TCC arqurbuvv A Integração de Áreas Fragmentadas através do Projeto de Espaços Livres de Uso Público

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arquitetura e

urbanismo raquel corrêa | uvv 2016-2

a integração de áreas fragmentadas através do projeto de espaço livre de uso público: uma transformação do caminhar no bairro Bento Ferreira, Vitória - ES



UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

RAQUEL CORRÊA MESQUITA

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO: UMA TRANSFORMAÇÃO DO CAMINHAR NO BAIRRO BENTO FERREIRA, VITÓRIA – ES

VILA VELHA 2016


RAQUEL CORRÊA MESQUITA A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO: UMA TRANSFORMAÇÃO DO CAMINHAR NO BAIRRO BENTO FERREIRA, VITÓRIA – ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra

VILA VELHA 2016


RAQUEL CORRÊA MESQUITA A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO: UMA TRANSFORMAÇÃO DO CAMINHAR NO BAIRRO BENTO FERREIRA, VITÓRIA – ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra Parecer da comissão em 30 de novembro de 2016. COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra Universidade Vila Velha Orientadora _______________________________ Prof.º Me. Clóvis Aquino de Freitas Cunha Universidade Vila Velha Avaliador Interno

VILA VELHA 2016

_______________________________ João Paulo Dominguez Carvalho Arquiteto e Urbanista Membro Externo


Bento Ferreira em 1970 Fonte: www.veracidade.com.br


À Deus e aos amores da minha vida: Minha mãe, Enedina, e meu irmão, Felipe


Bento Ferreira em 1990 Fonte: www.veracidade.com.br


AGRADECIMENTOS À Deus, autor e consumador da minha fé, a quem eu devo a vida e em quem eu deposito meus sonhos e esperança À minha querida mãe, Enedina, que sempre me incentivou e acreditou em mim. Você é para mim exemplo de vida e dedicação. Agradeço por todo esforço e pelos ensinamentos que me fizeram ser quem eu sou hoje Ao meu irmão, Felipe, pelo carinho e paciência, por sempre me apoiar e pela companhia nos momentos difíceis e ajudas em trabalhos. Você é um presente que Deus colocou em minha vida À minha família, por todo apoio e suporte nestes cinco anos de caminhada. Amo vocês Às minhas avós, Maria e Dalva, que durante esse período partiram, deixando uma enorme saudade, mas que foram para mim exemplo e sempre acreditaram no meu sucesso Aos amigos, que entenderam meus momentos de ausência, sempre torcendo e estando comigo Aos mestres, que sempre estiveram dispostos a passar seus ricos conhecimentos adquiridos ao longo da vida e que são exemplos de profissionais e seres humanos À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra, que é para mim inspiração e que tanto me auxiliou para que eu pudesse chegar até aqui, compartilhando comigo seus ensinamentos e contribuindo sem medidas na minha formação Ao meu co-orientador, Prof.º Clóvis Aquino de Freitas Cunha, pela disponibilidade em acrescentar no meu trabalho com seu conhecimento Ao Arquiteto e Urbanista João Paulo Dominguez Carvalho, por ter aceitado prontamente o convite para compor a banca examinadora, compartilhando seus conhecimentos A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este trabalho e para minha formação, o meu muito obrigado! EBENÉZER!

Raquel Corrêa Mesquita


Bento Ferreira em 2010 Fonte: www.veracidade.com.br


“Primeiro nós moldamos as cidades – então, elas nos moldam” Jan Gehl


RESUMO O crescimento desordenado e acelerado das cidades intensificados com a Revolução Industrial, gerou mudanças significativas na estrutura urbana onde o adensamento e a privatização das áreas da cidade fez com que os espaços livres de uso público perdessem lugar para os sistemas viários, priorizando os carros e afastando os pedestres da vivência na cidade. Este processo favoreceu o surgimento de fragmentos subutilizados e abandonados do tecido urbano que geram segregação e sensação de insegurança nas pessoas. Realidade que vem demandando propostas que restituam a vitalidade e segurança aos espaços públicos através da integração dos referidos fragmentos residuais urbanos ao desenho das cidades. Neste sentido, o presente estudo, ao refletir sobre o processo que gerou os fragmentos urbanos da cidade contemporânea e sua influência no esvaziamento dos espaços públicos, busca o embasamento necessário para junto aos referenciais de intervenções estudados, fundamentar a proposta do projeto de um espaço livre de uso público como estratégia para a reintegração de uma área ociosa situada no bairro Bento Ferreira, em Vitória. A ausência de conexão e equipamentos para o uso acessível de vazios situados em uma área acidentada identificada no diagnóstico morfológico do bairro foi solucionada com a proposta do Parque Urbano de Bento Ferreira.

Palavras-Chave: espaços públicos; fragmentos urbanos; segurança urbana; cidades humanizadas; projeto paisagístico


Abstract The disorderly and accelerated growth of cities intensified with the Industrial Revolution, has generated significant changes in urban structure where the densification and the privatization of the areas of city made the spaces of public use lost place for the road systems, prioritizing cars away from the pedestrian experience in town. This process favoured the appearance of underutilized and abandoned fragments of the urban layout that cause segregation and feeling of insecurity in people. Reality that comes demanding proposals to restore the vitality and security for public spaces through the integration of these residual urban fragments to the design of cities. In this sense, the present study, to reflect on the process that generated the urban fragments of the contemporary city and its influence on the emptying of public spaces, search the necessary support to, together to the referencial of interventions studied, suggest a free space of public use as a strategy for the reintegration of a idle area situated in Bento Ferreira, Vitรณria. The lack of connection and equipment for accessible use of voids in a rugged area identified in the morphological diagnostic of the neighborhood was resolved with the proposal of the urban park of Bento Ferreira.

Keywords: public spaces; urban fragments; urban security; humanized cities; landscape design


lista de figuras Figura 01 - Cidade antes e depois da Revolução Industrial

26

Figura 25 - Edificação com características de abandono

59

Figura 02 - Estrutura viária de Los Angeles

27

Figura 26 - Institucional - Casa do Arquiteto e Igreja Católica

60

Figura 03 - Cidade funcionalmente zoneada

29

Figura 27 - Usos de serviços e comerciais

60

Figura 04 - Contraste entre favela e condomínio fechado

30

Figura 28 - Uso comercial e de serviço, respectivamente, na Av. Beira-Mar 60

Figura 05 - Evolução dos muros residenciais

31

Figura 29 - Terrenos sem uso na área de estudos

61

Figura 06 - Área debaixo da Ponte da Passagem, Vitória

33

Figura 30 - Padrão baixo, médio e alto

65

Figura 07 - Vitalidade através de ruas de pedestres

38

Figura 31 - Diferentes gabaritos na área de estudo

66

Figura 08 - Estratégias do método do CPTED

39

Figura 32 - Topografia da área de estudo

68

Figura 09 - Pontos a serem considerados na vitalidade das cidades

40

Figura 33 - Eixo das Av. Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas de Moraes 71

Figura 10 - Rua com diversidade de usos

40

Figura 34 - Rua Coronel Schwab Filho, via local

72

Figura 11 - Elementos da imagem da cidade

41

Figura 35 - Rua Hélio Marconi com acesso de pedestres

79

Figura 12 - Diretrizes de desenho para pequenos parques urbanos

43

Figura 36 - Escadaria da rua Hélio Marconi

79

Figura 13 - Diretrizes do Pocket Park + Greenacre park, Nova York

43

Figura 37 - Escadaria da rua Hélio Marconi

80

Figura 14 - Pracinha Oscar Freire, SP

43

Figura 38 - Trecho da rua Hélio Marconi

80

44

Figura 39 - Escadaria sem saída

80

Figura 16 - High Line Park, NY

44

Figura 40 - Rua Doutor Antônio Honório

80

Figura 17 - Parque Sitiê – RJ, localização e parque depois da intervenção

45

Figura 41 - Visuais fora/dentro

83

Figura 18 - Formas urbanas que integram e que segregam

46

Figura 42 - Visuais dentro/fora

85

Figura 19 - Proposta de intervenção do Largo da Lapa - SP

47

Figura 43 - Diagrama Conceitual

88

Figura 20 - Viaduto do Café (SP) após intervenção

48

Figura 44 - Diagrama de conectividade

89

Figura 21 - Área que cria a ruptura da rua Hélio Marconi

54

Figura 45 - Diagrama de Legibilidade

91

Figura 22 - Lotes vazios de propriedade particular e pública

56

Figura 46 - Pequenos mirantes ao longo do trajeto de subida ao Mirante

92

Figura 23 - Uso residencial unifamiliar e multifamiliar

59

Figura 47 - Atividade para diversas idades

92

Figura 24 - Usos da Av. Leitão da Silva

59

Figura 48 - Diagrama de Permeabilidade

93

Figura 15 - Antiga linha de trem abandonada


lista de gráficos Figura 49 - Pórtico com Placa de Localização

94

Gráfico 01 - Frota de veículos automotores no Brasil 2001-2012

27

Figura 50 - Diagrama de setorização do Parque Urbano de Bento Ferreira

95

Gráfico 02 - Relação de utilização dos espaços públicos da área de estudos 62

Figura 51 - Corte esquemático da R. Drº Antônio Honório/Parque Mirante 96

Gráfico 03 - Meios de locomoção dentro da área de estudos

62

Figura 52 - Rua Dr. Antônio Honório antes e depois da intervenção

97

Gráfico 04 - Utiliza a conexão da rua Hélio Marconi

63

Figura 53 - Proposta de Intervenção para a rua Hélio Marconi

97

Gráfico 05 - Gostaria de mais áreas de lazer na região

63

Figura 54 - Vista da Praça da Cidadania antes e depois da intervenção

98

Gráfico 06 - Respostas das entrevistas

116

Figura 55 - Árvore Sibipiruna

99

Figura 56 - Árvore Ipê-de-Jardim

99

Figura 57 - Implantação do Parque Mirante

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Figura 58 - Trilha de caminhada para pedestres e ciclistas

101

Figura 59 - Vista aérea do Parque Mirante

101

Figura 60 - Play Dog no Parque Mirante (Visual 01)

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Figura 62 - Vista do Espaço de Convívio (Visual 03)

102

Figura 61 - Vista do Parque Mirante (Visual 02)

102

Figura 63 - Corte esquemático da Praça da Cidadania

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Figura 64 - Implantação da Praça da Cidadania

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Figura 65 - Vista do nível 01 da Praça da Cidadania (Visual 01)

105

Figura 66 - Nível 02 da Praça, com espaço da criança (Visual 02)

105

Figura 67 - Vista do nível 02 para o nível 03 (Visual 03)

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Figura 68 - Nível 03, com tobogã e jato d'água (Visual 04)

106

Figura 69 - Nível 04, com bicicletário e mesa de ping-pong (Visual 05)

107

Figura 70 - Nível 04, com food trucks e mesas (Visual 06)

107

Figura 71 - Vista aérea da Praça

107


lista de tabelas

lista de mapas

Tabela 01 - Tipos de integração de tráfego

46

Mapa 01 - Localização do bairro Bento Ferreira, Vitória (ES)

52

Tabela 02 - Critérios de qualidade da cidade respeitando o pedestre

48

Mapa 02 - Localização da área de estudo em Bento Ferreira, Vitória

54

Tabela 03 - Domicílios particulares permanentes, segundo classes de rendimento

Mapa 03 - Propriedade dos Lotes

56

nominal mensal domiciliar no bairro Bento Ferreira - Vitória (ES) - 2010

55

Mapa 04 - Zoneamento Urbano

57

Tabela 04 - Apropriações urbanas da área de estudo

64

Mapa 05 - Uso e Ocupação do Solo

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Tabela 05 - Visuais da área de estudo

64

Mapa 06 - Apropriações Urbanas

62

Tabela 06 - Infraestrutura e Equipamentos da área de estudos

75

Mapa 07 - Padrão Construtivo

65

Mapa 08 - Gabarito

66

Mapa 09 - Malha Viária com destaque para a ruptura das conexões

67

Mapa 10 - Topografia e Perfis Topográficos

67

Mapa 11 - Declividade topográfica da área de estudos

68

Mapa 12 - Densidade Construtiva

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Mapa 13 - Perfil Fundiário

70

Mapa 14 - Padrão de Ocupação

70

Mapa 15 - Classificação Viária

72

Mapa 16 - Condições de Mobilidade

73

Mapa 17 - Infraestrutura e Equipamentos

73

Mapa 18 - Diagrama Síntese do Diagnóstico

76

Mapa 19 - Potencialidades da área de estudo

77

Mapa 20 - Vulnerabilidades da área de estudo

78

Mapa 21 - Localização das ruas sem saída e escadarias

79

Mapa 22 - Visão Serial fora/dentro

82

Mapa 23 - Visão Serial dentro/fora

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lista de abreviatura CPTED – Crime Prevention Through Environmental Design EEAT – Estação Elevatória de Água Tratada FAPES - Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PDU – Plano Diretor Urbano PMV – Prefeitura Municipal de Vitória SEGES – Secretaria Municipal de Gestão Estratégica


sumรกrio 18


introdução 21

01

o desenvolvimento urbano e a fragmentação das cidades 25

02

2.1 o caminho da exclusão e segregação urbana 2.2 espaços fragmentados da cidade contemporânea

26 30

referenciais de integração em espaços fragmentados 37

03

3.1 referenciais teóricos para reintegração dos espaços fragmentados 3.2 recomendações para a requalificação dos espaços fragmentados

38 42

diagnóstico da área de estudos 51

04

4.1 contexto de inserção 4.2 histórico de formação do bairro 4.3 caracterização da área de estudo 4.4 análise morfológica 4.5 síntese da análise 4.6 potencialidades e vulnerabilidades 4.7 características físicas da área de intervenção

05

52 53 54 57 76 77 79

proposta de reintegração através do desenho urbano 87 5.1 conceito e partido projetual 5.2 proposta projetual

88 94

considerações finais 108 referências bibliográficas 110 anexos 115


20


01

introdução


introdução A paisagem das cidades contemporâneas tem sido caracterizada por fragmentos urbanos provenientes das áreas residuais de um parcelamento que prioriza a malha viária e a inserção de grandes extensões de condomínios fechados. Tais características atreladas ao medo recorrente de utilização dos espaços públicos devido à sensação de insegurança muitas vezes resultante da evasão das pessoas desses espaços livres, fez com que a cidade perdesse sua peculiar tradição de apropriação das referidas áreas por parte da população , onde foi dada uma maior oportunidade para a permanência de veículos em detrimento dos pedestres. Este modelo de cidade decorrente do processo de urbanização pautada no urbanismo moderno resultou na segregação social e espacial, onde as edificações assumem características de reclusão ao oferecerem “lazer seguro” no interior de seus muros, intensificados por uma ocupação que privilegia a renda sob o metro quadrado ofertado. Situação que reflete um cenário de espaços divididos em um mesmo ambiente urbano, onde cada classe, em busca de interesses individuais, habita espaços segregados que, além de não promover a interação social, cria uma dinâmica de apropriação não condizente com as funções para as quais a cidade deve ser criada. Neste sentido, a cidade, como reflexo da sociedade, resulta em uma realidade proveniente de processos históricos que derivaram no medo de utilização dos espaços públicos, incentivando a busca por espaços de convívio e lazer privativos, onde apenas parte da sociedade tem acesso, e aqueles excluídos ficam vulneráveis à utilização de ambientes sem qualidade ambiental e espacial, além de serem inseguros por falta de diversidade de classes e usos. Neste cenário complexo, autores como Jacobs (2000), Gehl (2013) e Marcus e Francis (1998) reforçam que o desenho dos espaços 22

da cidade necessita expressar a dinâmica urbana e as necessidades de seus usuários, devendo garantir diversidade de usos e funções, segurança e interação social. Situação que reforça a necessidade de se identificar estudos que promovam a reestruturação e valorização dos espaços livres de uso público de nossas cidades. O referido problema foi identificado como objetivo para este estudo que se concentrou em propor a integração de uma área fragmentada de um bairro da capital capixaba através da proposta de uma nova área de lazer que restituísse ao bairro oportunidades de encontro e socialização entre as pessoas que ali residem e trabalham. Identificaram-se neste contexto, áreas ociosas do tecido urbano existente como a localizada em uma região de ocupação formal do bairro Bento Ferreira, em Vitória. Por apresentar características de rápida expansão urbana e recente aumento da criminalidade , o bairro tem sido objeto de estudo de uma pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida com o apoio da FAPES, na Universidade Vila Velha, sob orientação da Profª Drª Ana Paula Rabello Lyra, no âmbito da pesquisa "Estratégias SocioAmbientais para Inibição de Ações Antissociais. Um estudo de caso do bairro Bento Ferreira e seu entorno, Vitória - ES." A referida área constituiu-se objeto de estudo e intervenção deste trabalho, pois possui uma região onde o encontro da malha da parte plana do bairro com a área em aclive natural resultou em um espaço residual , fragmentado e não aproveitado dentro do tecido do bairro em que se insere e que gera uma ruptura na continuidade de seu desenho urbano , tornando-se assim, objeto de interesse deste Trabalho de Conclusão de Curso. Para tanto, utilizou-se como estratégia metodológica a pesquisa qualitativa ao abordar o problema do espaço fragmentado a partir da interação dos pesquisadores envolvidos com o objeto deste estudo. Com relação ao objetivo de interferir no espaço existente com o propósito de transformá-lo em uma nova opção de lazer para o bairro constitui-se em proposta exploratória,


cujos procedimentos envolvem a pesquisa teórica, através dos referenciais bibliográficos estudados, da entrevista estruturada realizada, onde se seguiu um roteiro para obter informações de apropriações por parte dos moradores da área de estudo, além do levantamento de campo a partir da observação do espaço de forma a obter informações para a elaboração do diagnóstico, que foi realizado através de visitas ao local, mapeamento e fotografias. Com isso, pretendia-se através das diretrizes estudadas e do diagnóstico da área realizar uma proposta de intervenção visando a vitalidade da região, para promover a segurança e gerar qualidade espacial não só para a cidade, mas também para a população usuária do espaço em questão. Com isso, o presente estudo propôs uma intervenção urbana pautada em conhecimentos teóricos, considerando as reflexões sobre um desenho urbano que promovesse qualidade espacial e integrasse os espaços fragmentados e residuais existentes. Para tanto foram consideradas as características específicas do local de intervenção, incluindo os condicionantes locais e formas atuais de apropriação, através da elaboração do diagnóstico. Estudo este relevante por buscar maior qualidade espacial e vitalidade urbana, e novas formas de apropriação de um espaço que apresentava características de vulnerabilidade devido a um fragmento não integrado ao tecido urbano existente. Para isto, o trabalho foi estruturado em cinco capítulos, contemplando uma breve apresentação do processo que gerou os espaços fragmentados das cidades, incluindo alguns estudos, diretrizes e soluções práticas que ilustram a reestruturação e integração destes no desenho das cidades, requalificando o ambiente através de quesitos e soluções para cidades mais humanizadas e atraentes para a permanência de pedestres, além de garantir uma mobilidade sustentável.

e dá sequência a este estudo ao discorrer sobre o processo de planejamento pelo qual as cidades passaram dando origem a estrutura física atual e apresentando as consequências da fragmentação urbana ocorrida a partir de tal processo. O primeiro item, então, apresenta o estudo do desenvolvimento das cidades pós-revolução industrial, onde se priorizou os sistemas viários em detrimento dos espaços públicos. Enquanto o item dois apresenta o resultado de tal processo, caracterizando e conceituando os espaços fragmentados. O capítulo três, por sua vez, também dividido em duas partes, apresenta a necessidade de reestruturar os espaços da cidade, trazendo estudos realizados por autores e pesquisadores da conjuntura situacional do delito, que se apresentam de extrema relevância para a reintegração dos espaços fragmentados. A segunda parte deste capítulo aborda, então, as diretrizes e recomendações para a requalificação de tais espaços, abordando ainda ações práticas que exemplificam a possibilidade de aplicação nas cidades dos métodos estudados. O capítulo quatro traz o diagnóstico da área de estudos, apresentando sua localização e um breve histórico do bairro junto às características gerais e análise da morfologia urbana da região selecionada, buscando identificar potencialidades e vulnerabilidades a serem consideradas na futura proposta de intervenção. O capítulo cinco apresenta o conceito e partido adotado seguido da proposta projetual final que buscou integrar pontos sem conexão e fragmentos através da inserção de um Parque como nova opção de área livre de uso público situada em uma área negligenciada e vazia do bairro , ao desenho urbano de Bento Ferreira, considerando as diretrizes e diagnósticos citados anteriormente, assim como elementos importantes para a proposta, que foi desenvolvida a nível de estudo preliminar.

