Jornal do teatro #11

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Férias Grandes com Salazar Vinte e Zinco de Mia Couto 25 de Abril: um olhar desde Moçambique

Teatro e Memória ciclo sobre história e teatro

JORNAL DO TEATRO ABRIL DE 2007 ^ MENSAL PUBLICAÇÃO GRATUITA

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Como temos vindo a afirmar, o teatro enquanto espaço social de reencontro do homem consigo e com a comunidade onde vive e de que é parte inteira, deve ter um papel determinante no nosso confronto com a memória mais recente, uma memória que em Portugal tem tido dificuldade de vir à superfície. É com o objectivo de provocar esse reencontro e, naturalmente, esse confronto, que temos vindo a programar toda uma série de espectáculos que, de uma ou de outra maneira, falam da História de Portugal do Século XX, uma História que é importante conhecer em toda a sua profundidade e sobre a qual é urgente construir um sentido crítico que só a distância ajuda a aparecer. Foi o que fizemos com “A Casa da Lenha”, é o que estamos a fazer com “A Filha Rebelde”, e é o que ainda este mês vamos continuar a fazer com a estreia de “Férias Grandes com Salazar”, um texto do dramaturgo extremenho Manuel Martinez Mediero que recorda, com humor, os últimos dias do ditador português, e com uma adaptação do romance “Vinte e Zinco” de Mia Couto que, através da metáfora dos últimos cinco dias do trabalho de um Pide em Moçambique, nos devolve um olhar africano sobre o 25 de Abril. Como afirmou o historiador Fernando Rosas no debate que organizámos no Dia Mundial do Teatro sobre “Memória e Teatro”, é importante que aqui, nesta casa viva do teatro português, se tratem das nossas histórias, das figuras, dos percursos e dos acontecimentos que fizeram deste país o que é hoje. Uma abordagem que, ainda que muitas vezes apresentada de forma frágil, pretende ser um grito de alerta que nos força a reencontrarmo-nos connosco próprios enquanto país com uma longa História e com uma identidade que é cada vez mais necessário assumir nesta Europa plural. É por isso, também, que neste Jornal abrimos um dossier sobre “O Teatro como Espaço de Memória”, pois é fundamental que se reflicta sobre a forma como o teatro tem, ao longo da História, servido como palco de reflexão social, política e moral, e como nos pode ajudar a repensar alguns dos acontecimentos mais importantes das nossas vidas.

notícias

editorial

O Teatro Como Espaço de Reencontro com a Memória

Carlos Fragateiro José Manuel Castanheira

ficha técnica direcção> Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira Coordenação editorial> A. Ribeiro dos Santos redacção> A. Ribeiro dos Santos, Margarida Gil dos Reis, Ricardo Paulouro DOCUMENTAÇÃO> André Camecelha, Joana Esteves grafismo> Nuno Patrício fotografia> Margarida Dias PROPRIEDADE> TNDM II, SA Impressão> Mirandela Artes Gráficas FOTO DE Capa> Manuel Luís Cochofel agradecimentos> Augusto Brázio, Manuel Luís Cochofel e Cendrev

Estreia de “A Filha Rebelde” encheu a Sala Garrett do TNDM II Realizou-se, no dia 15 de Março, a estreia do espectáculo “A Filha Rebelde”, peça que a dramaturga Margarida Fonseca Santos escreveu a partir do livro dos jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz. Várias personalidades – como o General Ramalho Eanes e a mulher, Manuela Eanes, ou Mário Soares – estiveram presentes no evento.

Comemorações do Dia Mundial do Teatro O Teatro Nacional D. Maria II promoveu, a 27, Dia Mundial do Teatro, um debate sobre o tema “Memória e Teatro”. A mesa redonda contou com a presença da escritora Lídia Jorge, do historiador Fernando Rosas, do jornalista José Pedro Castanheira e da dramaturga Margarida Fonseca Santos. Durante mais de uma hora os oradores estiveram de acordo num ponto: ao considerar que é fundamental que Portugal conheça e assuma a sua História, passada ou recente. Para o conseguir, é indispensável que as histórias se contem e ganhem vida no palco.

Ricardo Salvat fala do teatro de hoje Ricardo Salvat professor catedrático de Artes Cénicas da Universidade de Barcelona, considerado uma figura chave na renovação das artes cénicas da Catalunha, proferiu, no dia 28 de Março, uma conferência no Teatro Nacional D. Maria II sobre o tema “El Teatro en el Mundo Emergente y que Estamos Haciendo Hoy”. Para além de professor, Ricardo Salvat foi director do Festival Internacional de Teatre de Sitges entre 1977 e 1986 e foi presidente da Associação de Investigação Teatral (AIET), vinculada à cátedra de Artes Cénicas da Universidade de Barcelona. No final da conferência, foi descerrada uma placa com seu nome no Salão Nobre do Teatro Nacional.

Rita Salema substitui Margarida Marinho em “Pequenos Crimes Conjugais” A partir do fim deste mês, o espectáculo “Pequenos Crimes Conjugais”, de José Fonseca e Costa, prosseguirá a sua carreira no Teatro Aberto, com um novo elenco. A actriz Rita Salema substituirá Margarida Marinho na pele de Luísa, a mulher de Jaimes (Paulo Pires), vítima de amnésia. Devido a compromissos assumidos anteriormente, Margarida Marinho não poderá assegurar a continuidade deste espectáculo, cuja carreira teve de ser prolongada devido à procura do público.

DVD na Livraria do Teatro O Teatro Nacional apresentou, no dia 29 de Março, em antestreia, o filme “Mémoires”, que recorda a vida e obra de Carlo Goldoni e a partir da sua autobiografia escrita em Paris, pouco antes de morrer. O DVD do filme estará disponível dentro em breve na Livraria do Teatro.

Concertos no Átrio Dando continuidade à iniciativa Música no Átrio, o público do Teatro Nacional poderá ouvir, no dia 17, a obra “Quadros de Uma Exposição”, do compositor russo Modest Mussorgsky, interpretada ao piano por Afonso Malão. No dia 18, há um recital de Piano e Flauta pelos músicos Gonçalo Freire e Sérgio Gonçalves. Finalmente, no dia seguinte, haverá um recital de canto pelo barítono Armando Possante, acompanhado ao piano por Luísa Gama Santos.


