Série the moreno brothers #01 forever mine (elizabeth reyes)

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PL & TRT Apresentam

Forever Mine (The Moreno Brothers #1) by Elizabeth

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Staff Disponibilização : Soryu Tradução : Clau, Cynthia , Aynelis, Ticsul, Rute, Roseli , Gisele Revisão Inicial : Tathy ,Val ,Rosa, Diah Persan ,Marlene, Ana Catarina Gomes,Ana Paula dos Santos,Jojo Silva Segunda Revisão : Amanda Espinel Revisão Final: Mari Sales Leitura Final e Formatação : Juuh Allves

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Sinopse Aos dezessete anos, a vida de Sarah virou de cabeça para baixo quando sua mãe solteira vai para a cadeia. Ela é forçada a se mudar, deixando para trás tudo o que ela conheceu, incluindo seu melhor amigo Sydney. Perdida e amarga em uma nova escola, seu único objetivo é economizar dinheiro e voltar para casa. Então, ela conhece Angel Moreno. Enigmático, mas lindo, Angel é perfeito demais para ser verdade. Exceto por uma coisa, sua crença arcaica de que meninos e meninas nunca podem ser "apenas amigos". Problema? O melhor amigo de Sarah, Sydney, não é uma menina. Com o romance inesperado tornando-se cada dia mais intenso, quanto tempo mais Sarah poderá ocultar de Angel Moreno a existência do cara esperando que ela volte para casa?

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Prólogo Sarah congelou. Isso não podia estar acontecendo. Pegou o telefone, os nódulos dos dedos começaram a ficar brancos. O nó em sua garganta era insuportável. — Ainda está aí, Sarah? Quase em um sussurro inaudível Sarah respondeu. — Sim... sim. — Querida, sei que isto é difícil, mas não é o fim do mundo. Nós conversamos sobre isso e sabia que havia uma possibilidade. Sarah tentei, realmente tentei, mas não há nada mais a fazer. Esgotamos todas as opções e qualquer outra opção seria muito arriscada. Isto é o melhor. — Mas, meu último ano preparatório... — Sarah sentiu crescer sua irritação e as lágrimas lhe queimavam nos olhos. Estava a ponto de explodir, atacar alguma coisa. Em seguida, ouviu sua mãe de novo. Sua voz embargada novamente. — Sei, querida. Eu sinto muito. Desta vez eu arruinei tudo. Sua mãe deu um longo e trêmulo suspiro e isso quebrou o coração de Sarah. Queria estar a seu lado para abraça-la e consolá-la. 5


— Está bem mamãe, ficarei bem. Sua mãe limpou a garganta e baixou a voz. Soando de forma determinada, falou novamente: — Juro que vou te compensar por isso. Eu prometo isso, está bem? — Está bem. — Já liguei para tia Norma. Ela e o tio Fred virão neste fim de semana. Vão ajudar a empacotar, para que você e eu possamos passar um momento juntas. Então, terei que me apresentar na segunda-feira na corte. Hesitante, Sarah disse: — Na segunda-feira? — Sim baby, na segunda-feira. Sarah cobriu a metade de seu rosto com sua mão livre e sacudiu a cabeça. Não queria que sua mãe se sentisse ainda pior, então sufocou um soluço. — Está bem mamãe — suspirou. — Ficarei por aqui um momento, querida, então não me espere acordada. Amanhã falaremos mais sobre isto. Sarah desligou e se virou para ver Sydney, seu melhor amigo, que todo o tempo esteve sentado na cama junto a ela. Sydney a olhou ansiosamente. 6


— Ela vai se declarar culpada e passará ao menos três anos presa. Irei viver com a tia Norma na Califórnia. Sydney foi forte e Sarah caiu chorando em seus braços.

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Capítulo Um Um mês depois

Preparatória La Jolla, Califórnia

Enquanto estava de pé no meio de um corredor repleto de estudantes barulhentos correndo de um lado para outro, Sarah se sentia tremendamente sozinha. Um mês não foi suficiente para prepará-la para sua nova escola, novos amigos e uma vida nova. Oh Deus, como sentia saudades de Sydney. Isso não parecia em nada com o que ela tinha imaginado que seria seu último ano preparatório. Tinha tantos planos em sua escola anterior e agora, se encontrava completamente perdida. Apertando sua mochila em seus braços, começou a caminhar sem rumo fixo. Queria sair do caminho em meio desse engarrafamento humano. Onde diabos estava Valeria, sua prima? Ela havia dito que o corredor para a entrada principal se encontrava justo fora do escritório do conselheiro, ou não tinha sido assim?

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Sua tia tinha levado às duas juntas, mas Sarah tinha que ir ao escritório do conselheiro. Por ter se inscrita tarde, seu horário não chegou pelo correio como o da Valeria. Assim que chegaram à escola, Valeria começou a socializar com todo mundo, lhe prometendo que estaria ali quando ela saísse do escritório. O sinal tocou e Sarah tentou não entrar em pânico. Ela olhou para o seu horário, mas não tinha ideia de onde tomar sua primeira classe. Ela começou a caminhar para trás até ficar de costas para a parede. Será que Valeria a tinha abandonado? Não, não o faria. Ficou vendo o rosto das pessoas ao seu redor e imaginou se deveria perguntar a alguém como chegar a sua primeira classe. Um grito chamou sua atenção e virou-se para a entrada principal para ver que uma das garotas tinha seus braços ao redor do pescoço de um dos rapazes que acabava de entrar. Sarah revirou os olhos. Sempre odiou este tipo de garotas. O rapaz obviamente era um atleta e ele estava usando um daqueles coletes com iniciais de alguma equipe, igual as que usavam seus outros dois amigos. Vendo que estava por sua conta, começou a caminhar de volta para o escritório e franziu a testa ao ver que bem em frente ao escritório estava um mapa da escola. Havia alguns poucos caras parados em frente a ele, revisando seus horários e vendo o mapa. Aparentemente, ela não era a única nova na escola, embora isso não fosse um grande consolo. Sarah virou-se procurando Valeria, sentindo-se mais que chateada com ela. De repente, atrás dela estalou uma risada masculina e virou-se para ver que se tratava dos mesmos caras que tinha visto há um 9


momento atrás, mas agora, com mais caras ao redor deles. O mais alto, que pegou a garota gritando, estava rindo quando seus olhares se encontraram. O sorriso em seu rosto pareceu apagar-se pouco a pouco. Ela ficou congelada e com os lábios entreabertos. Por um momento, ela pensou que ele diria algo quando de repente ouviu Valeria. — Aqui está! Sarah saiu de seu torpor e viu Valeria, que já tinha lhe tirado seu horário, sorrindo com malícia. — Temos duas aulas juntas! — Temos? — As bochechas de Sarah ainda estavam quentes, mas caminhou rapidamente ao lado de Valeria, incrivelmente agradecida por essa coincidência. Valeria falava das aulas até que estavam longe o suficiente ao virar a esquina do edifício. — Por Deus Sarah! Você percebeu quem estava te olhando? Surpresa, sem saber realmente por que, Sarah fingiu não ter entendido. — Quem? Valeria ofegou. — Angel Moreno! Não se lembra? Você falou com ele e seus irmãos. — Não — disse Sarah mentindo. Claro que recordava, por isso que não podia quase respirar quando o reconheceu. 10


Soou o sinal. — Caramba! — disse Valeria para o relógio. — Vamos chegar tarde em nosso primeiro dia. Pegou o braço de Sarah e saíram correndo para sua primeira aula.

DUAS SEMANAS MAIS TARDE

Angel correu dando enormes passos ao redor do edifício de ciências. Seu estômago esticou, justo quando o sinal tocou. Novamente, ia chegar tarde ao treino e sabia que seu treinador ficaria chateado. Era a segunda vez esta semana, mas teve que ficar depois da aula para fazer a tarefa por créditos adicionais. Novamente, seria reprovado em Espanhol II. Espanhol! Seus pais eram donos de um restaurante mexicano, por Deus! A única razão pela qual se inscreveu nesta aula, era porque necessitava de dois anos de uma língua estrangeira para poder ter a oportunidade de ir a uma universidade por quatro anos. E agora, isto estava lhe custando tempo no campo. Aparentemente, ele só era bom para as maldições e sua professora chamava Espanglish1 ao espanhol que ele falava. Era um labirinto sem saída, se não ficasse até tarde para obter créditos adicionais, tampouco poderia subir as terríveis notas que estava tirando 1

Espanglish – mistura de Espanhol com Inglês.

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nos exames. E se não as subisse, não poderia ter a média necessária para jogar na equipe. Além disso, se não subisse suas qualificações, teria que ficar no reforço depois das aulas. O próprio pensamento o fez rosnar. Chegou a sala onde foram pesados quando já tinham começado o aquecimento. O treinador apenas o olhou e apontou em direção a arquibancada no raio de sol lá fora. — Vinte — disse. — E as faça rápido. Correr nas arquibancadas era o pior. Enquanto começava a correr para os degraus, escutou Dana lhe chamando da área da pista aonde treinavam as líderes de torcida. — Angel, outra vez as arquibancadas? Ele moveu a cabeça apenas observando-a. Algumas das garotas riram e se juntaram a ele. Suas covinhas apareceram como era de costume, embora seu sorriso era tudo menos um sorriso sincero. Os assobios já não o incomodavam faz tempo, especialmente se vinham deste grupo de garotas. Aos dezessete, Angel era um cara incrível com 1,86 metros. Estava seguindo de perto os passos de seus irmãos. Embora fosse agradável ser admirado de forma imediata assim que começou a escola, havia ocasiões em que ressentia do fato de viver da fama criada por seus irmãos. Eles eram muito bonitos fisicamente e era igualmente popular, mas em qualificações, não se pareciam em nada.

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Franziu a testa só de pensar que seus dois irmãos tinham bolsa de estudos na universidade, enquanto ele se encontrava lutando para poder jogar futebol americano na escola. Era vergonhoso, mas não ia desistir. Tal como dizia seu pai e Sal, seu irmão mais velho: “O fracasso não é opção. ” Perdido em seus pensamentos e ainda chateado consigo mesmo, Angel corria devagar e pensativo pelas arquibancadas pela quarta ou quinta vez, já tinha perdido a conta. O suor começou a descer por seu rosto e começou a lutar para manter estável sua respiração. Geralmente, podia manter o mesmo ritmo, mas não hoje. Alguém passou correndo muito perto. Assustado, ele quase perdeu o equilíbrio. Esteva prestes a soltar uma bola de maldições ao menino quando escutou uma voz lhe pedir desculpas... e percebeu que era uma garota. — Desculpa, eu esbarrei em você? — Não, estou bem. — Angel se agachou pondo as mãos nos joelhos, tentando respirar. — Você está bem, de verdade? Ainda respirava com dificuldade, quando a olhou pela primeira vez. O sol estava bem atrás dela. Angel teve um vislumbre de sua pequena silhueta. Ao mover-se, ela cobriu um pouco o sol. A primeira coisa que notou foi o olhar dela. Seus olhos eram incrivelmente verdes claro. Um contraste surpreendente com suas características morenas. Ela olhou para ele, parada ali mesmo e respirando com dificuldade. Seu cabelo estava preso em uma rabo-de-cavalo, exceto por algumas mechas encharcadas do suor que lhe escorria pelas têmporas e 13


testa. Angel se surpreendeu por não reconhece-la de nenhum lugar. Pensou que conhecia todo mundo na escola. Mas havia algo familiar nela, não podia dizer o quê. — Estou bem — respondeu. — Que bom. — Ela começou a soltar o cabo de seus fones de ouvido. Aparentemente, os tirou dos ouvidos quando voltou para ver se ele estava bem. Ela não sorriu ou lhe pergunto mais, realmente queria continuar seu caminho. Viu como ajustava o fone no ouvido e continuava a correr. Com o coração batendo e as mãos suadas, para surpresa dela, perguntou: — Você gosta de correr? Estúpido, estúpido, estúpido. Ela virou e olhou para ele sem responder. Desejava que não tivesse escutado. — Meu nome é Angel e você? — Sarah. Tudo o que pôde fazer foi sorrir enquanto o nome dela se desvaneceu. — Bom, desejo que corra bem — disse-lhe enquanto se afastava correndo.

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Ele ficou olhando enquanto ela corria pelos degraus. De longe, ela parecia muito pequena e sem curvas. Naquele momento ele se lembrou, era a garota perdida do primeiro dia de aula. Aí é onde tinha visto esses olhos. Foi então que se fixou neles. Ele lembrou que ficou impressionado, mas ele não voltou a vê-la e tinha quase esquecido. Quase. Começou de novo com sua corrida e sua mente retornou a suas qualificações. Será que eu preciso de tutoria? Sacudiu a cabeça, chateado enquanto recuperava o passo.

***

Sarah estava correndo, concentrada. Tinha a sensação que ele estava olhando para ela e queria morrer se, de repente, escorregasse ou caísse. As borboletas em seu estômago estavam totalmente fora de controle. Como tinha sido possível quase derruba-lo? De todas as pessoas possíveis, tinha que ser ele. Ela deveria ter dito algo mais, mas ficou sem palavras, pensava em como ele descobriria que ela tinha ficado o encarando como uma idiota. Desde então, ela tinha evitado encontrar-se frente a frente com ele. Cada vez que o via, imediatamente começava a correr na direção contrária. Suas pernas quase dobraram quando se deu conta de com quem tinha se chocado. Maldito seja ele e seu sorriso. Estava certa de que

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provavelmente, ele não se lembrava dela, não quis correr o risco do ridículo. Sarah sabia tudo a respeito dos irmãos Moreno. Valeria viveu aqui toda a vida e tinha ido à escola com eles sempre. E já que Valeria era platonicamente apaixonada pelo Alex, irmão mais velho de Angel, passava todo o tempo dizendo tudo sobre eles. Sarah lembrou-se da primeira vez que viu Angel há dois verões. Ela e sua mãe vieram visitar tia Norma, irmã de sua mãe e madrasta da Valeria. Valeria a tinha levado para uma festa na praia. Era uma festa durante todo o dia, mas Valeria estava consciente de seu corpo e decidiu chegar mais tarde, quando já tinham acabado de nadar. Chegaram quando todos estavam ao redor da fogueira escutando música. Sarah nunca tinha compreendido tudo o que Valeria tinha contado a respeito de Angel e seus irmãos. Ela os fez parecer como seu fossem estrelas de cinema, terrivelmente bonitos. Valeria lhe deu um tapa quando ele e seus amigos chegaram. — Aí está. Esse é o irmão mais novo do Alex. Sarah virou-se para vê-lo em toda sua glória. Era tudo menos gorducho, inclusive desde essa época. Ele e seus amigos pareciam mover-se em câmera lenta para o grupo de garotas. Elas os esperavam com uns ansiosos e enormes sorrisos. Usava uns shorts jeans e uma camiseta que deixava seus músculos à vista. Sarah nunca tinha visto um sorriso tão atrativo como este. Suas covinhas eram incríveis. Ela viu quando uma das garotas praticamente saltou aos seus braços, abraçando-o e em seguida, virou-se casualmente para assegurar-se de que todo mundo estava olhando-os. 16


— É sua namorada? — Perguntou a Valeria. Valeria bufou imediatamente. — Ela gostaria. É Dana, da qual te contei. Sempre está jogando e quer convencer a quem quiser escutá-la, que os dois são como um só. Todo mundo sabe que ele nunca teve uma namorada. Para que ter uma namorada quando pode ter todas as garotas que deseja, no momento que deseja? Sarah recordou ter visto e começou a fantasiar esse dia. Era tudo o que podia fazer. As garotas com andavam pareciam tão experientes e frescas ao redor dele, como seus amigos. Elas riam, algumas vezes exageradamente, mas ao menos podiam estar falando sobre isso. Quase não pôde respirar no primeiro dia de escola, quando ele se virou para olhar. E agora, quase o fez cair. Se ele a lembrasse como a garota tola do primeiro dia, agora guardaria uma lembrança ainda mais absurda sobre ela. Não tinha a menor esperança. De qualquer forma, isso não importava. Em sua agenda não havia lugar para novos amigos. Não planejava ficar tanto tempo para isso. Ela pegou velocidade e tentou tirá-lo da mente. Lembrou-se do aniversário de Sydney. Era este fim de semana e precisava garantir que finalmente pudesse enviar por e-mail seu presente. Fez uma apresentação de slides com as fotos dos bons tempos juntos, com todas as canções que tinham um significado especial para eles dois. Ela sabia que Sydney gostaria muito mais de receber este presente que qualquer outra coisa comprada. 17


Se não fosse por Sydney, não tinha ideia de como poderia ter sobrevivido no ano passado e agora, ela queria lhe mostrar seu agradecimento. Sydney significava o mundo para ela. Ao longo dos anos, tinham passado por muitas coisas, especialmente no ano passado, quando começou o pesadelo de sua mãe. Quando Sarah teve que ir morar com sua tia, ela e Sydney fizeram um pacto de ficarem sempre em contato. Até o momento, trocaram mensagens por correio e desde que os pais de Sydney se ofereceram para lhe dar um telefone com minutos ilimitados, podiam falar diariamente. Sem importar a distância, Sarah estava determinada a manter Sydney e a sua família, para sempre, em sua vida. Tia Norma não tinha ideia a respeito dos planos de Sarah. Em janeiro faria dezoito anos e uma vez que os tivesse, ninguém, nem sequer sua mãe poderia impedi-la de voltar ao Arizona. Ela tinha economizado dinheiro suficiente para pagar aos pais de Sydney para que lhe permitissem ficar com eles. Já tinha vários compromissos acordados para cuidar de crianças. Entre isso e a escola, não havia espaço para nenhuma vida social. Sarah mal podia esperar. O próprio pensamento a fazia sorrir. O semestre seguinte estaria correndo na equipe de atletismo de Flagstaff High School, onde ela pertencia e sua vida retornaria à normalidade. Levantou os olhos do chão enquanto descia das arquibancadas quando viu Jesse Strickland esperando-a lá abaixo, com os braços cruzados e sorrindo de orelha a orelha. Meu Deus e agora? Lutou contra si mesma para não parecer tão incomodada. Quando acabou de descer, Jesse estava na sua frente deliberadamente bloqueando seu 18


caminho. Quis lhe tirar um de seus fones de ouvido, mas lhe deteve a mão e ela mesma os tirou. — Sabe que dia é hoje? — Ele disse sorrindo ironicamente. — Não. Ele ficou olhando sem poder acreditar. — Valeria não te disse? Sarah negou com a cabeça, sem mostrar o menor interesse. Estava com calor e começava a suar. Sabia que em uns momentos mais, estaria empapada se não começasse a correr de novo. — Será que isto vai durar todo o dia? — Sarah disse a ele. — Estou na metade de minha corrida. — É meu aniversário. — Abriu os braços. — Estou aqui para coletar. Os olhos do Sarah se estreitaram e deu um passo para trás. — Coletar o que? Ele se aproximou mais, crescendo seu peito. — Bem, já que estamos aqui na escola, me conformarei com um abraço por agora. — Ele apoiou os braços e começou a rodear sua pequena cintura. Sarah lutou, tentando tirá-lo de cima. — Não te devo nada! 19


Obviamente surpreso, levantou uma sobrancelha e começou a aproximar-se novamente e forçar um abraço. — Ouça Sarah, fizemos muito mais que isto, o que te custa apenas um abraço? — Isso foi um engano e já faz muito tempo, assim supere! — Ela se esforçou para manter suas mãos, tomando-a por trás de sua cintura. Sentiu seu peso sobre dela, pesado no início, quando a empurrou contra a parede. De repente, do nada, esse peso desapareceu. Demorou alguns segundos para entender o que tinha acontecido. Percebeu que alguém o tinha tirado de cima dela e viu Jesse no chão de um lado das arquibancadas. Suas pernas falharam. Com uma mão, se apoiou no muro para não cair e a outra estava em seu peito sentindo como pulsava seu coração. Ali estava Angel.

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Capítulo Dois — Tem algum problema, imbecil? — perguntou Angel, com seu rosto a alguns centímetros de Jesse e com o antebraço sobre seu pescoço. Jesse tinha o rosto vermelho e lutava para poder falar: — Eu... eu apenas estava brincando co... com ela. Ainda segurando Jesse, Angel se virou para ver Sarah. Aí estava ela, com os olhos bem abertos e com sua mão sobre o peito. — Está bem? Sarah assentiu com a cabeça. — Estou. Angel virou para ver o rosto de Jesse que agora mostrava um tom vermelho escarlate escuro. Voltou a jogar sobre os degraus, batendo sua cabeça contra a lateral de madeira. — Porra, aprenda algumas maneiras! — disse ele. Já livre, Jesse caiu sobre um joelho tossindo e ofegante. Mais uma vez, Angel voltou-se para Sarah e caminhou em direção a ela. Ela ainda tinha sua mão sobre o peito e seus olhos estavam em Jesse, que 21


agora se levantou, ainda tossindo. Finalmente, olhou para Angel com esses olhos que começavam a atormentá-lo. Ele estava determinado a não permanecer em silêncio novamente. — Tem certeza de que está bem? — Lutou para não tirar um cabelo que tinha sobre seu rosto. Ela sorriu pela primeira vez. — Sim, obrigada — respondeu ela. — Não tinha que fazer isso. Só estava fingindo ser engraçado. Eu poderia dar conta. — Ele permaneceu em pé e pôs sua mão sobre a cintura dela. — Sim, certamente poderia. O que acontece é que perco a paciência com idiotas. Algumas pessoas perceberam o tumulto e passavam lentamente por lá, mas não o suficiente para chamar a atenção dos professores. Mais uma vez, ele se virou para ver como Jesse se retirava envergonhado, tossindo e esfregando o pescoço. — Ele ficará bem. Sarah deu de ombros e começaram a caminhar lentamente para o ginásio. Caminhando tão perto, lado a lado, Angel estava distraído quando suas mãos se tocaram por um segundo. Voltou a centrar-se em sua reação ao ver Jesse empurrar-se sobre ela. Era comum para ele tentar ajudar, mas na verdade, tinha passado do limite. Só deveria tê-lo empurrado. Em vez disso, na verdade, quis machucar Jesse. Ele olhou, estreitando os olhos. 22


— É seu amigo? Sarah voltou-se para ele mas imediatamente virou-se. — Não o chamaria precisamente assim. Angel apertou a mandíbula e se virou para frente. — O que significa isso? Ela voltou sua atenção para as líderes de torcida que agora começavam a vê-los, especialmente Dana. Angel estava alheio a elas, no momento, seus olhos estavam sobre Sarah. Finalmente ela o olhou. — Saímos uma vez faz muito tempo. — Saíram? Saía com ele? — Não exatamente. Ela não conseguia olhá-lo diretamente nos olhos e a frustração estava se tornando muito forte. Jesse era um dos piores imbecis que conhecia. Não podia imaginar envolvida com ele de nenhuma forma. Chegaram ao ginásio antes que ele pudesse insistir mais e ela o olhou fixamente. Ela colocou sua mão sobre seu braço e fez sua pele arrepiar. — Obrigada pelo que fez lá. Angel não conseguia parar de olhar em seus olhos.

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— Te vejo por aí. — Tirou a mão de seu braço e foi embora. O que? Isso é tudo? De maneira nenhuma ele ia permitir que fosse tão rápido. Ele pegou a mão dela quando ela se virou. Era uma mão pequena e suave, dentro de sua mão musculosa. Seu coração começou a pulsar a mil por hora. Ela se virou para ele. Ele tentou se concentrar em outra coisa que não fosse seus olhos, mas era impossível. — Você irá ao jogo desta sexta-feira? Ela o olhou fixamente por um momento e limpou garganta. — Não posso, estarei trabalhando. Alguns caras saíram da esquina e se dirigiram para eles. Ela puxou sua mão, no entanto, ele a segurou com força. Ele olhou para os caras e novamente olhou para trás. — Trabalhar? E até que horas? — Ainda não tenho certeza, vou cuidar de crianças, por isso depende do momento em que seus pais retornarem para casa. Ela puxou novamente sua mão, mas desta vez um pouco mais forte para permitir que Angel a soltasse e começou a caminhar afastando-se. Angel franziu a testa. — Bem, há uma festa mais tarde. Acha que pode ir se retornarem cedo? 24


Ela ficou na entrada dos vestiários quando se voltou para ele. — Talvez. — Despediu-se com a mão e desapareceu atrás da porta. Angel ficou parado, olhando a porta do vestiário. Isto era ridículo. Por que, de repente se encontrava tão mal? Então foi que se deu conta. Realmente nunca tinha pedido a uma garota que saísse com ele. Esta ironia lhe fez rir entre dentes. Nas festas sempre estava com alguém, dançava e logo terminava ficando com ela em qualquer lugar. Mesmo com as garotas com as quais esteve, nunca teve a intenção de convidá-las para sair. Agora que estava tentando, realmente foi horrível.

***

Sarah sentou em sua cama olhando o telefone. Já tinha um par de horas em casa e ainda não tinha contado nada a ninguém sobre o acontecido de hoje. Mal podia esperar para falar com Sydney. Ela já tinha lhe deixado duas mensagens e ainda não tinha retornado a chamada. Olhou o relógio. Esperava que Sydney a chamasse antes das sete. Essa era a hora em que sua mãe lhe ligava as quartas-feiras e só podiam falar por miseráveis quinze minutos. Sarah deu um salto quando o telefone tocou. Agarrou-o e o abriu. — Hey! 25


— Lynni? — Sydney sempre a chamava por seu segundo nome, dizia que ela, realmente, não se parecia com uma Sarah. — Sim, sou eu. — Você parece diferente — disse. — Não, apenas feliz por te escutar. — Quase estava enjoada. — Me escute, morro de vontade de falar com você. Nunca adivinhará o que aconteceu hoje. — De verdade? Me conte. Bom, Sydney soava tão emocionado quanto ela. Sarah se acomodou em sua cama. — Bem, lembra que te contei sobre Angel? — Quer dizer, o Angel? Muito entusiasmada, Sarah lhe contou como foi seu dia. Quando se referiu à festa, Sydney lhe perguntou: — Você vai? — Não, não posso, estarei trabalhando. — Não invente Lynni. Esta é sua oportunidade de se divertir. Não pode perdê-la! — Já tinha me comprometido — disse-lhe. — E os Salcido realmente me pagam bem. Além disso, não conheço ninguém exceto a Valeria. 26


— E Angel — lembrou Sydney. Sarah sorriu. Ai Deus, como queria que Syd estivesse aqui. Se ele fosse com ela, tudo seria perfeito. — Você não entende. Vi às garotas com as quais ele sai. São tão sofisticadas, populares e parecem tão bem. Levantou-se com o telefone na orelha e caminhou até onde estava o espelho. Pôs sua mão na cintura e sorriu amplamente, movendo as pestanas como faziam as garotas que tinha visto ao redor de Angel e imediatamente se sentiu estúpida. De algum jeito, seu busto tinha aumentado fazendo-a sentir mais sensual, mas não se sentia bem atuando como as outras garotas. Deu uma olhada em seu guardaroupas sem atrativo e estremeceu. De maneira nenhuma Angel se interessará nisto. — Quem se importa? Deixe-me te dizer algo Lynni. Surpreendeme que você mesma te faça menos. Garanto que ele morreria por ter uma oportunidade contigo. Então, é o Sr. Popular, o Sr. Atleta do ano, quem diabos se importa? Ultimamente você se olhou no espelho? — Sim! Precisamente estou fazendo isso agora. Queria que estivesse aqui para ver a classe de garotas com que sai. Assim saberia do que estou falando. — Não tenho que vê-las. Eu conheço você. Sarah suspirou e se deixou cair na cama. — De qualquer forma não importa, não vou ficar aqui por muito tempo, você se lembra? 27


— Outra vez está fazendo o mesmo, Sarah. — Podia ouvir a dor na voz do Sydney. — Fazendo o quê? — Mas ela sabia exatamente a que Sydney se referia. Antes de deixar o Arizona, os pais do Sydney se ofereceram para ficar com ela, de modo que pudesse terminar o ensino médio lá, mas sua mamãe se recusou. Insistiu que Sarah ficasse com alguém da família. Sarah argumentou que a família de Sydney era mais família para ela que sua tia Norma. Apenas a visitavam uma ou duas vezes ao ano. Além disso, ela se sentia muito próxima aos pais de Sydney. Todas as noites e festividades em que sua mamãe tinha que trabalhar, amavelmente eles tomavam conta dela como se fosse sua filha. Então, ela ficou destroçada quando sua mãe se negou e jurou que não sairia de seu quarto na casa da tia Norma, exceto para ir à escola. De modo que suas primeiras semanas na Califórnia, antes de começar a escola, passou-a em torno de sentir pena de si mesma. Sydney lhe tinha feito prometer que tiraria o melhor disso. Odiava a ideia de saber que ela andava por aí só e sentindo-se miserável. — Você se lembra? — Disse ele. — Você adorava o mar, Lynni. Era a única coisa que você falava quando retornava da visita a sua tia. Agora estará perto dele por vários meses. Fazendo-se forte, chegou a um ponto em que ameaçou não lhe ligar mais se não lhe prometesse tirar o melhor proveito disto. Então, ela prometeu. Começou a correr todos os dias na escola em vez de ir para casa. Prometeu tentar sair nos fins de semana quando tivesse 28


oportunidade. Até o momento, assegurou-se que todos seus fins de semana estivessem ocupados para ficar de babá. — Não é como se tivesse me convidado para sair, Syd. Só me perguntou se estaria lá. — Levantou-se e voltou a olhar-se no espelho e franziu o cenho. — Promete-me algo? Sarah vacilou: — O que? — Se te pedir para sair, diga que sim. Diabos! Se alguém te pedir para sair, diga que sim. — Syd, nem sequer posso falar quando está perto de mim. Com força posso dizer três ou quatro palavras juntas. E eu me fiz ridícula as primeiras vezes que me viu. Sério, não acredito que me peça para sair. — Você está vacilando, certo? Céus! Realmente você anda muito mal com respeito a ele, tanto que nem sequer tenta gostar. Sei! — Ele fez uma pausa. — Conte uma piada. — Ela o escutou rir e sabia por que. — Gosto de ver como pode não chegar na metade e já está morrendo de rir. Sarah começou a rir e se jogou sobre a cama. — Cale-se! Sydney ainda estava rindo. — Basta ser você mesma, Lynni, nada mais. 29


Ele estava certo sobre uma coisa. Ela realmente deu uma gargalhada. Embora, às vezes, pensava que ria muito. Ultimamente, o único que podia fazê-la rir era Sydney. Ele respirou fundo. — Tudo bem, se alguém me perguntar, prometo que farei. — Sarah não se preocupava muito por isso. — OH, exceto para Jesse. — Ah. Claro, é obvio. Sarah conheceu Jesse bem quando pôs seus olhos em Angel pela primeira vez, fazia dois verões. Uma das amigas da Valeria saía com um amigo do Jesse, assim saiu com eles. Sarah decidiu ir caminhar na praia com Jesse essa noite, longe de todos e se sentaram para conversar. Naquela época, nunca tinha beijado um menino, então, quando lhe pediu para beijá-la, ela o deixou. Antes de dar conta, as coisas começaram a acender, ela ficou com medo e o fez parar. Ele a chamou de provocadora e caminharam de volta onde estavam todos, em completo silêncio. Mais tarde, de volta ao Arizona, ele ligou para desculpar-se e ligava ocasionalmente desde então. Agora que estava nesta escola, havia se tornado uma peste: convidando-a a sair, interceptando-a nos armários e insistindo em caminhar com ela para aulas. Após o incidente de hoje, ela desejava que por fim a deixasse em paz. Ela estava falando com Sydney por cerca de uma hora quando Sarah escutou o clique da outra linha. Não podia saber quem era a pessoa que ligava, mas de qualquer modo já estava para terminar sua chamada com Sydney. Despediu-se e mudou para a outra linha. — Olá? 30


— Olá Sarah, sou a Sra. Salcido. Ouça querida, o Sr. Salcido vai trabalhar até tarde na sexta-feira à noite, por isso os planos foram cancelados. Não precisamos que cuide dos meninos hoje, mas que tal na próxima semana? Logo depois que desligou, ela sentou-se pensando se devia ou não ligar para Sydney. Não, não havia necessidade de lhe ligar. Sabia exatamente o que lhe diria. Recostou-se sobre seu travesseiro. Para que tanta confusão? Era apenas uma festa e ela já tinha ido a muitas. Colocou suas mãos, que ainda estava o telefone celular, sobre seu peito e ficou olhando para o teto. Podia fazer isso.

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Capítulo Três Eles ganharam o jogo e estavam de muito bom humor enquanto esperavam do lado de fora da festa. Eric estava sentado atrás do volante. Angel, que estava fora do carro, encostou-se na janela da porta. — Me passe uma garrafa de água. — Eric pegou uma mais fria e entregou para Angel. — Venham, vamos para dentro. — Romero esperava na metade da rua. Angel fez uma careta. Foi ótimo a forma que o jogo se desenvolveu, mas estava cansado e não estava de humor para festas. Não admitiria para ninguém, mas a única razão pela qual estava ali era para ver se tinha a oportunidade de ver Sarah. Esteve pensando nela desde o dia em que se falaram. Inferno! Esteve pensando nela durante toda a partida. Em cada oportunidade que teve, olhava para o público, aguentando os gritos irritados do treinador: — Cabeça no jogo! Que droga está errado com você Moreno? Não a tinha visto na partida, mas havia lhe dito que ia trabalhar. Ainda havia oportunidade de que viesse para a festa. Olhava para o outro lado da rua, para as luzes que vinham do DJ no pátio de atrás, ansiedade percorreu sua espinha. 32


— Está bem, me dê um segundo. — Bebeu um gole de água. — Só leve isso. — Disse Romero. — Já estou preparado para entrar em ação. Angel virou-se para Eric que deu de ombros. Tomou outro longo gole. —Está bem, estou preparado. Romero fez um par de vezes seu clássico movimento com a pélvis. —Vamos! Angel e Eric riram. Angel pegou o que restava de doze cervejas no banco de trás. — Você é um idiota. — Voltou a rir. Eles passaram pela entrada dos carros e viraram a esquina. Havia mais pessoas do que eles esperavam. Começaram a caminhar entre a multidão. Angel estava começando a dar uma olhada no lugar, quando a viu. Teve que olhar para ela algumas vezes já que quase não a reconheceu. No momento que deu a volta, se deu conta. De repente, algo nele se acendeu. Angel engoliu em seco. Seu cabelo longo chegava ao meio das costas. Era mais escuro do que lembrava e estava ondulado nas pontas. Suas calças jeans abraçavam seu corpo e usava uns saltos de tiras. Sua blusa preta amarrada em volta do pescoço não tinha costas, exceto pela parte de abaixo, que cobria delicadamente a parte baixa de suas costas. 33


Tomou uma cerveja e pôde sentir como pegajosa estavam suas mãos. Pelo amor de Deus, é apenas uma garota. Jogou uma maldição entre dentes. Intencionalmente se colocou em frente a Sarah. Tomou um gole de sua cerveja cuidando para não beber demais. Romero era um exemplo perfeito do que acontece quando se bebe muito e tudo que não queria, era lhe causar uma má impressão. Romero foi embora por um momento para conversar com algumas das garotas de sempre. Ele voltou para dizer que já tinha compromissos para depois da festa. Normalmente, Romero arrumava garotas para seus amigos, mas desta vez, nem Angel e nem Eric estavam interessados. Angel apenas balançou a cabeça e sorriu. Eric nem ouviu. Ele estava olhando para a multidão mas sem fixar-se em ninguém em especial. Romero franziu o cenho e deu um tapinha em Eric. — Ei você! O que disse? Eric disse rapidamente. — Perdão. Não, o que foi que disse? — Disse que Stacey e suas amigas estão prontas para mais tarde. Iremos para sobremesa, e... ouça! Aí está Natalie. — Ele piscou o olho. Eric e Natalie saíram regularmente no ano passado, mas não tanto quanto Angel e Dana. Eric balançou a cabeça. 34


— Eu passo, tenho que levantar cedo amanhã. Os olhos do Romero ficaram enormes. — Você vai deixar um traseiro, porque tem que levantar cedo? — Disse muito forte. — Se acalme — disse Eric olhando ao redor. — Estou aqui, não tem que gritar. Romero balançou a cabeça e se virou para Angel. — E você o quê? Tem que levantar cedo também? — Sim — disse Angel mentindo. — Mas Eric é quem me vai me levar, como vou fazer? Romero continuou balançando a cabeça. — Não posso acreditar, paciência comigo, verei o que posso fazer. Romero lançou a Eric um olhar de desgosto e pegou outra cerveja. Cambaleando um pouco, caminhou para as garotas. — Ouça irmão, Romero está se perdendo. — Eric virou-se para Angel. — Acho que sim. — Angel balançou a cabeça. Desajeitadamente, Romero passou os braços em torno de duas das garotas.

