habitat”.

Criaturas gigantes e minúsculas compreendem a maior parte da biomassa da Terra. (Crédito da imagem: Martin Harvey via Getty Images)

Os cientistas passaram cinco anos classificando o tamanho, a massa e a população de todos os organismos vivos e, no final, fizeram uma descoberta surpreendente – que as menores e maiores entidades vivas da Terra dominam por pura massa.

Para enfrentar essa tarefa gigantesca, a equipe, liderada por biólogos da Rutgers University, em Nova Jersey, e da University of British Columbia, dividiu a vida em 36 categorias em ambientes terrestres, marinhos e subterrâneos.

A. Biomassa de carbono mediana (escala logarítmica) por tamanho logarítmico em função do tamanho corporal com limites de confiança de 95% (curvas pontilhadas pretas) acumulada entre grupos biológicos de 1000 bootstraps sobre biomassa dentro do grupo e distribuições de erro de tamanho corporal. Os grupos foram organizados do menos massivo na parte inferior para o mais massivo no topo para visibilidade na escala logarítmica (ordenado do canto superior esquerdo para o canto inferior direito na legenda de cores para a identidade do grupo). As biomassas de grupo são empilhadas de modo que a biomassa de cada grupo seja representada por sua localização superior no eixo y menos sua Espectro de biomassa de tamanho corporal global localização inferior no eixo y (não apenas pela localização superior no eixo y). B. Biomassa mediana em escala de biomassa linear. Os limites de confiança não são mostrados aqui porque são tão grandes que obscurecem os padrões medianos na escala linear. 46 REVISTA AMAZÔNIA

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Dentro de cada grupo, eles identificaram o tamanho corporal maior, menor e mais comum. Então, combinando essas informações com dados pré-existentes sobre a biomassa de cada grupo, eles estimaram quanto da biomassa da Terra cada categoria compreendia. As plantas florestais tiveram a maior biomassa e os anfíbios a menor, de acordo com suas descobertas, publicadas recentemente na PLOS One. O co-autor Malin Pinsky, professor associado do Departamento de Ecologia, Evolução e Recursos Naturais da Rutgers University, disse que esse tipo de pesquisa é “a primeira vez que isso foi feito”. Na década de 1960, os ecologistas aquáticos descobriram que a concentração total de biomassa permaneceu constante em escalas muito diferentes, indicando que o tamanho foi distribuído uniformemente entre várias espécies. Pinsky disse que sua equipe esperava encontrar “aproximadamente a mesma quantidade de vida em todos os tamanhos de corpo”, como previram estudos anteriores. Em vez disso, os resultados revelaram que a natureza favorece o tamanho em seus extremos. “O mundo que vemos muitas vezes parece estar cheio de pequenos insetos e borboletas”, disse Pinksy. “E, no entanto, o que descobrimos é que, na verdade, esses são tamanhos corporais intermediários que não são necessariamente tão comuns.”

Espectros de biomassa de tamanho corporal por domínios de habitat

A. Terrestre. B. Marinho. Procariotos subterrâneos são excluídos. Curvas finas em cinza são a média de biomassa cumulativa do bioma global. Em vez disso, as bactérias marinhas e do solo, que são consideradas pequenas, têm mais biomassa do que os insetos de tamanho intermediário. A investigação também revelou que esse padrão se manteve em diferentes tipos de espécies e era ainda mais evidente em criaturas terrestres do que em habitantes marinhos.

Os tamanhos extremos dominam a vida em toda a biosfera

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Quanto aos humanos, o tamanho do Homo sapiens pode ser grande em relação ao de outras espécies, mas a biomassa humana não pode competir com outros grupos biológicos. O que diferencia esta pesquisa de outros projetos semelhantes é a incorporação de grupos como micróbios submarinos e produtores como algas e ervas marinhas, que estudos anteriores excluíram, embora representem quase metade da biomassa oceânica. Entre as 36 categorias, que incluíam formas de vida como répteis e moluscos, as populações mais massivas pertenciam a plantas e bactérias. Destes, os menores eram bactérias microscópicas, enquanto os maiores incluíam vastas redes subterrâneas de fungos e raízes de árvores. Esses grupos superam coletivamente a biomassa de animais, como humanos, gado e animais terrestres selvagens. E embora os humanos sejam relativamente grandes e se encaixem na extremidade maior do espectro de tamanho, nossa biomassa não pode competir com a dos protistas do solo e marinhos que são invisíveis a olho nu. “Além das baleias, não há outros organismos maiores do que corais e manguezais”, principal autor Eden Tekwa, um ecologista quantitativo que iniciou a pesquisa como pós-doutorado na Rutgers, terminou na University of British Columbia e atualmente estuda biodiversidade como pesquisador associado na McGill University, no Canadá.