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Entrevista a José

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Carretas e Manuel Martinez Mediero >

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A casa comum da História

José Carretas aceitou o desafio e leva ao palco uma peça que ironiza a figura de Salazar. Uma catarse ibérica que rasga fronteiras e, no seu jeito tão peculiar, nos dá a ver “um homem esquisito, esquisito, mesmo muito esquisito”… Entrevista conduzida por Ricardo Paulouro Esta peça gira em torno de António Oliveira Salazar. Porquê o fascínio por essa figura? Manuel m Mediero O meu pai falava muito bem dele [risos]… Sempre me perguntei como seria este senhor de quem tanto ouvia falar. Interessei-me pela sua figura e não parei até que tive meios intelectuais para poder abordar, minimamente, esta personagem ímpar, nem se quer comparável com nenhum outro ditador porque aqui, ao contrário de Espanha, não existiram milhares de mortos.

nunca vi um encenador com tanto respeito para com o autor. Encontrei um encenador absolutamente fantástico. jC Eu gosto muito da forma coloquial como o Mediero escreve, muito ao jeito de como se fala. Para mim, essa é uma das maiores virtudes de um autor dramático: não se refugiar muito na poesia. O Manolo faz poesia com aquilo que se diz e que se sonha. A grande dificuldade é passar as ideias e as sensações através de palavras aparentemente banais.

Como definiria Salazar? Mmm Em Espanha diz-se, a propósito de um cómico espanhol, “é um homem esquisito, esquisito, muito esquisito” [risos].

Esta é uma peça que mexe com alguns tabus relativamente à figura do Salazar. Quais foram, José Carretas, as dificuldades de pôr em palco estes tabus? jC Tudo isto é um jogo com os actores e essa quebra de tabus são situações que vamos encontrar nesta peça, algo que, para já, não queria revelar. E estes tabus são não só relativos ao Salazar mas à própria imagem que temos do teatro, de todo aquele conjunto de coisas com que não se brinca, o domínio da intimidade.

José Carretas, que Salazar vamos encontrar nas “Férias Grandes”? José Carretas Um homem esquisito, esquisito, muito esquisito [risos]… Vamos talvez encontrar um beato, um homem solitário, um homem, de certa forma, enclausurado em si próprio. Este é um Salazar que nos faz rir, pela quantidade de situações em que o Mediero o coloca, metendo-nos quase um pouco de pena. Para mim Salazar representa o dia cinzento… O apanhar palmatoadas por não ir à missa, Nossa Senhora de Fátima sempre presente e o rezar o terço em todas as rádios do país ao fim do dia… Afirmou, uma vez, que o teatro tem de faltar ao respeito a alguma coisa. Esta peça também o faz? JC Quando digo “faltar ao respeito” digo-o porque para ler alguém tenho de perder o respeito enquanto autor, caso contrário, não consigo estar à vontade com ele. A primeira coisa que tenho de fazer é pôr de lado qualquer vénia ou reverência, seja qual for o autor. Se há preconceito, isso tolda-nos a visão. Mais uma vez ‘faltei ao respeito’ ao Mediero, devolvendo-lhe no fim a visão mais próxima da sua peça. Mmm Tenho de acrescentar que o José Carretas respeita a obra de uma forma impressionante. Eu

O “exercício de liberdade” na encenação das suas peças é também um prolongamento no exercício de liberdade de quando as escreve… Mmm É um exercício de liberdade porque a peça tem uma catarse interior muito forte, uma quase libertação… Acho que se o espectador entender bem esta personagem pode libertar-se de Salazar para o resto da vida. O exercício de liberdade do José [Carretas] é um exercício dentro do rigor. Será Portugal um país que vota ao esquecimento a sua História mais próxima? jC O problema é Portugal ter uma memória deficiente ou mal conduzida. A memória de Salazar que nos está a ser dada é uma memória falsa, convenientemente simpática… Este é também um problema de iconografia. As figuras que se estão agora a desenterrar são as mesmas da minha quarta classe –

Vasco da Gama, Afonso Henriques… – com mentiras constantes. O teatro tem, nesta questão, algum papel? jC Há muitos anos que o que faço, enquanto encenador e dramaturgo, é defender os mitos e as realidades nacionais, uma dramaturgia nossa. Simpatizo muito com o que, neste momento, está a fazer o Teatro Nacional, porque não está a fazer uma programação ao acaso e ao sabor do momento mas, numa das suas vertentes, está a defender a nossa identidade. Mmm Estou a libertar-me desde que nasci. Sempre tentei investigar onde estava, porque estava, de onde vinha e para onde ia. A constante da minha vida foi investigarme e investigar o que me rodeava. Tenho uma peça, inclusive, sobre Vasco Gonçalves, alguém que me parece uma personagem de teatro impressionante, única, porque es-

teve um ano a governar, mas sem o fazer realmente. Acho que tenho uma certa intuição para me inteirar deste tipo de histórias, do porquê das coisas. A metáfora de Salazar é também a do próprio país? Mmm Salazar acaba por fazer de Portugal um país à sua imagem e semelhança. Ele faz de tudo para que o país seja como ele. Ele nem se dá conta que tem de tal forma tabus dentro da sua cabeça que o fazem entrar em contradição com o economista que ele também é. O mundo de Salazar translada-se a Portugal, graças também à Polícia Política que o fez introduzir-se na cabeça de cada pessoa. Quais foram as opções cénicas tomadas nesta peça? jC Privilegiei o cenário enquanto mercearia, um pouco como uma metáfora de um universo real.

Ficou-me muito esta imagem de Portugal com uma mesinha de pedra, nas traseiras de uma casa, em cima um jarro de vinho, uns figos e o pão. Esta pequena imagem de paz que tem como pano de fundo os trabalhadores agrícolas a trabalharem para nós [risos]… Isso é uma das coisas que se mantém desde o salazarismo: a convicção de que este país só prospera com salários baixos. Acho que ao fim destes anos todos já podíamos ter aprendido com os nossos erros. A relação de Salazar com as mulheres é bastante cómica nesta peça… Mmm Creio que a relação do Salazar com Maria tem algumas das cenas mais engraçadas que eu já vi no teatro. Vendo-as agora feitas pelos actores acho que vai ser uma bomba! [risos]. Como caracterizaria esta peça: como uma farsa ou como uma comédia? jC Uma comédia, sem dúvida. Mmm Eu acho que tem um pouco de cada. Um conjunto de cenas de comédia que se uniram misteriosamente.