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— A quem está enganando? — Disse Eric. — Em uma hora vai estar inconsciente no banco de trás de meu carro. Como ele fica bêbado tão rápido? — Bebeu todo o caminho para cá e já sabe que não aguenta muito. — Disse Angel. Eles haviam começado a beber fazia um ano. Então, um dos caras do último ano quase se matou por dirigir embriagado, ficaram tão assustados que eles pararam. Agora, quando chegavam a beber, assim como agora, bebiam uma cerveja ocasionalmente e um deles era o condutor designado. Hoje, era a vez de Eric. Angel deixou de prestar atenção em Romero por uns segundos para virar para onde estava Sarah. Sarah tinha um copo na mão. Perguntou-se o que estaria bebendo. Pôde ouvir quando Romero chamou Eric. — Caralho irmão! Já está me chamando. — Eric olhou para o outro lado fingindo que não tinha escutado. — Mas é melhor você ir. Antes que seu traseiro alcoólico venha para cá e te arraste com ele. — Eu? E por que não você? — Não é por mim que está chamando — riu Angel. — Você vai ficar aqui sozinho? — Eric levantou a sobrancelha. — Não, há alguém aqui a quem quero cumprimentar. 36


Romero estava começando a gritar. Eric finalmente ignorou. Revisando a caixa das cervejas. — Aqui há mais quatro, quer uma? — Não, estou bem. — Angel levantou sua garrafa lhe mostrando que ainda tinha o bastante. Eric pegou a caixa e foi para onde estava Romero murmurando entre dentes. Quando ia para onde estava Sarah, Angel reconheceu à garota baixa de cabelo loiro que segurava uma garrafa de cerveja e que estava com ela, era a ex-namorada de seu companheiro de equipe, Reggie Lua. Conforme se aproximava de Sarah, pôde sentir seu pulso acelerando e seu estômago começava a se contorcer. Apesar de seus esforços para se acalmar, sentia-se totalmente nervoso. Isso o deixou louco. Caminhou por trás dela e se aproximou. Cheirava a céu: uma suave e deliciosa fragrância. Não dessas que lhe enjoam, como algumas das garotas com quem costumava andar. Ele queria colocar o braço ao redor de sua cintura e puxá-la para ele. Em lugar disso se abaixou e sussurrou. — Ei, você veio! Ela se virou e por pouco não entornou sua bebida. Sua atitude mudou de surpresa a agradada. — Oh sim, cancelaram. 37


Angel não podia acreditar o quão linda ela era. Se ficasse olhando toda a noite, não seria suficiente. — Por pouco eu não te reconheci com seu cabelo solto. — Seus olhos nunca a deixaram. Ela assentiu com a cabeça. — Sim, é muito comprido, especialmente quando estou correndo. Cobre meu rosto quase por completo. Angel queria todo esse cabelo sobre seu rosto. — De qualquer forma, é muito lindo. Deveria usá-lo assim na escola. Ela hesitou por um segundo. — Obrigada. — Pela segunda vez, ela evitou seu olhar. Apesar de não querer, decidiu mudar de assunto. Não queria que ela se sentisse desconfortável e cortasse a conversa. Não tinha a mínima intenção de deixa-la escapar desta vez. Olhou seu copo. — O que está bebendo? Timidamente sorriu. — Vinho. — Vinho? Ela riu.

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— Por que todos dizem a mesma coisa? De alguma forma, seu sorriso tinha um efeito calmante sobre ele. — Mas bebe em um copo? Não pode beber direto da garrafa? — Não é um cooler. — Sua expressão o desafiou. — Este é dos bons. Ela se virou para sua amiga e depois olhou seu copo. Ele estava quase vazio. — Na verdade, preciso de mais. Inclinou-se sobre um isopor de tamanho médio e tirou uma garrafa de vinho. — Não! — Angel pôs sua mão na boca sem poder acreditar. — Na verdade está louca. Vem a uma festa com uma garrafa de vinho em um isopor? Agora, Sarah na verdade estava rindo. Sua amiga ria com ela. Com carinho, acariciando sua garrafa. — Como você acha que poderia cuidar de minha preciosidade? Sua atitude era muito cordial, especialmente porque na escola se mostrava muito apreensiva. Talvez fosse o vinho. Sem importar o que fosse, adorou. Olhou-a conforme servia mais vinho em seu copo, notando o pouco que foi servido antes de parar. Retornou a garrafa a seu isopor e assinalou a sua amiga. — Ela também traz a sua. 39


Sua amiga ficou boquiaberta, como se Sarah a tivesse traído. Angel arqueou as sobrancelhas quase sem acreditar. — Você também? Mas você está bebendo cerveja. Não necessita um isopor. Sua amiga sorriu e acariciou sua garrafa. — Não posso beber cerveja se não está quase congelada. — Certo Angel, esta é Valéria, minha prima — disse Sarah. Angel assentiu com a cabeça. — Ah, sim, conheço a Valéria. Valéria abriu os olhos surpresa. — Certo — reconhecendo sua surpresa, contente de que Sarah mencionou seu nome. Não lembrava. — Ouçam, por que não colocam suas bebidas no mesmo isopor? Valéria fez um gesto com os olhos para Sarah. — Sarah não gosta que ninguém incomode a sua preciosidade. — Ela é muito frágil. — Sarah fingiu abraçar o copo. Balançando a cabeça, Angel colocou uma mão sobre dela. — Será que é? Ok, bem... agora tudo faz sentido. Sarah sorriu enquanto tomava outro gole de vinho. Valéria foi conversar com outra amiga. 40


Angel tomou seu último gole de cerveja e jogou a garrafa vazia em um cesto de lixo próximo. — Você já terminou? — Perguntou Sarah. — Sim, essa foi a última. — Olhe, aqui há mais. — Sarah se reclinou sobre o cooler de sua prima. Ele estava rindo como se estivesse espiando. — Vamos roubar uma da Valéria. Angel virou-se para ver se Valéria estava olhando. — Não, está tudo bem. Não quero tomar sua cerveja. Sarah balançou a cabeça. — Não vai acabar com tudo isto. Nunca bebemos e vamos acabar jogando fora mais tarde. — Jogar as cervejas fora? Estão loucas? — Bem, já que não podemos leva-las para casa. Minha tia nos matarias. — Ah... nesse caso me deixem contribuir com a causa. — Angel estendeu sua mão. Seu dedo tocou a mão dela quando ela passou a garrafa. Isso foi tudo o que necessitou para Angel acender. Suas mãos tremiam quando ele tomou um gole de sua cerveja. Todo o tempo ficou olhando para ela. Seus olhos eram tão grandes, seus cílios tão espessos e escuros, que

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tudo parecia em câmara lenta quando ela piscou. Suas vísceras queimavam, enquanto com dificuldade, tomava um gole de cerveja. — Então, está só? — Perguntou. Ele se virou ao redor. Devia estar. Se seguisse olhando-a tinha certeza de que iria assustá-la. — Não, meus amigos estão por aí em alguma parte. Acabamos de nos separar. — Ele virou de novo para ela. — E você, é apenas você e Valéria esta noite? Sarah bebeu novamente seu vinho. — Sim. Bem, vim aqui sozinha com Val, mas ficamos de nos encontrar com alguém mais tarde. Angel tomo outro gole de sua cerveja olhando de forma casual. —Meninos? — Não, algumas de suas amigas de fato não chegaram. É por isso que vim. A verdade é que eu não gosto deste tipo de festa, mas nenhuma de suas amigas poderia vir cedo, então me pediu que viesse com ela. Angel sorriu, incapaz de deixar de ver seus olhos. — Deverei lhe agradecer por isso. Então, onde você gostaria de ir? Ela sustentou um momento seu olhar e depois sorriu, fazendo as pernas de Angel enfraquecer. 42


— Eu adoro a praia — disse. — Acabo de chegar do Arizona há alguns meses, de modo que a praia é nova para mim. Poderia passar todas as noites assistindo o pôr-do-sol. Bem, não me entenda mal. O pôr-do-sol no Arizona é igualmente belo. É apenas a novidade do ar salgado e frio e assistir ao vivo as ondas quebrando e as aves... parpar. Angel fico confuso: — Parpar? Ela começou a rir. — Grasnar? Você sabe o que quis dizer! Céus, ela o estava fazendo tão bem, ele estava brincando, olhando para o céu. — Quase, eu quase pude ouvir as ondas arrebentar e todo o resto. Sarah ainda ria. Angel se perguntava se Sarah bebeu bastante vinho, mas mesmo assim, continuou brincando. Adorava ouvi-la rir. — Acredito que piar seria mais próximo, mas parpar? Sério? Sarah tampou a boca com a mão, mas isso não abafou sua risada. —Bom, mas eu achei o ponto, certo? — Basta dizer. O vento soprava no meu cabelo e o resto. Olhe. — Ele fez como se estivesse segurando o cabelo dela. — Para! — Gritou Sarah.

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Não conseguia parar de rir junto com ela. Era uma risada tão linda e tão contagiante. Na verdade, era muito refrescante. As outras garotas estariam muito ocupadas tentando ser sedutoras. Ela nem sequer precisava tentar isso. Poderia dizer que ser sedutora era a última palavra que passava pela cabeça de Sarah. Ela limpou os cantos dos olhos. Literalmente tinha rido a gargalhadas. — Será que borrei meu rímel? — Sarah arregalou seus olhos. Angel deu um passo para frente para poder ver melhor. Sua maquiagem estava manchada apenas um pouco no canto inferior de seu olho direito. — Não se mova. — Ele se inclinou mais perto. Cuidadosamente, com seu dedo mindinho ele limpou a parte inferior de seu olho. Estava tão perto de seu rosto que podia cheirar o vinho em seu hálito. Sarah, ele gostaria de irritá-la. — Se servisse seu copo completamente não teria por que servir tão seguido. — Ai! O que é tratar com gente sem instrução — disse brincando. — Isto não é cerveja Angel, se bebe em goles pequenos e se eu enchesse o copo, ao chegar na metade estaria morno. Eu não gosto de vinho morno. Entende? — Ai não, me chamou de sem instrução! — Claro que fiz.

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Angel deixou seu dedo indicador apontando na frente dela e ela começou a rir novamente. — Uma palavra. — Solta. — Tomou um gole de seu vinho. — Coff, coff!!! — Ela engasgou. Com a mão cobriu a boca tentando parar de cuspir o vinho e lhe deu as costas para que não visse o vinho escorrendo por sua boca. Depois virou-se de novo para ele e continuou rindo. — Tinha que mencioná-lo. — Limpou ao redor de seu pescoço. Seus olhos estavam fixos em suas mãos. — Sim, tive. — Engolindo em seco, Angel olhou enquanto ela limpava o vinho de sua blusa. — Posso te ajudar com isso. Ela olhou para ele, gesticulando com seus olhos. — Está bem assim. — Ela voltou sua atenção para a sua blusa e ele não conseguia parar de olhar. Ele ainda estava lá sem palavras quando sentiu um toque em seu ombro. Era Eric. — Ei amigo, você está pronto? Angel virou-se para Eric que estava segurando Romero. — Diabos, quão ruim está?

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Tinha seu copo frente a ela e sentiu ao ver como se esticava no momento em que seu corpo tocou sua mão. Olhou para o outro olho. — Seus olhos são incríveis — eu disse sem mover nem um passo para atrás. Seus olhos estavam paralisados por um momento e então, ligeiramente baixou o olhar. — Obrigada. Ela se virou e Angel viu como tomava um longo gole de seu vinho. Ele ficou surpreso de quanto lhe incomodavam seus cumprimentos. Com olhos assim, você pode pensar que estava acostumada com isso. Então, quebrou o silêncio como só ela podia. — Onde está minha preciosidade? — Disse em uma voz mimosa e se inclinou sobre seu isopor abrindo-o. Angel viu como se servia menos de um quarto de seu copo. Eric deu-lhe um olhar fulminante. Angel se virou para ver Sarah. — Ele é minha carona esta noite. Ela olhou para Eric segurando Romero e lhe deu uma risadinha. Angel poderia dizer que ela estava um pouco tonta pelo vinho. Ela parecia tão pequena, delicada e extremamente vulnerável. — Não vou. Onde está Valéria? Ela sorriu. — Vai. Estou bem. 46


Como o inferno. — Sim, está bem. Mas não vou sair até que Valéria retorne. A festa estava terminando e Valéria, quem levaria Sarah de volta, não estava por lá. Sarah tentou chama-la várias vezes por telefone celular, mas não completava a chamada. Angel pegou a mão de Sarah com uma mão e com a outra os isopores. — Vem, vamos procurar Valéria. Enquanto caminhavam pela festa, uma das amigas de Dana tentou detê-lo. — Ouça Angel, onde está Dana? — Arqueando suas sobrancelhas, deu uma olhada em Sarah. Angel ignorou-a, continuou caminhando. — Dana é sua namorada? — Sentiu como Sarah quis soltar sua mão, mas pressionou um pouco mais. Angel apertou seus lábios por um momento. — Não. Eric estava fora e parecia um pouco chateado. Angel sabia como Romero ficava quando estava bêbado e toda a noite, Eric tinha cuidado dele sozinho, então ele entendia sua irritação. — O aconteceu cara, já está pronto para ir? — Perguntou Eric. Angel segurou a mão de Sarah. Olhou para Eric se desculpando. 47


— Dê-me um segundo. Ela precisa encontrar a sua amiga. Sarah estava chamando novamente Valéria em seu celular mas ela não respondia. Quando chegaram ao carro, ela o olhou. — Não posso deixar Valéria. — Está bem. — Ele veio em sua direção para tirá-la da passagem dos carros que estavam circulando depois da festa. Ela se inclinou sobre ele e ele pôs o braço ao redor de sua cintura. Angel revistou seu rosto sorrindo gentilmente. — Como se sente? Ela sorriu, olhando finalmente em seus olhos. — Melhor. Ele reuniu toda a sua força de vontade para não segurá-la e beijála, mas pelo menos, queria que acontecesse hoje à noite, Sarah irá subtrair a importância amanhã e vai culpar o vinho. Ele virou-se para ver como Eric acomodava Romero no banco da frente. Romero estava inconsciente. Angel se aproximou dele. — Bem, apresento a você o meu amigo Romero. Sarah riu. — Esse é seu nome verdadeiro? — Bem, é seu sobrenome. Seu nome é Ramón, mas não gosta. Eric se aproximou caminhando e se encostou no carro perto de Angel e Sarah. Ele parecia exausto. Sarah inclinou sua cabeça no ombro de Angel. 48


— Ouça — disse Angel olhando para Eric. — Ela é Sarah. Sarah este é meu amigo Eric. Sarah levantou a cabeça o suficiente para dizer olá. Angel sabia que Eric pensava que esta era apenas outra garota, Sarah saiu do ombro de Angel e se encostou no carro, mas ainda estava com as mãos nas mãos de Angel. —Onde estará? — Se perguntou Sarah. Todos olhavam a entrada dos carros na casa onde tinha sido a festa. Ainda havia pessoas saindo e ficando do lado de fora, em frente da casa. Um dos carros parou e alguém desceu dele. Era Jesse Strickland. O carro que o tinha trazido, passou por onde estavam eles e seguiu seu caminho. A princípio Sarah não o viu, mas quando se deu conta de que estava lá, endireitou-se. Angel notou e seus músculos se esticaram. — Algo está errado? — Podemos ir? — Sarah ficou olhando Jesse. Jesse passou correndo para o pátio. Eric e Angel trocaram olhares. — E Valéria? — Perguntou Angel. — Voltaremos por ela. — Disse Sarah — é só que não quero estar aqui neste momento. Angel olhou por um segundo. 49


— Tem certeza? Baixou sua mão para pegar os isopores. Sarah voltou a ligar para Valéria. Por alguma razão, Jesse deixava Sarah nervosa, o que Angel não gostou. Ele agarrou os isopores e os jogou no porta-malas, depois acompanhou Sarah para que entrasse no carro. Sentou-se ao lado dela e imediatamente pegou sua mão. Eric olhou pelo retrovisor. — Vamos deixar este pacote primeiro — disse Eric, referindo-se a Romero. — Então, se quiser me leva e fica com o carro. Amanhã de manhã vou buscá-lo. Angel sorriu. Agora se sentia aliviado de ter tomado apenas duas cervejas. Mesmo porque, não estava preparado para despedir-se de Sarah. Sempre podia contar com a compreensão de Eric.

***

Os minutos passaram enquanto ela se sentou no banco do passageiro, o coração batendo, esperando que Valéria atendesse o telefone. — Olá? — Valéria? — Sarah, estava preocupada, onde está?

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— Estou com Angel. Acabamos de deixar seu amigo. Está indo para casa? — Casa? Ainda é cedo. Vamos a outra festa. Quer que vá buscala? —Perguntou Valéria. — Não, acredito que estou bem por agora. — Ai Deus, você e Angel vão ter um momento? — Perguntou Valéria. Só o pensamento do que Valéria quis dizer ter um momento fez o coração de Sarah bater mais forte. Ela mordeu o lábio. — Não estou certa — ela disse. — Eu te ligo mais tarde para dizer onde nos encontraremos. — Está aí a seu lado? — Perguntou Valéria em voz baixa como se ele pudesse ouvir. Sarah riu. — Não, está lá fora com seu amigo. Eu estou no carro. — Deve sair com ele, Sarah, para que me conte tudo o que aconteceu. Sarah riu nervosa, seu rosto de repente ficou quente. — Valéria! — Disse — mal o conheço. — Ele é ótimo. Que mais precisa saber?

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O corpo do Sarah começou a pegar fogo. Valéria não estava ajudando em nada com o estresse que sentia. — Preciso desligar. Ele está vindo para cá — disse mentindo. — Okey, okey, adeus. Quando se tratava de caras, Valéria era muito diferente de Sarah. Valéria tinha fobia de compromissos. Teve uma relação séria em uma ocasião e dizia que isso a sufocava. Ela poderia ir com quem quer que fosse sem pensar duas vezes. Sarah não pensava menos de Valéria por desfrutar de sua liberdade. Simplesmente não podia entender como Valéria podia desprender-se de suas emoções assim. Para Sarah, unicamente as mãos tocando significavam inevitavelmente envolver sentimentos. Não era algo que ela pudesse fazer sem sentir nada. Só pensar que Angel pudesse beijá-la hoje à noite a deixava em caos. Estudou os caras que estavam do lado de fora, cara a cara. Eric era um pouco menor que Angel. Seu cabelo era mais claro e mais encaracolado. Não tinha a bela aparência de Angel, mas tinha sua própria e era tão agradável que isso o fazia atraente. Esteve os observando enquanto ajudavam Romero a descer do carro, realmente preocupados que chegasse em casa em segurança. Embora o faziam morrendo de rir e brincando, era óbvio que eram bons amigos. Angel retornou ao carro. Aquele sorriso era irreal. Sentou-se no banco para não parecer um saco de batatas, mas seu próprio sorriso era 52


tão grande que era difícil de conter. Ela conversou com ele a maior parte da noite e estavam indo muito bem. Exceto por ter cuspido o vinho e sua tentativa miserável para aprofundar a respeito de sua devoção pela praia, conseguiu manter seu constrangimento ao mínimo. Por que agora estava difícil respirar? Sarah respirou fundo enquanto ele abria a porta e entrava no carro. Seus olhos imediatamente caíram sobre ela, fazendo mingau de seu interior. — Está com fome? Exalou e assentiu com a cabeça. — Que bom, porque estou morrendo de fome. — Estava fora na rua. Passaram por um restaurante self-service e foram para a praia enquanto comiam no carro. Depois de dirigir por uma estrada sinuosa colina acima, chegaram a um impasse e estacionaram. A lua brilhava e o mar chegava tão longe como ela podia ver. Estavam bem acima do nível do mar e a vista era incrível. Impressionada, Sarah olhou pela janela. Seus pensamentos estavam confusos com o toque do telefone e ficou quieta. Tinha ideia de quem podia ser e não queria responder. Um olhar no identificador de chamadas confirmou sua suspeita. Jesse. Angel estava encarando-a. — Você vai responder?

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Sarah negou com a cabeça. Ao olhar Angel com suas sobrancelhas filhas, virou a cabeça mordendo o lábio. Seu telefone tocou pela última vez. — Onde estamos? — Sarah virou-se para ele. Sarah saiu, ele a alcançou e pegou sua mão. Ela colocou a mão na dele e caminharam até o precipício. Havia um caminho de pedras através da parte de trás das casas que estavam em frente ao oceano. Chegaram à beira da estrada onde tinha uma cerca de ferro forjado. Ela olhou para baixo enquanto caminhavam ao longo da cerca e pôde ver as ondas batendo contra as rochas. Quando viraram a esquina, viram como a estrada se estreitava através da colina. Havia bancos e gramados para se sentar com flores tropicais e um caminho interminável de palmeiras. Sarah viu tudo com espanto. Ela se virou para ele encantada. — Eu adoro isso — sussurrou. — Este é meu lugar favorito. — Posso ver por que. — Ela estava perto da cerca e ficou olhando o oceano. As luzes de um par de navios e de alguns veleiros ainda estavam acesas e brilhantes. Angel estava atrás dela e agarrou o corrimão de ferro envolvendo-a entre seus braços. O calor de seu corpo em suas costas fez se sentir bem, especialmente porque o tempo estava esfriando. Seu rosto caiu em seu ombro, perto de sua orelha e Sarah sentiu quando inalou profundamente. Ele fechou os olhos e sentiu um

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formigamento por todo seu corpo. Sarah não poderia acreditar que estava aqui, fazendo isto e com ele. — Você cheira bem — disse Angel. — Obrigada. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos com a respiração ao lado de sua têmpora. Finalmente Angel falou. — Posso te perguntar algo? Seu tom a pôs um pouco nervosa. — Claro. Angel se separou ligeiramente de seu ombro. — Por que quis sair com tanta pressa no momento em que viu Jesse? Sarah ficou tensa. Por Deus, já tinha esquecido isso. Essa é a última coisa da qual queria falar nesse momento. Jesse poderia ser um verdadeiro incômodo quando estava sóbrio. Valéria tinha contado que quando estava bêbado era ainda pior e Sarah tinha a suspeita de que esteve bebendo hoje. Teve medo de que houvesse outro confronto entre ele e Angel. — Às vezes ele pode ser muito desagradável. É tudo. Angel pôs suas mãos na cerca sobre as dela. — No outro dia disse que tinha saído com ele. O que você quis dizer? 55


Sarah apertou seus olhos por um segundo. Porra. Não queria contar nada disso a ele. Por que não lhe disse que sim quando lhe perguntou se Jesse era um amigo? A verdade é que não tinha pensado em conversar de novo com Angel. E nem tanto. — Foi há muito tempo. — Ela pensou tê-lo sentido tomar ar e depois Angel ficou calado. — O que aconteceu há muito tempo? Sarah estava se preparando, não sabia o que ele sentiria a respeito dela depois que lhe contasse. Mas isso era parte do passado, então o que é que isso importa? Ela se virou mas ele não a deixou separar-se da cerca, de modo que ela estava em seus braços, para conversar. Seus olhos estavam mais escuros. Ele olhou diretamente à sua frente, esperando por ela. — Realmente nada — disse Sarah. — Eu o conheci há alguns verões atrás quando viemos visitar a minha tia e saímos uma noite. — Foi seu namorado? — Os olhos de Angel olhavam fixamente os dela. Sarah negou com a cabeça. — Não. — Continuou a vê-lo? — Não, ele continua insistindo em sairmos, mas não estou interessada. — Que bom — disse Angel. — É um idiota. 56


Surpresa, as sobrancelhas do Sarah se arquearam. — Você o conhece? Com ousadia, Angel pôs uma expressão de desgosto em seu rosto. —Fomos a escola desde que éramos crianças, mas nunca gostei dele. Sempre foi um verdadeiro bastardo. Nunca pensei que podia ser pior, não até agora. Valéria sempre tinha insistido em quão intenso eram os irmãos Moreno. Ela tinha dito a Sarah quão protecionistas eram com sua irmã mais nova. Sarah sentiu esta proteção quando não quis deixa-la sozinha na festa, mas isto era diferente. Ela podia sentir algo, uma intensidade que nunca tinha sentido em alguém mais. Isto a fez sentir-se nervosa, seu estômago se apertou, mas de uma forma estranha e lhe agradou. — Posso pensar que já que está comigo aqui, não tem um namorado? O coração pulou até a garganta e balançou lentamente a cabeça. — Não, não tenho. Ela estava em um sonho. Tinha que ser isso. Na verdade, acabava de perguntar se tinha namorado? Será que realmente isso importava para Angel? Tirou suas mãos da cerca e colocou em sua cintura. Com seu coração batendo contra seu peito, engoliu em seco e se perguntou, se acaso Angel podia ouvir seus batimentos. 57


— Posso te beijar? — Sussurrou ele. Assentiu com a cabeça, pois não podia nem pensar. Seus lábios estavam nos dela. Eram suaves e quentes. O explorou pouco a pouco e suavemente sua boca. Ele puxou-a pela cintura um pouco mais para ele com um braço e com sua outra mão tocou seu rosto. Com uma carícia suave como seda, sua mão foi por trás de seu pescoço aproximando-a ainda mais perto dele. Seu corpo era maior e mais forte em comparação com o dela. Sua língua era veloz e pressionou sobre ela, chupando seus lábios e língua. Ela tinha sido beijada antes, mas não desta forma, nunca com tanta paixão. Era demais. Sarah sentiu quando ele a apertou contra sua coxa e entrou em pânico. Afastou-se e o escutou gemer, enterrando seu rosto em seu cabelo. Acariciando suas costas uma vez mais, Sarah podia sentir sua respiração pesada conforme ela se afastava dele suavemente. Virou para cima bem no momento que abria os olhos. — Podemos sentar? Meus pés doem. Angel respirou fundo algumas vezes antes de responder. — Claro — e virou para ver seus sapatos — Esqueci... São lindos. Eu gosto. Caminharam até um banco de pedra que era parte de um enorme suporte de vasos de pedras com uma palmeira no meio. Ela se sentou e

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Angel fez um gesto para que se movesse mais para trás. Ela o fez e ele se sentou a seu lado, virando para que Sarah ficasse de frente para ele. — Se encoste. — Ele levantou suas pernas as pondo em seu colo, muito perto do vinco de suas calças. Com os olhos bem abertos ficou olhando por um segundo perguntando o que tinha planejado. Viu quando ele tirava seus sapatos e quando ia protestar, seus dedos fortes começaram a massagear seus doloridos pés. — Mmm, isso está tão bom. — E deixou que sua cabeça fosse totalmente para trás. Ela se perguntava se fazia isto também com as outras garotas e se a todas elas tinha dado esse beijo que paralisava o coração. Levantou sua cabeça e viu como os olhos dele praticamente a devoravam. — Seus pés são tão pequenos. Ele virou-se para seus pés e moveu todos seus dedos e depois voltou a ver os dele. Eles eram enormes. Começou a rir. — Bom, comparados com os meus, os seus são muito pequenos. — Sua expressão não mudou. — Adoro seu sorriso. Esse sorriso desapareceu em reação a seu comentário. — Obrigada, eu também eu gosto do seu. De fato, foi uma das primeiras coisas que notei em você. Pela curiosidade, suas sobrancelhas se arquearam. — De verdade? Esta noite? 59


— Oh não — disse ela. — Dois verões atrás, quando te vi pela primeira vez. Agora sim ele estava interessado. — Me viu a dois verões atrás? — Sim, o mesmo verão que saí com Jesse. — Droga, por que havia retornado esse tema? Ele olhou pata ela, franzindo a testa ligeiramente. — Saiu com ele e não comigo? — Disse para incomodá-la. — Ele me pediu e você não. Uma espécie de decepção atravessou seu rosto. — Sinto muito. Não me lembro de alguma vez tê-la visto. Sarah sorriu. — Não se preocupe. Estou acostumada a ser um pouco invisível. Angel se mostrou um pouco chateado. — Você é tudo menos invisível. — Ele parou por um momento e depois, como se tivesse lembrado de algo — Então, você diz que é do Arizona. Por que se mudou para cá? Sarah

se

endireitou

um

pouco, sentindo-se

subitamente

desconfortável. Ela não estava preparada para discutir sua situação. Já que não estava em seus planos fazer amigos, nunca pensou estar em

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uma situação em que tivesse que explicar nada a ninguém, especialmente a Angel Moreno. — Não me mudei exatamente para cá. Isto é apenas temporário. — Verdade? Até quando? — Estou aqui apenas por um semestre e depois retornarei a Flagstaff para terminar meu último ano do colegial. — Virei-me para ver e em seguida, desviei o olhar, desejando que falasse de outra coisa. Ele continuou insistindo. — Então, por que está aqui para este semestre? Ela nunca foi boa em mentir, de modo que preparar algo mais complicado não era dela. Se ele chegasse a lhe perguntar em outra ocasião, certamente esqueceria o que foi que disse e faria uma grande bagunça. Mesmo uma versão pequena da verdade era desconfortável. Virou-se para ver o mar já que não queria ver sua expressão quando lhe contasse. — É uma história muito longa. — Temos tempo — disse ele. Sarah ficou em silêncio por um momento. — Minha mãe tem alguns problemas que precisam ser arrumados e por agora devo ficar com minha tia. Os pais do meu melhor amigo ofereceram-se para que ficasse com eles para que pudesse terminar o ensino médio em minha escola, mas minha mãe não quis, por isso é

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que estou aqui. Mas uma vez que completar dezoito anos neste inverno, não poderá impedir que retorne. Ele a olhou, cheio de perguntas e ela rezava para que nenhuma delas fosse a respeito de sua mãe. Realmente, não tinha vontade de discutir essa parte de sua vida com ele, com ninguém. — Sua tia sabe a respeito de seus planos? — Não. Não disse. Sei que não vai querer que faça, mas além de minha mãe, Sydney e seus pais são o mais próximo a uma família que tive. Tenho que voltar. Sydney está me esperando. — Levantou seu queixo um pouco mais para cima. Sarah notou a atenção de Angel quando estava falando, como se não quisesse perder nenhuma palavra. — Além disso, nunca fui muito próxima a minha tia. Começamos a visita-la faz um par de anos atrás quando ela e minha mãe voltaram a se falar de novo. Desde então, tínhamos lhes feito uma ou duas visitas por ano. — Ela moveu sua cabeça, olhando para longe. — Devo estar em Flagstaff. É aonde pertenço. A expressão de Angel tinha mudado. Não podia dizer, mas ele realmente parecia preocupado ou talvez era outra coisa. Maldita seja, a última coisa que queria era inspirar piedade, de ninguém e muito menos dele. Por isso é que estava decidida a economizar. Enquanto a família de Sydney tinha oferecido para que Sarah ficasse com eles sem pagar, ela se recusou por completo. Se ia ficar com eles, teria que pagar.

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— E o que vai acontecer uma vez que acabe a escola? Estará de novo com sua mãe? Sarah manteve seu queixo para cima. — Não. Trabalharei e irei à escola. Os pais de Sydney me disseram que posso ficar com eles tanto quanto necessário e tão logo possa conseguir um lugar para mim, mudarei. Sua aparência não mudou. Agora parecia mais intenso e seus lábios estavam muito apertados. — Bom, sinto muito por isso. O coração do Sarah transbordou. Ela sabia. Ele sentiu pena dela. Ela retirou seus pés abruptamente e se sentou, surpreendendo Angel. Começou a colocar seus sapatos. — Pode ser que nem todos tenhamos um bom começo, mas o que conta é como termina. Angel parecia confuso. — O que? Do que está falando? Terminou de colocar seus sapatos e ficou de pé. De um salto, ele ficou em frente a ela. — Qual o problema? O que eu disse? — Ele procurou seu olhar. Sarah o olhou fixamente. — Minha vida não é tão ruim. Claro que, comparada com a sua, pode ser, mas não necessito todos... 63


Angel pôs o dedo em sua boca. — Pare, não quis dizer isso. Ela tentou se afastar, mas Angel deslizou sua grande mão na dela. Ela parou, mas ficou na frente dele, firme, inabalável. Ele ficou pensativo e pôs seu braço ao redor de sua cintura. — Me escute. O que quis dizer é que sinto muito que queira ir. Na verdade, estou gostando de estar com você e agora me diz que é só temporariamente? Tem toda a razão, é obvio que sinto muito. Sarah o olhou para ele sem dizer uma só palavra e se sentiu um pouco boba por ter exagerado. — Oh. Angel sorriu. — Céus, como se colocou rápido contra mim! — Sinto muito — sussurrou. — Eu só... Seus lábios estavam nos dela novamente. Ela se permitiu sentir mais de seus beijos e depois obrigou-se a conter-se antes de que as coisas aquecessem de novo. Estava ficando tarde e devia encontrar-se com Valéria em algum lugar, para que chegassem juntas em casa. Encontraram-se com Valéria no estacionamento de uma conveniência perto da casa de sua tia. Havia mais pessoas da escola. Valéria e suas amigas estavam paradas perto de seu carro.

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As amigas da Valéria ficaram boquiabertas ao ver que Angel estava levando Sarah. Sarah esperava que ele a deixasse ir na forma mais discreta possível e saísse. Em vez disso, ele saiu do carro e foi até onde estavam Valéria e suas amigas, levando-a todo o tempo pela mão. Quando se despediu, puxou-a para um lado, mas à vista de todos e deu um desses beijos que paravam as batidas de seu coração.

