3 minute read

Sardinha: A rainha da mesa portuguesa

A nossa sardinha goza de boa reputação dentro e fora de portas. O reconhecimento é antigo, como comprova o recenseamento de peixes do litoral do desembargador Duarte Nunes de Leão, no século XVI: “No mesmo mar de Setúbal e no de Sesimbra, sua vizinha, há a sardinha mais saborosa que se pode dar”. Consta que, em 1855, as sardinhas de Setúbal alcançaram menção honrosa na Exposição Internacional de Paris.

Associada à alimentação popular, mas cada vez mais utilizada por grandes chefs, é iguaria indispensável nas festas populares de junho: Assada na brasa, sobre o pão e com pimentos assados, como manda a tradição.

Advertisement

A abundância deste peixe na costa portuguesa e a grande tradição piscatória explicam a forte presença da sardinha à mesa dos portugueses. É o peixe que junta o melhor que Portugal tem, porque se come no Verão, e porque está ligada à nossa identidade.

Falar em Santos Populares é, pois, falar da nossa cultura, da nossa sardinha, de Portugalidade. E é nos bairros mais antigos que as ruas se enchem de animação, decoradas com manjericos, balões e diversos motivos feitos em papel colorido, remetendo-nos para um ambiente de alegria, música e cor, que se mistura com o fumo das fogueiras e das sardinhas assadas na brasa.

De corpo alongado, sub-cilíndrico, azul ou verde prateado no dorso e prateado no ventre e sem raios espinhosos é a nossa sardinha. E quem não gosta da típica sardinha assada?

Durante séculos, as sardinhas exerceram um papel importante nos hábitos alimentares dos portugueses. Um alimento associado à alimentação popular, onde, outrora, muitos comiam apenas uma sardinha por refeição, ou até a dividiam com os demais elementos da família. Os rapazes ficavam com a cauda, por ter mais carne e por terem eles trabalhos mais pesados.

A Sardinha era um peixe que estava relacionado a classes mais desfavorecidas. Por ser um peixe abundante, que há por toda a costa, era mais barato e seguia para o interior também em conserva. Por isso é que se tornou um peixe popular, o que também explica que se associe às celebrações populares. Era costume esfregar a sardinha no pão para dar sabor, como se diz “fazer o peixe render”. Hoje, as sardinhas são uma iguaria, apreciada por todos.

O único tempero que se quer é sal grosso e as sardinhas só devem ser salgadas pouco tempo antes de ir para a grelha, que se quer bem quente. O segredo é saber grelhá-la na perfeição. Tipicamente, são servidas com batata cozida e uma salada de pimentos com cebola ou simplesmente sobre uma fatia de pão, comida à mão.

E as festas dos Santos Populares não seriam as mesmas sem o cheirinho a sardinhas no ar. Como diz o ditado: “No São João, a sardinha pinga no pão”. A verdade é que pinga durante o verão inteiro. Embebe o pão com a gordura que liberta tornando um petisco inigualável. É nesta altura do ano que a sardinha aumenta a sua percentagem de gordura sendo que a melhor época é no final de julho, agosto e setembro.

A sardinha é a rainha das mesas portuguesas, com certeza. É tradição. É momento de união.

This article is from: