Revistos Elos . Dezembro de 2012

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Você foi capista bastante conhecido. Continua criando capas? Não. Trabalhei para a JUERP [NdaR: Editora dos batistas da Convenção Batista Brasileira], por 10 anos. Fiz capas de livros e revistas. Estive na Francisco Alves, Editora do Autor, Manchete... Hoje não estou mais ligado a editoras, não faço mais capas de livros. Só trabalho com pintura. A vida de pintor é fácil? Dificílima, principalmente hoje em dia.

Você poderia falar um pouco de sua técnica de pintura? Trabalhei com espátula. Para usar esta técnica você precisa ter conhecimento de desenho, perspectiva, perspectiva aérea para saber como colocar a quantidade de tinta correta que permita uma visualização ótima do desenho à determinada distância. É uma técnica bem mais difícil do que a que uso, hoje, com pincel. Passei da fase da espátula. Vim da publicidade. Fazia desenhos minuciosos, perfeitos. Desenhos clássicos, exatos. Isso me ajudou muito com a espátula. Também fiz borrões bem impressionistas. Hoje o impressionismo usa o a cor preta. O verdadeiro impressionista trabalha com luz e sombra, sem preto. No mercado publicitário você ficou quanto tempo? Trinta e três anos. Em 1962, como disse, comecei a pintar

profissionalmente, mas me mantinha, mesmo, com o trabalho como publicitário. A pintura funcionava, também, como um lenitivo, uma válvula de escape pros problemas da publicidade que não eram poucos. A pintura era um hobby, mas a partir de 1962 comecei a fazer os dois. Em 1986, enfim, larguei completamente a publicidade. No exterior, a vida do pintor é mais fácil? Por quê? França e Itália são o berço da arte. No Louvre, você vê na fila de entrada crianças de 8, 10 anos ávidas para entrarem no museu. As crianças aqui não são despertadas para a arte. É falta de iniciativa de alguém: pais, autoridades, não sei. Alguém está falhando. Agora tem se falado em contemporâneo: pinturas contemporâneas. São pinturas loucas. Fui a algumas exposições de contemporâneos e, sinceramente... De qualquer forma, no Exterior o pintor é mais valorizado. Percebo maior admiração ao meu trabalho. Há apoio, incentivo. As obras que produzimos são colocadas no mercado. Você volta animado e quando chega as pessoas não dão a mínima.

entrevista

Qual seu estilo de pintura? Sou autodidata. Essa pergunta me foi feita ano após ano nesses 50 anos. Sempre respondo, quando me perguntam qual meu estilo, que “Eu sou Cecconi”. Fora a brincadeira, eu estaria dentro da escola dos impressionistas figurativos, mas faço abstratos, também.

. entrevista

Quando você descobriu o talento para a pintura? Mamãe foi visitar uma amiga e levou a mim e minha irmã. Num determinado momento, a amiga virou-se para mamãe e disse: “Vá ver o que seu filho está fazendo”. Eu estava na sala, absorto, olhando os quadros. Tinha, então, três anos. Claro que não lembro disso. Mamãe contava essa história. Adolescente, quis ser pintor. A família foi toda contra. “Isso é coisa de boêmio”, diziam. Estudei, entrei para a faculdade, cursei Propaganda e Marketing. Em 1962, enfim, libertei-me dos parentes e fui ser pintor. Comecei a pintar, profissionalmente, em 1962, mesmo sem deixar a propaganda. Trabalhava com criação e arte. De 1962 a 2012, 50 anos de pintura.

Fotos: Marcelo Belchior

Revista Elos | Edição 05 . Dezembro 2012 |

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