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Capítulo Quatro Angel resmungou conforme a música do rádio de sua irmã passava pela porta aberta de seu quarto. Estava tendo o melhor de seus sonhos com Sarah. Era tão real: seus formosos olhos, seus lábios, inclusive podia saboreá-los. Quem sabe quão longe teria chegado nesse sonho. Franziu o cenho escutando a música que interrompeu suas fantasias. Sua irmã Sofia tinha somente dezesseis anos, mas recentemente havia redescoberto Beatles e colocava sua música em cada oportunidade. E pior, o secador de cabelo estava ligado. Seu humor mudou imediatamente quando recordou todos os eventos acontecidos na noite anterior. Ficou deitado pensando em tudo o que tinha passado. Sorriu entre dentes ao pensar no pouco esforço que fez para baixar a guarda de Sarah. Tudo o que agora sentia era muito inesperado. Mais que nada, queria lhe perguntar a respeito de sua mãe, mas era óbvio que Sarah não queria falar dela, por que uma mãe deixaria uma filha com outra pessoa, simples assim? Que tipo de problemas arrumou? Tudo no olhar triste de Sarah disse que ela tinha passado por muita coisa e sentia por ela. Porra, isso é uma merda. Ao longo da semana só queria falar com ela, para conhecê-la um pouco. Mas depois de ontem à noite, logo depois que ela foi embora, queria muito mais. Sentou-se e sacudiu a 66


cabeça. Não se preocuparia com isso agora. Um fato era, os planos de Sarah não estavam gravados em pedra. Entre hoje e amanhã, algo poderia acontecer. Ela podia mudar de opinião. Viu que ainda eram 8:30 da manhã. Decidiu que era muito cedo para ligar e resolveu tomar um banho e descer. Eric já estava lá, sentado na cozinha e conversando com Sofia. Seus pais saíram cedo para abrir o restaurante e Sofia tinha preparado o café da manhã. Eric levantou a vista de seu prato para ver Angel e sorriu com cumplicidade. — Como foi ontem à noite? — Foi bem. — Angel caminhou para a Sofia e lhe deu um beijo na testa. Viu o prato de ovos com bacons de Eric e logo viu Sofia. — Ficou algo para mim ou comeu tudo? — Sofia pôs os olhos em branco. — Há suficiente para todos. Angel caminhou para o refrigerador olhando o relógio. Eram pouco mais das nove, suficientemente bom. Tirou o suco de laranja do refrigerador e se serviu um copo. Caminhou perto da mesa onde tinha deixado as chaves do carro de Eric e seu telefone celular, pegou e lançou as chaves a Eric. — Obrigado irmão. Eric apanhou as chaves no ar, movendo a cabeça. — Chegou tarde ontem à noite? — Perguntou com malícia. Indo para a porta de atrás, Angel lhes disse que voltaria rápido. 67


Fora, viu o número do celular de Sarah em seu telefone. Ela o programou ontem à noite antes que ele a deixasse. E só de ver seu nome, Sarah Lynn, estremeceu. Respirou fundo e pressionou o botão para ligar. Soou várias vezes e depois Sarah respondeu. — Olá Angel. — Seu tom alegre lhe fez sorrir. — Estava na outra linha, me deixe desligar. — Não, está bem. Ligo mais tarde. — Não, é Sydney. Já falamos por um momento. Estava a ponto de desligar, me espere, okey? — Está bem. Desligou a outra linha. Eram apenas nove e ela já estava falando no telefone desde que horas? Não brincou quando disse que esta era uma amizade muito próxima. Pensou e perguntou se ele se sentiria da mesma forma em sua situação. Eric e Romero eram seus melhores amigos mas não podia imaginar ser assim tão próximo com esse par de tolos, tanto que morrera de vontade por estar com eles. Bom, as garotas também eram diferentes em suas relações. Além disso não era só isso, pensou, a situação de Sarah era muito diferente. Sentou em uma das cadeiras do pátio e logo escutou o clique na linha. — Angel? — Sarah. — Me desculpe. 68


— Está bem. Conversando tão cedo? — Ah sim, Sydney é como um pássaro madrugador. De fato, sua ligação me acordou. — Ah, é como minha irmã. Sua maldita música me acordou esta manhã. Está cansada? — Mesmo duvidando perguntou. — Tem planos para hoje? — Não por agora, mas na noite sim. Angel sentiu seu rosto queimar. — Ah? — Irei trabalhar — disse. — Sou babá para uns vizinhos aqui. Exalou devagar. — Então, que hora passo para te pegar? — Posso estar pronta em uma hora. Em sua vida, nunca havia sentido essa ansiedade para ver alguém. — Bom, está bem. Te ligo em uma hora para que me diga como chegar. Quando desligou, retornou à cozinha aonde estavam rindo Eric e Sofia. Angel se surpreendeu de vê-lo ainda ali. Recordou que Eric lhe disse que devia levantar cedo. Foi para o fogão e pegou um pedaço de bacon da frigideira. 69


— Não tinha que fazer algo hoje cedo? — Encostou em um dos móveis da cozinha em frente a Eric. Eric sorriu. — Está tentando se livrar de mim? — Não, mas me lembro que disse a Romero que não queria sair por aí com aquelas garotas porque tinha que levantar cedo hoje. Eric esclareceu sua garganta e com um guardanapo limpou sua boca. — Bom, o que imagina que estou fazendo aqui tão cedo? Já fui resolver meu assunto e depois vim para cá pegar meu automóvel. — Preciso ir me trocar. Prometi a mamãe que chegaria cedo ao restaurante. — Sofia colocou os pratos na lava louça, a ligou e saiu da cozinha. Angel fez uma careta. — Porque tão cedo Sofi? — Tenho que estar em um lugar daqui a pouco. — Posso leva-la — disse Eric. Angel virou-se para ele. — Tem certeza? — Sim claro, de qualquer forma, tenho que sair. Quero ir para academia. Talvez coma um burrito enquanto estou por lá. 70


— Não me demoro! — Gritou Sofia enquanto subia correndo as escadas. Angel ficou vendo o prato de Eric. — Cara! Acabou de comer. — Sim, por isso é que tenho que fazer exercício. — Eric deu um tapinha em seu estômago. Angel sacudiu a cabeça. Virou para pegar um prato no armário e esvaziou o resto dos ovos com bacons nele. — Então, o que aconteceu ontem à noite? Pegou? — Eric levantou uma sobrancelha. Angel tinha a boca cheia e não pôde responder rapidamente. Depois de mastigar um par de vezes, negou com a cabeça. Não era do tipo que beijava e falava, inclusive quando se tratava das garotas que não lhe importavam e ele sabia que Eric não era dos que contava as coisas a todo mundo. Mas, com Sarah, quis ser especialmente discreto. — O que? — Eric riu entre dentes. — Não vai me contar? Te dispensou? — Não, não me dispensou. — Angel zombou. — Só conversamos. Foi tudo. Eric riu ainda mais. — Está perdendo o toque? Pela forma que a olhava, pensei que com certeza teria que lavar com mangueira o banco de trás. 71


— Como a estava olhando? — Como se quisesse devorá-la, assim que a olhava. Angel fingiu esquecer, mas sabia exatamente o que Eric queria dizer, já que era exatamente o que havia sentido. Eric insistiu. — Anda, irmão, não posso acreditar que só conversaram. Angel apertou os olhos — Não, cara, não é como está pensando. Não é por isso que saí com ela. — O quê? — Eric sacudiu sua cabeça. — E agora, Angel Moreno se dedica a conversar com as garotas? Desde quando virou veado? Angel encolheu de ombros e continuou comendo. Evitava olhar Eric e no momento, não estava seguro de querer falar disso. — Não sei cara. A verdade é que acredito que é bem legal passar o tempo assim com ela. Eric assentiu como se tivesse entendido. — Então, você não gostou? Pareceu que estava muito bom. — Claro que eu gostei, idiota, só que não quis fazer mais na primeira noite. Você sabe que nem todas as garotas são assim. Eric sorriu.

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— De modo que sim, ela te dispensou. Angel lhe jogou um olhar enquanto bebia de seu suco. — Bom, não tem nenhum sentido. Ou fez ou não fez. Qual é o problema? — Não há nenhum problema. — Angel não sabia porquê, mas estava frustrado. — Eu dei um beijo de despedida, se isso for o que quer saber. Mas conversamos o resto do tempo. — E descobriu o que há entre ela e Jesse? Angel desejou ter sido um pouco mais duro com Jesse no outro dia. — Faz tempo que saiu com ela e já sabe quão estúpido é Jesse. Não pode deixa-la em paz. — Na verdade, saiu com esse idiota? — Eric falou com a boca cheia. — Sim, não me fale nada. — Foi isso que pensei. — Angel devorou completamente o prato de seu café da manhã e logo o pôs na pia. Deu uma olhada ao relógio. — Devo terminar de me arrumar. — Aonde vai? — Tenho uma entrevista — disse Angel, mas evitou olhar diretamente para Eric. 73


No início Eric ficou confuso e abriu totalmente a boca e os olhos, tampou a boca com a mão. — Não! — Antes de que pudesse fazer dizer mais, Angel o fulminou com o olhar. — Não se atreva a dizer nenhuma palavra — advertiu-lhe. — Tampouco diga nada ao Romero. Não preciso escutar suas merdas na segunda-feira. Eric sorriu de orelha a orelha. — Cale-se — disse Angel, saindo da cozinha. — Eu não vou dizer nada — protestou Eric, morrendo de rir. — Aha, mas está pensando. — Angel pôde ouvir as risadas de Eric, inclusive ao subir pelas escadas, e só pôde sorrir.

***

Sarah não podia recordar quando foi a última vez que se sentiu tão viva. Sob o jato de água quente correndo por seu corpo, pensava em Angel enquanto se enxaguava e sorriu. Todo o ano passado foi um inferno e os dois meses anteriores foram ainda pior sem Sydney, quem a resgatava de seus temores a cada

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momento. Mas agora se sentia feliz. Assustada um pouco. Ainda estava consciente de que este era Angel, o Angel que tanto tinha ouvido falar. Mas ele dizia que queria conhece-la um pouco mais. Soava muito sincero e seus beijos, por Deus, esses beijos... só de pensar neles a fazia estremecer. A ligação de Sydney a acordou bem depois das sete e falaram até que Angel ligou. Sabia que ela tinha saído ontem à noite pela primeira vez que chegou e estava ansioso por saber como tinha ido. Sarah lhe contou tudo, sem deixar fora nenhum detalhe, especialmente os beijos. Sydney não estava nada surpreso que Angel se interessou por Sarah e estava feliz de ouvi-la tão emocionada, mas lhe advertiu que tomasse cuidado. Saiu do chuveiro e se vestiu. Retornou ao banheiro para secar o cabelo e foi até Valéria, que ainda estava de pijamas, uma camiseta enorme e shorts de basquete. — Aonde vai tão cedo? As bochechas do Sarah avermelharam. — Angel vem me buscar. — Tratou de não mostrar um grande sorriso. O queixo de Valéria caiu e seus olhos se abriram totalmente. — Vem de verdade? — Sarah assentiu, sorrindo timidamente. Agarrou o secador de cabelo e voltou para seu quarto com Valéria atrás. 75


— Ai meu Deus, que sorte! Foi quem te ligou esta manhã? Sarah parou em sua cama e a olhou através de sua bolsa. Não queria dar uma grande importância a isto. Quanto mais importância dava, mais duro ia ser se Angel a quisesse só para esta semana. Só de pensar causou um pouco de dor. Entretanto, sabia que havia essa possibilidade. — Não, era Sydney — respondeu. — Angel ligou enquanto estava falando com ele. Valéria revirou os olhos. Sarah sabia o que Valéria pensava de Sydney. Nunca o conheceu, mas não entendia sua amizade. — Não tem jeito, este garoto está apaixonado por você, lhe disse milhares de vezes. Sarah também sabia que Valéria ressentia o fato de que ela tivesse preferido, literalmente tinha suplicado, para ficar no Flagstaff com ele e com sua família, ao invés de viver com Valéria e sua tia. Inclusive agora, ela falava mais com ele e estava mais perto dele, do que jamais esteve com ela. Valéria subiu à cama. — Vai contar a Angel a respeito de Sydney? — Já contei. — Ela omitiu a parte em que Angel se referiu a Sydney como uma garota esta manhã e o fato de que não o corrigiu. As sobrancelhas de Valéria se arquearam pela surpresa. — De verdade? E o que disse? 76


Sarah fez uma careta. — Valéria, saímos uma noite. Honestamente, acredita que me importo? — Digo que os homens são territoriais. Sarah deu de ombros. — Bom, territoriais ou não, não sou sua noiva. — Bom — interrompeu Valéria. — Veremos o que pensa de Sydney uma vez que vocês formalizarem. Sarah sentiu como se algo entrasse em seu peito. Pensou em como Angel chegou diretamente ao tema de Jesse quando estiveram na praia e em como ficou com o rosto petrificado ao saber que tinha saído com ele. Mas, Sydney era completamente diferente. Ele teria que entender. — O que te faz pensar que podemos formalizar? Você mesma disse que ele nunca teria uma namorada. Para que iria querer uma agora? Essa era uma resposta quase retórica. Nem sequer queria saber a resposta. Valéria estava arruinando tudo. Era muito cedo para se preocupar com o que Angel pensaria a respeito de sua relação com Sydney. Teria tempo de pensar quando fosse necessário. Angel tinha assumido que Syd era mulher. Mas ela não o corrigiu. Cruzaria essa 77


ponte quando chegasse o momento. Por agora, não tinha certeza do que fazer. Valéria se acomodou na cabeceira — Foi a forma em que esteve contigo ontem à noite, Sarah. Jamais o tinha visto atuar daquela maneira. Nunca tinha demonstrado afeto em público. Mas ontem à noite, foi muito óbvio que queria que todo mundo visse que estava com ele. — Sarah tratou de ocultar sua alegria. — Só estou dizendo — continuou Valéria. — Se você fosse como eu, não importaria. Se fosse, desejaria má sorte e deixaria ir. Mas você não é como eu. É doce, pequena e sensível, Sarah. E minha querida senhorita, também me dei conta de como o olhava. Já está louca por ele. Assim, a menos que queira ter problemas, deve começar a te desprender de sua eterna devoção ao Sydney. As mariposas no estômago do Sarah se alvoroçaram, ameaçando se converterem em um verdadeiro furacão. Sarah voltou para pegar sua bolsa, olhando de lado para Valéria. Em silêncio, se maquiou. Realmente, quase não se maquiava, por isso não tomou muito tempo. Estava a ponto de responder o comentário da Valéria quando seu telefone tocou, fazendo-a saltar. Valéria sorriu com entusiasmo. — É ele? Sarah olhou o identificador de chamadas e assentiu. Valéria voou da cama e ficou ao lado de Sarah, encostada para ver se ouvia algo. Sarah a olhou e sorriu. Abriu o telefone e respondeu. Sarah lhe dava instruções com Valéria colada ao seu lado todo o tempo. Quando desligou, Valéria gemeu. 78


— Deus, até soava quente. Juro que tem muita sorte! Sarah tomou como algo normal, mas o alvoroço em seu estômago estava fora de controle. Logo teria tempo para assimilar o que tinha acontecido na noite anterior e agora, Angel não demoraria para chegar e pegá-la. Sorriu para Valéria e parou para terminar de se arrumar. Deixou sua tia a par de seus planos e juntou suas coisas e sua bolsa. Angel conduzia um Mustang branco. Parecia um modelo antigo, mas mesmo assim, parecia bom. Olhou pela janela e viu como descia do automóvel. Vestia uns jeans escuros e uma camiseta de gola redonda que lhe pegava perfeitamente ao peito. — Já vou! — Gritou a ninguém em particular e saiu para encontrar-se com ele.

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Capítulo Cinco Angel tinha dado apenas alguns passos para a porta quando a viu sair. Imediatamente começou a sorrir. Ela estava vestida de forma casual, entretanto, tinha o mesmo incrível atrativo da noite anterior quando estava arrumada e de alguma forma, estava ainda melhor. Seus olhos pareciam brilhar conforme descia os degraus da varanda. Encontrou com ele na metade do caminho entre a varanda e o carro. Ele a pegou pelas mãos. Definitivamente podia acostumar-se à suavidade da mão dela na sua. Queria beijar, mas sentia um incômodo em fazer bem em frente da sua casa. Entretanto, não foi o suficientemente forte para aguentar a vontade de abraçá-la, de modo que a abraçou fortemente. Apertou, sentindo seu cabelo em seu rosto e respirando todo seu aroma. Sem desejar, deixou de abraçá-la, liberando-a. Sua mão continuou segurando a dela. Olhando para a porta, perguntou: — Devo entrar? Os olhos de Sarah se abriram surpresa e sacudiu rapidamente a cabeça. — Ai não, não é necessário.

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Angel se perguntou se ela estava envergonhada ou estava ocultando algo. Entretanto, não deu importância e caminharam para o carro. Uma vez que estavam no caminho, foi impossível tirar as mãos de cima. Foi pior que a noite anterior, possivelmente porque o carro de Eric era veloz. Seu carro era automático, de modo que tinha a mão livre para poder mover e assim o fez. Sempre que podia lhe acariciava o rosto, a perna, seus dedos. Em duas ocasiões pegou a mão levando para sua boca e a beijou. Que diabos estava acontecendo com ele? Tinha que se controlar antes de assustá-la. Embora parecia que não se importava, já que sorria enquanto acariciava sua mão. Queria convidá-la para sair e lhe mostrar como aproveitar bem o momento. Mas isso ia ter que esperar outro dia. Hoje não tinha vontade de ir a nenhum lugar movimentado. Só tinha uma coisa em mente, bom, além de abraçá-la e beijá-la. Queria falar com ela, conhecê-la mais, sobretudo saber mais dessa tolice de querer ir embora. O mais importante, ele esperava que hoje pudessem chegar a uma espécie de entendimento. Sabia que não estava bom, mas depois de ontem à noite, não podia ficar bem se ela tivesse a liberdade de sair com qualquer outro garoto, pelo menos enquanto ele estivesse saindo com ela. E tinha planos de estar com ela em cada oportunidade que tivesse. Sabia que havia um risco, mas não se arriscaria em não ter nada de concreto e abrir a possibilidade dela sair com outro. Só de pensar apertou a mandíbula. Na noite anterior, tinha posto refrescos no cooler de Sarah e fizeram uma parada no delivery para comprar uns sanduíches. Chegaram até o Monte Solidão, a área do Parque Estatal. Tinha muitas 81


pistas para ciclistas e para caminhada, mas realmente era famoso por suas enormes cavernas fabricadas pelo homem. Dava para o oceano e tinha umas das vistas mais espetaculares. Tinha certeza de que Sarah ficaria encantada. Angel esteve lá muitas vezes com seus amigos e com seus irmãos, conhecia bem o lugar. Voltava para andar de bicicleta. Planejou que o dia de hoje fosse uma visita mais tranquila. Pela janela, Sarah estava admirando as incríveis vistas. — Meu Deus, este lugar é melhor que o escarpado de ontem à noite. Não pensei que algo assim fosse possível. Ela tinha razão. Sem importar quantas vezes viesse a este lugar, era tão inverossímil como a primeira vez. Viu a si mesmo e logo voltou a ver Sarah. Seu corpo sentia que o momento se aproximava, o momento de tê-la entre seus braços de novo. Em todo o caminho a segurou pela mão, apertando suavemente. Escolheu uma das áreas de piquenique mais privadas. O parque não estava tão movimentado. À exceção de um ou outro ciclista que passava por aí, na realidade, tinham praticamente toda essa área para eles dois. Angel tirou o cooler e um cobertor do porta-malas. Sarah se dirigiu para uma das mesas que estava sob um grande pavilhão de madeira. Mas Angel negou com a cabeça e a levou para uma área aberta debaixo de uma árvore. — Por aqui — disse sorridente. Os olhos do Sarah expressaram surpresa, mas sorrindo, o seguiu. Acomodaram a manta sobre a grama e colocaram ali o cooler. Mal 82


acabaram de sentar quando Angel começou a beijá-la, de um modo suave e doce a princípio. Depois a recostou sobre a manta e ele se acomodou sobre seu cotovelo ao lado dela. Sustentou sua cabeça com uma mão enquanto a outra começou a percorrer seu corpo por cima de sua roupa. Passou sua mão por cima de seu ventre e logo pela parte externa da coxa. Angel estava completamente excitado e se deu conta de que Sarah podia senti-lo. Mordeu brandamente o lábio inferior e começou a beijar o queixo. Ela parecia muito bem. Elevou um pouco a cabeça de Sarah e invadiu o seu pescoço, beijando, sugando e mordendo brandamente. — Angel — sussurrou em Sarah. Ele gemeu enquanto continuava beijando e chupando seu pescoço, desejando que estivessem em algum lugar mais privado. — Angel. — Podia sentir sua respiração acelerada. Chupou seu pescoço pela última vez e ficou olhando conforme se retirou sorrindo, satisfeito ao ver que tinha conseguido lhe fazer uma pequena mas notória mancha avermelhada bem debaixo da orelha. Ao olhá-la novamente, não pôde evitar de beijá-la pela última vez. Quando pôr fim pôde ser capaz de sair de cima, estava sobre seu cotovelo e ficou olhando os lábios rosados e molhados de Sarah jogando com sua mão. Estava a ponto de lhe dizer quão perfeito sentia tê-la ali a seu lado quando ela o surpreendeu com uma confissão inesperada. — Sou virgem. 83


Angel a olhou fixamente por um momento sem estar seguro de como responder. A ideia de ser o primeiro lhe sacudiu cada nervo de seu corpo, fazendo com que seus músculos se esticassem. Sarah, ao perceber que não respondeu imediatamente, reagrupou-se e se separou dele. — Espera, espera. — E a alcançou. Ela afastou sua mão de seu alcance. — Só quis te dizer, para que não pense que sou uma provocadora, se as coisas não chegarem tão longe como está esperando. Agrupou-se, acomodando outra vez com rapidez junto a ela. Mas antes que Angel pudesse responder, Sarah acrescentou: — Não estou preparada para algo assim, especialmente com tudo o que estou passando nestes momentos. Maldita seja, sentia-se como um estúpido perseguidor, nada melhor que Jesse. — Está bem, Sarah. — Acariciou a bochecha. — Sinto que fui muito intenso. Normalmente não sou assim. Não sei o que é, mas não consigo me controlar quando estou perto de ti. Ela parecia estar um pouco envergonhada e mordeu o lábio inferior. — Sinto da mesma forma quando estou perto de você. Passou o braço abraçando-a e a beijou na cabeça. Com esse cabelo suave em sua cara e seu aroma sedutor, deu medo de voltar a 84


acender como tinha feito. Distanciou e lhe deu uma olhada a seu relógio. Já era quase meio-dia. — Está com fome? — Estou morrendo de fome, não tomei o café da manhã. Angel franziu o cenho. — Deveria ter me dito. — Pegou o cooler. — Não me deu chance — e começou a rir. Adorava ver seu sorriso. — ok, ok. — O sarcasmo a fez rir ainda mais. Sentaram-se com as pernas cruzadas e comeram em silencio por alguns minutos. Embora não fez um grande intento, não podia deixar de olhar para Sarah. Até gostava da forma como ela comia, agarrando com seus dedos os pedacinhos do sanduíche em lugar de lhe dar uma mordida. Comia devagar e elegantemente. Logo chegou na metade quando ele mordeu seu último pedaço. Tocou o telefone de Angel e ao procurar no bolso se deu conta de que tinha deixado no carro. — Tenho que atender. Pode ser minha mamãe. — Deu um salto, ficou de pé e se encaminhou ao carro.

***

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Sarah ficou olhando enquanto caminhava para o carro. Uma vez no carro, se inclinou pela janela e pegou seu telefone. Colocou seu sanduíche sobre o painel e pôs sua mão sobre sua frente, deixando aí por um momento. Sacudiu sua cabeça. Sou virgem. Santo Deus, logo no primeiro encontro. Estavam em um parque a plena luz do dia. Realmente pensou que podia saltar em cima? Sua idiotice não tinha fim? Angel vinha de volta falando no telefone. Desligou antes de aproximar o suficiente para poder ouvi-lo. Sentou-se de novo junto a ela e pegou seu sanduíche. — Sinto muito. — Sentou em frente a ela. — Pensei que podia ser minha mãe. Há ocasiões em que há tanto trabalho no restaurante durante o fim de semana, que necessitam de minha ajuda, mesmo que não me peça. — Que classe de restaurante têm? — Ela já sabia. Valéria tinha falado a respeito dos Moreno. Mas queria tocar em um tema mais seguro. Algum que não fosse delicado. Sacudiu a cabeça e limpou a boca. — É um restaurante mexicano. Está no bulevar, A Jolla. Vou te levar quando tivermos um pouco mais de tempo. Terminou seu sanduíche e pôs o envoltório na bolsa de plástico em que vinha. Olhou o sanduíche de Sarah e viu que estava na metade. — Pensei que estava morrendo de fome. Vendo seu sanduíche disse: 86


— É que como devagar. — Tinha perdido o apetite logo depois de sua estúpida confissão, mas mentiu, de modo que pudessem deixar esse tema esquecido. Coisa que funcionou. Angel se recostou sobre seus cotovelos e a olhou com curiosidade. — Então. — Sarah se preparou, pondo um pedaço de sanduíche em sua boca. — Disse que seu aniversário era no inverno, em que dia? Graças a Deus. Passou seu bocado com um gole de refresco e o olhou. — Em primeiro de janeiro. Sou um bebê de ano novo. — De verdade? — Disse Angel, arqueando as sobrancelhas. — Então nós temos uma diferença de poucas semanas. Meu aniversário é 20 de dezembro. — Sério? — Sem pensar, Sarah soltou uma maldição — merda! Viu o olhar confuso do rosto de Angel. — Perdão mas isso me recordou algo — explicou. — Hoje é o aniversário de Sydney. Falamos durante um longo momento e não disse feliz aniversário. Sinto-me terrível. Angel deu de ombros. — Ligue depois. — Pegou seu telefone celular de sua calça e o passou. — Toma. Aqui a recepção é bastante boa. 87


— Não — respondeu um pouco apressada. — Chamarei quando chegar em casa. — De maneira nenhuma ia chamar Sydney deste seu telefone, não queria que seu número ficasse gravado no telefone de Angel. — Chame — sustentou o telefone diante dela. — Não me importo, de verdade. Se estiver chateada porque não lembrou, ficará feliz por chamar ela o mais breve que pôde. Ela... Ela... Sarah sentiu como se seu estômago estivesse revolvido. Nunca em sua vida tinha sido mentirosa e não gostava da ideia de que estava mentindo. Ela nunca disse que Sydney era mulher, mas agora sentia como se isto fosse uma grande mentira. Ela devia lhe dizer. Realmente devia, mas não podia. Não agora. Teria que ser em uma ocasião melhor. — Tem razão. — Pegou sua bolsa. — Mas usarei meu telefone, já tenho seu número programado. — Tirou rapidamente seu telefone. Olhou e engoliu saliva enquanto ligava. Ela se alegrou de estar sentada frente a ele e não a seu lado. Ele não podia ouvir a voz de Sydney. Mesmo assim, ela foi um pouco para trás, fingindo tirar migalhas da roupa enquanto escutava o telefone chamar. — Lynni? Escutar a voz do Sydney só a deixou mais tensa. Pressionou ainda mais o telefone contra sua orelha para assegurar de que Angel não o escutasse. O sorriso no rosto de Angel deixou sua voz soando com mais remorsos conforme falava.

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— Sydney — franziu o cenho — sinto muito por não ter te desejado parabéns quando falamos hoje pela manhã. Pôde ouvir Sydney rir. — Não se preocupe — disse — nem sequer tinha acordado, até que entrei na cozinha e minha mamãe já tinha tudo cheio de bolões e demais coisas. Demos uma boa festinha hoje na manhã. — Oh! — De repente se sentiu afligida com a emoção. Os pais de Sydney sempre foram assim, inclusive com ela. Recordou um par de anos atrás quando sua mãe se foi a Las Vegas para Ano Novo, deixando-a com os Maricopa. Celebraram a véspera de Ano Novo comendo pizza, jogando dominó, apostando e vendo filmes de terror. Logo no Ano Novo, Frances, a mãe de Sydney, a surpreendeu ao levantar-se cedo e lhe preparar um banquete de panquecas, toicinho, salsichas e ovos, com uns deliciosos croissants feitos em casa. Inclusive, tinha enfeitado com guirlandas e balões. Tudo isto, só para Sarah. Nunca havia se sentido tão especial. Chorou o tempo todo enquanto cantavam Feliz aniversário. Ainda agora, pôde sentir como enchiam seus olhos de lágrimas. Olhou para Angel. Olhava com curiosidade. Deu-se conta que nunca tinha tirado os olhos de cima. Pestanejou com força para recuperar a compostura. — Está bem Lynni? — Sim, sim. — Clareou sua garganta.

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— Só estava imaginando isso. Soa incrível Syd. Adoraria estar contigo para comemorar. — Está aqui — disse brandamente Sydney. — O que? — Tenho aqui a apresentação que me mandou. Comecei a vê-la, mas com frequência me deixa com um nó na garganta e a fechei, no momento, voltei a tentar. Sentiu confortada e sorriu. — Sim, tem que vê-la. Está bem — disse Sarah. Voltou a olhar para Angel quem seguia olhando. Não havia sequer pestanejado. — Ouça, tenho que desligar, mas te ligarei mais tarde para que me diga como passou o dia, ok? — Te amo Lynni. Seus olhos ainda estavam em Angel. Não pode lhe responder como queria e encolheu o coração. Por anos disse a Sydney o muito que o amava. Era algo natural. Inclusive disse a seus pais que o amava. Mas não podia agora, não em frente a Angel. Era só questão de tempo antes de que ele se inteirasse e isto seria um pouco mais difícil de explicar. — Eu também — sussurrou. — Te ligo mais tarde, está bem? Uma vez que desligou, Angel sorriu carinhosamente. 90


— Céus. Quanta emoção e tudo isso por ter esquecido? Sarah ficou tensa. Nunca deveria ter ligado para Sydney na frente de Angel. — Não. — Sentia vontade de dar um golpe nela mesma. — Esta manhã, a mãe de Sydney lhe preparou um grande café da manhã de aniversário e me veio a mente as lembranças de quando ela me fez o mesmo faz alguns anos. Isso é tudo. — Vem cá. — Sorrindo, deu a mão. — Prometo que vou me controlar. Inclinou frente a ele, se colocando em seu cotovelo e sorriu. Angel girou sobre um de seus ombros e, ao tê-la frente a frente, respirou fundo. — Sarah, espero que isto não soe muito louco, mas eu gosto muito de você. — Fez uma pausa para beijar seus dedos. — Isto é louco. Acabo de te conhecer, mas sinto que poderia passar cada minuto contigo se me permitisse. Sarah ficou olhando, tragando saliva com dificuldade. Seu coração transbordava. Estava sonhando? Não queria nem pestanejar, tinha medo de que tudo desaparecesse. Angel não esperou que respondesse. Em lugar disso, começou a olhá-la. — Ontem à noite você me disse que não tinha namorado. Sei que é muito cedo para isso. Não sabe nada a respeito de mim. Também sei que não tenho direito a te perguntar isto, mas — fez uma pausa —

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Disse que vai ficar aqui por pouco tempo, seria muito se te pedir que tenhamos um acordo? — Um acordo? — Sarah tinha a sensação de saber aonde ele queria chegar, mas já não queria seguir fazendo-a de boba por mais tempo. Queria clareza absoluta. Clareando sua garganta, era óbvio que Angel se sentia incômodo. — Quero dizer, concorda em sermos exclusivos um para o outro enquanto está aqui? — Sarah não podia acreditar. Olhou para frente, mas não para ele, sacudiu a cabeça inconscientemente, tratando de digerir tudo isto. Quando se centrou de novo nele, a expressão de Angel tinha mudado. — Isso é um não? Sarah moveu ainda mais forte sua cabeça. — Não. Angel se recompôs rapidamente. — Está saindo com alguém? — Sua voz era quase um sussurro. Antes que pudesse dizer ou fazer algo estúpido novamente, Sarah endireitou para olhá-lo e falou bem de frente. — Também gosto de você. Nem sequer posso começar a te dizer quanto. Ontem à noite foi a primeira noite em que saí desde que cheguei aqui. Passou um longo tempo que não ria tanto assim.

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A expressão de Sarah se tornou mais séria. Sua seguinte declaração foi arriscada, mas sentia que era necessária. — Não tenho nenhum problema com não sair com ninguém mais, Angel, mas sei tudo sobre ti, seus irmãos e seus amigos. Não sei se você pode manter sua parte deste trato. O que não quero é sair machucada. Os olhos de Angel se apertaram igual a seus lábios, inclinou-se para frente e falou com um pouco de aflição. — Acha que me conhece, mas não tem nem ideia, portanto vou deixar os achismos neste momento. Mas se te disser que vou ser só teu, falo sério. Por mais que Sarah quisesse acreditar, estava aterrorizada. Havia tantas promessas não cumpridas em sua vida, tantas decepções. Não podia suportar outra. Angel deve ter visto a expressão em seu rosto. — Sarah, não estou mentindo — disse seriamente. — Pode perguntar a qualquer um que me conheça. Se houver algo com o que pode contar é com minha palavra. A punhalada que sentiu no estômago foi dilaceradora. Como podia estar sentada ali e ser tão hipócrita quando ela mesma não estava exatamente vendo o futuro? Sorriu fracamente e decidiu, nesse mesmo momento, que devia se permitir ser feliz, muito feliz, pela primeira vez em muito tempo. E depois sorriu de orelha a orelha. — Está bem.

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Angel ficou olhando sem compreender. Então, como se tivesse sido golpeado, sorriu ao mesmo tempo que ela. Pôs sua mão detrás de seu pescoço e a puxou suavemente para ele. Gemeu enquanto seus lábios se encontravam aos de Sarah e de novo a puxou para seu lado.

