Backstage 305 - Julho 2022

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LABSONICA ACADEMY IATEC e Oi Futuro se reúnem em projeto de capacitação profissional para o mercado musical Entre os dias 03 de maio e 07 de junho, o instituto de Artes e Técnicas em Comunicação (IATEC) e Oi Futuro se reuniram em projeto de capacitação profissional para o mercado musical.

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Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Divulgação / LabSonica

LabSonica Academy aconteceu com o objetivo de reciclar agentes, artistas, produtores e técnicos da cadeia da música nas áreas de criação, produção, divulgação e distribuição musical. O projeto - que faz parte do Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados - ofereceu, gratuitamente no formato virtual, quatro workshops e quatro cursos livres de formação. Direcionado para inovação e tecnologia, o evento teve a participa-

ção de profissionais do mercado para oferecer, no formato virtual, quatro workshops e quatro cursos livres de formação. “Temos um produto de muita qualidade, que é a formação de profissionais para o mercado de entretenimento. O LabSonica é este espaço incrível, com estúdio para a sonorização e áudio visual, que o Oi Futuro criou. Nós entramos em um edital público do Oi Futuro e fomos um dos projetos contemplados para dentro do LabSonica”, explica Elsa Costa, a


Transmissão do workshop com Raphael Pulga e Elsa Costa

coordenadora geral do projeto. A ideia dos cursos à distância já vinha sendo acalentada pelo Iatec há algum tempo, a partir do projeto de Luiz Helênio Santos. A pandemia do coronavírus acabou acelerando a construção destes cursos. Os workshops e cursos no LabSonica Academy são como uma porta de entrada aos cursos que acontecem no Iatec. Os que entraram no projeto são ligados às áreas de sonorização e gestão musical. “Trouxemos profissionais que são realmente especialistas no mercado e que temos a grata satisfação de ter trabalhando conosco. Os cursos aqui tiveram 21 horas. Obviamente é menos que o tempo dos cursos no Iatec. Na área de sonorização, por exemplo, quem faz o curso de produção musical faz um curso de 138 horas. O curso de produção executiva está em torno de 84 horas”, detalha Elsa.

ram o resultado também dos aperfeiçoamentos e adaptações aplicados aos cursos do Iatec durante a pandemia. “O fato é que fomos pegos de surpresa. Em 2019 estávamos como tinha sido nos últimos 22 anos,

com os cursos presenciais e nossa grade toda normal. De repente íamos ter 40 dias de isolamento, com uma situação que era temporária, mas que depois foi se tornando uma realidade. Nós tivemos que trocar a roda do carro com ele andando. Como faríamos? Colocaríamos tudo online? Em matérias de sonorização e iluminação há um momento que tem que colocar a mão na massa. Fizemos parcerias com estúdios e casas de show e fizemos tudo com bastante cuidado na parte sanitária seguindo as recomendações da Anvisa e da prefeitura”. Já em cursos como Produção Executiva, de caráter naturalmente mais teóricos, Elsa aponta que é possível fazer um curso inteiramente online. “Ainda

ENSINO DURANTE A PANDEMIA E NA RETOMADA

Os cursos no LabSonica fo-

Raphael Pulga e Elsa Costa

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Kélita Myra durante a transmissão da aula

que se tenha perdido as visitas técnicas às casas de espetáculo e shows, é possível fazer. Mas ao invés de perguntar o porquê eu pergunto: para que serviu? Para abrir um leque de possibilidades. Antes tínhamos apenas um formato, agora temos também o online. Fomos encontrando a dinâmica e estamos ficando bons nisso. Fizemos treinamentos para a Firjan e para a Globo de Recife que provam que estamos entregando a mesma qualidade do presencial. Não vamos abandonar o online”, indica Elsa Costa.

IATEC LAB SONICA ACADEMY: OS WORKSHOPS E CURSOS

Os quatro workshops do IATEC, que aconteceram nos dias 03 e 04 de maio foram

“O que é produção musical”, com Fernando Moura, Torcuato Mariano e Ezio Filho; “Distribuição digital e licenciamento”, com Felippe Llerena, “Técnicas de gravação: em busca do som ideal”, com Renato Muñoz, Henrique Vilhena e Enrico De Paoli, e “Como ven-

de como vender e produzir bandas, mas não só dos artistas grandes, já consolidados no mercado e com uma gama de shows, mas também dos artistas pequenos que tem que se espelhar em algum outro artista para começar. E como faz para dar o primeiro passo?

Fizemos treinamentos para a Firjan e para a Globo de Recife que provam que estamos entregando a mesma qualidade do presencial. Não vamos abandonar o online.

der e produzir bandas e artistas da música” com Raphael Pulga e Ricardo Chantilly. Raphael Pulga é produtor do Lulu Santos, além de diversos trabalhos com outros artistas, “A ideia foi falar um pouco

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Como hoje, com a internet, se faz a divulgação? Falamos que, basicamente, tem que ter um material organizado e legal para vender e mostrar. Não tem exatamente um caminho certo a seguir”, resume Raphael.


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coisas que eles já conhecem do inconsciente coletivo e o nosso desafio é achar o diferencial do artista dentro disso. Tivemos uma aula sobre esse conhecimento de arquétipos. Depois fizemos um mergulho interno dentro do universo da psicologia e, aí sim, entraram as mídias sociais: Como vão ser seus vídeos? Que cor, que tamanho, que linguagem? Como criar editorias da sua própria rede?

Você vende alguma coisa que alguém quer comprar, só precisa se encontrar para ‘dar match’. Antes era caro botar um anúncio no jornal. Isso era inacessível. Hoje, com R$ 100,00 bem usados, você já tem uma diferença no retorno.

Também convidei o Rodrigo Azevedo, que é especialista em inteligência de mídia, para falar sobre como contextualizar os anúncios”, detalha Kélita. No fechamento, o curso teve

