Revista Ba #12

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por

agosto/setembro 2015#12 R$ 10

mariana bertolucci

DEISE NUNES, A ETERNA MISS A história da primeira e única Miss Brasil negra CLOSE Livia Marcantonio Bortoncello

bá, que lugar A nova carniceria da cidade




sumário

Eclético coletivo

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Cá estamos nós com mais uma Revista Bá, revelando histórias de outro coletivo de pessoas para lá de especiais. Uma delas é a porto-alegrense Deise Nunes, única negra eleita Miss Brasil da história do nosso país. Não por acaso, o local onde está organizada a memória gaúcha, o Memorial do Rio Grande do Sul, foi o cenário do ensaio escolhido por Tonico Alvares para as fotos da eterna miss. Ela nos mostrou em gentileza por que rainhas não perdem a majestade. Simples e direta, Deise divide conosco, a seguir, a bonita e forte história da sua vida. Como você também verá nas próximas páginas, ela ficou ainda mais bela com a make de André Guerrero e os cabelos de Paullo Czar. Nas seções Ping e Pong, a Bá 12 ainda traz as incríveis histórias de amor de Cida Pimentel pelo rock e do triatleta Walter Tlaija pelo esporte. Nossas guerreiras escritoras nos deliciam cada uma à sua peculiar maneira: Ana Mariano a passear densamente pelos mistérios do mês de agosto e Claudia Tajes a narrar com seu encantado bom humor a experiência de usar óculos. Sempre interessados no que diz o “olhar”, somamos ao nosso, nessa dúzia de edições, outro apurado e eclético olhar sobre a vida: o de Julia Ramos, que viaja o mundo com a mochila nas costas, uma câmera na mão e muitos sonhos na cabeça. Formada em cinema e apaixonada por fotografia, ela vai dividir conosco um pouco do que o mundo está lhe apresentando. Recebemos também no nosso time de colunistas Laura Bier Moreira com suas Roubadinhas e seu iluminado e alegre estilo de vida.

SEM PERDER a MAJESTADE

editorial

Boa eclética leitura! Mariana Bertolucci

Obrigada, Memorial do Rio Grande do Sul e Governo do Estado do RS, por abrirem gentilmente suas portas. E obrigada pelo cari nho, marcas gaúchas parceiras da Revista Bá que participam deste ensaio de capa: Cristófoli, Essere Joias, Pom péia, St.Trois e TPD The Perfect Dress.

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Resignada beleza

Fotos da capa: Tonico Alvares


28 Sabor e sim patia iti nerantes

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100

Carniceria cool

Gata guerreira

Direção

Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Mariana Bertolucci

ASSADO, AFETO e ESTIlo

Arte e diagramação

Auracebio Pereira

FIGHT TO FIT

TUCA DELíCIA

Editora

Revisão

Daniela Damaris Neu Comercial

Denise Dias denisebcdias@gmail.com Fone (51) 9368-4664 Editora do site da Bá

www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais

Astral Consultoria de Marketing por Julia Cappellari Laks julia@astralconsultoria.com

Liberdade criativa

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Sonhos na mochila

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LINDA E CLÁSSICA LIVIA

EDUARDO E MÔNICA PELO MUNDO

TRI-JULIA

Colunistas

Estética do requi nte

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Ana Mariano Andréa Back André Ghem Andre Guerrero Angela Xavier Claudia Tajes Claudia Coutinho Cristie Boff Fabiana Fagundes Fernando Ernesto Corrêa Flavia Mello Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro e Carol Zanon Julia Ramos Ivan Mattos Laura Bier Moreira Ligia Nery Livia Chaves Barcellos Marcelo Bragagnolo Marco Antônio Campos Orestes de Andrade Jr. Silvana Porto Corrêa Verônica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno A revista Bá não se responsabiliza pelas opiniões expressas nos artigos assinados. Elas são de |5 responsabilidade de seus autores. Todos os direitos reservados.


capa

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Sem perder a majestade Mariana Bertolucci Fotos Tonico Alvares

Reza a lenda que a primeira frase da mãe da miss, Ana Maria Nunes, para a madrinha da filha, ainda no hospital, foi: “Pega a tua afilhada nos braços, a futura Miss Brasil”. Entre o primeiro combate da Guerra do Vietnã e o emblemático maio de 1968, em que estudantes e operários ganharam as ruas contra os regimes ditatoriais de seus governos, no dia 30 de março, nascia, na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Deise Nunes, a única negra a vencer o concurso Miss Brasil. Mesmo ano em que foi assassinado Martin Luther King, que ao lado de Nelson Mandela simboliza a luta contra o preconceito racial. Primogênita da jovem solteira Ana Maria, ela cresceu ao lado da mãe, que lavava roupa para aumentar o orçamento. Empregada doméstica, Ana Maria criou e educou a futura rainha da beleza com o essencial, e com dignidade. Deise terminou os estudos em 1985, no Colégio Santa Inês. No ano seguinte, era a candidata de Canela ao concurso de Miss Rio Grande do Sul. Por que Canela? “Era onde eu sempre passava as férias, na casa dos meus tios. Depois que fui Rainha das Piscinas, minha mãe tentou pedir apoio para o então prefeito Alceu Collares, mas eles não tiveram muito interesse, e ela teve a ideia de eu concorrer por Canela. A cidade toda me apoiou e me ajudou em tudo o que eu precisava.” Eleita Miss Rio Grande do Sul, a quarta gaúcha a ser coroada Miss Brasil e que precedeu uma enxurrada de conterrâneas eleitas, a um


mês do concurso, trabalhava como nunca em feiras de moda no país todo: “Fui com a minha mãe de ônibus. Me lembro de levar um dia inteiro para atravessar a Bahia no calor do cão. Era sorvete, picolé, palavras cruzadas, banho nas paradas e dormir o tempo inteiro”. A volta foi aos sobressaltos, pois elas souberam no Nordeste que Deise tinha poucos dias para estar em São Paulo e concorrer ao título de beleza que viria mudar sua vida. A incansável Ana Maria teve que parcelar uma passagem de avião ou a futura Miss Brasil não chegaria a tempo. Depois de aprender a descer escadas com classe e fazer a viradinha do pé e do quadril, para não mostrar o vão entre as pernas, com o colunista e amigo Laney Langaro, no dia 17 de maio de 1986, Deise foi eleita a nova Miss Brasil. Dona do cetro, do trono e da coroa, a musa negra desfilou para Guy Laroche e Paco Rabanne, foi jurada cativa no Cassino do Chacrinha no Teatro Phoenix, fez participações especiais nos Trapalhões, em minisséries da Globo e a abertura da novela Brega e Chique nos quatro anos em que morou em São Paulo e no Rio de Janeiro: “Foi divertido. Os estilistas para quem desfilei são mais antigos, mas é o meu gosto. Sou muito mais clássica do que modernosa”. Elegante e simples. Misteriosa e objetiva. Altiva e popular. Deise desfilava com a mesma e impecável destreza com um traje de alta costura ou de biquíni bordado e sandália de prata na Sapucaí, onde durante anos foi madrinha e rainha da União da Ilha pelo Carnaval carioca: “Quando parei com o tal do Carnaval, o Lair ficou doente, porque adorava a função. Foi tudo meio rápido”, recorda ela. Assim como conheceu e casou com Lair Ferst, há 25 anos, com quem teve Pedro (23) e Júlia (21): “Nos conhecemos em agosto e começamos a namorar em outubro, quando já 8|

não estava mais com o Julio (Iglesias). Acho que minha mãe não gostou muito da troca, porque já me imaginava casada e morando em Miami, coisas de mãe. Brigamos e eu fugi. Perdemos tempo, sim, mas é o que se apresenta. Então, a gente tem é que saber viver”, diz a miss. MB Olhando para os últimos 30 anos, qual o teu sentimento? É de orgulho? Orgulho, sim. Eu tenho. Só acho que poderia ter sido miss com mais idade. Aos 18 anos, eu era muito menina. A minha maior dificuldade foi quando eu saí sozinha pela primeira vez do Brasil, para Caracas, para concorrer ao Miss Sudamérica. Não tínhamos condições financeiras para a minha mãe me acompanhar. Fiquei 15 dias na Venezuela e ali senti que era ainda muito imatura. Dependia muito da minha mãe, porque ela sempre esteve comigo em todos os lugares, viajava comigo para os trabalhos. Foi ela a tua superincentivadora? É, foi por ela que fui Miss Brasil, na verdade. Eu não queria mais saber de concurso, já estava desencantada. Queria fazer faculdade e seguir a carreira de modelo. Mas ela insistiu. O Rainha das Piscinas marcou. Muitas meninas que participaram do Miss Brasil também passaram pelo Rainha das Piscinas para ir para o estadual. Como se fosse um pré-requisito natural passar por um concurso para ir para o outro. Fiz a mesma trajetória que várias fizeram. A vocação para modelo ou miss apareceu quando? Dizem que eu era bem exibida, que gostava de me arrumar, ficar bonitinha. Me interessei pelas modelos vendo TV Mulher, da Marília Gabriela, com a Marta Suplicy. Tinha o quadro de moda, com Clodovil, em que apareciam os estilistas Ney


Galvão, Gregório Faganello. Eu via aquelas modelos com aquelas ombreiras e ficava encantada. Era uma coisa maravilhosa elas mostrando aquelas roupas lindas com toda a classe e elegância. Eu deveria ter 11 ou 12 anos e comecei a despertar para isso. Aos 14, a Elaine, das Malhas Elaine, me encontrou em um salão de beleza perto do Carnaval. Fui me maquiar para ir ao Baile Municipal, e ela estava lá e me viu. Lembro até hoje, eu sentada num sofazinho esperando a minha hora, e ela perguntou quantos anos

eu tinha e pediu para eu levantar para ver a minha altura. Perguntou se eu era modelo, e respondi que não. Ela então me olhou e disse: “Ah, mas então, tu vais desfilar para mim”. Assim foi. Na outra semana, fui conhecer a fábrica e comecei desfilando para a Elaine. Eu era a pessoa mais nervosa da face da Terra, e depois foi indo. Quais as tuas lembranças do início do concurso? Cheguei a São Paulo cansada. Havia trabalhado semanas antes |9


em pé nas feiras, estandes e desfiles. Já na chegada, caí dura na cama e me atrasei no dia seguinte. Silvio (Santos) estava no comando, era tudo bem organizado. Foram 15 dias hospedada em um hotel para entrevistas e provas. Tens amizades dessa época do concurso? Sim, duas não gostaram muito, mas a maioria ficou minha amiga. O que dizia teu coração? Estavas confiante? Não sentia nada relacionado a isso. Estava adorando tudo aquilo. Já sabia lidar com o grande público e não tinha muitos temores. A televisão também não me assustava. Acho que o que assusta mais todas as candidatas até hoje é a entrevista. Sentias que estavas prestes a te transformar na Miss Brasil? Tu sabes que não? É engraçado, minha mãe me ligava toda hora para perguntar como eu estava, se estava me alimentando, porque eu tinha muita facilidade para perder peso. Naquela época, as misses tinham de ter corpo. Para os padrões do concurso, eu era magra. Tomei até remédio para engordar. Fui para o concurso com cinco quilos a mais e perdi tudo lá, antes do concurso mesmo. A minha mãe perguntava quem eram as candidatas fortes, e eu respondia que muitas eram fortes. O Silvio mesmo nos ensaiou. Era exigente e parecia estar agitado e bravo naquele dia no Anhembi. A marcação toda era de salto alto, e os pés começaram a doer. Uma coisa é andar de salto alto, outra é ficar estátua, dói muito o pé. Chega uma hora em que tu não aguentas mais, muitas meninas foram para a enfermaria com dor nos pés, e, quando perguntamos se podíamos fazer a marcação sem saltos, ele disse imediatamente: “Não!”. Acho que estava 10 |

meio bravo, demitiu o melhor cinegrafista e teve de voltar atrás. Foi bacana, mas estávamos cansadas. Às 15h, ele começava a gravar o programa em ritmo de ao vivo que seria transmitido à noite. Depois que ganhei, foi um tumulto. Repórter, fotógrafo e meninas me abraçando. E o momento em que soubeste que eras Miss Brasil 1986? Eram 27, ficavam 12. Fiquei nas 12. Daí tu já pensas: “Ó, tenho chance”. Daí, das 12, fiquei entre as cinco, e pensei: “Opa. Agora o passo foi maior”. Quando chega nas cinco, zera tudo. E tudo é decidido em um único desfile para o júri. Acho que o que me ajudou foi ter sido modelo antes, tinha uma segurança muito forte no meu caminhar. Eu não tinha medo de nada.


O vestido longo de gala era bem ousado para a época, todo de tule branco, manga longa e um bordado no seio em tons de rosa. Todo transparente. Os concursos para Miss Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio eram feitos pelo SBT nos programas da emissora. Eles davam trajes típicos e vestidos de gala. O meu foi assinado pelo Haroldo Costa, o estilista do SBT. Ele desenhou, fez, e eu só fui provar. Era maravilhoso, só que embaixo tinha um tufão que tornava difícil caminhar. Não tinha como dar grandes passadas porque era muito tule. Mas aquilo não me assustava. O desfile para mim era a melhor parte. O Silvio abria os envelopes e falava as notas das cinco últimas. Abriu uma, abriu outra, ficamos eu e a Miss São Paulo. Até ali, a Miss Brasil era a Mato Grosso do Sul. Quando começou a abrir as minhas notas, só dava 10, 10, e meu coração já estava quase na boca, daqui a pouco entraram um oito e um sete. Começou a abrir São Paulo. Àquelas alturas, eu já estava acreditando que podia ganhar. Tava ali naquele sufoco, daí fiquei louca para ganhar. Comecei a entender pelas notas dela que eu estava na frente e pensei: “Ganhei esse negócio”. Então ele disse: “E a Miss Brasil é a Miss Rio Grande do Sul”. Como foi o período eleita? A Marcia Gabrielle foi uma miss muito atuante, fez muita coisa, badalou e levou o nome do concurso para vários lugares. Eu tinha a missão de não deixar o concurso se apagar. Quando passei a faixa para a Jaqueline, o Silvio me chamou no camarim, eu nem sabia que ele falava com as misses, e me disse: “Olha, eu te acompanhei e você levou o nome do concurso e eu fiquei muito feliz. Você ganhou dinheiro e viajou bastante?”, ele me perguntou. Respondi que sim, e que tinha sido muito legal, e que até fora do país

eu havia trabalhado. Foi um papo bacana, e eu vi que ele estava agradecido pela maneira, segundo ele, elegante com que eu levei e divulguei o nome do concurso. Não usávamos perfume porque o Silvio era alérgico. Fiquei apaixonada por ele. Silvio é um gênio. Conta um pouco sobre essa época, o ano em que levaste a faixa? Fui para São Paulo, porque lá funcionavam o escritório do Miss Brasil e o SBT. Para sair viajando de lá para o Brasil, tudo era mais prático. Viajei muito. Eu adorava, achava o máximo. Fui várias vezes para Goiânia, para Belém do Pará. Ao Acre, onde conheci o açaí. Adorava comer as coisas regionais, experimentar os sabores. Chegava e já perguntava: o que tem de regional aqui? Me apaixonei pelo tacacá, uma sopa de camarão com leite de coco. O pato à tucupi, os peixes em Manaus. É bom conhecer a cultura dos lugares. Aproveitaste as oportunidades de atuar e participar de programas de TV? Em dezembro de 1986, a minha mãe começou a insistir para eu mudar para o Rio. Achamos um apartamento, e surgiram oportunidades por causa da Rede Globo. Conheci o Chacrinha no casamento da Claudia Raia com o Alexandre Frota, na Candelária. Ele pediu meu telefone e disse que me ligaria para me convidar para ser jurada do programa. Nunca pensei que ele ia me procurar. Semanas depois, toca o telefone da minha casa, e era a produção do Chacrinha me convidando para ser jurada no final de semana no Teatro Phoenix. Fui várias vezes, e dali surgiram convites. Fiz Trapalhões e algumas minisséries da Globo. A abertura da novela Brega e Chique. Nunca pensei em ser atriz, acho que não tinha vontade, porque poderia ter feito um curso de teatro. | 11