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Capítulo Seis No domingo, novamente, Angel pegou Sarah cedo e tomaram o café da manhã em um pequeno restaurante fast food. Sentaram-se do mesmo lado na cabine. Angel se deu por vencido em tentar se conter. Acariciava-a e beijava em cada oportunidade que surgia. Inclusive quando chegou sua comida, não pôde tirar suas mãos de cima dela. Entre mordidas, lhe mordiscava a orelha e lhe dava um beijo interminável. Sarah protestou sussurrando. — Tem gente olhando. Angel parecia rir de Sarah, realmente estava desfrutando mais do que queria admitir. Depois de tomar o café da manhã, Angel perguntou se havia algum lugar em particular que queria ir, desejando que ela escolhesse algum lugar que lhe permitisse desfrutar dela em privado. Mas com pesar, disse que nunca esteve no Bairro Velho de San Diego e que sabia que era a menos de meia hora dali dirigindo. Angel franziu o cenho. — Não quero ir lá. Sarah fez biquinho provocando um sorriso em Angel. — Valeria me disse que é uma visita obrigatória. Fez um movimento com os olhos enquanto punha o último pedaço de salsicha em sua boca. 95


— Claro que disse. É uma garota que não há outra coisa a fazer mais do que ir às compras. — Não está certo, eu li que também há muito de história para ver — disse rapidamente. — E além disso a comida mexicana é sensacional. Angel sorriu e lhe deu um beijo no nariz. — Está bem, o que queira, mas ao se tratar de comida mexicana, conheço algo melhor. Passaram o resto do dia no Bairro Velho. Pegaram um bonde que os levou aos pontos mais interessantes. O resto do tempo caminharam, conversaram e riram. A risada de Sarah era contagiosa, e de repente se deu conta que ele também passou sorrindo e rindo com ela o dia todo. Para Angel era incrível a maneira que se sentia confortável com ela e quão rápido isso aconteceu. Quando chegaram à área principal para compras, Angel tinha algo em mente. Estava procurando algo especial para Sarah. Queria algo especial que lhe fizesse recordar seu primeiro encontro. Entraram em uma das lojas. Angel ficou nos balcões de exposições dos mostruários, depois de um momento, tudo o que tinha visto ou estava muito barato ou muito comum. Foi para onde estava Sarah. Ela via umas tartaruguinhas que tinham as cabeças móveis. Angel encostou nas cabeças para que se movesse. — Você gosta? — Fazendo uma careta. 96


— São lindas. — Minha irmã tem um montão delas. Desde que suas amigas souberam que gostava, começaram a comprar mais. Agora, as coleciona. — Angel riu. — Lembro que uma vez algum idiota levou para o restaurante uma para ela. Alex, meu irmão lhe quebrou a cabeça. Sarah ficou olhando de modo estranho. — Por que fez isso? Angel seguia rindo. Pegou duas tartarugas para sua irmã e virou para Sarah. — Minha irmã só tinha quinze anos. Não era só muito nova para ter namorado, o cara tinha dezoito. O que este idiota pensou que ia acontecer? Viu quando Sarah enrugou o nariz e enrugou seus olhos. Começava a adorar todas suas expressões. — Talvez era só um amigo. Angel sorriu. — Até acredito. — O que quer dizer? — Quero dizer que não pode haver uma simples amizade entre garotos e garotas. — Angel seguiu caminhando pelo corredor sem

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encontrar nada que lhe chamasse a atenção, parou ao ver que Sarah não se moveu. — Aconteceu algo? — Nada. — Caminhou para ele. — Sério? Acredita mesmo nisso? — Acredita no quê? — Que garotos e garotas não podem ser só amigos. Angel deixou de ver todas as coisas das prateleiras e voltou sua atenção para Sarah. — Claro, você não? — Não. Penso que é possível sim. — Sério? — Levantou uma sobrancelha. — Tem muitos amigos homens, Sarah? Sarah esclareceu sua garganta e voltou a ver os suvenires na prateleira. — Não muitos, mas tenho alguns. — É mesmo? — E aproximando-se por detrás a abraçando pela cintura. Começou a falar no ouvido. — Vai me dar alguns nomes para que eu comece a chutar seus traseiros? Sentiu como Sarah ficou rígida entre seus braços e sorriu. — Relaxe, só estou brincando. 98


Já teve esta mesma conversa com outras garotas. Todas pensavam que qualquer garoto que as cumprimentassem ou lhes enviasse uma mensagem estúpida por telefone era seu amigo. Angel não se referia a isso. Sabia que isso era discutível. Mas não tinha a intenção de discutir com Sarah em seu primeiro encontro. Deu um beijo na sua bochecha e pareceu que ela voltou a animar-se. Sarah não fez nenhum comentário, em lugar disso pegou dois brincos. Angel os viu por cima de seu ombro enquanto ela os examinava. Tinham um aspecto delicado, ficavam pendurados nas orelhas, não eram pequenos. A pedra que os enfeitava brilhava e era lisa. — É uma pérola? — Parece. — Você gosta? — E a beijou sobre a têmpora. — Sim, são lindos. — Levantou-os para vê-los contra a luz e Angel pegou. — Vendidos. — Soltou-a e foi direto à caixa pagar. Sarah foi atrás dele. — Não Angel, está bem. Não quis dizer... — São teus agora. — Voltou-se e piscou com um olho. Ao sair da loja, Angel ajudou. Ela olhou para ele com aquela pequena ruga em seus olhos. — Como são? 99


— Perfeitos — disse e a encheu de beijos. Angel esteve com sua família muitas vezes no Bairro Antigo, mas nunca passou tão bem como nesta ocasião. Desfrutou de cada minuto. Lhe ocorreu que não importava aonde fossem ou o que fizessem, sempre que Sarah estivesse com ele. Inclusive, poderiam ser bons momentos mesmo se estivessem vendo um filme para garotas. Estremeceu, não imaginava o que os meninos iam dizer quando soubessem. Viu como Sarah se encostava nele. Sua cabeça descansava sobre seu peito e seu braço a rodeava enquanto sentavam na parte de atrás do bonde. Nesse momento, realmente, não importava o que ninguém pensava. Depois de só um fim de semana com ela, sabia que estava louco de amor. Não havia maneira de esconder. Isto o preocupava um pouco. Nunca esteve apaixonado, mas agora estava próximo de estar. Muito perto. Algo lhe incomodava. Inclusive, todas as risadas, algo seguia lhe incomodando e seus intentos de bloqueá-lo eram em vão. Estarei aqui só por um semestre. Apertou os olhos e a sustentou com força. Faria ela mudar de ideia. Tinha que fazer. Desceram do bonde e foram rumo ao estacionamento para seu carro. Mesmo com tudo o que beliscaram por aí, Angel tinha fome. Como se lesse sua mente, Sarah apertou sua mão. — Estou morrendo de fome. — Disse. Virou para olhá-lo. — Quer comida mexicana? — Perguntou. Sorriu amplamente e assentiu com a cabeça.

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Estacionaram em uma pequena rua pitoresca, muito perto da avenida principal. O letreiro do restaurante dizia MORENOS'S. Sentiu que o estômago revirava e se perguntou se seus pais e irmãos estariam lá. No que estava pensando? Isto era muito cedo. Não estava preparada para isto, mas não queria ferir seus sentimentos. Segurou-a pela mão conforme entravam em restaurante. Era muito maior do que parecia de fora. Angel fez parecer como algo insignificante, mas ela sabia de antemão como era. Valéria falou sobre isto e havia lhe dito que era um restaurante muito agradável. Ainda com o que Valéria lhe havia dito, não estava preparada para isto. Era algo, menos insignificante. Imediatamente chamaram a atenção os tetos altos e os enormes candelabros redondos de metal, os quais tinham pequenas luzes vermelhas por todos os lados. Havia uns arcos espetaculares por todos lados e estavam decoradas como se fossem antigas e em algumas seções podiam ver tijolos aparecendo no muro, como as casas antigas que tinham visto no Bairro Antigo. A anfitriã na entrada, uma garota jovem e bonita com grandes cílios e olhos cor café, estava ocupada falando com um dos garçons quando eles entraram. Seu uniforme ajustava à perfeição deixando ressaltar seu volumoso busto. Seu cabelo escuro estava arrumado em uma trança e Angel brincou com ela, fazendo com que o cabelo na nuca de Sarah arrepiasse. A garota olhou para Angel e sorriu. Logo, sua atenção se centrou em Sarah, olhando com curiosidade. Sarah tratou de soltar a mão de Angel, mas ele apertou um pouco mais. O ciúme eram algo novo para Sarah e não gostou absolutamente. 101


Se isto era tudo o que necessitava para que ficasse vermelha, estava perguntando no que estava se metendo. Tragou saliva forçadamente e tratou de não franzir o cenho. — Quem está aqui? — Perguntou Angel à garota. — Só Alex. Mamãe e papai se foram faz meia hora. — A garota voltou a dar atenção a Sarah. — Vão comer aqui? Angel assentiu com a cabeça e virou para Sarah. — Sofie, esta é Sarah. Sarah, está é Sofie, minha irmãzinha menor, a bebê. Sua irmã fez um rolar de olhos e estendeu sua mão para cumprimentar Sarah. — Sofia — disse corrigindo — e não sou nenhum bebê, Angel. Gostei de te conhecer, Sarah. Aliviada, Sarah exalou. Pegou a mão da Sofia sorrindo. — Gostei de te conhecer também. Estava certo, pensou Sarah. Sua irmã não parecia um bebê. De fato, se tivesse que adivinhar, tinha pensado que Sofia era tão grande quanto ela se não fosse mais. Sofia era mais alta que ela e com muito mais curva também. Angel ignorou o comentário de Sofia e agarrou um menu. Dirigiu Sarah a uma das mesas.

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— Vou fazer eu mesmo nosso pedido, assim não há necessidade de que envie ninguém. Este salão era muito grande. Ao ver tudo, Sarah ficou impressionada. Nas paredes estavam quadros de arte mexicana de cores vivas de muito bom gosto. As prateleiras estavam adornadas com estatuetas de argila, iguais às que tinham visto no Bairro Velho. Através de um dos arcos, Sarah podia ver outro dos salões e se deu conta de que a música que escutou quando entravam provinha de um trio de músicos cantando ao vivo. Esticou o pescoço para poder ver melhor. Havia um homem baixinho tocando o acordeão, um mais alto tocando cielo e outro mais gordinho era o cantor e tocava o violão. Todos usavam chapéus grosseiros e tinham grossos bigodes. Agora entendia porque Angel não queria ir ao Bairro Velho. Para que? Se tinha tudo aqui. Angel a levou a um dos reservados mais privados perto da parte posterior do restaurante. — Dê uma olhada. — Passou o menu e lhe deu um beijo. — Vou buscar nossa bebida. Os olhos do Sarah saltavam de prato em prato no menu. Morria de fome e tudo parecia bom. Leu tudo o que acompanhava cada prato e se perguntava se ficaria satisfeita. Tentava decidir entre pimentas verdes e o burrito com molho, quando escutou vozes de homem que se dirigiam para ela. Levantou a vista do menu e viu Angel vir para ela com alguém que parecia uma versão de Angel mais alto, mais encorpado e mais amadurecido. Alex. Seu coração começou a pulsar rapidamente.

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— Bom, esta é a primeira — disse Alex quando esteve o suficientemente perto. Sorriu maliciosamente, dando uma olhada a Angel e logo a Sarah. — Não é da sua conta. — Angel colocou as batatas fritas e salsas diante dela, derramando sem querer um pouco de molho. Alex sentou no assento frente a ela, franzindo o cenho ao ver o molho derramado. — Por isso não lhe deixam trabalhar de garçom por aqui. — Quando seu olhar cruzou com o do Sarah, sua irritação diminuiu. — São de verdade? — Angel riu e os apresentou. — Alex, esta é Sarah. Sarah, este é meu irmão Alex e ele não vai ficar por aqui. Pôs sua mão sobre a dela na mesa. — Prazer em conhece-la, Sarah. Sarah tragou saliva, sustentando fortemente o menu com a outra mão. — Prazer em te conhecer também. Angel pegou um guardanapo e limpou a mesa aonde tinha derramado o molho. — Já sabe o que quer, ou precisa de mais tempo? — Perguntou a Sarah. Sarah só podia se concentrar nas mãos de Alex sobre a dela. — Uh, as apimentadas são boas? Alex apertou sua mão e sorriu. 104


— Tudo aqui é delicioso. Sarah ficou com vergonha, sentindo suas bochechas arderem conforme Angel lançava o guardanapo amassado em Alex e riu. — Para. É um idiota. Alex não podia parar de olhar para Sarah, mas deixou de pegar sua mão. — Sim. — Angel voltou a ver Sarah. — São muito boas, quer isso? Ela assentiu com a cabeça e lhe entregou o menu. — Está bem. Me deixe fazer o pedido. Agorinha eu retorno. E não se preocupe, ele irá assim que eu voltar. — Acredito que é você o que está preocupado — disse Alex sorrindo. Angel se afastou. — Que seja — disse sem olhar para trás. — E tire as mãos de cima. Alex pôs suas duas mãos no ar, sorrindo. Voltou a sentar e cruzou os braços, a analisando. Sarah não podia acreditar o quão parecido era ele e Angel, exceto que Alex era mais corpulento, mais musculoso de algum jeito. Mas não pesado, só mais encorpado e seu pescoço era grosso. Também tinha

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essas covinhas incríveis de Angel. Com ele sorrindo assim, tão perfeito, era difícil acreditar que fosse tão rabugento, conforme tinha escutado. Sua atenção deixou Sarah nervosa. — Não sabia que Angel tinha uma garota. Sabia que tinha irmãos? — Sim, sim sabia. Mas devo admitir que embora nunca tinha te visto, escutei muito sobre você. — De verdade? — Disse. — Bom, não acredite em nenhuma só palavra de Angel. Ele está com ciúmes. Sarah riu. — De fato, Angel não me disse nada. Foi minha prima que me contou tudo. Valéria ia me matar. — Sua prima? — Sim, acredito que posso dizer que é uma de suas maiores admiradoras. — Sarah sorriu. Alex se aproximou de Sarah um pouco mais. — Está bem, tenho que conhecê-la. Como se chama sua prima? — Valéria Zuniga — disse. — Ela está no último ano da escola preparatória em La Jolla, igual a mim. Sarah o olhava enquanto ele se concentrava. — Valéria Zuniga? Como é ela? 106


— Baixa — riu Sarah. — De fato é muito baixa. Sendo tão alto, aposto que já passou centenas de vezes perto de você e certamente nem a viu. Talvez por isso não lembra. — Talvez. Então sua pequena prima Valéria é uma de minhas admiradoras, né? Tem os olhos como os teus? Sarah sentiu voltar a ruborizar. — Não, de fato não é minha prima de sangue. Minha tia se casou com o pai da Valéria. Assim, não se parece em nada comigo. Seu cabelo é loiro e curto e tem olhos cor café. — Hmmm. Uma loira? Bom, se eu não lembro, o que é o que pode ter falado de mim? Oh não. Sarah não pensou que a conversa fosse tão longe. Não podia dizer que Valéria o adorava. E se eles se encontrassem em qualquer outra ocasião? Clareou sua garganta. — Oh, nada de mais foi dito, apenas que é um bom jogador de futebol americano e coisas como essa. — Está me deixando curioso, Sarah — e sorriu. — Disse que tinha ouvido um montão de coisas. Agora, solta tudo. Os olhos do Sarah ficaram enormes. — Bom, é conversa de garotas. Não posso te contar isso. Ela me mataria. Recompôs-se e se interessou ainda mais pela conversa. 107


— Como, conversa de garotas, né? — Nem pensar! — Sarah riu nervosa. Onde estava Angel? Alex estava jogando com ela agora e ela poderia dizer que gostava, adorava vê-la como estremecia. — Está bem, só uma coisa. Não pode me deixar assim. Você quem trouxe esta conversa. — Isso era certo e queria dar uma tapa em si mesma por ter feito. Suspirou sentindo-se derrotada. — Está bem, só uma coisa e depois o esquecemos, ok? — Tratou de soar firme. — Sim senhorita. — Seus lábios se elevaram fazendo com que suas covinhas se acentuassem ainda mais. Como era possível que não soubesse o que as garotas diziam dele? — Me disse muitas vezes que... Bom, você sabe... quão bonito é e quão popular foi na escola. Ok? Não vou entrar em detalhes, assim, não insista. Alex riu. — Está bem, é justo, mas agora vai ter que trazê-la um dia destes, para que posso vê-la. — Está bem. Talvez um destes dias. — De alguma forma, ela duvidava que Valéria quisesse isso. Mudou de conversa. — Pensei que estava estudando longe. Negou com a cabeça.

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— Estou estudando, mas não estou longe. Vou a UC San Diego. Quero estar perto, para poder ajudar com o restaurante. Aos domingos não há aulas nem treinos. Alex olhou sobre o ombro de Sarah e seu sorriso mudou, acentuando muito mais suas grandes covinhas. Pegou a mão e a beijou. Sarah se esticou. — Chegou tarde — disse. — Nós vamos casar. — Saia daqui — escutou Angel dizer enquanto se aproximava detrás dela. Voltou para ver que Angel se aproximava. Seus olhares se encontraram e lhe mandou um beijo no ar fazendo com que seu coração parasse. Tinham passado todo o fim de semana juntos e ainda não se saciava dele. — Sim, mais vá — disse Angel. Alex bagunçou o cabelo a Angel. — Está com sorte, tenho trabalho. — Sorriu para Sarah. — Foi um prazer te conhecer, Sarah. Angel lhe deu um empurrão, jogando ele de lado. — Sai daqui, mano. Bem quando Alex se afastava, Sofia apareceu no salão. — A comida já está preparada, Angel. Alex pareceu surpreso. — Ainda está por aqui Sofie? 109


— Sim, há gente esperando e Julie não chegou. — Quem vai te levar para casa? Sofia deu de ombros. — Pensei que fosse você. — Querida, não posso ir. Estou fazendo a lista de nomes desta semana. — Os dois voltaram para ver Angel. Angel deixou cair os ombros e olhou ao céu. — Eu a levo — disse. — Mas primeiro quero comer. Inclinou-se e deu um beijo em Sarah antes de ir pegar a comida. Comeram e como já era usual, Angel foi incapaz de tirar as mãos e lábios de cima de Sarah. Quando terminaram, ficaram sentados sentindo satisfeitos. — Por Deus, como estava com fome. — Sarah olhou seu prato vazio. Angel

tinha

comido

o

maior

burrito

do

menu.

Era

suficientemente grande para alimentar duas pessoas. Inclinou sua cabeça sobre Sarah. — Acho que comi muito. — Acha? Seu prato parecia gasto de tão limpo que ficou. — Ela começou a rir. — De nenhuma forma podia comer nem sequer a metade disso. Angel gemeu. 110


— Não é gracioso. Sarah deu uma olhada no restaurante. — Acredito que devemos ir — disse. — Sua pobre irmã está nos esperando todo este tempo. Angel se levantou e empilhou os pratos, mas chegou um dos ajudantes de garçom. — Já peguei, Angel. — Eu posso levá-los, Ernie — disse Angel. — Não, não, eu os levo. — Insistiu Ernie e rapidamente empilhou tudo em cima do prato de Angel. — Obrigado, homem. — Angel pegou Sarah pela mão. Caminharam para a porta do escritório e Angel gritou. — Já vamos, Alex. — Está bem — gritou Alex de volta. — Leve a Sofia, certo? — Sim, eu a levo. — Perfeito — disse Alex. — Adiossss Sarah. — Adiossss Alex. — Sarah riu. Todos escutaram Alex rir. Angel sacudiu a cabeça. — Não lhe dê corda.

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Capítulo Sete No caminho do restaurante para a casa, as duas garotas imediatamente se deram muito bem. Ambas adoravam correr. Sofia estava na equipe de atletismo e Sarah tinha começado a correr no nono ano. Sarah desejava que Sofia não lhe perguntasse por que se mudou para cá. Felizmente não o fez. Estava mais interessada em saber por que não esteve na pista em La Jolla. — Não é muito tarde, sabe? — Disse Sofia. — As reuniões não vão acontecer até o semestre que vem. Já fez corrida de revezamento? Porque a garota que corria conosco no revezamento era muito boa, mas já se graduou. Por isso estamos procurando alguém que a substitua, mas não encontramos ninguém que corresse tão rápido quanto ela. Sarah sabia que ela era rápida. Tinha ficado em quarto na corrida de revezamento de 400 e 1600 metros lá em casa e ganhou muitas vezes, algumas, vindo desde atrás. Doía na verdade, pensar que não estava lá treinando com suas antigas companheiras de equipe. Nem sequer pôde despedir-se de ninguém para não ter que responder a nenhuma das inevitáveis perguntas. Em lugar disso, pediu a Sydney que o falasse o básico, só dizendo que se mudou para outro lugar durante o verão. Já pensaria no que diria quando retornasse. — Cheguei a correr alguns revezamentos na equipe onde eu vivia. 113


— Aí Deus. — Sofia se sentou na borda de seu assento. — É rápida? Angel virou para ela. Ficou de mão dada em todo o caminho. — Sim, a verdade é que sou muito rápida. — Vem conhecer a equipe, Sarah. Ver o que pensa. E, oh...— Sofia olhou para Angel e logo para Sarah. — O treinador Rudy está de volta. Voltou a repetir no caso de Sarah não ter entendido o que quis dizer. — É um pervertido — disse Angel soprando. — Não o é! Só são rumores. Isso provocou a curiosidade no Sarah. — Que rumores? — É jovem e ardente. No ano anterior foi seu primeiro ano como professor. — Sofia fez um gesto. — Por isso as estúpidas garotas passam paquerando o tempo todo. De qualquer forma, disseram que provavelmente estava saindo com algumas das garotas mais velhas, fora da escola. Se fizesse, não pode ter mais de vinte e três anos. Não é tão velho. As sobrancelhas de Sarah arquearam e Angel dirigiu a Sofia um olhar de desgosto. — Já te adverti a respeito dele. 114


— Sim, sim, Angel, já sei. — Sofia voltou para Sarah fazendo um rolar de olhos. — Não posso estar a sós com ele, pode acreditar nisso? De qualquer forma vem correr conosco, Sarah. O treinador Rudy ficará muito emocionado. — Mas não estarei aqui para o semestre que vem. Angel apertou a mão de Sarah e seus olhares se cruzaram. Angel centrou sua atenção no caminho. Pôde ver como seu queixo esticou e sua expressão se tornou séria. Deu a volta em uma entrada de carros ampla e circular. A casa era impressionante, muito maior que a de sua tia e isso, porque sempre pensou que a casa de sua tia era grande. Bom, comparado com o departamento de uma casa aonde ela e sua mãe viveram, era grande. Mas esta era enorme. Olhou pela janela conforme se aproximavam da entrada principal e pararam. Tinha uma entrada elegante com uma porta enorme. — Por que? — Gemeu Sofia. — Contarei isso em outra ocasião — Respondeu Sarah, olhandoa. Sofia franziu o cenho e abriu a porta de atrás. — Diga a minha mãe que retornarei mais tarde — disse Angel. Sofia desceu do carro e chegou até a janela de Sarah.

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— Por favor, me diga que não era a quarta no revezamento, já que isso é o que realmente necessitamos. A culpa era muito grande. — Sim, sim era. — Uh — disse Sofia desanimada. — Pelo menos poderá praticar conosco um destes dias. — Claro, sim posso fazer isso. De qualquer forma, deveria estar treinando. Para quando retornar à equipe de minha escola anterior. — Bem. — Sofia sorriu. — Falarei com meu treinador e te direi quando. — Certo. Sofia agradeceu a Angel que a levasse e entrou à casa. Sorrindo, Sarah virou para ver Angel. Sua expressão era tão dura que seu sorriso desapareceu imediatamente. — Precisamos conversar. — Saiu da entrada de carros.

***

Dirigiram até onde a tinha levado na noite da festa. Angel podia sentir uma dor de cabeça e sentia o estômago um pouco enjoado. Que droga Sarah estava fazendo com ele? 116


À exceção de quando perguntou se estava bem, ao que o simplesmente lhe respondeu “Não”, todo o trajeto foi em silêncio. Mesmo assim, seguiu firmemente segurando a mão de Sarah na sua. Estacionou o carro em frente ao escarpado onde tinham uma vista extraordinária do pôr-do-sol. Mas Angel não estava interessado nisso. Nem sequer esperou para sair do carro. Assim que desligou o motor, encostou contra a porta e a olhou. O olhar de angústia no rosto de Sarah fez com que suas palavras fossem mais suaves do que a princípio Angel queria que fossem. — Não entendo qual é sua pressa em retornar ao Arizona, Sarah. — Sem esperar que respondesse, adicionou. — É tão ruim aqui? Sei que sua amiga está esperando, mas sua mãe vai estar te esperando? Angel viu a dor no rosto de Sarah e quebrou seu coração. Imediatamente se sentiu como um idiota. Merda. Quem droga era ele para intrometer-se assim na vida de Sarah? Apenas a conhecia por um fim de semana e esses planos, ela os tinha feito muito tempo antes dele. — Sinto muito, Sarah. — Beijou sua mão. Angel viu as lágrimas em seus grandes olhos e sentiu vontade de bater em si mesmo. Sua expressão dolorosa na verdade lhe espremeu as vísceras. Maldita seja. Como pôde ser tão estúpido? Pelo que sabia, sua mãe poderia estar em um hospital em qualquer lugar. Inclinou-se e amavelmente a abraçou, beijando sua cabeça. — Meu Deus, Sarah, sinto muito — disse. — Não tinha direito a... Ela negou com a cabeça antes que ele pudesse continuar. 117


— Está bem — disse. — Não é sua culpa. Você não sabia. — Saber o quê? Então, me diga — disse e rapidamente adicionou: — Não tem. Não tem que dizer se não quiser. Tinha-a pressionado muito. Ele queria ser seu apoio, fazer com que sua dor fosse embora. Tinha que deixar de pressioná-la tanto. — Não é que eu não queira — disse. — É que é tudo tão doloroso. — Adicionando em um apressado suspiro — vergonhoso. — O quê? — Angel levantou amavelmente o queixo. — Sarah, não há nada que possa me dizer que me faça sentir algo diferente por você. — E dizia na real. Tinha a sensação de que fosse o que fosse, não era algo que Sarah fez. Não poderia imaginá-la fazendo algo vergonhoso. Abriu o porta-luvas, tirou um lenço e a deu. Sarah pegou e limpou suas lágrimas. — Podemos descer? Angel tirou as chaves da ignição e desceu do carro. Rapidamente deu a volta, para encontrá-la no momento em que ela descia. Abraçou com força, querendo que ela sentisse o quanto sentia pena. — Na verdade sinto muito. — Não tem por que — disse. — Não fez nada errado. — Sou um imbecil. — Não, não é — e começou a rir. 118


Sarah fechou a porta e caminharam para o lugar aonde estiveram nessa primeira noite. Sarah agarrou o corrimão e ele parou atrás dela com seus braços rodando sua cintura. Conforme olhavam para o mar, Angel sentiu quando Sarah respirou profundamente. — Minha mamãe está presa. Ele ficou totalmente quieto. A última coisa que queria era que Sarah pensasse que ele ia julgá-la. Estava determinado a não interrompê-la e deixá-la dizer o que quisesse e somente o que ela queria dizer. Ela ficou de frente para Angel. Ele sentiu como se seu coração afundasse ao ver seus olhos cheios de lágrimas. — Minha mãe é uma boa pessoa. — Querida, não tem que me convencer. — Limpou uma lágrima que rodava pela bochecha. Ele a abraçou e a sustentou com muita força, depois de abraçá-lo por uns minutos, ela se afastou e o olhou diretamente nos olhos. — As coisas não foram fáceis para nós, Angel — disse. — Sempre fomos somente as duas. Não tínhamos ninguém. Meus avós completamente não existiam, brigaram com minha mamãe quando ficou grávida de mim. Só tinha dezessete anos quando eu nasci e nunca conheci meu pai. Angel aguentou cada palavra. Quebrou seu coração vê-la como estava confrontando tudo, negando-se a deixar cair em pedaços.

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— Com o tempo comecei a pedir coisas — sua voz estava cheia de desgosto — coisas que ela não podia me dar: sapatos caros para correr, roupas, um iPod. Fui egoísta. Tudo o que pedia, me dava e nunca perguntei como, dentro de mim sabia que ela não podia ter esses gastos, mas não me importei. — Fez uma pausa para tomar ar e limpar seu nariz. — Então, um dia, ela se sentou comigo e lamentou. Ela disse que tinha feito algo errado. Ainda não entendo como foi tudo, mas pegou o dinheiro de seu patrão. Vinha fazendo há anos. Peculato é o que eles disseram no julgamento. Ela agora está cumprindo uma sentença de três anos de prisão e é inteiramente culpa minha. Ela caiu e chorou baixinho. Angel a segurou com força, sentindo um nó na garganta. — Não é culpa sua — sussurrou freneticamente em seu ouvido quando ele a beijou novamente e novamente. Eles caminharam até um banco onde pode sentar com Sarah em seu colo. Ela se sentou erguida, tratando de compor-se e o olhou. — Está num centro penitenciário de segurança mínima em Flagstaff. —Levantou os dedos para enfatizar suas palavras de forma sarcástica. Angel ficou olhando sem poder fazer nada, pegou sua mão novamente dentro da sua e apertou-a. — Não quer que eu vá visita-la — continuou — não quer que a veja assim, nunca. Mas não há nenhum jeito de passarem três anos sem que eu a veja. Meus planos são de ir visita-la, sem importar o que ela diga. 120


— Pode te ligar? Sarah assentiu. — Sim, me liga a cada semana e escrevemos o tempo todo, mas não é suficiente. — Sarah — tentou soar otimista. — A pessoa raramente cumpre sua condenação, especialmente quando o delito não foi de violência. Provavelmente saia antes de três anos. — Isso foi o que disse o advogado. Mas acaba de começar, assim, se tiver sorte, estará presa um ano e meio. Angel a embalou, beijando na testa. Sarah endireitou seu ombro. — O problema, Angel, é que conforme crescia, nos mudávamos muito. Não sei porque, mas a maioria dos trabalhos que conseguia não duravam. Cada vez que conseguia um novo, era hora de mudar. Às vezes, sabia que ia ser uma estadia curta e nem sequer alugávamos um apartamento. Ficávamos em um hotel por uns meses. “Até que fiz nove anos, tínhamos mudado tanto que já tinha frequentado doze escolas diferentes, muitas vezes nos mudávamos até duas vezes no ano. Tinha decidido não voltar a fazer amigos e inclusive nem desempacotava. Passado mais de um ano depois de haver mudado para Flagstaff quando permiti desempacotar totalmente minhas coisas. — Foi onde conheceu Sydney? — Angel sentiu quando ela se esticou e endireitou um pouco.

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— Sim — disse rapidamente. — Mas o mais importante é que ficamos lá por oito anos. Não é a grande coisa para muitos, mas para mim foi tudo. Finalmente estava em casa. E para terminar a escola. Quando empacotei minhas coisas, retornaram as lembranças dolorosas de quando era criança. Graças a Deus pela Valéria. Não poderia sobreviver a uma nova escola outra vez. Sua expressão se tornou afetuosa. — Não é que aqui seja tão mau, Angel. É que levou muito tempo sentir que pertencia a algum lugar. Só sinto que preciso voltar. Necessito. Esse é meu lar. Angel a beijou com doçura. — Sarah, não me deve nenhuma explicação. De fato não tinha direito de te questionar. Sentia repulsa por si mesmo. Depois de tudo o que Sarah tinha passado, estava aqui sentada com ela, tentando se fazer entender. Ela poderia voltar para o Arizona se quisesse. Devia. Embora não gostasse de pensar que ela estaria tão longe, merecia ser feliz. Droga, se fosse necessário, dirigiria todos os fins de semana até lá.

***

Sarah não poderia acreditar na incrível mescla de emoções que teve no fim de semana. O passeio na montanha russa tinha terminado, mas seu estômago ainda sentia os efeitos. 122


Todo fim de semana manteve Sydney a par de tudo o que estava acontecendo. Quando contou o que tinha acontecido hoje, primeiro não acreditou, mas Sarah defendeu Angel ardentemente. Sydney riu, perturbando-a, se não a conhecesse tanto, diria que estava apaixonada. Sarah ficou com a sensação de que Sydney estava contente por ter contado a alguém sobre sua mamãe. Ela se sentia culpada pela quantidade de coisas que lhe tinha contado, mas sempre esteve ali para lhe ajudar a superar. Ainda não tinha lhe contado que Angel pensava que ele era mulher. Não sabia por que, mas de algum modo pensou que se sentiria ofendido, traído, já que ela estava negando sua amizade. Deu uma olhada ao relógio. Eram as 10:30 da noite. Ia sair de seu quarto para escovar os dentes, quando escutou seu telefone tocar. Seu rosto se iluminou ao ver que era Angel. Respondeu com um sorriso. — Olá Angel. — Ouça. — Sua voz tinha um timbre de pesar. — Desculpa ter te ligado tão tarde. Não pude deixar de pensar em ti. Só queria saber se está bem. Até me sinto um imbecil por hoje. — Não, não deve. — Agarrou com força o telefone. — De fato, agora que te contei, me sinto muito melhor. — Isso é bom — disse. — Porque quero que saiba que pode contar comigo. O coração do Sarah se apertou. Ela sabia que já deveria ter contado sobre Sydney, mas na realidade estava começando a perguntar 123


se isso era algo que ele devia saber. Valéria estava certa, os meninos marcavam seu território e claramente Angel não era exceção. Estava certa, especialmente depois de escutar o que pensava a respeito da amizade entre garotos e garotas, que não entenderia sua relação com Sydney. Pensou consigo mesma que, de qualquer forma, provavelmente, nunca teria a oportunidade de conhecer Syd. Estava decidida a manter ao mínimo o tema do Syd. Entretanto, não podia evitar sentir que estava enganando-o. Parou de pensar em Sydney um pouco. Havia outras coisas que precisava esclarecer com Angel. — Ouça Angel. — Sentou-se em sua cama. — Que bom que me ligou. Com toda esta conversa a respeito de minha mãe, esqueci por completo de falar contigo a respeito de amanhã. — O que acontecerá amanhã? — Bom, já sei que há algo entre nós agora, mas não quero que isso mude as coisas na escola. Angel ficou em silêncio por um momento, mas ela escutou a mudança inconfundível em sua voz quando começou a falar de novo. — Não quer que ninguém na escola saiba que estas juntos? — Não. — Ficou surpresa de que pudesse pensar isso. — O que não quero é que mude o que faz normalmente na escola, por mim. É próximo de seus amigos. Estou certa de que teremos muito tempo para passar juntos depois da escola e nos fins de semana. Não há 124


necessidade de que eu me intrometa no tempo que passa com seus amigos na escola. Ela esperava que Angel a compreendesse. A última coisa que queria era sufocá-lo. Depois de tudo, esta era sua escola, seus amigos e ela era a forasteira. A verdade era que ela não sabia como ia reagir a isso. Todos sabiam como as garotas, especialmente Dana, comportavam-se ao redor dele. E só de pensar que tivesse que ver alguém enrolada em seus braços a fazia tremer. — Ouça — disse. — Não tenho nenhum problema em reagir da mesma forma, enquanto saia com suas amigas e eu com meus. Mas em caso de dúvida, não estava planejando manter a gente em segredo. Sarah sentiu como o pulso acelerava. Pela primeira vez, se deu conta do que acontecia. Isto estava acontecendo e nada menos do que com Angel Moreno. — Oh, isso eu sei — disse. — Não foi o que quis dizer. Eu só não quero te sufocar, Angel. Quero que tenha seu espaço. — Sarah, você não me sufoca — disse. — Se alguém deve cuidar de não te sufocar sou eu. Se não notou, simplesmente não há modo de me encher de você. Suas palavras causaram calafrios que percorreram sua espinha dorsal de cima abaixo. Ela se sentia exatamente da mesma forma, mas Angel não parecia assustado. Ela, pelo contrário, estava aterrorizada.

