
22 minute read
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
from CRIANDO CAMINHOS
by Rede Código
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo iremos desenvolver características relevantes do gênero documentário, sua linguagem e modos de produção. E abordaremos o tema escolhido para a narrativa do documentário
Advertisement
2.1. O que é documentário
Os primeiros registros cinematográficos feitos pelos irmãos Lumiere em 1895 foram documentários, pois eles registravam a realidade através da lente das câmeras como em: “A saída da fábrica” , “A chegada de um trem a estação” e “O almoço do bebê” (todos de 1895). Segundo Luis Carlos Lucena(2012),os Lumiere faziam, a princípio pequenos documentários porque filmavam o que era mais palpável no momento, ou seja,a Realidade.
Porém em 1922 o explorador norte-americano Robert Flaherty recebeu a incumbência de gravar um filme que na época foi chamado de “Filme de viagem” na qual ele contava a história de esquimós que moravam no norte do Canadá, ele gravou três anos da vida desses esquimós que deram a origem ao primeiro longametragem de documentário chamado de “nanook, O esquimó” na qual estabeleceu alguns elementos que são usados no gênero até hoje.
Olonga produzido por Flaherty redefiniu a visão a partir do cinema documentário como diz Luis Carlos Lucena (2012) o” Documentário passa a ser considerado a produção audiovisual que registra fatos,personagens,situações que tenham como suporte o mundo real (ou mundo histórico) e como protagonistas os próprios “sujeitos da ação”, levando isso em conta entendemos que o documentário foi e é utilizado até hoje para demonstrar fatos que realmente aconteceram em nossa realidade, porém como dito por Lucena os protagonistas dos documentários são sempre os sujeitos da ação, um documentário carrega também a visão de quem o produz e para entendermos como dar a nossa visão a um documentário vamos entender as etapas que precisam ser seguidas para produzirmos um documentário.
Para iniciar precisamos encontrar sobre algo que queremos falar sobre e após isso nos aprofundarmos em pesquisas para construirmos uma narrativa na qual queremos contar em um documentário, precisamos começar observando a nossa volta.
As idéias nascem, portanto de observações do nosso entorno,do acompanhamento de noticiários de TV, da leitura de jornais que mostram pequenas historias e personagens que podem ser trabalhados em vídeo.Essasidéias surgem como pensamentos casuais, que normalmente estão relacionadas com a nossa vontade de documentar alguma situação ou personagem. Naverdade os melhores documentários são aqueles que nós queremos fazer. (LUCENA, 2012, p. 26)
Levando em consideração o que Lucena disse para criarmos um bom documentário precisamos encontrar algo na qual gostaríamos de produzir algo sobre aquele determinado acontecimento. Ao escolhermos esse assunto na qual pretendemos produzir o documentário temos que colocar no papel essa ideia para que seja possível termos a noção se é uma ideia que possa ser concretizada. Para isso precisamos fazer algumas perguntas como: O que eu quero mostrar, Como eu quer mostrar, Por que eu quero mostrar, Quem é meu personagem, O que ele vai fazer e como ele vai agir. Tendo a resposta para todas essas perguntas podemos começar a desenvolver como contaremos essa história através de um documentário. Após definirmos a ideia que queremos tratar, precisamos aprofundar no que tange aquele objeto na qual será retratado na dela, precisamos entender o ambiente que esse objeto está inserido, Qual o contexto histórico, Que efeitos ele causa no meio que ele está inserido.Com essas pesquisas conseguimos aprofundar ainda mais no que queremos retratar e isso nos ajuda a encontrar uma voz própria para o documentário.