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Os cursos do LabSonica, estes com a duração de uma semana cada, tiveram como tema “Técnicas em Gravação com prática em estúdio”, com Renato Muñoz, Ezio filho e Wagner Pedretti; “Empresariamento / Gestão artística 360 graus” com Anita Carvalho, Aline Paes, Afonso Carvalho e Rafael Bertoli; “Técnicas Básicas para Produção de Lives Musicais”, com Diego Rezende e “Assessoria de Imprensa e Mídias Digitais”, com Kélita Myra. Kélita, que tem uma longa trajetória como assessora de imprensa e atualmente está com o projeto Fogo No Paiol Music Hub, deu os caminhos para o artista construir e firmar a imagem. “Falamos sobre o posicionamento do artista - quem ele é? - para depois detalhar formas de criar sua imagem: como que ele vai passar o que ele descobriu a respeito dele mesmo? O público recebe a informação muito baseada em

conteúdo sobre a comunicação nas plataformas de streaming, que, de acordo com Kelita, assumiram também um caráter de redes sociais. Para Kélita, hoje em dia é mais fácil o artista chegar aos fãs em potencial de sua música, assim como é mais fácil para os consumidores de música chegarem aos artistas que se encaixam em seu gosto musical. “Quem gostava de MPB, ouvia os artistas que eram apresentados pela grande mídia. Hoje, a grande mídia continua tendo a sua força, mas não precisa dela para poder curtir o som de um artista. Quem realmente gosta de música pode buscar o que gosta de uma forma fácil, e quem faz música pode chegar no fã de uma forma mais fácil também. Você vende alguma coisa que alguém quer comprar, só precisa se encontrar para ‘dar match’. Antes era caro botar um anúncio no jornal. Isso era inacessível. Hoje, com R$ 100,00 bem usados, você já tem uma diferença no retorno. Não é fácil, mas há caminhos e nós estamos aqui para ajudar a facilitar esses caminhos”, aponta a profissional de comunicação.

O evento foi promovido por Oi Futuro, Iatec e Governo do Estado do Rio deJaneiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.


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MARISA MONTE

EM TURNÊ Produção complexa e em alto nível para viajar pelo Brasil, Europa e EUA: quando se fala em estrutura de trabalho, a produção de Marisa Monte pode ser considerada uma das mais bem planejadas do showbusiness.

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Reportagem: Tomaz Sá | Fotos: Leo Aversa / Divulgação / Arquivo

turnê chegou em Belo Horizonte no dia 16 de abril, um sábado. A apresentação foi no Anfiteatro do Mineirão: estrutura montada no campo do estádio e voltada para as arquibancadas. O repertório foi montado a partir do álbum mais recente, Portas, lan­çado em 2021, além de incluir

os sucessos de mais de trinta anos de carreira, como Beija Eu, Ainda Lembro e Bem Que se Quis. A direção do show é da própria cantora, com a concepção visual dela, de Cláudio Torres e Batman Zavareze. A banda de Marisa é composta por Dadi (baixo, teclado e guitarra), Davi Moraes


do rider da cantora. A produção da turnê mandou o equipamento por avião de carga. Dois caminhões atravessaram as estradas europeias com os

pamento local foi Londres, tanto pela disponibilidade de equipamentos similares como peças condições de logística, já que não era viável transportar

Na Europa foi preciso trazer o equipamento e o suporte da Gabisom do Brasil, já que as empresas contactadas não tinham os equipamentos do rider da cantora. A produção da turnê mandou o equipamento por avião de carga.

equipamentos e o backline pela Italia (Milão, Cagliari, Perugia), Belgica (Antuerpia), Inglaterra (Londres), França (Paris), Portugal (Lisboa e Porto) e Espanha (Madri, Girona e Vigo). O único lugar que teve equi-

(guitarras), Pupillo (bateria), Pretinho da Serrinha (percussão, cavaquinho e voz), Chico Brown (teclado, guitarra, baixo e voz), Antonio Neves (trombone, adaptações e arranjos de metais), Eduardo Santanna (trompete e flugelhorn) e Lessa (flauta e sax). Entre os dias 16 de junho e 9 de julho, a turnê atravessa onze cidades em seis países na Europa. Se nos EUA a Clair Brothers deu todas as condições para manter a turnê com o mesmo desenho técnico do Brasil, na Europa foi preciso trazer o equipamento e o suporte da Gabisom do Brasil, já que as empresas contactadas não tinham os equipamentos

o equipamento de Antuérpia para Londres e de lá voltar ao continente, em Paris, no tempo necessário. Tomaz Sá, que é técnico de P.A. e monitor, mora em Belo Horizonte e foi no estádio do 21 11 25 9


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Mineirão conferir, para a Revista Backstage, a estrutura do áudio da turnê da cantora.

No Mineirão “Cheguei no Mineirão por vo­ lta das 10 horas da manhã, no dia do show, quase ao mesmo tempo da equipe técnica. Arthur Luna, que trabalha no monitor da cantora, me recebeu na porta e entramos juntos. Enquanto a equipe iniciava o dia de trabalho, comecei a conversar com Márcio Barros, o stagemanager. Márcio me contou que trabalha com Marisa Monte há quase trinta anos. Ele é o veterano da equipe, aquele tipo de profissional que tem um elo de confiança tão forte que o artista acaba levando junto para onde for. Márcio já trabalhou com nomes como Djavan, Maria Bethânia, Arnaldo Antunes e Barão Vermelho, entre outros, e carrega em sua cabeça todo o cronograma do dia. Eles vinham de 24hrs de montagem que normalmente seria dividida entre dois dias mas como o Mineirão um dia antes havia sido o gramado para o jogo da Libertadores entre Atlético e América Mineiro seu tempo havia sido reduzido, mesmo assim a dedicação da equipe fez com que os preparativos não saíssem do programado para a execução pontual do show. “Enquanto organizava alguns itens na coxia, ele me contou que hoje fariam um tempo maior de passagem de som do que a tradicional uma hora de passagem de som para que Marisa Monte pudesse testar seus recém-chegados earphones, os quais Arthur Luna me mostraria mais

Sistema DiGiCo Quantum

tarde. A montagem do palco foi feita em cima do projeto ‘Anfiteatro do Mineirão’ da SleepWalkers Entretenimento, agência conhecida por realizar eventos como o Planeta Brasil, com o formato ativo no estádio desde 2017. A partir do projeto, é possível abrigar um público variável entre 3 e 10 mil pessoas. O espaço consiste na estrutura de palco montada dentro da grande área de um dos lados do campo de frente para a arquibancada e por cima de placas modulares de proteção

ao gramado natural da Arena Governador Magalhães Pinto, o nome oficial do Mineirão, vigiado por seus funcionários de modo que ninguém se atrevia a sair da área estabelecida para a estrutura sob risco de ser repreendido. “Neste ambiente tive a oportunidade de conhecer o empresário Silvio ‘Bibika’ Gomes, muito conhecido na cena do heavy-metal em Belo Horizonte e no Brasil por ter sido o primeiro empresário do Sepultura. Bibika havia acabado



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do sistema. Os computadores MacIntosh rodam, simultaneamente, duas sessões iguais de Pro Tools de onde vem o teleprompter, a mix de soundcheck virtual, os vídeos do telão e o timecode já dentro do sinal de áudio (por protocolo LTC).

uma interface MIDI que manda o timecode para a Digico de Arthur controlando inclusive as mudanças de snapshot das consoles de modo que todos trabalhem em perfeita sincronia. “Daniel Carvalho, o responsável pelo P.A., trabalha a partir

Daniel Carvalho, o responsável pelo P.A., trabalha a partir de um imputlist de 59 canais. Ele teve à sua disposição, no mineirão, 16 elementos de cada lado.