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Às vezes enorme não significa abundante. Árvores, grama, ervas marinhas e baleias estão entre as maiores, mas as duas últimas são substituídas por bactérias e fungos na hierarquia da biomassa. Imagem de Eden Tekwa, com ícones modificados de manguezais e algas de Jane Thomas, Integration and Application Network, seagrass de Diana Kleine, Marine Botany UQ e jellyfish de Tracey Saxby, Integration and Application Network, ian.umces.edu/media-library ( CC BY-SA 4.0 )

O estudo não apenas revela como a biomassa da Terra está atualmente distribuída, mas também como será o futuro. Tekwa disse que a equipe quantificou a quantidade de carbono em cada grupo e descobriu que formas de vida menores geralmente têm uma vida útil mais curta, então seu carbono é liberado na atmosfera em um ritmo mais rápido, contribuindo potencialmente para a mudança climática. “Também nos dá uma maneira de entender como a biosfera muda dentro dos ambientes”, disse Tekwa. Os peixes estão diminuindo de tamanho por causa da pesca e do clima mais quente. Estudar como o tamanho do organismo tende a mudar com um ambiente em mudança oferece uma visão sobre que tipo de fontes de alimentos estarão disponíveis no futuro. “O tamanho do corpo é uma das características mais básicas da vida na Terra”, disse Pinsky. “Entender como a vida é distribuída em diferentes tamanhos corporais é fundamental para entender a vida na Terra”. “Este parece ser um padrão novo e emergente que precisa ser explicado, e não temos teorias sobre como explicá-lo agora.

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No primeiro estudo desse tipo o Dr. Eden Tekwa descobriu que a biomassa da Terra é predominantemente concentrada em organismos em ambas as extremidades do espectro de tamanho. O Dr. Eden Tekwa mediu o tamanho do corpo de todos os organismos vivos na Terra e descobriu que os organismos menores e maiores superavam significativamente todos os outros. Esse padrão inesperado desafia as teorias atuais que preveem que a biomassa seria distribuída uniformemente em todos os tamanhos corporais.

As teorias atuais preveem que a biomassa se espalharia uniformemente por todos os tamanhos de corpos”, disse o Dr. Eden Tekwa, que conduziu o estudo como pós-doutorado no departamento de zoologia da UBC,

pesquisou os tamanhos corporais de todos os organismos vivos da Terra e descobriu um padrão inesperado. [*] Universidade de Columbia Britânica

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Fotos de Vida Selvagem 2023 por Museu de História Natural de Londres

Laurent Ballesta, antigo marinheiro francês foi o Vencedor do prêmio de portfólio/Fotógrafo de vida selvagem do ano em 2023

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Museu de História de Londres, que organiza o prestigiado concurso, revelou as imagens vencedoras numa cerimônia recente. Afirmou que um painel internacional de jurados especialistas escolheu os vencedores das 19 categorias entre 49.957 inscrições de 95 países, com base na sua originalidade, narrativa, excelência técnica e prática ética. As imagens nos levam debaixo d’água, nas profundezas da floresta e bem acima das cidades. Eles vêm de diferentes partes do mundo e contam histórias de várias espécies. Mas todos eles mostram a diversidade – e a precariedade – da vida na Terra.

A ferradura dourada. Um caranguejo-ferradura de três espinhos move-se lentamente sobre a lama. Localização: Ilha Pangatalan, Palawan, Filipinas. Fotografia: Laurent Ballesta

Silêncio para o show da cobra de Hadrien Lalagüe, Guiana Francesa. Vencedor, comportamento dos Pássaros

No Centro Espacial da Guiana, entre Kourou e Sinnamary, Guiana Francesa, Os trompetistas – assim chamados por seus gritos altos – passam a maior parte do tempo se alimentando no chão da floresta, comendo frutas maduras, insetos e ocasionalmente pequenas cobras. A jibóia poderia ter feito deles uma refeição. Imagem: Hadrien Lalagüe

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“Embora inspirem admiração e admiração absolutas, as imagens vencedoras deste ano apresentam provas convincentes do nosso impacto na natureza – tanto positivo como negativo”, disse Doug Gurr, diretor do Museu de História Natural. “As promessas globais devem transformar-se em ações para inverter a maré do declínio da natureza”. Isso é especialmente verdadeiro para os dois grandes vencedores do título. O biólogo marinho e fotógrafo subaquático francês Laurent Ballesta foi premiado como Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano por sua imagem “sobrenatural” de um caranguejo-ferradura de três espinhos acompanhado por três trevallies dourados. Esta é na verdade a sua segunda vitória, o que os organizadores do concurso consideram sem precedentes. Ele levou para casa o grande título em 2021 por suas imagens de acasalamento de garoupas camufladas na Polinésia Francesa. Ambos os portfólios focaram em espécies ameaçadas de extinção em águas protegidas.

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Juan Jesús González Ahumada observa girinos de sapo se alimentando de um pardal recém-nascido morto. O drama se desenrolou perto da casa de Juan, quando um pardal recém-criado se lançou de um ninho no telhado de seu vizinho e caiu em um lago próximo, onde se afogou. Juan teve que escolher o momento para mostrar a formação do girino e o olho do pardal. Os girinos de sapo comum têm dietas variadas que consistem em algas, vegetação e pequenos invertebrados nadadores. À medida que crescem, tornam-se mais carnívoros e, quando chega um banquete como este, aproveitam ao máximo. Localização: Ojén, Málaga, Espanha. Fotografia: Juan Jesús González

O banquete de girino de Juan Jesús González Ahumada, Espanha. Vencedor, comportamento: anfíbios e répteis