O capítulo dois que segue a introdução foi dividido em dois tópicos 23


Buscando compreender o processo que resultou os espaços fragmentados que são encontrados nas cidades contemporâneas, esse capítulo traz, primeiramente, o caminho percorrido, a partir da Revolução Industrial, que gerou uma urbanização acelerada, fazendo com que a estrutura urbana se transformasse rapidamente e, em um segundo momento, apresentará como as cidades ficaram após esses acontecimentos, exemplificando os ambientes residuais e sua relação com o esvaziamento dos espaços livres de uso público das cidades. 24


02

o desenvolvimento urbano e a fragmentação das cidades


2.1 o caminho da exclusão e segregação urbana O advento da Revolução Industrial teve início no século XVIII, entre 1750 e 1850 na Inglaterra e é caracterizado por representar um grande avanço no processo de produção, que passou de artesanal para um sistema mecanizado, onde o trabalho com o uso de máquinas passou a ser mais visado enquanto as produções camponesas se tornaram desvalorizadas. Esse acontecimento transformou não só a paisagem da cidade (figura 1), como também sua estrutura (LUZ; et al, 2001). Figura 01 - Cidade antes e depois da Revolução Industrial

Fonte: http://urbanidades.arq.br

Uma expressão clara da transformação das cidades a partir deste processo foi o extraordinário crescimento dos grandes centros urbanos, que, absorvendo a população rural, fez com que as cidades entrassem em um processo de transformação inconsistente, o qual Chueca (2008) caracteriza como sendo o ritmo de crescimento superior à capacidade de previsão das autoridades de assimilar os problemas. Isso fez com que surgissem diversas dificuldades no desenvolvimento das cidades, onde os grandes conjuntos habitacionais instalados na periferia de forma a receber a população excluída do processo de urbanização são isolados do contexto urbano adjacente (MARICATO, 2000). Situação agravada pelas 26

conurbações1 ocorridas com a expansão urbana que sem nenhuma ordenação dentro do espaço da cidade, acarretaram em problemas de mobilidade, segurança e esvaziamento dos espaços públicos das cidades que vivenciamos hoje. Com isso, é possível caracterizar a sociedade industrial como sendo urbana, onde a cidade é o seu local de instalação (CHOAY, 2003). Sobre este assunto, a autora afirma ainda que a revolução industrial é “quase imediatamente seguida por um impressionante crescimento demográfico das cidades, por uma drenagem dos campos em benefício de um desenvolvimento urbano sem precedentes” (CHOAY, 2003, p.3). Neste sentido, a Revolução Industrial, gerando um crescimento desordenado das cidades e modificando sua estrutura urbana, trouxe para o seu centro os elementos de produção mais importantes, como as indústrias têxteis, antes situadas ao longo dos rios e distribuídas de forma linear, e que, com a máquina a vapor passam a se concentrar em torno de um ponto, agrupando fábricas em locais estratégicos e acarretando no crescimento das grandes cidades industriais (CHUECA, 2008). Esta nova posição se devia também à necessidade de proximidade da mão-de-obra e do mercado consumidor (LIRA, 2014). Este novo processo de industrialização em larga escala, junto a invenção mecânica, trouxe um desenvolvimento dos meios de comunicação, onde era necessário a criação de estradas de pedágio, canais navegáveis e navios a vapor, que garantiam uma maior mobilidade das mercadorias, onde os produtos podiam ser facilmente transportados para os locais solicitados (BENÉVOLO, 1999). Para o sistema industrial, o transporte era de extrema importância, pois era o responsável tanto por trazer as matérias-primas, como por distribuir o produto 1 “Termo utilizado para designar um fenômeno urbano que acontece a partir da união de duas ou mais cidades/municípios, constituindo uma única malha urbana” (Fonte: <http://brasilescola.uol.com.br/geografia/conurbacao.htm> Acesso em: 14/05/2016)


Gráfico 01 - Frota de veículos automotores no Brasil 2001-2012

apontava Chueca (2008, p.178). Tais obras, em sua maior parte viárias, sacrificaram praças arborizadas para instalar áreas de estacionamentos, consideradas uma solução temporária que se tornou permanente e crescente nas cidades. O já referido autor ainda afirma que “destroemse avenidas e bulevares existentes com arvoredo bem resolvido, para construir vias provisórias de penetração e de tráfego rápido” (CHUECA, 2008, p.178). Com isso, o que a paisagem urbana tem de mais atraente é destruído sem qualquer contrapartida de benefício em longo prazo (figura 2). Figura 02 - Estrutura viária de Los Angeles

Fonte: http://www.observatoriodasmetropoles.net/

De forma a tentar encontrar uma solução para os problemas gerados para o aumento do transporte, as cidades, com recursos escassos, conseguiam apenas realizar obras pontuais, que “prejudicam as estruturas existentes e destroem aspectos valiosos da cidade tradicional, os quais, depois, não podem ser recuperados”, já

Fonte: www.engenhariacivil.com

27

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

acabado aos consumidores. Com isso, o automóvel se tornou a alavanca da expansão, entretanto, se caracterizou “no elemento mais perturbador e incomodo da vida cotidiana” (CHUECA, 2008, p.178) e seu número nas cidades aumentou consideravelmente, fazendo com que a estrutura existente não suportasse a demanda gerada. O gráfico 1 mostra a evolução da frota de veículos automotores no Brasil do ano de 2001 até 2012, representando o grande crescimento de automóveis nas cidades brasileiras em um período de 10 anos.


Dando-se mais importância às vias de circulação, o espaço público se tornou a primeira vítima colateral de uma cidade que vem perdendo a luta de resistência contra o avanço da globalização, ou a sua diminuição (BAUMAN, 2009). Necessitando de mais espaços de circulação, houve um grande aumento no número das vias e um consequente recuo do espaço público (LEVY, 2010). Esse aumento da rede de tráfego tinha por objetivo aumentar o congestionamento lucrativo dos centros, entretanto, criou um efeito onde se carecia de espaços que trouxessem vivencia social, coisas que cidades menos desenvolvidas possuíam (MUMFORD, 1998). Desta forma, “com o critério do mais seco utilitarismo, tirava-se maior partido do solo prescindindo-se de espaços livres e pátios” (CHUECA, 2008, p.150). “ No esforço para lidar com a maré crescente de automóveis, todo espaço disponível da cidade era simplesmente preenchido com veículos em movimento e estacionados. Cada cidade tinha exatamente tanto tráfego quanto seu espaço permitia. Em todos os casos, a tentativa de construir novas vias e áreas de estacionamento para aliviar a pressão do tráfego geraram mais trânsito e congestionamento. O Volume do tráfego, em quase todo lugar, é mais ou menos arbitrário, dependendo da infraestrutura de transporte disponível, porque sempre encontraremos novas formas de aumentar o uso do carro; construir vias adicionais é um convite direto à aquisição e ao uso de mais automóveis”. (GEHL, 2013, p.9. Grifo nosso)

Essa fala do autor representa a situação em que as cidades se encontravam após a influência da Revolução Industrial, onde somente o carro passou a ter importância, tornando um ciclo vicioso a construção de vias, pois quanto mais vias se construíssem para auxiliar na mobilidade, mais carros seriam postos nas cidades, sendo, então, a vizinhança sacrificada pela avenida de tráfego durante todo o século XIX (MUMFORD, 1998). Com o processo de transformação 28

dos centros e da estrutura viária, que passou a ter mais importância do que os espaços públicos, além do progresso das tecnologias de transporte e comunicação, a fragmentação2 das cidades tornou-se, então, notável (SALGUEIRO, 1998). Situação reforçada pelo urbanismo moderno, em que o zoneamento urbanístico proposto, setorizado e hierarquizado, também teve responsabilidades no processo de fragmentação das cidades ao dar prioridade ao automóvel em detrimento dos pedestres, conforme é possível observar na colocação de GEHL (2013, p.3): “As ideologias dominantes de planejamento – em especial, o modernismo, deu baixa prioridade ao espaço público, às áreas de pedestres e ao papel do espaço urbano como local de encontro dos moradores da cidade”. Com isso, os modernistas rejeitaram os espaços da cidade, dando foco para as construções individuais e ao tráfego, entregando ao domínio deste com muita intensidade Para alguns urbanistas, o tráfego está acima de qualquer coisa, e todas as decisões devem ser pautadas nele (CHUECA, 2008). A ideologia do urbanismo moderno era a separação da cidade por usos e a utilização de edifícios autônomos, dando fim ao espaço urbano e à vida na cidade, resultando em cidades sem vida e vazias de pessoas (JACOBS, 2000). Com isso, defendiam que uma cidade que tem por função ser um “instrumento de trabalho” deve ser classificada de acordo com sua função, onde cada uma deve ocupar uma área especializada, criando-se setorizações e fragmentações no espaço urbano (CHOAY, 2003) (figura 3). 2 Considera-se, aqui, espaços fragmentados aqueles residuais provenientes de vazios urbanos com características de abandono do território ou que geram rupturas físicas subutilizadas


assumida como modelo pelos urbanistas funcionalistas modernos. A homogeneidade de classes que se criou adquiriu, de forma bem rápida, uma força econômica que levava em consideração a valorização ou desvalorização do solo, criando, então, uma especulação imobiliária, mesmo que isto pudesse resultar em problemas culturais e sociais (SALGUEIRO,1998). Nesse sentido, o mercado imobiliário exerce grande influência nas cidades, pois buscam sempre maior rendimento e, criando a especulação imobiliária, faz com que a classe média e alta busque condomínios fechados, enquanto a classe baixa tende a ocupar as áreas menos valorizadas e com pouca infraestrutura, criando um processo de segregação social dentro de um espaço urbano que deve ser de acesso a todos. Botelho (2007, p.60) apresenta a seguinte afirmativa sobre o assunto:

Fonte: CHUECA, 2008, p.183

Desta forma, as inter-relações e espaços comuns da cidade perderam o seu foco para edifícios que se tornavam cada vez mais isolados, introspectivos e indiferentes às necessidades de interação com a cidade. Isso fez com que houvesse a redução das oportunidades para os pedestres se locomoverem e bloqueou as funções culturais e sociais dos espaços da cidade, que foram cada vez mais reduzidos e progressivamente descartados (GEHL, 2013). A cidade industrial poderia ser caracterizada, então, como cidade moderna, já que a segregação funcional e social que se criou foi

“O capital financeiro monopolista integrado ao setor imobiliário tende a concentrar a produção do espaço nos eixos de maior valorização, ao passo que há dificuldade de integração para a produção de moradia para os mais pobres, direcionados assim às áreas de menor valorização”.

Com isso, o capital imobiliário ofertando condomínios onde há forte presença de avenidas importantes, contribui para a fragmentação e segregação espacial enquanto os espaços da rua e dos pedestres vão perdendo a vida nas cidades (MARICATO, 2008). É possível perceber, portanto, que o caminho da revolução industrial, aliado ao pensamento dos urbanistas modernos e ao capital imobiliário levaram a uma cidade fragmentada física e socialmente, onde os espaços de convívio e interação foram desaparecendo e surgindo cada vez mais vias destinadas a veículos, onde será possível perceber, no próximo tópico, sua influência no resultado dos espaços da cidade. 29

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Figura 03 - Cidade funcionalmente zoneada


2.2 espaços fragmentados da cidade contemporânea Como resultado do processo apresentado anteriormente, o novo padrão de urbanização, também conhecido como centro-periférico (CALDEIRA, 2011), tem o antigo núcleo central transformado com periferias construídas ao seu redor, onde as classes baixas, abandonando gradualmente os centros, se estabelecem e constituem espaços de moradias (BENÉVOLO, 1999). Em contrapartida, as classes sociais mais elevadas buscavam locais mais reservados, exclusivos, ou seja, afastados da sociedade em geral “onde estão menos sujeitas aos incômodos de uma urbe agitada e socialmente misturada” (CHUECA, 2008, p.191). A partir do momento em que o adensamento e o caos urbano começam a dominar tais regiões, por esses locais terem sido absorvidos pelo crescimento das cidades, as classes mais elevadas passam a abandonar estes espaços em busca de tranquilidade e segurança, indo cada vez para mais longe dos centros urbanos (CHUECA, 2008). Surgem assim os enclaves fortificados identificados por Caldeira (2011), como fragmentos comunitários dispersos das áreas centrais dominadas pelo caos urbano. Configuram-se como condomínios fechados e “protegidos” por muros, guaritas, circuitos de monitoramentos e controles de acesso físicos que ocupam grandes glebas do município sem, contudo, se integrarem a uma malha urbana existente, pois criam seu próprio desenho desconsiderando o cenário de seu entorno. O caráter de implantação desta tipologia provoca uma brusca diferença no tecido da cidade que o cerca, gerando espaços onde os grupos sociais, apesar de, em alguns casos estarem próximos fisicamente, estão separados por muros e tecnologias de segurança, não havendo a interação em áreas comuns (CALDEIRA, 2011). Tal fato pode ser observado na figura 4, a qual aparece no livro da 30

referida autora, e demonstra a diferença física e social em São Paulo, onde a favela de Paraisópolis e o condomínio fechado do Morumbi revelam esta drástica mudança, estando inseridos dentro da mesma cidade, porém isolados, configurando dois mundos distintos em um mesmo espaço urbano (BAUMAN, 2009). Figura 04 - Contraste entre favela e condomínio fechado

Fonte: http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/

Esses condomínios, que surgiram em meados dos anos de 1970, além de se isolarem do espaço externo, isolam também a vida urbana do entorno. Situação que provoca alguns efeitos no espaço onde estão inseridos, que dizem respeito à influência na livre circulação de veículos, com obstrução da continuidade das vias públicas e na privatização ilegal de áreas de uso comum, como as ruas, que inicialmente são cedidas em uma porcentagem ao governo por se tratarem de loteamento porém ao se transformarem em condomínios fechados passam a ser de uso privativo do condomínio (NYGAARD, 2010). Caldeira (2011, p. 211) reitera esse ponto de vista, dizendo que:


Essa nova característica das cidades de muros é reforçada pelo que Lira (2014) chama de Arquitetura do Medo, onde condomínios e residências cercados por muros altos são equipados com alarmes e sensores, botões antipânico, cerca elétrica, circuitos fechados de câmera e vídeo-monitoramento, controle de acesso por biometria, entre outros, com o intuito de “proteger os moradores da violência” (NYGAARD, 2010, p. 119). Nesse sentido são “casas construídas para proteger seus habitantes, e não para integrá-los nas comunidades às quais pertencem”. (GUMPERT et al. Apud BAUMAN, 2009, p.25) onde os elementos de segurança, além de possuírem a função protetiva, conferem aos moradores status social diante de elementos sofisticados, como interfones e portões elétricos, além da própria arquitetura defensiva, que indica, através do desenho da fachada, a posição social do morador (CALDEIRA, 2011). Isso faz com que as habitações se fechem cada vez mais e se isolem da cidade, como é possível perceber na figura 5, que mostra o processo de desenvolvimento dos muros das residências e traz uma situação que se intensifica na cidade continuamente, caso não haja uma mudança no processo de formação e constituição destes espaços urbanos. A arquitetura do medo, entretanto, ultrapassou os limites dos ambientes privados, de condomínios e residências e pode ser encontrada também nos edifícios comerciais, de serviços, assim como nos espaços públicos, que deveriam ser de livre acesso às

pessoas, transformando-os em áreas extremamente vigiadas dia e noite e cercados por grades ao reproduzirem tais elementos dos sistemas prisionais, como é o caso de algumas praças de nossas cidades. Figura 05 - Evolução dos muros residenciais

Fonte: http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/

O referido cenário contrapõe-se ao sentido de cidade como resultado e espaço das relações sociais e de trocas (CHOAY, 2003), e reforça o processo de exclusão e fragmentação que se confirma na medida em que a cidade cresce e se desenvolve à revelia dos espaços de integração. Trata-se de um contexto que pode ser vislumbrado ao transitar pela cidade e perceber que as edificações estão ocupando cada vez mais o tecido urbano e se transformando em construções introspectivas, isoladas de seu entorno que é por sua vez ocupado pelas vias destinadas à circulação de veículos. Realidade esta que se instalou pelo medo eminente promovido pela violência urbana e que tem favorecido a expansão deste modelo urbano. 31

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

“Em cidades fragmentadas por enclaves fortificados é difícil manter os princípios de acessibilidade e livre circulação, que estão entre os valores mais importantes das cidades modernas. Com a construção de enclaves fortificados, o caráter do espaço público muda, assim como a participação dos cidadãos na vida pública”.


Este processo, aliado aos espaços gerados a partir da implementação de grandes vias, fez com que surgissem espaços na cidade não convidativos à vida coletiva e que geram a segregação social, além da fragmentação dos espaços urbanos (CARLOS, 1993). Neste sentido, os fragmentos urbanos são atrelados, em geral, a estes dois aspectos da cidade proveniente de uma urbanização descontrolada. Para Bauman (2009) os fragmentos são provenientes de uma nova forma de relação entre o homem e o espaço urbano, onde o indivíduo descarta espaços que não lhe despertam interesse e criam ambientes urbanos privilegiados, quando possuem condições sociais e econômicas para tal fim, o que resulta em um processo de abandono do espaço público. Reiterando esta perspectiva, Chueca (2008, p.172) aponta tais espaços como sendo “zonas de transição ou deterioradas, que pertenceram um dia a grupos ricos ou pequenos burgueses e que, ao serem por estes abandonadas foram baixando progressivamente, de degrau a degrau, na escala social” e Salgueiro (1998, p.39) reforça dizendo que é “uma organização territorial marcada pela existência de enclaves territoriais distintos e sem continuidade com a estrutura sócio espacial que os cerca”. Em uma leitura complementar para a definição do termo fragmentação urbana, Cunha; Lyra e Santana (2016) diz que a paisagem fragmentada das cidades é caracterizada por resíduos urbanos resultantes de recortes de malhas viárias, que criam ruptura na continuidade das cidades. Desta forma, percebe-se que os espaços fragmentados, de acordo com os autores, dizem respeito a áreas residuais criadas por uma ruptura no tecido urbano da cidade, seja pelos enclaves que se formaram, seja pelas vias que foram implantadas no lugar de espaços públicos ou pelo abandono e falta de integração de acidentes naturais ao desenho urbano circundante. Levy (2010) traz ainda denominações de alguns autores para os 32

espaços que se formaram com essa nova configuração, atribuindolhe algumas características, podendo, então, serem chamados de “Espaços públicos mortos” (Sennet, 1992), “desertificação dos espaços públicos” (Jacobs, 2000), “redução considerável da diversidade e heterogeneidade dos espaços de interação social interclasses” (Abrahão, 2008), “espaço residual entre edifícios e vias” (Borja e Muxi, 2003. Apud LEVY, 2010, p.101)

Desta forma, o modelo de urbanização das cidades gerou áreas segregadas e fragmentadas, onde Salgueiro (1998) aponta uma diferença em relação às denominações. Segregação trata-se da separação por zonas (funcional e social) enquanto a fragmentação é considerada uma segregação em microescala, onde é feita a justaposição de classes sociais diferentes em um mesmo território, existindo a proximidade social sem a continuidade. Com isso, Cunha; Lyra e Santana (2016) caracterizam como áreas fragmentadas e segregadas da cidade contemporânea o entorno de áreas residuais de pontes (figura 6), passarelas e vias públicas, ruas sem saída, becos e ruelas, e os entorno dos canais e córregos negligenciados e poluídos. Estas áreas, em geral, são alvos de usuários de drogas, moradores em situação de rua e tem sua infraestrutura degradada por estes autores, tornando-se um espaço sem cuidados onde a população busca manter distância, por se sentirem vulneráveis. Tal definição é a mais relevante para o presente estudo, o qual irá considerar o conceito dos espaços fragmentados relacionados com as áreas residuais urbanas provenientes da implementação de vias e edificações, os quais geraram pequenos espaços sem uso e que interrompem a continuidade da cidade comprometendo a vida nos espaços públicos adjacentes.