O fato de os documentários não serem uma reprodução da realidade dá a eles uma voz própria. Eles são uma representação do mundo, e essa representação significa uma visão singular do mundo. A voz do documentário é, portanto, o meio pelo qual esse ponto de vista ou essa perspectiva singular se dá a conhecer. (NICHOLS, 2012, p. 73)
Nesse trecho acima Nichols cita que o documentário não é simplesmente uma reprodução da realidade e sim uma representação do mundo sendo assim ao produzilo é levado em conta a visão de quem o produz e é a partir dessa visão que encontramos a voz do documentário, que como citado anteriormente é o meio na qual servirá de guia par construção do mesmo.
A voz do documentário pode defender uma causa, apresentar um argumento, bem como transmitir um ponto de vista. Os documentários procuram nos persuadir ou convencer, pela força de seu argumento, ou ponto de vista, e pelo atrativo, ou poder, de sua voz. A voz do documentário é a maneira especial de expressar um argumento ou uma perspectiva. (NICHOLS, 2012, p. 73)
Ao decidirmos a ideia que queremos retratar e encontramos a voz do nosso documentário temos que iniciar a etapa da escrita da sinopse (o que é o filme) e do argumento (como será o filme) esses serão os textos que sintetizaram o que se quer passar através do documentário. A sinopse é a descrição sintética do documentário na qual é necessário em um número reduzido de linhas deixar claro ao leitor do que se trata aquela obra, segundo Lucena(2012) “Uma boa sinopse fará com que o leitor se interesse pelo projeto. Para isso é necessário ser o mais objetivo possível na apresentação da idéia na sinopse”. Após escrever a Sinopse damos início a criação do argumento que é o texto mais detalhado e específico, o argumento é um esboço documentário na qual descrevemos com ele será ou seja indicando a estrutura básica do filme.
O argumento, seguindo sua função de mostrar como será o filme, deve apresentar uma breve descrição de seus personagens e/ou tema abordado, indicações de locação e ambiente, os tipos de imagem escolhidos, a forma de narrativa (narração em off ou depoimentos diretos, por exemplo). Também deve conter informações sobre os eventos a serem filmados, onde serão filmados, as pessoas ou tipos de pessoas a serem filmados. Deve definir o background do filme – os tipos de depoimento, as tomadas de cobertura, as imagens ou ilustrações de arquivo que serão usadas." (LUCENA, 2012, p. 31)
Para melhor desenvolvermos um argumento segundo Sergio Puccini (2007) devemos responder 6 questões: “O quê?,Quem?,Quando?,Onde?,Como? e Porquê?.” Essas perguntas nos ajudaram a entendermos melhor o texto na qual queremos retratar e dar uma maior profundidade ao nosso argumento.
O “O que?” diz respeito ao assunto do documentário, seu desenvolvimento, sua curva de tensão dramática. O “Quem?” especifica os personagens desse documentário (os personagens sociais e, se por acaso houver, os de ficção muitas vezes criados para auxiliar a exposição do tema), além de estabelecer os papéis de cada um deles. O “Quando?” trata do tempo histórico do evento abordado. O “Onde?” especifica locações de filmagem e/ou o espaço geográfico no qual transcorrerá o evento abordado. O “Como?” especifica a maneira como o assunto será tratado, a ordenação de seqüências, sua estrutura discursiva, enfim, suas estratégias de abordagem. E o “Porquê?” trata da justificativa para a realização do documentário, o porquê da importância da proposta (a necessidade de uma justificativa é mais pertinente em projetos de filmes documentários do que em filmes de ficção). (PUCCINI, 2007, p. 93)
O argumento precisa ser claro para que qualquer pessoa que leia ele entenda do que se trata o documentário após terminado o argumento teremos a história clara em nossa mente e assim poderemos partir para a próxima etapa que é o roteiro. O roteiro é uma das partes mais importantes na concepção de um documentário, pois ele te ajudara a se guiar no processo de captação do material para o documentário
porém diferentemente de um roteiro para um filme de ficção na qual você já escreve o que o ator irá atuar lá na hora da gravação em um documentário é diferente pois como ele é composto em sua maioria por entrevistas ou gravações de situações reais não existe uma atuação naquele momento,então um roteiro de documentário precisa ser pensado de uma maneira diferente a um roteiro de ficção.