Mike Korostelev revela um hipopótamo e seus dois filhotes descansando no lago raso de águas claras. Há mais de dois anos ele visita os hipopótamos deste lago e sabia que eles estavam acostumados com seu barco. Ele passou apenas 20 segundos debaixo d’água com eles – tempo suficiente para obter essa imagem de uma distância segura e evitar alarmar a mãe. Os hipopótamos produzem um bezerro a cada dois ou três anos. A sua população de crescimento lento é particularmente vulnerável à degradação do habitat, à seca e à caça ilegal de carne e marfim dos seus dentes. Localização: Baía de Kosi, iSimangaliso Wetland Park, África do Sul

Berçário de hipopótamos por Mike Korostelev, Rússia. Vencedor: debaixo d’água

Face da floresta por Vishnu Gopal, Índia. Vencedor, retratos de animais

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Vishnu Gopal registra o momento em que uma anta brasileira sai cautelosamente da pantanosa floresta tropical brasileira. Encontrando pegadas em uma trilha na floresta perto de seu acampamento, Vishnu esperou nas proximidades. Uma hora depois, a anta apareceu. Usando uma longa exposição e luz de tocha para capturar textura e movimento, Vishnu enquadrou a cabeça virada de lado da anta enquanto ela emergia da floresta. As antas brasileiras dependem da floresta para sua dieta de frutas e outras vegetações e, por sua vez, atuam como dispersoras de sementes. Esta importante relação está ameaçada pela perda de habitat, caça ilegal e colisões no trânsito. Local: Tapiraí, São Paulo, Brasil. Fotografia: Vishnu Gopal revistaamazonia.com.br


A vida no limite, de Amit Eshel, Israel. Vencedor, animais em seu ambiente

Amit Eshel testemunha um confronto dramático entre dois íbex núbios. Depois de caminhar até um ponto de observação no topo do penhasco, Amit se aproximou, usando uma lente grande angular para colocar os dois íbex núbios em confronto contra o cenário dramático. A batalha durou cerca de 15 minutos antes que um homem se rendesse e a dupla se sepa-

rasse sem ferimentos graves. No período que antecede a época de acasalamento, parte da pelagem dos machos escurece e os músculos do pescoço ficam mais espessos. Os rivais se erguerão nas patas traseiras e baterão as cabeças. Seus chifres às vezes quebram ao colidirem. Localização: Deserto de Zin, Israel. Fotografia: Amit Eshel

Luzes fantásticas de Sriram Murali, Índia. Vencedor, comportamento: invertebrados

Sriram Murali apresenta um céu noturno e uma floresta iluminada por vaga-lumes. Sriram combinou 50 exposições de 19 segundos para mostrar os flashes de vaga-lumes produzidos durante 16 minutos nas florestas perto de sua cidade natal. Os flashes dos vaga-lumes começam no crepúsculo, com apenas alguns, antes de a frequência aumentar e pulsarem em uníssono como uma onda através revistaamazonia.com.br

da floresta. Os vaga-lumes, que na verdade são besouros, são famosos por atrair parceiros por meio da bioluminescência. A escuridão é um ingrediente necessário para o sucesso deste processo. A poluição luminosa afeta muitas criaturas noturnas, mas os vaga-lumes são especialmente suscetíveis. Localização: Reserva de Tigres Anamalai, Tamil Nadu, Índia. Fotografia: Sriram Murali REVISTA AMAZÔNIA

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Auroras Vibrantes Cortinas de luz colorida dançaram no céu depois que tempestades solares enviaram partículas energizadas para a atmosfera superior da Terra por *Emily Cassidy

Fotos: JHGilbert via Pixabay, Lauren Dauphin, NASA, Wanmei Liang

N

o início de novembro de 2023, observadores do céu na América do Norte e na Europa postaram fotos nas redes sociais de exibições deslumbrantes da aurora boreal, também conhecida como aurora boreal. Fitas coloridas de luz encheram o céu noturno, incitadas por uma forte tempestade geomagnética na magnetosfera da Terra. O sensor VIIRS ( Visible Infrared Imaging Radiometer Suite ) no satélite NOAA-NASA Suomi NPP capturou esta imagem da aurora sobre o oeste do Canadá às 3h23, horário das montanhas (10h23, horário universal) em 5 de novembro de 2023.

Em 5 de novembro de 2023

No dia 10 de novembro de 2023

Em 28 de outubro de 2023

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A aurora foi tão brilhante perto de Edmonton, Canadá, que quase saturou o sensor do satélite. O evento continuou na noite seguinte, quando os céus de Glasgow, Montana , dançaram com luz rosa e verde. As luzes eram especialmente brilhantes perto da fronteira entre os EUA e o Canadá e no Alasca, mas também eram fracamente visíveis no extremo sul do Texas. A criação de uma aurora normalmente começa quando o Sol envia uma onda de partículas carregadas – através de explosões solares, ejeções de massa coronal ou um vento solar ativo – em direção à Terra. As partículas solares colidem com a magnetosfera e a comprimem, alterando a configuração do campo magnético da Terra. Algumas partículas presas no campo magnético são aceleradas na atmosfera superior da Terra, onde excitam moléculas de nitrogênio e oxigênio e liberam fótons de luz, conhecidos como aurora. A aurora de 5 a 6 de novembro foi o produto de múltiplas ejeções de massa coronal , grandes expulsões de plasma magnetizado da coroa solar, de acordo com o Centro de Previsão do Clima Espacial da NOAA.

