Boletim 21/11/2021

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Domingo de Cristo Rei 21.11.2021 Ano XVIII Nº 375

A ESPERA PELO NOVO Passei pela vida e fiz o que me aprouve. Vi muito do que desce do céu e do que se passa na terra – “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra...” (Jr 5.30). Coisas há que espantam um profeta calado, tímido, chorão, recluso. Vi o que se passa na terra, a sofreguidão humana, os males fabricados, a turbulência das pequenas coisas, as almas em compulsão. E, como o sábio, vi que tudo isso é como “correr atrás do vento”. Vi como se invertem os valores, e como o que era e nos serviu de lição, de repente já não é. As coisas não precisam ser testadas para que sejam acatadas ou descartadas. Seu exame não passa de um olhar, e de soslaio. As pessoas estão apressadas – a excitação e a arrogância têm pressa, mas não têm norte. Ante os olhos, a dúvida; dentro do peito, o descompasso; na mente, hipóteses e desencanto. A pressa arquejante costuma desembocar em exaustão e em desconexão. A anacronia da hora destrói as aspirações que tanto acalentam o espírito sonhador. Esquecese que há tempo para todos os propósitos, há um tempo determinado por Deus, que vê antes que tudo venha à existência. Vivem atribulados os corações porque sentem mais do que veem. Não conseguem contrapor a razão aos sentidos, a fé obediente à demanda inconsequente. Com isso, aumentam o risco natural do viver, avançam de prova em prova para ver o que seja melhor, sem o devido juízo de valor. A cada desilusão põem-se a indagar se vale a pena insistir ou mesmo continuar... Quando o desencanto se avoluma, também sucumbe, com o indivíduo, o próprio sentido da vida. Então será o fim? Proponho que assim não se veja. Já o esperar prenuncia algo novo. Há sempre um elemento novo à espera da sua hora! Ele não tem pressa porque sabe que é real e conhece o valor do tempo. Já os apressados perdem-se na voragem do desconhecido. Proponho algo mais: Que se tenha fé. Fé é experiência de quem já experimenta, em ser antecipação. A fé vê, argumenta o Apóstolo Paulo. Vê e já ama, pois que vê com os olhos do coração – “...iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança...” (Ef 1.18). Quem vê e ama já não espera: vê e usufrui. É o milagre da fé. Há algo mais a dizer, e vem dos oráculos divinos, ao tratar dos cuidados e inquietações da vida – “Não andeis ansiosos”; “Não andeis solícitos”; “Não andeis inquietos”; “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã” e “Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6). Creio que a fé produz serenidade – fé sem antecipação mística (que nos venha Dionísio, Século V), que não é teologia alta. Fé intemporal. Temerária, ousada. Insubordinada (não desobediência). Fé irresistível, que jamais se verga. Por ela é possível viver, e viver bem. “Por isso não temeremos, ainda que a terra trema e os montes afundem nas profundezas do mar; ainda que as águas venham a rugir e espumar, ainda que os montes estremeçam na sua fúria”. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus...” (Sl 46 - Almeida Século 21). Pr. Válter Sales Arcebispo DOM PAULO GARCIA | Bispo Diocesano DOM ALEXANDRE XIMENES


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