“Acho que se o espectador entender bem esta personagem pode libertar-se de Salazar para sempre” José Carretas (à esq.) e Manuel Martinez Mediero


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Ser e não

Será uma Revolução suficiente para mudar o mundo? Para comemorar os 25 anos do 25 de Abril português, Mia Couto escreveu “Vinte e Zinco”, um texto sobre a liberdade histórica mas, sobretudo, individual Texto de Maria João Coutinho* Utilizar o Tempo como matéria de afirmação de uma vida que se quer diferente, interrogá-la nas suas formas meândricas de ser, desvendá-la e com ela a história em que se insere, parece ser o tema central de “Vinte e Zinco”, obra do autor moçambicano Mia Couto publicada em Portugal com o propósito da comemoração dos 25 anos do 25 de Abril português e saída a lume em Moçambique […]. O passado só tem sentido se for reinterpretado, ou actualizado, à luz das contingências temporais e receptivas, permanecendo aberto a contínuas interpretações. Em “Vinte e Zinco”, a dupla abordagem da realidade política

de Moçambique, a um tempo colónia portuguesa, processa-se tanto pelo lado da história como pelo do mito. Há como que dois mundos que se entrecruzam entre si: de um lado, clamam os que ousam gritar por liberdade, os negros, os marginalizados, os guerrilheiros; do outro lado, agoniza a solidão dos poderosos e a dos cúmplices dos seus poderes corruptos. E é essa multiplicidade dos modos de revelação que interessa ao autor e que se vai reflectir através da variedade dos pontos de vista de cada personagem, num tempo em que cada presente se bifurca em dois futuros, de modo a criar-se uma rede de tempos e modos de

estar ao mesmo tempo divergentes, convergentes e paralelos. Há como que um jogo entre as personagens, entre a realidade de cada uma delas e o seu “duplo”, como se fosse um espelho onde uma e outra se revertem. […] Os mundos giram sobre si mesmos, instituindo descontinuidade entre o presente e o passado, mas evidenciando, em “Vinte e Zinco”, a consciencialização do tempo objectivo, na medida em que o autor situa, de um modo muito preciso, os acontecimentos narrados através de indicadores cronológicos, já que os diferentes capítulos estão datados, de 19 a 30 de Abril, doze capítulos, uma vez mais um

número marcante nos estudos numerológicos, sendo que o 7º capítulo é o próprio 25 de Abril português, o dia da Revolução dos Cravos. É através deles que tende a desenvolver-se todo um desejo, uma vontade, que lança o ser na procura da liberdade, na ânsia de ser livre de paredes, de muros, de prisões, de tudo o que assenta na destruição da ordem da natureza humana, no caos, para, em seguida, originar-se uma nova ordem. […] Podemos pressupor que está eminente na linguagem e modo de ser das personagens a finalidade da escrita do autor de “Vinte e Zinco”, uma escrita dinâmica e

fascinante, que procura evidenciar outra dimensão filosófica e a mundividência dos acontecimentos, à maneira, pensamos, de Sophia de Mello Breyner Andresen. […] Tal como em “A Varanda de Frangipani”, Mia Couto propõe “fazer um mundo em que, um homem, só de viver, fosse respeitado”, lembrando que, afinal, todo o ser é tão antigo quanto a vida.

* Texto integralmente reproduzido no Site do TNDM II (www.teatro-dmaria.pt) e anteriormente publicado em “Scripta”, Universidade Estadual de Belo Horizonte, 2001


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Vinte e Zinco

o ser

“Vinte e cinco é para vocês que vivem nos bairros de cimento”. No nosso mundo existem tempos diferentes e o 25 de Abril português pode não ter sido um dia de liberdade para todos. A resposta é “Vinte e Zinco”, que sobe ao palco do Salão Nobre a 25 de Abril, 33 anos após um dia que marcou a nossa História Margarida Gil dos Reis

Não se estranhe o título deste texto. A máxima shakespeariana continua a fazer correr tinta e a despertar inspirações. Ao “ser ou não ser” de “Hamlet”, a tragédia da dúvida e do desespero do solitário príncipe, encontramos em Mia Couto uma nova formulação que inspirou a encenadora Maria João Rocha – “ser e não ser”. “Vinte e Zinco” vive, aliás, da dicotomia entre dois mundos diferentes, Portugal e África, unidos pelo colonialismo. Escrito a propósito das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril, Mia Couto conta uma ‘estória’ carregada de memórias, onde a cultura africana respira, submersa, mas ofegante, contagiando o leitor. Para Maria João Rocha, este foi um texto que a cativou de imediato, pela forma como a história, a ficção e a memória se entrelaçam poeticamente: “Gostei imenso do texto, desde logo porque gosto muito da linguagem de Mia Couto, uma linguagem muito poética. Quando comecei a pensar como iria pôr este texto em cena foi óbvio, para mim, que o pôr em cena era pôr ‘aquele’ texto, sem adaptações. Tudo faz parte da poética do autor.” Uma “transposição”, é assim que lhe prefere chamar, de uma obra que reflecte profundamente não só sobre a (des)assimilação de uma cultura mas, sobretudo, sobre o homem e os seus limites: “para mim, esta é uma obra muito mais sobre a natureza humana do que, concretamente, sobre o 25 de Abril que está ali enquanto circunstância. A questão fundamental reside no relacionamento entre duas culturas”. Uma relação intercultural que é, de certo modo, a grande maldição do colonialismo, isto é, o drama que residiu no não entendimento do colonizador da cultura colonizada. Uma posição de “su-

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perioridade cega”, como bem a define Maria João Rocha, que Mia Couto captou como poucos, de duas culturas que têm de aprender a viver em conjunto. A história de um Pide, em Moçambique, profundamente perturbado pela morte do pai e que segue as suas pisadas, desarma o leitor pela forma como é contada, calma e apaixonadamente. Algo que desperta a ligação telúrica de quem viveu em África ou quem, como Maria João Rocha, se considera uma viajante inveterada: “Acho que conheço África muito melhor, das minhas viagens, do que pessoas que viveram lá trinta anos porque sempre tive a sensação de que ir a um sítio só fazia sentido se de facto estivéssemos dispostos a compreendê-lo.” Licenciada em História e com elos familiares a África, Maria João Rocha cresceu numa casa povoada de recordações e fotografias, quase conseguindo sentir os cheiros da terra. Talvez por isso tivesse aceitado de imediato este desafio, para passar as sensações que a habitam e que marcam quem visita este continente: “Num texto como este, com dados históricos, precisei de saber como é que a PIDE actuava, inclusive na zona de Moçambique. No início esta foi talvez a questão que mais me preocupou: ter a noção histórica do que o livro narra”. No final da ‘estória’ duvidamos se este não será mais um texto sobre o vinte e zinco do que sobre o vinte e cinco de Abril, um tempo de libertação, não apenas social mas, acima de tudo, interior. “A panela da miséria continuaria no mesmo lume, só a tampa mudaria”, ouve-se contar no texto. Essa é a dicotomia da existência humana. Vivemos entre o “sim e o não”, entre o “poder ser e não ser”, nessa “líquida fronteira que separa o possível do impossível”.