Fonte: Fonte: Arquivo Pessoal da Autora (2016)

A busca por proteção através de muros transforma a paisagem urbana, influenciando nos padrões de circulação, trajetos diários, hábitos e gestos relacionados ao uso dos espaços públicos da cidade. Caldeira (2011, p.301) questiona: “Como poderia a experiência de andar nas ruas não ser transformada se o cenário é formado por altas grades, guardas armados, ruas fechadas e câmeras de vídeo no lugar de jardins, vizinhos conversando, e a possibilidade de espiar cenas familiares através das janelas? ”

Esse questionamento simboliza o comprometimento do uso dos espaços públicos frente à nova realidade que tomou conta das cidades. Essa constante busca por segurança pode ser identificada no indivíduo através das características de medo, que Bauman (2009, p. 14) atribui como sendo “os sofrimentos humanos que derivam do poder da natureza, da fragilidade de nossos próprios corpos e da inadequação das normas que regem os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade”. Desta forma, a insegurança moderna é caracterizada pelo medo dos crimes e dos criminosos. Esse medo é representado no que Bauman (2009) chama de mixofobia, ou o medo que o indivíduo tem de misturar-se. O maior obstáculo contra o convívio com a diferença é a tendência que o cidadão tem de se retirar do espaço público para se recolher em ilhas de “uniformidade”. Fato é que a insegurança alimenta o medo e faz com que a espontaneidade, a flexibilidade e os demais atrativos da vida urbana estejam destinados ao desaparecimento (BAUMAN, 2009). Esse medo instaurado nos indivíduos faz com que cresça cada vez mais espaços de uso público exclusivos, como ruas e praças que são fechadas para usos comerciais, além dos condomínios fechados, que surgem como pequenas cidades dentro da cidade com espaços residenciais e comerciais e sistema de segurança particular (MALTA, 2015). Esses condomínios recebem equipamentos como playground, espaços de caminhada, áreas de lazer e jogos, quadras de esporte, que antes eram situados em espaços públicos, mas que se transferem para estes espaços privados, revelando a busca por uma segurança cada vez mais restrita e individualizada (MARTINS, 2013). 33

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Figura 06 - Área debaixo da Ponte da Passagem, Vitória


Há, com esse processo, uma perda de identidade dos espaços públicos, que, com o sentimento de insegurança dos usuários, perdem sua vitalidade social, e, confinando a vida urbana em espaços restritos, restringem a vida coletiva e fomentam a segregação social (NYGAARD, 2010). Este encolhimento do espaço público em detrimento de espaços fechados, privatizados, homogêneos e que visam o conforto e segurança de classes econômicas elevadas, fazem com que haja a fragmentação da vivência de cidadania, onde aquilo que era público torna-se privado, ou privatizado, para se ganhar espaço, onde há a consequente desvalorização do espaço público (LEVY, 2010). Desta forma, a questão da segurança nas cidades está relacionada, em partes, pela desigualdade social e econômica e precisa ser resolvido, o que pode ser feito através de fatores espaciais (SABOYA, 2009). Diante de todos estes fatos, percebeu-se uma carência por propostas que visem ressignificar e conectar os espaços fragmentados, onde os espaços livres de uso público tem um papel fundamental, se devolvidos aos cidadãos. Com isso alguns estudiosos apresentaram métodos que visam a reintegração destes espaços na cidade, os quais serão apresentados e caracterizados na próxima seção.

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Avenida LeitĂŁo da Silva, dĂŠcada de 50 Fonte: http://deolhonailha-vix.blogspot.com.br/


Com a realidade que se adensava das cidades pós Revolução Industrial, reforçadas nas décadas seguintes pelas práticas do setor imobiliário, observou-se uma evasão na permanência de pessoas nos espaços livres da cidade e percebeu-se a importância que deveria ser dada ao convívio social e aos espaços públicos (JACOBS, 2000 e BOTELHO, 2007). A partir de então se verificou uma intensa segmentação das áreas ocupadas da cidade que passaram a privilegiar as vias e construções, surgindo estudos com propostas de reintegração dos espaços da cidade. O presente capítulo irá, então, apresentar, em um primeiro momento, alguns destes exemplos que visam a reintegração de tais espaços e, posteriormente, quais características estão sendo adotadas nos projetos para alcançar tal objetivo. 36


03

referenciais de integração em espaços fragmentados


3.1 referenciais teóricos para reintegração dos espaços fragmentados A vitalidade e segurança das cidades possui forte relação com a forma de apropriação de seu espaço. Neste sentido a segurança urbana está relacionada a uma frequência de uso saudável de seu espaço urbano. Lerner (2011) aponta que são principalmente pessoas que atraem pessoas. Com isso, o autor afirma que “uma boa acupuntura urbana3 pode ajudar a trazer gente para a rua, criar pontos de encontro” (LERNER, 2011, p. 45). Para isso, é necessário aumentar a sensação de segurança nas cidades, já que o aumento da violência instalou uma barreira na apropriação das áreas urbanas e fez com que as pessoas se afastassem dos espaços públicos. Uma forma de aumentar essa sensação é combinando desenho urbano e gestão, incorporando estratégias de prevenção aos espaços públicos (GÄRTNER, 2008).

Aumentou-se a preocupação com o pedestre, o ciclista e com as formas de vida fragmentadas ofertadas pela cidade contemporânea. Neste sentido foram reforçados os objetivos como vitalidade, segurança, sustentabilidade e saúde nas intervenções políticas, fundamentadas nas teorias que visassem a valorização dos espaços públicos e a reintegração daqueles espaços residuais fragmentados das cidades, onde moradores sintam-se convidados a caminhar e pedalar em suas atividades cotidianas, devolvendo a qualidade de vida e restituindo a sensação de segurança à população (figura 7) (GEHL, 2013).

Figura 07 - Vitalidade através de ruas de pedestres

“A sensação de segurança se instala e se fortalece quando a ocupação, a configuração e a dinâmica do espaço são percebidas pela população como inibidoras da ação criminosa. A sensação de segurança existe quando sentimos o ambiente vigiado e apropriado por pessoas e atividades” (NYGAARD, 2010, p.165).

As apropriações dos espaços públicos favorecem a vida coletiva e podem indicar criatividade e capacidade de melhor aproveitamento das infraestruturas públicas. Além disso, são favoráveis à compreensão das necessidades da população e seu vínculo com o ambiente urbano. Com isso, são consideradas “mecanismos de defesa e superação da população aos modelos urbanísticos impostos pelos planejadores” (SANTOS E VOGEL, 1985. Apud MENDONÇA, 2007). Com os espaços públicos esquecidos e abandonados devido ao modelo de urbanismo adotado pós Revolução Industrial, a busca por cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis tornou-se crescente. 3 Conjunto de ações pontuais e de revitalização que podem mudar progressivamente a vida na cidade.

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Fonte: http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/


Figura 08 - Estratégias do método do CPTED

Estudos estes que baseados na reestruturação da vida na cidade através do desenho urbano buscam inibir eventuais atos delituosos, como o método da Prevenção do Crime através do Desenho Urbano (CPTED4). O CPTED atua sobre a vertente do ambiente físico vulnerável à ocorrência de delitos (FELSON e CLARKE, 1998) e busca intervir neste espaço físico construído de forma a diminuir ou eliminar eventuais oportunidades de incidências criminosas, atuando sobre a capacidade de influenciar as decisões dos criminosos que precedem o ato criminoso (Guia de Boas Práticas – CPTED, 2013). A terminologia do CPTED surgiu a partir dos anos 1950 através do pensamento do espaço como elemento de proteção e prevenção do crime além do propósito de aumentar o nível de segurança nas cidades e se destaca pela sua eficiência e eficácia de aplicação em cidades americanas (Guia de Boas Práticas – CPTED, 2013). Jacobs (1969), Jeffery (1971), Newman (1972) e Crowe (1991) foram os autores pioneiros no estudo do CPTED, buscando entender e difundir o tema, analisando pontos importantes da cidade. Eles começaram a analisar o espaço como agente ativo na ocorrência ou inibição/prevenção do crime, a partir da ótica do uso, da tipologia e da conformação da cidade (RICARDO; SIQUEIRA e MARQUES, 2013). O método do CPTED atua com a estratégia de aplicação de quatro princípios que visam a segurança urbana:

4 CPTED – proveniente do inglês Crime Prevention Through Environmental Design

Fonte: Elaborado pela autora a partir do Guia de Boas Práticas do CPTED (2013)

Jacobs (2000) apresenta uma severa crítica ao modelo adotado pelo urbanismo moderno e, em seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades, busca apresentar características que poderão devolver a cidade às pessoas, através da reorganização dos espaços de uso públicos. Para a autora, a diversidade de usos e a garantia de “olhos na rua” são fundamentais para reverter o processo de degradação urbana do racionalismo funcional modernista que resultou em uma cidade sem vida. Intrinsicamente relacionado à vigilância natural, apontada pelo CPTED, os olhos na rua garantem um ambiente dinâmico, onde a relação com pessoas desconhecidas se apresenta fundamental para a ocupação das cidades. Essa vigilância deve ser promovida não só pela 39

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Surgem assim alguns estudos que visam a reestruturação dos espaços urbanos, acrescentando essenciais contribuições para este processo, que mesmo tendo origem nos anos 60 ainda se fazem atuais, visto a realidade da insegurança nas cidades (LIRA, 2014).


diversidade de usos na cidade, mas também pela arquitetura, que deve promover um contato visual entre o seu interior e o espaço público. Já este espaço público, através das calçadas, a qual a autora apresenta como sendo “a parte da rua que cabe ao pedestre” (JACOBS, 2000, p.29) deve garantir que existam transeuntes de perfis variados, em diferentes horários do dia, realizando diferentes atividades, garantindo uma interação social. Ruas movimentadas são essenciais para a dinâmica urbana, visto que vias desertas dificilmente atrairão pessoas, o que aumenta a sensação de insegurança nas cidades.

função. Ainda sobre o assunto o autor afirma que: “Se falta atividade, se falta lazer durante a noite, traz-se uma estrutura de lazer. Se, por outro lado, estava faltando moradia, devem-se trazer moradias. Mas tudo isso rapidamente, quase instantaneamente. A mistura de funções é importante. E a continuidade do processo é fundamental. Continuidade é vida” (LERNER, 2011, p. 38).

Figura 10 - Rua com diversidade de usos

Nesse sentido, a autora aponta três pontos importantes a serem considerados ao se pensar a vitalidade e segurança das cidades: Figura 09 - Pontos a serem considerados na vitalidade das cidades

Fonte: Elaborado pela autora a partir de JACOBS (2000)

A diversidade de usos é fundamental para o bom desenvolvimento das cidades (figura 10). Se em uma região falta algum tipo de atividade/função, sua qualidade espacial pode ficar comprometida. Nesse sentido, reiterando o estudo de Jacobs (2000), Lerner (2011) aponta que é importante trazer uso para terrenos vazios, principalmente os que promovam animação ao local, podendo ser estruturas permanentes ou temporárias, até o local receber outra 40

Fonte: http://www.landezine.com/ (2016)

Buscando identificar a maneira a qual as pessoas percebem a cidade, através da qualidade visual e considerando que cada indivíduo tem uma percepção particular do panorama urbano, Lynch (2006) traz em seu livro A Imagem da Cidade conceitos relevantes na análise


Nesse sentido, quanto à imagem da cidade, Lynch (2006) aborda três conceitos fundamentais de serem analisados ao se pensar a integração entre ambiente e usuário: Legibilidade: forma de tornar claro e facilmente identificável os bairros, marcos e vias da cidade, oferecendo, além de segurança, o reforço das experiências humanas. Imagem Ambiental: resultado de um processo entre o observador e seu ambiente, podendo caracterizar-se em identidade, que é a capacidade de um indivíduo identificar um objeto; estrutura, que aponta a relação espacial entre objeto e observador e significado, que fala sobre a relação prática ou emocional entre o objeto e o observador. Imaginabilidade: capacidade que um objeto tem de dar sentido a uma observação da cidade. Ainda em relação à imagem da cidade, Lynch (2006) classifica cinco elementos que reforçam o significado da cidade, remetendo a forma física e que faz com que o indivíduo tenha uma boa relação com o espaço e seus concidadãos (figura 11).

Fonte: Elaborado pela autora a partir de LYNCH (2006)

Lerner (2011, p.7) trata os espaços da cidade como necessitados de cura, vistos que estão “doentes, quase em estado terminal”, sendo necessário fazer os espaços da cidade reagirem, através do despertar da vida urbana. Este processo de transformação, o autor caracteriza de Acupuntura Urbana, que tem por objetivo promover a manutenção ou o resgate da identidade cultural de um local ou comunidade. Com esses estudos aplicados à realidade das cidades, seria possível reintegrar os espaços fragmentados e incentivar a vida pública, auxiliando na convivência e segurança das cidades. Atrelado a estes aspectos, surgem propostas espaciais físicas já aplicadas que visam a ocupação de espaços fragmentados, além de diretrizes de desenho urbano inibidor de delitos, os quais serão apresentados na próxima seção. 41

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

da morfologia urbana que influenciam na percepção do cidadão em relação à cidade, visto que “cada cidadão tem determinadas associações com partes da cidade, e a imagem que ele faz delas está impregnada de memórias e significados” (SABOYA, 2008).

Figura 11 - Elementos da imagem da cidade


3.2 recomendações para a requalificação dos espaços fragmentados Os espaços fragmentados ou residuais, destacados neste texto são caracterizados pelo resultado de um processo de urbanização que deu mais importância à estrutura viária e aos veículos, perdendo sua identidade enquanto parte integrante da cidade. Entretanto, algumas intervenções realizadas recentemente passaram a dar nova significância a determinados lugares esquecidos e fragmentados da cidade revertendo-os em parte da dinâmica urbana e, a partir destes, foram estabelecidas diretrizes de projetos urbanos e implantadas soluções práticas espaciais que contribuíssem para que a característica residual fosse alterada. Os referidos exemplos conseguiram restituir aos cidadãos alguns espaços de convívio, através das novas construções de convivências sociais, suprindo a carência crescente por espaços públicos na cidade (SAMPAIO, 2015). Tais diretrizes e propostas visam a reconfiguração do espaço urbano e são indispensáveis de serem estudadas quando se pretende avaliar como o espaço da cidade pode auxiliar na segurança e qual o papel do desenho urbano na reintegração de espaços ociosos ao contexto das cidades. Nesse sentido, em busca de cidades mais humanizadas e voltadas para as pessoas autores como Gehl (2013), Marcus e Francis (1998) e Lerner (2011) abordam recomendações e diretrizes para o desenho de espaços livres de uso públicos inibidores de delitos e atrativos à sociabilidade da comunidade. Marcus e Francis (1998) trazem em seu livro People Places estudos sobre diversos espaços públicos, desde praças e parques urbanos até pequenos parques de bairro passando por espaços livres para pessoas idosas e recuperação de crianças em tratamentos hospitalares. 42

Os miniparks ou pocket parks5 aparecem como solução para os espaços residuais funcionando como pequenos espaços de lazer e descanso, onde sua função irá depender de seu entorno e seu design deve compreender complexidades sociais do bairro. Com isso, a escolha do local de implantação deve avaliar se o usuário pode caminhar até quatro quadras sem passar por ruas principais para se chegar a ele. “A localização de um pequeno parque é crucial porque o que acontece ao seu redor determina seu uso, o tipo dos usuários e o tempo que será utilizado assim como suas atividades. Um parque pode servir a uma boa variedade de pessoas somente se estiver localizado onde os usuários em potencial estão concentrados” (MARCUS; FRANCIS, 1998, p.151. Tradução do autor).

Para sua implantação Marcus e Francis (1998) apontam algumas diretrizes que se aplicadas garantem a segurança e vitalidade através do desenho destes pequenos parques, como possuir limites claramente definidos, espaços para usuários que devem ter maior prioridade frente aos ambientes que geram apenas visuais agradáveis, promover pequenos espaços de conversa mais reservados, considerar a necessidade de pessoas com deficiência e inserir áreas de crianças longe das entradas, evitando qualquer tipo de acidente, além das diretrizes ilustradas na figura 12. De acordo com o Instituto Mobilidade Verde (Acesso em 12/03/2016) o conceito de Pocket Park surgiu em Nova York, através de Thomas Hoving, que em 1967, implantou o Paley Park, na rua 53rd Street, o qual inspirou a criação de outros parks na cidade. Com a proposta de criar 5 Conceito desenvolvido por Thomas Hoving e que se trata de "parques inseridos no meio da cidade para proporcionar aos cidadãos um oasis no meio do ritmo frenético das Megalópoles". Fonte: Disponível em: <https://institutomobilidadeverde. wordpress.com/pocket-park/> Acesso em: 12/03/2016


Figura 12 - Diretrizes de desenho para pequenos parques urbanos

À parte a questão das cadeiras soltas e da cachoeira que ainda estão fora da realidade que vivenciamos hoje, esse conjunto de estruturas alteram a paisagem urbana de uma forma positiva e favorece a apropriação dos espaços públicos, o que auxilia na segurança e humanização das cidades, fazendo com que o carro seja menos notado e até mesmo, deixado em casa. Além do Greenacre Park, observado na figura 13 e do Paley Park, citado anteriormente, existem outras aplicações práticas deste conceito, que se apropriaram de espaços subutilizados para garantir maior utilização do espaço público, além de trazer vitalidade e segurança para a cidade. Um exemplo desta aplicação no Brasil é a Pracinha Oscar Freire (figura 14), localizada na cidade de São Paulo e criada dentro do conceito do Pocket Park, com a proposta de melhorar a qualidade de vida, buscando transformar espaços públicos em lugares mais humanizados e implantada no lugar de uma rampa de estacionamento. A ideia do espaço é promover a interação social em ambientes urbanos e estimular que as pessoas utilizem as mesas coletivas instaladas para passarem parte de seus expedientes trabalhando ao ar livre (INSTITUTO MOBILIDADE VERDE, Acesso em 12/03/2016). Figura 14 - Pracinha Oscar Freire, SP

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Marcus e Francis (1998)

Figura 13 - Diretrizes do Pocket Park + Greenacre park, Nova York

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/ (Modificado pela autora)

Fonte: Instituto Mobilidade Verde

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

pequenos oásis urbanos no meio do ritmo frenético e acelerado das cidades, essa estrutura tem o objetivo de ser implantada em terrenos considerados pequenos demais para receber uma edificação, mas que podem servir de descanso para os usuários da cidade além de comprovar que para se ter parques e áreas verdes nas cidades não é preciso um espaço muito grande. Complementando as diretrizes apresentadas anteriormente, o Instituto Mobilidade Verde apresenta alguns princípios básicos para a instalação deste tipo de parque, que podem ser observados na figura 13.


