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REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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Documentação

Documentação

A formalidade vista no programa televisivo é pouco presente nos episódios, fazendo com que o apresentador e convidados fiquem um pouco mais próximos dos ouvintes. Como o produto principal do podcast é originário de um programa de televisão, onde na maioria dos casos, o que é apresentado com imagens é autoexplicativo, porém, em áudio, algumas coisas tem de ser explicadas com mais detalhes, para que o ouvinte entenda por completa a mensagem. O produto em podcast é mais dinâmico e possui mais tempo de conteúdo do que a reportagem da TV, no entanto, da maneira que é o formato do podcast o ouvinte não se cansa. Esses e outros pontos podem explicar o processo de produção e adaptação que a redação do programa passou para criar o podcast “Isso é Fantástico”.

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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Estudos e análises em artigos, dissertações, monografias e livros foram realizados para auxiliarem a composição desta pesquisa. Um dos artigos que foram estudados foi o “Ganhos e perdas de uma renovada linguagem radiofônica jornalística, via podcast”, publicado em 2006, pelo Mestre em Comunicação e Semiótica Renato Vaisbih. Segundo Vaisbih, “O podcast, enfim, força uma renovação na linguagem radiofônica jornalística, uma vez que as informações mais recentes e importantes já foram vistas na própria internet, na televisão ou no rádio convencional.” Isso já era um indicador que o podcast poderia trazer algo além da notícia, naquela época. No caso, os episódios do podcast “Isso é Fantástico”, trazem um aprofundamento sobre um assunto, bastidores de uma produção jornalística, entrevista com especialistas e até mesmo informações exclusivas. Geralmente, os episódios tem ligação direta com o programa televisivo Fantástico. Após a exibição da matéria, que é usada como tema do episódio, os apresentadores convidam os telespectadores a ouvirem o programa em áudio. Dessa forma, criando uma convergência entre uma mídia tradicional, com uma em expansão. [...] fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2009, p. 28).

O professor e escritor Henry Jenkins (2009, p. 28), define como convergência, esse fenômeno, do movimento de conteúdo de uma mídia para a outra, relacionando o mercado de mídia em conjunto com os consumidores midiáticos, que sempre estão à procura de novas experiências. Segundo Jenkins, o movimento da convergência midiática não ocorre só pelos meios de comunicação, ele também ocorre através de transformações culturais na sociedade, por busca de variedade de conteúdo, ou até mesmo do modo que este conteúdo é apresentado, “[...] a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos.” (JENKINS, 2009, p. 28). A pesquisa também analisou alguns critérios e práticas importantes para o jornalismo, como noticiabilidade, valores-notícia e rotinas de produção. Essas questões estão presentes em uma das teorias do jornalismo, o newsmaking. Como afirma o autor Felipe Pena: Diante da imprevisibilidade dos acontecimentos, as empresas jornalísticas precisam colocar ordem no tempo e no espaço. Para isso, estabelecem determinadas práticas unificadas na produção de notícias. É dessas práticas que se ocupa a teoria do newsmaking. (PENA, 2005, p. 130).

Para compreender melhor o processo de adaptação e produção do podcast “Isso é Fantástico”, foi utilizado como referência alguns estudos e conceitos sobre o newsmaking. Mauro Wolf, foi um dos autores utilizados nessa pesquisa, em seu livro Teorias da Comunicação, ele fala sobre o espaço de tempo em que as notícias tem, pricipalmente na televisão. A necessidade de não ultrapassar um determinado comprimento das notícias - especialmente, televisivas - adequa-se à disponibilidade de muito material noticiável, o que, por sua vez, permite uma escolha o mais ampla possível e, por isso mesmo, mais representativa dos acontecimentos importantes do dia, dentro dos limites relativamente rígidos do formato dos noticiários. (WOLF, 2006, p. 206).

A escolha do tema que está presente tanto na matéria televisiva quanto no podcast, muito provavelmente é feita em uma reunião de pauta. E um dos critérios de escolher determinado tema, para ser o episódio de podcast, é que ele pode encontrar barreiras na produção, como sua amplitude temática, fazendo com que a matéria publicada na televisão seja um resumo do tema escolhido, na maioria das vezes por causa de limitação

temporal, e que o episódio em podcast, o traga espaço e profundidade, por haver mais espaço de tempo. Outro autor importante, da corrente teórica do newsmaking, que pode ajudar a entender a escolha do que pode se tornar um tema, é Nelson Traquina. Com os critérios de noticiabilidade, encontrados em Teorias do jornalismo. Volume II: A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Segundo a explicação de Traquina, os critérios de noticiabilidade, são explicados da seguinte maneira: A previsibilidade do esquema geral das notícias deve-se à existência de critérios de noticiabilidade, isto é, à existência de valores-notícia que os membros da tribo jornalística partilham. Podemos definir o conceito de noticiabilidade como o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo “valornotícia” (“newsworthiness”) (TRAQUINA, 2005, 63).

Através da identificação de algum assunto importante do momento, possuindo valor-notícia, como explica Traquina (2005, p. 63), logo, a redação do programa Fantástico irá produzir alguma matéria para ser publicada em seu programa televisivo, sendo assim, o episódio que for ao ar, no podcast “Isso é Fantástico”, também carrega esses valores-notícia.