Eu continuava viajando bastante como modelo e também como miss, porque, mesmo depois de passar o título, voltei a muitas cidades que visitei como miss. Eu gostava de fazer o que eu fazia. É verdade que achaste que ser a única negra foi determinante para vencer o Miss Brasil? Por que não surgiram outras negras depois de ti? Eu era a única diferente e era muito diferente. Tinha um cabelo enorme. Eram os anos 1980, tudo exagero, ombreirão, cabelão, maquiagem firme. Eu tinha aquilo. Eu era a única daquele jeito. Se eu fosse outra branca, seria mais uma, por isso digo que meu trunfo foi ser negra. A diferente. E por que não houve outras? Acho que por uma série de fatores. Era raro. Depois que fui Miss Brasil, as meninas negras começaram a aparecer nos concursos. Até então era muito mais difícil. Consideras-te um incentivo para essas meninas? Fui, sim. Um pouco, com certeza. Um sentimento veio com a minha exposição: “Ah, se a Deise conseguiu, também posso”. Mas não basta concorrer, é preciso ter educação, postura. Agora, aqui no Miss Rio Grande do Sul, três meninas negras estão participando. Acho ótimo, porque geralmente só tem uma. No Miss Mundo, em 1998 e 1999, foram duas negras, e antes da Leila houve outras misses negras. Não ficaria admirada se uma miss de origem oriental representasse o Brasil. Temos muitas colônias japonesas, elas nasceram aqui e são brasileiras. Ainda acho que vamos ter outra Miss Brasil negra. Ainda quero ver outra. Queria passar o meu legado. Fala um pouco da tua mãe? Minha mãe sempre batalhou muito, lavava roupa 12 |

para fora. Gostaria de ter sido jornalista, mas a vida não deu a ela essa oportunidade. Ela e meu pai me criaram com sacrifício. Minha história é bem estranha. Tenho um pai biológico e um que me criou. Digo que tive três pais: o que me fez, o que me criou e o meu avô. Meus pais são daqui. Tenho relação com os dois, mais com o que me criou, que é o pai do meu irmão. Meu pai biológico casou-se outra vez e tem um menino com a outra família dele. A minha mãe me teve quando ela tinha 21 anos. Quando o meu irmão nasceu, eu tinha 13 anos. E quando meu outro irmão nasceu, eu já tinha 21. A minha mãe mora no Rio desde que fomos para lá. A minha madrinha conta que, quando ela foi nos visitar no dia em que eu nasci, na Santa Casa, a enfermeira chegou comigo, e a minha mãe disse para ela: “Pega a tua afilhada e a futura Miss Brasil”. Como conheceste teu marido? Foi a Gorete, uma amiga em comum, que nos apresentou, em 1988. Sempre que vínhamos a Porto Alegre, nos encontrávamos. Lembro que era perto das eleições para prefeito, e queriam que eu fosse apoiar um candidato a vereador em Canela. Eu queria escapar, e contei isso para o Lair durante um jantar. Ele disse que não estava mais com a namorada e nos convidou para ir para a Oktoberfest. Eu também estava solteira e olhei para a minha mãe, e lá fomos nós para Blumenau. Lá, começamos a namorar e nunca mais nos separamos. Antes disso, tiveste um namoro com o cantor Julio Iglesias e com o Pelé? Não, com o Pelé foi marketing. Não entendi até hoje, até ele andou falando em uma época. Diziam que o Pelé não namorava negras depois do namoro com a Xuxa. Numa ocasião, fizemos umas fotos, e


Beleza: André Guerrero e Paullo Czar Essere Joias, Vestidos TPD The Perfect Dress, bolsa e pele St. Trois, sapatos Cristófoli e Pompéia


pronto, bastou e já inventam que namorei o Pelé. Já me atribuíram alguns. E o Julio? Um gentleman. Um cara formidável, um ser humano fantástico. Nos conhecemos no Rio. Fui a capa de um LP de Charm, uma música negra bem animada e que estava na moda. Fui capa de um LP da CBS, hoje Sony. Conheci e acabei ficando amiga de dois rapazes da gravadora que divulgaram o disco comigo. Eles que me convidaram para um coquetel com o Julio Iglesias. A minha mãe não quis ir, e eu fui. O Julio Iglesias apareceu rodeado de fotógrafos e repórteres. Eu, sentada estava, sentada fiquei. Ele deu boa-noite para todos, olhou para mim e disse: “Já te conheço, já te vi”. Até que o Ricardo, um dos meus amigos da gravadora, disse que eu era Miss Brasil, e ele disse que tinha assistido ao meu concurso de Miss Universo. Era dali que lembrava. Conversamos um pouco em espanhol. No outro dia, me liga o Ricardo e pergunta se eu podia acompanhar o Julio na Globo. Acabei indo encontrá-lo no hotel e fui com ele até a Globo. Duas semanas depois, ele me liga: “Olá, Deisse!” E disse que ia me mandar uma passagem para eu ir a Miami quando eu pudesse. Não conhecia Miami, lá fui eu. Eu o achava charmoso, bonitão, legal e bom papo. Quando vi, ele estava dentro do carro me esperando no aeroporto. Fomos para a casa dele, fiquei no quarto da filha. Fizemos uma matéria para o National Enquirer, um jornal de fofoca, e ele que chamou a jornalista. Voltei mais uma vez, quando fomos juntos ao show do Roberto Carlos de Rolls-Royce. Era muito chique, os holofotes eram todos para o bonito. No camarim, tiramos fotos com o Roberto e a Miriam e o Fittipaldi e a Tereza. Da outra vez que fui encontrá-lo, fomos para Los Angeles. Ele ia gravar e fazer um show com Stevie 14 |


Wonder. Quando fomos ao estúdio do Stevie Wonder, achei o máximo. Meu coração disparou, e pensei: “Meu Deus, vou ter um troço aqui”. O Julio me apresentou para ele, e ele, só de segurar a minha mão, adivinhou que eu era negra. Saímos, eu, o Julio e a turma, para jantar. Ele bem à vontade, de calça de abrigo, saindo da gravação cansado, chamou um garçom e pediu um vinho. Neste instante, estava parada na minha frente a Donna Summer. Além dessas voltas com Julio, eu passeava pela Rodeo Drive. No dia do show dele com o Stevie Wonder, estavam Whoopi Goldberg, Tina Turner, o Tatu, anãozinho da Ilha da Fantasia. Foi lindo o show. Saímos de Miami no avião dele, e aqueles oito meses de namoro foram muito malucos para mim. Não era a minha realidade, mas foi bem legal. Acho que ele imaginava que eu pudesse largar tudo para acompanhá-lo. Gostei dele, mas não era loucamente apaixonada. Anos depois, ele esteve por aqui. O Dody que o trouxe, e fomos a um almoço lá no sítio da DC SET. Tiramos fotos, ele conversou com o Lair e brincou que queria ter tido filhos café com leite comigo, e que eu não quis. Ficamos conversando, e no outro dia fomos assisti-lo no Teatro do Sesi, bem numa boa. Quando você casou, voltou para o sul? Foi rápido. Nos conhecemos em agosto e começamos a namorar em outubro, quando eu já não estava mais com o Julio. Minha mãe não gostou muito da troca, eu acho. Já me imaginava casada com o Julio e morando em Miami, aquelas coisas de mãe. Briguei com a minha mãe porque ela não queria que eu vivesse com o Lair, e eu fugi. Ficamos anos sem nos falar. Ela tem uma personalidade superforte. Eu tinha 21 anos quando saí de casa para casar com ele.

E como foi a maternidade? Foi um tempo bem quieta quando meus filhos eram pequenos. Sem modelar ou trabalhar. Queria ser mãe logo. Quando o Pedro nasceu, eu tinha 24 anos; aos 26, já veio a Júlia. Fiquei envolvida com eles. Engordei horrores. Demorei um pouco para emagrecer. Cometi meus erros de ter pouca paciência, por ter sido mãe nova, mas é muito bom. Queria muito ser mãe. De quais valores não abres mão de passar para os filhos? Tantos. O que mais tentamos passar para eles é a importância do caráter. E da humildade também. Você pode ser trilhardário, mas tem que ser humilde, e não precisa pisar em cima das outras pessoas. Como foi o momento do envolvimento do Lair com irregularidades no governo Yeda? Como isso pesou na família? Foi muito difícil aquela fase, e não passou ainda, né? O processo continua, vai ter um julgamento. Foi complicado. Mas a primeira situação difícil foi quando o Lair quebrou. Com calçados, o dólar disparou, e ele fazia exportação. Ali, fiz uma limpa na minha agenda. Passei a régua e pensei: bom saber quem são os meus amigos. Porque, quando tu te vês numa dificuldade, os amigos que eram muitos viram meia dúzia. Quando deu essa Operação Rodin, o baque foi maior. Procurei nos preservar e claro que fiz outra limpa na agenda. Várias pessoas me ligaram para apoiar, como o Gasparotto e a Fernanda Sirena, mas outros não agiram da mesma forma e me surpreenderam. Me recolhi. Decidi ficar em casa, na minha. Meus filhos já se expunham no colégio porque não iam parar de estudar. Não tinha por que também eu me expor. | 15


A família se uniu com esse episódio? Sim, bastante. Em 2007, as crianças eram pequenas e acho que amadureceram com isso. Foi uma reclusão geral. Saíamos, claro, mas preferíamos ficar mais recolhidos, porque as pessoas olhavam de um jeito estranho. Deixa passar. O que está acontecendo hoje com políticos e empresários brasileiros? O que sempre aconteceu. Só que agora está saindo da gaveta, do armário. Todos que entram para a política, principalmente quem nunca fez na vida, entra achando que vai mudar o mundo. Natural, todo mundo parte do princípio de que quer ajudar. Mas daí percebe que não avança se não fizer conchavo. Então não adianta. Daí as pessoas perguntam por que o fulano e beltrano deixaram a política. Porque não conseguiram fazer o que queriam fazer. É a mesma coisa com uma empresa que te patrocina. Ela não te patrocina pelos teus lindos olhos. Ela te patrocina porque tu vais dar a contrapartida. Então, isso é mais claro que o sol e que o dia. É uma troca. Eu te dou aqui, e tu me dás lá na frente. E quando envolve dinheiro público é diferente. Fala sobre a tua escola para modelos e concursos de beleza? Fiquei pensando uns dois anos se valeria a pena montar a minha escola. Até que decidi arriscar. Encontramos dificuldades, porque tu tens que ter algum dinheiro. Aperta daqui, aperta dali. Nesse espaço, só posso atender no máximo 15 alunos, ou fica muito cheio. É um pouco didático, um pouco prático e atende a partir dos cinco anos. No primeiro ano, o trabalho foi só com meninas que queriam ser modelos. No ano passado, comecei a preparar misses e montei um curso de seis horas e um de 12 horas 16 |

só para concurso. Preparei oito meninas, e seis delas passaram para concorrer ao estadual. Elas gostaram e elogiaram as aulas. Em 2015, vieram outras tantas. As aulas são particulares porque cada uma tem uma dificuldade diferente. Não adianta reunir e ensinar as mesmas coisas, como com as modelos, porque envolve mais coisas e há muitos ajustes, que funcionam melhor individualmente. O que mais elas buscam é aula de passarela, a passada, a parada. O Lair faz os contratos, cuida do financeiro. Para as modelos, o curso é aos sábados, das 9h ao meio-dia. As turmas são montadas depois da aula experimental. O que estás achando da polêmica em rede nacional sobre a carreira das modelos, agora batizada de book rosa? O book rosa rola em todas as profissões. É book porque a profissional em jogo é modelo, mas tem em todas as profissões. Todos sabem que a carreira de modelo não é glamour para todos, mil maravilhas. É difícil, complicada e exige muita coisa. Tem que ter disciplina. Tem gente que entra na carreira de modelo achando que é festa. Modelo não vai a festa, para começar, modelo não deve beber, não deve fumar, não pode nada. A menina da novela tem a avó perdendo a casa, então, é muito difícil julgar. Não estou dizendo que todas façam, mas uma menina que vem do Interior e ajuda a família com dinheiro para o sustento fica vulnerável ao mercado da moda, que é muito rápido. Assim como você é a tal naquele dia, daqui a pouco já é outra, e você perde trabalho com essa rotatividade e dinamismo. Mas continua precisando mandar dinheiro para casa. Vai fazer o quê? Largar o trabalho de modelo e começar a trabalhar em um subemprego. É mais fácil fazer programa. Acabam fazendo


Esses tempos, fomos a São Paulo, e as crianças ficaram sozinhas. Eu proibi o Pedro de sair. Adoro que ele não goste de dirigir. Por mim, ele pode continuar assim. Adoro pagar táxi para ele. A Júlia já é mais independente, providenciou a carteira dela. Mas não tem muito o que fazer, a vida é assim. Eles são acostumados, porque quando pequenos eu não deixei de fazer nada. Eu me sinto realizada e feliz por ter vivido tudo o que eu vivi. Sonho? Hum, não tem um sonho. A gente sonha todos os dias, né? Gostaria de ver mais igualdade entre as pessoas. Que as pessoas não passassem muita necessidade. Que trabalhassem e ganhassem seu dinheiro.

programas. Infelizmente, a novela não está toda errada. Claro que existe, mas colocar só esse lado faz parecer que todas fazem a mesma coisa. Teria de mostrar todos os lados, mas a história é em torno dela, que é a protagonista.

Como lidas com a fama nacional? Como é isso? Pois é, estranho né? Acho que a minha fama foi na década de 1980. O concurso que me projetou, e era tudo muito diferente de hoje. Hoje é sucesso, sucesso, sucesso. Acho que eu fiquei nos anos 1980. Tenho Facebook, Instagram, mas não levo muito a sério. No mais, lido bem, gosto muito de gente.

Sentes essa coisa da mulher que não dá conta de tudo mesmo com teus filhos crescidos? Um pouco ainda.

Como te defines? Sou prática, simples, não tenho grandes frescuras e acho que sou amiga dos meus amigos. | 17


Como te cuidas? Me cuido como todo mundo. Gosto de ir malhar na academia. Cuido da pele, uso filtro solar todos os dias, cremes noturnos receitados pelo meu dermatologista, Dr. Camilo. Hoje em dia, não é mais aquela sangria, também não tenho mais idade para ser seca. Alguma lição que a vida ou alguém te deu? O meu avô me ensinou muito. O cara que criou a minha mãe. Ele era espiritualizado e inteligente. Um poeta. E a minha avó, a sua musa inspiradora. Seu Arauto e a dona Gorda. Para quem dizes obrigada? Para várias pessoas. Para a minha mãe. Os meus pais, a minha madrinha e para o meu amigo Geraldo, que sempre esteve ao meu lado. Com a minha mãe, foram muitos anos rompidos, ela é escorpião e cortou relações comigo por quase 15 anos. Reconciliadas, voltou tudo como era antes? Ela mudou, minha mãe era uma pessoa muito enérgica. Tentei trazê-la de volta, mas ela diz “não sou caranguejo para andar para trás”. Tenho um irmão que mora lá com a família. Ela tem os netos, filhos do meu irmão, e cuida de um senhor de idade. Falo ao telefone com ele, e ele diz que adora minha mãe. Perdemos muito tempo. Mas é a vida. Também digo obrigada ao meu marido, pois ele 18 |

foi corajoso. Tivemos uma história de fuga. Morava no Rio e fugi de madrugada do meu apartamento com ele e fomos para o interior de São Paulo, para a casa de um amigo. Dali, para o Paraguai, e depois para Curitiba. A minha mãe ficou completamente enlouquecida. Ela acordou e cadê a Deise? Eu não tinha pretensão de casar. Me apaixonei e queria namorar. A brabeza durou mais de 10 anos, e ela tentou me resgatar aqui, mas daí passou. Passa uma borracha e segue a vida porque tem que ser assim. MB


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moda

Rush O homem contemporâneo que enfrenta o tempo, atropela os desejos e busca

prazer inatingível. O impalpável habita a mente e a realidade beija-lhe os sentidos, morna e agridoce, como o chá que há muito descansa sobre a mesa. Nuances que constroem a realidade, surpreendentemente estratégicas. Geométrica e pouco

compreensiva, como em um tabuleiro de xadrez. O homem e o tempo são como o leão e sua presa. A urgência pela vida, em algum momento, subtrai ou um, ou outro.