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Este tipo de felicidade não era habitual em seu mundo. Não estava acostumada e de certa forma se sentia culpada por sentir assim, feliz. — Pare de dizer coisas como essa. — Por que? — A voz de Angel soou séria. — Digo o que sinto e quero que faça o mesmo. Não quero que esconda nada. — Ok. — Adorava a forma que ele a fazia se sentir desinibida. — Posso te dizer o que estou sentindo agora? — É obvio. Mordeu o lábio inferior. — Queria poder me arrastar pelo telefone e beijar todo seu corpo. Escutou-o gemer. — Isso não vale. Está bem, esclareçamos algo. Coisas como essas só pode dizer quando estiver na minha frente. Que droga, como acha que vou dormir hoje? Sarah riu. — Doces sonhos, Angel. — A sim, claro, agora já sabe o que vou sonhar. — Sinto muito — disse rindo — prometo que vou te compensar. Gemeu novamente.

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— Sarah, querida, sei o que tenta me dizer, mas isso não me ajuda neste momento. Sarah se forçou para não rir, lembrando que não devia fazer promessas que não poderia cumprir. Ela sabia de primeira mão o quão difícil e quase doloroso que era para ele conter-se. Não é que ela tivesse dúvida de que ele o faria, mas era cruel perturbá-lo dessa forma. Ficou olhando um momento o telefone uma vez que tinham desligado e se perguntou como faria para poder dormir esta noite.

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Capítulo Oito Fiel a sua palavra, Angel não manteve sua relação em segredo. Assim que ele a viu na segunda pela manhã em seu armário, ele foi em direção a ela. Ficou atrás de Sarah e a abraçou pondo os braços ao redor de sua cintura e a beijou no pescoço. O resto do dia foi mais ou menos igual. Em qualquer momento que ela estava perto, ele a abraçava incapaz de manter seus braços ou sua boca longe dela. Ela o apresentou a algumas de suas amigas e inclusive chegou a conhecer o Freddie, um de seus amigos, que tinha seu armário abaixo do dela. Só que ir caminhando enquanto ela ria com Freddie, fez com que Angel ficasse com ciúme. Ele mencionou que seu armário estava mais perto da sala de aula regular, mas ela não entendeu. Sem dúvida, eles eram um casal. Houve algumas provocações e caras embevecidas de uma forma muito descarada por parte de algumas das garotas que conhecia Angel, mas se Sarah se deu conta, nada comentou. Angel tinha esperado que ela se sentisse tensa ou apreensiva, devido ao que lhe tinha comentado na praia sobre seu medo de se machucar. Mas sua determinação ao longo do dia o tinha surpreendido e impressionado, tornando-o ainda mais fascinado por ela.

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Embora os amigos de Angel se vissem surpreendidos, não tiveram muito que o dizer. Eric sorriu conscientemente, mas não disse uma palavra. Ele sabia mais disto. Romero não se lembrava muito sobre a festa de sexta-feira, de modo que era uma perda total. Depois de ver Angel várias vezes em cima de Sarah, finalmente falou: — Porra, você está bem? — Disse ele. — Diga-me quando estiver pronto para me falar algo. Eric abafou uma risada e esperou que os trovões e relâmpagos aparecessem. Mas Angel sabia que seu amigo não tinha nem ideia. Portanto, só fez uma séria advertência. — Isto não é assim, cara. Portanto, nem pense. E isso foi tudo. Ao final do dia, todo mundo tinha percebido. E Angel estava muito contente.

***

Sarah tinha aceitado o oferecimento de Sofia de ir com ela e correr com a equipe de atletismo esta semana. Essa quarta-feira, em vez de correr sozinha depois da escola, se encontrou com Sofia no vestiário e foi com ela para onde a equipe estava treinando. Angel lhe advertiu, igual havia feito com Sofia, sobre o treinador: — Não fique a sós com esse pervertido. 129


Sarah ficou surpresa de quão jovem era o treinador. Se não houvesse trazido a camisa que dizia treinador, teria confundido com qualquer um dos meninos mais velhos da escola. Tinha cara de menino e não concordava com Sofia a respeito dele não ser bom, entretanto, não entendia por que as garotas se sentiam tão atraídas por ele. Tinha o corpo musculoso, o que era esperado de um jovem treinador. Sarah não notou nada de pervertido nele, só que sua sagacidade era muito atraente e que as garotas passavam rindo ao redor dele, algo que ele parecia gostar. Dado como Angel era dedicado com sua irmã, não lhe surpreendeu em nada que fosse tão apreensivo sobre o treinador. O treino foi bom. A equipe se viu impressionada e Sarah se sentiu bem com o treinamento. Ela e Sofia estavam indo para o vestiário quando o treinador reuniu-se com elas. — Então, a equipe foi boa o suficiente para você? — ele brincou. Sarah se sentiu lisonjeada. Ela ainda estava sem fôlego após a última corrida e tomou um segundo para se recuperar. — Diga que sim, diga sim. — Sophia colocou as mãos como se estivesse rezando. — Não posso. Ela viu a cara de decepção do treinador. — Porquê? — Não estarei aqui no próximo semestre. Retorno ao Arizona. Coçando a sobrancelha, o treinador fez um gesto.

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— Droga, isso realmente é muito ruim. Realmente podíamos te utilizar nas substituições. Mas você vai estar aqui todo o semestre, certo? Sarah assentiu com a cabeça e se surpreendeu ao sentir um par de braços fortes ao redor de sua cintura. Angel a beijou na têmpora e se manteve junto a ela. — E aí? O que houve? Eric e Romero estavam ao lado de Sofia observando o treinador. O treinador sorriu. — Te esperamos todos os dias depois da classe. — Estendeu-lhe a mão dizendo: — Bem vinda à equipe. Sarah apertou sua mão. O treinador se despediu e foi embora. Angel lhe disse ao ouvido. — Tinha que te tocar de verdade? Sarah começou a rir. – Como você é exagerado!! Virou-se, mas ele seguia lhe abraçando. A expressão no rosto de Angel era séria. — Não está falando sério, verdade? — Te disse que não confio neste cara, Sarah. E você tampouco deve fazê-lo.

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Sarah não pôde deixar de sorrir. Nunca tinha conhecido ninguém tão veemente. Mas sua expressão se suavizou rapidamente, beijou-a e depois se encaminharam seguindo Sofia e os meninos que já tinham chegado aos vestiários. — Ele parece amigável — disse Sarah. Angel apertou sua mão e gemeu. — Você pode confiar em mim? Tenho ouvido muitas histórias sobre isto. — Está bem, está bem. — Sarah se inclinou contra ele. Sarah começou a entender o que Valéria quis dizer sobre quão intenso era Angel e seus irmãos. Mas lhe agradava. Toda a sua vida foi apenas ela e sua mãe. Houve muitos momentos em que ter um homem para protegê-las teria sido muito útil. Assim, ter Angel protegendo-a não lhe incomodava. Ao contrário, gostava.

***

Depois de algumas semanas, eles haviam entrado em uma rotina cômoda. Sarah treinava com a equipe depois das aulas enquanto Angel estava no treino de futebol americano. Encontravam-se mais tarde para comer algo no parque, o qual se tornou seu ponto de encontro, ou nos penhascos onde a tinha levado pela primeira vez. Passavam juntos cerca de uma hora e logo iam para casa. 132


Tudo estava muito bem, à exceção de um par de incidentes com Dana. Ela tinha se esforçado para puxar Angel em qualquer ocasião que tinha. Sarah os tinha visto um par de ocasiões e embora ele não tivesse dito nada, Angel se preocupava que isso poderia se tornar um problema. As sextas-feiras eram diferentes. Eram os dias em que Angel tinha jogo de futebol americano. Em vez de encontrá-lo após o treino, Sarah ia direto para casa com Valéria e se arrumava para a partida. Esta semana, a partida era fora de casa, de modo que as arquibancadas estariam menos concorridas e Angel poderia ter uma melhor visão de Sarah. Angel estava tendo uma boa partida. Subiram quatorze pontos no primeiro tempo e quando eles voltaram do intervalo, as animadoras de torcida trocaram suas blusas por camisas, as mesmas dos jogadores da equipe. Ataram-nas por debaixo da linha do busto para fazê-los ficarem melhores. Para consternação de Angel, Dana tinha posto a sua. Tinha se esquecido da camisa que lhe tinha emprestado no ano passado. Olhou as arquibancadas e viu Sarah sentada com Valéria e outras garotas. Se Sarah chegasse a ficar chateada com isso, realmente ia se zangar seriamente com Dana. Eles concordaram em se reunir na festa após a partida, perto da escola. Sarah se foi com Valéria após o jogo e chegaram antes dele, de modo que, quando Angel chegou, não sabia o que esperar. Chegou à festa com o Romero e Eric e começou a procurá-la. Primeiro viu Valéria e depois viu Sarah. Havia alguns meninos falando com elas e isso o pôs tenso. Caminhou diretamente até ela e pegou sua mão 133


imediatamente. Levou-a além de onde estavam todos e a beijou. Para sua alegria, ela não estava com raiva. Ela o beijou facilmente. — Teve uma grande partida. — Ela sorriu. Angel ficou olhando, sustentando-a com mais força. — Como você é linda, Sarah. — Obrigada. — Ela inclinou a cabeça para os lados. — Você realmente quer estar aqui? — Falava a sério? Quase podia sentir como lhe arrepiava o cabelo de sua nuca enquanto procurava e encontrava Eric. Ele se aproximou de Eric e puxou sua camisa. — Vou daqui. Eric sorriu. — Tão rápido? — Adeus. — Angel sorriu. Apenas tinham chegado ao carro, quando Angel já tinha começado a beijá-la em seu pescoço. Cada vez que começavam a se beijar, as coisas se tornavam mais e mais intensas. A última vez que estiveram assim, ela permitiu que ele a tocasse sob o sutiã. Ele tirou o melhor proveito disto, lhe deixando alguns chupões vermelhos nos seios, acreditando que ninguém mais os veria e não poderia colocá-la em problemas. Morria de vontade de saber quão longe ela o deixaria chegar esta noite. Tinha que se conter acariciando suas costas de cima para baixo. 134


Quando chegaram ao seu lugar especial, baixou totalmente o encosto dos assentos e imediatamente colocou seus lábios nos dela. Suas mãos exploraram cada centímetro de seu corpo. Embora qualquer coisa que estava por baixo de sua cintura, só tinha sido tocada por cima da roupa. Mesmo assim, essa proximidade quase o levou ao limite. Ele a beijou com força, chupando sua língua e seus lábios. Ela gemeu brandamente, pondo ele ainda mais excitado. Desabotoou sua blusa e pôs sua boca em um de seus seios. Sua mão se deslizou para baixo de seu corpo, acariciando seu ventre e logo sua virilha. O coração de Angel batia descontroladamente conforme a beijava apaixonadamente e começava a subir sua mão lentamente. Passando pela sua cintura e entrando em sua calça. Quando sentiu em sua mão a pele ardente de Sarah, esteve a ponto de perder o controle. Retirou sua boca de Sarah para recuperar o fôlego, afundando seu rosto no pescoço dela. — Está me deixando louco — queixou-se enquanto respirava seu aroma excitante. Lentamente, deslizou sua mão para baixo, dentro de sua calça. Ela abriu suas pernas, fazendo-o parar em suspense. — Oh, querida. — Disse com a voz entrecortada enquanto começou a mover sua mão ainda mais à frente.

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Seus dedos a acariciaram por alguns segundos, mas não sendo capaz de suportá-lo, moveu sua mão ainda mais abaixo. Sarah arqueou as costas e ele teve que parar. Ele se afastou dela apenas alguns centímetros, sabendo que se continuasse, terminaria por fazê-lo. — Deus! Sinto que não aguento mais, Sarah. — Quase não podia conter o fôlego. — Eu tampouco acredito que aguente mais Angel, mas acho que não estou preparada para isso. — Eu sei. — Esforçou-se para parecer calmo. — Te Prometo que não chegaremos a isso. Com delicadeza, fez com que seus dedos fizessem sua magia até que pôde senti-la estremecer e a ouviu gemer. Beijou-a, afundando sua língua profundamente em sua boca. Seus movimentos suaves em suas calças eram mais do que podia suportar. Seguiu até tê-la tremendo por completo, então Sarah não aguentou mais e aconteceu. Ela gemeu mais forte, empurrando sua mão. Angel sentiu seu coração palpitar e a beijou no canto da boca, permitindo-lhe recuperar o fôlego. Seu próprio coração ameaçava sair como louco de seu próprio peito. — Oh… Angel. Seu nome nunca soou tão bem. Ele a beijou novamente e recostou-se sobre seu assento. Estava tão perto de explodir que sabia

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que se continuasse a lhe tocar, o faria. Pôs sua mão sobre seu peito e respirou profundamente. — Cara… — Disse sem fôlego — agora eu entendo por que tantos velhos têm ataques cardíacos quando fazem sexo. Meu coração ficou louco e eu nem sequer terminei. Sarah virou-se de lado para olhá-lo. — Quero te devolver o favor. — Sarah, não o faça — disse-lhe rapidamente. — Não disse por isso. Só disse, porque meu coração está acelerado. Eu sei que não está pronta e eu respeito você. Mas se falarmos sobre o que pode chegar a acontecer algum dia, eu vou sujar minhas calças. Estou falando sério. Ela sorriu, brincando. — Bem, nós não queremos isso. — Sarah colocou a mão sobre a protuberância em suas calças. — Posso não estar pronta para algumas coisas, mas sempre posso devolver o favor sem chegar a isso e desejo fazê-lo. Seus olhos ficaram enormes e todo o seu corpo ficou tenso quando ela tocou o botão de sua calça jeans. Deixou cair sua cabeça para trás e fechou os olhos, sentindo como Sarah abria o zíper de suas calças. Controle-se. Já lhe tinham feito este favor antes e sempre tinha conseguido segurar por um tempo. Mas esta ocasião foi diferente. Esta era Sarah. Tinha medo de falhar tão logo lhe pusesse a mão em cima.

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— Sarah… — sussurrou com voz rouca. — Hummm? Sentiu como a mão do Sarah deslizou dentro de sua cueca e esteve a ponto de gozar. — Querida, não vou durar muito… — ela quase entrou em pânico. — Há lenços descartáveis no porta-luvas. Com sua mão livre alcançou os lenços enquanto que com a outra mão o acariciava. E em um segundo ele já tinha gozado. Apertou seus olhos, porque essa intensidade foi maior do que ele já havia sentido. Parecia que isso poderia ser eterno enquanto a mão de Sarah continuava a lhe acariciar sem parar. Suplicou-lhe que parasse. Não podia aguentar mais. Quando ele finalmente abriu os olhos, a viu sentada e sorrindo. Ela era bonita, o cabelo escuro estava despenteado e seus olhos verdes brilhavam. Deus era misericordioso. Ele tinha morrido e ido para o céu.

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Capítulo Nove Sarah sustentava o telefone com seu ombro enquanto fazia a cama. Era vez dela acordar Sydney. Depois da noite que teve, conseguiu dormir com muito trabalho. Sua mente foi invadida por tantas coisas, algumas mais óbvias do que outras. Tinha que falar com alguém sobre isto... Estas eram as ocasiões em que mais sentia saudades da sua mãe, poderia falar com ela sobre isto. A proximidade entre elas era assim. Graças a Deus tinha Syd. Hoje à noite, Angel e sua mãe estavam indo para Los Angeles para jantar com Sal, seu irmão mais velho. Já tinha reservado o fim de semana para cuidar de crianças. Não iriam se ver a não ser mais tarde e era obvio que Angel queria vê-la hoje, de modo que passaria por ali em uma hora. Sarah não mencionou nada sobre Dana estar usando sua camisa ontem. Estava tão ocupada assistindo Angel, que provavelmente não teria notado se Valéria não tivesse mencionado. Contudo, se recusou a deixar que Dana acabasse com sua noite, Valéria até mesmo lhe pediu para não aceitar provocação de Dana. — Ele está super obcecado por você. — disse. — A Verdade é que eu não daria um centavo por aquela garota e ela sabe disso. Está

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tão desesperada que é patética. Não discuta com ele sobre ela. Isso é o que ela quer. Sarah sabia que Dana ia ficar se exibindo na festa e não tinha certeza se seguiria usando a camisa de Angel. Não queria ficar lá fora e dar-lhe o gosto de fazê-la se sentir desconfortável. De modo que se alegrou quando Angel disse que estava pronto para sair mais cedo de lá. O que aconteceu no carro não foi totalmente impulsivo. Viu como Dana estava parecendo sedutora com a camisa de Angel durante a partida. Inclusive, viu Angel se virando para ver Dana acariciando a camisa enquanto dançava. Uma pequena parte dela queria demonstrar a Angel que ela tinha tanto ou mais para dar. Era algo que já vinha pensando por semanas. Sendo Angel tão ardente, ela já sabia que era só uma questão de tempo. Embora, realmente, nunca fizera nada parecido, sim tinha lido sobre o tema várias vezes. Valéria também a havia aconselhado. Surpreendentemente, não foi tão ruim assim e foi mais rápido do que esperava. Agora, um dia depois, tinha sentimentos mistos. Mas não estava segura de lamentá-lo. Hoje seria diferente. Ela e Angel tinham que conversar. Aguentou as tolices de Dana por semanas, mas agora não estava segura de quanto mais ia poder seguir aguentando tanta merda. Os únicos planos que tinham eram sair por um par de horas e ela ia aproveitá-las. Embora estivesse um pouco nervosa. A última coisa que queria era parecer insegura. Mas estava. Cada vez que via Dana ao redor de 140


Angel, sentia que ia explodir, mas não tinha feito nada. Não tinha pensado que tinha o direito de exigir nada de Angel, até agora. As coisas eram diferentes agora. Afinal, eles eram exclusivos e a camisa tinha precipitado tudo. Conversou com Sydney por um bom tempo. Ele achava que já era hora de Sarah lhe perguntar diretamente o que acontecia entre ele e Dana. De tudo o que Sarah contou a respeito de Angel, até mesmo Sydney sabia que não havia nenhuma forma de Angel ficar calado se a coisa fosse ao contrário. Sydney, inclusive, começou a brincar se referindo a Angel como o marido grandioso. Então, de forma inesperada, Sydney lhe perguntou. — Ouça Lynni, o que Angel pensa de você e eu sermos tão próximos? Ela parou e fechou os olhos. Não queria mentir, mas não tinha outra opção. Não ia ferir seus sentimentos. — Você sabe... — Sarah desejava soar convincente. — Não disse realmente muito sobre isto. Eu acho que é porque eu não dei muitos detalhes sobre nós. — Isso era verdade, ou não? Tecnicamente, não tinha mentido. — Huummm — disse Sydney. — Talvez seja melhor assim. E assim era. Como era costume, ela e Sydney pensavam igual. Ela sorriu triunfante, seu raciocínio a respeito de não esclarecer as coisas sobre o Syd a Angel era mais válido agora. Então, como se

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alguém tivesse pressionado o botão de câmara lenta, fazendo que seus pensamentos torcessem, Sydney continuou falando. — Quero dizer, seja honesta, é obvio... Você não quer começar algo lhe escondendo coisas. Só não lhe diga mais do que precisa saber. A última coisa que você quer é que pense que está interferindo na nossa amizade. Desta forma, Sarah voltou a sentir que mentia. Isto não deveria ser tão complicado. Deixou-se cair em sua cama. Até ontem de noite, não tinha pensado na seriedade da relação e o efeito real que Sydney poderia ter nela. Levantou a vista para ver Valéria em roupa de dormir junto à porta, como era habitual naquela hora da manhã, segurando um prato de comida e um copo de leite. Tinha um enorme sorriso em seu rosto. — É Angel? — lhe perguntou. Sarah negou com a cabeça e movendo a boca disse “Sydney”. Valéria franziu a testa e deixou a comida na mesa de Sarah. Ela se sentou em frente a ela. Sarah cortou a conversa com Sydney, lhe dizendo que tinha que terminar de se arrumar. Já tinha começado a se arrumar a algum tempo, mas podia adivinhar que Valéria queria conversar. Viu Valéria sacudir a cabeça com desaprovação enquanto desligava. Nem sequer tinha acabado de dobrar o telefone quando Valéria olhou para ela.

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— Sabe que Angel vai se zangar por culpa dele? — lhe disse. — Quero dizer, você já reparou como ele é possessivo, quando está perto de você? Não me interprete mal. Acredito que é lindo. Não é grosseiro nem nada. Mas é óbvio que quer que saibam que você está fora do limite. Algo me diz que ele não sabe o quanto você fala com Syd. O nó que se formou em seu estômago durante sua conversa com Sydney ainda estava lá e foi ficando cada vez maior. Se virou para um lado da cama e subiu as pernas, de modo que pudesse se apoiar em seus joelhos. Sarah exalou com força. — Eu sei. — Obrigada — lhe disse Valéria. — Finalmente está escutando. — Pôs uma colherada de comida em sua boca e tomou um gole de leite, sustentando um dedo alto indicando a Sarah que lhe desse um segundo. Aparentemente, ainda não tinha terminado. Sarah viu o prato de Valéria. Havia comida suficiente para duas pessoas. Sempre lhe assombrava o muito que comia, tomando em conta quão pequena era. Sorriu pensando que Valéria poderia ganhar dinheiro de Angel apostando em um concurso de comer. — Olhe Sarah, te entendo. Ok? Sydney é seu melhor amigo desde que vocês dois eram crianças e sua família é a única família com que cresceste. É como um irmão para ti e são muito próximos, bla, bla, bla. Mas esta necessidade de se falarem todos os dias é demais, não acha? Sarah fez uma careta.

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— Entretanto, isto é muito injusto. Se fosse uma garota, seria como uma irmã para mim e falaríamos todos os dias e estaria bem, ou não? Valéria negou com a cabeça enquanto bebia mais de seu leite. — Mas esse precisamente é o ponto Sarah. Justo ou injusto, não é uma menina e eu posso garantir que se Angel souber o quanto vocês dois falam, ficaria com raiva. — Fez uma pausa para comer outro bocado e falou com a boca cheia. — Nunca me disse o que pensa de seu melhor amigo ser um menino. Sarah estremeceu e abraçou seus joelhos mais forte. — Ele pensa que Syd é uma garota. Os olhos de Valéria arregalaram de repente. Tomou um gole de leite rapidamente, para engolir mais rápido sua comida. — Sarah Lynn! — Seu tom de voz foi como uma lembrança de sua infância, quando a surpreendiam fazendo arte. — Por favor, me diga que está brincando. Sarah cobriu o rosto com suas mãos e gemeu. — Não, não estou brincando. Sarah baixou as mãos e cruzou os braços sobre os joelhos, apoiando a cabeça sobre eles. Virou-se para ver Valéria que ainda continuava olhando para ela, balançou a cabeça e encolheu de ombros. — Achou que Sydney fosse uma garota quando lhe falei desta grande amizade e deixei que ficasse com essa ideia. No início não vi 144


mal algum, mas quando estávamos no Bairro Antigo nesse primeiro fim de semana, me disse que não podia pensar que entre garotos e garotas pudesse haver só amizade. — Te disse? Sarah assentiu com a cabeça. — Sim e foi muito firme a respeito. — Não me surpreende. Não podia esperar nada menos de um Moreno — disse-lhe Valéria. — Então, o que vai fazer quando perceber que Sydney é um menino? Sarah balançou as pernas para o lado da cama e sentou-se. Pôs suas mãos sob suas coxas. — Esse é o problema — Sarah mordeu os lábios — Como vai saber? — Está louca? Planeja alguma vez voltar a ver Sydney de novo? — Valéria parou e pareceu refletir sobre o que acabava de dizer. — De fato, não é uma má ideia. Mas estou certa que isso não é parte de seus planos, ou é? Sarah olhou para ela, ainda mordendo o lábio. Não havia nenhuma maneira de se livrar de Sydney como um antigo namorado. Ele era para ela muito mais. Era sua família. Angel teria que entender isso. Mas Valéria tinha razão em algo. Devia diminuir um pouco às ligações.

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— Não, claro que eu pretendo ver Sydney novamente. — disse. — Só devo ser honesta com Angel, mas ainda não é hora. Valéria levantou uma sobrancelha. — Quando? — Bem, eu não estou planejando me sentar com ele e conversar sobre isso. Eu não quero que pareça algo muito grande. Ultimamente, não falamos sobre Sydney. A próxima vez que sair o tema e ele se referir a Sydney como ela, só o corrigirei. Valéria olhou para ela um pouco impressionada. — Assim tão fácil? Sarah levantou seu queixo. — Sim, por que não? Valéria moveu a cabeça. — Bom, prima — disse. — Desejo-lhe sorte. Apenas lembre-se que quanto mais você esperar, pior será. Só não fique desapontada se não superá-lo quando simplesmente o corrigir. Sarah franziu o cenho, mas antes que pudesse responder, tocou o telefone. Era Angel. Valéria deu um salto e correu para o lado de Sarah para escutá-lo, como sempre. — Olá? — Ouça, tenho que ir ao restaurante. Estamos com falta de pessoal esta manhã. Não sei que horas posso pegá-la, mas na verdade, 146


gostaria que você viesse aqui para almoçar. Ficaria bem, se eu enviasse Eric para buscá-la? — Valéria acenou para Sarah, dizendo-lhe que poderia levá-la. — Valéria pode me levar, Angel. Mas, tem certeza que não vou estar te interrompendo? — Não, nem um pouco — disse ele. — Sim, isso está também. Venham as duas para cá. Diga a ela que é convite da casa. Valéria aplaudiu com os dedos, sorrindo amplamente. Sarah olhou para seu prato quase vazio na mesa e quis rir. — Ok, a que horas devemos chegar? — Chegue o mais cedo que puder. Desta forma, assim que terminar, poderemos ir. Valéria fez uma careta mimosa e franziu os lábios. Sarah lhe deu uma cotovelada. — Ok, assim que estivermos prontas iremos para aí. Mal acabou de desligar, Valéria saiu disparada em direção a mesa para levar seu prato. Já estava na porta quando parou. — Ah, ouça, lhe perguntou a respeito da estúpida da Dana? Sarah negou com a cabeça. — Não, provavelmente hoje eu perguntarei. — Quase me esqueci. — Fez uma careta. — Ontem à noite, quando vocês se foram, chegou vestida com a camisa de Angel. Depois 147


de duas horas, estava chorando de bêbada. Ao redor dela estavam suas amigas de alma, consolando-a, fazendo uma cena ridícula. Inclusive, a escutei perguntar ao Eric por que Angel podia machucá-la assim. Te digo que é patética. Comporta-se como se na realidade tivesse havido algo entre eles dois. É como uma brincadeira. Como te disse antes, Sarah, não discuta com ele por ela. Mas você pode pedir a ele para recuperar sua camisa. Sarah sentiu uma nuvem de tristeza sobre ela. Valéria foi firme quando lhe disse que entre Angel e Dana nunca houve nada sério. Mas agora, não estava tão segura. Ela tinha visto como ele se comportava quando Dana falava com ele na escola. Era muito doce para seu estômago. Ela sabia que Angel não era rude, mas gostaria que ele simplesmente a ignorasse. E agora, ela estava chorando por ele em uma festa na frente de todos? Isto devia ser esclarecido hoje mesmo.

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Capítulo Dez Valéria dançou de alegria quando Sarah contou sobre conhecer Alex. Mas Sarah tinha omitido algumas coisas. No caminho para o restaurante pensou que era justo colocar Valéria ciente de tudo o que havia dito a Alex. Para sua surpresa, Valéria não se alterou. — Por Deus Sarah — riu. — Como se não tivesse o ego grande o suficiente. — Sarah pensou na forma escandalosa em que tinha paquerado com ela. Sim era um doce, mas não era convencido. — Não tive a impressão de que tivesse um ego enorme. Valéria fez um movimento com os olhos. — Sarah, te disse que todos eles são encantadores. Estou certa que é um muito lindo, mas acredite em mim quando digo que ele sabe quão sexy é. Sarah sorriu. Não tinha como ele não saber. — Mas sairia com ele se lhe propusesse isso, ou não? — Está brincando? — perguntou Valéria. — É meu tipo ideal. É tão quente, maior e mais experiente do que a maioria dos idiotas de nossa escola. A última coisa que me preocuparia dele seria qualquer pressão para comprometer-se. 149


O queixo de Sarah caiu. — Quer dizer que não quer uma relação, nem sequer com ele? Pensei que fosse o homem de seus sonhos? Valéria se virou para ela. — Oh, sim é e estaria em cima dele se tivesse a oportunidade. Mas aprendi minha lição com o Reggie, Sarah. Por mais que eu gostasse, depois de um momento, era muito. Não podia suportá-lo. Se não tivesse terminado com ele, com certeza o teria traído. Sarah ficou perplexa. — Sério? Valéria assentiu com a cabeça enquanto estacionava em frente ao restaurante. Desligou o carro e ajustou o espelho para ver como estava. — Sim. Não franza o nariz. Sei que soa terrível, mas Mônica e as garotas foram a Tijuana um par de vezes e me matou o fato de que não pude ir com elas por causa de Reggie. Quando você vai a Tijuana, é certo ficar com alguém. Disso não há dúvida. Eu disse que da próxima vez que fossem, iria com elas. Fechou o espelho e virou-se para Sarah que seguia olhando-a sem poder acreditar. — Assim, rompi com o Reggie antes de ir com elas e é obvio, fiquei com este cara quente de Los Angeles. Foi muito bom. Sabia que uma relação com compromisso não era para mim. Talvez algum dia, mas não agora, a verdade é que estou me divertindo. 150


Sarah ainda não podia acreditar. Valéria lhe contou toda a história com Reggie deixando de fora a parte de Tijuana. Mas Reggie não era como Alex. Mesmo assim, se era assim que Valéria se sentia, quem era ela para dizer o contrário? — Você sim é outra coisa — lhe disse Sarah ao descer do carro. — Mas sou honesta — disse Valéria. — Sim. — Sarah não podia discutir com isso. — Sim, você é. Conforme cruzavam a rua, a mente de Sarah voltou a Angel e Dana. Parou e franziu o cenho. Não estava esperando ter esta conversa com ele, mas sabia que tinha que falar antes que as coisas piorassem. Quando entraram, Sarah quase desmaiou ao ver os pais de Angel ali. Não tinha pensado em conhecê-los tão cedo. No momento em que Angel as viu, foi até elas e deu um beijo em Sarah que fez com que suas pernas tremessem. Ele apresentou as duas a seus pais. Sua mãe, Isabel, era de estatura média, magra, em meados de seus quarenta anos. Sarah podia ver que ele e seus irmãos tinham herdado dela algumas de suas características mais atraentes. Tinha olhos grandes e cílios grossos. Seus lábios eram grandes e carnudos e ao sorrir, tinha as mesmas covinhas que Angel e Alex. Sofia também as tinha, mas não tão pronunciadas.

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Era muito amável e falava com um pouco de acento. Angel pensou que a sua mãe havia passado da conta, tratando de fazer com que Sarah e Valéria se sentissem a vontade, lhes oferecendo mais de tudo, muitas vezes. Entretanto, Sarah e Valéria pensaram que foi muito amável. Seu pai, Salvador, também estava em meados de seus quarenta anos e era muito alto e com ombros largos. Tinha um ótimo corpo para um homem de sua idade. Ele não falava muito como a mãe de Angel, dizendo apenas que era um prazer conhecê-las e em seguida, pediu desculpas para voltar ao escritório. Mas Sarah viu, pela forma como ele falou com Angel e Sofia, que era uma pessoa muito séria. Ao mesmo tempo, ela ouviu o calor da sua voz quando ele falou com Isabel e Sofia, se referindo a ambas como meu amor ou carinho. Sarah sentiu a mesma espécie de inveja, já familiar, que chegou a sentir quando estava com o Sydney e seus pais. O restaurante estava completamente lotado e Angel dava suas voltas até Sarah e Valéria enquanto elas almoçavam, no momento, Angel tinha sido chamado por seu pai ao escritório. Valéria estava em sua segunda rodada no buffet e Sarah estava sentada, perdida em seus pensamentos. Tinha passado todo o café da manhã pensando no que Valéria havia dito sobre Dana e sentiu como foi se enchendo de ansiedade. Estava sentada, jogando com sua comida, quando ficou perplexa. — Essa é Valéria? — Sarah pulou, quase derrubando sua bebida e virou-se para cima. — Desculpa. Não foi minha intenção me aproximar às escondidas. — Alex pôs sua mão em seu ombro. 152


Sentindo-se como uma tola, Sarah sorriu. — Está tudo bem. Afastou sua bebida de seu prato. Quando voltou para Alex, já estava olhando para Valéria. Sarah voltou sua atenção para sua prima que ainda estava servindo comida no seu prato. — Bom — disse sorrindo — sou parcial com as morenas, mas uma formosa loira, de vez em quando, cai bem ao corpo. Sarah levantou o rosto. De vez em quando? Valéria não estava brincando quando disse que era o seu homem ideal. Nunca haveria um compromisso entre este par. Pelo menos, não haveria nenhum ressentimento entre eles se algo acontecesse. — Isso é muito romântico — disse Sarah. Alex sorriu para Sarah. Ela estava sentada na ponta da cabine, de modo que Angel podia se sentar junto a ela cada vez que se aproximava da mesa. Alex sentou ao lado dela. — Você acha de verdade? Sarah se sentou mais reta e fixou sua vista em sua comida. — Não pensei que estivesse por aqui hoje. — Acabo de chegar — disse Alex. — Sentiu saudades? Sarah sentiu ruborizar. Maldito seja. Porque gostava de perturbála? — Não, na verdade quem perguntou por você foi Valéria. 153


Valéria veio andando em direção a ele com um sorriso um tanto fútil. — Sério? — Alex levantou uma sobrancelha. Valéria pôs seu prato sobre a mesa e se sentou em frente a Alex. Sarah os apresentou imediatamente. — Alex, esta é minha prima Valéria. — Depois sorrindo maliciosamente disse — e acredito que já conhece o Alex, verdade Valéria? Teve toda a intenção de envergonhar Valéria brincando, mas ela levou na esportiva. — Claro que sim. — Estendeu a mão para cumprimentá-lo. — Acredito que teria que estar morta para não saber a respeito dele. Alex sorriu. — Verdade? Acredito que já lembro de você. — Valéria moveu ligeiramente seus olhos. — Vi isso — disse Alex. — Não tentava ocultar — Valéria riu. — Acha que não me lembro de você? — Não. — Valéria se inundou em sua comida. — Quer apostar? Valéria negou com a cabeça. — Perderia. 154


— Isso quer dizer que tem medo? — Em apostar que não se recorda de ter me visto antes? Claro que não. Mas então, o que é que estamos apostando? Alex pensou por um segundo e depois sorriu. — Tem planos para hoje à noite? Sarah afogou sua risada. Como se tivesse que ganhar uma aposta para ter um encontro com Valéria. — Pode ser — disse Valéria. Sarah estava a ponto de cuspir a comida, Alex se virou para ela. Sarah cobriu a boca com o guardanapo, tossindo. — Está bem, carinho? — perguntou Alex. Pôs a mão para cima, sentindo-se como uma louca. — Estou bem. — Dizendo que podia. — Foi um choque. Viu como Valéria a olhava mas trocou rapidamente sua expressão a um sorriso quando Alex se virou para ela. — Pode ser? — disse Alex. — O que quer dizer? Valéria deu de ombros. — É que depende se há alguma coisa melhor. Pegou

um

pouco

de

comida

de

seu

prato,

sorrindo

pecaminosamente para Alex enquanto mastigava. 155


— Está bem — disse Alex. — Se eu ganhar a aposta, você vai cancelar os planos que tinha e te convido para sair. — Talvez. Sarah ficou surpresa com a facilidade com que estes dois estavam conversando. Lembrou-se como mal podia respirar nas primeiras vezes que falou com Angel, sem tentar paquerar. Olhava e escutava Valéria, completamente impressionada. Alex inclinou para frente com aquele sorriso malicioso dele. — A que horas passo para te pegar? As duas, Sarah e Valéria começaram a rir. — Ainda não ganhou — lembrou Valéria. Alex olhou para Sarah e, em seguida para Valéria. — Ah sim, isso. Certo. Já tinha te visto. Você é a ex do Reggie Lua. A expressão da Valéria congelou. Ela olhou para ele e, em seguida, virou-se para Sarah. — Nunca mencionei Reggie — disse Sarah rapidamente. — Não — disse Alex. — Jogamos na mesma equipe o ano passado. Quebrou seu coração. Os olhos da Valéria arregalaram. Sarah sorriu contente de que agora, quem estava impressionada era Valéria e não ela. Valéria tratou de recuperar a compostura. 156


— Verdade? — Olhou Alex com curiosidade. — Claro que sim. — Sua expressão era presunçosa. — Mas, por que rompeu com ele? Os olhos de Alex estavam fixos em Valéria. Sarah podia ver como sua prima ruborizava. Angel se aproximou da mesa, bem atrás de Valéria e Sarah, decidido a resgatar sua prima. — Angel, quanto mais vai trabalhar? Angel negou com a cabeça. — Já terminei. — Aproximou-se da mesa. — Agora que este folgado chegou, já posso ir. — Trabalhar? — Disse Alex. — Estou ocupado. Angel olhou para ele e, em seguida, olhou para Valéria. Sarah sorriu. Esteve quase invisível durante os últimos quinze minutos ou algo assim. — Bem, pelo menos não continua te paquerando. — Quem disse isso? — Alex encostou-se em Sarah. Angel o afastou. — Já terminou? Sarah pôs sua mão sobre seu estômago e fez uma careta. — Satisfeita.