Perfil Maria João Rocha Cresceu rodeada de teatro e “gostaria que o futuro passasse pelos bastidores do espectáculo”. Maria João Rocha considera-se uma cidadã do mundo, tendo vivido em Inglaterra, Genebra e Suiça. Em 1971, de novo a estudar em Lisboa, começou a trabalhar na Casa da Comédia, colaborou com a empresária e encenadora Ruth Escobar e passou pela companhia do Teatro Maria Matos. Em 1972, entrou para a RTP, como sonoplasta, onde fez carreira como realizadora. Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem formação na área do Guionismo e da Realização. O documentário “Flora Gomes, Identificação de um País”, rodado na Guiné-Bissau e “Fé, Esperança e Caridade”, de Odon Von Horváth, valeram-lhe o reconhecimento do Festival de Cinema Documental da Malaposta (1996) e do Festival de Teatro Televisivo do Prémio Itália (1994), respectivamente. Trabalhou também como formadora, orientando diversos cursos, foi professora de Realização no IADE, na ETIC e na Escola Superior de Comunicação Social. Ao longo da sua carreira na RTP, realizou centenas de programas de televisão, de todos os géneros: entretenimento, música erudita, dança, jazz, documentário, ficção e teatro.

Duas componentes essenciais: cenário e movimento “O cenário será muito minimalista, só o essencial. Por mim haveria apenas a palavra, pois o seu valor é mágico”, salienta Maria João Rocha. Assinado por Maria João Silveira Ramos, o cenário tentará retratar o ambiente da peça através de vídeos — sequências de imagens mais ou menos abstractas. A coreografia de Catarina Câmara enriquece ainda mais o ambiente do espectáculo. Para a encenadora, o objectivo foi atingir a “articulação entre a palavra, a imagem do ambiente que é dado pelo vídeo e o movimento das cenas que se passam, ao longo do texto, noutro tempo.”


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Dossier: o palco como espaço de memória >

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Transformar o real em fábula ou mito O espectáculo “A Filha Rebelde”, que revê momentos da História recente de Portugal, é o pretexto para falarmos com dramaturgos que escrevem frequentemente sobre temática histórica. Afinal, como justificar este fascínio? A. Ribeiro dos Santos

Margarida Fonseca Santos, a autora da peça “A Filha Rebelde”, em cena na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, diz que se alguém se lembrasse de escrever um romance para contar a história de uma mulher como Annie Silva Pais, ninguém acreditaria: parece coisa de ficção. Mas não é. Annie Silva Pais existiu e fez as escolhas que fez. E a História está cheia de personagens e de acontecimentos de dimensão tal que parecem – mais do que factos verídicos – histórias inventadas pela mente de um criador brilhante. Luiz Francisco Rebello, Hélder Costa, José Jorge Letria, Manuel Córrego e a própria Margarida Fonseca Santos são alguns dos muitos dramaturgos portugueses contemporâneos que têm recorrido aos manuais de História de Portugal para escrever peças de teatro actuais. Aliás, essa é a primeira exigência que fazem ao teatro dito histórico: que não seja uma peça de Museu mas que, pelo contrário, fale directamente dos tempos que correm. Luiz Francisco Rebello, que discorda do termo “teatro histórico” (porque “todo o teatro é histórico”), preferindo, antes, chamarlhe “teatro de matéria histórica ou de tema histórico”, é autor de peças tão marcantes quanto “Todo o Amor é Amor de Perdição” (sobre o célebre julgamento de Ana Plácido e Camilo Castelo Branco) ou

“A Filha Rebelde” 2007

“A Desobediência” (que recorda o percurso exemplar do cônsul Aristides de Sousa Mendes). Recorda que em Portugal sempre se escreveu muito sobre a História – casos da tragédia “A Castro”, de António Ferreira, ou de “O Auto de Gil Vicente”, de Almeida Garrett, mas que durante algum tempo se confundiram as matérias. É importante, sublinha, que se distingam claramente os campos: o teatro não é, nem pode ser, História. “O afã naturalista de tentar reproduzir a verdade em palco – que esteve muito em voga durante o século XIX português – é impossível. Só tem sentido pegar na História para propor uma revisão crítica dos acontecimentos ou para transformar aquilo que foi real em fábula ou mito. É preciso não esquecer nunca que o teatro obedece, apenas, à sua natureza própria – que é ficcional”, conclui, naquilo em que é apoiado pelos restantes dramaturgos entrevistados. Manuel Córrego (Grande Prémio Inatel de Teatro em 1991, 1998 e 2003, e Prémio Eça de Queirós em 1992), autor de uma trilogia sobre Eça e da peça “O General e o Ditador” (que versa sobre a oposição de Craveiro Lopes a Oliveira Salazar, rapidamente silenciada pelo ditador), vai mais longe. “A História não deve ser, para um dramaturgo, um constrangimento, pois já nem o romance históri-

co se escreve à maneira antiga... O que se faz actualmente é um tipo de romance histórico que explica não só os acontecimentos passados, mas sobretudo os presentes. E é isso que me interessa. Escrevi uma peça chamada ‘O Testamento de D. João II’, mas o que me interessa é pensar em nós, portugueses de hoje. E escrevi sobre D. Sebastião para mostrar que, desde Alcácer Quibir, nunca mais erguemos a cabeça. Não sou historiador...”, remata. Mas se há muitas peças de temática histórica no teatro português, verdade seja dita que poucos são os que arriscam revisitar temas históricos recentes. Luiz Francisco Rebello garante que não se trata de uma questão de pudor, mas simplesmente de medo. “Entre nós, há o receio de se pegar em temas contemporâneos, porque não há a distância suficiente para ver os factos... No entanto, não vejo porque razão não se há de pegar no actual e levá-lo à cena, de acordo com as leis do teatro. O José Saramago é que explicou bem este assunto, numa conferência que deu em Évora: o histórico não é o que é do tempo de Jesus Cristo. O que aconteceu há meia dúzia de anos também é histórico. História é o que está a acontecer neste momento.” José Jorge Letria, autor de “Mataram o Che” (sobre o assassinato do mítico líder revolucio-