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Essas explosões de plasma e ondas energéticas do Sol colidiram com a atmosfera superior da Terra, causando uma forte tempestade geomagnética . Uma semana antes da tempestade, um astronauta da Estação Espacial Internacional capturou uma foto (acima) de outra aurora enquanto orbitava 260 milhas (418 quilômetros) acima de Utah em 28 de outubro de 2023. Esta aurora foi provavelmente causada por um buraco coronal que girou em direção a Utah . Terra , de acordo com o Centro de Previsão do Clima Espacial. Um buraco coronal é uma área de material relativamente mais frio na atmosfera solar que está aberta ao espaço interplanetário. Estas regiões escuras na superfície do Sol emitem material em um fluxo de alta velocidade. Se você gosta de assistir a exibições de auroras como essas, pode participar da ciência cidadã da aurora por meio de um projeto chamado Aurorasaurus . O projeto rastreia auroras ao redor do mundo por meio de relatórios em seu site e nas redes sociais e, em seguida,

Uma aurora brilha na atmosfera da Terra enquanto a Estação Espacial Internacional voava 260 milhas acima de Utah durante a noite orbital

gera um mapa global em tempo real desses relatórios. Cientistas cidadãos verificam os relatórios, e cada avista-

Vista do espaço (no dia 25 de janeiro de 2006), a aurora é uma coroa de luz que circunda cada um dos polos da Terra. O satélite IMAGE capturou esta imagem da aurora austral quatro dias depois de uma explosão solar recorde ter enviado plasma voando em direção à Terra.

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mento verificado serve como um ponto de dados valioso para os cientistas analisarem e incorporarem em modelos climáticos espaciais. O projeto é uma parceria público-privada com o Consórcio do Novo México e é apoiado pela National Science Foundation e pela NASA. Imagem do Observatório da Terra da NASA por Lauren Dauphin e Wanmei Liang, usando dados da banda dia-noite VIIRS da Suomi National Polar-orbiting Partnership . A fotografia do astronauta ISS070-E-14996 foi adquirida em 28 de outubro de 2023, com uma câmera digital Nikon D5 usando uma lente de 24 milímetros e é fornecida pelo ISS Crew Earth Observations Facility e pela Earth Science and Remote Sensing Unit, Johnson Space Center. A imagem foi tirada por um membro da tripulação da Expedição 70 . A imagem foi cortada e aprimorada para melhorar o contraste, e os artefatos da lente foram removidos. O Programa da Estação Espacial Internacional apoia o laboratório como parte do Laboratório Nacional da ISS para ajudar os astronautas a tirar fotos da Terra que serão do maior valor para os cientistas e o público, e para disponibilizar essas imagens gratuitamente na Internet. Imagens adicionais tiradas por astronautas e cosmonautas podem ser visualizadas no NASA/JSC Gateway to Astronaut Photography of Earth.

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Diamantes de madeira. Fotografia: Filippo Ferraro. Um tronco em chamas de uma oliveira no campo perto de Felline, Itália. Desde o início da epidemia (quando a bactéria vegetal Xylella fastidiosa começou a infetar as oliveiras), milhares de campos foram abandonados, provocando um aumento significativo dos incêndios, sobretudo com as altas temperaturas do verão

Earth Photo 2023 A fotografia e o filme são os meios mais poderosos de nosso tempo, eles nos permitem transmitir significado e provocar respostas emocionais profundas muito além das barreiras da linguagem. Agora, mais do que nunca, eles também desempenham um papel influente em como vemos, representamos e entendemos o mundo ao nosso redor, contando uma história convincente sobre o estado do nosso planeta– em imagens

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sso é especialmente importante quando enfrentamos os impactos interconectados do colapso climático, declínio da biodiversidade e rápidas mudanças ambientais que levaram à degradação dos ecossistemas em todos os lugares. Nosso precioso ar, rios, oceanos, terras e alimentos são afetados por resíduos plásticos, poluentes e destruição, levando à extinção, epidemias e pandemias. Associado a isso está o aumento da desigualdade e a deterioração dos direitos humanos, juntamente com o agravamento das injustiças enfrentadas pelas comunidades indígenas. Simultaneamente, também testemunhamos histórias incríveis de reflorestamento, reintegração de espécies e ações positivas para

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Agricultura flutuante de vegetais. Fotografia: Azim Khan Ronnie

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a preservação e cuidado dos recursos, habitantes e ecossistemas do planeta por meio de programas de pesquisa e resiliência. Todas essas perspectivas e muito mais são o que a Earth Photo está focada em trazer à tona. Estabelecido em 2018, o Earth Photo é um programa internacional líder mundial dedicado a envolver criadores de imagens estáticas e em movimento. Trabalhando em vários gêneros, compartilhando as questões prescientes que afetam o clima e a vida em nosso planeta. Nosso principal objetivo é revelar as narrativas por trás das imagens, informando, entretendo e envolvendo o público enquanto incentiva conversas sobre nosso mundo, seus povos, ambientes e as mudanças climáticas.

Barreira Verde. Fotografia: Sandipani Chattopadhyay

Inovação engenhosa. Fotografia: Ju Shen Lee

Earth Photo 2023 traz algumas mudanças interessantes. Este ano, pela primeira vez, a categoria de inscrições está totalmente aberta, incentivamos praticantes de todas as idades, trabalhando em todos os gêneros, a nos enviar seus trabalhos mais atraentes e relevantes para o foco da Earth Photo. Paralelamente, desenvolvemos uma seleção estelar de prêmios, além de uma série de colaborações com organizações artísticas nacionais e internacionais para aumentar a exposição e as oportunidades para praticantes e público. Estamos entusiasmados por você evoluir conosco nessa jornada e ansiosos para ver seu trabalho. Earth Photo é co-dirigido por Forestry England, Royal Geographical Society (com IBG) e Parker Harris.

