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Despidos de roupa e preconceitos Fotos JC, Fábio Belém, Gustavo Negreiros

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ada vez mais pessoas são adeptas do naturismo, uma filosofia de vida que incita à comunhão com a natureza, ao convívio e à liberdade pessoal. Apesar de pouco divulgado, o naturismo não é tabu no Brasil. Os naturistas não têm motivos para estigmas, vivem de forma legal e enquadrada na lei, têm praias oficiais e de uso e costume naturistas, têm atividades indoor e espaços abertos ao público naturista para a sua prática. O Brasil tem oito praias de nudismo oficiais, filiadas à Federação Brasileira de Naturismo. Três ficam em Santa Catarina, duas no estado do Rio de Janeiro, uma no Espírito Santo, uma na Bahia e uma na Paraíba. Há ainda a Praia Brava, em Boiçucanga, uma área de difícil acesso no litoral norte de São Paulo onde o nudismo é informalmente tolerado. O pedido de reconhecimento dessa praia já está tramitando. Mas, há pelo menos 30 locais não oficializados onde roupas não entram. No Pará, o movimento naturista é representado pela Sociedade Naturista do Pará (Sonapa), presidida por Fábio Belém, e ligada à Federação Brasileira de Naturismo. A Sonapa conta com um número pequeno de associados, cerca de 20 pessoas que participam dos encontros mensais em um sítio, na região metropolitana de Belém. “O Pará tem potencial para o movimento crescer, porque apesar das pessoas não saberem que existe esse grupo ativo, muita gente pratica o naturismo em outros locais fora do estado”, explica Fábio Belém. Os encontros são indoor, num sítio reco-

Banner com o Código de Ética do naturismo na entrada do sítio 40

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Fábio Belém presidente da Sonapa

nhecido pela Federação Brasileira porque não há nenhuma praia oficial de naturismo no Estado. “Existem locais onde acontece, como Algodoal, a praia de Ajiruteua que fica próxima de Marudá e praias isoladas em Salinópolis”, revela Fábio. A criação de uma praia de naturismo oficial é a meta da Sonapa. “Mas para isso, precisamos do apoio da Paratur, responsável pelo turismo no Pará, e da prefeitura dos municípios onde as praias estão localizadas”, diz Fábio. “Estamos trabalhando para conseguir o reconhecimento de um desses locais”, adianta ele. A vantagem de oficializar a prática é a possibilidade de colocar placas indicativas na praia e estabelecer regras e fiscalização ao naturismo no local. Entre as regras estão normas de higiene e éticas, como a proibição de práticas de conotação sexual ou obscenas. Outro ponto positivo é o incentivo ao turismo local. “O naturismo movimenta o mercado turístico em todos os pontos onde é legalizado e isso gera renda para a cidade”, lembra Fábio. Outro avanço importante é o projeto de Substitutivo à Lei nº 1411, de 1996, e que fixa normas gerais para prática do naturismo no Brasil. O projeto é de autoria do deputado federal Fernando Gabeira e vai regulamentar a criação de espaços para a prática do naturismo. A pressa em obter o reconhecimento ofi-

cial tem um motivo. O Brasil deve sediar um congresso internacional de naturismo em 2016. “Este ano, será no Chile, em 2015 será na Itália e depois disso, o Brasil vai receber o evento. Quem sabe não podemos lançar o Pará como candidato à sede do congresso?”, pergunta Fábio Belém. A reclamação dos naturistas é que há poucos lugares disponíveis para a prática. No Brasil, há aproximadamente 30, de acordo com o Brasil Naturista. Mas esta reivindicação, somada ao fato de encararem a nudez com tanta naturalidade, não quer dizer que os praticantes queiram andar pelados em qualquer lugar. Filosofia- O naturismo é uma filosofia de vida em que seus adeptos procuram ao máximo viver em harmonia e integração com a natureza, tendo como principal característica o convívio de pessoas sem utilização das roupas. É um movimento organizado e reconhecido em grande parte dos países, e possui uma Federação Internacional para melhor organização, a INF-International Naturist Federation, que define o naturismo como sendo: Um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática do nudismo em grupo, que tem por intenção favorecer o auto-respeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o meio ambiente.” Quanto à filosofia de vida, entendem os naturistas, ser um exercício da vida em fraternidade, a reaproximação com a natureza e a busca da pureza espontânea são algumas formas de resgatar aquilo de bom e natural que nasce conosco. É todo aquele que não só tira a roupa, mas também suas armas e máscaras. Os naturistas garantem que a prática vai muito além da nudez e não tem nada a ver com sexo. A filosofia naturista prega a nudez social sem agredir o outro, em contato com a natureza, respeitando ao próximo, a si mesmo e ao meio ambiente. Ela vai além da nudez e despe, também, dos preconceitos e amarras sociais. O praticante é julgado pelo seu caráter e não pela vestimenta que está usando. Sem o julgamento que é possível fazer pela roupa que o outro veste, todos são iguais. Viver em harmonia com a sociedade e a natureza é justamente a forma como os adeptos aplicam o naturismo em suas rotinas. A nudez fica restrita aos encontros e www.paramais.com.br

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