Outro exemplo de espaços com infraestrutura viária que, abandonado, se tornou uma área de lazer para a população é o High Line Park, um parque linear com espaço de lazer e circulação localizado na cidade de Nova York, onde trilhos de trem construídos em estruturas de aço foram abandonados, gerando uma degradação da vizinhança deste viaduto (figura 15). Com o intuito de uma requalificação do espaço, a comunidade, juntamente com a prefeitura local, criou o parque, transformando um espaço decadente, antes destinado à circulação de trens e que seria demolido em um ambiente para a comunidade (figura 16) (RODRIGUES, 2013).

Figura 16 - High Line Park, NY

Figura 15 - Antiga linha de trem abandonada

Fonte: philawdelphia.wordpress.com

Apesar de não ser de pequenas dimensões, como os exemplos anteriores, o Parque Sitiê, localizado na comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro, é um exemplo de intervenção que requalificou um espaço residual na comunidade e que, devolvendo o espaço para uso da população, desenvolveu nos moradores um sentimento de pertencimento sobre o espaço, o qual passou a ser cuidado e mantido por seus usuários. O parque era uma área de lixão gerada através dos resíduos de demolição de algumas residências com ocupação informal aliada a 44

Fonte: http://www.plarquitetura.com.br/


Os moradores, que antes degradavam o espaço depositando seus resíduos residenciais, eletrodomésticos, entre outros, passaram a realizar um processo de remoção do lixo e começaram a trabalhar em atividades de reflorestamento, reciclagem, paisagismo, agricultura urbana e melhoria dos acessos ao parque.

Com a requalificação do espaço a comunidade recebeu uma área de lazer e convívio social, já que antes só existia 0,25m²/habitante de espaços livres de uso público na comunidade. Com horta comunitária, pneus que se transformaram em escadas e bancos de pet, o local se transformou em um pequeno Oásis para a população, que se apropriou do espaço e passou a cuidar da manutenção. Com isso, o que antes era abandonado e degradado, sendo considerado um fragmento dentro do espaço urbano do Vidigal, se tornou em uma referência internacional de recuperação de áreas verdes em favelas.

Figura 17 - Parque Sitiê – RJ, localização e parque depois da intervenção

Fonte: http://www.parquesitie.org/

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

baixa frequência da coleta de lixo e que através de iniciativa dos moradores, que receberam apoio de profissionais da área de arquitetura e urbanismo, se transformou em um parque urbano ecológico, com uma área de 8,500m² e implantado em uma região de topografia em aclive natural.


Gehl (2013) traz em seu livro Cidades para Pessoas, princípios de desenho urbano e conceitos gerais de urbanismo capazes de construir uma cidade com dimensão humana e voltada para as pessoas. Para Gehl (2013, p.232), existem 5 (cinco) princípios fundamentais ao se pensar o planejamento das cidades visando a integração urbana: • “Distribuir, cuidadosamente, as funções da cidade para garantir menores distancias entre elas, além de uma massa crítica de pessoas e eventos”; • “Integrar várias funções nas cidades para garantir versatilidade, riquezas de experiências, sustentabilidade social e uma sensação de segurança nos diversos bairros”; • “Projetar o espaço urbano de forma a torna-lo convidativo tanto para o pedestre quanto para o ciclista”; • “Abrir o espaço de transição entre a cidade e os edifícios, para que a vida nos espaços urbanos funcione conjuntamente’; • “Reforçar o convite para permanências mais longas no espaço público, porque algumas pessoas por muito tempo em um local proporcionam a mesma sensação de vitalidade do que muitas pessoas por pouco tempo”.

Em relação ao planejamento de tráfego, Gehl (2013) aponta a importância de se pensar em ruas com tráfego integrado, a qual o autor chama de woonerfs6 que, reduzindo a velocidade dos veículos, se tornam “mais seguras e agradáveis para todo o tipo de tráfego” (p.234). Existem, portanto, quatro princípios para o planejamento do tráfego, que integram usos, mas com prioridades diferentes: Tabela 01 - Tipos de integração de tráfego

Fonte: GEHL, 2013, p.235 (adaptado pelo autor)

O Largo da Lapa, localizado no bairro Lapa de Baixo, em São Paulo, é um exemplo prático de intervenção que buscava tornar o espaço urbano mais convidativo ao transito de pedestres, através de mudanças em um espaço ocioso da região, reiterando as diretrizes de integração do tráfego de pedestres e veículos apresentada anteriormente. Figura 18 - Formas urbanas que integram e que segregam Fonte: GEHL, 2013, p.233 (Modificado pelo autor)

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Localizado em uma área rodeada por um sistema estrutural e 6 Termo em holandês que significa “quintal vivo” e representa uma rua preferencial para pedestres e ciclistas, com característica de via e praça, onde a passagem de veículo é dificultada, mas não impedida. Fonte: Disponível em < http://www.bioclimaticarquitetura.com.br/2012/07/woonerfs-quintal-vivo.html> Acesso em: 24/04/2016


Para isso, em uma área de quase 900m² foram criadas praças com espaço de estar e convívio, respeitando as atividades atuais e parâmetros de acessibilidade universal, além de potencializar usos existentes, como a roda de samba que acontece semanalmente, para a qual foi destinado uma área específica através de demarcação de piso, sem que entrasse em conflito com os demais usos.

Com isso, o manual de diagnóstico e metodologia de projetos para espaços públicos (2013) apresenta uma proposta de intervenção para a região, onde o objetivo do projeto era a requalificação e humanização de parte do território urbano, criando-se um boulevard sobre a área ocupada por um sistema viário desativado, com a proposta de integrar os espaços segregados transformando a rua anteriormente fechada em uma grande praça que conversa de forma integrada com as vias que passam ao seu redor, criando um tráfego integrado na região (figura 19).

A estratégia de buscar projetar espaços nas cidades para pedestres e ciclistas é fundamental para estimular a apropriação das pessoas aos espaços livres da cidade, e deve-se considerar neste sentido que os ambientes sejam convidativos e atrativos às pessoas para estender a permanência delas nos espaços públicos. Isso pode ser alcançado em projetos que mantém suas visuais desobstruídas, que proporcionem curtas distancias para caminhadas, baixa ou nenhuma velocidade de tráfego, arborização constante como proteção do sol e uma cidade ao nível dos olhos, que é garantida através de espaços confortáveis e com diferentes atividades, protegendo os usuários de riscos, ferimentos físicos, insegurança e influências sensórias desagradáveis, além dos aspectos climáticos das diferentes estações do ano, garantindo uma boa escala humana, fornecendo experiências estéticas e visuais agradáveis, para que a cidade se torne convidativa ao uso de seus espaços públicos (GEHL, 2013).

Figura 19 - Proposta de intervenção do Largo da Lapa - SP

Pereira (2011) apresenta a cidade de São Paulo como o principal centro econômico do País, que sofreu com um processo de urbanização desenfreada com acelerada evolução demográfica. Com isso, para Pereira (2011, p.173) a cidade:

Fonte: Manual de diagnóstico para metodologia de projetos para espaços públicos (2013)

“Surge como um emaranhado de ruas, avenidas, pontes e viadutos que apareceram para dar vazão ao crescente tráfego, mas que, por outro lado, são prejudiciais à qualidade de vida dos cidadãos por serem incompatíveis com a escala humana do tecido urbano”.

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

segregado de partes da cidade por grandes avenidas e por uma ferrovia, o Largo da Lapa é um importante centro comercial para a região e foi perdendo importância ao longo do tempo devido ao surgimento de shoppings centers. Para o bairro, o largo é um local de convívio importante, entretanto não possui infraestrutura para receber as atividades de lazer da comunidade.


Nesse sentido, surgem ocupações informais em baixo de viadutos e espaços anexos a infraestruturas viárias que rodeiam a região. Buscando transformar estes espaços, a intervenção do Viaduto do Café, feita através da iniciativa do ex-boxeador Nilson Garrido, é um exemplo de que é possível realizar ações de reintegração do espaço urbano através de elementos esportivos e de cultura social, modificando espaços residuais urbanos pela mudança da identidade original de “não-lugar”.

Gehl (2013) traz ainda em seu livro 12 (doze) critérios indispensáveis na construção de ambientes que visem a qualidade urbana e o respeito à paisagem do pedestre, separados em itens relacionados à proteção, ao conforto e ao lazer do usuário, que podem ser observados na tabela a seguir. Tabela 02 - Critérios de qualidade da cidade respeitando o pedestre

O local em baixo do viaduto, localizado no bairro Bexiga, servia de abrigo para moradores de rua, enquanto a comunidade carecia de um espaço de lazer. Com isso, um espaço em que as pessoas se sentiam inseguras ao transitar se transformou em local de esporte e cultura, com ringue de boxe, academia, pista de skate, espaços para aula de capoeira além de uma biblioteca e escola infantil pública gratuita. Este é um exemplo de aplicação prática de ações que buscam projetar espaços de integração visando pedestres e ciclistas, além de garantir um desenho urbano voltado para a dimensão humana, como apontado por Gehl (2013) como fundamental nos espaços públicos das cidades.

Figura 20 - Viaduto do Café (SP) após intervenção Fonte: PEREIRA, 2011, p.172

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Fonte: GEHL, 2013, p.239


A territorialidade, também abordada como essencial pelo método do CPTED, transforma um ambiente e é capaz de conferir ao território uma função social, além de estar diretamente relacionada à organização espacial. Ela faz com que determinado ambiente se torne distinto dos demais devido à importância que tem para seu usuário. Está, então, “intimamente ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias se organizam no espaço e como elas dão significado ao lugar” (HAESBAERT, 2007; SACK, 1986 apud MARIANI; ARRUDA, 2010).

faz parte de algo, não tem interesse em cuidar e, assim como no caso do ambiente urbano, pode gerar um processo de degradação, tendo como consequência a destruição dos aspectos físicos e sensoriais, provenientes da não-identificação do ser com o local (ZANETTI, 2010). Essas diretrizes e intervenções apresentadas auxiliam diretamente na produção de um espaço humanizado, onde o pedestre, sendo priorizado, tende a ocupar o ambiente urbano, favorecendo, assim, a sociabilidade, integração e segurança nas cidades. Com isso, é imprescindível que tais aspectos sejam considerados ao se projetar um espaço livre de uso público visando a requalificação e reintegração de espaços fragmentados às cidades. Investir em projetos de espaços livres de uso público com desenho inibidor de delitos é uma eficaz estratégia para garantir segurança, integração, vitalidade e sociabilidade nas cidades.

A territorialidade, portanto, se constrói a partir da apropriação territorial, se fazendo necessária já que há a necessidade de que os espaços públicos voltem a ter vitalidade, reafirmando o sentimento de pertencer à cidade, ocupando os ambientes urbanos e criando zonas de convívio. Se aplicada pode auxiliar no controle social fazendo com que o ambiente possua uma carga funcional e simbólica (MARIANI; ARRUDA, 2010). Neste sentido, está diretamente relacionada com o senso de pertencimento do usuário do espaço, onde o cidadão cuida do lugar onde ele sente que pertence e faz parte. Desta forma, se o cidadão sente que pertence a algo ou algum lugar, ele terá motivos para preservá-lo e lutar por isso. Entretanto, se uma pessoa não sente que 49

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Além de todos os aspectos apresentados, a conectividade e a territorialidade são fundamentais no processo de ressignificação dos espaços ociosos da cidade. Lerner (2011, p.37) diz que “muitos dos grandes problemas urbanos ocorrem por falta de continuidade. O vazio de uma região sem atividade ou sem moradia pode se somar ao vazio dos terrenos baldios. Preenchê-los seria uma boa acupuntura”.


Este capítulo visa complementar o estudo da problematização da urbanização das cidades e os parâmetros a serem considerados para um novo desenho urbano inibidor de delitos, realizado nos capítulos precedentes, com o intuito de compreender a realidade atual e características da região escolhida para realização da proposta de intervenção deste trabalho. Para tanto, foram identificadas as características morfológicas da área objeto de intervenção, além do processo de formação do bairro Bento Ferreira e seu contexto de inserção.


04

diagnรณstico da รกrea de estudos


4.1 contexto de inserção Localizado ao sul do município de Vitória, região metropolitana do Espírito Santo (mapa 1), Bento Ferreira é um bairro de ocupação formal que faz fronteira com os bairros de Gurigica e Jesus de Nazareth, classificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através do Censo 2010 como sendo regiões de aglomerados subnormais7 , além da Praia do Suá, Horto, Consolação e Monte Belo e, segundo a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), pertence à região administrativa III – Jucutuquara.

do Espírito Santo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), algumas sedes de Conselhos Regionais como o de Engenharia e Agronomia (CREA) e o da Arquitetura e Urbanismo - CAU, entre outros.

Mapa 01 - Localização do bairro Bento Ferreira, Vitória (ES)

Possui importância tanto para o contexto local quanto para o metropolitano, por ser delimitado por avenidas que auxiliam na conexão dos municípios da região metropolitana da Grande Vitória, como a Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, também conhecida como Beira-Mar, Av. Leitão da Silva e Av. Vitória, além de ter a Av. Cesar Hilal cortando o bairro. Com características predominantemente residenciais, tem uma horizontalidade marcante, que vem sendo alterada devido ao processo de especulação imobiliária, o qual faz surgir eixos de verticalização, principalmente ligados às principais vias do bairro e que vem transformando sua paisagem, processo que ocorre devido ao potencial de crescimento do bairro. Além disso, Bento Ferreira também concentra um grande número de ocupações Institucionais que abrangem a sede da PMV, o Ginásio Jones dos Santos Neves, conhecido como DED, a Superintendência Regional do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes 7 Conjunto constituído por 51 ou mais unidades habitacionais caracterizadas por ausência de título de propriedade e pelo menos uma destas características: irregularidade das vias de circulação e do tamanho e forma dos lotes e/ou carência de serviços públicos essenciais (como coleta de lixo, rede de esgoto, rede de água, energia elétrica e iluminação pública). (Fonte: IBGE, CENSO 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000015164811202013480105748802.pdf> Acesso em: 08/05/2016)

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Fonte: IJSN, GEOWEB e IBGE (Modificado pelo autor)


4.2 histórico de formação do bairro Importante conexão para o projeto do Novo Arrabalde, desenvolvido por Saturnino de Brito, em 1986, o bairro Bento Ferreira tornouse evidente entre 1944 e 1947, quando o francês Alfred Agache supervisionou o loteamento e urbanização que estavam atrelados ao processo de urbanização da cidade de Vitória (GONRING, 2011). Entretanto, foi somente em 1950, no governo de Jones dos Santos Neves, através do Plano de Valorização Econômica, que teve início o processo de aterro do manguezal existente no bairro Bento Ferreira, onde utilizou-se materiais do antigo morro de Bento Ferreira, atual Jesus de Nazareth, para dar continuidade ao processo (GONRING, 2011; FREITAS, 2004). Com a justificativa da necessidade de expansão territorial da ocupação concentrada no centro da capital, o aterro na região de Bento Ferreira auxiliou na conexão com o centro da cidade de Vitória, através da abertura da Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, a Beiramar. O bairro passou a se caracterizar por ser uma continuidade do centro administrativo da cidade, juntamente com a Praia do Suá, principalmente após receber a sede da PMV e a Câmara Municipal juntamente com diversas secretarias e órgãos públicos, como a Procuradoria Geral do Município, Secretaria de Turismo, Secretaria de Gestão Estratégica, entre outros (GONRING, 2011).

Bento Ferreira em 1950 Fonte: http://legado.vitoria.es.gov.br/baiadevitoria


4.3 caracterização da área de estudo Dentro do contexto do bairro Bento Ferreira identificou-se uma área residual caracterizada como fragmento do espaço urbano, por impedir uma integração à malha urbana adjacente. A área consiste em uma ruptura na continuidade da rua Hélio Marconi marcada por um relevo em aclive natural.

Além disto, a referida área também apresenta potencial para suprir a carência de espaços livres de uso público do bairro e seu entorno, o que contribuiria, por consequência, para inibir a sensação de insegurança destacada pelos moradores nas conversas informais realizadas durante a visita de campo (figura 21).

Para melhor compreensão da área destacada, foi feita uma delimitação compreendendo seu entorno imediato para realização de uma análise socioeconômica e morfológica (mapa 2). Vale destacar que a referida área foi, então, escolhida para estudos por possuir características de ruptura do tecido urbano, que acarreta na descontinuidade de conexões com as vias adjacentes da área de estudos, atributos identificados como fatores provenientes do processo de urbanização e que se relaciona com os estudos feitos sobre o assunto nos capítulos precedentes.

Figura 21 - Área que cria a ruptura da rua Hélio Marconi

Mapa 02 - Localização da área de estudo em Bento Ferreira, Vitória

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

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Para compreensão do perfil socioeconômico foi considerado o contexto do bairro Bento Ferreira no geral, com análises realizadas através do documento da Vitória Bairro a Bairro (2013), elaborado pela Secretaria Municipal de Gestão Estratégica (SEGES) com base nos dados do IBGE através do Censo 2010.


Ainda de acordo com o documento da SEGES, o bairro possui um rendimento nominal médio mensal de R$6.795,76. A tabela a seguir apresenta a classe de rendimento nominal mensal domiciliar, considerando um salário mínimo, para a análise, de R$ 510,00

Tabela 03 - Domicílios particulares permanentes, segundo classes de rendimento nominal mensal domiciliar no bairro Bento Ferreira - Vitória (ES) - 2010 Fonte: Vitória Bairro a Bairro (2013)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

O referido documento aponta um total de 5.569 moradores no bairro em 2010, número que cresceu 3,61% em relação ao ano de 2000. Deste total, 59,11% são pessoas entre 25 a 64 anos e é possível perceber que a porcentagem de pessoas de 0 a 14 anos e de 15 a 24 são muito próximas, com 14.96% e 14,35%, respectivamente, enquanto pessoas com mais de 65 anos representam um percentual de 11,58%. Com isso, o bairro se caracteriza por possuir uma população mais adulta e apresenta uma média de moradores por domicílio de 2,82.


Analisando os dados disponibilizados pela Prefeitura, identificou-se na região a propriedade dos lotes, onde é possível perceber que 96% destes são de propriedade particular, enquanto apenas 4% são de propriedade pública (mapa 3). Isso faz com que seja necessário rever algumas propriedades para se criar um projeto de espaços livres de uso público aproveitando como estratégia de negociação os instrumentos de função social da propriedade criados pelo Estatuto da Cidade já que, dos lotes públicos, alguns são ocupados com equipamentos, como o Detran enquanto existem lotes particulares sem uso, com terrenos vazios ou em situação irregular por terem ocupado área de proteção situado na encosta com declividade acima de quarenta e cinco graus. Existe, porém, lotes de propriedade pública que atualmente são alvos de depósitos de lixo, como no caso do lote da rua Henrique Rosetti (figura 22). Identifica-se, então, a possibilidade de criar espaços públicos na região, já que existem terrenos públicos sem uso e áreas de encosta com ocupações irregulares no local.