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Fotografia: Fagner Damasceno Styling: Manuela Pereira Modelo: Vicente Spinelli (JOY) Agradecimentos: Secretaria Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul, Memorial do Rio Grande do Sul, HEMB, Paquetรก| 27


Bá, que delícia

Tuca delícia Basta espiar o sorriso de moleca e o brilho no olho de menina espoleta para perceber que Marília Martins Padilha é um barato de guria. Extrovertida, tagarela e metida na conversa dos adultos (risos), é como ela se define quando era pitoca. Com 31 anos de pura sapequice e curiosidade, se pudesse escolher uma parada para descer no túnel do tempo, seria a adolescência, diretamente nas férias em Torres, onde desembarcava em dezembro e de onde voltava somente em março: “Éramos livres, sem medo da violência e sem a prisão que a internet nos proporciona hoje”. Filha caçula de uma família de duas meninas, Tuca se lembra de assistir ao programa de Ana Maria Braga na TV com a funcionária da família, se aventurar na cozinha e inventar moda, ops, receitas: “Uma vez, fiz uma tortinha de banana igual à do McDonald’s”. O gosto pela gastronomia se explica no pai, que, se vai a algum restaurante e se agrada do que comeu, consegue replicar o prato em casa. Aos 19 anos, ainda sem o inglês fluente, Marília deu seus primeiros passos profissionais na cozinha, em um Subway na Califórnia. Belo ponto de partida para se interessar pelo Food Truck, que foi quase natural, pois já era assídua participante de feiras de comida de rua, além de nunca ter pensado em ter um restaurante: “Com esta onda dos trucks, encontrei a minha praia, ou estrada, dã!!!!”. Encontrou mesmo, tanto que o seu foi eleito o melhor food truck na última edição dos melhores da Vejinha Porto Alegre: “Fiquei muito feliz de ganhar esse prêmio em apenas seis meses e quero compartilhá-lo com a minha família, que é a base de todo 28 |

o meu sucesso e que cada vez mais pega junto na minha empresa”. Apesar de parecer superprático, a logística do truck (estacionamento, limpeza, cozinha de produção) é muito trabalhosa: “Minha vida mudou depois que eu montei o truck, nunca trabalhei tanto. Não é só na hora em que estamos servindo o cliente. Tudo é centralizado em mim, desde o agen-


astral maravilhoso: “Sou um pouco respondona. Às vezes, tenho que me segurar para lidar com clientes mais arredios”. E algum arrependimento desse temperamento? “Me arrependo de não ter ido ao show do Michael Jackson (risos)”. Sobre a Tuca Explosão, nada que um puxãozinho imaginário na própria orelha não resolva essa chef que quer ser feliz e independente e acredita estar no caminho certo. Não temos dúvida de que sim, Tuca! Um caminho cheio de criatividade, atitude, sabor e sem tempo ruim para trabalhar. MB Thomas Erh

damento dos eventos, as redes sociais, o pagamento das contas, a manutenção e limpeza do truck, as compras, a escala dos funcionários, a lavagem dos uniformes, as embalagens, as autorizações com a prefeitura, reuniões com clientes, cansou?”, me devolve, brincalhona. Eu, sim, mas Tuca não pode cansar nem deixar de pensar em nenhum desses detalhes para o reconhecimento do trabalho e o sucesso das suas criações. Tem defeito, essa moça bonita e ativa? Que nem pipoca na panela, dona Tuca Truck é explosiva, mesmo tendo um

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Diferença de idade FernandoErnesto Corrêa

Há pouco, estive com o Fernando Collor num fim de semana em Canela na casa dos meus afilhados Marcos e Leilah Dvoskin. Ele é meu amigo há 45 anos. Ele um guri e eu um mocinho, conhecemo-nos em encontros das afiliadas pioneiras da Rede Globo, pela RBS e Grupo Gazeta de Alagoas. Nunca mais perdemos o contato. Embora esteja, agora, respondendo a uma acusação de malfeito na Operação Lava-Jato que alega ser improcedente, encontrei-o muito mais sereno e amadurecido do que era na época em que foi nosso presidente. Todavia, não é sobre o político polêmico que eu quero falar. É sobre o homem que está satisfeito e tranquilo no seu terceiro casamento. Está casado com a Caroline, 35 anos mais moça. Entre outras tiradas inteligentes, o Collor disse algo que me marcou: “A gente tem a idade da pessoa que ama”. Grande verdade. Tenho outros amigos em situação semelhante. José e Marina Dubin (mais de 30) e Frederico Guariglia e Rosana (mais de 20) são exemplos de casais de minha íntima convivência que estão nesta turma. Eu mesmo sou 25 anos mais velho que a Silvana. São muitas as relações, especialmente as de segunda instância, como dizem os advogados, que têm entre os seus partícipes grande diferença de idade. É claro que há exceções, como a Suzana Vieira, que adora garotões, mas, na imensa maioria dos casos, o mais idoso é o homem. E o Collor é feliz, esses meus amigos e eu somos muito felizes. Qual é o segredo de nossa felicidade? É exatamente porque passamos a viver como se tivéssemos a idade de nossas companheiras. No mínimo, há 30 |

uma geração entre nós, com todas as variáveis sociais e culturais que esse entretempo estabelece. Nós, os mais velhos, poderíamos simplesmente viver com a comodidade da terceira idade. Pijama, chinelo, um livro, televisão e um aperitivo. E as queridas, com todas as suas relações, energia e intensa programação social, o que fariam e como reagiriam? Não tem conversa mole, nós os mais antigos temos que reunir todas as nossas forças, disposição e até mesmo talento para acompanhar nossas companheiras. Só para constar, podemos fazer uma tímida reclamação, mas vamos acabar indo às compras em Miami, embora preferíssemos uma tranquila semaninha no Kurotel. E se houver filhos pequenos, temos que participar ativamente de sua criação. Levá-los ao colégio, brincar no Parcão, ir ao cinema e até mesmo às festinhas infantis. Aliás, foi como procedi com o meu Ramiro, hoje com 19 anos, para quem nunca dei nenhum motivo para me chamar de avô. Nada contra o casamento de pessoas da mesma geração. Esses também podem dar certo. Porém, aqui estou falando sobre os segredos de uma união atípica, fora da curva, com grande distância temporal entre os protagonistas. Eu não tenho dúvida de que concessões recíprocas são o principal ingrediente para o sucesso desse tipo de relação. É claro que as mulheres devem diminuir um pouco seu ímpeto juvenil, mas a maior responsabilidade para o êxito e a permanência de uma união com grande desigualdade etária, indiscutivelmente, é nossa. Fiquem certos os meus parceiros de jornada que isso é um milagroso remédio contra a chatice e um estímulo para uma vida útil mais longa e prazerosa. O prêmio a essas eventuais concessões, dedicação e um pouco de esforço é a harmonia possível no dia a dia com sua companheira mais moça. Sem preguiça.


COFFEE CORNER

INDOOR POOL

INFINITY POOL


AnaMariano escritora

Agosto, mês do desgosto

Sempre me disseram que agosto é o mês do desgosto. Onde me criei, fronteira com a Argentina, a superstição era levada tão a sério, que nosso funcionário, durante esse mês, não lavava a cabeça. Se lavasse, corria o risco de ficar louco. O nome, agosto, foi escolhido pelos romanos para comemorar as façanhas do imperador Augusto. Uma intenção feliz. De onde será que vem a fama de azarado? A explicação que me parece mais razoável para que nós, brasileiros, olhemos agosto meio de lado (não existem bruxas, mas...) é a influência portuguesa. Agosto era o mês no qual as caravelas partiam, deixando muitas mulheres sem seus homens. Por essa razão, ninguém casava em agosto. Quem casasse, arriscava não ter nem lua de mel. De qualquer forma, acho uma injustiça. Não me parece que o “azar” esteja concentrado nesse único mês, está espalhado por todos os meses, espalhado pela vida. Coisas ruins simplesmente acontecem. Os gregos diziam que não se pode chamar ninguém de afortunado antes que esteja morto. Enquanto estamos vivos, nossa única certeza é que nossa sorte está sempre por um fio. Talvez isso seja o mais impressionante. Se, num outro universo, em Marte, por exemplo, um aluno de uma fictícia oficina 32 |

literária escrevesse um conto no qual um indivíduo, mesmo tendo a certeza absoluta de que iria morrer e de que, a qualquer momento, algo ruim poderia lhe acontecer, não importava o que fizesse, conseguisse viver feliz, seria, com certeza, aconselhado a mudar seu personagem por inverossímil. Como saber que vou morrer e ser feliz? Como saber que ali, virando a esquina, algo de ruim pode me acontecer e continuar a ser feliz? Viver é, por definição, uma tragédia. E, no entanto, na maior parte das vezes, nos saímos muito bem. Basta um dia azul, uma pizza com amigos, uma azaleia florida, um bom vinho, um novo amor e pronto, a certeza da nossa própria morte vai para as cucuias, e nós, personagens inverossímeis, somos felizes. É assim que é. É assim que deve ser. Claro que temos medo (e por isso “inventamos” agosto), é claro que queremos segurança (os livros de espiritismo e autoajuda são campeões de venda), no entanto, bem no fundo, sabemos que desistir é mil vezes pior do que seguir lutando. Como disse Lance Armstrong (aquele polêmico ciclista americano): “a dor é temporária, pode durar um minuto, uma hora, um dia, um ano, mas eventualmente passará e outra sensação tomará seu lugar. Se desisto, a dor durará para sempre”.



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objetosedesejos

HenriqueSteyer

Aparador dourado que mais parece um porta-joias

É portuguesa, com certeza! Quem disse que bom design só se faz na Itália ou na Escandinávia? Portugal também tem suas cartas na manga... A grife Boca do Lobo vem encantando cada vez mais o mercado internacional com seu estilo único de produzir peças que são verdadeiras obras de arte. A intenção da marca é refletir um estilo de vida urbano e simultaneamente clássico, usando materiais de alta qualidade e texturas que dão vida a móveis e objetos de espírito cosmopolita. São produtos para sala de estar, sala

de jantar, quarto e tudo mais. Cada item é projetado e executado à mão por artesãos portugueses, mantendo a classe incomparável de um bem tão precioso. Muitas das peças são uma verdadeira fusão de arte e design, gerando séries limitadas de 20 exemplares com produção cuidadosa da mais alta qualidade. Alguns itens são capazes de tocar o nosso imaginário, transportando-nos para universos remotos nunca antes visitados. Dá vontade de comprar tudo. Aparador com efeito de cubos que parecem pixels

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ArmĂĄrio criado com os tradicionais azulejos portugueses

Mesa inusitada que ĂŠ uma verdadeira escultura

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ping

Cida Pimentinha O pai tinha terra em Campo do Meio, e a mãe era auditora da Receita Federal em Passo Fundo. Do amor dos dois, nasceram duas Marias: a Aparecida e a da Graça. Cida e a irmã antropóloga cresceram entre o campo e os altos da Avenida Independência, em Porto Alegre. Décadas antes de o termo surgir, aos oito anos, Cida sofreu bullying no Bom Conselho, só que o efeito foi contrário: “Uma guria me chamou de rolha de poço. Fui pra cima dela. Virei a louca do colégio”. A reação só ajudou Cida a se tornar ainda mais popular. “Quando ganhei o Sticky Fingers, dos Stones, então, virei celebridade. Era convidada para tudo para levar o disco”. No lar dos Pimentel, revezavamse na eletrola Beethoven, bolero, tango e Os Bertussi. Se perguntassem à Cida o que ela queria ter quando crescesse, a resposta era: “Uma cama bem grande, com telefone do lado e a televisão ligada”. O reduto jovem e descolado da Capital, a “quadra”, como chamavam o entorno da Praça Júlio, era o quintal de Cida. Ao som do rock, a magrinhagem batia ponto no Joe’s e no Rib’s. Agitadora cultural e formadora de opinião, foi por ali que cultivou o amor pela música, até a vida adulta. Criança grande, mulher autêntica e de riso solto, ela é mãe de Camila, que lhe presenteou com dois netos. Estudou RP, vendeu e organizou shows e eventos e um dia voltou do Rio tão pirada com o som de Cazuza no Circo Voador, que lançou outra onda por aqui: “Bolamos a Crocco clássica aos domingos. Passei anos juntando músico da lata do lixo. Gosto do backstage. Tem que ter gente que trabalhe em prol da arte”. Cida é essa pessoa. À frente do Instituto Estadual de Música (IEM), quer agora dar vida real a tudo que o rock da vida lhe ensinou.

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ricardo laje

Como anda a cena musical do Sul? Ainda estamos longe de tudo e de todos? Tem que qualificar músicos, produtores e empresários de músicos. Quero realizar um festival de música. Precisamos de uma vitrine de talentos. Hoje, guri de Cacequi tem a mesma chance que guri de Londres. Tem que estudar. Essa capacitação é um dos objetivos do IEM. Quero montar uma Associação de Amigos, para que os músicos sigam unidos e organizados. Qual banda ou músico daqui poderia ter sido mais reconhecido no Brasil? Fernando Noronha faz sucesso no mundo inteiro. Lota praça, lota teatro, e aqui não enche casa noturna. Quem são os tops da Cida? Todos tocam guitarra, instrumento que amo. Luiz Carlini, Marcelo Gross, Lanny Gordin, Fernando Noronha e Marcio Petracco. Não tem artista como o Alemão Ronaldo. Faz o mesmo show para 12 pessoas e para 20 mil. Quem está fazendo um bom trabalho pela música? A Nara Sarmento na FM Cultura, que toca rock e música erudita com bom gosto e sem jabá. O que te faz extremamente feliz e realizada na vida? Um dia de sol dentro do mar com todos os meus amigos em volta. Qual o segredo da relação de oito anos com o Rica, que é mais jovem? Vou citar Oscar Wilde: “Uma mulher com passado e um homem com futuro”. MB | 39


pong

Vai, Walter! Sobre o futuro, a única coisa que Walter Tlaija sabia era que o esporte estaria presente na sua vida. Dono de um astral e energia contagiantes, o moleque cresceu jogando bola, surfando, pedalando e em cima do skate. Crescidinho, trocou a bola pela corrida e seguiu equilibrando-se na água e nas rodinhas. A primeira bicicleta de corrida, um modelo antigo dos anos 1980, ele comprou aos 20 anos. Com ela, passou a andar pela cidade e a viajar: para o Litoral, a Serra e também para o Uruguai e a Argentina: “Tomei gosto e fui atrás de um modelo mais moderno. Ali pensei em me aventurar no triathlon”. Composta por 3,8 mil metros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42 de corrida, a prova de Ironman é completada pelos atletas mais velozes em menos de oito horas. No Brasil, são duas edições por ano. A mais recente foi em maio último, em Jurerê-SC, e valeu como campeonato latino-americano da modalidade. Os 10 melhores ganharam prêmio em dinheiro e pontos no ranking mundial. Os amadores que conquistaram as primeiras posições em suas categorias etárias foram presenteados com 75 vagas para o Ironman World Championship no Havaí. Walter completou seu primeiro Ironman com 9h14min e foi o quarto na categoria 25-29 anos. É dele uma das vagas em Kona. Vai, Walter!