Nelson Traquina apresenta alguns modelos de valores-notícia, um deles é o de construção, “Por valores-notícia de construção entendem-se os critérios de seleção dos elementos dentro do acontecimento dignos de serem incluídos na elaboração da notícia.”(TRAQUINA, 2005, 91). Ele traz alguns tipos de valores-notícia de construção, que são identificáveis no objeto de estudo, como relevância, personalização e simplificação. Sobre a relevância, que é um dos valores-notícia de construção, o autor afirma: “[...]quanto mais “sentido” a notícia dá ao acontecimento, mais hipóteses a notícia tem de ser notada. Compete ao jornalista tornar o acontecimento relevante para as pessoas, demonstrar que tem significado para eles.” (TRAQUINA, 2005, 91-92). Um dos episódios mais importantes observado na análise do objeto e que possui um certo nível de relevância, é o episódio de lançamento do podcast, que fala sobre a depressão, com o médico Drauzio Varella. Por se tratar de um tema sobre uma doença que atinge boa parte da população e abordar de uma maneira educativa, apresentando o que é a depresão, além

de falar sobre os sintomas para identifica-la e tratamentos que podem ser realizados, logo, o episódio se torna relevante, para o ouvinte que busca entender sobre a doença. Seguindo os valores de notícia de construção de Nelson Traquina, a personalização, é outro que se faz presente no objeto de estudo. [...] um valor notícia de construção que é fundamental devido à natureza do discurso jornalístico é a personalização. A lógica é a seguinte: quanto mais personalizado é o acontecimento mais possibilidades tem a notícia de ser notada, pois facilita a identificação do acontecimento em termos “negativo” ou “positivo”. Por personalizar, entendemos valorizar as pessoas envolvidas no acontecimento: acentuar o fator pessoa (TRAQUINA, 2005, 91-92).

Vários episódios analisados possuem personagens marcantes, como o sexto episódio, Quem é o indígena que incomoda Bolsonaro?, que fala sobre o Rio Xingu e de ameaças contra os funcionários do IBAMA, mas principalmente, destaca a história do líder indígena brasileiro da etnia caiapó, o Cacique Raoni Metuktire. Em outro episódio, no caso, o terceiro, A menina que furou a bolha de Brasília, conta a história de Natália, estudante do Piauí, que recebe uma bolsa de R$100,00, mas que sofreu com o corte da mesma. Histórias com personagens como esses são importantes, porque faz com que o público se interesse por histórias de outras pessoas, elas podem se identificar e se sentirem representadas. A simplificação, é mais um valor-notícia de construção que possui relação com o podcast “Isso é Fantástico” . [...] um valor-notícia de construção é a simplificação. A lógica é a seguinte: quanto mais o acontecimento é desprovido de ambiguidade e de complexidade, mais possibilidades tem a notícia de ser notada e compreendida. Uma notícia facilmente compreensível é preferível a uma outra cheia de ambiguidade. Os clichês, os estereótipos e as ideias feitas são muitas vezes necessários. Os jornalistas têm obrigação de escrever de uma forma fácil de compreender; por simplificação, portanto, entendemos tornar a notícia menos ambígua, reduzir a natureza polissêmica do acontecimento (TRAQUINA, 2005, 91).

Mesmo tendo relação direta com uma das matérias apresentadas no programa televisivo, o ouvinte, não necessariamente precisa assistir a matéria para compreender a mensagem que esta sendo passada no episódio, pois, através da observação dos episódios selecionados para análise, se percebeu um cuidado com a contextualização e explicação de todo o assunto sobre a temática do episódio, sem tratá-lo de forma complexa ou ambigua. Dessa forma, mesmo que o ouvinte não assistiu ao programa dominical, ele irá compreender o conteúdo discutido no programa em áudio.

Outro ponto importante a ser analisado no podcast “Isso é Fantástico” é a sua linguagem. O radialista e produtor de podcasts, Leo Lopes, indica observações necessárias a se fazer no podcast que contém entrevistas, “um programa de entrevistas, ele poderá tanto ter uma linguagem informal quanto uma mais séria, dependendo do público e do tema que você escolheu” (LOPES, 2015, p.54). No caso do objeto de estudo, a sua linguagem não é totalmente formal, mas também não há uma total informalidade. Murilo Salviano, apresenta de forma equilibrada o programa, alguns episódios exigem um tom mais sério, devido alguns assuntos, em outros, é apresentado de forma mais descontraída. Independente do convidado a ser entrevistado ou de sua história a ser contada, quem apresenta tem que possuir o controle da entrevista, para não haver só o depoimento do entrevistado. O professor e produtor de podcasts, Renato Bontempo, também fala da importância de uma entrevista bem conduzida pelo apresentador do programa, “[...] Entrevistar é conduzir o diálogo para temas específicos buscando opiniões e explicações, respeitando o tempo e mantendo um fluxo de informação interessante para o ouvinte” (BONTEMPO, 2021, 71). Algumas metodologias foram utilizadas para analisar o objeto de pesquisa, como o método de procedimento Estruturalista, para destrinchar cada um dos episódios do podcast, para analisar algumas categorias, como periodicidade, formato e conteúdo. Como o objeto de pesquisa pode revelar dados importantes para a coleta de dados, foi usado o modelo de Estudo de Caso.

O caso escolhido para a pesquisa deve ser significativo e bem representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas, autorizando inferências. Os dados devem ser coletados e registrados com o necessário rigor e seguindo todos os procedimentos da pesquisa de campo. Devem ser trabalhados, mediante análise rigorosa, e apresentados em relatórios qualificados. (SEVERINO, 2010, p.121).

Segundo Severino (2010, p.121), é necessário escolher um objeto a ser estudado que tenha relevância para o tema da pesquisa e que possa representar uma base sólida de dados e informações para auxiliar na resolução do problema levantado. A observação foi fundamental para coletar e fazer análises de todos os dados colhidos dos episódios selecionados, em uma delimitação temporal das vinte edições iniciais do podcast “Isso é Fantástico” .

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