Figura 22 - Lotes vazios de propriedade particular e pública, respectivamente

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Mapa 03 - Propriedade dos Lotes

Fonte: GEOWEB e PMV (Modificado pelo autor)

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Na área de arquitetura e urbanismo, morfologia urbana é entendida como “o estudo analítico da produção e modificação da forma urbana no tempo” (SAMUELS, c. 1986). Ela estuda, portanto, o tecido urbano e seus elementos construídos formadores através de sua evolução, transformações, inter-relações e dos processos sociais que os geram (DEL RIO, 1990). Desta forma, a análise a seguir está relacionada com os elementos morfológicos da área de estudo, buscando compreender a relação do espaço construído com a constituição da cidade e apropriações urbanas, identificando características de potencialidades e vulnerabilidades para um desenho de espaço livre de uso público na região.

visuais da paisagem urbana, melhorar as condições de mobilidade e controlar o desenvolvimento de ocupação urbana, que deve ser compatível com a infraestrutura existente. Com estas características, percebe-se que a região se torna viável em receber um projeto de integração através de espaços livres de uso público, que garantirão visuais características através de mirantes, além de promover uma nova conexão facilitando a circulação dentro do bairro e otimizando a mobilidade, criando conexões que atualmente não existem, ao se apropriar dos terrenos vazios para o benefício do público. Mapa 04 - Zoneamento Urbano

4.4.1 zoneamento Segundo o artigo 67º do Plano Diretor Urbano (PDU) do Município de Vitória (Lei nº6.705/2006), o “zoneamento é um instrumento destinado a regular o uso e a ocupação do solo”. Ele se faz necessário estudar de forma a entender os parâmetros legais para a elaboração de um projeto para a região, respeitando as diretrizes previstas em lei e fazendo cumprir a função social da propriedade urbana. Na área estudada, identificaram-se três zonas, onde duas delas estão relacionadas às vias arteriais que delimitam o bairro e a outra a porção territorial restante. No mapa 4 é possível identificar as zonas compreendidas na região estudada. A Zona Arterial 3 compreende a Av. Leitão da Silva e a Zona Arterial 4 engloba a Av. Marechal Mascarenhas de Moraes. Ambas as zonas são definidas de acordo com a classificação viária de cada avenida. Já a maior parte da porção territorial analisada está inserida na ZOC48 . Esta zona é caracterizada por ser comporta por usos mistos, residencial e não residencial com infraestrutura completa (VITÓRIA. Lei nº 6.705, art. 84, 2006). Nesta zona deve-se garantir a preservação de

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

8 Zona de Ocupação Controlada 4, segundo o PDU (Plano Diretor Urbano)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

4.4 análise morfológica


4.4.2 uso do solo

O estudo do uso e ocupação do solo se faz importante na análise urbana, pois indica a dinâmica do local assim como os usuários e formas de apropriação mais frequentes que poderão servir de indicadores na definição da proposta de intervenção para o local. Para esta etapa utilizou-se, para a classificação do uso na região, a base apresentada no Plano Diretor Urbano de Vitória, o qual institui as seguintes categorias9 : residencial unifamiliar, que são aquelas com uma única unidade habitacional por lote; residencial muitifamiliar, caracterizadas por possuir duas ou mais unidades habitacionais, podendo ser vertical ou horizontal; comercial, que são aqueles destinados a armazenagem e vendas de mercadoria no atacado ou varejo; serviços, com atividades de serviço à população e de apoio às atividades institucionais, comerciais e industriais; institucional, com sendo aqueles com atividades de educação, pesquisa, saúde, reuniões, cultural, religiosa e misto como sendo os que concentram duas ou mais categorias de uso. Na classificação anterior, espaços de lazer se enquadram no uso institucional, entretanto, visto sua importância de análise para a proposta deste trabalho, que visa a intervenção em áreas livres de uso público, será analisado como uma categoria individual. Além desses, foi considerado os terrenos vazios e sem uso, aqueles com construções em andamento e os que possuem características de abandono. O mapa 5, a seguir, apresenta as características do uso e ocupação da região estudada, que serão analisadas na sequência.

9 Para a separação das categorias utilizou-se a classificação do Plano Diretor Urbano do município de Vitória e definição utilizada no Plano Diretor de Viçosa. Fonte: Disponível em: <http://www.ufv.br/pdv/ocupacaouso.htm> Acesso em: 15/05/2016

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Mapa 05 - Uso e Ocupação do Solo

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

Analisando o mapa, percebe-se a predominância da categoria residencial, onde a unifamiliar é mais concentrada na área com a topografia mais elevada, enquanto a multifamiliar, definida principalmente por condomínios verticais, aparece mais nas regiões mais planas e mais próximas das vias principais (figura 23). A área, então, possui grande vocação habitacional, entretanto sem nenhum espaço livre que possa integrar os diferentes públicos que moram na região.


Figura 24 - Usos da Av. Leitão da Silva

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

A avenida Leitão da Silva apresenta a maior diversidade de usos da região, devido a sua importância como conexão com a cidade. Nela se encontram, principalmente, usos comerciais, e usos mistos, com residências multifamiliares e comércio no térreo (figura 24). Entretanto, a diversidade de usos não garante a vitalidade do local, visto que os comércios existentes possuem características de funcionamento apenas em horário comercial, englobando setores da construção civil, casas de rações, salão de beleza e setor alimentício. Além disso, foi identificada nesta região, uma forte presença de imóveis em situação de aluguel ou venda, principalmente as lojas em baixo de edifícios residenciais, além de uma edificação com fortes características de abandono (figura 25). Tais fatores podem gerar insegurança e fazer com que pedestres e ciclistas não passem frequentemente pelo local, enfatizando o deslocamento com automóvel, já que é uma avenida propícia para tal finalidade, devido a sua importância e hierarquia na cidade.

Figura 25 - Edificação com características de abandono, na Av. Leitão da Silva

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Já no interior da área analisada, englobando as ruas Hélio Marconi e Coronel Schwab Filho, principalmente, percebe-se uma diversidade de usos diferenciada, que, além dos residenciais já apresentados, recebem usos institucionais (figura 26), como a Casa do Arquiteto, 59

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Figura 23 - Uso residencial unifamiliar e multifamiliar, respectivamente


sede do CAU/ES10 , IAB/ES11 e do SINDARQ/ES12 , um centro de educação infantil particular e uma igreja católica, que fica no alto da pedra, tendo acesso por meio de escadas ou pela rua Chafic Murad, apesar de seu endereço ser a rua Hélio Marconi. Além dos usos institucionais, podem ser encontrados usos de serviços, principalmente voltados para a área da saúde, como o Instituto de Urologia do Espírito Santo e usos comerciais, como restaurantes (figura 27). Entretanto, assim como no caso da Av. Leitão da Silva, tais usos têm por características o funcionamento em horário comercial, o que faz com que a região tenha pouco uso noturno com exceção da Igreja, que funciona em horários não comerciais e finais de semana. Apesar disto, estes usos, durante o dia, geram maior movimento de pedestres na região do que os apresentados na Av. Leitão da Silva. Figura 26 - Institucional - Casa do Arquiteto e Igreja Católica, respectivamente

Figura 27 - Usos de serviços e comerciais, respectivamente

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

O trecho da Av. Marechal Mascarenhas de Moraes englobado na área de estudos apresenta uma característica mais residencial, possuindo alguns pontos de comércios e serviços, contendo lojas de venda de utensílios domésticos, venda de aparelhos de água e empresa de medicina do trabalho (figura 28). Figura 28 - Uso comercial e de serviço, respectivamente, na Av. Beira-Mar

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016) 10 Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo 11 Instituto de Arquitetos do Brasil, núcleo Espírito Santo 12 Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Espírito Santo

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Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)


Ainda sobre o uso do solo, identificou-se terrenos vazios e sem uso na região (figura 29), entretanto não foi identificado nenhuma área de lazer no recorte feito para área de estudos. Além disso, no bairro Bento Ferreira existe apenas uma área de lazer, sendo esta a praça Oswaldo Guimarães, localizada na Av. César Hilal e que se faz insuficiente para o tamanho do bairro. Com isso, a área estudada tem potencial para receber este uso, porém econtra-se em situação de abandono. Figura 29 - Terrenos sem uso na área de estudos

As apropriações urbanas estão relacionadas ao uso que as pessoas fazem do espaço e os sinais comportamentais que estas deixam no ambiente urbano. Para que esta análise fosse possível foram realizadas entrevistas, buscando identificar o modo de utilização dos espaços públicos, além de visitas ao local em diferentes horários e dias de semana. Através do mapa 6, é possível perceber a presença de comércios informais na região, principalmente nas vias mais movimentadas. São principalmente vendedores de laranjas que trabalham em semáforos durante a semana e também aos sábados, guardadores de carros, que atuam na Rua Hélio Marconi, principalmente durante a semana, quando há movimentação de veículos devido às clinicas e instituições no entorno, além de jovens que trabalham lavando carros na rua nos fins de semana. Já em relação aos sinais comportamentais, foi identificada a presença de lixo principalmente próximo a áreas e terrenos vazios. Alguns são depositados em caçambas, entretanto, existem áreas utilizadas como depósitos de entulhos, galhos de árvores e móveis quebrados, além de carros danificados abandonados. Outro sinal identificado foi a presença de pichações, que aparecem em sua maioria em edificações abandonadas, localizadas em sua maior parte na Av. Leitão da Silva. Desta forma, é possível perceber que tais sinais se relacionam com a condição do uso do terreno ou edificação em sua proximidade, o que indica um princípio de vulnerabilidade espacial.

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

4.4.3 apropriações urbanas


Mapa 06 - Apropriações Urbanas

dos espaços públicos e indica que 58% dos entrevistados utilizam as ruas para caminhar dos quais apenas 17% utilizam, além das ruas, a praça do bairro para levar crianças para brincar e apenas 25% não utilizam a rua para caminhada, pois se sentem inseguros e preferem utilizar outros meios para se exercitar, como academias. O gráfico 3 indica que o meio de locomoção mais utilizado dentro desta área é o deslocamento a pé, devido a qualidade das vias e proximidade das atividades comerciais, apontando 73% da preferência dos moradores. Gráfico 02 - Relação de utilização dos espaços públicos da área de estudos

Gráfico 03 - Meios de locomoção dentro da área de estudos

Relação com os espaços públicos

25%

58% 17%

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

Ainda no mapa 6, é possível observar a concentração de pessoas na área, que está relacionada com os usos do entorno, onde situam-se as ruas Hélio Marconi e Coronel Schwab Filho, pois possuem maior diversidades de usos, concentrando, além de comércios e serviços, grande número de residências. Tal realidade favorece a maior concentração de transeuntes neste trecho. Percebeu-se também uma relação entre esta concentração e a arborização das vias, o que foi confirmado através de entrevistas, onde a maior parte das pessoas utilizam tais vias para realizar caminhadas e passeios com cachorros por considerarem as ruas tranquilas e frescas para realizar tais atividades matinais. O gráfico 2 apresenta a relação de utilização 62

Utiliza a rua para caminhar

Utiliza a praça do bairro

Não utiliza

Fonte: Elaboração do autor (2016)

Fonte: Elaboração do autor (2016)

A relação de apropriação do bairro também é apontada como positiva considerando a opinião dos entrevistados, que afirmaram gostar de morar no bairro devido as suas características de bairro prioritariamente residencial, além do sossego e silencio, o que, no relato dos entrevistados não se encontra em outros bairros do município. Vale, contudo, destacar que ao informar sobre o caminhar, disseram que o fazem na rua, ou seja, não existem calçadas apropriadas para


O gráfico 4 indica o ponto identificado como local de maior vulnerabilidade na área de estudos pelos entrevistados, que é a conexão da rua Hélio Marconi, com as escadarias e a rua com passagem apenas para pedestre que se conecta à rua Chafic Murad, onde 56% não utiliza por considerar inseguro, com pouca iluminação e por já terem ouvido relatos de assaltos no local e 44% utiliza apenas durante o dia (gráfico 4). Os entrevistados que residem no entorno da área afirmaram que a noite optam por realizar um trajeto mais longo para não terem que passar pela região.

Tais fatos refletem na carência que os usuários apresentam tanto por espaços públicos na região quanto por novas opções de conectividade entre as ruas do entorno que são interrompidas pela ruptura do maciço rochoso negligenciado pelo município como opção de lazer e acessibilidade local. O gráfico 5 apresenta a porcentagem de usuários que gostariam de ter mais áreas de lazer na região, como praças. Com as entrevistas foi possível identificar a vontade de se ter mais áreas como essa no local, principalmente com espaços para crianças e academia de idosos. Além disso, a área possui vocação para receber espaços de caminhada, visto que existem áreas livres para isso e já é uma atividade recorrente por parte da maioria dos entrevistados.

Gráfico 05 - Gostaria de mais áreas de lazer na região

Fonte: Elaboração do autor (2016)

Gráfico 04 - Utiliza a conexão da rua Hélio Marconi

Fonte: Elaboração do autor (2016)

A tabela 4 apresenta as indicações de apropriações urbanas na área de estudos, onde é possível perceber os comércios informais, pichações, carros abandonados e pessoas caminhando nas ruas, itens analisados anteriormente. 63

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

o caminhar, que ocorre geralmente quando fazem uso dos serviços ou comércios locais (padarias, clínicas, entre outros). Além disso, os entrevistados não mencionaram permanência no local, apenas o utilizam como espaço de transito, o que, mesmo que seja feito a pé, não configura permanência no espaço público. Este fato ocorre, pois, apesar de ser um bairro caracterizado por eles como sendo tranquilo e com ruas arborizadas, os usuários do espaço afirmaram se sentirem inseguros na rua, e com isso a utilizam apenas como local de passagem durante o horário comercial.


Tabela 05 - Visuais da área de estudo

Outro aspecto considerado na análise das apropriações foram as visuais existentes na área de estudo, onde identificou-se três pontos com vistas que atualmente não são valorizadas mas que possuem grande potencial de utilização através de possíveis mirantes a serem apropriados como espaços públicos pelos usuários e moradores do entorno. Tais visuais estão marcadas no mapa 6 e aparecem na tabela 5. Todas se encontram no ponto mais alto da área de intervenção e permitem vistas para diversas regiões da cidade, como a terceira ponte, o Convento da Penha, a Baía de Vitória e os morros de Jesus de Nazareth e Gurigica. Tabela 04 - Apropriações urbanas da área de estudo

Fonte: Elaboração do autor (2016)

4.4.4 padrão construtivo Ao analisar o padrão construtivo da área, pretendia-se identificar padrões diferenciados em relação às edificações dentro da região analisada. Para isso, foi feito o mapeamento considerando três classificações13 , sendo o padrão popular ou baixo aquelas edificações associadas à autoconstrução com uso mínimo de materiais de acabamentos; padrão médio àquelas edificações com acabamentos

Fonte: Elaboração do autor (2016)

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13 A presente classificação foi pautada na Norma de Avaliação do Imóvel Urbano do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (IBAPE/ SP) referente ao ano de 2011. Disponível em: < http://ibape-nacional.com.br/biblioteca/wp-content/uploads/2012/09/norma_para_avaliacao_de-im%C3%B3veis -urbanos-IBAPE-SP-2011.pdf> Acesso em: 29/05/2016


Mapa 07 - Padrão Construtivo

Figura 30 - Padrão baixo, médio e alto, respectivamente

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Desta forma, é possível perceber que existe uma diferença no padrão construtivo relacionado com a localização dentro da área e com o tipo de uso, o que apresenta uma diversidade de classes dentro de uma mesma região. 4.4.5 gabarito A análise de gabaritos de uma determinada região é importante para caracterizar a escala das edificações em relação à escala humana dos transeuntes de uma cidade. Gehl (2013) aponta que edifícios muito altos perdem a conexão com a rua a partir do 5º andar, visto que se torna difícil perceber atividades e decifrar expressões a partir desta altura. Para o autor, até o 5º andar é possível estabelecer uma conexão através dos sentidos e estabelecer diálogos.

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

Nesse sentido, analisando o mapa 8, percebe-se que a predominância de gabaritos na região é de 1-3 pavimentos, encontrando nas extremidades gabaritos de até 6 pavimentos, o que se relaciona bem com o conceito apresentado por Gehl (2013). Entretanto, é possível identificar alguns pontos com gabaritos maiores, principalmente nas ruas internas, mas estes não se sobressaem em relação à escala geral 65

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

econômicos, porém de boa qualidade e padrão alto como sendo aquelas com arquitetura diferenciada, com uso de elevadores ou com características de projetos personalizados. Os terrenos vazios ou em construção não foram considerados na análise. Através do mapa 7 a seguir, pode-se perceber que as edificações caracterizadas como baixo padrão construtivo estão principalmente localizadas na parte mais alta da área, e são no geral residências unifamiliares. Já o padrão médio pode ser encontrado com grande influência nas margens da área, principalmente nas Av. Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas de Moraes, e são no geral edificações comerciais e residenciais de até quatro pavimentos. O padrão alto, por sua vez, é encontrado basicamente no interior da área de estudos e se caracteriza por edifícios multifamiliares verticais, principalmente aqueles caracterizados por serem condomínios (figura 30).


da área estudada. Percebe-se que as edificações de maiores gabaritos são todas multifamiliares e com características de construção recente, enquanto as baixas, que vão de 7 a 12 pavimentos, apesar de também multifamiliares possuem características de construções mais antigas e estas estão voltadas mais para o interior do bairro. Edificações multifamiliares com gabaritos maiores tendem a proporcionar ao morador uma área de lazer exclusiva, o que faz com que os espaços públicos sejam cada vez menos utilizados e a interação entre as pessoas reduzida (figura 31). Mesmo com a presença de algumas edificações deste porte na região, moradores ainda utilizam as ruas para caminhada e passeio com cachorros, principalmente os mais antigos no bairro. O Plano Diretor Urbano de Vitória não institui gabarito ou altura máxima para a ZOC4, zona que contempla a maior parte na área estudada. Entretanto, o gabarito serãolimitado através da relação entre a taxa de ocupação e coeficiente de aproveitamento previstos na lei. É possível perceber que na área de aclive da região os gabaritos das edificações são mais baixos, considerando que a cota altimétrica mais alta está a 35 metros. Figura 31 - Diferentes gabaritos na área de estudo

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

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Mapa 08 - Gabarito

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

4.4.6 malha viária O objetivo de analisar a malha viária da região é identificar se há irregularidades no desenho das vias e buscar entender como este traçado se relaciona com o desenvolvimento da região. Analisando o mapa 9, percebe-se que o traçado é predominantemente regular, seguindo uma malha ortogonal. Entretanto existem pontos de irregularidades neste traçado, caracterizados por pequenas ruelas que dão acesso à parte mais alta da área, que possui uma estrutura diferente das demais vias da região, além disso, é possível identificar


Mapa 09 - Malha Viária com destaque para a ruptura das conexões

4.4.7 topografia A área selecionada para estudos possui uma particularidade referente à uma região de topografia, que se caracteriza por ser uma barreira na continuidade do desenho urbano. O mapa 10 apresenta a elevação da área, onde o ponto mais alto está na cota altimétrica de 35m, assim como os perfis topográficos, onde percebe-se a existência de pontos mais inclinados do que outros. No geral, esta região possui áreas livres de qualquer ocupação, se caracterizando por ser um vazio urbano e áreas com edificações, principalmente no encontro do aclive com áreas planas. A figura 32 demonstra a realidade da região, a partir de diferentes pontos de observação, onde percebe-se que em todos eles a área de relevo interfere na continuidade, se colocando como uma barreira física natural não explorada. Mapa 10 - Topografia e Perfis Topográficos

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor) Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

diversas ruas com a continuidade interrompida, como é o caso da rua Hélio Marconi, que possui dois acessos, sendo um pela Av. Marechal Mascarenhas de Moraes e outro pela rua Henrique Rosetti, havendo conexão entre as partes apenas por escadarias de desenho irregular e da rua Antônio Honório, que é sem saída e em seu final se encontra a área de topografia em aclive natural. Outra característica da malha da região é a rua Chafic Murad, que se divide em um momento, onde uma parte dá acesso aos automóveis à parte mais alta e a outra se torna uma via apenas de pedestres, se conectando com a rua Hélio Marconi.