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Como decidiste ser atleta? Em 2011, procurei Verônica Bardini, da Oxigênio Sports. Mostrei meu interesse no triathlon, e ela é a minha treinadora desde então e, assim como eu, acredita que eu possa, de fato, ser um atleta de triathlon. Já dá pra viver do esporte? Ou tens alguma outra atividade? Há seis anos, produzo e vendo a Sebastiana Cerveja Artesanal. É a minha fonte de renda. E a rotina de treinos? Em média, são 20 horas semanais. Na preparação específica para o Ironman Brasil, o volume subiu para 26 horas semanais. São duas modalidades diárias, em turnos distintos, de segunda a sexta, e treinos longos de ciclismo nos fins de semana. Como a política pública do esporte poderia ajudar a incentivar os atletas? Penso muito sobre isso, mas não chego a uma conclusão. Algo simples que ajudaria seria mais divulgação por parte dos órgãos públicos, de todos os esportes. Enquanto todas as energias forem voltadas só ao futebol, por exemplo, estaremos sempre remando contra a corrente. Imaginavas na tua estreia essa qualificação para o Mundial? Conversando com atletas mais experientes e que acompanharam meu treino, como Lucas Pretto e Franco Cammarota, vi que a vaga era possível, mesmo sendo meu primeiro Ironman. Fazer 9h20min me daria chances de conseguir a vaga, mas não tinha expectativa. Foi melhor do que o previsto, e vou conhecer o Havaí. Um conselho para quem quer iniciar? Ter em vista uma prova ajuda na preparação. Treinar por manutenção do condicionamento pode desanimar. Tenha parceiros de treino mais fortes do que você. Estimula e alavanca a evolução. É nos dias mais difíceis, nos quais você está mais cansado – ou nos que faz muito frio, muito calor, tem muito vento –, que a parte psicológica está sendo construída. E ela é, principalmente para provas longas, fundamental. MB | 41


arte

IvanMattos jornalista

As conexões infinitas de Gilberto Perin

As imagens do cinema talvez tenham sido as primeiras e mais marcantes aos olhos do menino Gilberto Perin na distante Guaporé, onde nasceu, e que o fizeram enxergar o mundo de forma peculiar. Dos domingos entre as matinês, começou a se descortinar um universo que ele passaria a 42 |

Fotos Vini Dalla Rosa

dominar assim que escolheu o jornalismo como profissão. Mas certamente as histórias cheias de aventuras e significados do livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, foram primordiais para despertar no menino de sete anos o gosto pelas imagens fortes.


Apaixonado por matemática, cursou alguns semestres na universidade para acabar percebendo que o jornalismo era seu caminho natural. Múltiplo, encarou o teatro como ator em algumas das produções mais emblemáticas da cena gaúcha, como o espetáculo Love, Love, Love, de Luiz Arthur Nunes, em que atuou com Guto Pereira, Pily Calvin e Suzana Saldanha. Em Reunião de Família, de Lya Luft, dirigido por Luciano Alabarse, em adaptação de Caio Fernando Abreu, viveu a experiência de um marido atormentado pela perda de um filho. Impossível pensar em tantas vidas, tantas viagens, sem encontrar, no fundo de velhas gavetas, fotogramas que viriam a compor o futuro artista das lentes em que ele se transformaria. Quem o conhecia apenas do teatro ou da televisão, em trabalhos de roteirista e diretor de cena dos emblemáticos Curtas Gaúchos,

exibidos até o ano passado pela RBSTV, talvez não pudesse supor que ele também fosse esse fotógrafo extraordinário. Diretor de cinema, é seu o elogiado curta-metragem Au Revoir, Shirley, de 1991, sobre um travesti que sonha em viajar para a Europa em busca de melhores condições de vida e, ao desembarcar em Paris, é obrigado a retornar ao Brasil. Ao partir para a fotografia, tinha já uma mente cinematográfica. “Resolvi fazer o menor longa, com a menor equipe, ou seja, um único fotograma feito por uma única pessoa, eu mesmo”. Desta síntese, parece ter nascido um voyeur fantástico a nos remeter a lugares e situações jamais experimentadas. Em seu mais recente trabalho, o livro-exposição em que escritores interferem em suas fotos, seu olhar, nada superficial, encontra a palavra de escritores e artistas gaúchos que

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complementam ou exploram ainda mais a força de suas imagens. Uma mala em um corredor de hotel em Budapeste, uma porta entreaberta, uma pia cheia de louça, uma cama revirada. Imagens que transbordam, que crescem, que se desdobram, permitem reinterpretações que complementam e acrescentam ao instante que o fotógrafo enxergou. É este o trabalho de Gilberto Perin. Dar asas à imaginação. Ouvinte habitual de rádio, cresceu alimentando a imaginação ao ouvir narrações de partidas de futebol e as célebres visitas aos vestiários que os jornalistas faziam e onde, não raro, encontravam torcedores comemorando. Ao deparar com uma dessas imagens, anos mais tarde, de dois grandes expoentes do futebol brasileiro sendo festejados em um vestiário, teve a ideia de refazer esse caminho, que hoje não é mais permitido a jornalistas e fotógrafos. O teatro do futebol se encontrava com a visão cênica do ator e roteirista, o diretor de cena, habituado a traduzir imagens através da televisão durante quase 30 anos. Gilberto Perin colocou em seu caleidoscópio toda a experiência teatral, a cabeça jornalística, as memórias da infância acrescidas de um olhar sensível e revelador. Muito além das imagens, no livro que também se tornou uma exposição de sucesso, aparece a energia represada dos jogadores de futebol de um time de segunda divisão do interior do Rio Grande do Sul, acompanhados durante quatro meses, resultando em um trabalho forte, contundente e cheio de mistérios. Sua presença quase invisível ao invadir a intimidade de um vestiário foi o fator preponderante para o sucesso de seu trabalho. Sobre ele, o escritor João Gilberto Noll escreveu no livro Brasil, Camisa Brasileira: “Uma das emoções estéticas mais verticais que tive nestes últimos tempos 44 |

no Rio Grande do Sul deu-se no encontro com o trabalho fotográfico de Gilberto Perin. É inacreditável que, de dentro desse cidadão de expressão costumeiramente serena, possa irromper uma arte de toques metafísicos acompanhados de um gozo tão eloquente e avassalador”. Ao pedir uma definição para tanta multiplicidade em um só homem, ele sintetiza: “são facetas de alguém que busca maneiras de se expressar artística e socialmente para se manter conectado”, finaliza.


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trama

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luzes complementares Foto Fernando Conrado

Ela sempre achou que os primeiros olhares foram no Farroupilha, quando ele fazia divulgação da festa República das Bananas. Ele não percebeu. Coisas que acontecem desde sempre entre meninos e meninas. Alessandra Ponzi e Fabrício Kroeff reencontraram-se lá pelos 18 anos em um verão com a turma de amigos no Costão de Santinho. Aí, ele se lembra de ter sentido algo mais do que uma troca de olhares sapecas. Tanto que o convite dela para pular o animado Carnaval catarinense foi, pelas mãos dele, parar na lata do lixo. Seguiram-se três veraneios e, na mesma balada de Carnaval, a dupla se reencontrou. Caçula de duas irmãs, desde pequena, Sandy sempre comandou a festa: “Queria ser a Xuxa e coordenar a minha irmã, sete anos mais velha”. Outras lembranças da infância são os preparativos de madrugada com a mãe e a avó fazendo docinhos e arrumando a decoração para os aniversários. Também caçula de três irmãos, homens, agitado, agitador e cercado de amigos, Fabrício passou a infância fervendo com a gurizada. Formou-se em Economia na PUCRS, mas foi influenciado pelos irmãos mais velhos que começou a fazer eventos. No primeiro, quando ainda cursava a oitava série, reuniram 1,8 mil pessoas. Cada um dos organizadores saiu faceiro com o que equivaleria hoje a uns R$ 10 mil no bolso. As festas, literalmente, estavam começando. Em 2005, mesmo ano em que o casal começou a namorar oficialmente, nasceu um projeto de sucesso que, em 2014, completou 10 anos ininterruptos de folia pós-ceia natalina dos porto-alegrenses: a Very Merry Xmas, por muitos anos realizada no Leopoldina Juvenil. Kroeff

também realizou uma série de shows do cantor Buchecha. Desde 2008, ele assina com amigos uma das disputadas noites de Revéillon da badalação em Punta del Este e em 2016 será a terceira edição da festa, no Hotel Unique. Sandy formou-se em Direito, sem nunca abandonar os dotes de festeira: vendia convites (e muitos...) para várias festas bacanas da cidade. Depois de estágios no TRF e na Justiça Federal, percebeu que algo faltava para a realização profissional: “Gostava, mas não era feliz só atrás dos processos”. Em 2005, abriu a Casa de Lou Lou, que funcionou até 2008. No ano seguinte, o casal iniciou a Save the Date e profissionalizou sua paixão em comum: os eventos. Juntos, já produziram e organizaram muitos casamentos, 15 anos, formaturas, aniversários e eventos sociais. Desde 2012, escovas de dentes dormem e acordam juntas e os sonhos repousam sob travesseiros lado a lado. O segredo para trabalho e vida em comum de pura alegria e harmonia é simples. Alto astral e dedicação um ao outro. Fabrício e Sandy são daquelas pessoas que vale a pena estar por perto. Jamais têm algo de ruim para dizer e miram a vida com otimismo.Pito adora surpreender a amada, a quem chama de pita, pitinha, pequena pequenita. Não falar de trabalho o tempo inteiro é outro cuidado que ambos têm. Afinal, são cerca de seis eventos por mês, em média. É dela a parte criativa, de decoração e projeto, e ele assume a coordenação de equipe, montagem, estrutura, sonorização e viabilização. Complementares em todos os detalhes. Nas festas e no divertido trajeto da vida, que escolheram caminhar lado a lado. MB | 47


eutenhovisto.com

JaquelinePegoraro CarolZanon

A geração das supermulheres

A cirurgiã plástica Fernanda Sampaio integra o time de mulheres com a difícil tarefa de conciliar a rotina profissional com as funções de mãe. Missão impossível? Ela garante que não: – Impossível não é... É necessário ter muita energia e montar uma infraestrutura contando com ajuda de babás e da vovó para que as crianças fiquem bem assistidas enquanto estou fora. Mãe de 2 filhos, Fernanda assegura que a correria do dia a dia também tem suas vantagens: – O lado bom de estar sempre ocupada é que sobra pouco tempo para pensar em coisas pouco importantes. Hoje sou muito menos ansiosa do que antes de as crianças nascerem. O segredo para isso é ter um tempo para si mesma, aproveitar alguns momentos de folga e, principalmente, ter prazer em tudo que faz. Viciada em exercícios, Fernanda aposta nos momentos fitness para aliviar o estresse. Sabemos que a “fórmula do bem-estar” não existe, mas qual a dica da médica? – Corpo são, mente sã! Corpo saudável, autoestima elevada, trabalhar com o que se gosta, estar rodeada por aqueles que ama... Isso sim é qualidade de vida! Alguma dúvida de que ela é uma supermulher!? 48 |


Nova estética

vini dallla rosa

Porto Alegre ganhou uma nova estética – e ninguém melhor do que uma modelo para comandar o negócio. Aberta desde o final de julho, a Estética Carine Felizardo aposta em diversos tratamentos estéticos, como o pump up, maxxi plate, ultracavitação, drenagem linfática, manthus, peeling de diamante, hidronutrição de ouro e serviços como manicure, cabeleireiro e maquiagem. Para comemorar o sucesso nos primeiros dias, Carine promoveu uma ação do bem: em comemoração ao Dia dos Avós, celebrado no final de julho, buscou os idosos do Asilo Padre Cacique – de limousine – para uma “segunda-feira de beleza” na estética. vini dallla rosa

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ClaudiaTajes

Ensaio sobre a miopia

Lembro direitinho de quando foi. Meu pai havia me levado para ver Ben-Hur no cinema, aquele com o Charlton Heston no papel de um rico mercador judeu injustamente escravizado nas galés romanas. Estávamos pelos idos dos 1970, e era um programão ver filmes de temática cristã na Sexta-Feira Santa. Muita expectativa para conhecer a história que já tinha sido contada antes, e na íntegra, pela mãe em casa – ainda não haviam inventado o spoiler. Então as luzes se apagaram, a projeção começou – e veio o nada. Nada. Eu não enxergava nada. As letrinhas das legendas se misturavam em uma maçaroca. Até a cara do Charlton Heston, amorenada à força por uma maquiagem nada sutil, carecia de definição. O filme era longo – 212 minutos, consulto aqui no amansa-burros Google. Duzentos e doze minutos sem conseguir ler uma linha. Foi vendo Ben-Hur que descobri a verdade a meu respeito: eu era míope. Estava anunciado. Minha mãe e minha irmã Méia eram – esta, inclusive, sofria no colégio na época selvagem em que óculos e bullying podiam ser considerados sinônimos. Logo a minha irmã mais moça também precisou deles. Meu irmão usa desde os 12 anos. No meu caso, eu jamais contaria em casa, não fosse a miopia ser denunciada pelo sintoma mais clássico: o desempenho na escola, até então ótimo, despencou. Fazer o primeiro par de óculos foi traumático. Hoje acho que 50 |

seriam bonitos, mas para mim a armação parecia grosseira (“para não quebrar fácil”), muito escura (“combina com o teu cabelo”) e enorme (“para não refazer sempre que o rosto der uma crescidinha”). Tempos selvagens. Assim como a Marilyn Monroe preferia não ver um palmo a usar seus óculos em Como Agarrar um Milionário – só que ela era a Marilyn –, passei a adolescência toda sem enxergar um ovo nas festinhas. Ir de óculos, nem morta. Talvez por isso tenha cometido tantos enganos com os rapazes. Foi a lente de contato que salvou minha autoestima e, acho, minha integridade amorosa. Vendo hoje as gurias e guris à vontade com seus óculos, fico feliz por eles não serem tão bobos e inseguros quanto eu fui. A meu favor, uma verdade: as armações, que agora são lindas, antes eram o quadro da dor. Com moldura. Eu, que nunca enxerguei bem de longe e que agora já preciso de ajuda para ver de perto, hoje amo meus óculos acima de todas as coisas. Para poder ler os livros, jornais, bulas e instruções de cada dia. Para escrever. Para iniciar o computador, espiar as mensagens no telefone, até para teclar a senha do banco. Às vezes parece que escuto melhor de óculos. E estou a um passo de começar a dormir com eles para ver os sonhos mais nítidos. Eu não nasci de óculos. Mas deveria ter nascido.



decorBá

FabianaFagundes arquiteta

mude@fabianafagundes.com.br

Arquitetura simples e aconchegante do arquiteto Dado Castello Branco

Fran Parente

Arquitetando vida Não tenho dúvida de que um dos prazeres que minha profissão tem me proporcionado ao longo desses anos é poder ver o que vi no último mês nas duas mostras de arquitetura mais importantes do país. Perceber que, independentemente de termos um país que caminha com pedras nos sapatos – e não vou entrar aqui nos detalhes, pois este já é outro assunto –, formamos grandes profissionais e criamos uma arquitetura com conceito. A MostraBlack e a Casa Cor SP 2015 vieram cheias de vontade, positivas, bem como a vida deve ser. Com o slogan sugestivo “Sim, nós temos inspiração”, a Casa Cor SP mostrou os temas brasilidade e sustentabilidade e não veio a passeio. Parte de uma entrada impactante, em meio a um paisagismo nada caricato – como estamos muito acostumados a ver por aí –, que tenta nos levar a outros climas e lugares bem longe daqui, completamente fora do nosso contexto. Paisagismo com cheiro de mato no olhar, enraizado, daqueles que ninguém diz que não moraram 52 |

sempre ali naquele lugar. Depois disso, casas enxutas com exemplos de viver simples, buscando nosso jeito de ser brasileiro, cheio de personalidade e história; casas que falam de aproveitamento de espaço, convivência, sustentabilidade, uso de materiais locais, reaproveitamento. A brasilidade que aparece na maioria dos espaços não é aquela vendida em banca de cartão-postal, somente do folclore, da Amazônia indígena, mas uma brasilidade com olhar voltado para a arte e o design como protagonistas do filme. É lindo ver a composição de cores, das texturas, a harmonia das formas e a melhor parte, enxergar lugares, histórias, enxergar um país. Por mais necessária e repetitiva que soe, a diversidade é tão o elemento-chave também na arquitetura, que a gente nem mais fala em tendências. O brilho reluzente do novo e da tecnologia encanta, mas, se tivermos histórias para contar, nos ambientes, nos objetos e, mais que TUDO, nas nossas relações reais, aí sim, arquitetamos a vida!