Este protocolo é mandado para a SSL L650 de Daniel Carvalho, no FOH, e para a mesa de luz na house mix. Há também

de chegar de Nova York e, em nosso breve papo, me contou que anda com empreendimentos de lá até a Arábia Saudita. Neste show, ele também é o empreendedor e produtor local. Por conta dele fica toda a estrutura de palco, painéis de LED e tudo o mais que não viaja junto com a produção do ‘Portas’. A estrutura pesada de som e backline foi fornecida pela Gabisom. “Já a parte de RF fica por conta de Adriano Colado, que me convida para assistir a montagem do sistema. Colado utiliza duas interfaces Motu que podem ser alternadas através de um switcher sw8 da Radial promovendo a redundância

de um imputlist de 59 canais. Ele teve à sua disposição, no mineirão, 16 elementos de cada lado com falantes D&B Audio-


technik GSL. Um dado interessante levantado pelo Daniel sobre esse modelo são os falantes laterais que cada caixa possui para aprimorar o padrão polar da caixa por meio de cancelamento de fase. “Finalmente Arthur Luna, po­ de me mostrar os earphones recém chegados para Marisa Monte testar. Eram dois pares de modelos diferentes da Jerry Harvey customizados e feitos ao molde da orelha da artista. Um, era o Angie e o outro o Ambient FR. Este último funciona como um headphone open-back (aberto) onde você consegue escutar o som ambiente através de uma abertura lateral, que foi o escolhido por Marisa Monte. “Pelo fato de eu ser também técnico de monitor, a nossa conversa acabou sendo mais longa, com muita informação sobre o funcionamento da turnê”.

Microfones com cápsula sE (corpo do microfone é Shure com cápsulas intercambiáveis V7 MC1 da sE Electronics) nas vozes.

está no Lulu Santos e eu vim topar o desafio, porque não sou muito de fazer monitor. Não era muito meu mundo até então, mas estou me divertindo.

Comecei a trabalhar com a Marisa em outubro de 2021. Já tinha trabalhado com o Dani (Daniel Carvalho) antes no Los Hermanos.

dos Tribalistas e eu não pude porque estava no Lulu (Santos). Agora meu pai (Willian Luna)

Como você pegou essa gig e começou a trabalhar com a Marisa? Comecei a trabalhar com a Marisa em outubro de 2021. Já tinha trabalhado com o Dani (Daniel Carvalho) antes no Los Hermanos e o Simon e a Maria, que fazem parte do escritório da produção da Marisa Monte, já tinham me chamado na época

Sua estréia no monitor está sendo agora? Não, já fiz. Foi até no Los Her-

manos, mas a última vez que eu fiz foi em 2019. Como vocês preparam uma tour dessas? qual seu poder de decisão na pré-produção técnica? É muito em conjunto, cada um dando um pouco de opinião no que ia precisar, no que seria essencial para trabalhar bem. Aí é reunião, e-mail, ZOOM pra caramba e depois ficamos ensaiando uns três meses. Fomos mudando um monte de coisa até a gente definir o que está agora. O input list, por 21 11 25 13


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é relativamente nova, que saiu tipo em 2020, a (Digico) Quantum 338. A gente tava com a (Digico) SD7 Quantum antes.

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Me fala um pouco do que vocês têm aqui na sua área do palco. Estamos viajando com um volume considerável de outboard, tem o NEV E 5045 na voz dela, o reverb é o Bricasti M7, os microfones com cápsula sE (Corpo do mic é Shure com cápsulas intercambiáveis V7 MC1 da sEElectronics) nas vozes, te mos um SSL Fusion insertado somente para o in-ear da Marisa, um sistema Galileo (Meyer Sound) que é para o side que são (um line-array de) seis elementos de “Meyer M’elodie” e um sub (aéreo) de 500 HP (de cada lado).

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exemplo está na versão oito eu acho. Já testei um outro rack de reverb, mas a gente testou esse e gostou mais. O bate-bola que define o andamento da coisa, o Marcinho (Marcio Barros -Stage Manager) tá aí há o maior tempão e ele conhece muito bem as necessidades. O Dani gravou o disco (Portas, de 2021) com ela então ele também sabe os momentos todos da coisa. O Artista faz muito input nes-

sas questões técnicas? Não muito, ela confia bastante no pessoal e os músicos são incríveis. A equipe técnica é só gente cascuda, a Marisa confia no pessoal de olhos fechados e ela sabe que nossas escolhas são boas, o Simon e a Maria, do escritório [da produção de Marisa Monte] também fazem questão de que a gente esteja trabalhando só com coisa legal. Isso é reconfortante, porque a gente está viajando com o sistema todo, com uma mesa que

Você volta muito efeito para os músicos pelo monitor? Eu tenho um auxiliar de efeitos para cada um. Tenho até uma compressão paralela de bateria. O batera usa um “roomzinho” (reverbroom), o Pretinho tem um “Hall” (reverb hall) que eu uso para conga, cuíca, cavaco. No Dadi eu tenho um delayzinho na guitarra, porque ele toca guitarra em duas músicas, Chiquinho tem um reverb na voz e no violão e no Davi Moraes eu não uso nada. Nos metais eu uso também um “Plate” separado para cada um e a Marisa tem o Bricasti (M7) e o reverb interno da Digico. Fica uma soma dos dois. O Avalon (VT-737sp) é o pré que ela usa? Não, Eu gosto de ter ele à mão para uma compressão ou equalização mais fina. Na mesa di-


gital, às vezes, você está em outra página fazendo alguma coisa. Desse jeito, a voz está ali [no Avalon] e fica mais fácil ver a compressão, e é valvulado, analógico, mais macio. Eu acho interessante, mas é um luxo né? Temos também 16 canais de PSM1000 (sistema in-earda Shure). São 12 canais de Axient Digital (sistema de transmissão sem fio da Shure) para vozes, instrumentos etc… Temos também uma via de equipe para comunicação interna que é todo mundo (roadies, direção de palco, técnicos..). O Adriano (Colado) tem uma via dele que é um pouco mais na cara pra ele poder entender o que está rolando, porque o timing do show está na mão dele. Inclusive os disparos para começar uma música. Vocês adequam o rider ao espaço? Na verdade é um rider só, porque a gente viaja com tudo né? Montamos tudo. Nós reduzimos algumas coisas como na turnê dos EUA (durante o mês de março). O Colado, por exemplo, a gente colocou na via (de comunicação) da equipe, economizando aí uma unidade de PSM1000, por que isso lá fora fez um pouco de diferença.

a gente, já marcou todos os pedestais e todos os microfones, porque era tudo de engate rápi-

A montagem era muito rápida, muito eficaz, porque lá tudo também tem um lance de sindicato. Por exemplo: tem um teatro que tem “darkstage”, então eles param na hora do almoço e, durante uma hora, você não pode nem pisar no palco.