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— Verdade? — perguntou Valéria. — Você nem sequer comeu a sobremesa. — Fique e termine — lhe disse Alex. — Eu vou te fazer companhia. Esse cara não pode esperar para sair com Sarah. Angel sorriu e tirou a camisa — Deixa-a sair. — Não se incomoda se eu for? — Perguntou Sarah para Valéria. — Na verdade sim — disse Alex, levantando. — Mas se este vai se cagar por isso... OH, perdão, estava falando com a Valéria. Sarah riu e Angel lhe deu um empurrão, logo a movendo. — Sim, vá — disse Valéria. — Vejo você mais tarde em casa.

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Capítulo Onze Sarah e Angel foram à praia. Não aos escarpados que costumavam ir. Sarah queria caminhar na praia. Por ser sábado, não havia tanta gente. Caminharam por um tempo e foram caminhando de volta para o carro quando Angel mencionou seus problemas com a classe de espanhol. — Não sabe espanhol? — Ela estava completamente surpresa. — Bom, eu pensei que sabia — disse — Mas de acordo com as classificações que tenho nos exames, parece que não sei. Sarah não pôde evitar rir apesar da agitação que lhe causava a iminente conversa. — Posso te ajudar. Angel virou-se para ela com curiosidade. — Sabe espanhol? — Claro que sim. Angel sorriu impressionado.

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— Que bom, porque eu tenho um exame na terça-feira e os relatórios de progresso saem na quarta-feira. Se não fizer além de um em meu exame, vou ficar no banco no jogo de sexta-feira. Sarah sorriu. — Eu vou ser sua tutora particular. Chegaram ao carro e Angel se inclinou contra ele, puxando Sarah para junto de si. — Hmm, soa bem. Sarah sabia que precisava perguntar ou teria que esperar até amanhã, e na verdade, queria acabar logo com isso. Ela respirou fundo. — Falando do seu jogo, Angel. Posso-te fazer uma pergunta? Angel a rodeou os braços. — Sim, claro. — Por que Dana estava vestindo sua camisa no jogo? — ela pensou ter visto um flash de pânico em seus olhos e depois nada. Angel exalou, virou-se para outro lado e então seu olhar voltou a Sarah. — Não sei, Sarah — disse — Andei saindo com ela antes, mas Dana sempre considerou que foi mais do que realmente foi. Sarah sentiu que algo dentro dela se acendeu. — Você namorou com ela? — De verdade se esforçou para não parecer ciumenta. Mas estava, totalmente. Ela tinha ouvido tudo sobre 160


Angel e Dana por Valeria, mas escutá-lo por parte dele na verdade a pôs em xeque. — Não — disse convencido. — Eu já disse que nunca tive uma namorada. — Você dormiu com ela? — O que diabos estava fazendo? Não era sua intenção chegar a esse ponto, mas as palavras escaparam de seus lábios e mais vinham a caminho. Por um momento, ela viu como seus olhos se arregalaram por um segundo e, em seguida, voltarem ao normal. Ele esfregou suas costas gentilmente. — De verdade importa, Sarah? Seu coração quase saiu pela garganta. Queria gritar. O que esperava? Por que se permitiu cair em seus braços? Isso era apenas uma garota. Com quantas outras mais ia ter que lutar? — De modo que nunca foi sua namorada. Você só dormiu com ela? Isso é o que planeja fazer comigo? Os olhos de Angel se reduziram e sua expressão se endureceu. — Sarah, no que me diz respeito, você é minha namorada. A única razão pela qual não digo é porque não estava seguro de que você tinha tomado nosso acordo dessa forma. Sarah não queria escutar. Tudo o que podia pensar era no fato de que Angel dormiu com Dana e isso a deixava doente. — Foi exclusivo com ela? — Sua voz estava cheia de sarcasmo. 161


— Não, não fui. O nó em sua garganta estava a ponto de sufocá-la. Não se atreva a chorar. Ela tratou de escapar de Angel, mas ele a segurou mais forte. — Então por que ela tem a sua camisa, Angel? — Engoliu o gosto amargo. As palavras seguiam saindo e não iam parar. — Você deu depois de dormir com ela? Quantas outras mais têm sua camisa? — Ninguém mais tem uma. — Sua voz soava muito tranquila. — Ela me pediu emprestado no ano passado e nunca me devolveu. Angel quis lhe dar um beijo, mas Sarah se virou. — O que você quer ouvir, Sarah? Isso só fez inflamar a sua raiva. Então, agora, Angel ia dar o seu lado? Tratou de escapar de seus braços para se afastar, mas o abraço dele era firme. Ela não podia contra esses braços. Deteve-se e o olhou diretamente nos olhos. — Quero a verdade sobre você e Dana. — Não havia um eu e ela — disse ele. — E mesmo se tivesse havido alguma coisa, por que eu iria mentir? — Porque, talvez, você ainda sinta alguma coisa por ela? — O que? — Sua risada conseguiu zangá-la ainda mais. — Não pequena, os únicos sentimentos que tenho são por você e são imensos. Não há comparação entre você e ela.

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Sarah o olhou, querendo desesperadamente acreditar nele. Se essa dor que sentia apareceu com algumas semanas dessa relação, como

poderia

enfrentar

algo

mais?

Estar

perto

de

Angel

definitivamente nublava seus sentidos. Mal podia acreditar quão primitivas se tornaram suas emoções. Ela se espantou.

***

Merda! Merda! Merda! Que estúpido foi pensar que o comportamento da Dana não a tinha incomodado. Suas tentativas deliberadas para irritar Sarah tinham sido inegáveis por várias semanas. A expressão ferida de Sarah dizia tudo. Sarah balançou a cabeça. — Sinto Muito. Eu deveria ter avisado, Angel. Angel olhou para ela. — Que diabos isso que dizer? — Quer dizer que isso é o que você é. Isto é o que o seu mundo, o que sempre foi o seu mundo. Quem eu acho que sou para me encaixar nele? Coisas como essas vão continuar acontecendo e não acredito que possa lidar com elas. Nunca devia ter chegado a um acord... — Nem sequer diga isso. — Tomou sua mão e a pôs em seu peito. O coração de Angel pulsava com tanta força que podia senti-lo 163


em seu pescoço. — Você está me assustando. Não posso acreditar que não perceba como sou louco por você. Sarah negou com a cabeça. — É muito difícil, Angel. Pensei que poderia fazer isso, mas eu não posso. Por favor, tente se colocar em meu lugar. Acaso seria capaz de suportar outros meninos constantemente em cima de mim? Não sei no que estava pensando ao me colocar nisso. Me deixei levar pela paixão. Paixão? É isso que significou para ela? E qual foi a outra coisa absurda que ela esfregou na sua cara? Ele ter que suportar outros caras em cima dela? Que diabos. Angel a olhou fixamente, mas apertando fortemente sua mão e lhe falou quase entre dentes. — Pode me dizer o que isso é para você? Sarah tinha baixado o olhar por um momento que pareceu eterno para Angel. Finalmente, ela olhou para ele. Seus olhos brilhavam, mas não chorou — O que eu sinto por você é o que tem me aterrorizado — disse. — Se não me importasse tanto, não estaria recuando neste momento, antes que seja muito tarde. Angel a olhou, incrédulo. Recuando? Sentiu o pânico lhe percorrer o corpo. Procurou em seu olhar algo mais, mas não havia nada. — Sinto muito — sussurrou.

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Seu coração ainda estava agitado, mas ao mesmo tempo sentia um estranho alívio. — Deixa de falar isso Sarah. Você não tem nada que se desculpar. A culpa é minha e eu estou tentando consertá-lo. Mas não vou deixar você voltar atrás, baby. Eu não posso. Talvez não seja tarde demais para você, mas para mim não há volta. Se inclinou e beijou Sarah na testa, em seguida, suas bochechas e ao redor de sua boca. — Angel — sussurrou Sarah. Continuou beijando-a, na boca, em seu queixo. Ela dizia que o que sentia por ele a assustava. De modo que ele não estava sozinho nisso. Era tudo o que precisava saber, na segunda-feira poria as coisas em seu lugar. — Angel... Ele não queria falar mais. Só a sustentou e a beijou. — Angel. — Sarah se afastou. — Como vai arrumar tudo isso? Se você se desfizer de Dana, o que acontecerá com as outras? Ele se esforçou para esconder sua irritação. — Não há outras, Sarah. Sim, cheguei a sair com outras garotas, mas ironicamente, graças a Dana, não foram tantas como você está pensando. Dana foi o único espinho cravado no meu traseiro que não pude tirar. Até agora, na verdade, não tive motivo para me esforçar nisso. Deixava-a fazer o que queria. Não me importava. 165


Beijou-a e depois sustentou seu rosto com entre as mãos. — Confia em mim, pequena, se o custo para estar contigo for dar um fora em Dana assim, fácil, me assegurarei disso. Um ligeiro sorriso apareceu nos cantos da boca de Sarah. — Vai fazer ela desaparecer? Angel sorriu, aliviado pela mudança de humor de Sarah. — Eu tenho algo menos violento em mente. Mas se você quiser ... Sarah o abraçou e se inclinou em seu peito. — Só se livre dela.

***

O dia seguinte foi muito menos emotivo, apesar de que as lembranças da conversa do dia anterior fizeram com que as coisas fossem ligeiramente tensas quando ele passou para pega-la. Conforme passaram as horas, Sarah se sentia melhor e novamente entregue a seus sentimentos. Inclusive, passaram uma hora inteira dentro do carro em seu lugar, antes que Sarah tivesse que ir trabalhar.

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Na noite anterior, ela estava acordada quando Valeria chegou em casa, e esta manhã, entre falar com Sydney e Angel passar cedo para pega-la, não teve oportunidade de falar com ela. Valeria acabava de sair do chuveiro e finalmente Sarah ia se inteirar sobre como ela tinha ido com Alex. Sarah sorriu amplamente. — E aí? Valéria começou a dançar e fechou a porta de Sarah. Ela levou Sarah para a cama e se sentou a seu lado. — Tenho que te perguntar algo Sarah — lhe sussurrou. — O do Angel é grande? Porque o do Alex é enorme. De verdade, enorme. Sarah ficou boquiaberta. — Você dormiu com ele? A expressão de Valeria congelou. — Claro que não. Aliviada, Sarah exalou. — Estou naqueles dias — disse Valeria. — Imagina que droga? A expressão de Sarah fez com que Valeria risse. — Sarah, quanto tempo eu estive sonhando com esse cara? Não é que eu seja virgem, você sabe. Eu dormi com Reggie. — Verdade?

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— Estive com ele por seis meses. Há tantas coisas para fazer antes de que já não possa mais se conter. Sarah sentiu como se ruborizava, pensando sobre as coisas que ela e Angel já tinham feito. Valeria a olhou de esguelha. — Viu o seu Angel...? — Shh! — Mortificada, Sarah se levantou de um salto e caminhou para a porta e foi dar uma olhada. Todas as luzes estavam apagadas. Ela voltou na ponta dos pés com medo de acordar alguém. Valeria olhou achando graça. — O que você está fazendo? Sarah colocou os dedos na boca de Valeria. Sentou-se na cama frente a ela e se aproximou. — Sim, eu já vi e é grande. Mas já que Alex é grande em tudo, não me admira que o seu seja enorme. — Não é que tenha visto tantos — disse Valeria fazendo uma careta. —Mas dos poucos que vi, quase me dá medo que vá me machucar. Sarah olhou para ela, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. — De verdade, você vai fazer isso? — É obvio — lhe disse Valeria. — Pensa, Sarah. Não sou boba. Sei que é questão de um par de encontros mais para ele ir em busca da 168


próxima garota e eu realmente não me importo. Mas eu estive desejando esse cara há anos. Se eu estragar o que pode ser minha única chance de saber o que é estar com ele, quando ao longo dos anos jogue uma olhada para trás, você sabe o quanto vou me lamentar. Sarah continuou olhando. Não podia acreditar quão diferente ela e Valeria pensavam. — Não tem medo de ficar grávida? — Não. Comecei a tomar a pílula quando comecei a sair com Reggie e nunca parei de tomar. Acredito que pensei que era melhor estar protegida do que me arrepender depois. Sarah parou de piscar por alguns segundos. A curiosidade de saber mais sobre o que Sarah fez com Alex a estava matando. Mas o medo de que Valeria perguntasse a respeito da intimidade entre ela e Angel evitou que perguntasse mais. Mas acabou que não teve necessidade. Valeria ficou cômoda na cama de Sarah e começou a lhe contar. — É absolutamente o melhor beijador do mundo. Sarah sorriu, pensando nos incríveis beijos de Angel. Nunca tinha falado sobre isso com nenhuma garota e gostou. Embora pudesse falar sobre qualquer coisa com Sydney, havia coisas que nunca poderia conversar com ele, especialmente das coisas com Angel. Não estaria bem. Só lhe contou que houve certas caricias entre eles, mas deixou de fora os detalhes. Valeria continuou. 169


— Ai meu Deus, é um animal. No momento que começamos a nos beijar, quase que nem me deu oportunidade para respirar. Pensava que alguém como ele, que estou segura que pode conseguir o que quer no momento que quiser, não deveria ser tão desejoso disso. — E onde estavam? — Perguntou Sarah. — Olha só. — Valeria sorriu. — Mais cedo, antes mesmo que deixássemos o restaurante, eu trouxe para conversa o tema do futebol, você sabe, perguntando como é diferente na faculdade em relação ao ensino médio. Então, ele me falou de tudo, me dizendo que seus amigos têm bastante material gravado dele em vídeo e que talvez, um dia destes, poderia me mostrar isso. Então, já um pouco mais tarde, me convidou para comer sushi e depois fomos caminhar na praia. Ali foi onde me beijou pela primeira vez... — Teve que ficar em cima de algo? — Sarah riu. Valeria tentou ficar chateada, mas ganhou o sorriso. — Se quer saber, ele estava sentado no muro que separa o corredor da praia, quando me puxou para ele e me disse que precisava me beijar. Sarah riu. — De qualquer forma! — disse Valeria — Depois que me beijou, não podia parar e começou a falar de como poderíamos ir à casa do seu amigo para ver os vídeos dele jogando futebol americano. De modo que eu disse que sim. Por que não? Acabou que seu amigo, que está viajando, tem um apartamento de solteiro não muito longe de onde 170


estávamos. Ele havia deixado com Alex a chave. Me diga se já não tinha planejado isso? Sarah estava tentando imaginar a pequena Valeria com o corpulento do Alex. Ele devia medir ao menos 1,95 e brilhava como o apoiador que era. Valeria media, quando muito, 1,60 metros e era de baixa estatura. — Assim, viu as fitas? — Nós começamos a vê-las. — Valeria começou a roer as unhas. — Mas não estávamos a muito tempo sentados no sofá quando ele veio para cima de mim. Eu juro que se não estivesse menstruada, certamente teríamos feito. Os olhos de Sarah estavam tão grandes como um par de pratos. — Você disse pra ele que estava “naqueles dias”? — Claro que não! — exclamou Valeria. — Disse que não me sentia cômoda, considerando que eu o tinha acabado de conhece-lo, coisa mais estúpida que eu podia dizer, porque aí em seguida me teve, de joelhos, engasgando com essa enormidade. Sarah cobriu o rosto e soltou uma gargalhada. — Poupe-me o visual, por favor — Ela tirou a mão do rosto. — Então, ele pediu para te ver de novo? — Bom, não o fez ontem à noite. Mas pediu meu telefone e me ligou esta manhã, dizendo que queria me ver de novo. — Vai sair com ele outra vez? — sorrindo, Valeria assentiu. 171


— Valeria, talvez esteja sentindo algo por ti. Ontem, os dois fizeram clique imediatamente. — disse Sarah. — Fomos direito ao apartamento do amigo dele, Sarah. A única coisa que sentiu foi isso. — apontou sua virilha. — E o sentirá, tão logo a maldição termine. Sarah ficou olhando, decepcionada. Valeria não se via nem um tanto decepcionada. Fez um gesto enrugando seu nariz. — É meu telefone? Ela levantou-se e correu para o seu quarto. Tinha ido por alguns minutos quando Sarah foi para até seu quarto para se despedir. Quando chegou, Valeria estava na cama falando no celular com um grande sorriso no rosto. Movendo a boca, sorrindo, disse que era Alex. Sarah, a imitando, inclinou-se perto da orelha de Valeria e pegou o telefone para escuta-lo. — Então, cancela esses planos — Alex disse. — Te pego às sete. — Está bem, eu acho. — Você acha? Valeria riu. — Estou perplexa, Alex. Sim, me parece bem. Houve um longo silencio do outro lado do telefone e finalmente disse: — É bem engraçada, Z. 172


— É que você é muito fácil. — Oh sim, bem, você não é — lhe disse — Tenho que ir. Amanhã levanto às cinco, mas não se esqueça. — Tentarei. — Sabe que... — Ok! — Valeria sorriu. — Claro que não vou esquecer. Está bem? — Muito melhor. Boa noite. — Alex se despediu. Sarah viu como Valeria fechou seu telefone. — Que foi isso? Ele me pareceu muito chateado. — Nããããã — disse-lhe Valeria. — Sabe que estou jogando com ele. Segue a corrente, interpretando seu papel. — Por que te chamou de Z? — Por Zuniga — disse Valéria — Acho que é uma questão de futebol. Ele chama quase todos os seus companheiros de equipe por seus sobrenomes. Mas me dei conta que o faz, quando na verdade, o provoco. Sarah levantou uma sobrancelha. — Não sei, Valeria. Te viu todo o fim de semana e já está te chamando para outro encontro? — Sara desceu da cama. — E que outros planos você tinha que cancelar? 173


— Ah, quando me perguntou se tinha algo que fazer na quartafeira, lhe disse que tinha planos. Te digo que isto é, porque ainda não conseguiu entrar em minhas calças, mas assim que fizer, garanto que vai desaparecer. — Então, por que dormir com ele? Valeria olhou para ela com simpatia, quando parou em frente ao armário com porta de espelho. — Sarah, que inocente — disse. — Acredita de verdade que ele vai andar em volta de mim para sempre para obter algo disto? Sarah franziu o cenho, mas antes de poder dizer algo Valeria continuou. — Além disso, já lhe disse isso, não estou à procura de um relacionamento. Estou perfeitamente feliz com a oportunidade de ser a garota de Alex Moreno por algumas vezes. É o que eu sempre desejei. Sarah não estava segura disso. Não importava o que Valeria dizia, ela sabia o que tinha ouvido. Alex parecia irritado. Mas se Valeria insistia, o que poderia dizer? Valeria conhecia mais Alex do que ela. O telefone tocou novamente e ambas deram um salto e trocaram olhares. Valeria viu o identificador de chamadas. — É ele de novo! — Ela se sentou na cama e Sarah se sentou em posição de escutar, inclinada sobre a orelha de Valeria. — Olá? 174


— Uma pergunta, Z. — Qual? — Que planos tinha para quarta-feira à noite? Valeria se virou para ver Sarah com os olhos arregalados e cobrindo a boca. — Bem, nada, na realidade — disse ela. — Apenas ia sair com minhas amigas, por que? De novo, houve silencio na linha. — Apenas imaginando. — ele disse. — Ok, agora vou deixar você dormir. Nos vemos na quarta-feira. Valeria sorriu e lhe desejou boa noite. Virou para ver Sarah, que estava lhe dando um olhar conhecido. — Antes que você diga alguma — sustentou sua mão para cima — Já tinha te falado, estes tipos são territoriais, especialmente os que têm um ego enoooorme. Isso é tudo. Não significa nada. Via-se tão petulante e soava tão segura, mas Sarah se sentia incomodada. Não conseguia acreditar, mas estava começando a se preocupar com os jogos de Valeria com Alex.

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Capítulo Doze Na segunda-feira de manhã, tudo voltou ao normal com Sarah e Angel. Nunca estavam juntos durante os intervalos da manhã ou do almoço. Assim, quando Angel viu Dana perto de seu armário pouco antes do almoço, pareceu um bom momento para cuidar deste assunto de uma vez por todas. Duas de suas amigas estavam com ela. Seus olhos brilharam assim que o viu se aproximar. Despediu-se rapidamente de suas amigas. — Ei — mostrando a Angel um grande sorriso enquanto balançava seu cabelo. — E aí? —Tem um minuto? — Para você? Sempre. — Sei o que você fez na sexta-feira, Dana. Pare já com isso. Seu sorriso desapareceu e voltou seu olhar para seu armário. — Não sei o que dizer... — Claro que entende — Angel respondeu calmamente. Virou-se para encará-lo. — Você me deu esta camisa, você não se lembra? 176


— Não, eu a emprestei e você nunca me devolveu. Dana tentou manter o equilíbrio e, finalmente, olhou-o nos olhos. Angel percebeu sua intenção de parecer como se tivesse sido machucada. — Quer que lhe devolva? É disso que se trata? — Claro que quero. E eu quero que você pare de fazer tudo o que vem fazendo, Dana. Isso está muito chato. — Nunca se queixou antes. — Bom, pois as coisas são diferentes agora. — Angel pôde ver a fúria em seus olhos. Sabendo que gostava muito de fazer pequenas cenas, ele se alegrou que estavam sozinhos no corredor. — Ela lhe pediu para fazer isso. — Angel percebeu o veneno em suas palavras de forma clara e forte. Angel não ia dar o gosto. — Para ser honesto, nunca te mencionou. Dana começou a rir soando sarcástica, mas logo ficou quieta. Bateu a porta do seu armário e o eco ressoou fortemente por todo o corredor vazio. Dana franziu o cenho e seus lábios começaram a tremer. — Acha que essa é a sua única camisa que tenho? — Não, estou certo de que tem muitas.

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— Vá à merda, Angel! — Começou a se afastar. Depois de alguns passos, ela parou e se virou. — E pare de criar ilusões. Não precisa se preocupar, porque nunca mais volto a lhe dirigir nenhuma palavra — Obrigado. Com isso, Dana virou e foi embora quase correndo. Afinal de contas, as coisas correram melhor do que ele esperava. Angel foi para a cafeteria, sentindo que tirou um enorme peso de cima. Não pôde evitar sorrir. Seus problemas com Dana tinham terminado.

***

Essa tarde, inesperadamente, o treino foi suspenso mais cedo, porque um dos jogadores foi ferido e teve que ir ver os paramédicos. Angel olhou para as arquibancadas e viu Sarah completamente absorvida em sua corrida. Nem sequer tinha se dado conta que os jogadores já não estavam no campo. Ele podia esperar ela terminar. Fazia tempo que não ficava com seus amigos depois do treino. Agora tinha alguns minutos. Angel acabava de sair do vestiário com Eric e Romero quando viu Dana abordá-lo às pressas, muito determinada. — Posso falar contigo? Angel seguiu caminhando. 178


— Diga. — A sós. — Virou-se para ver Eric e Romero. Ambos se viraram para ver Angel dando de ombros. — Estaremos por aqui — assinalou Eric. Não foram muito longe e se sentaram em uma mesa que estava perto de onde as garotas da equipe da bandeira praticavam. — Como você se atreve a se livrar de mim desse jeito. — Cruzou os braços e ficou diante dele, fazendo com que tivesse que parar. — Como se nunca tivesse significado nada para você. Angel mordeu a língua para não ser cruel, mas tinha que pensar em Sarah. — Às vezes as coisas mudam, Dana. Agora estou saindo com alguém. Não posso continuar a sair com você. — Moveu sua mão para cima e abaixo em frente dela. — E você continua com isto. — Sabia que dormiu com o Jesse Strickland? Angel soltou uma gargalhada, embora o que menos sentia era vontade de rir. — Isso é o que ele anda dizendo? — O que todo mundo diz. Estou surpresa que não tenha escutado. — Não estou acostumado a escutar merda. — Dana tinha conseguido atordoá-lo, mas preferia antes estar morto a lhe dar o gosto. 179


Sabia que tudo era uma bola de mentiras, mas a ideia de que estivesse circulando um rumor assim sobre Sarah lhe dava náuseas. — Não queria te magoar, Angel. Mas pensei que você deveria saber. Sua falsa tentativa de soar como alguém compassivo era irritante. Angel não costumava desrespeitar ninguém, em especial as mulheres, mas podia sentir o sangue em suas veias congelando. Sarah esteve muito perto de terminar com ele, malditamente perto. E, por isso? Tinha sido muito amável. Angel olhou para Dana. — Não se preocupe. Você não pode me machucar, Dana. Teria que me importar um pouco para que isto acontecesse. Ela encolheu os ombros. — Suponho que ela sabe de nós? Angel riu. — Nunca houve uns nós Dana, você sabia disso. Você inventou toda essa merda, não eu. — Lágrimas brotaram nos seus olhos. Angel pôs os olhos quase em branco e seguiu em frente. — Por Deus, não comece com esta merda. — Deu a volta e começou a caminhar para Eric e Romero. — Você fez amor comigo, filho da puta! — gritou Dana. — Ou não se lembra disso?

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Seu estômago se contraiu, deu a volta e foi para ela. Viu os olhos de Dana bem abertos em sinal de alarme, mas ela se manteve firme. Caminhou direto para o seu rosto e falou entre dentes alto o suficiente para ela ouvir, com palavras fortes e afiadas. — Mete isso na cabeça. Nunca fizemos amor. Tivemos sexo, frio, sem sentido, como você teve com os outros. Isso não significou nada para mim. Você não significa nada para mim. Fique longe da merda da minha vida. Estou falando sério, Dana. Com a boca entreaberta, ela olhou para ele. Seus olhos arregalaram, em seguida, virou-se e se afastou rapidamente com o rosto entre as mãos. Suas amigas estavam em pé na porta do ginásio, esperando para consolá-la e ouvi-la soluçar enquanto davam a volta na esquina. Angel respirou fundo e lentamente virou-se para os meninos, ignorando os rumores e os rostos de todos que estavam parados ao redor. Romero sacudia sua cabeça. — Ouça amigo, espero que já tenha se livrado dessa cadela. Angel assentiu, ainda se sentindo um pouco instável. Nunca teve a intenção de ser tão duro, mas o que disse, simplesmente lhe brotou da boca. Ele ficou ali, pensando sobre o que Dana tinha dito sobre Sarah... Não queria que os caras percebessem o dano que isso lhe causou, mas nem sequer podia sorrir forçadamente. Eric parecia preocupado. 181


— Tudo bem, Angel? Angel assentiu com a cabeça e virou para onde Sarah estava. Voltou para ver Eric novamente. — Acha que deveria contar isto a Sarah? — É obvio que não! — disse Romero. — Não, eu sim contaria! — disse Eric. — De verdade? Fechando os olhos, Romero negou com a cabeça. — Que se dane a Dana! Por que vai incomodar Sarah com tudo isto por causa dela? Eric fez um gesto, olhando a seu redor. — Eventualmente, Sarah vai saber. Eu garanto. Dana gritou aos quatro ventos, cara. Provavelmente alguém vai contar. Só digo que se fosse eu, sairia limpo desta. Não é que tenha feito nada errado. Só deixe de fora a parte em que Dana gritou que dormiu contigo. Sarah é legal. Vai entender. Só não torne isto maior do que é. Angel olhou para ambos. Não iria contar que Sarah esteve prestes a acabar com tudo por causa de Dana. Sentindo como se tivesse engolido um tijolo, virou-se para ver Sarah caminhando em sua direção. Ela sorriu e lhe mandou um beijo no ar. Tratou de sorrir, mas, maldita seja, temia ter outra conversa com Sarah sobre a Dana. 182


***

Não havia ninguém na casa de Angel quando ele e Sarah chegaram. Angel levou Sarah para o apartamento e deixou sua mochila sobre a mesa de café. — Estou com sede. — Dirigiu-se à cozinha. — Quer beber algo? — Sim claro, água ou um refrigerante diet, se tiver. Angel foi até a cozinha e pegou um par de garrafas d’água da geladeira e voltou para a sala de estar. Sarah estava de joelhos no sofá, olhando para as fotos que estavam na prateleira atrás dela. Pegou uma para vê-la mais de perto. Angel viu seus olhos brilharem e percebeu imediatamente qual era. Colocou a água sobre a mesa de café. — Por Deus, é você? — Dê me isto. — A alcançou. Sarah tinha tirado. — Você era tão fofo! — disse, rindo. A pegou no sofá, mas Sarah escondeu a foto debaixo dela. Ele a manteve presa, tentando tirar a foto. Ela se retorcia e ria histericamente. 183


— Que divino eram teus cachinhos. — Não são cachinhos — seus braços estavam agora por debaixo dela, procurando a foto. Sarah mal podia respirar, estava rindo demais. — Está bem, está bem — gritou Sarah. — Pegue. Angel tirou a foto dela e a colocou virada para baixo sobre a mesa. Inclinou-se sobre ela e a beijou. Começaram a se tocar, mas em seguida se compuseram quando escutaram ruídos lá fora. Não era nada e novamente Angel virou-se para Sarah. — Que hora seus pais chegam? — Não têm hora. — Continuou lhe beijando. — Depende de quão ocupados estejam. — Então podem chegar a qualquer momento. — Sim. — Angel começou a beijá-la no pescoço. — Então, saia de cima de mim — Sarah disse rindo, retorcendo e arqueando as costas ao sentir o toque de sua língua em seu pescoço. O empurrou colocando suas mãos em seu peito. — Angel, sério. Se seus pais chegarem, morro. Deu-lhe um grande e intenso beijo e depois se endireitou e alisou suas calças. — Não poderei me conter por muito tempo. Sarah sorriu, olhando o vulto em suas calças. Sentou-se e deu um tapinha em seu ombro. 184


— Você vai ficar bem. — Sim claro, só me dê uns minutos. — Pegou o controle remoto e ligou a televisão. A primeira coisa que viu foi a uma mulher grande e gorda que estava sendo entrevistada a respeito de seus vinte gatos. — Ok, já estou bem. Sarah engasgou e imediatamente depois começou a rir. — Droga. Ele mudou de canal, passando de um para o outro, até que finalmente deixou em um reality show de moto. Angel pretendia entreter-se com isso. — Falei com Dana hoje. Sarah retirou a mão de seu ombro, mas Angel a pegou de volta. Ela havia dito pela manhã que não queria os detalhes de sua conversa com Dana sempre e quando ele conversasse com ela. — Estou te contando, porque estou certo que vai ouvir sobre isso. Sarah ficou olhando. — Já tinha falado com ela cedo pela manhã e pensei que isso ia ser tudo — disse. — Mas devia ter percebido que não, quando não deu um grande show. Pode ver como Sarah buscava ansiosa seu olhar. — Ela fez uma de suas pequenas cenas após o treino. 185


— Uma cena? — Sim, uma cena. — A abraçou e voltou a empurrá-la novamente sobre o sofá. — Não foi nada. Nem sequer pensava contar, mas tampouco queria que se inteirasse por outras pessoas. — O que disse? Angel tratou de beijá-la mas ela se afastou. — Por favor Sarah, não vamos começar de novo, carinho. Sério, a única coisa que importa é que já esclareci as coisas e ela deixará de fazer coisas estupidas. — Tem certeza? — Sem dúvida. — A beijou e desejou estar certo. Ela o olhou por alguns momentos. — Tudo bem. Felizmente, não começaram outra desagradável discussão a respeito de seus sentimentos por Dana, Angel gemeu e enterrou seu rosto em seu pescoço. Apertando-se contra ela e suas mãos começaram a percorrer seu corpo. Começava a colocar a mão em sua blusa quando escutou alguém na porta. Sarah deu um salto tirando Angel de cima dela. Era Alex. Sarah tirou seu caderno da mochila e Angel colocou um travesseiro em seu colo. Alex sorriu. 186


— Acaso interrompi seu estudo? Angel o ignorou, mas sorriu e tomou um gole d’água. Sarah se sentou ereta com seu queixo para cima. — De fato, estamos estudando. Angel tem um exame importante amanhã. Alex tinha pegado o controle remoto da mesa e estava trocando os canais. — Bom, pois não poderão estudar aqui. — Olhou de novo para Angel. — Os caras vão chegar a qualquer momento. Iremos ver a partida. Angel estava confuso no início, então percebeu que era segundafeira de futebol. Ele olhou para a televisão. — Não me diga que os Chargers jogam? Sarah o olhou seriamente. — Você tem que estudar, Angel. Você tem o exame amanhã. Não há nada que valha mais. Alex disse: — Melhor você do que eu. — Fez gestos a Angel para que desocupasse o sofá. — Vão para cozinha. Disse aos caras que trouxessem comida e além disso, pediremos pizza. Preciso desta mesa. Angel e Sarah foram para a cozinha. Sentaram-se na ilha no centro da cozinha. Sarah era uma explicadora bastante severa já que 187


não queria vacilar com a tarefa em questão. Angel não tornava as coisas fáceis com seus constantes beijos e suas carícias. Ela se afastou, rindo depois que ele mordeu sua orelha. — Está bem, Angel, preste atenção. Isto é fácil: ‘Onde estão’ significa, 'Dónde están'. — Angel olhou para cima e viu Romero entrar na cozinha. Este colocou os dedos sobre os lábios para indicar para não dizer nada. Sarah continuou. — Você conhece todas estas palavras... — Ela apontou a lista de palavras no livro. — De modo que ’Onde estão meus sapatos’, significa 'Dónde están mis zapatos?', e ‘Onde estão minhas chaves’, significa 'Dónde están mis llaves? ’. Agora, tenta você. Antes que Angel pudesse responder, o telefone de Sarah tocou. — Vou deixar entrar na caixa de mensagem — Não — respondeu Angel agradecendo o descanso. — Estava doido por um pedaço de pizza. Sarah levantou-se para atender e foi para a porta do pátio. Os meninos na sala estavam torcendo em voz alta e teve que cobrir seu ouvido livre para ouvir melhor. Angel assentiu com a cabeça, quase sem prestar atenção. — Marcaram? — perguntou, com toda sua atenção no estudo. — Claro! — disse Romero, caminhando em direção a ele. Retornou correndo quando os meninos começaram a aclamar. 188


Ambos foram para a mesa onde estava a pizza. — Olhe, tenta isto — disse Romero. — 'Onde estão meus ovos?' 'Dónde están mis huevos?' Angel riu pegando uma fatia e encostando-se à mesa, Romero balançou a cabeça, irritado. Deu uma olhada para fora da janela para se certificar de que Sarah não o escutasse. — Ouça cara, está tão atordoado que está perdendo um jogo dos Chargers? Angel sorriu, comendo sua pizza. — Tenho que estudar. Se não me sair bem neste exame, me deixarão no banco na sexta-feira. Romero voltou a sacudir a cabeça sem estar convencido. — Pois está perdendo um partidão. — Pegou outro pedaço de pizza antes de retornar para sala. Angel franziu o cenho e terminou sua fatia. Olhou pela janela e viu que Sarah ainda estava ao telefone, rindo. Ela o viu e mostrou sua língua. Ele sorriu e se afastou, aproveitando para ver um pouco da partida. Estava fora da cozinha quando ouviu abrir a porta do pátio. Retornou e viu Sarah encostada na porta. Pegou o final de sua conversa. — É obvio que não — disse ela. — Não pense isso. Claro que estou contente por você. Isto é maravilhoso. Já me conhece. Se estivesse aí, estaria pulando em cima de você, celebrando. 189


As sobrancelhas de Angel se arquearam. — Sim, sim, eu juro, eu te ligo mais tarde. Desligou e olhou ao seu redor. Parecia um pouco surpresa que Angel estivesse ali. — Era Sydney. A expressão de Angel se suavizou, moveu a cabeça caminhando ao redor da ilha, para pegar outra fatia de pizza. — O que aconteceu com ela? — perguntou sem se virar.