O cheiro de mata no paisagismo incrĂ­vel de Gilberto Elkis

A brasilidade e o design morando juntos no ambiente do arquiteto Dado Castelo Branco Fran Parente

Evelyn Muller

Ambiente com linhas simples, revestimentos diversos e objetos com curadoria da arquiteta Marina Linhares

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Bá, que lugar

ASSADO, AFETO e ESTILO

Carniceria 20BARRA9, moderninha, casual e inspirada nas tradições gaúchas

Pense num lugar com cheirinho de churrasco de domingo. Pois esse lugar, misturado com afeto de família e gargalhada entre amigos, agora tem nome e endereço. Chama-se Carniceria Bar 20BARRA9 e fica na Hilário Ribeiro, 287. Os sócios são Marcio Callage, Pedro Bergamaschi e Ricardo Guttler e estão só sorrisos com o que está por acontecer com a parceria do trio. Ricardo é amigo de infância de Pedro, que é irmão de Marcio. O irmão caçula do publicitário nasceu quando Márcio tinha 7 anos e sempre foi aquele cara que cozinha para os amigos. Depois de um curso de gastronomia, Pedro experimentou fazer bifes de hambúrguer caseiro, que caíram no agrado dos amigos (turma da qual faço parte, pois as delícias do Pedro apareceram pelas mãos da minha irmã lá na nossa geladeira da praia durante o verão). “A inspiração vem dessa coisa quase cultural e de ritual que temos desde a infância com o churrasco, que não é só uma refeição. Queremos buscar essa memória nas pessoas com a visão de que isso pode ser um hambúrguer churrasqueiro, assado com carvão”, explica Marcio. Chimarrão daqui, churrasco dali, foi nascendo a ideia do 20BARRA9. Um ambiente informal que passeia pela tradição 54 |

genuína gaúcha com uma alma contemporânea. Um bar de comes, onde o pedido é feito no balcão, e na mesa espera-se um sanduíche, espetinho ou hambúrguer feitos com ingredientes de primeira linha e servidos em minibandejas de alumínio. Um lugar onde rolos e rolos de papel estão pendurados nas paredes ou em cima das mesas, bem ao alcance de suas mãos lambuzadas de maionese. A ideia do trio é convidar amigos e clientes a reviver com eles esse ritual bacana e tão conhecido nosso de reunir amigos, sem frescura, mas com sabor diferenciado. Aberto de terça a sábado à noite e aos domingos das 12h às 18h, o ambiente tem projeto supercharmoso, descolado e rústico, todo em madeira de obra ecológica, assinado pelo arquiteto Francisco Pinto. O conceito do novo espaço da cidade ainda está em teste. O nome, claro, remete ao dia internacional de sentir ainda mais orgulho de ser gaúcho, o 20 de Setembro, data marcada para a grande estreia oficial, com agito pela rua: “Somos chatos com a qualidade. Aqui vamos receber também os amigos. Eles têm que achar bom”, diz Marcio. Levando em consideração que os ingredientes todos se esgotaram no primeiro sábado em que a carniceria abriu as portas, acho que quem já experimentou já achou, viu, guris? MB


Vini Dalla Rosa

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crônica

Desfile de luzinhas Por Mariana Bertolucci

Quando decidi o destino das minhas férias mais recentes, já imaginava (até porque é o que todo mundo diz) que voltar à Disney adulta seria um delicioso reencontro com a criança que habita em mim. E foi exatamente assim. No meio de tanta novidade, montanhas-russas e brinquedos novos que curti ao lado da minha filha, a Electrical Parade da Main Street, do Magic Kingdom, a que assisti há 27 anos, me pegou de jeito. Mal a música instrumental e repetitiva começou, e eu me enxerguei nos anos 1980, nos camarins improvisados do auditório da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, onde se realizavam (no outro século) os espetáculos de fim de ano da minha escola de dança, a Lenita Ruschel. Ao som dessa mesma música, que agora eu ouvia na Disney, eu seguia dançando na coreografia batizada de Desfile Iluminado, inspirada na

Electrical Parade. No palco da Assembleia, nós dançávamos com uma pequena bateria presa às costas do traje, o que garantia o brilho das luzinhas em nossos corpos de meninas em movimento. Volto do túnel do tempo e fixo meu olhar já umedecido nas luzes da Parada Elétrica 2015. Os carros trocam de cores, intensidades, tamanhos e personagens, e ali permaneço, imóvel. Exausta, pipoca na mão,


lágrima no rosto e o coração pequeno, espremido entre tanta lembrança. Ao meu lado, a minha filha de 10 anos, sem dar muita atenção para a catarse que eu vivia, estava ligeiramente envergonhada da mãe chorando durante um simples desfile com luzinhas, como ela definiu depois. Ah, também estava decidida a não dar nem receber carinhos meus, pelo menos não na frente das 43 adolescentes da nossa excursão. Então, sem um ombro amigo, segui a derramar lágrimas de uma dor feliz por voltar a ser criança. Consegui abstrair a multidão e tornar-me espectadora única de mim mesma. Durante o desfile de luzinhas, percebi que o tempo será ainda mais duro e desafiador do que já foi até aqui. Dia após dia. Como o incansável repetir de notas da melodia. Em 1955, Walt Disney inaugurou na Califórnia o primeiro parque do complexo que culminaria com uma nova era do imaginário infanto-juvenil e do conceito de entretenimento do planeta. Em 1966, Disney morreu, deixando o legado de que somos nós os principais personagens das nossas histórias e as pessoas mais capazes de causar emoção em nós mesmos.

Mesmo que tenham sido ótimos, agitados e talvez os mais divertidos anos da minha vida, percebi que já vivi um bocado e que não vale a pena desperdiçar mais nenhum segundo da vida com o que não importa de verdade. E o que importa mesmo é acreditar no próprio sonho, se emocionar com ele e não atrapalhar os sonhos dos outros. Acendem-se as luzes. As lágrimas já secas misturadas ao cansaço do dia inteiro na Disney. Decido ir ao banheiro rapidamente antes de iniciar o show de fogos do castelo da Cinderela. Afoita e agitada de ideias e sensações, como na verdade eu sempre fui, meu reencontro com a minha criança interior foi ainda mais revelador. Na volta do banheiro, caí um tombo daqueles que acontecem em câmera lenta na vida da gente. Acabei esfolando os dois joelhos como nos bons tempos. Eu também não queria estragar de jeito nenhum a tiara de orelhas de Minnie, que, por estar apertada na minha cabeça e a Antônia ter se negado a colocar, eu carregava nas mãos.



CristieBoff

designer e artista plástica

Arte e movimento

Artistas de rua? Não, de museu. Na Pinacoteca de Paris, está em cartaz uma mostra original e bem documentada com 130 obras de artistas grafiteiros que fizeram parte de um movimento artístico de influência mundial, junto com a música rap e o break dance. A arte de rua e o grafite ganharam força nos anos 1980, e nomes como Basquiat, Keith Haring e Bando continuam sendo lembrados até hoje como ícones, apesar de tantos outros esquecidos também terem dado a sua contribuição. A mostra Le Pressionnisme pode ser visitada até o dia 13 de setembro. Espia o www.pinacotheque.com.

Arte política Não é por nada que a Bienal é uma das maiores manifestações artísticas do planeta. A primeira aconteceu há 120 anos, em 1895. Em 2015, a 56ª edição da Bienal de Arte em Veneza reúne 136 artistas e aborda temas políticos e de conflitos sociais. Rigorosa e emocionante, apresenta obras de grande impacto formal e experimental, como quadros, esculturas, vídeos, fotografias, instalações e performances. Estará aberta até o dia 22 de novembro, com duas sedes principais, nos Jardins (Giardini) e no Arsenal (Arsenale).

Humanidade estática

Expondo esculturas em forma de corpos humanos que interagem com o ambiente, Antony Gormley cria em sintonia perfeita com os sentimentos humanos, que unem o passado e o futuro, com uma linguagem moderna e envolvente. Anatomia, psicologia e geometria marcam o trabalho do artista inglês nascido em 1950. As esculturas feitas em ferro em poses estáticas estão apoiadas direto no solo, sem o uso de um pedestal, criando imediatamente uma relação de intimidade com o visitante. A exposição pode ser conferida no Forte Belvedere, em Florença, na Itália, até o dia 27 de setembro.

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AndréaBack

Você tem fome de quê? A gente não quer só comida

As pessoas estão revendo sua relação com o mundo, com o outro e consigo mesmas. E muitos destes questionamentos acabam passando de alguma maneira pela forma como se alimentam. Nós crescemos, estudamos, mudamos de emprego, estado civil, casa, cidade. Vivemos rotinas estressantes, em ambientes muitas vezes caóticos, com falta de espaço, de tempo, de saúde e de momentos de prazer. Então, chega um momento em que são necessárias alternativas para compensar as faltas que nossas escolhas nos impõem. E aí surgem os conceitos: qualidade de vida, sustentabilidade, comfort food, slow food, alimentação funcional etc., todos amplamente divulgados. As pessoas querem comer melhor, conhecer a origem e a composição do que estão comendo. Querem utilizar matéria-prima de qualidade, que respeite o meio ambiente e os produtores. Além do mais, prestar atenção na alimentação funciona como fonte de autoconhecimento e busca de uma vida melhor e mais equilibrada. E querem buscar aromas e sabores bem guardados na memória, que nos dão a sensação de segurança emocional, mesmo que por alguns momentos e de forma inconsciente. 60 |

Mas não é apenas o que se come. Redescobrir no momento de se alimentar e uma oportunidade de conexão com outras pessoas também são marcas destes tempos. A tradução se dá em piqueniques coletivos, feiras de rua, food trucks, bares e restaurantes com mesas compartilhadas. São muitas as opções e os estilos para quem quer aproveitar para comer e conviver. Entre essas opções, surgiram recentemente, em grandes cidades, locais dedicados 360° à comida, onde os visitantes têm diferentes experiências dedicadas aos prazeres da mesa. Seja uma refeição, um curso, compras ou encontro com amigos, são mais uma resposta para tornar o dia a dia prazeroso. Cada um a seu modo e adaptados à identidade do local onde estão instalados, o Mercado Agrícola de Montevidéu, o Eataly de São Paulo e a Casa Destemperados em Porto Alegre comprovam que comer tá na moda!

Mercado Agrícola

Montevidéu é ótima e charmosa sem fazer alarde. Só se gaba da melhor carne e do melhor doce de leite. E, desde 2013, eles (e muito mais) podem ser encontrados no Mercado Agrícola, prédio centenário que foi totalmente reformado para receber 107 locais com venda de alimentos frescos, refeições, especiarias e uma gama de produtos, serviços e atrações culturais que são a cara do Uruguai. MAM: todos os dias, das 9h às 22h José L. Terra, 2.220 Bairro Goes, Montevidéu mam.com.uy Fotos divulgação

publicitária e jornalista


Foto andréa back

Casa Destemperados

Eataly

O Eataly é em São Paulo, e, pra fazer jus à megalópole escolhida para abrir a 29ª unidade no mundo – em maio deste ano –, os números também são grandiosos: 4,5 mil metros quadrados, 7 mil produtos à venda, 18 pontos de alimentação, cinco laboratórios de produção, sala de aula, 600 funcionários bem treinados para entender que ali se conta a história dos alimentos e sua relação com as pessoas. As unidades do Eataly são erguidas baseadas em três pilares: comer, comprar e aprender. Em São Paulo, a temática é dedicada ao acolhimento dado pelos brasileiros aos italianos. A junção de comida e ambiente de qualidade com as memórias afetivas da imigração – elementos agregadores de pessoas – ajuda a explicar a média de 6 mil visitantes diários de segunda a sexta e o dobro nos finais de semana. Ou seja, dependendo do dia e horário da visita, o complexo gastronômico paulistano exige paciência... Eataly: todos os dias, das 8h às 23h Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 1.489 Vila Nova Conceição, São Paulo eataly.com.br

Um dos mais novos empreendimentos da Capital é um convite para viver essas novas formas de se relacionar com o alimento. A multiplataforma de conteúdo gastronômico Destemperados tem, desde junho, um espaço real, concretizado em um casarão localizado no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Além de uma área externa de encher os olhos, são sete espaços internos, batizados de: Explore (para degustação de vinhos), Experimente (novas receitas), Inspire (uma pausa), Descubra (novos sabores), Relaxe (leituras), Renove (cursos e palestras) e Compartilhe (eventos). O espaço pode comportar até 30 eventos por mês e tem atrações diárias, mas vale a visita mesmo que seja só para conhecer ou para compras no “mercadinho”. Casa Destemperados: segunda a sábado, das 14h às 20h. Rua Marquês do Herval, 82 Moinhos de Vento, Porto Alegre destemperados.com.br Em tempo: comfort food, para mim, é creme de moranga, comida de piquenique e brigadeiro de colher. E para você?

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inBá | Caxias do Sul

EscuLturas e humanismo Quarto dos cinco filhos do escultor e político caxiense Bruno Segalla e de sua mulher Almira, Bruno Segalla Filho foi uma criança tímida e ansiosa quando a violência ainda não era um problema. Época de uma rotina de muita brincadeira nas ruas pela vizinhança, em Caxias do Sul. Como os quatro irmãos, suas influências paternas foram fortes: “Até 1975, vivi um isolamento da realidade da vida familiar, até por ser jovem e viver uma época de exceção. Quando o pai foi preso, me dei conta da situação em que vivíamos e me aproximei mais dele. Foi ótimo conviver com pessoas interessantes como dirigentes políticos, advogados brilhantes, artistas e jornalistas. Ser filho do meu pai foi muito gratificante”. Personalidade da cidade, o escultor foi um político de esquerda em plena ditadura, e moldou os filhos com seus ideais humanistas e sua visão solidária e igualitária do mundo. Terminou o colégio, e aos 18 anos começou a trabalhar com o velho, como chama carinhosamente o pai, em seu atelier. Foi aí que aprendeu toda a base de conhecimentos técnicos e humanos. Desde gravar matrizes de injeção plástica, fazer moldes de estampo a ser honesto e paciente. “Enquanto ele se dedicava à escultura, à medalhística e à política, eu me voltava para o lado mais comercial do atelier”. Seguiu aprendendo sobre desenvolvimen62 |

to em usinagem de velocidade em moldes e matrizes, sempre contando com os conselhos do pai. Coube a ele, o filho homônimo e parceiro nos negócios e no cotidiano, o direito sobre sua obra. Como agradecimento à sua confiança, e homenagem de um filho a um pai, Bruno decidiu junto à família, preservar sua obra e criar o Instituto Bruno Segalla, com a colaboração preciosa da mulher Rejane, que conheceu em 1997 o presenteou com a enteada Bruna (22) e com o filho Mateus (12). Entre as atividades educativas do IBS estão os projetos culturais ”Onde Estou?” para escolas públicas com um trabalho voltado para questões do pertencimento, identidade e patrimônio, realizando interfaces entre a escola, o museu e a cidade e o “Memória Viva”, com visitas mediadas à exposição e acervo do IBS e oficinas interativas para alunos e comunidade. Desenvolvidos por leis de incentivo, ambos são gratuitos e oferecem transporte para as escolas públicas. Em parceria com escultor uruguaio e parceiro Mário Cladera, o instituto também ajuda a subsidiar aulas de esculturas no atelier da artista caxiense Elisa Zatera. Cladera foi parceiro do IBS em vários projetos para o trabalhador da indústria da região. Viés que dialoga com origem do pai de Bruno, operário metalúrgico de habilidades descobertas dentro do chão de fábri-


acervo instituto bruno segalla

ca. Além do IBS, Bruno comanda a CEPO, sua fábrica de esculturas em madeira: “Ideia antiga nossa de produzir a partir de fresadoras copiadoras. Solução que encontrei no norte da Itália, numa vila, onde a maioria dos habitantes esculpe madeira. Lá busquei conhecimentos para iniciar a CEPO.” A empresa cria e produz esculturas só em madeira a partir de processos artísticos, artesanais e tecnológicos utilizados com inovação e responsabilidade ambiental. Qual o grande sonho do humanista Bruno? Ele quer viver num lugar mais tranquilo, longe do caos e ter um formato menor de fábrica como se fosse um atelier. Também que o mundo fosse mais igualitário e todos tivessem boas condições sociais. Sem ídolos, o papa Francisco o surpreendeu muito com suas encíclicas condenando o deus dinheiro e defendendo a mãe natureza. A Bá assina embaixo. MB

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Julia Ramos Fotógrafa Guaíba, Porto Alegre, novembro de 2011

Em sua estreia na Bá, o olhar de Julia passeia pelas silhuetas.

