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BENTO XVI, UM HOMEM

Apaixonado Por Cristo

Recorde a história desse grande homem de Deus e conheça seu legado.

“Nunca me senti tão amado como na tua terra”. Não vou esquecer a doçura e o sorriso com que Bento XVI me disse estas palavras logo ao voltar da viagem apostólica ao Brasil. A quem o via atravessar a Praça de São Pedro em direção ao prédio da Congregação para a Doutrina da Fé, não passava inobservado o carinho com que atendia a qualquer pessoa que se dirigisse a ele. Carinho atencioso de pastor. Sempre foi um homem gentil e afável, características humanas que resplandecem no homem de fé e caridade.

A impossibilidade de traçar em poucas linhas o seu perfil bio- gráfico e intelectual não nos exime do grato dever de salientar o significado de seu serviço à vinha do Senhor no horizonte da história recente da Igreja. Mais ainda, é de bom tom expressar o reconhecimento filial pelo bem que ele fez como teólogo, como mestre da fé, como pastor e como supremo legislador da Igreja Católica.

O jovem teólogo Joseph Ratzinger, já em 1953, mostrava em sua tese doutoral grande amor pela Igreja de Cristo meditando sobre o “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Abria assim um importante veio de reflexão eclesiológica que desaguaria após o Concílio Vati- cano II na concepção da Igreja-comunhão. é de bom tom expressar o reconhecimento filial pelo bem que ele fez como teólogo, como mestre da fé, como pastor e como supremo legislador da Igreja

Ademais dos ensinamentos de seu magistério como 265º Papa da Igreja Católica, ele aprofundou temas muito importantes da teologia fundamental, da teologia litúrgica, da cristologia, o sacerdócio, a divina revelação e a Palavra de Deus. Na doutrina social, começou a ampliar a reflexão sobre o papel dos fiéis leigos como atores na Igreja na sociedade secular, a compreensão da ecologia integral, ulteriormente aprofundada pelo seu sucessor na Sé de Pedro.

Católica

Como legislador supremo da Igreja, inovou em várias matérias, dentre as quais: o início da reforma da Cúria Romana simplificando Dicastérios; promulgou normas para dar maior transparência às instituições financeiras vaticanas, inclusive com controle externo; fortaleceu normas penais e processuais para melhor combater a chaga dos abusos de menores que tanto sofrimento lhe custaram. No seu Magistério Pontifício, retomou temas importantes para a vida da Igreja, mostrando a importância do serviço à verdade e da caridade. Retomou o significado profundo, histórico e sobrenatural da virtude da esperança na vida da Igreja e dos cristãos. No diálogo com a cultura contemporânea, soube reconhecer os valores nela presentes, apresentando ao mesmo tempo os valores cristãos como contribuição do Evangelho na construção da Cidade dos homens, em vista da edificação da Cidade de Deus.

No diálogo com a cultura contemporânea, soube reconhecer os valores nela presentes, apresentando ao mesmo tempo os valores cristãos como contribuição do Evangelho na construção da Cidade dos homens, em vista da edificação da Cidade de Deus

Mas, acima de tudo, indica como decisiva a centralidade do encontro com Jesus na vida cristã: “No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus caritas est, 1). O Papa Francisco retoma esta afirmação de Bento XVI como inspiradora do seu pontificado no n. 7 da Evangelii Gaudium).

Guardião da doutrina dos apóstolos e homem de comunhão, na atuação dele, mesmo depois da corajosa renúncia, se vislumbra sempre o cumprimento das palavras do salmista: “A verdade e o amor se encontrarão” (Sl 85). Mas o seu mais belo ato de magistério existencial e espiritual foram as suas últimas palavras antes de ir para a casa do Pai: “Jesus, eu te amo!”.

DESPERTA TU QUE DORMES, LEVANTA-TE DENTRE OS MORTOS E CRISTO TE ILUMINARÁ!

(EF 5, 14B)

Medite sobre a passagem que irá nortear a RCCBRASIL em 2023.

Oversículo, título deste artigo, é a palavra norteadora no ano de 2023 para a RCCBRASIL, para cada um de nós neste tempo, e revela de modo comovente o imenso amor e cuidado que Deus, nosso Pai, tem para conosco.

Diante de tantos desafios que o mundo de hoje nos apresenta, com pandemia, catástrofes naturais, divisões profundas no seio da sociedade, desconfiança e hostilidade entre as pessoas, corremos o risco de nos deixar paralisar pela desesperança, pelo medo, pela tristeza. Em tempos assim, precisamos ficar bem perto de Deus para sermos curados no nosso interior, para sermos preenchidos de paz, de confiança e poder seguir em frente, com fé, com coragem, com esperança.

A palavra que o Senhor nos dá para nos trazer para perto de Si e nos curar e nos encher de confiança e coragem é a carta aos Efésios, que tem como tema geral a reconciliação da humanidade com Deus, o Pai, em Cristo, e consequente resposta que cada um deve dar a essa obra de reconciliação e salvação.

A palavra é bem clara ao dizer como dar esta resposta e vivermos reconciliados com Deus e com o próximo: é abandonar as trevas e vir para a luz, abandonar o pecado e exercitar a caridade, ter um coração agradecido, levar uma vida reta, no amor, na justiça e na verdade. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados” (Ef 5,1). Este é um caminho a percorrer que nos tira das trevas e nos traz para a luz, sermos imitadores de Deus, não de qualquer jeito, mas como filhos muito amados. É do fato de sermos filhos amados que deriva a nossa dignidade e o nosso valor e, por isso, precisamos viver de modo digno, com padrões de caráter e conduta que mostram quem somos em Deus, deixando de viver como pagãos, renunciando à mentira, à ira, indignação, gritaria, calúnia, palavras más, deixando de lado toda a impureza e imoralidade sexual, conversas tolas ou levianas, avareza e cobiça.

Como filhos amados de Deus, resgatados por Cristo, restaurados por obra do Espírito Santo, somos convidados a renovar constantemente o sentimento da nossa alma, praticando o perdão e a justiça e buscando a santidade. O convite é voltar para Deus, viver sob o Senhorio de Jesus, abandonar tudo o que rouba a paz e causa divisão e comportar-nos como verdadeiras luzes.

“Desperta, tu que dormes! Levanta-te entre os mortos e Cristo te iluminará” é uma referência ao profeta Isaías (cf. Is 60), dentro de um oráculo de restauração. Deus quer nos restaurar, quer nos dar um olhar novo sobre a realidade, um olhar que percebe que é possível viver na verdade, na bondade e na justiça. “Essa visão tornar-te-á radiante; teu coração palpitará e se dilatará” (Is 60,5).

Por Maria Beatriz Spier Vargas Grupo de Oração Magnificat Membro Convidado