A legislação urbana do Município de Vitória traz informações e parâmetros legais para o tratamento de regiões com topografia acidentada. O artº292 do PDU prevê que áreas com declividade superior a 45% devem ser tratadas como região de proteção e conservação de formas naturais nas encostas ou parte das encostas destas áreas. O artº185 prevê ainda que não é permitido o parcelamento do solo em terrenos com declividade superior a 30%, salvo se atendidas as exigências do órgão municipal competente. A legislação fala ainda que regiões acima de 50m de altura devem ser consideradas áreas de preservação permanente. O mapa 11 caracteriza a região em relação à declividade, que se faz através da relação entre distancia horizontal e vertical das curvas de nível. Através do mapa é possível perceber que existem na região áreas de inclinação que podem chegar a 100%, o que inviabiliza o parcelamento e construções. Considerando o que a legislação borda a respeito de áreas com declividades acentuadas, existem pontos que devem ser tratados como áreas de preservação das formas naturais por possuírem declividade superior a 45% e pontos que não podem sofrer processo de parcelamento, por possuir mais de 30% de inclinação. Entretanto, existem áreas que podem ser utilizadas pois estão com menos de 30% de declividade.

Mapa 11 - Declividade topográfica da área de estudos

Figura 32 - Topografia da área de estudo

4.4.8 densidade construtiva

Fonte: Google Maps + Arquivo Pessoal da Autora (2016)

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

A densidade construtiva aponta o modelo de inserção das edificações do lote, indicando afastamentos e áreas livres em cada lote. Pode caracterizar uma região como sendo de baixo, médio ou alto adensamento, podendo assinalar a qualidade do ambiente urbano. Através do mapa 12 é possível avaliar a região como tendo dois padrões de densidade, onde no extremo sul e no limite da Av. Leitão da Silva identifica-se um adensamento médio, com a maior parte do 68


Mapa 12 - Densidade Construtiva

4.4.9 perfil fundiário O perfil fundiário visa analisar os padrões de lotes presentes na região, analisando, de acordo com a legislação vigente, dimensões de testada e áreas mínimas e máximas. O Plano Diretor Urbano de Vitória estabelece, através do artigo 179 que o parcelamento do solo deve respeitar parâmetros específicos de cada zona estabelecida na cidade. Desta forma, a ZOC4 prevê uma área mínima para lotes de 450 m² e 15m de testada. Entretanto, analisando o mapa 13, percebe-se que existe uma irregularidade no padrão de alguns lotes, que possuem área máxima de 140m². Nas Vias Arteriais 3 e 4, que englobam as Av. Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas de Morares, os parâmetros apresentados pela lei são de área mínima do lote de 360m² e testada de 12m, porem existem alguns lotes na AV. Leitão da Silva que, assim como na zona anterior, possuem área de até 140m². Analisando o padrão tipológico dos lotes, percebem-se lotes de formas irregulares na área mais alta da região, mas em geral um padrão retangular. Os lotes com dimensões maiores atendem a usos residenciais multifamiliares, comerciais e institucionais, ou são terrenos vazios. Como apresentado no mapa de topografia e declividade, a região apresenta pontos que não deveriam ser parcelados, o que não acontece, pois, o mapa abaixo aponta a divisão de todos os lotes.

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

lote ocupada e com pouco afastamento frontal e lateral enquanto a região ao norte da área possui um baixo adensamento, com pouca ocupação do lote e uma quantidade significativa de vazios urbanos, referente ao maciço existente no local. Considerando o mapa de declividade analisado anteriormente e o mapa 12, onde é possível identificar locais de ocupação, percebe-se a existência de construções em pontos onde a declividade ultrapassa o permitido pela legislação para parcelamento, o que pode caracterizar irregularidade na ocupação.


Mapa 13 - Perfil Fundiário

Rosetti. Outro ponto a ser considerado na análise do padrão de ocupação da região estudada diz respeito às ocupações ao longo dos limites de encontro entre a parte plana e a área de aclive, que acabam por ignorar a topografia existente, criando construções que se constituem como paredes cegas que isolam o maciço e a conformação natural da topografia, além de prevalecerem sobre uma área natural. Mapa 14 - Padrão de Ocupação

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

4.4.10 padrão de ocupação O Padrão de ocupação aponta a relação entre espaços vazios e construídos, assim como a conformação das quadras da região. Através do mapa 14, é possível analisar a região como sendo predominantemente ocupada, com poucos vazios urbanos. A conformação das quadras em sua maioria é regular, entretanto identifica-se uma porção de quadra com características irregulares em sua estrutura, devido a uma escadaria que dá acesso a algumas residências no alto de uma pedra, com entrada pela rua Henrique 70

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)


A mobilidade urbana se faz necessária estudar, pois é ela quem garante um deslocamento seguro e confortável dentro das cidades, além de ser, atualmente, constante alvo de estudos, já que é um problema recorrente das cidades contemporâneas, que buscam veementemente implantar o conceito de mobilidade sustentável, que, de acordo com o Programa Mobilidade Sustentável é:

Figura 33 - Eixo das Av. Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas de Moraes, respectivamente

“Aquela que promove o planejamento integrado levando em consideração a interdependência entre os transportes, a saúde, o ambiente, o direito à cidade e os inúmeros aspectos das políticas públicas como moradia, geração de emprego e renda, perfil de uso das fontes de energia utilizadas e, principalmente, a integração de todos os modais de transporte”.

O PDU de Vitória, através do artigo 122, faz a classificação viária de acordo com a hierarquia da via e as categoriza em vias arteriais metropolitanas e municipais, coletoras, locais principais, locais e vias de pedestres. Dentro desta classificação, o mapa 15 indica que na região estudada aparecem apenas dois tipos da classificação geral do município. As vias arteriais metropolitanas são “vias de ligação intermunicipal que funcionam na coleta e distribuição dos fluxos de veículos pelos centros metropolitanos com maior concentração de atividades” (PDU, 2006, art. 122). As vias que englobam tal definição são as Av. Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas de Moraes (figura 33). São avenidas importantes para o contexto metropolitano que passam pela extremidade da área, fazendo sua delimitação. Estas vias são consideradas como parte integrante da rede estrutural básica do município.

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

A outra tipologia encontrada na região são as vias locais, as quais o PDU caracteriza como sendo “vias do bairro que servem, predominantemente, às necessidades de circulação dos moradores no acesso aos seus imóveis” (PDU, 2006, art. 122) (figura 34). Existe ainda a classificação de vias locais principais, que são “vias de acesso ao bairro que distribuem os fluxos de veículos pelas vias locais do próprio bairro” (PDU, 2006, art. 122). Apesar da região não possuir vias com esta classificação, existem duas ruas que possuem tais características, mas que atualmente são classificadas como vias locais, que são as ruas Henrique Rosetti e Coronel Schwab Filho. 71

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

4.4.11 mobilidade urbana


Figura 34 - Rua Coronel Schwab Filho, via local Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Mapa 15 - Classificação Viária

Fonte: GEOWEB (Modificado pelo autor)

Ainda dentro do contexto da mobilidade da região, o mapa 16 apresenta a análise da intensidade de fluxo de veículos em cada via e os principais meios de locomoção dentro do bairro. Com a análise da intensidade de fluxo de veículos, que foi classificado em alto, médio e baixo, foi identificado que as principais vias da região, que são as arteriais, também são as que recebem maior fluxo. Entretanto não é possível relacionar a hierarquia com o fluxo já que as ruas Coronel Schwab Filho e Henrique Rosetti, apesar de serem classificadas como local, possuem características de vias local principal, já que, dentro da área estudada, fazem a conexão das vias principais para o interior do bairro e recebem um fluxo médio de veículos, diferentemente dos demais locais, que possuem baixo fluxo e atendem principalmente a moradores. Já em relação aos meios de locomoção encontrados foi identificada rota de ônibus municipal e intermunicipal apenas nas avenidas principais limítrofes à área, contendo ponto de ônibus nas duas avenidas e em ambos os sentidos. Em relação ao transito de ciclistas, existe um projeto, que de acordo com a PMV está em fase de execução para a implantação de uma ciclovia na Av. Leitão da Silva. A Av. Marechal Mascarenhas de Moraes possui uma ciclofaixa que possui funcionamento liberado nos fins de semana e feriado, em horários específicos, porem recebe um fluxo considerável de ciclistas. O transito de pedestres foi identificado com presença considerável neste trecho do interior do bairro, com pessoas caminhando e passeando com cachorros principalmente nos finais de semana e durante o dia. Além disso, foram pontuadas três passagens com acesso exclusivo para pedestres, porem ambas sem grandes condições de acessibilidade e segurança, fazendo algumas conexões internas que muitos moradores evitam utilizar.

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que os transportes coletivos não passam por dentro da região e percebeu-se que todos os pontos existentes possuem cobertura e assentos, além de terem lixeiras acopladas a eles. As lixeiras, na área de estudos, foram identificadas em pontos estratégicos, sendo em vias com maior movimentação de pessoas devido à concentração de comércios e serviços e próximas a esquinas. Além das lixeiras convencionais, como as encontradas nos pontos de ônibus, foi encontrada também lixeiras de ferro, em um local de difícil acesso e que necessita receber maiores quantidades de lixos. Além disto, foram encontrados três hidrantes, nas duas vias de maior importância e três orelhões, localizados nas esquinas das vias mais movimentadas e com concentração de pessoas. Mapa 17 - Infraestrutura e Equipamentos

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

4.4.12 infraestrutura e equipamentos públicos A infraestrutura e equipamentos públicos auxiliam na forma de apropriação e podem indicar vitalidade ou a ausência desta. Na área de estudos foram mapeados equipamentos públicos e infraestrutura urbana, buscando identificar a qualidade espacial da região (mapa 17). Identificou-se, através de visitas em campo que a área de estudos não conta com espaços de lazer e não possui equipamentos que garantem a permanência de pessoas nas áreas livres. Foi identificado pontos de ônibus apenas nas avenidas principais, visto

Fonte: GEOWEB e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Mapa 16 - Condições de Mobilidade


Além dos elementos já apresentados, foi encontrada na região uma banca de jornal, localizada próxima a um ponto de ônibus na Av. Marechal Mascarenhas de Moraes e que serve como ponto de referência e informação para o local. Em relação a assentos públicos para descanso, foi identificado apenas um, que fica em frente à casa do arquiteto, sendo um banco de madeira, mas que não é muito utilizado pelos transeuntes. A iluminação pública, elemento essencial para a segurança em horários noturnos foi identificada ao longo das principais vias, entretanto, nas escadarias de acesso à parte mais alta da área, que é onde existe a maior vulnerabilidade, a iluminação é precária. Foram identificados na região equipamentos de saúde e educacional particulares e uma igreja católica. Além disso, a região conta com uma Estação Elevatória de Água Tratada (EEAT), que segundo a Cesan14 , tem a função de “transportar água tratada da Estação de Tratamento de Água até os reservatórios ou pontos mais elevados da rede de distribuição”. Com vias arborizadas, a região é bem servida de estacionamentos públicos sem cobrança de parquímetro, que podem ser encontrados ao longo das vias locais. A tabela 6 ilustra a relação de equipamentos e infraestruturas mapeados na área de estudos.

14 Companhia Espírito Santense de Saneamento

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Tabela 06 - Infraestrutura e Equipamentos da área de estudos

Fonte: Elaboração do autor (2016)

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4.5 síntese da análise A síntese do diagnóstico apresenta, de forma gráfica, os principais pontos analisados, de forma a facilitar o entendimento da área e permitir uma análise de possíveis interferências de elementos que foram observados separadamente, além de trazer características de ventilação e insolação na região, imprescindíveis para um bom desenvolvimento projetual. Neste sentido, o mapa 18 apresenta tais características, indicando a presença de ruídos intensos devido ao grande número de veículos que circulam pelas vias arteriais que circundam a área, assim como os pontos nodais que se configuram por possuir convergência de tráfego. Além disso, um ponto relevante observado no mapa é a influência da insolação da tarde nos lotes vazios que são passiveis de receber projetos de intervenção urbanística, como pequenos parques, de forma a revitalizar a região. Neste caso, o projeto deve considerar tal característica de forma a não se criar um ambiente onde os usuários não consigam permanecer por conta do sol. Outro ponto importante a ser considerado são as vias que dão acesso à área, as quais, em sua maioria, são obstruídas por barreiras físicas ou visuais, que dificultam o entendimento da região como sendo relevante para o local, além de não estimular o acesso de pedestres. 76

Mapa 18 - Diagrama Síntese do Diagnóstico Fonte: GEOWEB, IJSN e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)


A partir dos pontos analisados e identificados no diagnóstico, foi possível destacar as potencialidades a serem trabalhadas para o melhor aproveitamento da área, além dos pontos de vulnerabilidade, que vão demandar atenção na fase projetual. Busca-se assim alcançar o objetivo proposto para a vitalidade e segurança da região, através da proposta de implantação de espaços livres de uso público na área fragmentada e negligenciada existente. A síntese apresentada a seguir considerou os pontos fortes e fracos observados no diagnóstico e servirão como condicionantes para a definição da proposta de intervenção. As potencialidades são características que atualmente garantem atração de pessoas, gerando vitalidade e segurança para a região, sendo, então, pontos a serem explorados e melhorados de forma a garantir a segurança e apropriação da comunidade local. O mapa 19 aponta as características com potencialidades na região. Existem lotes vazios e de propriedade públicos bem localizados que possuem potencial para receber a proposta de espaços livres de forma a atender uma demanda dos moradores do bairro, além das visuais identificadas, que podem garantir um bom ponto de observação e de valorização da paisagem da cidade, se preservadas e valorizadas como espaços públicos. Outro ponto forte identificado é a possibilidade da conexão através de áreas vazias que podem se tornar espaços de lazer, caminhada e contemplação, considerando que nas visitas ao bairro foi observada a prática da caminhada pelas ruas nos finais de semana. A possibilidade de integração a partir desta área contempla também a conexão com os dois trechos da rua Hélio Marconi, o que atualmente não acontece devido à insegurança que o vazio abandonado causa na população local, além da conexão com a rua Antônio Honório, que atualmente é sem saída. Tais conexões podem favorecer a integração das áreas atualmente isoladas favorecendo a

circulação e concentração saudável de pessoas a partir das ruas Hélio Marconi e Coronel Schwab Filho. Circulação esta garantida pela diversidade de usos institucionais e de serviços e institucionais situados na região, com funcionamento em horário comercial. Mapa 19 - Potencialidades da área de estudo

Fonte: GEOWEB, IJSN e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

As vulnerabilidades apontam os pontos fracos da região e indicam elementos que devem ser revistos e melhorados de forma a garantir a vitalidade e segurança à área de intervenção. Os sinais comportamentais identificados no diagnóstico podem indicar uma vulnerabilidade na área pela ausência de pessoas e falta de cuidado 77

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

4.6 potencialidades e vulnerabilidades


com o espaço público e privado da região. As ruas estreitas existentes são evitadas pelos pedestres por se sentirem inseguros que junto as escadarias que não se conectam com os outros espaços do bairro fazem com que os usuários se sintam intimidados de utilizar o espaço, tornando-o inseguro e abandonado. Outra vulnerabilidade encontrada trata-se da conexão viária interrompida da rua Hélio Marconi que, reforçada pela ausência de um caminho projetado para o pedestre e pela iluminação pública precária, faz com que os moradores optem por dar a volta por outras ruas ao invés de utilizar a escadaria que dá acesso à parte mais alta deste trecho do bairro. Situação que se repete no final da rua Chafic Murad, cujo trecho é apontado como inseguro e com constante presença de usuários de drogas. O mapa 20 aponta tais características de vulnerabilidades da área de estudos.

Apesar da diversidade de usos, o fluxo intenso de veículos e a ausência de conexão associados à característica de malha arterial da Av. Leitão da Silva, que faz limite com a área de estudos, funciona como uma barreira para integração da área, pois faz com que o pedestre não seja valorizado e, por consequência, não utilize o espaço. A área ainda conta com uma grande concentração de imóveis fechados e abandonados. Os espaços vazios e ociosos, a ausência de usos que atraiam pessoas fora do horário comercial e a ausência de áreas de sociabilização também são fatores que contribuem para vulnerabilidade da área. Destaca-se nesta fase de análise a vulnerabilidade da ausência de integração nos encontros das partes planas com os aclives naturais, pois criam barreiras e dificultam a permeabilidade visual e física do bairro. Tais análises foram consolidadas na síntese do diagnóstico e será imprescindível para a fase projetual, que irá trabalhar a reintegração destas conexões a partir dos fragmentos encontrados na área de estudos através do projeto de um parque público, buscando garantir novos usos de lazer e esporte para o bairro.

Mapa 20 - Vulnerabilidades da área de estudo

Fonte: GEOWEB, IJSN e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

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4.7 características físicas da área de intervenção Mapa 21 - Localização das ruas sem saída e escadarias

A área possui três escadarias, duas que conectam as duas partes da rua Hélio Marconi e outra à rua sem saída, que permite o acesso a algumas residências e fica localizada na rua Henrique Rosetti. Além de possuir quatro ruas sem saída para veículos, uma também impede a passagem de pedestres. As ruas e escadarias estão localizadas no mapa 21 a seguir. Foram consideradas escadarias com conexões aquelas onde é possível ter acesso e saída por outro ponto qualquer, e escadarias sem conexão aquela onde há a necessidade de se subir e descer pelo mesmo ponto. Figura 35 - Rua Hélio Marconi com acesso de pedestres

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Figura 36 - Escadaria da rua Hélio Marconi

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

1 e 2 – A rua Hélio Marconi, com acesso pela rua Coronel Schwab Filho possui saída apenas para pedestres, através de uma passagem estreita que dá acesso à rua Chafic Murad e de uma escadaria que permite o acesso à rua Paulo Muller e ao outro trecho da rua Hélio Marconi. Esta escadaria possui degraus e espelhos irregulares e pequenas rampas inclinadas, a qual além de não garantir a acessibilidade, é insegura e quando está molhada se torna escorregadia, comprovado por experiências in loco. Apesar de ser uma rua plana e arborizada, não garante segurança aos pedestres por possuir um maciço vegetal como barreira visual a sua frente. Além disso é uma rua de paralelepípedo com calçadas sem padrões de acessibilidade garantidos (figuras 35 e 36).