Prêmios Earth Photo 2023: £ 1000 para um excelente projeto fotográfico que conte uma história convincente sobre a vida em nosso planeta Climate of Change: £ 500 para uma inscrição que explore os impactos das mudanças climáticas sobre as pessoas, ambientes e vida selvagem ou mostre resiliência e adaptações inovadoras resultando em ações positivas.

Espectrais de plantas. Fotografia: Rob Kesseler

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Forest Ecosystem: £ 500 para uma submissão extraordinária relativa a árvores, ecossistemas florestais, ecologias, trabalhadores, habitantes, guardiões da floresta, biodiversidade florestal, resiliência, impactos climáticos e comunidades.

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We the Forest: £200 e publicação em um próximo livro focado em florestas, ciência e arte pela Forestry England em parceria com Cultureshock.

Colheita de milho na enchente. Fotografia: Azim Khan Ronnie

Prêmio de Imagem £ 500 para o Foi pescar. Fotografia:em NealMovimento: Haddaway. curta-metragem mais forte que conta uma história convincente sobre a vida em nosso planeta

Aldeias Perdidas. Fotografia: Neil A White.

Rio Buriganga Poluído. Fotografia: Azim Khan Ronnie

Prêmio de Residência do Sidney Nolan Trust:

Fundado pelo famoso modernista australiano Sir Sidney Nolan, o Sidney Nolan Trust tem o prazer de oferecer um novo prêmio de residência para um Reino Unido praticante baseado. A residência de duas semanas na antiga casa de Nolan, The Rodd, oferecerá acesso exclusivo aos importantes arquivos fotográficos do artista e será premiada por narrativas e inovações de relevância internacional.

David Wolf Kaye Future Potential Awards (DWKFPA): Concedido a dois praticantes de 25 anos ou menos

Aproximação do Aeroporto. Fotografia: Annette Burke

(idade a partir de 2 de maio de 2023) - um para fotografia e outra para imagem em movimento - e ajudará jovens fotógrafos e cineastas a realizar todo o seu potencial, defendendo seu trabalho e celebrando seu talento emergente. Cada um dos vencedores receberá um prêmio em dinheiro de £ 250 para o custo de seu próximo projeto e orientação de um fotógrafo ou cineasta de destaque. Além disso, as imagens e os filmes dos premiados serão exibidos na Society e em locais da Forestry England em toda a Inglaterra, no site da Earth Photo e em plataformas de mídia social. 56 REVISTA AMAZÔNIA

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Para mais informações e para reservar ingressos, visite www.bit.ly/43DD4uZA exposição também visitará o Sidney Nolan Trust, Herefordshire, de 13 de julho a 30 de setembro de 2023, os Jardins Perdidos de Heligan, na Cornualha, de 1º de fevereiro de 2024 a 1º de março de 2024 e o Lishui International Photography Festival, na China, em dezembro de 2023.

Parabéns aos fotógrafos selecionados deste ano!

Comida no Lixo. Fotografia: Subrata Dey

Mar de Bellingshausen. Fotografia: James Kirkham

Lista de finalistas e exposição de 2023 Fotógrafos e cineastas de todo o mundo inscreveram seus trabalhos no Earth Photo 2023, a competição e exposição internacional de imagens que contam histórias convincentes sobre nosso planeta. Entre mais de 1.400 inscritos, um painel de jurados formado por especialistas nas áreas de fotografia, cinema, geografia e meio ambiente selecionou a lista final do Earth Photo 2023: 128 fotos e vídeos de 56 fotógrafos e cineastas. As imagens selecionadas estarão disponíveis para visualização na exposição Earth Photo, inaugurada na Royal Geographical Society , em Londres , de 17 de junho a 23 de agosto de 2023, e em cinco locais da Forestry England em todo o país, de 23 de junho de 2023 a 28 de janeiro de 2024. Os vencedores serão anunciados na Royal Geographical Society na quinta-feira, 22 de junho.

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Fotografos: Adam Sébire \ Amna Yaseen \ Andrew Smith \ Annette Burke \ Azim Khan Ronnie \ Barbara Boissevain \ Bill Wilkins \ Billy Dosanjh \ Caleb Fung \ Carlos Carvalho \ Carol Sogard \ Clare Hewitt \ Craig Ames \ Edward Cawood \ Ellie Davies \ Emma Crichton \ Ethan Welty \ Filippo Ferraro \ Ink coletivo: Anna Sellen + Anne-Marie Briscombe \ James Kirkham \ Joanna Vestey \ Ju Shen Lee \ Kerry Lowes \ KM Asad \ Leah Gordon \ Liv Milani \ Liza Faktor \ Mae Macadam \ Marcel Stahn \ Marella \ Michal Siarek \ Nazanin Hafez \ Neal Haddaway \ Neil A White \ Nyani Quarmyne \ Pal Hermansen \ Pierpaolo Mittica \ Rob Kesseler \ Roberto Vamos \ Robin Dodd \ Sam Laughlin \ Sandipani Chattopadhyay \ Sandra Weller \ Sebastian Lewandowski \ Sonia Bhamra \ Subrata Dey \ Suzanne Lynda South \Thomas Martin \ Yzza Slaoui Cineastas: Adam Sébire \ Jana Bednarova \ Klaus Thymann \ Liana McNeill \ Michael Lisle-Taylor \ Tom Marshak

[*] As Ilustrações dessa matéria são com algumas das imagens selecionadas que estão em exibição na exposição Earth Photo, Royal Geographical Society (com IBG) , Londres, de 17 de junho a 23 de agosto de 2023

Bebês de Guerra. Fotografia: Michal Siarek.