Fizemos treze shows lá viajando com a Clair (Clair Brothers) e foi demais. Aprendemos pra caramba. No primeiro dia, o Calvin, o tech que viajou com

do. Então a gente usava muito do “stagehands”, que era o pessoal local que ajuda. Já chegava, posicionava os pedestais e a galera já plugava os microfones.

A montagem era muito rápida, muito eficaz, porque lá tudo também tem um lance de sindicato. Por exemplo: tem um teatro que tem “darkstage”, então eles param na hora do almoço e, durante uma hora, você não pode nem pisar no palco. Uma hora antes do show acontece a mesma coisa, então tudo tem que ser bem ágil, e a gente estava viajando num ritmo bem corrido. Quanto à redução de equipamentos, não tinhamos o SSL Fusion, não viajávamos com o side, nem com o Galileo e nem com o reverb externo. 21 11 25 15


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que vi algo parecido foi com a SSE, uma empresa em Londres. Eu fui fazer Lulu Santos. Fizemos um show só e os caras até plotaram a logo do Lulu no sub-snake.

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O equipamento é o mesmo do lançamento não é? Vocês lançaram foi no Jeneusse Arena é isso? O lançamento ia ser no Jeneusse Arena, mas acabou que não foi (o show foi adiado de janeiro para maio). A Marisa teve Covid e estreamos de verdade o show no Espaço das Américas com todo esse setup mas com algumas pequenas alterações. No primeiro show, a gente estava com a (Digico) SD7 Quantum e não com a 338, que acaba sendo uma mesa menor e mais fácil de transportar. Eu que escolhi a 338.A gente viaja sempre com a mesma 338 e tem uma SD10 de backup.

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fortáveis de viajar com a Clair. Aprendemos muitas coisas de ligação com os caras, até de

No primeiro show, a gente estava com a (Digico) SD7 Quantum e não com a 338, que acaba sendo uma mesa menor e mais fácil de transportar.

práticas bobas do dia-a-dia, que lá é super bem feito. O gaveteiro deles é todo arrumadinho, identificado com label... Uma organização que a gente não vê muito por aqui.A única vez

A única coisa de outboard que levamos foi o Neve (5054). Reduzimos também um pouco as vias de in-ear por exemplo. Temostrês vias de equipe e mais uma de vídeo aqui porque às vezes vem um pessoal de vídeo de mídias sociais. Tinha uma que a gente usava pra fazer mídia pro Instagram que a gente teve que cortar. Então, ao invés de 16 canais de PSM1000 estávamos, acho, com12, o que é uma redução considerável. Ainda tem uma via de convidado que a gente sempre mantém. No mais, o setup foi bem parecido e ficamos bem con-

O que a Marisa gosta no monitor? Eu faço a mix pós-fader. Então mando uma mix que já mais ou menos do meu gosto para o fone dela. De intervenção de banda, ela nem tem muita preferência e acabamos chegando

num acordo nesse sentido. Ela gosta bastante de reverb na via dela, o que é um pouco diferente do meu gosto, mas no geral não é difícil entender o que ela quer.



www.backstage.com.br PAULO FARAT | 18

O STAGE ESTÁ DE VOLTA!!! E depois de dois longos e tenebrosos anos de paradeira, o stage está de volta. Uma sensação de alegria e renovação, ainda um pouco ‘mixada’ com certa apreensão, mas com total foco nos cuidados que ainda temos que tomar nos eventos de grande concentração de público.

Paulo Farat é Monitor Engineer de Milton Nascimento, Ivan Lins, Maria Betânia, Rita Lee, Fábio Jr., Ritchie, Capital Inicial, Maurício Manieri, Guilherme Arantes, Chrystian & Ralf, Charlie Brown Jr., RPM, Free Jazz, Projeto SP, A Chorus Line, entre outros... • De 1980 até o momento • São Paulo • Trabalho em estúdio; Vice-Versa, Maurício de Souza Produções, Nossoestúdio, Mosh, KLB Studios & Artmix.

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estes semanais das equipes, a seriedade na vacinação, uso frequente de máscaras são “armas” poderosas para que a coisa toda não entre em novas restrições. Passei tanto álcool nas mãos que quase pintou aquele carimbo do Playcenter!!!... Nós da Falamansa, estamos novamente levando muita alegria e boas vibes pelo País, principalmente agora nesses meses de Festas... É impressionante a carência da galera com grandes

eventos, como se fosse a primeira vez de todos frente a frente com uma banda no stage. Muito legal também, é constatar que muitas empresas fornecedoras conseguiram manter suas equipes e equipamentos em dia nesse período de “Pandemônia” e estão muito focadas em um atendimento competente e sério, depois desse período terrível das gigs. É muito transparente quem aprendeu e evoluiu, frente a quem parou no tempo


junto com os eventos nesses dois anos. Como eu sempre digo, todas as “máscaras” caíram. Também nessa vibe, reencontrar os verdadeiros amigos e suas histórias tem sido muito gratificante. Nos dias de muita estrutura das produções locais e alguns nem tanto no “novo normal”, o foco da carinhosamente denominada “Graxamansa” (eu, Léo, Marvin, Marcelo, Marquinhos, Cocada, Well, Jeff nos subs e Serginho) é entregar o evento com muita dedicação e jogo de equipe, como sempre foi. Talvez até o mercado se E já que eu toquei no assun­to acho bacana compar tilhar adaptar aos novos tempos, Fa­­l amansa, enquanto aguar- novamente a gravação do alguns eventos exigirão um damos o desenro lar dos sta- DVD “20 Anos”... pouco de paci“Vila de Itaúnas ência por parte / ES…Um lugar Talvez até o mercado se adaptar aos das equipes técqu e entrou na novos tempos, alguns eventos exigirão um nicas, mas estami­­n ha list a de mos aqui pra repouco de paciência por parte das equipes alfinetes espetasolver, não criar dos no mapa e técnicas, mas estamos aqui pra resolver, problemas, denno coração. Esse não criar problemas.” tro de um mínifoi o lugar escomo possível de lhido pela bancondições de trabalho, é cla- ges nessa nova fase dos even- da Falamansa para a gravaro. The show must go on!!! tos, pra gerar novas matérias, ção do DVD comemorando os 20 anos da galera. Sete horas da manhã da véspera da gravação, todo mundo na direção do stage e a primeira surpresa: a galera na balada forte… Muita gente bonita passando as férias, o forró comendo solto em muitos points, como se o relógio marcasse quatro da tarde… Demais!!! Depois me disseram que Itaúnas era assim, mas eu como marinheiro de primeira viagem nessa Vila não fazia a mínima ideia. Bom, volt ando ao DVD... To­d o o suporte de equipamento foi da Loudness, com