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

A área com características de fragmentos residuais urbanos, ocupa a porção leste do maciço central do bairro e está conforme descrito anteriormente, localizado nas extremidades de vias interrompidas pela rocha e em espaços residuais deste relevo. Os raros acessos existentes desconsideram a segurança do pedestre e as legislações de acessibilidade, e são compostos por escadas e rampas íngremes que se configuram como barreiras físicas locais.

Fonte: GEOWEB, IJSN e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)


Figura 37 - Escadaria da rua Hélio Marconi 3 – A rua Chafic Murad possui uma bifurcação onde um trecho dá acesso de carros à rua Paulo Muller e outra garante o acesso de carros até o fim da rua e de pedestres à rua Hélio Marconi, através de uma passagem estreita que se configura como insegura para os transeuntes por não haver iluminação e por possuir um muro que faz com que tenha um ponto cego ao se fazer a curva, além da área ociosa de vegetação (figura 37).

Figura 39 - Escadaria sem saída

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

6 – A escadaria que tem acesso pela rua Henrique Rosetti não possui saída, dá acesso apenas a algumas edificações com padrões de ocupação irregulares em comparação às demais áreas do bairro e da região estudada. Esta escadaria possui rampas íngremes e perfil de degraus e espelhos irregulares, assim como as demais escadarias analisadas (figura 39).

Figura 38 - Trecho da rua Hélio Marconi

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

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4 e 5 – O outro trecho da rua Hélio Marconi tem acesso pela rua Henrique Rosetti e é sem saída para veículos porem tem acesso para pedestres através de uma escadaria. É uma rua que possui uma ladeira íngreme, com cerca de 16% de inclinação, tendo variações para menos e para mais, se configurando como inadequado para acesso de pedestres e pessoas com mobilidade reduzida, visto que a NBR 9050/2015 prevê uma inclinação máxima adequada de 8,33%. A escadaria possui trechos com patamares inclinados além de degraus e espelhos irregulares (figuras 38).

Figura 40 - Rua Doutor Antônio Honório

Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

7 – A rua Doutor Antônio Honório é sem saída tanto para pedestres quando para veículos. É de paralelepípedo e interrompida por um maciço vegetal que se configura como uma barreira física e visual. Possui um trecho plano e outro uma ladeira, que assim como o trecho da rua Hélio Marconi possui inclinação superior à prevista na norma, com uma média de 22%. Este trecho em subida dá acesso às ultimas edificações da rua e é complementado por uma escada (figura 40).


aproveitadas, sendo a área de observação por vezes ociosa e com difícil acesso, além de objetos que obstruem tais visuais, por vezes árvores, muros ou o próprio relevo local.

Analisando o mapa 22, que trata da análise de fora para dentro da área, foi possível identificar diferentes barreiras visuais que se caracterizam, em sua maioria, por maciços vegetais e ladeiras sem saídas, e que promovem a interrupção e descontinuidade da área. Além disso, um eixo visual importante da área, através da Rua Almirante Tamandaré, representado pela visual 08 no mapa 22, é bloqueado através de edificações abandonadas e sem uso na região. Já no mapa 23, onde foi feita a análise de dentro para fora, é possível observar a existência de diferentes pontos de observação de visuais relevantes do entorno próximo e mais distante, como a pedra dos dois olhos, observada na visual 05, mas que não são 81

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Para o entendimento geral da área, foi feita uma análise utilizando o conceito de Cullen (2008) de visão serial, o qual o autor diz se tratar de uma série de visadas a partir do ponto de vista do observador, com uma leitura do espaço urbano feito através de um traçado determinado pelo próprio observador. Este traçado marca setas que simbolizam as visadas indicadas em planta baixa e organiza as fotografias correspondentes a cada visada. Para complementar a análise, foi feita a observação da área através do conceito de Cullen (2008) denominado fator local, que diz respeito às reações do sujeito com relação a sua posição no espaço conhecido também como sentido de localização. Neste sentido foram realizadas duas análises, uma demonstrando a área de fora para dentro, onde considerou-se as visadas dos principais acessos e pontos de observação e a segunda demonstrando a área de dentro para fora, onde observou-se as visadas existentes de dentro da área de estudos para o seu entorno. Ambas as análises aparecem nos mapas 22 e 23 a seguir.


Mapa 22 - Visão Serial fora/dentro Fonte: GEOWEB, IJSN e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

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Figura 41 - Visuais fora/dentro

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Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

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Mapa 23 - Visão Serial dentro/fora Fonte: GEOWEB, IJSN e Mapeamento “In Loco” (Modificado pelo autor)

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Figura 42 - Visuais dentro/fora

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

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Fonte: Acervo Pessoal da Autora (2016)

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Este capítulo visa apresentar a proposta projetual resultante do processo de embasamento teórico apresentado nos capítulos dois e três deste trabalho associados à análise morfológica descrita no capítulo quatro, assim como retratar as etapas e processos que deram origem à proposta. A proposta teve como base o estudo das diretrizes de desenho urbano que objetiva a reintegração de áreas fragmentadas, assim como as potencialidades e vulnerabilidades identificadas na etapa de diagnóstico da área. Serão descritos aqui os conceitos e partidos adotados e suas respectivas justificativas assim como o resultado final da proposta, que tem por objetivo reintegrar uma área caracterizada como fragmento urbano através do desenho de espaços livres de uso público com a proposta de criação do Parque Urbano de Bento Ferreira, buscando aliar qualidade de vida e segurança aos moradores locais. 86


05

proposta de reintegração atravÊs do desenho urbano


5.1 conceito e partido projetual Os conceitos apresentados a seguir foram definidos a partir da identificação das necessidades atuais da área, através do diagnóstico e do questionário aplicado em campo e a partir do embasamento teórico sobre espaços urbanos ativos e áreas fragmentadas reintegradas. Neste sentido, o diagrama conceitual a seguir apresenta uma intenção de propostas para a área, definidas a partir do mapa de potencialidades e vulnerabilidades onde estão destacados os pontos que necessitavam de melhoria e aqueles que demandam ser valorizados. Desta forma, é possível identificar no diagrama os espaços com potenciais de mirantes para valorizar as visuais do entorno, os locais adequados à implantação dos espaços de convívio, pocket park, praças de alimentação, assim como as trilhas a serem inseridas para integração da área de intervenção com o entorno adequadas a caminhadas e principalmente para dar acesso direto a pontos distintos do bairro antes interrompidos. O diagrama contempla ainda a integração das edificações históricas localizadas na Av. Leitão da Silva a partir de sua requalificação e de usos compatíveis com a proposta de agregar valor ao uso e apropriação da comunidade local. A síntese descrita favoreceu a consolidação de cinco diretrizes conceituais utilizadas na definição do partido projetual que fundamenta a proposta preliminar do Parque Urbano de Bento Ferreira. 88

Figura 43 - Diagrama Conceitual

Fonte: Elaboração da Autora (2016)


5.1.1 conectividade

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Buscando eliminar ou minimizar o aspecto de fragmento urbano da área, foram estabelecidas algumas diretrizes que visam garantir a conectividade entre os pontos considerados fragmentados desta área de intervenção. Para tanto foram projetadas novas possibilidades de acesso a partir dos eixos interrompidos identificados na fase de análise, visto que existem eixos viários e visuais que não permitem o acesso pleno, acessível e contínuo à área de estudos. Citam-se as edificações abandonadas e sem uso que se caracterizam como pontos de interrupção, como é o caso do eixo da via Almirante Tamandaré, que é bloqueado na Av. Leitão da Silva por edificações comerciais construídas como barreiras e que se encontram hoje fechadas e abandonadas. A proposta prevê a requalificação de ambas as edificações através de uma parceria pública x privado, com usos destinados a garantir esta integração com a comunidade local. Além disso, serão criados eixos de caminhada com pontos de mirantes estrategicamente delimitado no trajeto para observação e contemplação ao longo do percurso projetado para conectar a parte plana a parte mais alta da área. Outro ponto importante para a garantia da conectividade são as diferentes conexões criadas, como pode ser observado no diagrama a seguir, onde estão previstos eixos verdes para garantir um conforto no percurso de pedestres associados a uma ciclovia adjacente projetada para conectar os acessos existentes e projetados, trajetos que conectam as áreas públicas propostas aos eixos da malha existente.

Figura 44 - Diagrama de conectividade Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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5.1.2 vitalidade

5.1.3 legibilidade

A vitalidade urbana, abordada por Jacobs (2000) trata da capacidade de um ambiente promover qualidade de vida e segurança aos seus cidadãos. Neste sentido, como conceito projetual para a região, a vitalidade será tratada como elemento provedor de melhoria da qualidade do ambiente urbano através da promoção de espaços mistos, atrativos e que estimulam a socialização de pessoas de diferentes idades e horários do dia. Esta proposta visa promover a interação entre moradores do bairro, buscando aumentar a sensação de segurança que Lerner (2011) afirma se relacionar com o uso saudável do espaço urbano. Considerando os pontos analisados na área, para garantia desta realidade, será necessário inibir os pontos ociosos, localizados principalmente nos encontros da área plana com as inclinadas, identificados como “perigosos” pela população local e que se encontram abandonados e vazios. Para tanto foram previstos usos variados adequados às características e potencialidades de cada trecho da área de intervenção incluindo a inserção de equipamentos urbanos e nova iluminação, solicitados pela comunidade e favoráveis ao convívio e apropriação da mesma. Outro aspecto da vitalidade está relacionado com a diversidade de usos na região, a qual será tratada com instalação temporária de food trucks15 no vazio próximo a Rua Henrique Rosetti e a criação de cafés com espaços de gastronomia nas edificações Históricas abandonadas da Avenida Leitão da Silva.

A legibilidade, segundo Lynch (2006) é a capacidade de tornar claro e de fácil entendimento a leitura visual de determinada área. Visando a adequação ao referido conceito, o desenho proposto procurou adotar uma identidade visual comum com pórticos e mobiliários que se repetem nos diferentes espaços do parque, tendo em vista que o mesmo ocupa uma área espraiada do bairro, apesar de próximas uma da outra. Foram propostos ainda pequenos mirantes distribuídos ao longo dos percursos e um Parque Mirante para valorizar as visuais existentes de pontos significativos do entorno, como a Pedra dos Dois Olhos, localizada em Fradinhos, bairro da Capital Vitória e o Convento da Penha, localizado no município vizinho de Vila Velha. A infraestrutura proposta para cada um dos espaços visa reforçar a permanência o conforto e a legibilidade dos espaços projetados com ampla cobertura verde, como o espaço do Parque Mirante. Este recebeu equipamentos para academia ao ar livre, bancos e mesas, além de uma área destinada a recreação dos cães de estimação, reivindicada pelos moradores do bairro e um deck amplo para observação e contemplação da visual do Convento da Penha. Para a identidade visual da área, foram idealizados em cada acesso um portal com placas que indicam os espaços e atividades presentes no Parque. Para reforçar a legibilidade também foram selecionadas vegetações com espécies nativas da área que se repetem por toda a extensão do Parque, além da paginação de piso comum e da criação dos pórticos nos distintos pontos de acesso ao Parque e ao circuito de caminhada e ciclismo. Todos estes aspectos fazem parte do processo de criação de uma identidade visual através de um sistema de comunicação visual que contempla a escrita em braile, alto relevo, texturas e mapas táteis para garantia da inclusão na região, e com o intuito de reforçar o seu significado para os usuários e frequentadores do Parque. No diagrama abaixo é possível observar a posição dos mirantes e das placas de identificação da área em cada acesso além da posição do pórtico na frente das edificações que serão requalificadas.

15 Modalidade de vendas de alimentos mais sofisticados e a um baixo custo em caminhões. Fonte: Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/food-truck-uma-nova-tendencia,d128e6f7c633c410VgnVCM2000003c74010aRCRD> Acesso em: 06/12/2016

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Fonte: Elaboração da Autora (2016) A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Figura 45 - Diagrama de Legibilidade

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Figura 46 - Pequenos mirantes ao longo do trajeto de subida ao Parque Mirante

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

5.1.4 interatividade A promoção da interatividade visa garantir um espaço urbano com atividades para diversos públicos, de forma integrada, buscando reforçar a vigilância natural e promover espaços responsáveis por reintegrar áreas fragmentadas e atender aos diferentes anseios da população local, que carece destas áreas livres para o uso público dos moradores do bairro. Neste sentido, buscando promover esta integração social, foram previstos para os vazios localizados na extensão da Rua Hélio Marconi com a Rua Henrique Rosetti atividades recreativas e esportivas projetadas dentro do conceito do pocket park. A implantação desta praça na escala do bairro irá garantir um espaço público para os moradores locais, visto que a ocupação do entorno é destinada, em sua maioria, ao uso residencial, o que favorecerá a apropriação do novo espaço que irá contar com ambientes para crianças, com 92

brinquedos lúdicos, mesas de jogos, paredes de escaladas, circuitos de arvorismo e espaços de convívio, além de garantir os elementos básicos apontados por Marcus e Francis (1998) que garantem a este espaço a característica de um pocket park, contemplando ainda uma área de alimentação, jogos de mesa e mural para projeção de clips e vídeos que será implantada em um terreno plano e contará com espaços para mesas e cadeiras, além de instalações temporárias e permanentes de pontos de venda de comida. Além disso, o espaço contará com fontes com jatos d’água que brotam do piso, áreas verdes e pequenos espaços de estar livre. Serão criados também outros espaços de convívio, em ambientes menores, distribuídos por toda a área que contará com pontos sombreados contendo bancos e espaços de permanência além de equipamentos para atividades esportivas, como trilhas e paredes para escalada. Todas estas atividades, em conjunto, poderão garantir o uso contínuo e em diferentes horários das áreas da região, promovendo um ambiente saudável, dinâmico e seguro. Figura 47 - Atividade para diversas idades

Fonte: Elaboração da Autora (2016)


A permeabilidade está relacionada com a possibilidade de um trajeto contínuo, seguro e confortável de pedestres e ciclistas por toda a área, criando conexões e saídas em todos os pontos do projeto. Para isso, além de vias arborizadas e pavimentação adequada ao trânsito de pedestres e ciclistas, a proposta contará com ciclovias que irão se conectar com a ciclofaixa da Av. Marechal Mascarenhas de Moraes e a ciclovia planejada pela Prefeitura Municipal de Vitória para a Av. Leitão da Silva. A proposta contempla a transformação das raras passagens de pedestres existentes, mas que não promovem qualidade e segurança aliada a outras passagens que serão criadas, buscando conectar as extremidades da região com o Parque Mirante que ficará na parte mais alta do Parque. Destaca-se ainda neste conceito de permeabilidade o cuidado em projetar espaços acessíveis que possibilitam a circulação segura e confortável de todas as pessoas incluindo aquelas que apresentam limitações físicas. Nesta interatividade também estão contemplados os ciclistas e as crianças que através da inserção de equipamentos lúdicos e dos escorregadores associados as escadas permitem que as mesmas utilizem os percursos e vençam os desníveis brincando. O diagrama a seguir mostra a fluidez e continuidade do percurso de pedestres e ciclistas, passando por todas as áreas públicas propostas e garantindo assim a permeabilidade desejada.

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

5.1.5 permeabilidade

Figura 48 - Diagrama de Permeabilidade Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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5.2 proposta projetual Buscando atender de forma integrada os pontos apresentados, serão expostos neste item os elementos componentes da proposta projetual do Parque Urbano de Bento Ferreira. A proposta em nível de estudo preliminar contempla uma implantação geral da área de intervenção com a indicação das soluções gerais criadas para a área de estudo, demonstrando as conexões que foram projetadas e abrangendo também uma ampliação da área selecionada para melhor detalhar um dos setores do Parque onde será implantada a Praça da Cidadania. De maneira geral, o projeto conta com conexões bem definidas, onde cada rua que faz acesso à área tem integração entre si através do desenho urbano proposto. Neste sentido é possível observar na implantação geral ilustrada na Figura 50 as novas alternativas de acesso ao Parque Urbano projetadas, através de trilhas de caminhadas e ciclovias com inclinações máximas de 6%, respeitando os parâmetros das normas de acessibilidade, junto as escadas que ligam a praça ao centro comunitário e seu entorno imediato. Esta situação é reforçada pela implantação em cada acesso de um sistema de comunicação visual criado especialmente para a região, onde em cada placa será possível visualizar o mapa geral do Parque com o ponto destacado em que a pessoa se encontra, através de um sistema de cores, onde a área do mapa correspondente ao trecho do Parque em que a pessoa se situa terá sua cor destacada em relação às demais. Esta placa contará também com a descrição da localização em braile e alto relevo buscando garantir acessibilidade plena ao espaço, atendendo aos usuários que apresentem alguma deficiência visual. Além das sinalizações situadas nos pontos de acesso ao parque, será implantado ao longo do trajeto, entre os diferentes espaços, mapas táteis que possuem a função de guiar a pessoa com deficiência visual, facilitando sua orientação e 94

mobilidade. Ainda reforçando a possibilidade de utilização do espaço por parte das pessoas com deficiência visual, foi proposto em todos os corrimãos anéis de textura além da indicação em braile do nível da praça ou do ambiente onde ele está inserido.

Figura 49 - Pórtico com Placa de Localização Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Este elemento de comunicação visual terá a função de conectar os diferentes espaços criados, de forma a permitir o entendimento do usuário de todas as atividades existentes no local, já que não existe uma permeabilidade visual continua devido à extensão da área, das edificações existentes entre os diferentes trechos do parque e da declividade da área, principalmente entre o Parque Mirante e a Praça da Cidadania, espaços com maior área de permanência do Parque.


Figura 50 - Diagrama de setorização do Parque Urbano de Bento Ferreira

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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acessos Os acessos foram trabalhados para servirem de ponto de identificação dentro da área. Com isso todos eles terão, além dos pórticos integrados com placa de identificação, elementos que garantam uma identidade visual ao Parque, reforçando eixos visuais do entorno. O acesso pela Av. Leitão da Silva irá acontecer através do Centro Comunitário previsto para ser instalado em uma edificação sem uso que deverá ser requalificada e contará com espaços de vivência e café cultural. Com a requalificação será resgatada a característica original da edificação, identificada através de fotos da área e que fica escondida por um painel com a logo da empresa que funcionava no local. Esta edificação também se faz importante por estar no eixo visual da Rua Almirante Tamandaré, conhecida na região por possuir diversas peixarias, as quais os moradores utilizam com frequência16. Esta nova conexão poderá facilitar a integração destas áreas e contará com uma área adjacente destinada ao estacionamento que poderá ser utilizado pelos frequentadores do Parque. Vale destacar que o eixo visual citado direciona o olhar do transeunte para a parte mais alta da região, onde atualmente o que se vê é uma residência em situação irregular, removida para ter sua área renovada e integrada à Proposta do Parque para a implantação de uma área livre que servirá como ponto de contemplação e marco visual para o entorno da área, contando com um elemento que sirva de referência por se destacar na composição da paisagem, seguindo o conceito de Lynch (2006).

16 Informação coletada através de questionários aplicados na pesquisa “Estratégias Sócio Ambientais para a Inibição de Ações Antissociais. Um estudo de caso do bairro Bento Ferreira, Vitória - ES, coordenado pela professora Ana Paula Rabello Lyra” a qual este trabalho está vinculado.