Metropolitan Museum, Nova York, junho de 2012

Templo Sensouji, Tóquio, Japão, maio de 2011

Londres, abril de 2015

Skopje, Macedônia, junho de 2015


Jardins de Tuileries, Paris, Franรงa, fevereiro de 2013 | 65


outBá | São Paulo

Bravo, Paola!

Como muitas meninas de 13 anos que dançam ballet clássico, Paola Rihan não imagina sua vida sem a dança: “Parece estranho (risos), mas acho muito linda essa vida das bailarinas profissionais. Vou trabalhar para um dia ser igual a elas. Não consigo me ver em outra profissão que não seja a de bailarina”. A diferença entre a Paola, que dança desde os nove anos, e a maioria das bailarinas da sua idade é o dom natural. O talento da menina já foi percebido na escola onde faz aulas em São Paulo, o Studio de Danças Marcia Pee. Tanto que, a convite, já participou de dezenas de cursos de aperfeiçoamento e ganhou prêmios em festivais. Ciente da dedicação e do sacrifício que é a vida de uma bailarina profissional, Paola já tem uma rotina puxada para a idade e demonstra estar realizada. Ela acorda todos os dias às 6h, toma café, vai para a escola. Após o almoço, coloca o uniforme no carro e vai para o ballet, onde chega em torno das 14h. Depois do aquecimento, faz aulas até o final do dia. Em casa, janta, faz as lições e vai dormir. Muitos dos seus finais de semana são participando de festivais de dança: “Meu maior sonho é conseguir entrar em alguma grande companhia do Exterior e poder dançar até ficar velhinha. Não consigo nem descrever direito a sensação de estar no palco. Sinto como se nada ao meu redor existisse e todos os meus sonhos e Deus estivessem junto comigo dançando. Um momento em que tenho que mostrar todas as horas e horas de ensaio, e como sou feliz dançando. Palco é um lugar mágico”. Das recentes lembranças da infância, Paola conta que, além dos momentos felizes em família com os pais, Cristiano e Laura Rihan, e a irmã, Manuela, já saracoteava pela casa como uma bailarininha: “Adorava brincar de colocar uma música na sala, uma fantasia e ficar correndo, dando voltas e voltas como se estivesse dançando, mas 66 |

eu nem pensava em entrar no ballet”. E quando eu pergunto se alguma atitude do passado reflete a menina que ela está se tornando, Paola me ensina e emociona com sua resposta: “Acho que o que definiu minha personalidade não foi uma atitude ou alguma história, mas sim a minha irmã, Manuela, que tem Síndrome de Down. Ela me ensinou muito (e ainda ensina), me dando sempre lições de vida. Aprendo com ela”. Sensível à vida e aos seus ensinamentos, Paola também encontrou aprendizado na dança: “O ballet ensina coisas para a vida toda. Desde como ser uma pessoa melhor, que se desafia a ter agenda e rotina regrada. Quando comecei, me organizei mais porque tenho que conciliar com os estudos”. Admiradora de Ana Botafogo, como se define, Paola imagina estar regando um jardim para ver as flores no futuro. É assim que essa flor de bailarina se vê daqui a 10 anos (e a torcida da Bá já começou), em um jardim, realizando o sonho de entrar em uma grande companhia e dançar ao lado de bailarinos profissionais. Até agora, sua maior emoção no palco foi solo interpretando o ballet de repertório La Fille Mal Gardée. “Foi o meu primeiro Pas de Deux com o conjunto da dança das fitas”. Sobre Porto Alegre, cidade natal dela e dos pais de onde saiu pequena, as lembranças são as melhores: “Acho tão bonita a cidade e me encanta saber que a maior parte da minha família está reunida numa cidade tão alegre. No início, achava São Paulo muito chato, mas agora adoro. Aqui tem o ballet (risos). Mesmo sendo cidade grande, é um lugar bonito, com lazer e alegrias”. Falando em alegrias, é exatamente o que Paola sente ao lembrar com gratidão da família: “Todos os dias agradeço pelos pais que tenho, que me apoiam e dão muito carinho e amor para mim, minha irmã e a minha cachorra”. Que sorte tem esse trio. MB


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rt photo studio


Roubadinhas

LauraBierMoreira

Feliz sem culpa

Antes de me apresentar, preciso compartilhar com vocês que estou muito feliz em ser a nova colunista desta revista que admiro tanto e que é nossa, gauchíssima!!! Prazer, eu sou a Laura Bier Moreira, empresária, viciada em endorfina e apaixonada por roubadinhas. Peraí, roubadinhas? Como assim? Calma gente, quem ainda não conhece, vai conhecer agora ; ) Roubadinhas foi o termo que criei para descrever aquela (literalmente) roubada que a gente dá na dieta, o docinho de todo dia, o hambúrguer do final de semana, a pizza de quinta-feira… Mas, para mim, não tem problema nenhum dar uma roubadinha, é só gastar depois. E eu gasto mesmo! Além de um termo carismático para deixar mais leves as escapadas na dieta, chamadas pelos famosos instafitness de “jacar”, o Roubadinhas é um perfil que compartilha o meu lifestyle sobre ser feliz sem culpa. Acredito muito na lei da compensação e que não devemos nos privar de um dos maiores prazeres da vida que é comer. Sem nunca esquecer de compensar, malhando depois. Hoje o Roubadinhas virou uma plataforma digital. Quem quiser saber um pouco mais sobre tudo isso, segue lá no Instagram @roubadinhas, curte no Facebook a página Roubadinhas, acessa o site/blog www.roubadinhas.com e canal no YouTube, e confere os vídeos e fotos real time no snapchat Roubadinhas. 68 |


Eu não paro. Sou hiperativa e ligada no 220 desde criança. Comecei no esporte bem cedinho: natação e, depois, ginástica olímpica e tênis. De uma família de tenistas, morei na infância e na adolescência na frente da Associação Leopoldina Juvenil, onde nasceu minha paixão pelo tênis. O primeiro torneio foi com sete anos de idade, venci e não parei mais. Amando a vida de treino e competição, fui a primeira colocada do ranking brasileiro por mais de dois anos, comecei a treinar no IGT (Instituto Gaúcho do Tênis), joguei torneios pelo mundo afora, morei em Miami para treinar na academia do treinador equatoriano Colón Nuñez. Me formei em Administração com ênfase em empreendedorismo e sucessão, e resolvi colocar toda a experiência do esporte na Protenis, empresa do meu pai que organiza, há 35 anos, eventos esportivos com foco no tênis. Sou uma fã assumida de eventos, ainda mais quando eles são de esporte. Evento é experiência, é emoção, é aproximar marcas das pessoas e pessoas das marcas. É descontração, competição, alegria. Na era digital em que vivemos, onde tudo está completamente voltado para a Internet, é quando eu acredito ainda mais na força do evento para aproximar as pessoas. E acredito que o combo internet + evento + redes sociais é poderosíssimo para divulgar, proporcionar experiência e aproximar por meio do evento e depois mostrar e contar nas redes sociais tudo o que aconteceu, mais uma vez. Me sinto realizada profissionalmente, já que continuo envolvida na organização de eventos esportivos e compartilho um lifestyle que une o esporte, a comida e a busca incessante pela felicidade. Aguardem os próximos capítulos. Prometo dar muitas dicas bacanas de lugares para comer, viajar, praticar exercício e ser feliz, sem culpa, é claro! Até a próxima edição da Bá.

fotos carol zate

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Báco

Gin: a bebida da moda OrestesdeAndradeJr. jornalista e sommelier

O gin é mais versátil para a elaboração de drinques do que a neutra vodca e menos complexo do que o rum ou o uísque

A nova onda do momento é o gin. Bebida que teve seu auge nos anos 1920, durante o período Art Déco, o gin volta com força total e suas receitas começam a ser resgatadas em países da Europa e agora também no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) apontam que a comercialização da bebida atinge em torno de 53 mil caixas de nove litros por ano, sendo parte importada de outros países. O gin é mais versátil para a elaboração de drinques do que a neutra vodca e menos complexo do que o rum ou o uísque. Na Europa, a revitalização do gin, em especial o famoso coquetel gin tônica, começou no verão dos anos 2007 e 2008, quando os chefs, ao final de dias quentes, bebiam água tônica em copos grandes. Aos poucos, o gin foi introduzido até se chegar à fórmula perfeita do gin tônica, sempre servido com muito gelo. O gin tônica é um coquetel que precisa ser elaborado a partir de regras rígidas e proporções precisas de cada bebida (em um copo lon70 |

go, coloque 60ml de gin e complete com água tônica, uma fatia de limão tahiti e muito gelo). Com sabor diferenciado, o gin é considerado uma bebida sofisticada e para paladares exigentes. Bebida destilada feita à base de cereais neutros – com presença obrigatória de uma pequena frutinha chamada zimbro, de cor azul-esverdeada, altamente aromatizada, de um arbusto cultivado no norte de Itália, Croácia, Estados Unidos e Canadá –, o gin pode ser apreciado puro ou em drinques. No Rio Grande do Sul, duas marcas fazem sucesso – uma nacional e outra importada. A prata da casa vem de Flores da Cunha: o Gin Rock’s, da Fante Bebidas. Elaborado há mais de 30 anos, o produto teve sua comercialização incrementada nos últimos tempos. “Depois de registrarmos uma produção estável nas últimas três décadas, dobramos nos últimos dois anos”, contabiliza Júlio Fante, diretor da empresa. Para o próximo ano, a expectativa é de um crescimento de 30% na venda do destilado. “O processo


é o mesmo há mais de 30 anos. Além do zimbro, nossa formulação inclui coentro, deixando um sabor único e mais seco, o que torna o produto inconfundível e idêntico aos melhores produtos internacionais”, explica o gerente técnico Cedenir Fortunatti. A marca estrangeira cada vez mais presente nos copos dos gaúchos vem da Inglaterra – o Gin Hendrick’s, marca fundada no ano 2000 pela famosa destilaria da família Grants. O destilado que sempre teve como base cereais e zimbro ganhou, nos últimos anos, outros ingredientes adi-

cionados à bebida, como azeitona, manjericão, alecrim e pepino. Além de zimbro e 11 tipos de ervas e raízes no processo de destilação, a bebida ganhou toques de pepino e pétalas de rosas damascena, oriundas da Bulgária, resultando em um delicioso sabor refrescante e repleto de nuances. O drinque clássico com o Gin Hendrick’s leva água tônica, na proporção de 3 para 1, com uma fatia de pepino. Seja qual for a sua combinação, peça gin e mostre que você está antenado ao que acontece no mundo todo. Tim-tim! | 71


por aí

FlavinhaMello chef e dj

Museu das Minas e do Metal Gerdau

“Nhô Tim” imperdível Para quem gosta de cultura e quer fazer um programa diferente, a dica é ir passar o final de semana em Minas Gerais. De Porto Alegre tem voo direto para Belo Horizonte. Minha primeira dica é instalar-se e correr para a Praça da Liberdade onde tem um circuito superinteressante de museus, que ficam um ao lado do outro. A praça é um charme, tem uma rua central cheia de palmeiras e um chafariz lindo. Comece pelo Centro Cultural Banco do Brasil, o prédio é imponente e quando fui estava rolando a exposição do Kandinsky. Vale a pausa para um café com bolo de milho e pão de queijo. Próxima parada: Museu das Minas e do Metal Gerdau, bacana e interativo. Para finalizar conheça a Casa Fiat. O Mercado Público Central de BH é imperdível para quem curte gastronomia. Os queijos e cafés da região são incríveis. Eu, que adoro canecas e bules de ágata, achei de várias cores e tamanhos. No dia seguinte vá cedinho para Inhotim para poder aproveitar o museu. De BH, dá para alugar um carro ou comprar passagem de ônibus antecipada pela Internet na empresa Saritur. Inhotim fica na cidade de Brumadinho, a 60 quilômetros da capital mineira. A origem do nome 72 |

Mercado Público Central

Inhotim gera curiosidade e uma das histórias mais conhecidas é que um minerador inglês, o “Sir Timothy”, teria morado na área ocupada hoje pelo Instituto. O pronome “Sir”, traduzido para o português como “Senhor”, muitas vezes era falado “Nhô”. Assim, “Sir Timothy” se transformaria em “Nhô Tim”. Criada na década de 1980 pelo empresário Bernardo Paz em uma área de 110 hectares, uma das mais importantes sedes de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, Inhotim tem cerca de 500 obras, de mais de 97 artistas de 30 diferentes nacionalidades. Em 1984 o paisagista Roberto Burle Max visitou a área e além de apresentar algumas sugestões, também colaborou com os jardins da galeria, desde então o projeto paisagístico passou por diversas modificações. A propriedade particular foi se transformando e começou a se tornar um espaço cultural. Além de um Centro de Arte Contemporânea, o Inhotim é um Jardim Botânico que conta com mais de 4,5 mil espécies nativas e exóticas. O legal que entre palmeiras, flores e lagos, caminhamos por galerias permanentes e itinerantes, algumas delas a céu aberto. Um cenário perfeito de arte e natureza. Não deixe de comprar o ingresso com opção do carrinho incluso, que leva às galerias mais distantes. Para almoçar tem o Tamboril, o Bar do Ganso e o Oiticica com vista para o lago. Mais informações: www.inhotim.org.br


Inhotim

Inhotim e sua exuber창ncia natural

Centro Cultural Banco do Brasil BH | 73


LígiaNery coach

Singularidade Ilustração Graziela Andreazza

Estava relembrando uma entrevista a que assisti, com Bibi Ferreira. Perguntada sobre a escolha de suas peças, seus temas, ela, enfática, respondeu: – Esta, Fernandinha faz, Marília faz! Divinamente, são maravilhosas. Agora, Piaf, ah! Piaf só eu faço. Nasci com este dom, desenvolvi, estudei canto, minha voz é minha paixão. Existe uma convergência única, particular, singular. Cinco milhões de pessoas no Brasil, em Portugal e na França assistiram a Piaf, com Bibi Ferreira, e isto culminou em um show comemorativo aos 90 anos da artista em Nova York, no Town Hall. O que faz a diferença na carreira dessas pessoas? O que podemos aprender com elas? Todos temos uma Piaf dentro de nós. Apenas alguns descobrem que ela existe, a deixam aflorar e lhe dão de comer para que cresça e se desenvolva colhendo os frutos. 74 |

Depois disso, até ganham dinheiro, fama e reconhecimento como consequência. Assim é o talento. Algo que a gente desvela, desenvolve porque gosta. E porque gosta faz tão bem, que se torna único, singular. Você pode até pensar: o que tem de brilhante em imitar Édith Piaf, algo de diferente nisso? Bibi revisitou a força e a garra de uma guerreira, La Môme, que (en)cantava a sua dor. No fim de um importante espetáculo em Paris, Michel Rivegauche, compositor de grandes sucessos de Piaf, abraçou Bibi e disse: – Você não imita Piaf, você é uma grande intérprete, assim como Piaf. Sua interpretação de minhas músicas ficará para sempre em meu coração. A vida está em constante transformação. Inovação é a capacidade de revisitá-­la dando um novo tom. Encontre o seu e coloque La Vie en Rose...