nário) e de “Quem vai à Guerra” (sobre um tabu chamado guerra colonial portuguesa), que, em Maio verá ir à cena em Cascais, pelo TEC, a sua peça “A Rainha do Chá” (que versa sobre Catarina de Bragança), recorda três grandes espectáculos de temática histórica a que assistiu no Portugal fascista: “Felizmente há Luar”, de Luís de Sttau Monteiro, “O Render dos Heróis”, de José Cardoso Pires, e “O Judeu”, de Bernardo Santareno. O jornalista e escritor considera simultaneamente útil e catártico o exercício de reflectir sobre temas actuais. “Sabe-se tão pouco sobre a História de Portugal...”, afirma. “Estamos perante uma ignorância confrangedora e preocupante, e não tenho dúvidas de que o teatro, desde que não caia nos vícios do didactismo, pode ajudar a colmatar essa lacuna. É preciso continuar a elegerse a temática histórica para o teatro, porque nos permite reflectir sobre o nosso destino histórico e sobre os fantasmas que ainda nos falta exorcizar.” Hélder Costa, dramaturgo e director da Barraca, é outro autor que tem, manifestamente, uma predilecção especial pelas peças de cariz histórico, levando à cena não só as muitas peças que escreve sobre a História de Portugal como as que outros escreveram. É dos poucos que enfrenta a actualidade, sem receios, e diz que, ao

contrário de o assustar, os temas actuais estimulam-no. “O meu interesse pelo teatro histórico explica-se rapidamente: acredito profundamente naquela frase – hoje já quase cliché – de que é preciso conhecer o passado para iluminar o presente e preparar o futuro. No meu caso pessoal de português, depois de 50 anos de ditadura e de 300 de Inquisição, tenho todas as razões para suspeitar que há factos históricos que estão muito mal contados... E vendo os vergonhosos programas de História que se ensinam nas escolas, sinto que é dever do teatro colmatar a falta de reflexão que existe sobre a nossa História recente. Por outro lado, é terrivelmente estimulante descobrir os segredos que estão por trás dos acontecimentos, guardados a sete chaves por inquisições e variadas máfias...” A sua experiência diz-lhe, também, que o público tem apetência pelos espectáculos históricos. Em determinadas condições. “Sim, as pessoas gostam, desde que os espectáculos sejam vivos, anti-historicistas, actuais e modernos”, conclui.


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O teatro: espelho da História Foi Ésquilo quem muito provavelmente inaugurou, com a tragédia “Os Persas”, o teatro de cariz histórico. A peça, que recorda a batalha de Salamina (480 a.C.), estreou-se em Atenas em 472 a.C., ou seja, apenas oito anos depois dos acontecimentos a que se refere. O próprio Ésquilo combateu nessa batalha como soldado e a maioria dos espectadores que assistiram à representação estariam nas mesmas circunstâncias. Sendo o teatro grego fortemente didáctico, Ésquilo decidiu descrever aquilo que tinha vivido para mostrar aos seus concidadãos porque razão os persas perderam uma guerra tão decisiva e para que evitassem, de futuro, cometer erros semelhantes. Ao longo da História do Teatro, grandes autores têm dedicado o seu talento a escrever peças de cariz histórico: Lope de Vega, Tirso de Molina, Calderòn, Racine, Corneille, Goethe, Schiller, Kleist, Victor Hugo, Claudel, Musset, Camus, Jean-Paul Sartre, Bertolt Brecht. Inevitavelmente, William Shakesperare, que tem uma grande lista de peças de temática histórica com a qual pretendeu rever a História Inglesa, e não só, e mostrar como o homem se entrega, desde sempre, a intermináveis e frequentemente sangrentas guerras pelo poder. O que há de comum, em todos estes autores, é que os seus protagonistas surgem como sujeitos mais ou menos passivos perante as circunstâncias históricas em que vivem. Devido à sua natureza, porém, destacam-se do comum dos mortais – para o bem ou para o mal – ao tomarem atitudes que os distinguem. Annie Silva Pais, por exemplo, a heroína de “A Filha Rebelde”, é exemplar na sua coragem: ela distingue-se pela capacidade de abdicar do conforto e da segurança, em nome de um ideal superior. Margarida Fonseca Santos, que antes de escrever a peça estudou a fundo a vida desta mulher, acha que encontrou a explicação para uma tomada de decisão tão radical.

“Mais do que abraçar a revolução, Annie abraçou uma vida em que a sua contribuição era importante, em que ela fazia algo de útil para os outros”, explica, acrescentando que, em seu entender, Annie nunca se arrependeu da atitude tomada. “Quando, depois do 25 de Abril, ela regressou a Portugal para visitar o pai à prisão, poderia ter ficado. Mas ela nunca vacilou em relação às suas opções, ela já não conseguia largar Cuba. Era lá que estava o sonho, que tinha os seus amigos... Nunca mais se sentiu em casa em Portugal”. O historiador Pedro Dias, ex-director da Torre do Tombo, lembra-se que, nos seus tempos de estudante, o nome de Annie Silva Pais era sinónimo de rebeldia e capacidade de luta. “Annie era uma espécie de heroína da nossa juventude. Quando muitos de nós não tínhamos a noção daquilo que resultaria da revolução cubana e ainda víamos o acontecimento com um certo romantismo. Quando soubemos que a filha do Silva Pais estava implicada na queda do Fulgencio Batista, ela tornou-se uma figura de romance”, recorda. Não tendo ainda visto o espectáculo que está em cena no palco do Nacional, diz que tem alguma expectativa face ao mesmo, embora olhe sempre com reticências para os espectáculos ditos históricos. “Claro que a História pode servir de base para o teatro... ‘A Mãe Coragem’, do Brecht, por exemplo, é um texto importante para a compreensão daquilo que foi a Guerra dos 30 Anos e da forma como as pessoas se comportam em determinados contextos, mas é bom que nunca se confundam as coisas e que nunca se faça ou veja espectáculos de teatro com a pretensão de quem está a fazer ou a assistir à História”, remata.


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Dossier: o palco como espaço de memória >