Se no filme de ficção a escrita do roteiro ocorre integralmente no período da pré-produção, no documentário essa escrita muitas vezes se manifesta de maneira diferente; trata-se de uma escrita em aberto, que se estende por todo o processo de realização do filme. (PUCCINI, 2007, p. 09)
No começo de um roteiro de documentário devemos expor o tema no qual será tratado indicando cenas que nos possibilitem apresentar bem esse tema, após isso criar maneiras de introduzir personagens e temas que farão parte dessa história indicando assim o rumo na qual o documentário vai seguir, devemos especificar em roteiro os personagens que participaram de nosso documentário e especificar a função daquele no mesmo porem não é possível determinar o que será dito pelo personagem pois diferente de um filme de ficção o documentário contará com depoimentos reais coisas que são impossíveis de se prever em um roteiro. Porém é bom delimitar os rumos que se quer tomar com o documentário no roteiro para se ter uma guia de como conduzir as entrevistas, filmagens e o andamento geral do projeto. Como citado anteriormente por Puccini o Roteiro de documentário está sempre em aberto pois coisas que são citadas durante a gravação do projeto podem acarretar mudanças no roteiro.
O argumento do documentário é quase sempre aberto, porque filmar personagens reais, fatos e locações realistas envolve o acaso, um elemento sempre presente nesse tipo de produção. Ao fazer uma entrevista, mesmo sabendo o que vai perguntar, você pode se surpreender e obter respostas, ou novos fatos, que levem a caminhos totalmente diferentes dos previstos no seu argumento. (LUCENA, 2012, p. 40)
Um dos elementos citados anteriormente como determinante na criação de roteiros de documentários são as entrevistas que desde a popularização dos documentários no mundo é algo presente em grande parte desses filmes, elas são importantes para contextualizar o tema abordado, para introduzir os personagens na história e para expressar a opinião dos mesmos.
A exploração do recurso da entrevista como principal ponto de sustentação da estrutura discursiva do filme vem a ser uma das características do
documentário, à qual filmes de ficção muitas vezes recorrem sempre que desejam possuir uma aparência documental (Cidadão Kane, (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles, é talvez o melhor exemplo). Grosso modo, poderíamos dizer que a entrevista está para o documentário assim como a encenação está para o filme de ficção. (PUCCINI, 2007, p. 100)
A maneira como o autor lida com as entrevistas que vão estar presentes em seu filme mostra muito como será a construção daquele documentário levando em conta o tipo e a proposta daquele autor. Eduardo Coutinho é um exemplo de documentarista que tem como preocupação central em seus filmes a sua relação com o entrevistado, ele conta a história de seus filmes através da interação entre o entrevistador e o entrevistado para ele é crucial essa interação e já faz parte do seu estilo de trabalho documental. Porém já há outros autores que lidam constroem de maneira diferente suas entrevistas utilizando apenas a fala dos entrevistados e com isso criando a narrativa através das falas dos personagens e intercalando com inserções e transições de imagens, isso é algo que depende muito do tipo de documentário na qual esse autor quer trabalhar. Algo que é muito determinante na escolha do modelo de entrevista que o autor irá utilizar em seu filme é o tipo de documentário na qual o autor irá produzir a sua obra que segundo Nichols (2012) existem seis tipos de documentários: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático.
Esses seis modos determinam uma estrutura de afiliação trouxa, na qual os indivíduos trabalham; estabelecem as convenções que um determinado filme pode adotar e propiciam expectativas específicas que os espectadores esperam ver satisfeitas. Cada modo compreende exemplos que podemos identificar como protótipos ou modelos: eles parecem expressar de maneira exemplar as características mais peculiares de cada modo. Não podem ser copiados, mas podem ser emulados quando outros cineastas, com outras vozes, tentam representar aspectos do mundo histórico de seus próprios pontos de vista distintos. (NICHOLS, 2012, p. 135-136)
Os tipos de documentários ajudam o cineasta a estruturar o seu filme, ou seja ajudam o autor a guiar a narrativa na qual ele quer contar em seu filme, porém ao escolher um modo de documentar não significa que o autor não possa utilizar características de outros modos, porém todo documentário terá um modo dominante.