Hidrate-se no frio

VerônicaBender dermatologista

Mesmo nos meses mais frios, a pele precisa ser hidratada para se manter saudável e bonita. O frio, banhos quentes e o uso excessivo de sabonetes levam a um ressecamento extremo chamado xerose cutânea. A pele fica com aspecto craquelado, coceira e até descamação, agravando as dermatites seborreica e atópica, a rosácea e outras doenças da pele. Hidratar o rosto e o corpo com cremes ou loções, indicados para cada tipo de pele, melhora muito esses quadros. Hidratar a pele é também beber muita água e ter uma alimentação saudável.

Eles também querem. Por que não? Por ter maior quantidade de pelos e glândulas, a pele do homem é mais espessa e oleosa, por isso o envelhecimento masculino é percebido mais tardiamente, mas cravos e espinhas surgem na adolescência e causam desconforto, manchas e cicatrizes físicas e até emocionais. A limpeza de pele e os peelings são indicados para tratar os cravos e poros aparentes, enquanto os lasers fracionados são a melhor opção para reduzir cicatrizes e estimular a produção de colágeno nos homens. Lavar o rosto diariamente e dar preferência aos produtos oil free, que evitam o excesso de oleosidade e diminuem o aspecto de poros abertos, são cuidados indispensáveis, além do uso de filtro solar pela manhã, que ajuda a prevenir manchas e os danos causados pelo sol. Os primeiros sinais de envelhecimento começam a partir da terceira década, como bolsas embaixo dos olhos, flacidez e rugas na testa. Os atuais padrões de beleza

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fizeram com que eles parassem de se contentar apenas com a barba bem feita, e hoje desejam um corpo livre dos pelos. A depilação a laser é muito procurada por homens que querem se livrar dos pelos principalmente no abdome, peito e costas, pernas, axilas, orelhas e até dos pelinhos do nariz. A gordura localizada também não é mais só uma preocupação feminina, o público masculino está mais exigente em relação à estética e cada vez mais adepto aos tratamentos estéticos. O excesso de gordura localizada, principalmente na região dos flancos (pneuzinhos) e abdome, incomoda. Reeducação alimentar e reduzir álcool e praticar exercícios evita o acúmulo de gordura e mantém o organismo saudável. Para potencializar a rotina de cuidados com o corpo, técnicas indolores e realizadas por profissionais credenciados, como a criolipólise, radiofrequência e ultrassom corporal, ajudam a reduzir medidas sem serem processos cirúrgicos invasivos.


a sua assessoria de imprensa no rio grande do sul e no brasil

www.agenciacigana.com


LíviaChaves Barcellos

A Oitava Arte

sebastião salgado/reprodução

O termo Belas Artes popularizou-se no século 18, com o livro publicado em 1746 pelo francês Charles Batteux. Eram elas: Música, Dança, Pintura, Escultura, Teatro e Literatura. Com o tempo, a lista foi sofrendo modificações, sendo a primeira delas a inclusão do Cinema, quando Ricciotto Canudo o citou como a Sétima Arte, no seu Manifesto das Sete Artes, publicado em 1914. Mas foi só em 1923 que o Cinema foi aceito neste rol. Agora, em pleno século 21, a Fotografia passou a ser considerada a Oitava Arte. E muito justamente, porque as exposições fotográficas estão invadindo as galerias de arte com grande sucesso. Uma boa fotografia é arte pura. Para isso, é preciso, antes de tudo, ver a trajetória de Sebastião Salgado, que tem o seu ápice no excelente documentário O Sal da Terra, resultado de um trabalho da maior seriedade. Começa mostrando o

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que há de apavorante neste mundo: a pobreza, a fome, a exploração do homem pelo homem, enfim, o que há de mais triste na humanidade. Na segunda parte do filme (Gênesis), abre-se uma luz, quando ele mostra a vida entre os animais, que protegem uns aos outros e cujo exemplo deveria ser seguido por toda a humanidade. O filme é imperdível. E, no Rio, uma mostra incrível acontece no Instituto Moreira Salles. São as primeiras fotos tiradas da Cidade Maravilhosa, no período de 1849 até 1930. A exposição é uma homenagem aos 450 anos do Rio, revela a cidade através das andanças de Joaquim Manuel de Macedo e pode ser visitada até o final do ano. Não podemos esquecer os nossos fotógrafos, que são maravilhosos. Leonid Streliaev, que se dedica principalmente a fotos da nossa cidade e do Rio Grande do Sul. Nádia Raupp Meucci, que, com seu olhar apurado, descobre detalhes inusitados em fachadas de casas e nos mostra muita coisa que, para um leigo, passa despercebida – hoje ela divide com Gheno o atelier Flâneur. Tonico Alvares, que faz um trabalho da melhor qualidade. E ainda temos artistas plásticas que estão se aventurando com grande sucesso nesta oitava arte. Para citar apenas duas, escolho as minhas favoritas: Elizethe Borghetti e Ana Alegria, que lançou o livro Janelas Verdes com grande sucesso.


AndréGhem tenista profissional

Bella Italia

Eu sei que eu tinha prometido nunca mais voltar. Cinco anos já se passaram desde a última vez, tempo suficiente para deixar para trás e apagar todo aquele sofrimento. De peito aberto, pulei de ponteio em busca do sucesso desejado, e você me tratou com o mesmo desdém de sempre. Com caprese todos os dias antes do prato de fundo, a mussarela de búfala, como o seu tomate, o prosciutto crudo, até o cotto, que nem dou muita bola por essas bandas, fiz menção. Pizzas, pedi com frequência. A escallopina, fininha e saborosa; também não faltaram gellatos e cafés, aquele de um dedinho entrou no pacote também. A Itália, profissionalmente, nunca me

trouxe boas lembranças. De alguma maneira, sempre estive descontente por lá. Era o ar-condicionado que não gelava, o transporte que se atrasava, a Internet que não funcionava, o calor que matava. Desde minha chegada, sempre estive aberto a tudo, mas a italianada pouco a pouco me consumiu, e o insucesso me foi servido com molho e sem queijo. Duas semanas é o tempo suficiente para pensar em regressar, e assim o faço. A mi casa retorno. E o que fica é o charme de suas ruelas, a beleza de suas paisagens, seus traços marcantes e, sem dúvida, inigualáveis. Mas, a partir de hoje, só volto a ver-te, Itália, de pés descalços e de férias, bem longe do meu trabalho. | 81


MarcoAntônioCampos advogado e cinéfilo

PRODUTOR DE MEGASSUCESSOS

O cinema já teve uma época em que as pessoas mais conhecidas eram os produtores, como Cecil B. DeMille, David O. Selznick, Irving Thalberg ou Mack Sennett. Depois veio o Star System de Clark Gable, Humphrey Bogart, Marilyn Monroe e Lauren Bacall, e mais tarde ainda a época em que o nome mais destacado é o do diretor do filme, como Woody Allen, Steven Spielberg e Francis Coppola.

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Pois o cara da moda é outra vez um produtor, o americano Jeffrey Jacob Abrams, 50 anos, mais conhecido como J.J. Abrams, responsável nada mais nada menos do que pelos novos filmes de Guerra nas Estrelas Episódio VII: O Despertar da Força, Missão Impossível V: Nação Secreta e Jornada nas Estrelas: Beyond, os três maiores sucessos das telas nos próximos 12 meses.


Para falar de J.J. Abrams, a menção obrigatória tem de ser que ele foi dos primeiros a entender o papel da televisão fechada e das novas séries como uma revolução para o cinema. Suas séries de TV, Lost e Fringe, aliás, estão entre as mais vistas de todos os tempos, sendo que Lost ganhou o patamar de cult entre milhões de pessoas no mundo inteiro, chegando a oito temporadas de um sucesso gigantesco. Foi também Abrams que fez renascer em grande estilo duas clássicas franquias da TV em formato de megaproduções cinematográficas. Seus filmes de Jornada nas Estrelas ganharam muito em categoria de história,

elenco, roteiro e produção. Incluir atores do nível de Benedict Cumberbatch trouxe um plus gigantesco ausente nos filmes anteriores da série. Da mesma forma, seus filmes de Missão Impossível vêm crescendo capítulo a capítulo, trazendo histórias cada vez melhores do agente Ethan Hunt, em locais espetaculares, como o edifício mais alto do mundo, em Dubai. Porém, o desafio maior ainda está por vir. Quando a Disney comprou de George Lucas os direitos de Guerra nas Estrelas, J.J. Abrams se apresentou logo para assumir o desafio supremo: será possível fazer filmes melhores que os da série original da Lucasfilm? Quando dezembro vier, o mundo vai saber se J.J. Abrams venceu mais esta guerra com seu talento incomparável.

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Bá, que viagem

Eduardo e Mônica pelo mundo “Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer. E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer...” A história desses namorados começa igual à letra do Legião. No lugar dos gêmeos que Renato Russo mencionou na canção, o casal homônimo de gaúchos, com algumas (poucas) economias, experiência em viagens, boa saúde e sem filhos, decidiu colocar os sonhos na mochila e conhecer o mundo. Eduardo Viero fez uma pausa no tipo de fotografia que desenvolvia e ajustou o foco para um projeto maior. Mônica Morás deixou o emprego na área do marketing, adiou o mestrado e começou a pensar em empreender. Extrovertido, agitado e falante, a infância e adolescência do guri de Dom Pedrito foi acompanhando o pai, jogador de futebol, nos estádios onde jogava. Tranquila, curiosa e observadora, para a pequena Mônica, leitura e desenhos ganhavam das brincadeiras de rua. Mocinha, a farra com as amigas pelo Vale do 84 |

Sinos é uma lembrança deliciosa. Ambos são administradores formados. Ele trancou a faculdade para estudar inglês em Dublin e descobriu a fotografia. Ela percebeu que algo não ia bem e foi viajar. Procurando respostas, conheceu o marketing. Hoje, dividem o roteiro, o aprendizado, as aventuras e novo estilo de vida no espaço virtual www.eduardo-monica.com. A instigante ideia dos dois é se desafiar, provocar em si um olhar de vida diferente, e por isso as culturas convencionais estão descartadas. O rumo é só um desejo marcado no mapa, o único objetivo rígido é permitir-se mudar. “Percebi o quanto ainda tenho de aprender, compreender e compartilhar com o mundo”, conta Eduardo. O sonho comum de girar o planeta os uniu há quatro anos. O mais difícil foi decidir. Desde junho de 2014, quando deixaram Novo Hamburgo, já passaram por Hong Kong, Coreia do Sul, Filipinas, Indonésia, Tailândia, Laos, Camboja e


fots Eduardo e Mônica/Runaways

Vietnã. Tudo de que precisam está nos 12 quilos da mochila de cada um. Sempre no limite do orçamento e com o dólar lá em cima, experiências únicas, como cruzar a Rússia pela Ferrovia Transiberiana, ganham outro valor. Conviver com uma família nômade na Mongólia em uma ger (tenda nômade) foi transformador: “Eles não têm e não precisam de nada para ser felizes, e são muito felizes! A cultura do lugar onde crescemos nos torna ignorantes, donos de uma verdade que não é igual para todos, e só viajando e tendo essas experiências “na marra” entendemos que menos é mais e que é o medo que impede as pessoas de realizarem seus sonhos. Se sabemos que a vida acaba, cada segundo é precioso, e ela só faz sentido se entregamos algo de bom de volta para o mundo”, explica Mônica. O segundo ano será diferente. Além dos 12 quilos na mochila, a alma também carrega uma bagagem nova de conhecimento. Foram 11 países, mais de 30 pela estrada. A lista de lugares ainda para 2015 é imensa. Com tanta opção, Bangkok foi o lugar escolhido para as dicas da

Bá: “É imperdível visitar o Palácio Real, algum das centenas de templos da cidade, o Mercado de Chatuchak, comer comida de rua, como os tailandeses fazem, curtir algum dos cafés hipsters do bairro Aree e fazer compras na região da Siam Square”, recomendam. Eduardo e Mônica descobriram que precisam de pouco dinheiro para viajar e realizar os sonhos. Tudo vem da força de vontade e do desapego, explica a ruiva: “Coisas inúteis que acumulamos na casa e na vida só ocupam espaço na cabeça e na estante”. Nos próximos meses, eles serão vistos em Shanghai, na China. Os planos de voltar definitivamente para o Brasil não existem, mas aparecer todo ano de “férias” e ver família e amigos, como fizeram há pouco, é a primeira na lista de prioridades: “Nossos projetos podem ser desenvolvidos de qualquer lugar. Juntos, somos corajosos; se bate medo ou insegurança em um, o outro incentiva a seguir em frente, mesmo também com medo”. Simples, singelo e inspirador, como a canção. MB | 85


Fotos Tonico Alvares

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SilvanaPortoCorrêa

Linda e clássica Livia inesquecível nos tempos Livia Marcantonio Borde Sévigné, onde estudou: toncello se define como “Uma vez eu desenhei uma uma pessoa simples. Talestrelinha bem caprichada vez no sentido de não ser e recebi um elogio. Lemcomplicada ela tenha rabro de ter adorado aquela zão. O estilo reservado e sensação de ser elogiada”. discreto da renomada arE quem não gosta de um quiteta é uma de suas marelogio sincero e merecicas registradas. Outras são do? Pois foi tão significao requinte e a maneira clástivo, que a pequena Livia, sica com que ela impecaque frequentou escolinhas velmente se veste, caractede arte e tinha dons para rísticas também presentes o desenho, escolheu a em seus projetos: “Procuro disciplina como curso prorefletir a vida da pessoa. Tefissionalizante, na época mos que entender e saber Os projetos do profissional oferecido no então 2º Grau equilibrar que é a casa de Peter Marino encantam Livia do Colégio Farroupilha. Foi cada um, embora o projeto seja teu. Tem que se fazer ouvir, porque natural passar pelo Atelier Livre da Prequem procura um profissional confia e quer feitura: “Sempre fui muito racional e obouvir; mas também respeitar as individua- jetiva, decidi pela Arquitetura. Passei na lidades, o estilo de cada pessoa. Apesar UFRGS, comecei a estagiar no quarto de me considerar eclética, eu gosto sim de semestre e nunca mais parei”. O mais realizador de sua carreira é a um certo requinte”. Quando era pequena, queria ser es- felicidade do cliente, até porque nessa critora e gostava de desenhar. Algo foi área é muito comum o meio do caminho 86 |


ter muitos tropeços. Entre os lugares que inspiram e agradam aos olhos da arquiteta, estão a plácida Punta Del Este fora de época, Roma e sua antiguidade alegre e a cosmopolita Londres: “Londres é linda. Mistura como poucas o velho e o novo. Cheia de parques”. Um luxo para essa minha linda amiga é não ter horários, e um de

seus desejos é participar da autoria de um projeto de um museu. Um domingo perfeito? “Ficar com a família, todos calmos e reunidos”. Para seus meninos, fruto do casamento com Leonel Bortoncello: “Quero que eles busquem sempre seus valores, suas verdades, sejam felizes e parceiros um do outro”. | 87