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© Paulo Nuno Silva

Demarcy e o 25 de Abril

O público de teatro conhece o nome de Richard Demarcy pelos espectáculos que volta e meia apresenta nos palcos portugueses. Os estudiosos têm, no seu livro “Eléments pour une Sociologie du Théâtre” uma referência incontornável dos estudos teatrais: é uma obra imprescindível em qualquer biblioteca de teatro que se preze. Mas Richard Demarcy, pai do encenador Emmanuel Demarcy-Mota, define-se, antes de mais, como um amigo de Portugal, um homem que acompanhou de perto – e com entusiasmo – a Revolução Portuguesa e que deu o seu contributo para o enriquecimento da nossa cultura teatral. Em 1976, publicava, em colaboração com a mulher, Teresa Motta, e sob a chancela da Centelha (de Coimbra), “Fábulas sobre a Revolução Portuguesa”, um livro que reúne quatro peças de teatro sobre a temática revolucionária e que bem ilustram as suas posições face aos acontecimentos do antes e do pós 25 de Abril. Ao Jornal do Teatro, o autor – que fala português, apesar de um sotaque fortemente arranhado – contou que a primeira das peças, “A Noite de 28 de Setembro”, assinalou a abertura oficial do Cendrev – Centro Dramático de Évora, uma das primeiras experiências de descentralização cultural no nosso País, a funcionar desde o início no Teatro Garcia de Resende. “Foi uma estreia muito especial”, recorda o teatrólogo, que então dirigiu nomes históricos do nosso teatro, como Mário Barradas, Luís Varela ou a própria Teresa Motta. “Entravam dez actores nesse espectáculo e todos eles fizeram grandes carreiras no teatro português”, conta-nos. A segunda peça, “Quatro Soldados e um Acordeão”, estreada na Comuna, marcou a estreia teatral de um actor bem conhecido no panorama teatral português: Diogo Dória, cujo pai não gostou muito do que viu. “Lembro que o pai do Diogo veio falar comigo no fim do espectáculo e manifestou o seu desacordo face às ideias que eu expunha na peça… Mas gostou do estilo: disse-me que lhe lembrava as peças de Corneille, e na verdade eu escrevi esse texto de acordo com os cânones clássicos. Um bocadinho como Brecht, que quando escreveu ‘Horácios e Coriácios’ usou um estilo antigo, à moda de Horácio…”

O espectáculo acabaria por viajar até ao Festival de Outono de Paris, onde foi muito elogiado pelo crítico Michel Courneau (“Le Nouvel Observateur” e “Le Monde”) e visto por Carlos Fragateiro, na altura ainda estudante. “O Fragateiro esteve connosco em Paris, nessa altura, e foi um momento histórico: o Courneau, que morreu em Fevereiro deste ano e que era uma referência da crítica de teatro e de cinema, disse muito bem do espectáculo, o que constituiu para nós um grande motivo de orgulho e um incentivo enorme.” As outras duas peças da tetralogia – “As Vacas Cujancas” e “Barracas – Ocupação” – foram estreadas no âmbito do prestigiado Festival de Avignon. A primeira, que nos mostra a luta dos trabalhadores rurais contra os latifundiários, vai conhecer, brevemente, uma nova montagem no Brasil. “Há cerca de dois meses, telefonaram-me do Brasil a pedir autorização para montar a peça lá, uma vez que estão a braços com uma Reforma Agrária. Disse-lhes logo que sim e que podiam fazer qualquer alteração que achassem necessária ao texto.” Quanto a “Barracas – Ocupação”, assinalou a estreia de Emmanuel Demarcy-Mota como actor. “A peça conta a história de uma família que, graças à ajuda dos soldados, ocupa uma casa vazia e deixa de viver numa barraca. O meu filho fazia parte do elenco de Avignon, e manifestou desde logo o seu talento…” Demarcy, que é um praticante convicto do teatro de tema histórico, diz que a Revolução dos Cravos foi um dos momentos históricos mais inspiradores que teve a oportunidade de viver, mas hoje continua a olhar à sua volta e a escrever sobre tudo o que o perturba ou entusiasma. Acaba, por exemplo, de escrever uma peça sobre a morte trágica de um africano que, na ânsia de vir para a Europa, se escondeu na parte de um avião que transporta as cargas e acabou por morrer, congelado. A sua história cruza-se com a de um outro jovem que morreu numa batalha, nas ruas. “A peça chamase ‘Vie Curtes’, ou seja, ‘Vidas Curtas’ e questiona-nos sobre a nossa responsabilidade, enquanto civilização, por estas duas mortes inúteis”, explica Demarcy, que

também quer escrever sobre o recente levantamento de jovens nos subúrbios de Paris. “É preciso contar a verdade sobre os acontecimentos de Paris: a revolta começou quando dois jovens, que vinham de um jogo de futebol, foram perseguidos pela polícia e, para fugirem a um interrogatório sem sentido, se meteram numa central eléctrica e morreram electrocutados.” Tudo o que acontece à nossa volta é, para Richard Demarcy, material potencial para o teatro. “Se o cinema está constantemente a rever a História, não vejo porque é que o teatro não o há-de-fazer”, diz-nos. “Acho que os dramaturgos têm medo de abordar questões que possam ser polémicas, mas acredito que o público tem muita apetência por essas temáticas. O público gosta de reconhecer, no palco, aquilo que acaba de acontecer.”

Teatro Garcia de Resende (em cima) “A Noite de 28 de Setembro” Cendrev (em baixo)


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TNDMII 09

B. B. Bestas Bestiais >

Um mergulho na decadência

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Estreado a 29 de Março na Sala Estúdio do Teatro Nacional, “B.B. Bestas Bestiais”, de Virgílio Almeida, é um texto que retrata o ambiente de um reality-show. Um espectáculo que se revela uma lição sobre os próprios limites da Humanidade Ricardo Paulouro

Virgílio Almeida escreve para teatro há oito anos. De todas as peças que escreveu considera que “B.B. Bestas Bestiais” é um “soco no estômago” talvez porque nela somos confrontados com aquilo que mais nos assusta: os dois rostos do ser humano, o seu lado mais cruel e, simultaneamente, a sua humanidade, o saber dar-se ao outro. “Foi uma ideia que me assaltou quando, um dia, me deparei com a exibição de um filme do Sydney Pollack que, em Portugal, foi traduzido como ‘Os Cavalos Também se Abatem’ e que gira em torno de uma maratona de dança, nos anos 30, que é feita nos Estados Unidos. À medida que o filme ia evoluindo comecei a distanciar-me e aos poucos deixei de ver a protagonista, Jane Fonda, para começar a ouvir vozes de cidadãos que estavam a participar no primeiro Big Brother, em Portugal”, explica o dramaturgo. Não estranhe por isso o espectador se se deixar contagiar pelo ritmo inebriante da peça. Os concorrentes deste reality-show no palco dançam há vinte e sete dias e vale tudo, menos parar. Dora Bernardo, Patrícia Bull, Carlos Gomes, Adriano Luz e Daniel Martinho são manipulados pelo sarcástico Dj Big Bang, uma personagem interpretada pelo actor João Reis. Para Virgílio Almeida este Dj, mestre-de-cerimónias e, simultaneamente, “orquestra” incute na peça o carácter mais