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A rua Doutor Antônio Honório que atualmente é sem saída terá conexão com o Parque através de uma trilha para pedestres que a conecta a rua Hélio Marconi e a partir desta, permite que a pessoa opte pela rama ou escada de acesso ao Parque. Visando garantir uma referência visual para este acesso e considerando os usos existentes na rua Coronel Schwab Filho, que é perpendicular a este acesso, com restaurantes, será sugerida para o final da rua que faz limite com a pedra do Parque, uma instalação artística de caráter efêmero em composição com as rochas existentes que servirá como atrativo para a região. Reforçando a identidade da rua, assim como no caso do eixo visual da rua Almirante Tamandaré, na parte alta que faz visual para a rua Doutor Antônio Honório também será instalado um elemento que terá a função de um marco visual. Figura 51 - Corte esquemático da R. Drº Antônio Honório/Parque Mirante Fonte: Elaboração da Autora (2016)


O trecho da rua Hélio Marconi paralelo à Rua Doutor Antônio Honório também receberá melhorias e contará com um acesso através de rampas compartilhadas com escadas e canteiros verdes que acompanham a inclinação natural do terreno formando uma espécie de anfiteatro que o conecta ao Parque Mirante, este acesso receberá uma iluminação que valoriza a visual e o percurso no período noturno, já que a mesma será vista a partir da Av. Beira Mar. Espaços de convivência também foram projetados nos acessos tanto da parte baixa quanto da parte alta na área frontal à Paroquia Católica existente. A rua recebeu assim um pequeno espaço de permanência que visa garantir a presença de pessoas na área, evitando ambientes ociosos e que se conecta com outro espaço de permanência localizado no acesso de pedestres da rua Chafic Murad, que terá como ponto de observação o patamar do circuito de pedestres e ciclistas criado. Figura 53 - Proposta de Intervenção para a rua Hélio Marconi

Fonte: Acervo Pessoal + Elaboração da Autora (2016)

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Figura 52 - Rua Dr. Antônio Honório antes e depois da intervenção


A região frontal da Paróquia recebeu um pequeno mirante para contemplar a visual identificada, o qual possui saída para os percursos acessíveis criados e que se conecta ao mirante que faz visual para a Praça da Cidadania e Pedra dos Dois Olhos. Estes receberão a instalação de um telescópio para possibilitar uma maior aproximação visual dos monumentos do entorno. Este espaço se conecta ao outro acesso do trecho da rua Hélio Marconi com a Henrique Rosetti, que é feito através da Praça da Cidadania, contando com um percurso arborizado e acessível através de rampas, escadas e um elevador inclinado.

Figura 54 - Vista da Praça da Cidadania antes e depois da intervenção Fonte: Acervo Pessoal + Elaboração da Autora (2016)

A rua Paulo Muller que é a única conexão possível de carro ao Parque Mirante recebeu uma adequação em seu desenho de forma a criar um cul-de-sac para permitir que o carro consiga contornar sem dificuldades, facilitando também o embarque e desembarque de pessoas. A rua contará com pórtico tanto em sua entrada pela rua Chafic Murad quanto na chegada ao Parque Mirante. O último acesso à área acontece através de uma escadaria existente, localizada na rua Henrique Rosetti e que atualmente é interrompida não fazendo conexão com a parte mais alta. Esta intervenção consistiu em integrar também este acesso aos demais e ao Parque Mirante, através do prolongamento da escadaria existente. Tal conexão é valorizada por trechos de espaços livres criados com a remoção da edificação irregular que fazia frente para o eixo visual da rua Almirante Tamandaré. Este acesso existente acontece apenas por escadaria, pois dá acesso a residências unifamiliares localizadas em seu entorno não sendo, assim, acessível a pessoas com mobilidade reduzida, entretanto todos os outros percursos criados permitem o acesso pleno a todos e a todas as áreas projetadas do Parque. Esta escadaria será demarcada em sua entrada por um pórtico apoiado em uma pedra existente, criando um marco de identificação do acesso, assim como em todos os outros. Destaca-se ainda que para facilitar a leitura e identidade visual do Parque, todas as escadarias existentes e projetadas receberão uma pintura em seus espelhos comuns com tonalidades de azul variando da mais intensa a mais clara na medida em que sobem. Ainda em busca de reforçar a identidade visual da área foi pensado em uma linguagem de materiais, mobiliários, pisos e vegetações para ser aplicada em todos os espaços públicos criados, desde os maiores como o Parque Mirante e a Praça da Cidadania até os pequenos espaços de permanências, trilhas e escadarias. A especificação das vegetações considerou características de luminosidade, onde todas


Figura 55 - Árvore Sibipiruna Figura 56 - Árvore Ipê-de-Jardim

Fonte: fotospublicas.com/

Fonte: humbertolus.mercadoshops.com.br/

Considerando a condição das cidades ao enfrentar enchentes e buscando uma solução para minimizar tais impactos na região de implantação do projeto foi previsto na especificação dos pisos a característica drenante, evitando também eventuais acidentes ao se ter pisos molhados em áreas públicas. Além disso, foram previstas várias áreas verdes para garantir maior permeabilidade do solo em toda a extensão do Parque. A preocupação com a sustentabilidade está presente na proposta que contempla a inserção de totens solares para o abastecimento de celulares e a captação da água da chuva para ser utilizada para a rega da vegetação local. Destaca-se ainda a inserção de rede wi-fi livre para o acesso das pessoas que frequentam o parque ao

longo do dia. Estima-se que com a proposta de conexão das ciclovias municipais a projetada para os percursos do Parque o município destine um ponto da “bike Vitória” dentro do parque para se integrar ao circuito de bicicletas compartilhadas do município.

Parque Mirante O parque Mirante foi implantado em uma posição estratégica da área, pois foi aproveitado um terreno ocioso com uma visual para a Baía de Vitória, Convento da Penha e Terceira Ponte, possibilitando diferentes conexões com a região do entorno. Neste sentido, do ponto onde está inserido o Mirante é possível acessar, através de trilhas, o Centro Comunitário, localizado na Av. Leitão da Silva, a rua Doutor Antônio Honório e Hélio Marconi, onde funciona a Casa do Arquiteto, além de fazer acesso à rua Henrique Rosetti através da escadaria ou através da rua Paulo Muller. Buscando um ambiente dinâmico de contemplação, o espaço contará com uma academia da terceira idade integrada à academia popular, espaço para atividades de alongamento e meditação e áreas de permanência com mesas e bancos de forma sinuosa que se integram ao desenho dos canteiros. Neste espaço será implantado também um Play Dog, espaço de recreação para os cachorrinhos de estimação com brinquedos e equipamentos de apoio aos mesmos. Este ambiente reivindicado pela comunidade local foi proposto para esta área específica do projeto por não contar com atividades infantis e buscando garantir um maior uso, visto que muitos moradores utilizam as ruas do bairro para passear com os cães, e com este espaço dentro da região, aumentaria a possibilidade de interação social além de garantir que mais pessoas estejam no Mirante em diferentes horários do dia, gerando vitalidade ao local. O Play Dog contará com bebedouros na escala dos cães, porta saquinhos, para o responsável fazer a devida coleta visando a limpeza e manutenção do espaço, além de placas de orientação quanto ao uso do espaço. 99

A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

as espécies possuem resistência ao sol pleno, devido ao clima local e também algumas espécies já existentes na região, como é o caso do Agave, que já é encontrado na área e por ser adaptada a áreas rochosas também foi especificado na vegetação proposta. Além desta espécie, foi pensado em uma espécie de forração de raiz profunda para a área que demanda estabilidade de talude entre rampas, grama com maior resistência ao pisoteio para as áreas livres de uso contínuo, além de arbustos e folhagens para compor o paisagismo, e árvores de grande e médio porte adequadas ao clima local e indicadas para arborização urbana, garantindo sombra e conforto para as áreas de permanência, como a Sibipiruna e o Ipêde-Jardim.


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Figura 57 - Implantação do Parque Mirante Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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Figura 58 - Trilha de caminhada para pedestres e ciclistas

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Figura 59 - Vista aérea do Parque Mirante Fonte: Elaboração da Autora (2016)


Figura 60 - Play Dog no Parque Mirante (Visual 01) Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Figura 61 - Vista do Parque Mirante (Visual 02)

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Figura 62 - Vista do Espaço de Convívio (Visual 03)

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Este Parque Mirante é integrado a dois espaços de convívio provenientes da remoção de duas edificações residenciais e que convergem para a descida da escadaria da rua Henrique Rosetti, garantindo maior permeabilidade e trajetos sem interrupção, destacados como negativos no diagnóstico da área. Em dois pontos específicos deste Parque Mirante será implantada uma estrutura que irá garantir o marco visual de quem estiver na parte plana da área, visto que o parque se encontra em um dos pontos mais altos da região. Buscando diferenciar os percursos a serem feitos pelos usuários, além das trilhas para pedestres e ciclistas, que hora segue em cota plana, e hora segue um percurso inclinados e conta com patamares integrados com pequenos mirantes e espaços de descanso, o trajeto também conta com escadas integradas com tobogãs de descida rápida em alturas maiores. Estes tobogãs são instalados também entre patamares de alturas menores, criando uma brincadeira e possibilitando uma experiência divertida ao vencer os diferentes níveis do Parque. O parque mirante conta ainda com bicicletário de apoio aos ciclistas, um telescópio instalado no eixo visual do Convento da Penha e da Terceira Ponte, de forma a trazer um elemento diferenciado para o espaço que servirá também de observação de noites de lua cheia, entre outros acontecimentos, bancos e mesinhas para socialização entre moradores, garantindo várias possibilidades de apropriação para divertir e estimular o uso do espaço.


Praça da Cidadania A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

O outro espaço público proposto foi desenvolvido dentro do conceito do Pocket Park e está localizado em um terreno de topografia acidentada com acesso pela rua Henrique Rosetti. De forma a criar um espaço dinâmico, com diferentes atividades e acessível a todos, incluindo pessoas com mobilidade reduzida. Este trecho do Parque Urbano de Bento Ferreira, foi trabalhado aproveitando os quatro níveis existentes do terreno que, reforçando a ideia da integração, se conectam através de rampas e escadas com desenhos integrados e diversificados que permeiam canteiros verdes e interligam as diferentes atividades projetadas para o espaço. Destaca neste trecho a escadaria projetada no formato de um anfiteatro de forma a induzir a ocorrência de eventos organizados pela comunidade, igrejas e escolas do bairro. O caráter dinâmico proposto para os acessos aos diferentes níveis do Parque foi idealizado a partir de desenhos sinuosos que busca harmonizar com as curvas de níveis naturais do terreno.

Figura 63 - Corte esquemático da Praça da Cidadania Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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Figura 64 - Implantação da Praça da Cidadania

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

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O primeiro nível se encontra integrado à calçada e o espaço foi pensado para criar um ambiente de espera e de chegada à praça de forma a atrair as pessoas a adentrarem o espaço. Foi estrategicamente posicionado próximo a um pequeno centro comercial localizado na esquina oposta, possui bancos integrados ao desenho dos canteiros e acesso a rampa e escada que levam ao segundo nível.

O segundo nível conta com uma área maior e foi pensado para receber um espaço dinâmico e com diferentes atividades destinadas as crianças e adolescentes, como paredes de escalada e brinquedos lúdicos, além do circuito de mini arvorismo que se conecta ao nível três da praça. Além destes espaços, o segundo nível conta com um ambiente com bicicletário e bancos, onde os responsáveis podem estar vigiando as crianças e tendo um momento de descontração além da área com mesas de jogos de xadrez, para integração do público jovem com o da terceira idade. O espaço conta ainda com um pequeno anfiteatro que poderá receber apresentações escolares, musicais, de dança dentre outras e que é atendido por uma arquibancada integrada à escada que leva ao próximo nível, que por sua vez é integrada ao desenho da rampa, onde os patamares se encontram criando a conexão e transição dos níveis.

Figura 65 - Vista do nível 01 da Praça da Cidadania (Visual 01)

Figura 66 - Nível 02 da Praça, com espaço da criança (Visual 02)

Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Fonte: Elaboração da Autora (2016)


O nível três, por sua vez conta com uma continuação dos espaços infantis, tendo a saída do equipamento de arvorismo instalado e a chegada do tobogã, que faz uma das conexões com o último nível da praça. Além disso, conta com uma área onde terá jatos de agua saindo do piso além de mesas e cadeiras para garantir mais um espaço de convivência e integração. A conexão com o nível quatro também é feita através de escadas e rampas com desenhos integrados pelos seus respectivos patamares.

Figura 67 - Vista do nível 02 para o nível 03 (Visual 03) Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Figura 68 - Nível 03, com tobogã e jato d'água (Visual 04) Fonte: Elaboração da Autora (2016)

O nível quatro é o último da praça e foi pensado para receber a parte de alimentação onde o piso demarcado no centro irá receber mesas e cadeiras e o entorno receberá instalações de food trucks ou barracas de comidas, criando um uso dinâmico do espaço. Nesta área foi reservado ainda um espaço para os banheiros públicos e casa de apoio para manutenção do Parque. Além disso, durante o dia foi prevista a instalação do slackline17 na área do food truck e foi reservado um espaço para a instalação de mesas de ping-pong e uma área com bancos, que se integrando à pedra existente no local, espaço este reservado para estimular a permanência de moradores em diferentes horários do dia. A área contará ainda com um muro para arte grafite e um outro muro que receberá projeção de vídeos, clips e exposições digitais. O acesso ao trecho mais alto deste parque onde foi projetada uma pequena área de mirante no final da rua Paulo Muller com a Chafic Murad, será feito através de escada e elevador inclinado, conecta o nível quatro da praça, garantindo que pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência física também tenha acesso a este e demais trechos do parque. 17 “Prática corporal realizada em uma fita estreita e flexível, de nylon ou poliéster, tencionada em dois pontos fixos, onde são realizados movimentos estáticos e dinâmicos” Fonte: Disponível em <http://www.slackproof.com/o-que-e-slacklinel> Acesso em: 15/11/2016

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Figura 69 - Nível 04, com bicicletário e mesa de ping-pong (Visual 05) Fonte: Elaboração da Autora (2016)

Figura 70 - Nível 04, com food trucks e mesas (Visual 06) Fonte: Elaboração da Autora (2016)

A proposta foi, então, criar um ambiente integrado, porém setorizado, buscando conforto e segurança para cada uso determinado além de criar um acesso humanizado e acessível para a parte mais alta da área de intervenção, tendo então a calçada integrada à praça, para que o usuário percorra o ambiente criado, gerando ainda vitalidade para a região. Vale ressaltar que o Parque foi projetado para atender a comunidade local e, portanto, foi previsto estacionamento apenas junto a edificação história da Av. Leitão da Silva, pois o intuito era aproveitar toda a extensão da área residual urbana identificada como fragmento da malha urbana do bairro para apropriação de um novo espaço livre de uso público para a as pessoas da comunidade local. Figura 71 - Vista aérea da Praça

Fonte: Elaboração da Autora (2016)


consideraçþes finais 108


e qualidade de vida para usuários e moradores, buscou-se, através deste projeto paisagístico, potencializar uma área existente do bairro, porém abandonada e negligenciada através da criação de um novo espaço livre de uso público que integrasse diferentes pontos de acesso do bairro visando a redução de percursos desnecessários e a eliminação de características residuais inseguras presentes na área. Ao agregar novos usos e espaços com atividades diversas, o projeto demonstrou sua importância para o âmbito local por articular espaços desconectados de uma forma dinâmica eliminando barreiras e criando múltiplas funções, que atenderão aos diferentes públicos moradores do bairro e seu entorno imediato, em diferentes horários, garantindo as primícias da vitalidade urbana em uma área que necessita de uma renovação. Além deste aspecto, a intervenção proposta vem evidenciar a importância do desenho urbano e dos espaços livres considerando a realidade e especificidade de cada local na garantia da vitalidade e segurança dos espaços urbanos da cidade, além de promover uma reintegração de espaços ociosos e fragmentados de forma a gerar um ambiente urbano saudável que afete positivamente o cotidiano do usuário deste espaço. A proposta do Parque Urbano de Bento Ferreira consegue assim alcançar o objetivo inicial proposto de promover a integração de todos os trechos outrora interrompidos do bairro, anular os efeitos negativos dos espaços localizados nos pontos de limite entre a parte plana e acidentada deste maciço utilizado para intervenção proposta, destinar novos usos para edificações que se encontravam abandonadas no limite da área, criar novos espaços de lazer, esporte e recreação para os moradores do bairro, proteger visuais significativas de monumentos naturais do entorno e projetar um novo espaço para uma área existente que agrega valores e segurança para o bairro.

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A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

Mesmo que existam estudos e publicações referentes aos métodos de desenho urbano que geram vitalidade e segurança desde a década de sessenta (60), a realidade que vivenciamos na prática tem demonstrado que tais estudos ainda não foram de fato aproveitados e implantados no planejamento das cidades, em especial as brasileiras. Fato este que pode ocorrer devido a não conscientização da população da importância de se preservar e utilizar os espaços públicos e por parte das autoridades, que durante muitos anos priorizaram a expansão e ocupação das vias e edificações em detrimento das pessoas, prescindindo do papel fundamental que as cidades exercem na segurança e no convívio social. Fato é que o aumento da criminalidade e insegurança nos espaços urbanos tem levado autoridades a pensarem estratégias que possam minimizar o impacto que tal realidade vem causando na sociedade. As configurações dos espaços urbanos assim como o planejamento das cidades possuem papel decisivo na melhoria da segurança nas cidades contemporâneas. O estudo aqui proposto vai de encontro à busca pela reintegração dessas áreas residuais urbanas identificadas como fragmentos da malha urbana da cidade, buscando entender sua relação com o usuário e estudando alternativas que gerem um espaço funcional e de qualidade. Desta forma, considerando os estudos realizados neste trabalho e o diagnóstico da área de estudos do bairro Bento Ferreira, além do conceito de espaços fragmentados como sendo os de áreas residuais provenientes da implantação de sistemas viários e do adensamento das edificações, percebeu-se o potencial da região selecionada para receber a proposta de integração através da criação de um espaço livre de uso público tendo em vista as características físicas locais negligenciadas pela ruptura existente e por se caracterizar como ponto de insegurança recorrente por parte dos usuários do espaço. Neste sentido, considerando as teorias e o diagnóstico realizado e buscando garantir vitalidade, segurança


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anexos


anexo I - roteiro para entrevista com moradores e usuários do espaço

anexo II - resultado das entrevistas realizadas na área de estudos

O objetivo da entrevista é coletar informações para o Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha com o tema “Integrando Espaços Fragmentados” e buscar informações sobre o que a área de estudo representa para a comunidade

Gráfico 06 - Respostas das entrevistas

1) Se for morador, há quanto tempo reside no local e se não for, qual a relação com o bairro 2) Porque escolheu o bairro para morar? (O que tem de diferente em relação dos outros da cidade) 3) Gosta de morar no bairro? O que mais gosta aqui? O que mais sente falta de ter no bairro? 4) Já aconteceu alguma coisa que te fez pensar em se mudar? 5) Qual a sua relação com os espaços públicos do bairro (ruas, praças, etc) 6) O que acha da segurança do bairro? 7) Caso se sinta inseguro, qual a forma de proteção (alteração na residência, não utilizar o espaço público, etc) 8) Já foi vítima de algum tipo de violência? 9) O que pensa da área da rua Hélio Marconi? 10) Gostaria de ter mais parques e praças (áreas de lazer)? 11) Qual o principal meio de locomoção para atividades próximas? (Ir na padaria)

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Fonte: Elaboração da Autora (2016)


A INTEGRAÇÃO DE ÁREAS FRAGMENTADAS ATRAVÉS DO PROJETO DE ESPAÇO LIVRE DE USO PÚBLICO

anexo III - Projeto

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