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um time de primeira. O sistema de som do evento, a céu aberto (literalmente), foi o L -Acoustics K1 + Kara + SB28 + DiGiCo SD8 (house mix, pilotada pelo Mar vin Vinícius) e duas SD7 (monitor comigo e UM + produção técnica pelo “General” Zoroastro Baranyi). Mais uma vez, agradeço ao Celson Birruga, Paulinho Peres, Du Correa e todo o crew, deram um banho no stage. Vou falar especificamente do monitor, com a DiGiCo SD7 mixando 90 canais de áudio distribuídos em 32 mixes, sem sides, sem caixas, sem subs… Todos usando sistemas in-ears (by Shure), o que

garantiu muito a comodidade na captação da UM, sem muita novidade, pois isso é quase um procedimento padrão, certo???!!! A qualidade da SD7 é impressionante… Efeitos, compressão, filtros, eq, superfície, etc, me deram conforto absoluto nas mixes, sempre com meu fiel escudeiro Xtreme XE8/PRO plugado na

console. E o pou­co que consegui ouvir na UM e PA, tinha um timbre espetacular!!! Artisticamente, nada a declarar… Hahahaha. Fora os convidados incríveis, a banda tem uma interação espetacular com o seu público, levando-se em conta que estávamos gravando na hora certa (um por do Sol lindo), no lugar certo e com a plateia certa. Na primeira música a galera já veio pra cima com uma energia fantástica, como há muito eu não via!!! O visual é lindo, a música é mais do que contagiante e as surpresas serão muitas também. Agradeço de coração aos envolvidos nesse projeto, Banda, Crew, Loudness, e recomendo com todas as letras esse DVD, pois tenho absoluta certeza que a entrega de todos está registrada com muito carinho e dedicação!!!”… E por hoje é só pessoal!!!... Até o próximo!!! Abraços!!!



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SOM NAS IGREJAS

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“Então, que foquemos não apenas no produto, mas no processos com que produzimos, sem nunca deixar de seguir o padrão Bíblico para a igrejacorpo, em que todos têm importância e responsabilidade de servir cultuando a Deus com amor a Ele e ao próximo”. David Distler e a importância de não esquecer que nem tudo se resume a processos de produção.

SOM NAS IGREJAS NINGUÉM NOTA O QUE FUNCIONA PRODUZIR SIM, MAS SEM IGNORAR O PROCESSO!

PARTE 8

David atua no som de igrejas e sonorização de congressos no Brasil e Estados Unidos há 40 anos. Recentemente, servido como diretor de mídia, liderou cerca de 70 voluntários nas equipes de produção de som, vídeo, iluminação, digital signage, transmissão e cenografia.

Foto: Freepik / Pvproductions

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a área de produção técnica o que não falta são detalhes. Aqueles que, como eu, acumulam décadas de serviço nesta área compreendem muito bem como um detalhe que escapa a atenção necessária pode vir a

comprometer a qualidade do nosso ser viço. Com o tempo, vamos aprendendo quais dos det alhes envolvidos merecem maior foco e quais podem ocupar segundos e terceiros planos em nossa estratégia, sem, porém,


Áudio: Violão > cabo coaxial >pedal de efeitos > cabo coaxial > direct box >cabo balanceado > multicabo > console digital > processamento >par de cabos coaxiais> interface de áudio > cabo USB >MacBook> CAT 5 > modem > fibra > provedor > serviço de monitoramento de baixa latência na nuvem > modem > CAT 5 > PC > USB > interface de áudio >meus fones Controle da Mix: Console digital > CAT 5 > roteador > CAT 5 > MacBook> Wi-Fi > modem > fibra > modem > CAT 5 > PC >app de mixagem >modem > fibra > modem > MBP > CAT 5 > Console digital > Processamento > Caixas PA Acima temos 44 itens, sem contar os f luxos de retorno e transmissão online. Creio que isto ilustra claramente como a falta de atenção a um detalhe pode facilmente comprometer a qualidade do som. Listar assim, preto

no branco dá até um frio na barriga! Porém mais de 18 meses de experiência comprovam que a atenção aos detalhes permite plenamente que processos como estes, e ainda mais complexos, possam ser conduzidos de forma consistente se corretamente administrados. Esta ilustração demonstra como milhares de detalhes têm o potencial de impactar a qualidade das nossas produções multimídia. Isto considerando apenas o aspecto técnico da produção. Nas considerações que venho fazendo neste espaço, observamos como outros de­­t alhes podem ser tão, ou ainda mais,

nos processos. Quando bem usadas, eles podem de fato contribuir para uma produção de maior qualidade. Diariamente, empresas pequenas, grandes e gigantes ao redor deste planeta cumprem com eficiência os seus processos para entregar produtos de qualidade. Dependemos dest a confiabilidade em tudo que usamos em nossas produções, desde os cabos e conectores, os equipamentos e, obviamente, as caixas de som, projetores, monitores e afins. Porém, o propósito por trás das empresas pode variar significantemente entre alvos como, por exemplo, aumentar lucro,

De nada adianta dominarmos todos os princípios técnicos e os custosos e sofisticados equipamentos se nos faltam detalhes de custo mínimo como informações sobre o que nos cabe produzir.

importantes. Por exemplo, de nada adianta do­minarmos todos os princípios técnicos e os custosos e sofisticados equipamentos se nos faltam detalhes de custo mínimo como informações sobre o que nos cabe produzir. Traçar um f luxo de sinais, um fluxograma de comunicação ou de hierarquia é importante para que detalhes não passem desapercebidos. Estes diagramas nos obrigam a focar nos processos que conduzem a uma produção bem-sucedida. São ferramentas analíticas usadas em muitas empresas para trazer clareza e realçar pontos fortes e fracos

serem ignorados. Abaixo apresento um exercício que fiz no intervalo após passar o som com a banda e o início do culto. Ele detalha o típico fluxo de sinal e de controle em um dos canais na mixagem remota, que faço há mais de 18 meses. À primeira vista pode se pensar que existe uma demora imensa para o sinal passar por este trajeto, mas a realidade é que como a eletricidade trafega em velocidade próxima à da luz, o tempo de ida e volta do áudio que eu monitoro fica entre 4 e 7 milissegundos:

participação no mercado, ter o melhor produto e, em nossos tempos de produtos com obsolescência programada, alvos que visam mais a empresa do que aqueles a quem ela serve. Enquanto os diagramas e estudos são feitos pelas empresas para alcançarem seus alvos, é bem possível que o bem-estar e as prioridades dos seus colaboradores não esteja no mesmo nível de prioridade. Ao longo dos últimos 10 ou 20 anos, algumas empresas têm dado maior atenção a este importante elemento, estratégico a longo prazo, mas muitas continuam usando, descartando e substituindo colaborado23