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Calor extremo provavelmente causará próxima extinção em massa Fotos: Alexander Farnsworth, Escola de Terra e Meio Ambiente de Leeds, Nature Geoscience, Universidade de Bristol, Universidade de Leeds

Os mamíferos dominaram a Terra durante aproximadamente 55 milhões de anos graças às suas adaptações e resiliência ao aquecimento e ao arrefecimento durante o Cenozóico. Toda a vida acabará por perecer numa estufa descontrolada, uma vez que a radiação solar absorvida exceda a emissão de radiação térmica em vários milhares de milhões de anos. No entanto, as condições que tornam a Terra naturalmente inóspita para os mamíferos podem desenvolver-se mais cedo devido a processos de longo prazo ligados às placas tectónicas. Em aproximadamente 250 milhões de anos, todos os continentes convergirão para formar o próximo supercontinente da Terra, Pangea Ultima. Uma consequência natural da criação e decadência de Pangea Ultima serão extremos em CO2 devido a mudanças na fissura e liberação de gases vulcânicos. Mostramos que aumentou CO2, a energia solar F⨀ ; (aproximadamente +2,5% W m − 2 maior do que hoje) e a continentalidade (maior variação de temperaturas longe do oceano) levam ao aumento do aquecimento hostil à vida dos mamíferos. Avaliamos seu impacto nos limites fisiológicos dos mamíferos (indicadores de estresse térmico de bulbo seco, bulbo úmido e Humidex), bem como um índice de habitabilidade planetária. Dada a sobrevivência contínua dos mamíferos, os níveis de fundo previstos CO2 de 410–816 ppm combinados com o aumento de F⨀ provavelmente levarão a um ponto de inflexão climático e à sua extinção em massa. Os resultados também destacam como a configuração global da massa terrestre, CO2 e F⨀ desempenham um papel crítico na habitabilidade planetária.

Calor sem precedentes

A

investigação, apresenta os primeiros modelos climáticos de supercomputadores para um futuro distante e demonstra como os extremos climáticos se intensificarão dramaticamente quando os continentes do mundo eventualmente se fundirem para formar um supercontinente quente, seco e em grande parte inabitável, publicada na Nature Geoscience.

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As descobertas projetam como essas altas temperaturas deverão aumentar ainda mais, à medida que o Sol se torna mais brilhante, emitindo mais energia e aquecendo a Terra. Os processos tectónicos, que ocorrem na crosta terrestre e resultam na formação de supercontinentes, também levariam a erupções vulcânicas mais frequentes, que produzem

enormes libertações de dióxido de carbono na atmosfera, aquecendo ainda mais o planeta. Os mamíferos, incluindo os humanos, sobreviveram historicamente graças à sua capacidade de se adaptarem aos extremos climáticos, especialmente através de adaptações como a pele e a hibernação no frio, bem como curtos períodos de hibernação em clima quente.

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Temperatura e habitabilidade do Pangea Ultima (PU)

a, Diversidade de espécies de mamíferos sem a influência dos humanos. b, Regiões habitáveis (área verde) na simulação Pré-industrial. c – h , temperatura média do mês frio (CMMT; °C) ( c , f ), temperatura média do mês quente (WMMT; °C) ( d, g ) e regiões habitáveis (área verde) ( e , h ) sob duas extremidades membros de nossa análise de sensibilidade: condições baixas pCO2 (280 ppm) configuração planetária PU (+250 Ma) ( c – e ) e altas pCO2 condições (1.120 ppm) Configuração PU (+250 Ma) ( f – h ), com temperatura global da superfície terrestre (GLST) (ponderada em grade) indicada Embora os mamíferos tenham evoluído para reduzir o seu limite de sobrevivência à temperatura fria, a sua tolerância superior à temperatura geralmente permaneceu constante. Isto torna a exposição ao calor excessivo prolongado muito mais difícil de superar e as simulações climáticas, se realizadas, acabariam por revelar-se insustentáveis. A pesquisa foi liderada pela Universidade de Bristol e contou com a colaboração da Universidade de Leeds.

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Supercontinente pode exterminar humanos em 250 milhões de anos

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A imagem mostra a geografia da Terra atual e a geografia projetada da Terra em 250 milhões de anos, quando todos os continentes convergem em um supercontinente (Pangea Ultima)

A equipa internacional de cientistas aplicou modelos climáticos, simulando tendências de temperatura, vento, chuva e humidade para o próximo supercontinente – chamado Pangea Ultima – que deverá formar-se nos próximos 250 milhões de anos. Para estimar o nível futuro de CO2, a equipa utilizou modelos de movimento de placas tectónicas, química e biologia dos oceanos para mapear entradas e saídas de CO2.