As características de um dado modo funcionam como dominantes num dado filme: elas dão estrutura ao todo do filme, mas não ditam ou determinam todos os aspectos de sua organização. Resta uma considerável margem de liberdade. (NICHOLS, 2012, p. 136)
Para exemplificarmos melhor os modos de documentário apresentaremos uma breve explicação dos mesmos e também exemplos para ilustrar cada um deles.
2.1.1.Documentário Poético
O modo Poético é um tipo de documentário que valoriza mais a estética e imagens que transmitem emoções e causem impactos pelo visual do que pela defesa de algum argumento, nesse modo o visual é mais importante que o verbal.
O modo poético é particularmente hábil em possibilitar formas alternativas de conhecimento para transferir informações diretamente, dar prosseguimento a um argumento ou ponto de vista específico ou apresentar proposições sobre problemas que necessitam solução. Esse modo enfatiza mais o estado de ânimo, o tom e o afeto do que as demonstrações de conhecimento ou ações persuasivas. O elemento retórico continua pouco desenvolvido. (NICHOLS, 2012, p. 138)
Um documentário que se encaixa nessa categoria é o curta metragem “Olhos de Ressaca” do ano de 2009 da diretora Petra Costa, o curta conta a história de Vera e Gabriel Andrade que são casados há 60 anos, o documentário mostra a história do casal desde os primeiros flertes até o envelhecer. Esse documentário se utiliza de imagens de arquivos pessoais que se misturam com imagens do tempo presente para transmitir as emoções presentes naquela história.
2.1.2.Documentário Expositivo
O modo expositivo é um tipo de documentário que diferentemente do poético prioriza mais o uso da linguagem verbal do que visual pois documentários expositivos se preocupam com a defesa de argumentos e se utilizam dos elementos do filme para manter a continuidade da argumentação.
Os documentários expositivos dependem muito de uma lógica informativa transmitida verbalmente. Numa inversão da ênfase tradicional do cinema, as imagens desempenham papel secundário. Elas ilustram, esclarecem,evocam ou contrapõem o que é dito.O comentário é geralmente apresentado com o distinto das imagens do mundo histórico que o acompanham. Ele serve para organizar nossa atenção e enfatiza alguns dos muitos significados e interpretações de um fotograma. Portanto, presume-se que o comentário seja de ordem superior a das imagens que o acompanham. Ele provém de um lugar ignorado, mas associado a objetividade ou onisciência. Na verdade, o comentário representa a perspectiva ou o argumento do filme. Seguimos o conselho do comentário e vemos as imagens como comprovação ou demonstração do que é dito. (NICHOLS, 2012, p. 143-144)
Um documentário que se encaixa nessa categoria é o longa metragem “Democracia em Vertigem” do ano de 2019 também da diretora Petra Costa, o longa conta a o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e também mostra a polarização política do Brasil e ascensão da extrema direita ao poder. Esse documentário se utiliza de um recurso chamado “voz de deus” para narrar alguns acontecimentos que ocorrem no filme aliando-os a entrevistas e imagens de acontecimentos que ajudam a estabelecer a argumentação da autora.
2.1.3.Documentário Observativo
O modo observativo é um tipo de documentário que procura capturar a realidade como ela realmente aconteceu, para isso acontecer o autor evita qualquer tipo de interferência, ele apenas captura os fatos, na edição do filme deve-se evitar trilha sonoras e narrações para que esses elementos não atrapalhem na contagem dos fatos, em um documentário observativo as imagens devem falar por si só.