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jeto pormenorizado. Isto não foi por necessidade Dele, mas para que nós compreendamos a importância dos detalhes nos serviços prestados a Ele. A atenção aos detalhes é importante em todos os contextos em que se deseja produzir qualidade. Como costumo dizer: A diferença entre um serviço

ou seja, a ponta de um iceberg, sem dar atenção ao que existe abaixo da superfície. Nas empresas focadas em produtos esta lógica pode funcionar, por um tempo. Mas e nas igrejas-corpo? A diferença fundamental que precisa distinguir igrejas-corpo de empresas-robôs pode

Em muitos contextos, existe uma tendência simplista de se focar com intensidade no produto, ou seja, a ponta de um iceberg, sem dar atenção ao que existe abaixo da superfície.

regular e um de excelência se revela através dos detalhes Porém me parece que em muitos contextos, existe uma tendência simplista de se focar com intensidade no produto,

res como se fossem peças do seu maquinário industrial. E enquanto seus índices financeiros não forem significantemente impactados por essa prática, é provável que ela persista. Adotando uma perspectivamacro, podemos fazer a analogia da empresa como um robô que tem suas peças substituídas ao sofrerem burnout. Com isto, quero retornar e aprofundar um pouco em um conceito que tem aparecido com alguma frequência nestas considerações: o conceito que o apóstolo Paulo nos apresenta da igreja-corpo. Ao final do último artigo, conduzimos a nossa atenção para o Monte Sinai. Observamos como Deus, ao invés de criar de forma instantânea e milagrosa o local dedicado à Sua adoração apresentou um pro-

não estar visível à primeira vista. Superficialmente, ambas podem exibir um sucesso aparente. No caso das igrejas, uma dinâmica de tamanho, frequência em números ex-


pressivos, multiplicidade de projetos e eventos com qualidade de som e imagem traz a aparênciade sucesso. Mas o verdadeiro índice aos olhos de Deus envolve o Seu propósito descrito em Efésios 4:7-16. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo [...] e deu dons aos homens [...] E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, [...]Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam frau-

dulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor. Deus nos dá a graça de participar do Seu processo!Ele nos capacita. E, de acordo com Filipenses 2.13, é Ele quem nos leva a cumprire realizar. Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar. Neste padrão de Deus, os líderes da igreja têm o propósito de aperfeiçoar as habilidades, dons, t alento e conhecimento de quemserve.

E então,com o investimento e capacitação recebidos da liderança, os capacit ados avançam os propósitos de Deus para a comunidade. Fica evidente que nem mesmo o homem mais capacitado por Deus consegue acumular conhecimento suficiente ou dispor de tempo e energia suficientes para treinar voluntários em todas as áreas da igreja! O erro de centralizar tudo em uma pessoa causa desgaste, desistência e abandono por burnout de muitos, quando não a queda em falhas que eles mesmos condenam e, em casos extremos, os não tão raros suicídios. Fica extremamente evidente que um modelo centralizador, inspirado em empresas-robôs seculares, não é o que levará a igreja-corpo à frente. 25


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Ao contrário das tendências, a métrica de sucesso de uma igreja não deve estar na “porta de entrada”, contabilizandoapenas os novos membros que chegam, mas,também, e talvez principalmente, na “porta dos fundos” constatando quantos membros que serviam fielmente deixaram a igreja, desgastados por processos destrutivossemelhantes aos das empresas-robôs que nada tem a ver com igrejas-corpo! Sempre haverá pessoas deixando igrejas pelos mais variados motivos, porém ignorar o detalhe da perda de membros por desgaste é ignorar um indício de problemas na saúde da igreja-corpo. Empresas-robôs alcançam o sucesso financeiro mecanicamente e talvez até focadas em produtos, igrejas-corpo focam em processos alinhados com a Palavra de Deus promovendo organicamente a capacitação e crescimento dos seus membros que a conduzem ao sucesso intencionado por Deus.O que não deveria existir são igrejas-robôs. Organizações que simulam vida ao adotarem padrões do apa-

rente sucesso empresarial, ignorando os fundamentos da Bíblia. Ocupei espaço para esta consideração importante por tervisto muitos irmãos e irmãs da nossa área técnica e músicos passaram pela segunda portaem meus 40+ anos de ser viço técnico. Posso falar de pessoas sérias, comprometidas com Deus e que pagavam o preço de servir em igrejas onde foram apenas usadas, em contradição ao processo bíblico. Além disto, é fato corriqueiro ouvir casos relatados nos grupos técnicos em que participo. Creio ser por isto a que a sabedoria divina inspirou Paulo a fechar o trecho que vimos dizendo: Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o cor po, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor. Este crescimento da igreja-corpo não tem a ver com a

adoção de processos seculares, focados em produtos, que brilham por um tempo e logo passam.“Em amor, cresçamos em tudo”, desenvolvendo não só doutrina e a Palavra de Deusintelectualmente, mas coloquemos os princípios de Deus em prática através das habilidades querecebemos de Deus. E que isto ocorra não centralizado e focado em uma só pessoa ou elite,mas em Cristo, do qual todo o corpo bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, não só aquelesnos palcos e púlpitos, mas, segundo a justa operação de cada parte, fazendo crescer a igreja-corpo, construindo-a em amor! Uma das características da nossa sociedade é a relativização e sexualização do amor. Não há espaço para o tema aqui, mas para ser coerente com o raciocínio, vamos descomplicar, definindo o amor verdadeiro como o modelado por Cristo: Agir intencionalmente em função do bem do nosso próximo.