Os futuros números de CO2 foram calculados por um grupo de pesquisa da Universidade de Leeds, liderado pelo professor Benjamin Mills, da Escola de Terra e Meio Ambiente de Leeds. Ele disse: “Acreditamos que o CO2 poderá aumentar de cerca de 400 partes por milhão (ppm) hoje para mais de 600 ppm em muitos milhões de anos no futuro. Claro, isto pressupõe que os humanos deixarão de queimar combustíveis fósseis, caso contrário veremos esses números muito, muito mais cedo.”

Embora as alterações climáticas e o aquecimento global induzidos pelo homem sejam provavelmente uma causa crescente do stress térmico e da mortalidade em algumas regiões, a investigação sugere que o planeta deverá permanecer em grande parte habitável até que esta massa terrestre sísmica mude num futuro distante. Mas quando o supercontinente se formar, os resultados indicam que apenas algo entre 8% e 16% da terra seria habitável para mamíferos.

Os novos cálculos não levam em conta os gases de efeito estufa emitidos pela queima de combustíveis fósseis e outras fontes causadas pelo homem – a data da extinção provavelmente será ainda mais cedo

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O autor principal, Alexander Farnsworth, pesquisador associado sênior da Universidade de Bristol, disse: “O supercontinente recém-surgido criaria efetivamente um golpe triplo, compreendendo o efeito de continentalidade, sol mais quente e mais CO2 na atmosfera, de aumento de calor para grande parte do mundo. o planeta. O resultado é um ambiente principalmente hostil, desprovido de fontes de alimento e água para os mamíferos. “Temperaturas generalizadas entre 40 e 50 graus Celsius, e extremos diários ainda maiores, agravados por elevados níveis de humidade, acabariam por selar o nosso destino. Os humanos – juntamente com muitas outras espécies – morreriam devido à sua incapacidade de libertar esse calor através do suor, arrefecendo os seus corpos.” A coautora, Eunice Lo, pesquisadora em Mudanças Climáticas e Saúde na Universidade de Bristol, disse: “É de vital importância não perder de vista a nossa atual crise climática, que é resultado das emissões humanas de gases de efeito estufa.

O calor extremo provavelmente exterminará humanos e mamíferos num futuro distante, mesmo sem a influência dos combustíveis fósseis que expelem CO2 CO2 (impressão artística

Embora prevejamos um planeta inabitável dentro de 250 milhões de anos, hoje já vivemos um calor extremo que é prejudicial à saúde humana. É por isso que é crucial atingir emissões líquidas zero o mais rápido possível”.

Pangea Ultima é apenas uma projeção possível de como seria o supercontinente da Terra quando as placas tectônicas se unissem

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Farnsworth, também professor visitante do Sistema Terrestre, Meio Ambiente e Recursos do Planalto Tibetano (TPESER), do Instituto de Pesquisa do Planalto Tibetano da Academia Chinesa de Ciências, disse: “As perspectivas no futuro distante parecem muito sombrias. Os níveis de dióxido de carbono podem duplicar os níveis actuais. Com o Sol também a emitir cerca de 2,5% mais radiação e o supercontinente localizado principalmente nos trópicos quentes e húmidos, grande parte do planeta poderá enfrentar temperaturas entre 40 e 70 °C. “Este trabalho também destaca que um mundo dentro da chamada ‘zona habitável’ de um sistema solar pode não ser o mais hospitaleiro para os humanos, dependendo se os continentes estão dispersos, como temos hoje, ou num grande supercontinente”. Além disso, a pesquisa ilustra a importância da tectônica e dos layouts continentais na condução de pesquisas em planetas além do nosso sistema solar, chamados exoplanetas. Embora a Terra ainda esteja dentro da zona habitável dentro de 250 milhões de anos, para os mamíferos a formação de um supercontinente com elevado dióxido de carbono tornará a maior parte do mundo inabitável. As descobertas sugerem que o layout da massa terrestre de um mundo distante pode ser um fator-chave para determinar o quão habitável ele é para os humanos. A pesquisa fez parte de um projeto financiado pelo Conselho de Pesquisa e Inovação do Ambiente Natural do Reino Unido (UKRI NERC), que analisa os climas dos supercontinentes e as extinções em massa.

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99 Cidades costeiras ao redor do mundo estão afundando A subsidência torna as costas ainda mais vulneráveis à subida do mar. O estudo analisou 99 cidades costeiras e descobriu que quase todas estão afundando em algum ritmo. Existem quatro “pontos críticos” na Ásia, caindo até cinco centímetros por ano Fotos: Geophysical Research Letters, Science News, Universidade de Rhode Island

Pesquisadores da Universidade de Rhode Island analisaram 99 lugares e descobriram que a maioria está afundando mais rápido do que o nível do mar está subindo. Quatro pontos críticos foram identificados na Ásia. Tampa Bay Florida também está afundando rapidamente

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elo menos 200 milhões de pessoas em todo o mundo poderão ser forçadas a abandonar as suas casas nas cidades costeiras depois de os cientistas terem revelado que estas estão a afundar até cinco centímetros por ano.

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Pesquisadores da Universidade de Rhode Island analisaram 99 lugares, descobrindo que a maioria está afundando mais rápido do que o nível do mar está subindo, mas 34 locais estão caindo mais de um centímetro por ano.