***

Sarah mordeu o lábio, fazendo uma careta, agradecida que Angel estivesse de costas neste momento. Sabia que havia dito que a próxima vez que Angel se referisse a Sydney como ela, ia corrigi-lo, mas de alguma forma, este não era nem o lugar nem o momento adequado. Algo lhe dizia que o estudo de Angel, era mais importante e ela não queria ser a responsável por não poder jogar na sexta-feira. Agora, Angel virou-se para ela olhando-a. Para que a mentira não crescesse, tinha que ser muito cuidadosa no que ia dizer.

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— Sydney aceitou uma bolsa antecipada para estudar música na Universidade de Columbia, em Nova York. Os olhos de Angel se fecharam levemente. — E ela não acreditou que isso te alegraria? Aproximou-se para acompanhá-la. Ela já tinha sentado onde eles estavam estudando. — Bom. — Limpou sua garganta. — Fiquei em silêncio por um segundo quando disse Columbia, porque Sydney sempre havia dito que sua meta era a UCLA2. Então Syd pensou que talvez ficaria chateada, porque Columbia era longe. Mas realmente já estou me acostumando à distância entre Sydney e eu. Além disso, com a tecnologia de agora, parece que nem sequer estamos longe. Falamos muito por telefone. — Mal havia dito isto e queria se retratar. Esqueceu que, eventualmente, Angel ia se inteirar de todos esses pequenos detalhes que tornariam as coisas mais difíceis de entender. — Oh sim — Angel assentiu com a cabeça. — Além disso, tem o e-mail. Não importa o quão distante estejam, estou certo que se manterão em contato. Sarah começou a ficar nervosa. Não sabia quanto mais ia poder seguir antes que o nome de Syd fosse mencionado tantas vezes que começasse a soar estranho. Sarah tentou mudar a conversa. Moveu a cabeça assentindo.

2

UCLA — University of California, Los Angeles. Universidade da Califórnia, em Los

Angeles

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— Estou morrendo de fome. Alex e Eric entraram. Angel se levantou e foi até a pizza. —Terminou? — perguntou Angel — Não, é o intervalo — disse Eric. Angel pôs duas fatias em um prato descartável e logo pegou outra para ele. Alex e Eric estavam comendo sua pizza, encostados na mesa. Sarah agradecia a interrupção, mas seu alívio logo se converteu em esgotamento. Angel pôs o prato na frente dela e tirou um refrigerante da geladeira. — Então Sydney se dedica à música? — Ele lhe passou o refrigerante... Sarah pegou e balançou a cabeça, recusando-se a retomar a conversa. Deu uns passos e se sentou ao seu lado. — Que instrumento ela toca? Sarah tomou um longo gole de refrigerante e olhou para Alex e Eric. Ambos a olharam. — Saxofone. — Verdade? — Angel olhou surpreso. — Isso sim é sexy — disse Alex quando Romero entrava.

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— O que é sexy? — Perguntou-lhe Romero. Pegou uma fatia de pizza e parou junto a Alex. — Sua amiga toca saxofone — disse Alex. Romero levantou as sobrancelhas. — Uma garota? Sarah ia assentir, mas não teve oportunidade. — É obvio, cara. — Alex deu um empurrão em Romero. — Como se disséssemos sobre um menino. Eric e Angel começaram a rir. Sarah queria morrer. A testosterona dentro da cozinha era sufocante. — Verdade? — disse Romero. — Uma garota que realmente sabe sopro, né? Todos os meninos soltaram uma gargalhada. Sarah se afundou em seu assento. Isto era um pesadelo. Agora, todos formavam parte de sua mentira. Sentiu quando Angel deu tapinha em suas costas. Angel pensou que seu atordoamento era por causa do comentário de Romero. — Acalme — disse. — É sua melhor amiga... Romero ficou olhando. — Ah é? Pois me apresente a ela. — Ela gosta de tocar saxofone, não um pequeno flautim — disse Alex rindo. 193


Eric quase cuspiu toda sua comida e até mesmo Sarah teve que rir. — Ela está no Arizona — disse Angel, ficando em pé para pegar mais pizza. Procurou em três caixas vazias, antes de encontrar uma que ainda tinha algo. — Nós já comemos três? Alex se virou para ele com olhos enormes. — Estão uma bola de gordos. Essas eram extra grande. Nós somos apenas quatro. — Eu também comi — disse Sarah, levantando a mão. Alex olhou seu prato sem impressionar. — Carinho, eu comi sozinho duas fatiadas antes que a pizza sequer chegasse à cozinha. Romero caminhou e se encostou na pia de frente para ela. — Arizona, né? Pois então convida-a para vir te visitar. — Cara, se afaste daqui — disse Alex. — O que? — Protestou Romero. — Estou falando sério. Saia daqui — lhe disse Alex. Angel riu sentado novamente ao lado de Sarah. — Sim, saia daqui. Preciso estudar. Romero se aproximou de Angel e o olhou seriamente. 194


— Dónde están mis huevos? Desta vez, foi Sarah que quase cuspiu toda sua comida. Angel pôs seus olhos quase em branco. Eric já tinha retornado à sala. — Já começou! — gritou. Alex e Romero agarraram uma fatia de pizza cada um. Não haviam saído da cozinha quando Angel estava sobre ela. Ela estava um pouco atordoada... — O que está acontecendo? — perguntou. — Sente-se cansada? — Não. — Só desleal e mentirosa. Deu-lhe mais uns beijos. — Talvez Sydney possa vir te visitar. Podemos sair todos juntos. Não se preocupe. Eu me encarrego do Romero. Sarah esperava que Angel não a ouvisse tragar amargamente e forçou um sorriso. — Claro, talvez. — Nem em um milhão de anos. Isso estava fora de controle. Tinha que pensar uma forma de resolver isto. Rapidamente.

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Capítulo Treze Angel tirou oitenta em seu exame de espanhol e estava feliz de poder estar no jogo desta semana. Era um jogo importante. Jogavam contra seus rivais e ambas as equipes estavam querendo chegar aos playoffs. Sarah sentou-se nos degraus com a Sofia, Valéria e Mônica, a amiga da Valéria. Os pais de Angel tinham voado essa tarde para Flórida para o jogo de Alex no dia seguinte. Angel estava responsável por Sofia até que eles retornassem. Em vez de deixá-la no restaurante esta noite, Angel fechou cedo e a levou com eles. Sarah não se importou dela ir com eles. Sofia gostava dela desde que estava praticando com a equipe de atletismo, estavam muito próximas. De todos os modos, Sarah se sentiu mal. A equipe de revezamento nunca chegou perto dos tempos registrados no conselho quando Sarah estava no quarto lugar de revezamento durante a prática. O treinador sempre estava duro e desanimado de que ela não ia estar no próximo semestre. Sarah começou a manter esses comentários para si mesma, já que Angel poderia se incomodar. Toda a semana transcorreu sem nenhum incidente, e agora a partida também ia bem. Havia vários meninos da outra escola sentados perto das garotas. Um deles estava tentando mexer com a Sofia e isso estava deixando Sarah nervosa. Várias vezes olhou para o campo, e pelo que ela via, Angel não se deu conta de nada. 196


Quando a partida terminou, Sarah foi ao estacionamento e encostou-se no Mustang de Angel. Valéria e as garotas, incluindo Sofia, estavam conversando com os meninos que conheceram na partida, no local que estava o automóvel de Valéria, estacionado a uns carros de distância. Angel deu a Sarah às chaves em caso de que ela e Sofia quisessem ficar no automóvel enquanto esperavam. Sarah tinha a porta aberta e com música. Ela acenou para Sofia para vir com ela e assim o fez. — O que? — Está me deixando nervosa. — Disse Sarah, tentando não soar chata. — Por quê? — Não acha que Angel vai ficar nervoso se te vê com todos esses caras? — Esse é Alex. — Disse Sofia sorridente. — Angel não é tão exagerado. Não ficará contente, mas também não fará nada, a menos que os caras sejam desrespeitosos e eles não são. São bastante agradáveis. Em questão de segundos, Sarah lamentou ter chamado Sofia. O menino que estava mais interessado na Sofia a seguiu e todos outros o seguiram. Agora, todos estavam ao redor do automóvel de Angel, cinco meninos e quatro garotas. Nenhum deles era tão intimidante como Angel e seus amigos, dois deles eram mais baixos e um deles era 197


gordinho e o outro era muito jovem para estar com eles. Mesmo assim, Sarah sabia que Angel não ia gostar disso. O que estava mais interessado na Sofia era o mais alto e o mais bonito desse grupo. Sarah olhou por cima deles e viu um grupo de meninos caminhando para eles. Estava escuro e se encontravam relativamente longe, mas mesmo assim, Sarah soube, somente pela forma de caminhar, que eram Angel, Eric e Romero. Quando estavam suficientemente perto Sarah, teve contato visual com Angel. Ele a olhou e logo viu o grupo de pessoas que estava ao redor de seu automóvel. Sarah era a única que estava separada do resto. Angel levantou uma sobrancelha, mas sorriu. Romero fez o primeiro comentário. — E o que é isto? Alguém organizou uma festa? Sarah viu que Eric caminhou mais depressa quando viu Sofia falando com esse cara. — O que está fazendo aí, Sof? Angel nem sequer viu Sofia até que Eric a mencionou e voltou para o grupo franzindo o cenho. Os outros meninos se afastaram imediatamente permitindo que eles se aproximassem. Angel caminhou diretamente para Sarah e a beijou. — O que está acontecendo? — Sua voz era baixa. — Quem são esses idiotas? Sarah se voltou para o grupo.

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— Não os conheço. Estes são uns meninos com que elas estavam conversando durante a partida. — Elas? — Ela sorriu e o abraçou fortemente. — Sim, elas. — Quem é o que está com a Sofie? — Vai saber. — Sarah encolheu os ombros. — Mas todos parecem suficientemente agradáveis. Ela me disse que você não se importaria. Angel franziu o cenho, vendo o cara que estava fazendo Sofia sorrir. — Claro, bom, melhor você enfiar seu traseiro no automóvel, antes que sim, eu me importe. Sarah não teve que ouvir isso duas vezes. Ele se virou em direção da Sofia. Ela ia dizer que iriam sair, mas Eric já estava lá. Ele não podia ouvir o que disse Eric, mas o que quer que fosse, fez com que o menino que falava com Sofia se irritasse. — Quem é você? — Perguntou o menino com certa atitude. — Quem diabos é você? — Respondeu Eric irritado. Sofia se colocou entre ambos e em um segundo, Angel e Romero já estavam agarrando Eric e logo se colocou entre eles quando viram que os outros meninos se dirigiam para Eric.

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As garotas contiveram os meninos. Mônica ajudou Sofia com o Eric, que era o mais firme, entretanto, Romero como sempre foi o mais difícil de conter. O pobre rapaz tentou se levantar, mas estava apavorado. Seus amigos se afastaram dali antes que saíssem machucado. Sarah lutava com Angel, suplicando: — Já basta, Angel! Pelo amor de Deus, só estava falando com ela. Quando os rapazes já estavam o suficientemente longe, Sofia soltou Eric. Com bastante desgosto, foi para o automóvel de Angel. Sentou no assento de trás e bateu a porta. Angel voltou e estava a ponto de dizer algo a Sofia. — Vamos. — Disse Sarah. — Ela bateu minha porta. — Voltou a olhar para Sarah com exasperação. — Só vamos, por favor. Angel e Sarah caminharam para o automóvel. Romero e Eric os seguiram. Uma vez no automóvel, Angel voltou a ver Sofia. — Qual o problema com você? — Qual o problema com você? — Devolveu Sofia.

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Sarah afundou no banco do passageiro. Eric colocou a cabeça pela janela da Sarah. — Quem era esse cara, Sof? — Ninguém. — Disse Sofia cruzando os braços. Romero colocou a cabeça na janela de Angel. — O que aconteceu? Sofia exalou ruidosamente, soando mais como se fosse um grunhido. — O que foi isso? — Perguntou Angel. — Quantos irmãos eu tenho? Angel ia lhe dizer algo, quando Sofia pôs sua mão em sua cara e estremeceu. — Sofie? — Está chorando? — Eric enfiou ainda mais sua cabeça. — Ela está chorando? — Perguntou Romero. — Está bem! — Disse Sarah se endireitando. — Já esteve bem. Saiam todos. — Empurrou a cabeça de Eric para fora da janela e empurrou Angel para tirá-lo do automóvel. Sua cabeça se chocou com a do Romero. — Ai! — Grunhiu. 201


— Bom, já, mova seu traseiro! — Disse Angel. Angel desceu do carro e todos eles foram caminhando à contra gosto. Valéria e Mônica ainda estavam lá e foram com eles. Sarah voltou para a Sofia. — Está tudo bem? Sofia negou com a cabeça, com a mão ainda em sua cara. Sarah se aproximou e deu um tapinha no joelho. O amplo peito de Sofia se levantava conforme tomava ar e começou a baixar conforme exalava lentamente. — As intenções deles eram boas. — Disse Sarah. — Sei. — Suspirou Sofia. — Mas uma única vez queria ser como qualquer outra garota e sair com caras, sem que nenhum deles se transformasse em alvo. Sarah riu. — Eles só não estão acostumados. Ainda te veem como sua pequena Sofie. Mais cedo ou mais tarde se acostumarão. Sofia fez um movimento com os olhos e limpou o rosto. Sarah lhe entregou um lenço. Sofia soou o nariz e sentou. — Sabe o que é o mais estúpido de tudo isso? — O que? — De qualquer maneira, eles não tinham por que se preocupar. 202


Sarah não estava tão certa disso. Ela viu a forma como aquele rapaz olhava para Sofia. — O que quer dizer? — Estou me guardando para um só menino e comecei a pensar que ele já sabia. Os olhos de Sarah arregalaram. — E verdade? Quem? Sofia sustentou o lenço sobre seu nariz, olhando para Sarah de forma apreensiva. Olhou pela janela para ter certeza de que os meninos estavam o suficientemente longe para não escutá-la. — Me promete que não dirá a Angel? Sarah assentiu, mas tragou saliva, sem estar tão segura de querer saber mais. Sofia fechou seus olhos fortemente e depois voltou a olhar novamente para Sarah. Sussurrou algo, mas Sarah não entendeu a primeira vez. Sarah olhou pela janela para ter certeza que estavam o suficientemente longe. Viu que Eric dava uma olhada para o caminho de volta e logo voltou a olhar para Angel. Sarah se aproximou de Sofia. — Quem? — Sussurrou Sarah. — Eric. Sarah a olhou e ficou sem palavras. As duas olharam pela janela e viram Angel e Eric caminhando para o carro. — Por favor, não diga nada. — Suplicou Sofia. 203


— Não direi. O que te fez pensar que Eric sabia que ela estava se reservando para ele? Sarah queria lhe perguntar um montão de coisas, mas os meninos estavam muito perto. Teria que esperar até a próxima oportunidade em que estivessem a sós. Foram à praia e fizeram uma fogueira. Sarah estava olhando e observando toda a noite, cuidando que Angel não desconfiasse. Não acreditou que não tivesse notado antes. Bom, se se deu conta, mas nunca fez nada a respeito. Sempre o viu como algo inocente. E seguia sendo, mas somente depois do que Sofia lhe disse hoje à noite, algumas coisas pareciam um pouco questionáveis. Eric se manteve toda a noite ao redor de Sofia. Inclusive, foram caminhar sozinhos e Angel não pensou que isso fosse errado. Ela também não teria pensado, até antes desta noite. Sempre pensou que Eric era gentil. Eric sabia que Angel estava ocupado com Sarah, de modo que estava somente dando uma olhada em Sofia. Certo? Sarah pensou em como Eric sempre se oferecia para levar Sofia ao restaurante ou trazê-la de lá e quantas vezes, falando com Angel por telefone, ele mencionou que Eric andava por aí, muito cedo de manhã ou muito tarde, mas sempre quando Sofia estava em casa. Mesmo assim, pensou no quanto Eric era fiel a Angel e seus irmãos. Realmente, não podia imaginar ele fazendo algo com Sofia. Olhando Sofia e assistindo Eric e o comportamento escandaloso de Valéria, Sarah estava muito calada a noite toda. Olhava Valéria, que bebeu muito, como estava deixando que Romero começasse a beijá-la 204


na boca. Valéria começou a paquerar ele desde que tinham chegado à praia. — O que houve? — Perguntou Angel. Os olhos de Sarah se encontraram com os dele e ela negou com a cabeça. Mas ele sabia bem. — Está um pouco calada, há algo que esta te incomodando? Sarah suspirou e voltou a olhar Valéria e Romero. Angel virou-se para eles. Romero estava sentado sobre um refrigerador e Valéria estava sentada em seu colo, rindo. Ele virou-se para Sarah e encolheu de ombros. Obviamente Angel e seus irmãos não falavam muito a respeito de seus assuntos românticos. Angel sabia que Alex e Valéria saíram, mas não imaginava que Valéria teve finalmente o que queria. Terça-feira passada, ela dormiu com Alex Moreno. E agora, vergonhosamente, estava em cima de Romero. Sarah franziu o cenho. — O que vai dizer para o Alex? — Sarah, carinho, na verdade, espero que não pense que Alex realmente está preso a Valéria. Quero dizer, ela é simpática e todo o resto, mas realmente Alex não se importa com ela. Ele nunca pensou em ter um relacionamento sério. — Riu entre os dentes. — Estou certo de que hoje a noite está tirando proveito do seu quarto de hotel.

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Deve ter visto a cara de desgosto de Sarah, porque seu sorriso se dissolveu imediatamente. — Mas é obvio que uma coisa como essa me parece repugnante. Sarah girou os olhos. — Sei que não quer um relacionamento sério, mas não está incomodado porque ela está fazendo isso com um de seus amigos? — Não. — Angel negou com a cabeça. — Alex não é assim. Ele não se importa. Quero dizer, não diga a Valéria. Não quero fazê-la se sentir mal ou nada parecido. Mas tenho certeza que Alex já dormiu com ela e agora está preparado para a próxima. Ele é assim. Sarah olhou para ele. — Ele é assim, Sarah, eu não. — Não é o que eu estava pensando. Somente espero que você esteja certo. Eu não gostaria que ferissem seus sentimentos. — Confie em mim, carinho. — Alex sorriu. — Conheço meu irmão. Ele vai ficar bem com isto. Sarah lembrou quando escutou Alex no telefone com Valéria e que ele havia ligado somente para perguntar que planos ela tinha para essa quarta-feira. Algo a fez pensar que Angel podia estar errado sobre isto.

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Capítulo Quatorze Os sábados pela manhã havia sempre muita gente no restaurante. Os pais de Angel não iriam chegar até tarde, de modo que Sarah se ofereceu ajudar. Angel foi busca-la uma hora antes de abrir. Sarah sorriu ao ver também o automóvel de Sofia. Ansiava poder falar a sós com ela. Mal chegaram ao restaurante quando Sofia puxou um braço de Sarah. — Vou leva-la para a parte de trás, para que possa provar um dos modelos. Angel franziu o cenho. — Está bem, Sofie. — Sarah, querida, não tem que usar uniforme. Sarah levantou seu queixo. — Mas eu gosto de uniformes. — Voltou para a Sofia. — Usarei um tamanho médio. Angel sorriu e lhe mandou um beijo. Quando chegaram à sala do fundo, Sofia fechou a porta atrás delas e sorriu maliciosamente. — Meu Deus, quase morro para falar com alguém sobre isso e você é a única pessoa com que posso falar. 207


Sarah não estava segura de querer ser a única a saber. Assim, desde o início, Angel nem sequer teve que dizê-lo. Era óbvio quão delicado ele e seus irmãos eram com Sofia. Pensou em Alex, quando ele quebrou a cabeça da tartaruga e sorriu fracamente. Sofia abriu uma gaveta e tirou uma camiseta polo com o logotipo do restaurante e um avental. Os deu a Sarah. Continuou entusiasmada, aparentemente sem notar a falta de entusiasmo de Sarah. — Eu disse a ele! Sarah tragou saliva. — Disse o que? Sofia deu uma olhada à porta e depois sussurrou. — Que estou me guardando para ele. — O que? — O coração do Sarah acelerou. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Sofia colocou a mão na boca e começou a rir. Sarah não pôde evitar rir também. Sua risada era nervosa, já que a atitude de Sofia a respeito de tudo era surpreendente. Estava louca? Sarah tomou o polo e o avental com ambas as mãos, na frente de sua cara. Seus olhos estavam totalmente abertos. — O que ele te disse? A cara da Sofia se iluminou ainda mais. — Beijou-me. 208


Sarah piscou incapaz de encontrar palavras. Sofia parecia não dar-se conta da ansiedade de Sarah. Ela confundiu a anterior risada nervosa de Sarah com emoção e continuou. — Nunca me beijaram antes. Mas ele foi incrível. Sabia exatamente o que estava fazendo. Não queria que parasse. Estava tão contente de que sua prima estivesse lá para manter ocupado Romero. Provavelmente, iria arruinar tudo. Mal posso esperar para que aconteça de novo. — Outra vez? — Ah, mas há muito mais que quero te contar. – Disse Sofia. — Mais? — Claro, houve mais que só beijos. Sarah não estava segura, mas poderia jurar que nesse quarto a temperatura estava subindo. — Quero dizer que ele para mim é mais atrativo que qualquer um. Na verdade, estou apaixonada por ele, Sarah. Quase me mata saber que ele pensou o pior de mim depois do jogo, de modo que me alegrei quando me pediu para ir caminhar. Aí foi quando eu disse. Sarah olhou para Sofia. — E agora, o que é que vai acontecer? — Não haverá forma que os seus irmãos permitissem. Sofia olhou desafiante. 209


— Não sei. Tudo o que sei é que quero estar com ele e ninguém me vai deter. Isto estava piorando e ia custar muito caro para Eric, se na verdade, estivesse pensando em seguir adiante com isto. — Deve tomar cuidado, Sofia. Não quer que ele saia ferido. — Pensou no mau gênio do Alex. Isso sim seria uma tremenda confusão. — Ele quer esperar eu fazer dezessete anos para dizer a Angel. Mas isso não acontecerá no próximo ano. Isso soava razoável para Sarah, mas pela expressão de Sofia, poderia dizer que isso não aconteceria. Bateram à porta e Sarah deu um salto. — Angel, ela ainda se está trocando. — Está bem, estamos nos preparando para abrir em alguns minutos. — Está bem. — Sarah terminou de ajustar o avental. — Já vamos para lá. Quase perdeu o equilíbrio quando Sofia a abraçou. — Estou tão contente de ter alguém com quem falar disso.

*** 210


A princípio, Angel não queria que Sarah lhe ajudasse, mas é obvio, Sarah insistiu. Agora, a via atender uma mesa, sorridente e falando com os clientes como se fosse algo natural para ela. Angel ia e vinha da recepção até o escritório onde estava tratando de escrever um anúncio solicitando empregados, o qual ia publicar online esta semana no jornal local. Seus pais estavam pensando em contratar vários cozinheiros e um par de pessoas a mais para atender às mesas. Pensou em perguntar a Sarah se queria trabalhar atendendo mesas, mas algo lhe disse que possivelmente podia ofende-la. Além disso, já estava com os fins de semana cheios como babá. Era endemoniadamente dedicada às famílias com as quais trabalhava. Sabia que ela não queria engana-los. O telefone tocou interrompendo os seus pensamentos. — Angel? Surpreendeu-se de ouvir a voz de Valéria. — Olá Val, o que houve? — Perdão mas liguei no restaurante, mas Sarah não atende o telefone. — Tudo bem. — Disse. — Está atendendo umas mesas. Não está com o telefone. Vou chama-la. 211


— Espera. — Soava nervosa. — Melhor você dizer, por que a verdade é que vai se alarmar. Angel se sentou lentamente. — O que aconteceu? — Esta manhã, Sydney teve um acidente de automóvel. Angel agarrou com maior força o telefone. — Ela está bem? Por um segundo, houve uma pausa no outro lado da linha. Valéria pigarreou. — Hum, os pais dela ligaram do hospital, mas ainda não sabiam de nada. Tenho toda a informação: o hospital, o número e tudo. Deram-me seu número de telefone no caso de Sarah não ter, para que lhes chame diretamente. Angel anotou todos os dados e guardou. Pegou de novo o telefone e começou a marcar o número do celular dos pais do Sydney. Pensou que era melhor saber algo mais antes de dizer a Sarah. Deixou tocar duas vezes, mas se arrependeu e mudou de opinião, era sua culpa que eles não a tenham encontrado mais cedo. Sarah apareceu com uma bandeja na mão e a colocou sobre o balcão do bar. Olhou por cima de seu ombro. — Sof, se encarrega das mesas de Sarah. Pôs sua atenção de novo na Sarah e a levou ao seu escritório. 212


— O que aconteceu? — Perguntou Sarah. Angel sentou na cadeira do escritório e fechou a porta. Sarah começou a preocupar-se. — Qual é o problema? — Disse. — É pelo café que tirei? Porque é que não.... Angel se ajoelhou à frente dela e lhe disse com calma. — É sobre Sydney. Os olhos de Sarah se abriram enormes. Ele podia ver Sarah encontrar seu olhar. — Angel, eu ia... — Ela teve um acidente de automóvel esta manhã, querida. Sua expressão trocou lentamente da confusão ao pânico. — O quê? Meu Deus! — Deu um salto afastando a cadeira. Angel afastou-se do seu caminho e viu como correu para sua bolsa. Tirou seu telefone. Suas mãos tremiam conforme pegava no seu telefone. Foi para ela e lhe pôs as mãos sobre os ombros. — Relaxe, okay? Tenho o número dos pais da Sydney para que fale com eles diretamente. Levantou a vista do telefone. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. 213


— Falou com eles? — Não. — Angel se aproximou. — Falaram com a Valéria na casa de sua tia quando não puderam te encontrar e ela ligou para cá quando também não pôde falar contigo. Sarah inalou profundamente, sua cara desmoronando-se. — Ela sabia algo? Angel negou com a cabeça. — Não. — Deu a volta ao escritório e pegou o papel com os dados. Foi para a Sarah e lhe deu. Sua respiração enchia todo o escritório. — Sarah, se acalme. Tomou o papel e começou a marcar. Angel a via enquanto esperava que alguém lhe respondesse. Se preparava, desejando que houvesse boas notícias. — Frances? — Estava a ponto de chorar. — Sim, sou eu. — Como está Sydney? Apertava contra seu coração o papel que Angel lhe deu e escutava. Olhava para Angel. — Ai, graças a Deus. — Disse. — Estava tão assustada. Angel exalou aliviado. — Não, não, que bom que me chamou. — Disse Sarah. — O que foi o que aconteceu? Por que chamaram uma ambulância? 214


Sarah esteve ao telefone por uns minutos e Angel se sentou na cadeira do escritório inclinando-se para trás. Viu quando Sarah desligou o telefone e voltou a vê-lo. Estendeu-lhe os braços para que ela viesse. Ela se aproximou e se sentou em seu colo. Deu-lhe um quente abraço. — Então, ela está bem? Sarah assentiu com a cabeça. — Chamaram uma ambulância porque Sydney se queixava de dor no ventre. Queriam assegurar-se de que não sangrasse por dentro. — E foi isso? Sarah negou com a cabeça e respirou fundo. — Não. Angel encostou a testa contra a dela. — E você, como está? Sorriu fracamente e encolheu os ombros. — Tinha imaginado o pior. — Sarah. — Angel lhe deu um beijo na cabeça. — Amanhã os meus pais retornam, podemos ir lá para que possa vê-la. Ela saiu do colo de Angel e sentou na cadeira. — Angel, são cinco horas dirigindo.

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Sarah ficou olhando fixamente e logo negou com a cabeça. — Já combinei com os Salcido de cuidar dos seus filhos amanhã pela tarde. Não posso cancelar agora. Assim que eu falar com Sydney, me sentirei melhor. — Tem certeza? — Sim. — Sarah sorriu. — De todos os modos obrigada, isso foi muito doce de sua parte. Levantou-se. — Mas vou voltar para ajudar Sofia. Provavelmente está atolada. — Colocou o telefone no seu bolso. Angel franziu o cenho. — Não tem que voltar a atender as mesas, Sarah. Que tal ligar para Sydney? Sarah sorriu e lhe deu umas palmadas em seu telefone. — Tenho meu telefone. — Dirigia-se à porta, deteve-se, retornou e deu um beijo em Angel. — Você é um amor. Obrigada. — Sorriu e saiu do escritório. Uma hora mais tarde, Angel olhava para Sarah da recepção. Seu rosto se iluminou quando atendeu seu telefone. Os olhos se encheram de lágrimas conforme falava e soube com que falava, era Sydney. Não havia dúvida de quão especial era Sydney para ela. Angel sorriu, sentindo uma pontada no coração. As possibilidades de que ela trocasse de opinião a respeito de ficar eram péssimas no melhor dos casos. 216


No domingo pela manhã, Sarah ligou para o Sydney para saber como ele se sentia. Logo que acabou de desligar o telefone Valéria entrou em seu quarto. — Então, Angel ainda não sabe que Sydney é um homem? — Sentou-se na cama de Sarah. Sarah fez uma careta e negou com a cabeça. — Já devia ter contado Sarah. — Disse Valéria. — Alex me disse que nunca viu Angel assim. Realmente está louco por você. Se o que sente por você é tão grande, tenho certeza que entenderá ou ao menos tentará. Sarah pensou a respeito de ontem, como esteve quase a morrer de medo quando ele a levou ao escritório e lhe disse que deviam falar a respeito de Sydney. A primeira coisa que veio a sua mente é que de algum jeito, Angel descobriu e estava disposta a pedir para que a entendesse. Então, disse-lhe sobre o acidente do Sydney e ficou superada pela emoção. — Sei, sei. — Disse Sarah. — Somente estou esperando o momento perfeito, mas nunca o encontro. E quanto mais tempo passa, mais difícil fica. Viu a cara de desaprovação de Valéria. Logo pensou que sua prima não tinha direito de julgá-la. — E o que é que acontece entre Alex e você? Valéria franziu o cenho. 217


— Eu não tenho notícias dele desde quarta-feira. Acredito que sua curiosidade por mim tenha terminado quando conseguiu o que queria. — Deu de ombros. — Mas é melhor não sairmos. Em meio a toda

essa

história,

chegamos

a

conversar

bastante

e

surpreendentemente, comecei a sentir uma conexão com ele que vai além do físico. Acredito que voltará a me procurar quando quiser mais. Mas se continuarmos saindo, temo que vou começar a me apaixonar por ele. O pior é que, sabendo como ele é, é certo que eu tenha o coração destroçado e será porque eu assim o quis. — Sarah a olhou com simpatia. — Bom, nunca se pode saber. Talvez ele também tenha sentido essa conexão. — Valéria riu. — Eu sei muito bem o que ele estava sentindo. — Você acha que vai dizer algo sobre o beijo com o Romero? A cara da Valéria azedou. — Eu duvido. Primeiro, porque acredito que não vai ouvir tão cedo, a menos que queira saber e mesmo assim, não acredito que se importe. Além disso, não fiz nada com Romero. Ele me beijou uma vez, mas eu não gostei, de modo que parei antes que acontecesse algo mais. — Que bom. — Disse Sarah. — Porque não me importa o que você diga. Vi vocês dois no primeiro dia em que se viram no restaurante e com certeza, entre vocês, houve uma conexão. Valéria sorriu levemente. 218


— Bem, aparentemente esteve um pouco ocupado este fim de semana, provavelmente fazendo mais conexões, para me chamar. — Angel vem me buscar daqui a pouco. Vamos de novo almoçar no restaurante. — Sarah deu um sorriso um pouco torcido. — Quer vir? — Nem morta! — Ofegou Valéria. — O quanto de desespero isso mostraria? Chegando sem ter sido convidada. Não, obrigada. Valéria ficou de pé e foi para a porta. Ao chegar lá, parou e deu a volta. — Então Sydney está bem? — Ah, sim está bem. — Assentiu Sarah. — Foram somente alguns golpes, mas de resto está bem. — Danificou seu carro? — Não. Por sorte ele estava na caminhonete de seu pai. Era uma caminhonete grande, poderia ter sido pior se fosse no seu carro. Sydney me disse que somente a porta do condutor foi danificada. Valéria arqueou as sobrancelhas. — Que bom, me alegro que ele esteja bem. — Deu a volta e saiu. Sarah se aproximou da sua cômoda. Escolheu um bracelete elástico que Sofia lhe deu. Todas as garotas a usavam para dar boa sorte e embora oficialmente Sarah não pertencesse à equipe, Sofia quis que ela também tivesse uma. Sarah pensou que foi muito querido de sua parte e sorriu ao coloca-la. 219


Angel passou na casa dela e de novo retornaram ao restaurante. Alex e os meninos já estavam lá. Estavam sentados em uma mesa do canto. Sarah e Angel se sentaram com eles. Romero e Eric estavam concentrados em uma de suas intermináveis disputas de futebol americano. — Não me importa o que você diga. Nunca deveriam ter se desfeito do Drew Brees. — Disse Eric. — O cara marcou cinco passes para touchdown em um só jogo! Romero negou com a cabeça. — Sim, mas quem os lançou? — Não importa, foram cinco passes para touchdown, cinco! — Não conta quando é contra os Raiders. — Disse-lhe Romero. — Merda, eu também podia ter marcado cinco. Alex riu. — Isso seria uma novidade para você. — Já marquei, imbecil. — Romero voltou para Sarah. — E falando de minha pontuação, onde está Valéria? Sarah ficou rígida. Olhou para Alex. Sua cara era indecifrável. — Em casa. — Bem, você poderia ter trazido ela. - Disse Romero.