Processos direcionados por este amor, serão bem-sucedidos, se não aos olhos humanos – em que nem Cristo foi – aos que mais importam: os de Deus. Usar os nossos dons, talentos e capacitações visando o bem do próximo fará com que tudo que fazemos, inclusive a atenção aos inúmeros detalhes que produzem qualidade, constitua a nossa forma de louvar, adorar ou cultuar a Deus. Muitos consideram os períodos de música que produzimos nos cultos os “períodos de louvor” em que Deus é adorado. Esta percepção carece de ser aprofundada no conhecimento daquilo que Deus nos revela em Sua Palavra.A Bíblia deixa claro

que o nosso serviço a Deus e ao próximo constitui parte do nosso culto e adoração a Deus. Concluo, chamando sua atenção para o fato de que uma das grandes reponsabilidades de quem projeta e lidera áreas técnicas em igrejas se estende muito além da competência técnica, porque A qualidade do serviço – da adoração – que os voluntários prestarão a Deus pode acabar limitada pelo projeto, que, por vezes,chega a ser direcionado por interesses comerciais! Cristo expulsou os que visavam apenas lucrar em cima

da adoração a Deus no Templo e nada indica que esta prática seja válida em nossos dias! Então, que foquemos não apenas no produto, mas no processoscom que produzimos, sem nunca deixar de seguir o padrão Bíblico para a igreja-corpo, em que todos têm importância e responsabilidade de servir cultuando a Deus com amor a Ele e ao próximo. Pois como Paulo deixou claro: Se eu tivesse o dom de profecias, se entendesse todos os mistérios de Deus e tivesse todo o conhecimento, e se tivesse uma fé que me permitisse mover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. I Coríntios 13.2


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TECNOLOGIA E AUTENTICIDADE ELIS CANTANDO CADA VEZ MELHOR Há 46 anos atrás, Elis Regina gravava e lançava o álbum Falso Brilhante, relançado em março deste ano também no formato de áudio imersivo.

O

Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Divulgação, Arquivo, Atelier Jane Rafaela

trabalho era o registro, em estúdio, do espetáculo homônimo encenado no Teatro Bandeirantes, em São Paulo, entre o final de 1975 e fevereiro de 1977. Das 42 músicas originais do espetáculo, foram selecionadas 10 para fazer parte do LP, que era o formato final dos produtos musicais na época. Falso Brilhante se tornou um dos trabalhos de maior sucesso da cantora, fazendo de Como nossos pais, Velha Roupa Colorida e Tatuagem clássicos absolutos da

música popular brasileira e atravessando quase cinco décadas como um álbum fundamental. Trabalhar um clássico trazendo o áudio dele para os tempos atuais, isto sem interferir nas escolhas artísticas feitas na época: esta foi a responsabilidade do produtor João Marcello Bôscoli e do engenheiro Ricardo Camera ao traduzir o disco para os tempos das plataformas de streaming de música e do áudio imersivo. Isto significa lidar com os parâmetros técnicos


cou, por meio das ferramentas de áudio imersivo, diminuir – e até acabar – com a distância que havia entre o resultado final da mixagem dentro do estúdio e o que era definitivamente ouvido pelo consumidor final nos LPs e K7 da época. Quando acontecia o processo de corte do vinil – similar à masterização no CD – era necessário atenuar, ou até mesmo cortar, as pontas dos graves e dos agudos e diminuir a faixa dinâmica da execução musical para que o som pudesse “caber” nas pos-

parte de registro de uma determinada obra artística em uma mídia: quanto menos aparecer o som do CD, o som do vinil, o som da fita no resultado final do áudio, melhor”. João Marcello teve a parceria do responsável técnico do estúdio Na Trama / Cena e engenheiro de som Ricardo Camera. Ricardo já vinha estudando as possibilidades do áudio imersivo. Desde que o antigo estúdio da Trama mudou em 2018 para o estúdio Na Cena e os equipamentos foram

Você pode usar os elementos do áudio artisticamente, mas quem está criando a obra é que decide isso. Então qual foi a nossa viagem? É na parte de registro de uma determinada obra artística em uma mídia: quanto menos aparecer o som do CD, o som do vinil, o som da fita no resultado final do áudio, melhor.

sibilidades físicas de reprodução de frequências e dinâmica do vinil. “Você pode usar os elementos do áudio artisticamente, mas quem está criando a obra é que decide isso. Então qual foi a nossa viagem? É na

das diversas plataformas – Spotify, Deezer, Youtube, etc. – do já testado, aprovado e “vintage” CD e as novas possibilidades do novo som imersivo que não depende do número de caixas pelo qual será emitido, e sim de algoritmos que passam a mesma sensação da espacialidade por um fone ou 12 caixas de som. João Marcello Boscoli é produtor musical e filho de Elis Regina, mas isto está longe de significar que pode mexer nos trabalhos da cantora sem critério. “Nós não apagamos o áudio original para ser outra coisa. Não alteramos a relação entre os instrumentos. A questão é que tem uma necessidade de adequação desse áudio. Como você vai ouvir ele através do tempo? No momento em que lançou o estéreo, o que foi lançado em mono foi deixado para trás? Não, você tenta adequar. Damos um tratamento contemporâneo”, explica. Para João Marcello, trazer o som de Falso Brilhante para padrões contemporâneos signifi-

trazidos por João Marcello, os dois vem conversando sobre as possibilidades do formato. “Mostrei algumas coisas no Tidal, como a remixagem do John Lennon feita nesse formato (o clássico Imagine está entre 19 11 29


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João Marcello Bôscoli

mixagem do Falso Brilhante os elementos ficaram mais estáticos. As coisas estão posicionadas como o João nos orientou para o fã ouvir o disco, já lançado há tanto tempo, com uma sonoridade mais nova, mais moderna, com os ranges de fre-

que pretendiam trazer uma sensação de imersão no áudio, mas o fato de um sistema em 5.1 (no qual o áudio do DVD e do blu-ray eram disponibilizados) exigir um posicionamento determinado tanto das caixas como do ouvinte para

As coisas estão posicionadas como o João nos orientou para o fã ouvir o disco, já lançado há tanto tempo, com uma sonoridade mais nova, mais moderna, com os ranges de frequência maiores e a sensação da profundidade.

quência maiores e a sen­s ação da profundidade”, detalha Ricardo.

Áudio imersivo Durante as décadas de 2000 e 2010, tentou-se, de todas as formas, implantar formatos

os álbuns remixados no formato) e o João ficou muito entusiasmado. Com a assessoria do meu ex-assistente, hoje um grande engenheiro de áudio e amigo Toco Cerqueira, conseguimos contato com a Dolby e construímos essa parceria”, se entusiasma Ricardo. Ricardo e João Marcello trabalharam nos estúdios Na Cena / Trama e da Dolby Brasil. O projeto também teve a assessoria de Daniel Sasso, do estúdio de som para cinema JLS, e do consultor da Dolby para a América Latina Giovanni Asselta. O resultado inicial das conversas entre João e Ricardo foi uma primeira remixagem apenas da música Como Nossos Pais. Esta primeira experiência foi um pouco mais fundo nas possibilidades do áudio imersivo que a atual. “Na segunda

conseguir o efeito desejado não ajudou a consolidação do formato. A diferença entre o formato atual e os antigos é que a mixagem não leva a posição das caixas em consideração, e sim o objeto. Seja com um soundbar, 12 caixas de som ou um fone


o efeito imersivo será sempre o mesmo em qualquer posição em que o ouvinte estiver. “Os formatos anteriores exigiam que se estivesse em uma condição específica, no meio de uma sala, com várias caixas, e talvez por isso tenha acontecido o insucesso na massificação desses formatos. Em Atmos, se estou em uma sala como a que estamos montando aqui, no NaCena / Trama, que é 7.1.4, com um surround, sete caixas na horizontal, quatro caixas no teto eum subwoofer, é uma coisa maravilhosa. Mas, ao mixar em Atmos, ele já deriva para o 7.1, o 5.1, o estéreo - que é muito refinado por conta do downmix do Atmos - e o binaural. O binaural é uma condição que chega a todas as pessoas,

porque a maioria ouve música pelo telefone celular. É só botar um par de fones e ir correr, ou andar de metrô. Quando você põe esse par de fones e ouve a mixagem binaural já tem uma dimensão [de imersão] da música, mesmo usando um fone comum, que o estéreo não consegue passar.”, coloca o engenheiro de som.