Com frequência, os modos poético e expositivo do documentário sacrificaram o ato específico de filmar as pessoas, para construir padrões formais ou argumentos persuasivos. O cineasta reunia a matéria-prima necessária e, com ela, em seguida, dava forma a uma reflexão, uma perspectiva ou um argumento. E se o cineasta apenas observasse o que se passa diante da câmera sem uma intervenção explícita? Não seria essa uma nova e convincente forma de documentação? (NICHOLS, 2012, p. 149)
Um documentário que se encaixa nessa categoria é o longa metragem “Juizo” do ano de 2007 da diretora Maria Ramos, o longa mostra a trajetória de jovens menores de 18 anos que foram presos, o filme mostra as audições dos menores com os juízes e momentos no local de reclusão dos mesmos. Esse filme mostra os processos depois da prisão desses jovens sem nenhuma interferência da autora do documentário.
2.1.4.Documentário Participativo
O modo participativo é um tipo de documentário na qual o autor é um sujeito ativo no processo de gravação, fazendo que o autor faça parte daquele meio na qual ele está documentando através de interações com o meio e com as pessoas na qual estão sendo entrevistadas.
Quando assistimos a documentários participativos, esperamos testemunhar o mundo histórico da maneira pela qual ele é representado por alguém que nele
se engaja ativamente, e não por alguém que observa discretamente, reconfigura poeticamente ou monta argumentativamente esse mundo. O cineasta despe o manto do comentário com voz-over, afasta-se da meditação poética, desce do lugar onde pousou a mosquinha da parede e torna-se um ator social (quase) como qualquer outro. (Quase como qualquer outro porque o cineasta guarda para si a câmera e, com ela, um certo nível de poder e controle potenciais sobre os acontecimentos). (NICHOLS, 2012, p. 154)
Um documentário que se encaixa nessa categoria é o longa metragem “Edifício Master” do ano de 2002 do diretor Eduardo Coutinho, o longa mostra o cotidiano de pessoas que moram no edifício Master que fica localizado em Copacabana no Rio de Janeiro, para a gravação desse filme Eduardo Coutinho e sua equipe moraram três semanas nesse edifício para que com isso eles pudessem se ambientar ainda mais com aquele ambiente e conseguir transmitir isso em seu documentário, nas entrevistas o autor interage com os entrevistados criando assim um maior vínculo entre os dois.
2.1.5.Documentário Reflexivo
O modo reflexivo é um tipo de documentário que através da participação de seu autor no documentário tenta fazer com que o seu expectador reflita sobre o tema apresentado, mostrando que aquilo é algo que está sendo documentado e não simplesmente uma filmagem do que está acontecendo, causando assim uma dúvida no expectador e fazer com que ele tire uma conclusão sobre o assunto ali levantado.
Se, no modo participativo, o mundo histórico provê o ponto de encontro para os processos de negociação entre cineasta e participante do filme, no modo reflexivo, são os processos de negociação entre cineasta e o espectador que se tornam o foco de atenção. Em vez de seguir o cineasta em seu relacionamento com outros atores sociais, nós agora acompanhamos o relacionamento do cineasta conosco, falando não só do mundo história como também dos problemas e questões da representação. (NICHOLS, 2012, p. 162)
Um documentário que se encaixa nessa categoria é o curta metragem “Filosofando com minha avó” do ano de 2017 do diretor Eduardo Ximenes, o curta mostra o diretor conversando com a sua avó sobre a vida dela e como ela se sente, e intercalando com isso o diretor coloca imagens de galáxias intercalado com falas dele sobre qual o sentido da vida, causando assim uma reflexão no espectador ao se questionar sobre o sentido da vida olhando pelos nossos olhos e pelo olhar da avó do diretor.