Bá no esporte

CláudiaCoutinho jornalista

Recorde brasileiro em território americano

Fabrício Marcondes Silva, Gustavo Piccinini, Marcos Knewitz e Rodrigo La Rosa têm em comum a paixão pelo ciclismo. Também compartilham o gosto pelos desafios. Não os simples. Preferem os mais audaciosos. Assim montaram o RS Brazilian Team, com o objetivo de encarar a 34ª edição da Race Across America (RAAM), a maior prova ciclística do mundo em extensão e uma das competições de endurance considerada a mais exigente do planeta. A ideia inicial desses quatro gaúchos era vencer as 3.004 milhas, cerca de 5 mil quilômetros, e pronto. Queriam finalizar. Inteiros. Por isso, risos e choro tomaram conta do quarteto quando cruzaram a linha de chegada como os mais novos recordistas brasileiros para a disputa, com 6 dias, 12 horas e 31 minutos e velocidade média de 30,7 km/h. A marca anterior, estabelecida em 2012, era de 6 dias, 18 horas e 43 minutos e velocidade média de 29,4 km/h. “Eu me emocionei muito”, diz Gustavo, ao recordar o momento da chegada. “Lembrei de cada hora que deixei de trabalhar ou de estar com minha família para me dedicar ao projeto. Foi realmente emocionante”. Rodrigo, por sua vez, lembra que fez questão de que toda a sua família estivesse lá. “Não era para me receberem, mas para dividir aquele prêmio com eles, porque a decisão de participar de uma prova como essa não é tomada sozinha, mas em família”, explica. Foram oito meses de dedicação ao projeto. Para cruzar os Estados Unidos da costa oes88 |

te à costa leste, de forma ininterrupta, pedalando em revezamento 24 horas por dia e enfrentando todos os tipos de adversidades, Fabrício, Gustavo, Marcos e Rodrigo se dedicaram a um trabalho de planejamento e preparação que se iniciou oito meses antes da data da largada. Foi um longo período, no qual todos foram obrigados a adaptar suas rotinas pessoais e profissionais para colocar o sonho no papel, definir a equipe, estabelecer custos, buscar patrocinadores e, é claro, treinar, pedalar, treinar e pedalar. No início, as reuniões eram quinzenais e presenciais. Depois se tornaram mais frequentes, juntamente com os e-mails. Dada a largada, no dia 20 de junho, em Oceanside, na Califórnia, o RS Brazilian Team passou a colocar em prática o planejado. Durante o dia, os quatro se revezavam de hora em hora. Durante a noite, o tempo de pedalada passava a ser de duas em duas horas. Em temperaturas mais altas, os intervalos diminuíam para 40 minutos, a fim de evitar um desgaste maior. O mesmo acontecia quando o trajeto impunha uma subida mais íngreme. Os quatro ciclistas eram acompanhados pelo chefe de equipe, Mario Sanchez, pelo técnico Lucas Pretto, por mais 11 pessoas no time de apoio e mais três profissionais responsáveis pela captação de imagens. A estrutura contava com dois carros, um para cada dupla de ciclistas, outro só para a equipe da mídia, que acompanhava quem estava pedalando o tempo todo, e mais um motor home, onde eram feitas as refeições e o pessoal do staff podia descansar. O banho era


exclusividade para os quatro competidores. Foram seis dias assim: pedalando cerca de seis horas por dia, dormindo e se alimentando no carro em movimento, enfrentando calor de até 48ºC, vento, chuva, subidas, descidas, estradas, ruas e as mais diferentes paisagens. Só fugiram do frio de 4ºC, 5ºC do alto das montanhas no Colorado porque adotaram a estratégia de, naquele dia, pedalar mais forte para alcançar o ponto mais alto até as 5h da tarde, com tempo de sobra para descer e evitar um choque térmico. “Eu peguei chuva e granizo”, recorda Fabrício. “Mas o pior foi o temporal que se armou antes, levantando muita terra, que, mesmo com óculos, entrava nos olhos. Ardia muito”. A meta de estabelecer um novo recorde brasileiro surgiu durante a competição. A ideia inicial, eles sempre ressaltam, era terminar a prova, e bem. No segundo dia de pedaladas, perceberam que podiam almejar o nono lugar na categoria (18 a 49 anos). No terceiro, já estavam de olho no sexto. No quarto, queriam alcançar o quinto. Chegaram a andar em quarto. Mas perderam a

posição para uma equipe mais experiente, participante pela quarta vez da RAAM. Foi no sexto dia de prova que viram ser possível quebrar a marca nacional. “Tinha que ser uma decisão de todos. Não adiantava um se matar pedalando e outro ficar curtindo a paisagem”, lembra Gustavo. “Todos se motivaram. E todos decidiram se matar”. Deu certo. Reunidos em torno da mesa para falar da conquista, as histórias são muitas. Marcos recorda o incentivo recebido entre as próprias equipes competidoras: “Um era oponente do outro, mas, quando um time ultrapassava o outro, o incentivo era enorme. Não era uma competição. Todos estavam focados em vencer um grande desafio”. Lembra também do apoio recebido nas comunidades onde passavam, com postos com água e alimentos, por exemplo. Sem contar os imprevistos previsíveis, como o pneu furado de uma das bikes, o carro com dois pneus furados ao mesmo tempo, o outro carro que atolou, a adaptação à diferença de três horas no fuso horário do oeste ao leste, o receio de animais atravessando as estradas em alguns trechos. De volta à rotina de suas vidas, os quatro ciclistas do RS Brazilian Team têm todas as razões para se orgulharem da conquista de seus objetivos. Queriam cruzar os 5 mil quilômetros, pedalando cerca de seis horas por dia, cada um, durante seis ou sete dias, e conseguiram. Decidiram estabelecer um novo recorde brasileiro, e o fizeram. Com diferença de seis horas. Passados o cansaço do desafio e a euforia da conquista, perceberam também que ganharam um prêmio ainda mais valioso: o fortalecimento da amizade. “Em nosso time de 20 pessoas, nem todos se conheciam. Poderia ter acontecido algum atrito, algum problema. Mas, não. Formamos um elo que é para a vida toda”, assegura Rodrigo. E todos voltaram dos Estados Unidos mais fortes para enfrentar os desafios, inclusive aqueles do cotidiano. | 89


de olho

MarceloBragagnolo publicitário  e agente

Tri-Julia!

mario velloso

Julia Pereira é gaúcha, linda e crescida em São Sebastião do Caí. Também teria nascido lá, não fosse pelo fato de ser trigêmea de Cassiano e Carla e pela falta de suporte para um parto do gênero em hospitais da cidade. Então, Porto Alegre é a cidade natal em sua certidão. Ainda pequenina, descobriu o gosto por desfilar, cantar, fazer poses para fotos. Aos oito anos, já fazia alguns trabalhos como modelo ao lado dos irmãos. Com 15, participou do Supermodel of the World. Depois disso, a história é conhecida: mudouse para São Paulo, recebeu convites de agências estrangeiras para temporadas de trabalho no Exterior, mudou-se para Barcelona, depois Milão, Paris, Londres e então os Estados Unidos. Escolheu Nova York e Miami como base, mas segue com o pé na estrada

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– ou nas nuvens, afinal, para uma modelo internacional, os trabalhos surgem em todos os cantos do planeta. Trabalhos que considera importantes na construção de sua carreira? Cita diversos: campanha do perfume de Jennifer Lopez, fotografada por Camilla Akrans, campanha da Max&Co, fotografada por Corinne Day, editoriais de moda para Elle, Marie Claire, GQ, Maxim, Cosmopolitan e desfiles para DKNY, Louis Vuitton, Valentino e Kenzo. Em paralelo ao ofício que tanto sente-se bem fazendo, relata sempre ter observado com alguma paixão a moda praia. Quase compulsiva por comprar biquínis, as situações que a faziam sentir-se mais realizada na profissão eram quando aprovada para algum trabalho de beach wear. Então, por sincronicidade do destino, diriam alguns, despertou uma ideia na mente de Luciana Martinez, proprietá-

ria da grife Lybethras, que virou um convite. E hoje assina uma linha de biquínis com seu nome. E trabalhando tanto como modelo, onde ela encontra tempo e inspirações? Na própria experiência como modelo: “Minha profissão oferece a oportunidade incrível de viajar muito, e isso é essencial para encontrar inspiração. A primeira coleção, por exemplo, foi inspirada na ilha de Curaçao, no Caribe. Além disso, poder contar com os melhores profissionais, designers, stylists… é sempre aprendizado!” Com liberdade total para desenhar os modelos, a segunda coleção recém foi lançada internacionalmente, através de uma campanha fotografada por Mario Velloso e de um desfile na Miami Swim Week, semana de moda consagrada pelos lançamentos em beach wear. “Emocionante ver as modelos desfilando as minhas criações num evento tão importante. Claro que eu também desfilei, afinal, minha primeira profissão é a de modelo (risos)!”.

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AndreGuerrero

behance.net/ andreguerrero68

EM QUALQUER SITUAÇÃO, CONTORNE! Presentes em todos os estilos de maquiagens, seja para trabalhar ou ir à balada, para casar ou apenas passear, os contornos têm assumido papel importante para o sucesso de uma produção. Nas belezas marcantes, coloridas, onde o uso de maquiagem é mais evidente, os contornos evoluíram e ganharam espaço rapidamente, mas, o que poucos sabem é que, para um make com aspecto natural em que o que mais se valoriza é a pele, o contorno pode produzir efeitos discretos e encantadores. Pontos do rosto são iluminados ou escurecidos, gerando o equilíbrio dos traços, destacando o que lhe favorece e camuflando o que nem tanto. Para arrebitar o nariz, diminuir a testa, aumentar as maçãs, destacar os lábios ou afinar o rosto, se essas forem as suas necessidades, os contornos são essen-

ciais! Lembrando que, para cada formato de rosto, estilo de beleza, haverá um conjunto diferente de contornos. A possibilidade de serem feitos com diversos produtos – como bases, corretivos, blushes e até sombras (opacas) – e a fartura de tutoriais de qualidade que existe na web garantem, a quem se interessar, as ferramentas necessárias para começar a praticar e encantar!

F o t o s : M a u r í c i o R o d r i g u e s m o de l o s : J e nn i f e r Au a d a e C a r o l i n e C h a fa u z e r ma q u i agem : An d r e Gu e r r e r o P en t ead o r : R o d o l f o C o r o n e l A grade c i men t o : N ú c l e o Apa c h e

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moda urbana

Fotos Vini Dalla Rosa

AngelaXavier

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Sempre uma gata, Barbara Russowsky comprovou que menos ĂŠ mais com macaquinho da sua grife Muy Guappa


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Franciele Brandenburg apostou no nude e no listrado soltinho

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Cheia de graça, a anfitriã do brunch de um ano de seu blog, Julia Fleck da Rosa, escolheu a renda branca

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Renata Vellinho Busnello optou pelo clean e ficou um charme, como de hábito

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Vanessa Leite escolheu um basiquinho em couro

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Cheia de estilo, Larissa Lofrano escolheu um modelo em franjas com blazer Renner

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Juliana Tescaro optou pela combinação azul e preto

Sempre elegante, Clarissa Cabeda chamou atenção com tiara cheia de estilo

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as patrícias

aspatricias.com.br

conforto e estilo para pequenos

roqueiros

Um dos motivos do sucesso de uma marca de moda é a sintonia que ela tem com o cliente. Sim. Uma grife que saiba traduzir os desejos do público já começa com o placar aceso, marcando pontos. Estranho é que nem sempre isso acontece com o universo infantil. Já reparou como alguns itens essenciais aos pequenos, como conforto, praticidade e ergonomia, muitas vezes ficam de fora do produto final? Não raro, as roupas de crianças estão para um movimento livre como um salto Louboutin para 100 metros rasos, ou seja, inviáveis. Portanto, é de se comemorar quando uma marca une estilo a conforto, a queridice, a diversão, como a gaúcha Grande Presença, que traduz o universo rocker para o mundo dos pequenos com mão precisa. A ideia da Grande Presença nasceu quando a estilista Débora Teles Costa teve o primeiro dos dois filhos, o Caetano. Com muita experiência na criação de moda e na produção de roupas – duas etapas distintas, mas igualmente fundamentais para o engajamento de uma marca –, Débora questionou o que muita mãe de primeira viagem questiona: onde estão as roupas 96 |

queridas para o meu bebê e que também facilitem o meu dia a dia, ou seja, dispensem excessos de balangandãs, sejam fáceis de lavar e (fundamental) de vestir? As respostas vieram, mas escassas. E a designer decidiu pôr a mão na massa. Junto à cunhada, Caroline Martins, criou a GP em 2010 – o nome não poderia ser melhor, já que qualquer pequerrucho torna-se a grande presença de um lar, de uma vida, de tudo. Como um manifesto contra a opressão, a Grande Presença é pura alegria e descontração. Usa imagens de banda, íco-


nes do rock, animal print, slogans divertidos, estampas cheias de bossa, como na atual coleção, lotada de mimosas caveirinhas, raposas, boquinhas do Rolling Stones coloridíssimas. É como se o mundo rock and roll fosse visto sob a ótica de uma criança, com cores otimistas e formas lúdicas. A Grande Presença tem tecidos nobres (algodão, seda, tule) e efeitos especiais de lavanderia e estamparia, como estampas 3D, tudo pensando no bem-estar dos clientes mirins. As modelagens são todas feitas levando em conta o corpo das crianças de um a seis anos – no caso da linha Love (as outras também olham para os bebezinhos de até um ano). Concluindo: tudo é feito com muito amor, amor de mamães de verdade, que querem ver os pequenos confortáveis e lindos. Não à toa, tornou-se uma das favoritas no closet de nossos pequenos. | 97




moda

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Diretora Criativa: Sabrine Sousa Modelo: Ana Paula Scopel (Joy) Fotógrafo: Carlos Contreras Fashion Filme: Catraca Filmes Beleza: Ana Ferrary Estilo: Shana Nunes Agradecimentos: Léoton Costa e Hélio Dipp (Academia Sonkão Camp) | 101


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deuochic.com

VitorRaskin

O designer Inácio Deves e suas belas pulseiras masculinas. A nova coleção é o hit da temporada nos pulsos da turma bacana que curte design e estilo

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1 - Claudia Nasi e Betinha Fleck Schultz: presenças charmosas na tarde de moda 2 - Clenir Wengenowicz e Otelmo Drebes em noite de brinde 3 - Juliana Sanmartin Ribeiro apresentou sua bela coleção de couros e phyton na Twin Set 10

4 - Jadna Freitas e Jaime de Paula: charme ​ em noite de festa no Juvenil 5 - Estilo Floral: Ana Maria Job Lubbe 6 - Paula Carvalho e Yara Paiva receberam no Plaza São Rafael 7- Cris Satt encantou com look de brilhos 8 - Betina Melzer Teruchkin e Lica Melzer em jantar assinado por Marco Behar e sua equipe 9 - Laura Bier Moreira linda no Salão Leopoldina do Juvenil 10 - A bela Márcia Brun

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deu o  chic

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MARJA e BEATRIZ ZALUSKI e CLAUDIA BROGLIA

misturebรก Dupla inseparรกvel: MARIO CHAVES e PERCIANO BERTOLUCCI

Por Mariana Bertolucci Fotos Vini Dalla Rosa e Juliano Colombo

ELVIRA FORTUNA, PAULO GASPAROTTO e JAQUELINE PEGORARO


CAMILA BRUM e RAMIRO PORTO CORRร A prestigiaram o lanรงamento da Bรก 11 na Hyundai

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ANDRÉA MARTINS e CAMILA TERRA

EVELISE PEIXOTO e MARIA FERNANDA BRANDI CARCHEDI

MARIANA e RAFAEL POZAS

ADRIANA CAUDURO e LUIZ CARLOS MANDELLI

ILANA BEHAR

CLEO MILANI e GRAÇA COELHO

PAULA VIANNA tietou o mito das agulhas RUI SPOHR na Hyundai

JULIA CAPPELLARI LAKS e HELOISA MALLMANN CAPPELLARI

SILVIA MCDONALDS REIS, DORVALINA FIALHO e MARGARETH BAKOS

LUCIANA BERND

CHICO TASCA

VITOR RASKIN dando o chic


Loira faceira: CYNTHIA REQUENA

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Nosso querido VITÓRIO GHENO

KAREN FELDMAN e ANTÔNIO MAESTRI

CARMEN DIEHL e FAGNER DAMASCENO

ROSANA FEIJÓ

Papo de bailarinas: LENITA RUSCHEL, DÉBORAH RUSCHEL ALVES e DENISE BORGES DE CASTRO

ANA KALIL, Patricia Cardoso Mazzola e GRAZIELA ANDREAZZA RAMOS

FERNANDA CARVALHO LEITE e o xodó JUAN

Caio Sehbe, Monica Fedatto e Sandra Ferreira

CLAUDIA WARKEN BARTELLE e SILVIA BRAZ



VitórioGheno

Nosso brilhante Renato Borghetti e sua Nina na brilhante exposição de Palatnik no Museu Iberê

Fotos Nádia Raupp

artista plástico


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