Forma de trabalho Para trabalhar o Falso Brilhante, Ricardo teve a disposição a matriz digital com o som flat transcrito a partir dos originais analógicos gravados por Ary Carvalhaes nos estúdios da Phonogram. Em primeiro lugar, retirou ruídos indesejáveis. O trabalho de mixagem propriamente dito começou

do zero levando em conta a referência da gravação e da mixagem original (feita por Marco Mazzola) em termos de imagem sonora e timbres. Ao contrário de álbuns anteriores da cantora, geralmente gravados em quatro canais, este foi em 16, o que trouxe apossibilidade de trabalhar voz e instrumentos em separado usando os melhores recursos atuais. “eu abri [os canais], dei uma limpada e alguma coisa eu já fiz dando uma polida no som porque o estúdio da Trama antigo tem equipamentos maravilhosos que vieram para cá. E mum primeiro momento usei alguns equipamentos analógicos, nos outros momentos foi totalmente com equipamento digital. A mixagem foi feita inbox”, explica Camera.

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ELIS REGINA| www.backstage.com.br 32 Ricardo Camera

ele está vindo da frente, de trás... Faço a dosagem [do efeito] e quando vou ouvir tenho a sensação que eu estou dentro daquele lugar. Na ‘cama’ posso usar também, por exemplo, teclados em estéreo”, detalha. Já o objeto seria o que pode entrar em movimento. Seria uma espécie de “efeito solo”, en-

o videogame. Aí ela põe lá o bonequinho dela para um lado e o som acompanha o movimento. Isso é uma mix por objeto em tempo real.”, esmiuça Ricardo Camera, ressaltando que essa movimentação não era o caso da mixagem do Falso Brilhante. “Vamos imaginar assim: eu pego a voz da Elis, que é

A mixagem por objeto permite o posicionamento espacial do mesmo no plano tridimensional do Atmos com muita precisão. Suponha o seguinte: uma pessoa vai jogar o videogame. Aí ela põe lá o bonequinho dela para um lado e o som acompanha o movimento. Isso é uma mix por objeto em tempo real.

quanto a cama seria um “efeito base”. “A mixagem por objeto permite o posicionamento espacial do mesmo no plano tridimensional do Atmos com muita precisão. Suponha o seguinte: uma pessoa vai jogar

O inbox é feito a partir do Pro Tools e mandado para o software da Dolby. No Atmos, o engenheiro de som tem à disposição recursos como a mixagem “bed” – cama em inglês - e a por objeto. A primeira, é como se fossem camadas de som ou efeito que dão suporte ao objeto, como explica Ricardo Camera. “Eu faço a mixagem no Pro Tools e mando para um software que é o Dolby Atmos Mastering Suite. Temos então o Pro Tools alimentando o software da Dolby que cria o arquivo Atmos. Nele, você tem dois tipos de mixagem: o “Bed” - que é muito próximo da matrixiação que se faz no 5.1 - e o por objeto, o maravilhoso da coisa. Por exemplo, eu tenho um reverb que uso no show. Quero botar o ambiente como se fosse para quem está vendo esse show, Quando eu coloco esse reverb

um objeto. Onde eu posicionar ela, o som vai acompanhar. Isso é definido por meio do panner. A guitarra é um outro objeto. No software Dolby Atmos Mastering Suite, cada vez que você habilita esse objeto ele cria um


ponto verde dentro de uma sala imaginária. Então você tem lá um gráfico que é uma sala em formato de paralelepípedo tridimensional. Quando você posiciona o objeto, vê aquela bolinha andar. É uma visão gráfica do que está acontecendo com o pan. Quando essa fonte pontual toca, ela muda de cor. No final do processo gravo e crio esse arquivo Atmos que carrega metadatas”, detalha. As metadatas são uma espécie de pulo do gato. Elas vão permitir o player identificar o tipo e arquivo que ele deve executar. “O áudio ao ser tocado no soundbar, por exemplo, o aparelho entende ser um arquivo em Atmos. Vamos supor agora que eu tenha um sistema 5.1. O meu receiver vai receber a metadata e entender que o layer de 5.1 deve ser acessado. Já com o telefone celular, ouvindo música na Apple ou Tidal, o dispositivo que vai tocar lê o metadado daquele arquivo e toca no melhor formato em ele puder ser reproduzido. No caso do Tidal, você consegue ainda que o som que está sendo ouvindo binaural fique mais afastado ou mais próximo mantendo o equilíbrio gerado na mix”, indica Ricardo Camera. Todas essas opções envolvem modalidades de mixagens diferentes. Mas ao contrário do que acontecia em outros formatos imersivos, isto não representa, necessariamente, um re-trabalho para o engenheiro de áudio. “O que eu percebia nesses formatos multicanais é que os algoritmos de downmix ainda careciam de um desenvolvimento mais apurado. Eles provocavam acúmulos de fre-

João Marcello Bôscoli e Ricardo Camera

quência com as informações que traziam das caixas traseiras para frente. Já trabalhei em várias trilhas de cinema e, quando mixava em 5.1 e tinha de fazer a trilha em estéreo para o delivery, eu mexia bastante, porque se fizesse só o downmix os médio graves embolavam... Ficava uma coisa bem estranha. No Atmos, o downmix é muito especial”, comemora.

Mais brilhante Para os ouvintes, a sensação é, em qualquer formato, a de estar mais próximo das intenções

artísticas de Elis e dos músicos que tocam com ela. Para João Marcello, a sensação de missão cumprida. “Quando compara [a remixagem de 2022] com a original [antes do corte para vinil] é esse o som que está lá. Músicos bons, instrumentos bons, microfones que até hoje são bons, mesa analógica boa, tudo muito bem gravado. Eu estou tentando levar você, de olhos fechados, para a sala de teatro ou para o estúdio em que a Elis estava. Mantivemos a coesão [da imagem sonora], como se eles estivessem tocando no estúdio.”, conclui. 11 33



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