2.1.6.Documentário Performático
O modo performático é o tipo de documentário que caracterizam-se pela subjetividade que traz o autor para o centro do filme, o autor tem controle sobre o que é contado, geralmente esses documentários se utilizam de “voz over” em primeira pessoa e estimula a auto reflexão do autor.
Estaria o conhecimento mais bem descrito como algo abstrato e imaterial, baseado em generalizações e no que é típico, na tradição da filosofia ocidental? Ou estaria ele mais bem descrito como algo concreto e material, baseado nas especificidades da experiência pessoal, na tradição da poesia, da literatura e da retórica? O documentário performático endossa esta última posição e tenta demonstrar como o conhecimento material propicia o acesso a uma compreensão dos processos mais gerais em funcionamento na sociedade. (...)Um tom autobiográfico compõe esses filmes, que têm semelhança com a forma de diário do modo participativo. Os filmes performáticos dão ainda mais ênfase às características subjetivas da experiência e da memória, que se afastam do relato objetivo. (NICHOLS, 2012, p. 169-170)
Um documentário que se encaixa nessa categoria é longa metragem “Diário de uma Busca” do ano de 2011 da diretora Flavia Castro, o longa mostra a Diretora em busca de respostas sobre o possível assassinato de seu pai Celso Castro no ano de 1984, a diretora ao longo do filme reconstitui a história de vida e morte de seu pai, ela encontra pessoas e visita lugares afim de entender a vida e a morte de seu pai.
Para se fazer um documentário é necessário ter em mente sobre o que se quer falar,pesquisar sobre o assunto para que se possa aprofundar nele e assim saber que rumo tomar naquele documentário, descobrir o tipo de documentário que se encaixa melhor em sua proposta, desenvolver sinopse e argumentos para poder exemplificar aquilo que se quer ser trabalhado, roteirizar para saber que rumo seguir na obtenção das imagens para o desenvolvimento da obra e após isso entrar de fato na obtenção da imagens e pós produção e assim desenvolver uma obra de documentário.
2.2.Terceiro Setor
A primeira vista, devemos entender o como o conceito “terceiro Setor” toma forma no mundo, chega no Brasil, quais seus propósitos e transformações desencadeadas para que chegássemos ao cenário atual. O termo sessentista,"nonprofit sector", a princípio surgiu nos Estados Unidos e apontava para as instituições que miravam filantropia.
Pode-se dizer que o "terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num
âmbito não-governamental, dando continuidade às práticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil"(1997:27)
Visando solucionar o embate ideológico entre socialismo e liberalismo e percebendo que tanto o estado quanto o mercado agem de forma ineficiente às necessidades e demandas da sociedade, surge o terceiro setor. Um modelo fruto da “interdependência de nação e comunidade” com interesses e valores coletivos que se ajustam ao seu tempo e espaço(Giddens, 2001, p 52). A Fundação Ford, segundo Falconer(1999), e outras organizações europeias e americanas, deram força para o conceito no Brasil,inclusive, um dos primeiros indícios nacionais foram as Santas Casas de Misericórdia. Ao mesmo tempo que no Brasil o terceiro setor era relacionado a ONGs e movimentos sociais, foi também uma resposta ao autoritarismo do estado que teve origem nas décadas de 60, 70 e 80, quando a ditadura militar ameaçava a democracia(Liesenberg, 2004, p 18). Essa resposta foi o que fez surgir inúmeras organizações que lutam (e até hoje lutam) pelos direitos e transformações sociais, o que na década seguinte transfigura o Terceiro Setor com uma “grande promessa”, no sentido de emancipação, como escreveu Falconer.
(...)Na década de noventa, o Terceiro Setor surge como o portador de uma nova e grande promessa: a renovação do espaço público, o resgate da solidariedade e da cidadania, a humanização do capitalismo e, na medida do possível, a superação da pobreza. Uma promessa realizada através de atos simples e fórmulas antigas, como o voluntariado e filantropia, revestidas de uma roupagem mais empresarial. Promete-nos, implicitamente, um mundo onde são deixados para trás os antagonismos e conflitos entre classe e, se quisermos acreditar, promete-nos muito mais.(Falconner, 1999, p. 3)
Garante Falconer (1999, p 2), que as atitudes que dão nome ao terceiro setor são as que de alguma forma fazem bem para a sociedade num todo. Vê-se também uma mudança de direção do jeito em que o cidadão participa do universo público.