contemporâneo que o autor, em conjunto com o encenador José Neves, lhe quiseram imprimir: “Hoje saímos à noite e nas discotecas encontramos Djs. Para mim fazia todo o sentido trazer para esta peça toda essa contemporaneidade. Este Dj não lança apenas palavras mas lança música, como se a música fossem dardos e, ao mesmo tempo, pétalas de rosa. Esta personagem incute na peça o carácter manipulatório aliado ao som urbano, aquela sonoridade que não esperamos num espectáculo tradicional de teatro.” Ao ritmo da batida mais dura, ao longo da peça vamos ouvindo frases soltas de Mao Tse Tung, Freud ou Octávio Paz. Um desequilíbrio propositadamente conseguido, reforçado pelo contributo individual de cada actor, no entender de Virgílio Almeida: “a proposta de representação que cada actor trouxe valorizou muito esse lado surpreendente, estranho, às vezes assustador. Mais uma vez, estamos novamente a pisar o risco: a proposta dos actores vai no sentido de nos dizer «não venham à espera do cidadão dos reality shows. Aqui temos ‘outra coisa’ que talvez seja importante para o vosso universo de reflexão» ”. A pouco e pouco desperta no espectador o desejo voyeurista de tudo ver e saber. Na verdade, todos vêem qualquer coisa, até as próprias personagens que, progressivamente, se olham entre

si com maior profundidade. Homens e mulheres desesperados por mudarem de vida, por encontrarem os escassos segundos de fama, desfilam e ‘combatem’ num ringue de boxe. “Uma procissão de misérias humanas”, segundo o autor, que serve o intuito de fazer desta peça uma luta pela sobrevivência individual: “provavelmente elas [as personagens] são assim tão desesperadas e cruas para eu poder mostrar que ainda têm algo que é nobre, o seu lado mais bonito que não querem mostrar aos outros.” “De bestial a besta vai um passo…”, isto é, a máscara que reluz esconde, por vezes, os nossos instintos mais animais. Um verdadeiro “mergulho na decadência”, próprio de uma sociedade que se deixa conduzir pelos movimentos mediáticos, que questiona os seus limites, entre o humano e o desumano, entre o poético e o cruel. Se é certo que o teatro deve estar ligado aos momentos mais marcantes da sociedade, Virgílio Almeida acha que esta pode ser uma aposta conseguida pois “B. B. Bestas Bestiais” pretende ser uma pequena sirene na vida das pessoas, que toca… não sei se vai tocar forte ou de forma imperceptível… mas é um indicador de uma sociedade que não está necessariamente a evoluir mas sim a afundar-se progressivamente.”

Seis estilistas para seis actores Cada actor tem, nesta peça, um trabalho fundamental, quer em termos de representação, quer na construção do próprio espectáculo. Ou não fosse também esta uma peça inovadora no que diz respeito aos figurinos. Cada um dos actores foi assim convidado a escolher um estilista. Rosa Bernardo, Margarida Alfacinha, Ana Vaz, Dino Alves, António Gracias e Nuno Blue desenvolveram um trabalho de criação para os actores Daniel Martinho, Dora Bernardo, Adriano Luz, João Reis, Carlos Gomes e Patrícia Bull, respectivamente. Todos eles estudaram cada uma das personagens e nelas foram beber a inspiração. As opções estéticas foram determinadas quer pelo físico de cada um, quer pela postura em palco.


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> Contos

de Shakespeare

Os Clássicos pensados para os mais jovens

Pequenos Grandes Contos Contar Shakespeare é sempre um desafio, sobretudo a jovens e crianças, mas a sua literatura continua a fazer-nos sonhar. Estas são histórias que já fizeram História Margarida Gil dos Reis Desengane-se quem pensa que Shakespeare se destina apenas a adultos. O riquíssimo universo shakespeariano continua a provar a universalidade da sua escrita. Disso é um bom exemplo estes “Contos” de Shakespeare, com encenação e dramaturgia do argentino Claudio Hochman. Neste espectáculo, opta-se pela contemporaneidade na construção do mesmo, ultrapassando qualquer complexidade dos textos do dramaturgo inglês. Conduzido

de forma lúdica e bem-humorada, estes “Contos” ensinam valores importantes aos mais pequenos e estimulam a sensibilidade dos mais graúdos. As personagens imortalizadas por Shakespeare continuam hoje a ter uma actualidade surpreendente, mostrando-nos como o ser humano será sempre o mesmo. Hochman criou, por isso, um espectáculo que nos transmite a sabedoria, a humanidade e os valores do texto shakespeariano, dirigindo-se a

Aprender o mais cedo possível Ao longo dos anos, muitas têm sido as experiências que têm tentando aproximar as obras de William Shakespeare aos públicos mais jovens: um pouco por todo o Mundo publicam-se versões simplificadas das peças do bardo isabelino – da mesma forma que se publicam as histórias da Bíblia – para que os leitores mais novos possam apreciar, o quanto antes, a riqueza deste património inestimável. Em Inglaterra há várias companhias que se especializaram em fazer Shakespeare para públicos mais jovens, puxando pela imaginação para que as histórias cheguem de forma apetecível a crianças que ainda estão a aprender a ser espectadores de teatro e que, acima de tudo, é preciso cativar e nunca aborrecer. E se há histórias aparentemente mais acessíveis aos mais novos – como é o caso de “Romeu e Julieta”, uma paixão

um público diversificado, onde as crianças e os jovens têm lugar reservado. Quatro actores contam, cantam e dizem algumas das mais belas aventuras, como se cada uma fosse uma peça de um puzzle que se vai construindo aos olhos do espectador. A engenhosa solução cénica (cenografia de Daniela Roxo) – doze cubos que se transformam em vários cenários – e a composição musical de Daniel Schvetz ajudam-nos a compreen-

der como a imaginação é aqui o principal ingrediente. Amores, encontros e desencontros, ora com um sabor a comédia, ora a tragédia, levam-nos a saltar do reino da Dinamarca para a cidade de Verona, bem no centro da luta entre as famílias rivais, Capuletos e Montéquios. Dos amores de Romeu e Julieta, espreitamos a corte do rei Lear e, quando damos por nós, estamos imersos no imaginário shakespeariano. “Júlio César”, “Otelo”,

que nem a morte conseguiu apagar e que nunca deixa de comover – há outras lições inestimáveis a retirar dos textos shakespearianos e com os quais as crianças tanto podem aprender. “Rei Lear”, por exemplo, é uma comovente história sobre o poder do amor filial e apela à nossa maior atenção à família: os membros da nossa família precisam de atenção e carinho. As consequências da desatenção podem ser fatais. E que dizer de “Hamlet”? A peça que Shakespeare terá, talvez, escrito em memória do seu filho Hamnet, morto com apenas 11 anos, de causas desconhecidas. Eis a história de um jovem que enlouquece porque sente a pressão de vingar o assassínio do pai mas que acabará por provocar uma onda de destruição à sua volta. Se “A Fera Amansada” pode dar algumas pistas aos rapazes sobre a forma de conquistar uma mulher, “Otelo” é um alerta sobre a capacidade destrutiva de um sentimento chamado

