Revista Quentin

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cinema hollywoodiana justamente com pôsteres de heróis como Batman e Homem-Aranha. Tangen, ao saber da história, tentou de todas as formas contatar o herói, mas era continuamente recusado pelo tratamento que a mídia dispensava às pessoas fantasiadas. “Eles (os heróis) eram ridicularizados para entretenimento do público, colocavam as vinhetas da série do Batman dos anos 60, com a música Crazy ao fundo, não eram levados a sério. A mídia não olhava o trabalho deles, mas sim alguém que resolveu se fantasiar e por isso era taxado de louco” conta Tangen. Mas o fotógrafo tinha a vontade de dar a esses heróis o mesmo tratamento que os ficcionais recebiam. Depois de muita insistência e de explicar a ideia do projeto Real Life Super Heroes (vide box), conseguiu um encontro com Thanatos que, por ser um dos mais velhos heróis na ativa e, portanto com muitos contatos, o indicou a outros heróis. Com uma tradição de HQs, os Estados Unidos figuram como maior antro de super-heróis reais. “Existem entre 80 a 300 no mundo, dependendo a quem você pergunta, mas é preciso saber quais ações eles fazem antes de chamálos por esse título”, afirma Tangen. Muitos heróis se preocupam com os sem-teto, como Thanatos, no Canadá, a garota Nyx em Nova York e Nova Jersey, e Life, que lembra o herói Spirit, em Manhattan. Outros tomam parte do ativismo ou da caridade, como Geist e os irmãos Soundwave e Jetstorm, que ainda são crianças. Há aqueles que confrontam mal-feitores, como Death’s Head Moth, que também atua enquanto civil, sem máscara, levantando fundos para hospitais infantis. Entomo, herói italiano, tenta evitar o vandalismo nas ruas de Nápoles. Lion Heart é um herói africano, e suas ações consistem em educar o povo de seu país a respeito da água e dos riscos de contágio que ela oferece, além de levantar fundos para a construção de poços em vilarejos. Já Dark Guardian atua também em Nova York, mas administra um site (www. reallifesuperheroes.org) que ajuda novos heróis em questões de como coletar evidências para a polícia, como

fazer um uniforme e como proceder ao fazer uma prisão.

Heróis devidamente registrados

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esde 2001 há um aumento no número de heróis no mundo, principalmente nos EUA. Alguns acreditam que se isso aconteça devido ao sentimento solidário que atingiu o país após o ataque às Torres Gêmeas e também após a crise mundial em 2009, que fez com que muitos passassem ou conhecessem alguém que passou por dificuldades. Mas, apesar do aparente boom de super-heróis, os primeiros apareceram há alguns anos. O mais antigo conhecido é Superbarrio Gómez, do México, na ativa desde os anos 80. Ele veste uma máscara de luta livre e um uniforme vermelho e amarelo que lembra o do Chapolin Colorado, utilizava a imagem para organizar comícios e abaixo-assinados contra a corrupção e hoje está aposentado. Porém, como é tradição entre os heróis, alguém assumiu seu manto e continua o trabalho. O site World Super Hero Registry (www.worldsuperheroregistry.com) mantém, como o próprio nome indica, um registro dos heróis pelo mundo, com uma ficha de cada um, informando local onde atua; se continua ativo e quais ações o tornam digno da alcunha. Tanto que aqueles que desejam se registrar no site passam por aprovação: se o aspirante a herói não fizer nenhuma boa ação ou se a fizer sob patrocínio, mesmo que a empresa que o financie seja “do bem”, ele não consegue inserir o nome no site. Afinal, heróis devem ser altruístas, sem transformar o que fazem em profissão. Uma curiosidade do site é o campo “inimigos”. Assim como existem heróis, existem os vilões da vida real, mas são poucos e ainda não fizeram nenhuma ação fora montar um grupo, o Círculo Negro, e se declararem vilões.

A grande maioria dos heróis mantém a identidade verdadeira em segredo, alguns por medo de represália de algum bandido, outros porque simplesmente não vêem motivo para mostrar o rosto, mantendo assim a mitologia que cada um cria para si, o que nos leva a perguntar: por que se fantasiar? “A simbologia do personagem faz com que ele se torne conhecido. Thanatos ajudava as pessoas há anos, e elas nunca se lembravam dele, pois era um rosto comum. Quando ele fez uma fantasia, elas começaram a associar a ação a um rosto, a um nome”, afirma Tangen. Cada herói real cria sua própria mitologia para fazer seu personagem. Lion Heart decidiu por esse nome devido ao fato de morar no continente africano, local onde há maior concentração de leões no mundo e porque no país em que mora, a Libéria, há maior quantidade desses animais por região. Ele acredita que assim representa a cultura do país.

Vigilantismo e valsa com a morte

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eróis sem poderes no mundo dos quadrinhos não são comuns, mas existem. Kick Ass, de Mark Millar, conta a história de um garoto comum que se veste de herói e combate o crime usando dois cassetetes e encontra outros como ele, além de vilões. Outros quadrinhos, que misturam algumas ideias fantasiosas, são Watchmen, de Alan Moore, que conta sobre um grupo de vigilantes em uma realidade alternativa, e o famoso Batman, de Bill Finger e Bob Kane. Na vida real, os heróis não podem utilizar armas ou podem ser presos por vigilantismo. Em São Diego, na Califórnia, lar da Comic Con mais famosa, os policiais orientam a quantidade crescente de heróis que não utilizem de violência nas patrulhas, e limitem-se a serem testemunhas e denunciantes de crimes. E diferente do que acontece com os heróis ficcionais, o público em sua maioria não apóia a ideia dos heróis. O herói Life já foi atingido na cabeça por um morador de um prédio que jogou nele um pedaço de carne crua.

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