(...) Terceira Via se refere a uma estrutura de pensamento e de prática política que visa a adaptar a social democracia a um mundo que se transformou fundamentalmente ao longo das últimas duas ou três décadas. É uma Terceira Via no sentido de que é uma tentativa de transcender tanto a social democracia do velho estilo quanto o neoliberalismo. (Giddens, 2001, p. 36)
Este modelo de setor se transforma em uma espécie de ferramenta de poder comunitário, uma organização civil que quando recebe apoio garante o crescimento da comunidade em diferentes aspectos.Em 2006, segundo dados do IBGE(2006), cerca de 519 milhões totalizavam o número de atuantes e colaboradores em todo o Brasil.
Hoje ainda falta noção dos reais impactos da desestabilização econômica causada pela pandemia e de como a bipolarização política afeta este setor.
O governo antigo se baseava no bem estar passivo - pagamentos de transferência, serviços burocráticos e planejamento social. O novo governo precisa gerar bem-estar ativo - empregos comunitários, aprendizado vitalício e delegação social. A terceira via deseja reavaliar o Estado de bem-estar do pósguerra; não desmantelá-lo, mas resgatá-lo. (Giddens, 2001, p. 54)
O Terceiro Setor também tem buscado o fortalecimento comunitário, isso hoje tem se mostrado cada vez mais necessário, não é a toa que para Giddens (2001, p. 51), além da construção de uma política de bem estar social, a terceira via é “... a crença de que uma economia e uma sociedade fortes se revigoram mutuamente”. Com essa visão, a Terceira via vem se desenvolvendo fortemente no que diz respeito ao patrimônio social, de acordo com Ronalda Barreto (2001, apud Gohn 1998) “o terceiro setor tem sido caracterizado como uma área estratégica na economia, a economia social, movimentando recursos, gerando empregos, fazendo-se presente na área da economia informal e formal, por meio de cooperativas de produção que atuam em parceria com programas públicos e demandas terceirizadas das próprias empresas, atuando, também, no âmbito da requalificação de trabalhadores, a exemplo de cursos desenvolvidos com recursos do Fundo de Apoio ao Trabalhador — FAT.” Podemos observar, portanto, que o Terceiro Setor já se tornou parte fundamental da caixa de ferramentas da sociedade quando o assunto é a luta pela igualdade. É cada vez mais comum vermos institutos educando e formando profissionalmente pessoas do grupo em áreas que vão ao encontro de seus próprios interesses, já que entendem melhor as necessidades e vontades da comunidade na qual estão inseridos muito melhor do que primeiro e segundo setor.
2.3. Resiliencia e Superação
Na psicologia superação é mais conhecido como resiliencia que segundo Guttenberg
A resiliência pode ser definida como uma capacidade universal que possibilita a pessoa, grupo ou comunidade prevenir, minimizar ou superar os efeitos nocivos das adversidades, inclusive saindo dessas situações fortalecida ou até mesmo transformada, porém não ilesa (Grotberg, 2005).
Ou seja, é a força que precisamos para superar as adversidades que convivemos em nossa vida, porem de onde vem essa força?,é uma boa pergunta para se fazer pois resiliencia não é só suportar a adversidade e sim conseguir supera-la e seguir em frente mesmo em meio as dificuldades.
“A resiliência é muito mais que o fato de suportar uma situação traumática, consiste também em reconstruir-se, em comprometer-se em uma nova dinâmica de vida.” 8 (Vanistendael e Lecomte, 2004, p. 91)