“Comédia de Enganos”, “Como Queiras”, “Fera Amansada”, “Muito Barulho para Nada” ou “A Tempestade”, que teima sempre em começar, fazem-nos desconfiar quem está mais atento, crianças ou adultos. “O teatro não é verdade / são tudo histórias da vida”. Ilusão e realidade, ou não será também a realidade ilusão (?), apetece-nos quase dizer, como num passe de magia: Abracadabra!

ciúme: Otelo ama a bela Desdémona e é amado por ela, mas o ciúme vai cegá-lo ao ponto de matar aquilo de que mais gosta. E, é claro, há “A Tempestade”, considerada por muitos especialistas como a última peça escrita por William Shakespeare – aquela em que se teria retratado a si próprio na figura de um mágico – e na qual parece despedir-se do seu público. É a peça que, durante toda a acção destes “Contos”, estará sempre para começar, mas será eternamente interrompida. O espectáculo de Claudio Hochman apresenta aos mais jovens, este manancial inesgotável de sabedoria e de prazer. A.R.S.


Calendário SALA GARRETT

SALA ESTÚDIO

SALÃO NOBRE

ÁTRIO

TEATRO DA POLITÉCNICA

ABRIL 01DOM 02SEG 03TER 04QUA 05QUI 06SEX 07SÁB 08DOM 09SEG 10TER 11QUA 12QUI 13SEX 14SÁB 15DOM 16SEG 17TER 18QUA 19QUI 20SEX 21SÁB 22DOM 23SEG 24TER 25QUA 26QUI 27SEX 28SÁB 29DOM 30SEG

A Filha Rebelde 16h

Contos de Shakespeare 11h

B.B. Bestas Bestiais 16h15

A Filha Rebelde 21h30

B.B. Bestas Bestiais 21h45

A Filha Rebelde 21h30

Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

A Filha Rebelde 21h30

Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

A Filha Rebelde 21h30

Contos de Shakespeare 16h

B.B. Bestas Bestiais 21h45

A Filha Rebelde 16h

Contos de Shakespeare 11h

B.B. Bestas Bestiais 16h15

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Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

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Contos de Shakespeare 10h45*

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Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45 B.B. Bestas Bestiais 21h45 Contos de Shakespeare 16h

A Filha Rebelde 16h

Contos de Shakespeare 11h

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Antena 2 concerto 19h

A Filha Rebelde 21h30

Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

Antena 2 concerto 19h

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Antena 2 concerto 19h

A Filha Rebelde 21h30

Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

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Contos de Shakespeare 16h

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Contos de Shakespeare 11h

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Férias Grandes com Salazar 21h30

A Filha Rebelde 21h30

B.B. Bestas Bestiais 21h45

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Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

Vinte e Zinco 22h

Férias Grandes com Salazar 21h30

A Filha Rebelde 21h30

Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

Vinte e Zinco 22h

Férias Grandes com Salazar 21h30

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Vinte e Zinco 22h

Férias Grandes com Salazar 21h30

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Contos de Shakespeare 16h

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Vinte e Zinco 22h

Férias Grandes com Salazar 16h e 21h30

A Filha Rebelde 16h

Contos de Shakespeare 11h

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* SOB MARCAÇÃO

SALA GARRETT SALA ESTÚDIO SALÃO NOBRE ÁTRIO

TEATRO DA POLITÉCNICA

MAIO 01TER 02QUA 03QUI 04SEX 05SÁB 06DOM 07SEG 08TER 09QUA 10QUI 11SEX 12SÁB 13DOM 14SEG 15TER 16QUA 17QUI 18SEX 19SÁB 20DOM 21SEG 22TER 23QUA 24QUI 25SEX 26SÁB 27DOM 28SEG 29TER 30QUA 31QUI

A Filha Rebelde 21h30

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Contos de Shakespeare 10h45*

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Contos de Shakespeare 16h

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Férias Grandes com Salazar 16h e 21h30

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Contos de Shakespeare 11h

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Contos de Shakespeare 16h

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Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

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Contos de Shakespeare 10h45*

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Contos de Shakespeare 11h

Contos de Shakespeare 16h

B.B. Bestas Bestiais 16h15

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Contos de Shakespeare 11h

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Vinte e Zinco 16h30

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Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

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Contos de Shakespeare 10h45* B.B. Bestas Bestiais 21h45

Vinte e Zinco 22h

* SOB MARCAÇÃO

Preços> Sala Garrett de €12,50 a €15,00 <> Sala Estúdio Descontos> Dia do Espectador (5ª feiras) - 50% de desconto Bilhete do Dia - entre as 14h00 e 15h00 - €5,00 (limite 60 bilhetes Sala Garrett; 10 bilhetes Sala Estúdio)

€10,00 <> Salão Nobre €12,00 <> Átrio €8,00

Até 25 anos, + de 65 anos e grupos + 15 pessoas - 30% de desconto Descontos para grupos - entre 30 a 40% de desconto

RESERVAS>

Reservas@teatro-dmaria.pt Reservas> 21 325 08 35 Informações> 21 325 08 27 /8 www.teatro-dmaria.pt


A Filha Rebelde

M/12

Até 20 Maio Sala GARRETT 3ª a Sáb. 21H30 Dom. 16H00 de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz versão Margarida Fonseca Santos encenação e dramaturgia Helena Pimenta produção TNDM II

B.B. Bestas Bestiais

M/16

Até 3 Junho Sala Estúdio 3ª a Sáb. 21H45 Dom. 16H15 de Virgílio Almeida encenação José Neves produção TNDM II e Klassikus

Férias Grandes com Salazar

M/16

24 Abril a 13 Maio TEATRO DA POLITÉCNICA 3ª a Sáb. 21H30 SÁB e Dom. 16H00 de Manuel Martinez Mediero encenação José Carretas co-produção TNDM II e Teatro das Beiras em colaboração Junta de Extremadura

Vinte e Zinco

M/16

25 Abril a 1 Julho SALão nobre 3ª a Sáb. 22H00 Dom. 16H30 de Mia Couto encenação Maria João Rocha produção TNDM II

Contos de Shakespeare

M/6

Até 3 Junho SALA GARRETT Sáb. 16H00 Dom. 11H00 > 4ª a 6.ª (escolas, sob marcação) encenação e dramaturgia Claudio Hochman produção TNDM II

Memorial do Convento

M/12

Até 30 Junho Palácio Nacional de Mafra Sáb. 16H00 (durante a semana para escolas, sob marcação) de José Saramago adaptação dramatúrgica Filomena Oliveira e Miguel Real encenação Filomena Oliveira produção TNDM II em colaboração Palácio Nacional de Mafra


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