A equipe descobriu quatro cidades que estão afundando-se no Bangladesh, na China , nas Filipinas e no Paquistão , com taxas anuais de subsidência de até cinco centímetros.

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A equipe descobriu quatro cidades com mais de 386 milhas quadradas de terra abaixo de 32 pés de altitude, afundando rapidamente: Chittagong (Bangladesh), Tianjin (China), Manila (Filipinas) e Karachi (Paquistão)

O estudo utilizou imagens de satélite de todos os seis continentes de 2015 a 2020, descobrindo que cada um tinha pelo menos uma cidade afundando.

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Os satélites europeus capturaram os dados enviando sinais de micro-ondas em direção à Terra e depois registando as ondas de retorno.

Ao medir o tempo e a intensidade dessas ondas refletidas, a equipe determinou a altura do solo com precisão milimétrica.

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Subsidência em cidades costeiras em todo o mundo observada pelo InSAR

(a) A taxa máxima de subsidência (deslocamento da linha de visão [LOS]) em 99 cidades ao redor do mundo usando dados A/B do Sentinel-1 entre 2015 e 2020. (b) Área estimada com elevação inferior a 10 m acima do mar nível e subsidência mais rápido que 2 mm/ano LOS no mapa de série temporal do Radar de Abertura Sintética Interferométrica dentro dos limites da cidade. A subsidência de 2 mm/ano LOS está no limite inferior da atual taxa global de aumento do nível do mar (2,6 mm/ano nas últimas duas décadas por Nicholls et al. (2021); 2,1 ± 0,9 mm/ano para 1971–2010 e 3,0 ± 1,9 mm/ano para 1993–2010 por Palmer et al. (2021)) E como cada satélite sobrevoa a mesma parte do planeta a cada 12 dias, os investigadores puderam rastrear como o solo se deformou ao longo do tempo, relatou a Science News.Meng (Matt) Wei, oceanógrafo da Universidade de Rhode Island e um dos autores do estudo, disse: “Muitas cidades estão a planear a subida do nível do mar, mas não

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estão conscientes do efeito agravado da subsidência costeira”. Por exemplo, Wei não observou subsidência em Barcelona, Espanha, mas descobriu que o aeroporto, o porto e uma área residencial estão todos a afundar mais rapidamente do que a subida do nível do mar. A análise da equipe teve como objetivo encontrar inundações costeiras

iminentes, com foco em tempestades, o que os levou a investigar áreas em regiões baixas. Isso os levou a descobrir quatro cidades com mais de 386 milhas quadradas de terra abaixo de 32 pés de altitude, afundando rapidamente: Chittagong (Bangladesh), Tianjin (China), Manila (Filipinas) e Karachi (Paquistão).

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Os cientistas relataram que a naufrágio resultou da extração excessiva de água subterrânea, mas outros países estão se afundando devido à atividade humana, como a mineração, a constrição e a extração de combustíveis fósseis

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E a população combinada destas quatro cidades é de 59 milhões. ‘A taxa máxima de subsidência em Tianjin excede 4 cm/ano LOS (aumento médio do nível do mar de quase 20x), em Chittagong e Manila excede 20 mm/ano LOS (aumento médio do nível do mar de quase 10x) e em Karachi excede 1 mm/ ano (aproximadamente 5x aumento médio do nível do mar),’ diz o estudo publicado na Geophysical Research Letters.

A equipe descobriu quatro cidades com mais de 386 milhas quadradas de terra abaixo de 32 pés de altitude, afundando rapidamente: Chittagong (Bangladesh), Tianjin (China), Manila (Filipinas) e Karachi (Paquistão)

A equipe identificou quatro cidades “pontos críticos” que estão afundando em Bangladesh. China Filipinas e Paquistão

Os cientistas disseram que o naufrágio resultou da extração excessiva de água subterrânea, mas outros países estão a afundar-se devido à atividade humana, como a mineração, a constrição e a extração de combustíveis fósseis. O grupo inclui a área da Baía de Tampa, na Flórida, que compreende Tampa, São Petersburgo e Clearwater e abriga mais de três milhões de habitantes – tornando-a a oitava maior área metropolitana dos EUA. Uma seção de 24 quilômetros ao longo da costa diminui mais rápido do que mais de alguns milímetros por ano. A capital da Turquia, Istambul, tem uma população de 15 milhões de habitantes e o estudo concluiu que está a afundar-se ao mesmo ritmo que a área da Baía de Tampa. Também caíram dois milímetros por ano Lagos, na Nigéria, Taipei, em Taiwa, Mumbai, na Índia, e Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia. Juntas, essas cidades abrigam 63 milhões de pessoas. Embora os resultados possam parecer chocantes, há esperança de que algumas destas cidades recuperem. Partes da Califórnia estavam a afundar-se rapidamente há cerca de 60 anos, mas esse afundamento foi interrompido através de mudanças na gestão das águas subterrâneas. E mesmo a subsidência de Jacarta na Indonésia foi significativamente reduzida nos últimos 20 anos, de 11 polegadas por ano para uma polegada.

Cidades costeiras da Ásia ‘afundam mais rápido que o aumento do nível do mar’

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de onde vem o papel

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Resíduo orgânico

Esterco animal

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Gás de cozinha

Resíduo orgânico

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