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Quando Sarah voltou a olhar para o Alex, ele estava olhando para o Romero, mas não disse nada. Eric riu. — Lembra? Te rejeitou na sexta-feira, além disso, ela estava bêbada. Se por acaso te der uma olhada estando sóbria, enlouquecerá por ter deixado que a beijasse. As sobrancelhas de Alex se curvaram repentinamente. — Você a beijou? — Ela gostou. — Disse Romero, mais ao Eric do que ao Alex. — Então saiu com ela? — Perguntou Alex. Romero olhou para Alex. — Não foi nada, conversamos um momento depois do jogo. Todos nós fomos para praia. — Mas você a beijou? Sarah se retorceu, com vontade de desaparecer. Alex tinha o mesmo tom em sua voz daquele dia em que falou com a Valéria por telefone. O mesmo tom inconfundível que Angel tinha quando estava incomodando. Romero fez uma careta. — Sim, por quê? Não posso evitar que as garotas me queiram. Alex fez um movimento com os olhos e olhou para o Eric. 221


— E depois te rejeitam né? — Sim. — Riu Eric. Sarah assentiu com a cabeça vigorosamente e se deteve ao ver que Romero estava vendo. O aspecto de sua cara era quase cômico. — Ela te disse isso? — Bom, não. Quero dizer... Não posso te dizer o que ela me disse. É conversa de garotas. — Levantou-se rapidamente. — Estou morrendo de fome. — Ela te rejeitou — sorriu Alex. Sarah pôde ver que o sorriso do Alex foi forçado. Angel se levantou com Sarah e a seguiu até a mesa do buffet. Quando retornaram, Romero e Eric estavam discutindo de novo a respeito dos Chargers e Alex já não estava. Algo dizia a Sarah que Valéria receberia essa tal chamada que estava esperando.

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Capítulo Quinze O treinador Rudy organizou uma competição amistosa de revezamento com outra escola no meio da semana. Sarah competiu, já que a equipe de futebol americano conseguiu chegar aos playoffs e começavam no mesmo dia. O jogo era durante o dia e em outro lugar. Sofia e o treinador realmente a queriam na competição. Angel lhe disse para que não se preocupasse, tratava-se de uma vitória fácil. Eles jogariam com a equipe reserva. Já passou um tempo desde sua última competição e estava nervosa. A equipe de futebol americano deveria terminar e retornar mais ou menos na hora da competição. Os meninos estavam na metade de seu revezamento quando Sarah viu chegar o ônibus com a equipe. Chegaram gritando e fazendo muito escândalo, de modo que se deu conta que ganharam. Sorriu, apesar de estar com o estômago todo revolto. Até esse momento, não se deu conta de quão nervosa estava, já que Angel a veria correr. Havia uns revezamentos a mais antes do dela e soube que Angel estaria fora dos vestiários e nos degraus com suficiente tempo. Sarah se concentrou em seu estiramento, dobrando a perna para trás e devorando seu pé com a mão, para suas costas. Sofia estava parada junto a ela fazendo o mesmo.

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Valéria estava nos degraus com algumas amigas delas. Estava muito emocionada de saber que Sarah ia competir e estava lá para animá-la. A corrida anterior a dela estava por começar quando Angel a viu e outros meninos da equipe dirigiram-se para os degraus. Usando seus pulôveres e obviamente estavam de bom humor devido a sua vitória. — Vamos La Jolla! — Gritou Romero à equipe de pista. Conforme se aproximavam, Sarah olhou para Angel e seus olhares se encontraram. Estava recém-tomado banho e seu cabelo ainda estava molhado. Olhou para Sarah com esse impressionante sorriso e ela se derreteu. Todos se sentaram atrás da Valéria e suas amigas. A corrida terminou com a vitória da outra equipe, mas estiveram perto de ter conseguido. O estômago de Sarah se contorceu ainda mais conforme se colocava em seu lugar na pista. Voltou a olhar para ver Angel. Agora, estava de pé nos degraus, olhando para onde ela estava. Fez-lhe um gesto do polegar para cima e sorriu de novo. Anteriormente, Sarah já tinha feito isto muitas vezes. Então, por que diabos estava tão nervosa? As corredoras saíram e Sarah franziu o cenho quando viu o mau começo de sua equipe. O bastão chegou a Sofia dois passos depois de que o segundo relevo da outra equipe tinha saído. — Acelera Sof. — Gritou Eric.

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Sarah olhou para Eric, que agora estava de pé nos degraus junto a Angel e logo para Sofia, quem estava por chegar ao terceiro revezamento. Agora, a outra equipe tinha uma vantagem maior. Ela já esteve antes nesta situação e desejava poder ter o mesmo resultado desta vez. Ficou em posição. Seu oponente saiu primeiro e esperou que sua companheira de equipe chegasse. No segundo em que o bastão estava em sua mão, saiu em disparada sentindo a sensação familiar da adrenalina nela. A outra corredora estava a poucos metros de distância na frente dela e ela estava correndo duro. Sarah se concentrou, ganhando velocidade pouco a pouco conforme dava a volta. Sentiu que vinha e sorriu. Na reta, fez o que ela sabia fazer sempre bem e acelerou. Ganhou rapidamente a sua oponente e pôde ouvir nos degraus à multidão voltar-se louca. Estavam ao final da meta e estavam pescoço com pescoço. Pôde ouvir a corredora esforçando-se por manter-se ao lado dela. Mas uns quantos pés antes do final, Sarah tomou vantagem e ganhou. Para o momento em que se deteve, soube. Ainda tinha essa faísca. Ainda se agarrava por seus joelhos e tratava de agarrar ar quando Sofia chegou correndo ao mesmo tempo de seus gritos. — Isso foi maravilhoso, Sarah! O treinador Rudy se apurou a chegar aonde Sarah estava, com um grande sorriso na cara. Sarah se endireitou e Sofia a abraçou. Exalou, mas sorriu. O treinador lhe entregou uma garrafa de água. 225


— Maldição, preciso de você em minha equipe. Isso foi surpreendente. Sarah tomou um grande gole de água. Estava gelada e deliciosa. — Obrigada. — Vem aqui — disse-lhe e a abraçou. — Sarah, eu sabia que o tinha, mas não dessa forma. Tem um talento natural. Os três caminharam juntos para o resto da equipe. O treinador continuou com seu abraço sobre os ombros de Sarah e continuou elogiando sua proeza. Reuniu à equipe para lhes dar um breve discurso, felicitando aos destacados. A equipe aplaudiu muito forte quando mencionaram o nome de Sarah. Para essa então, os meninos, Valéria e suas amigas estavam o suficientemente perto para escutar, de modo que também lhes aplaudiram. O treinador lhe sorriu, mas com certo desespero negou com a cabeça. — Sarah, querida. Tenho que encontrar a forma de te reter. Está me partindo o coração. Sarah odiava ser colocada em uma posição assim e isto a fez ruborizar. Pôs seu braço ao redor dela e riu. — ruborizou-se. Vejam isto? Rápida e adorável. Sarah sentia que a cara lhe fervia. Nem sequer queria voltar a ver Angel. Só podia imaginar o que diria. 226


— Está bem, vamos. Todos puseram suas mãos em círculo para a ovação usual e terminou a reunião. Sarah caminhou rumo aos meninos. Eric e Romero lhe deram uma palmada em sua mão tão logo chegou com eles. — Caramba menina, saiu fumaça! — disse-lhe Romero. Sarah sorriu e finalmente voltou a ver Angel. Para alívio dela, não se via tão zangado como ela pensava. Ele caminhou para ela e recarregou sua frente na de Sarah. — Esteve estupenda. — Obrigada. — Neste momento me sinto tão orgulhoso de ti. Não sabe quanto. Isto sim que a fez sentir bem e lhe deu um beijo. — Este é o seu momento e não vou estragá-lo — Angel a beijou. — Mas se voltar a ver esse pervertido pondo as mãos em você, vou lhe arrancar a mão. Sarah teve que rir. Houve um momento em que Sarah pensou que Angel realmente ia se deixar levar.

*** 227


A equipe de futebol americano não pôde chegar ao campeonato, perdendo o segundo jogo contra uma equipe ao que tinham vencido na temporada regular. Foi uma derrota dolorosa, mas Sarah tinha sua forma especial de consolar a Angel. Tinham apenas dois meses que ela tinha começado a sair com Angel e já se sentia como se o conhecesse toda a vida. Ainda, cada um dos beijos que compartilhavam, se sentiam tão excitantes e apaixonados como a primeira noite, se não mais. Sarah adorava a forma que Angel a tocava com tal urgência, uma forma em que ele não tratava de ocultar sua necessidade de senti-la, de prová-la. Ultimamente, tinham feito as coisas extremamente próximas a grande provocação. Devido às circunstâncias que Sarah tinha nascido e por tudo o que sua mãe teve que enfrentar, a conversa dos passarinhos e abelhas foi dada a Sarah cedo. Logo, tinha onze anos quando sua mãe se sentou com ela e lhe falou de tudo. E após, sempre relembrava a Sarah a importância do controle da natalidade e o amparo contra as enfermidades. Ela usava a si mesmo como exemplo, recordando a Sarah como um momento de debilidade lhe trouxe enormes consequências que mudaram sua vida. Sua mãe lhe chamou essa noite e depois que Sarah lhe contou pela enésima vez sobre Angel, não perdeu tempo para entrar no tema. — O sexo é uma grande responsabilidade — disse sua mãe. — Não só deve te preparar fisicamente, mas também, emocionalmente.

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Sarah imediatamente ficou na defensiva quando sua mamãe perguntou se Angel a pressionava de alguma forma. — Claro que não! — irrompeu Sarah. — Ele não é assim, mamãe. — Me escute, Sarah — Fez uma pausa. — Confia em mim. Sei o quão rápido que as coisas passam. E posso dizer que já está bem apegada a ele. Se fosse a meu modo, eu gostaria de te dizer que se abstenham de ter relações sexuais e que tudo estará bem. Mas não sou ingênua. Já falei com sua tia sobre isto. Vai te levar para que comece com o controle da natalidade. Sarah ficou sem fala. Sabia o quão importante que era para sua mãe que ela não passasse por essa mesma situação, mas não esperava por isto. — Escutou o que eu falei? — Sim, escutei. — Irá amanhã.

*** Ao dia seguinte, Sarah pulou a corrida ao acabar as classes. Disse a Angel que sua tia a buscaria, porque precisavam sair pelo aniversário de seu tio. E isso era em parte certo. Sua tia a buscou e a acompanhou à clínica. E depois saíram para jantar, o qual foi muito conveniente se 229


por acaso Angel lhe perguntasse a respeito do jantar. Já não teria que inventar algo para sair com mais mentiras. Sarah não se imaginava quantas formas de controle da natalidade existiam até que chegou à clínica. Ela decidiu que a pílula seria o melhor. Fizeram-lhe um exame pélvico e lhe deram a receita para a pílula, junto com o material para a realização do sexo seguro e sobre as enfermidades de transmissão sexual. Sentiu-se mal por mentir a Angel, mas ao menos esta mentira era por uma boa causa. Depois de havê-lo pensado muito a noite anterior, decidiu que era algo bom. Queria surpreendê-lo. Além disso, tinha a sensação de saber chegar ao coração de Angel para que a perdoasse, uma vez que soubesse a verdade.

***

Depois de quase três semanas, Sarah ficou de frente ao espelho. De alguma forma tinha a sensação de ver-se ou sentir-se diferente. Mas depois de examinar-se, tudo se via igual. E não se sentiu mais amadurecida que antes, como se tinha imaginado. Meteu-se na cama, mas não podia dormir, havia muitas coisas em sua cabeça. Muitas coisas tinham mudado em poucos meses. Apenas fazia uns meses, a única coisa em que podia pensar era em sua 230


mamãe e em retornar a casa. Agora, aqui estava, totalmente consumida pelo fato de que estava muito perto de perder sua virgindade com Angel. Sorriu e inalou profundamente. Só em pensar já era suficiente para despertar as mariposas que lhe revoavam no estômago. Ninguém sabia sobre ela estar tomando a pílula. Sua tia lhe disse que isso era coisa dela e que ela não o comentaria com ninguém, nem sequer com Valéria. Ela se alegrou. Queria que Angel fosse o primeiro a saber. Nem sequer tinha comentado com Sydney. Sydney. Estremeceu-se tão só de pensar nele. Ainda não disse a Angel a verdade. Valéria estava de novo certa. Quanto mais tempo passasse, mais difícil ia ser. Até o momento, a falta de vontade de Angel para compartilhar algo a respeito dela com alguém, era irrefutável. No que lhe concernia, ele era agora seu melhor amigo. Entretanto, pensou se lhe houvesse dito antes. As coisas tivessem ido de mal a pior. Ela se preocupava agora mais em como se sentiria Angel, sabendo que ela o tinha enganado todo este tempo, que em saber que Syd era um menino. Depois do acidente do Sydney, ela tinha trocado coisas em sua forma de ser, para evitar por completo o assunto. Inclusive, se certificava de pôr seu telefone no silencioso ao estar com Angel, com medo de que uma chamada fizesse lembrar o tema. Talvez lhe tinha passado a mão ao aniquilar Syd graças a uma pergunta que lhe fez Angel: — Ouça e sobre Sydney? Ainda fala com ela?

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Só encolheu de ombros e lhe disse: — Sim, às vezes. Desde essa primeira noite em que Angel a beijou, não tinha passado um só dia sem se ver. Quanto mais tempo passava com ele, mais difícil era imaginar deixá-lo. Mas como ia fazer isso a Sydney? Fizeram um pacto. Por volta de uns dias que Sydney lhe tinha perguntado se na verdade poderia retornar ao Arizona e deixar Angel. Assegurou-lhe que poderia e o faria. Mas em seu coração, Sarah sabia que se não se sentisse tão comprometida com Sydney e sua família, sem dúvida ficaria. No dia seguinte, Sydney lhe chamou para lhe dizer que tinha que falar com ela pessoalmente. Isso a preocupou, já que Sydney a conhecia melhor que ninguém. Ele podia ver dentro dela. As chamadas com ele foram se tornando mais breves, mas mesmo assim se falavam diariamente. Esta noite, entretanto, a chamada foi longa. A conversa foi estranha. Debateram sobre se ela deveria ou não retornar ao Arizona. Sydney insistiu que ela devia ficar. Sarah sabia do carinho desinteressado de Sydney e que poria a um lado sua própria felicidade pela felicidade dela. Todos esses anos ele passou sendo parte de sua vida miserável, lhe fazendo companhia em lugar de sair e divertir-se com outros. Seus pais tinham dinheiro, lhe permitia fazer as coisas que faziam os outros meninos. Pôde ir a acampamentos nos verões, a esquiar em Avermelhado durante as festas, ou a qualquer lugar que quisesse

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durante as férias da primavera. Mas não, todos esses anos, passou perto dela. Ficou e lhe fez companhia. Ela se sentiu afligida pela vergonha, Como ela podia pensar em desfazer-se de seus planos só porque agora tinha arranjado um namorado? Deu um gole amargo. Não veria Sydney até o Natal. Tinha tempo para pensar em seu duplo jogo.

*** Faltavam dois dias para Ação de Graças e a família Moreno parecia uma confusão. O fim de semana que seguia à festividade era o dia em que mais trabalho tinham. Angel nunca tinha entendido. Sabia que os refrigeradores das pessoas estavam repletos de sobras. Como é que a gente podia sair para comer? A teoria de sua mãe é que a gente estava farta de cozinhar, de comer sobras e de atender a seus convidados que vinham de fora. De modo que saíam. Pela causa que fora, a semana de Ação de Graças era algo, menos que um pouco depravado para os Moreno. Embora no dia de Ação de Graças o restaurante estava fechado e só abririam meio-dia na sexta-feira, sempre se abasteciam para preparar-se para o agitado fim de semana. Neste momento, o pai de Angel estava tendo um ataque, já que lhe tinham avisado que um dos repartidores poderia atrasar-se devido ao clima no norte.

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— No norte? E que diabos tem a ver comigo o clima lá no norte? Estamos no Condado de San Diego! — Sua voz se retumbou todo o caminho até as escadas. Angel não sabia se estava ao telefone, ou falava consigo mesmo, como estava acostumado a fazer quando estava zangado. Terminou de tirar os sapatos e ficou suando pela cabeça por causa do gorro. Saiu voando para o banho, escovou os dentes e se penteou. — Ouça Sofie — gritou-lhe perto de seu quarto conforme descia pelas escadas. — Só tem cinco minutos. Vou esquentar o automóvel. Seu pai seguia amaldiçoando na cozinha. O aroma das bísquets de sua mãe permanecia. Ela assava os melhores bísquets do mundo, completamente desde o zero. Entrou na cozinha e pescou alguns. — Olá p, é um mau dia? — Necessito que mantenha seus planos abertos para este fim de semana. — Seu pai franziu o cenho. — Alex fez os horários desta semana e deu o dia livre a muitos empregados. Vamos estar muito ocupados. Se alguém faltar, estaremos com problemas. Angel agarrou três bísquets, mordendo um. — Seguro, não se preocupe. Seu pai se sentou em um dos bancos do bar. Angel podia dizer que estava sem fôlego. — Está bem, p? 234


Seu pai assentiu com a cabeça. — Ouça — disse-lhe Angel. — Deve ir devagar. Por que faz isto todos os anos? Só relaxe. Se excede trabalhando e tudo sempre sai bem. A expressão de seu pai era lúgubre. — Alex não estará aqui este ano. Tem um jogo fora do estado. — E o que? — Angel encolheu os ombros. — Eu vou estar aqui, igual a Sofie e Sal. De modo que não se preocupe. Vai ficar doente. Angel pôs sua mão sobre o ombro de seu papai. Seu pai lhe aplaudiu e lhe sorriu. — Estou ficando velho para toda esta merda. Angel riu. — Não, algo me diz que estará por aqui chutando traseiros por muitos anos. — Tomou um gole do café de seu pai e quase se afogou. — Maldição! — Fez uma careta. — P, tem muito açúcar. Direi a minha mamãe. Seu pai o dispensou com a mão, franzindo o cenho.

***

Todo o dia, Angel sentiu uma estranha sensação com Sarah, mas não podia assegurar do que se tratava. Não era uma má vibração, só 235


era algo diferente. Estava mais faiscante que o normal. Embora, ultimamente, se converteu em tomar a iniciativa, ele sempre tinha sido o que não podia conter-se estando perto dela, muitas vezes lhe interrompia o que dizia, já que não podia ver muito tempo seus lábios sem poder deixar de beijá-los. Hoje, entretanto, era ela a que esteve fazendo isso várias vezes. Depois das aulas, meteram-se em seu automóvel e ela se inclinou e lhe deu um beijo muito duradouro, com tanta paixão e entusiasmo que quase o levou ao limite, justo aí. Quando Sarah terminou, lambeu os lábios. — Wow! Mas o que aconteceu hoje? Não que eu esteja me queixando. — Tenho uma surpresa pra você — Sarah sorriu. Sua mente girou, tratando de encontrar alguma pista em seus formosos olhos. Tinha decidido ficar? Não lhe tinha perguntado desde o dia em que a fez chorar. Dificilmente se permitia pensar em que ela iria, muito menos na esperança de que ela ficasse. Mas tinha passado já um momento em que lhe atirasse a punhalada ao mencionar algo sobre sua partida e já tinha deixado de falar de sua amiga Sydney. Sentia seu coração pulsar em sua garganta. — O que é? — Aqui não — disse-lhe. — Vamos ao nosso lugar.

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Ele a olhou por um segundo e ligou o automóvel. Requereu toda sua integridade não conduzir de forma imprudente, mas a maior parte do tempo sim o fez, dirigiu por cima do limite de velocidade. Tão logo estacionou, desligou o automóvel e se recarregou contra sua porta para vê-la de frente. Sarah ainda tinha esse sorriso vertiginoso que lhe fez sorrir. — Do que se trata? — Tratou de esconder sua impaciência. Sarah tirou o cinto de segurança e se voltou para olhá-lo. — Bom, lembra o dia que saí cedo para ir jantar no aniversário de meu tio? Angel assentiu. — Ah, sim? — Menti. Os olhos de Angel se entrecerraram um pouco. — Okey, por que? Ela mordeu seu lábio. — Fui a uma clínica. Intrigado ficou olhando. — Estou tomando a pílula. Angel seguia sem compreender. 237


— Controle da natalidade! — disse-lhe bruscamente. Os olhos de Angel se abriram enormemente. Sentiu-se como um idiota. Seus lábios se curvaram lentamente em um sorriso. — Assim que isso quer dizer que... — Sim. — Sarah se inclinou para beijá-lo. — Estou preparada. Angel não podia tirar o sorriso bobo de sua cara. Só de pensar, tinha ficado como pedra. Queria tomá-la ali mesmo. Mas tinha que controlar-se. Queria que sua primeira vez, a primeira vez dos dois juntos, fosse especial. Roçou os lábios contra os dela, sentindo uma doçura dentro dele que quase o assustou. Sustentou o rosto de Sarah entre suas mãos. Logo não podia acreditar que ela seria dele, por completo. Suas mãos a percorreram completamente. Não estava seguro que tivesse sido o melhor ouvi-la dizer que ficava ou isto. Como tinha sido possível que lhe tivesse ocultado algo desta magnitude, portanto tempo? Deve ter sido há quase três ou quatro semanas. — Desde quando está tomando a pílula? — Já quase três semanas — Recordava o dia que lhe disse a respeito do jantar de aniversário de seu tio. Ela tinha mentido diretamente na cara e ele não tinha pescado nem um só indício de falta de sinceridade. Inclusive, quando lhe chamou essa noite e lhe

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perguntou como tinha estado o jantar, lhe contou tudo sem vacilar. Ele sorriu. — O que é? — Sarah lhe perguntou. — Você é boa. Não tinha nem ideia. Sarah riu. — É claro que sim. Inclusive, depois de te dizer, parecia perdido. Ele a beijou de novo quando seus olhares se encontraram, levantando uma sobrancelha. — Desde quando te tornaste tão boa me ocultando as coisas? Ela ficou rígida e Angel pensou ter visto trocar sua expressão. Logo lhe sorriu. — Só queria te fazer uma surpresa. — Bom, fez um bom trabalho, Mas, por que agora? Seu olhar tímido o fez acender-se ainda mais. — Pensei que poderíamos aproveitar este comprido fim de semana. Angel ficou olhando seus suaves lábios cor rosa, com sua própria boca entreaberta. Suas palavras dançavam dentro de sua cabeça. Queria isto durante todo o fim de semana? Não só qualquer fim de semana, a não ser um de quatro dias. Sua mente girava a toda velocidade. Todas as coisas que poderia lhe fazer. Todas as formas em que a possuiria. Então, sua mente parou em seco, o restaurante. Embora adorava a 239


forma em que estava pensando, o timing de Sarah não pôde ser pior. Apertou os lábios e ficou pensando. — Que aconteceu? — Para nós, este fim de semana, vai estar muito atarefado com restaurante. — Está bem, podemos esperar para o seguinte. Acaso estava louca? — De maneira nenhuma. Confia em mim. Já pensarei em algo. Com sua mente voando a toda velocidade, já estava idealizando algo.

*** Logo eram sete da noite, um pouco cedo para que Sarah retornasse a casa. Mas era meio de semana e tinha que fazer um trabalho da escola que devia estar preparado antes que terminasse a semana. Já que era o fim de semana de Ação de Graças, o fim de semana ia chegar muito rápido. Acreditou escutar que Valéria chegava em casa e se deteve para poder escutar. Não esperava que chegasse em casa agora, a não ser mais tarde. Tinha saído com o Alex e geralmente chegava em casa muito tarde, embora fosse durante a semana.

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Resultou que Sarah tinha acertado quanto ao Alex. Ele estava de saco cheio, porque Valéria esteve com o Romero. Primeiro reclamou e logo voltou a chamar quando esteve mais acalmado, lhe dizendo que jamais tinha sentido ciúmes em sua vida e que não sabia como dirigi-lo. Dito isto, Valéria se permitiu seguir saindo com ele, inclusive com o risco de sair machucada. Então, tinham estado saindo ao menos duas vezes por semana. Por isso Valéria lhe havia dito, Alex era muito parecido a Angel quanto a ser possessivo. Só que havia uma grande diferencia. Nunca tinham mencionado serem exclusivos. Angel não podia acreditar que Alex estivesse tão zangado a princípio, mas não teve outra opção do que acreditar quando seu irmão lhe deixou Romero saber que, sem sombra de dúvidas, Valéria estava fora de seu alcance. Sarah ficou de pé para ver se era Valéria que tinha escutado, em parte pela curiosidade e em parte porque já estava farta de estar fazendo o trabalho da escola. Quando chegou a sua casa, viu Valéria sentada em sua cama revisando suas mensagens no telefone. Mudou e Sarah pôde dar-se conta que tinha chorado. Seus olhos estavam inchados e seu nariz avermelhado de tanto chorar. Parte de sua boca se transformou em um intento de sorriso e logo sacudiu a cabeça e limpou uma lágrima que rodou por sua bochecha. — O que aconteceu? — Sarah se aproximou e se sentou a seu lado. Valéria se recarregou e pôs sua cabeça sobre o ombro do Sarah. 241


—Terminei com o Alex. — Por quê? O que aconteceu? — perguntou-lhe Sarah enquanto esfregava suas costas. Valéria limpou o rosto com o lenço que tinha em sua mão. — Simplesmente não posso lutar mais com isto. Fui tão tola em acreditar que só porque admitiu estar ciumento e que nunca antes o tinha estado, significava algo. E aqui me tem, a que sempre falava de quão territoriais podem ser os meninos. Pois bem, olá! Disso se tratou tudo. Eu não lhe importo porra nenhuma. Sarah bateu no joelho de Valéria, sem saber que dizer. — Passou algo hoje na noite? Valéria assentiu. — Bom nada diferente que não tenha passado antes. Não lhe havia dito isso, porque me sentia tola. Mas sempre que estou com ele, seu telefone soa constantemente e sempre o manda a seu correio de voz. Nunca lhe disse nada, exceto possivelmente lhe dar a impressão de que sei que se trata de garotas. Sempre ria e me dizia, 'O que? Tenho muitos amigos.' Mas, Oh Deus, meu telefone soa e nunca o respondo. Sempre quer saber por que e se trata de um menino. — deteve-se e se limpou o nariz. — De qualquer forma — continuou. — Hoje a noite, seu telefone soou cinco vezes em menos de quinze minutos. De modo que lhe disse para responder. Primeiro, me disse que não queria, mas se deu conta que estava me enchendo o saco, então o fez e estou segura de que era uma garota. Devia ter visto o sorriso em sua cara quando falava 242


com ela. Na verdade me adoeceu. Pendurou e viu o aspecto de minha cara e lhe disse que me trouxesse para casa. Sabe o que disse? Sarah negou com a cabeça. — Você me pediu que respondesse! — Valéria imitou a voz de homem mais parva que pôde fazer. Sarah teve que lutar contra suas vontades de rir e se sentiu culpada ao ver Valéria limpar outra lágrima. — Disse-lhe que já não quer mais vê-lo? — Droga, disse-lhe que não podia seguir lutando mais com ele. Disse-me que não era assim, mas quando lhe perguntei se pareceria que eu estivesse deitando com outro, ficou calado imediatamente. Deu a volta no assunto, me acusando de ser eu que já tinha alguém mais com quem me deitar e dizendo que por isso, estava terminado. — Não invente — disse-lhe Sarah. — E o que lhe respondeu? — Que vá ao diabo e lhe perguntei como podia ser que eu estivesse terminando com algo quando ele obviamente seguia vendo outras garotas. Não me disse nada. Entretanto, todo o caminho de casa, tratou de me convencer de que eu estava exagerando e que, na verdade, lhe importava, só que agora, com a escola e seus horários do futebol americano, não podia comprometer-se a nada mais. Disse-me que ainda queria me ver, mas neguei. Terminei com ele. Dói muito. — Seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas. — Entretanto, antes de chegar aqui eu disse que não queria que houvesse rancores, em caso de que nos encontrássemos, já que você e Angel estão juntos e todo isso. 243


Não quero que as coisas fiquem estranhas. — De novo, recarregou-se contra Sarah. Sarah lhe esfregou as costas de novo, sentindo-se terrível e em parte também responsável. Era a única que lhe seguia dizendo a Valéria que definitivamente, entre eles, havia uma conexão definitiva. E na verdade, pensava que a havia. Ela viu nos olhos do Alex quando estavam juntos. Angel tratou de lhe advertir que Alex era um namorador. Devia haver escutado e alertado Valéria, em lugar de havêla animado.

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Capítulo Dezesseis O dia de Ação de Graças estava diferente este ano. No momento que Angel despertou, parecia muito nervoso. Sarah ia passar o dia com ele e sua família e depois, ele a levaria para jantar na casa de sua tia. Saiu perfeito assim, já que para eles, o dia de Ação de Graças era mais um almoço com tudo meticulosamente disposto na mesa à uma da tarde, usavam o buffet na cozinha. Estava preocupado com Sarah. Ele sabia que esta era a primeira vez que passava o dia de Ação de Graças sem sua mãe. A única vez que mencionou a data, foi a uns dias atrás e só para lhe pedir que não se sentisse mal por não convidá-lo para jantar na casa de sua tia. Não tinha vontade de ficar com membros da família que nunca tinha conhecido e o ter ali com ela, possivelmente, a deixaria mais nervosa. Ele queria estar com ela para protege-la de algo desagradável, mas respeitou seu desejo e aceitou. Angel tinha grandes planos para a noite. Dependendo se ela estivesse de acordo, ele queria que essa noite fosse a noite. Esta noite, Sarah não esqueceria jamais. Enquanto que a maioria dos meninos de sua idade sonhavam com a primeira vez, Angel já tinha boa experiência. Desde que tinha quinze anos, as garotas facilitavam muito as coisas para ele. Mas Angel 245


sempre foi muito precavido, inclusive recusando educadamente as primeiras vezes que as garotas literalmente lhe ofereciam. Graças aos conselhos de Sal, seu irmão mais velho, sempre teve medo das doenças ou de envergonhar alguém. Eventualmente, acharia uma verdadeira tentação e cairia. Mas já no início, as palavras de Sal retumbavam em sua cabeça, aparecendo cada vez que estava a ponto de entrar. “Pensa com a cabeça e não com o pênis. SEMPRE use uma camisinha, não é não, e não deite com algo que se mova se não quiser terminar com algo que não possa desfazer, como uma enfermidade, ou um filho. Lembre-se, as camisinhas não são 100% efetivas. ” E o conselho mais íntimo de todos: “Não seja estúpido. ” Essa era a razão principal pela qual, depois de várias festas, muitas vezes terminava com Dana. A ideia de trocar de casal com frequência o deixava nervoso, mas nada comparado como se sentia agora. Desde que Sarah havia dito que já estava preparada, sentiu-se chegar no limite. Mesmo com a experiência que tinha, sabia que isto também era uma primeira vez para ele. Tratava-se de Sarah. Só de estar perto o fazia sentir coisas que nem sequer podia descrever. E agora, ia fazer amor com ela. Nunca tinha deitado com alguém que lhe importasse. E dizer que Sarah importava, não era nem de perto comparado com o que realmente sentia. Deu uma olhada para casa de sua tia enquanto desligava o carro. Não tinha tirado as chaves da ignição quando a viu vir para o carro a toda velocidade pelas escadas da frente.

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Angel lhe disse que não se preocupasse em estar elegante. O dia de Ação de Graças em sua casa era algo, menos algo formal. Inclusive, com umas calças jeans e um casquinho, estaria estupenda. No momento em que entrou no carro e pegou sua mão, pôde sentir uma suavidade que fez seu coração se sentir enorme. Hoje, ela estava um pouco mais bonita e adorava a forma com que seu delicado aroma sempre enchia o carro. Inclinou-se para ele e roçou seus lábios nos dele, fazendo uma pausa para olhá-lo nos olhos um momento e depois sorriu. Sempre se sentia como um animal selvagem quando estava com Sarah, mas ultimamente, era diferente. Ela era tudo o que pensava e quando estava longe dela, o tempo não passava. Angel fechou seus olhos e a beijou. As palavras saíram de sua boca sem pensar. — Te amo, Sarah. Seus olhos se abriram e virou para ver sua expressão. Os olhos de Sarah estavam tão grandes como seus sentimentos. Ambos ficaram surpreendidos. Mas ele sabia que o dizia, era verdade. — Sério? — Sim, sério. — Respirou fundo e colocou sua testa na dela. Por mais absurdo que parecesse, acreditou que a amava desde a primeira vez que a beijou naquela primeira noite. Mas agora, tinha certeza. Não havia dúvida. Ele estava totalmente apaixonado por ela.

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Angel procurou em seu olhar o que provavelmente estaria pensando. Depois, Sarah lhe deu um grande sorriso e o abraçou fortemente. — Isso significa muito para mim. Essas não foram as palavras que ele queria escutar, mas ainda assim a abraçou com força. Dizer o fez se sentir bem, isso era tudo o que importava.

***

O almoço na casa de Angel ia muito bem, junto com outros membros da família que estavam conhecendo Sarah pela primeira vez, incluindo Sal, seu irmão mais velho. Ela era tão natural, que imediatamente todos a aceitaram. Durante todo o tempo, Angel não tirava os olhos dela. Logo que terminaram, levou-a para casa, assim poderia terminar de jantar lá tão rápido quanto fosse possível. Quando voltou da casa de Sarah, Eric estava na cozinha, sentado no bar com um prato cheio de comida e Sofia estava esquentando algo no micro ondas. — Pensei que passaria o dia com seu pai — disse Angel enquanto caminhava em direção a geladeira. Eric respondeu com a boca cheia. 248


— Já comi com ele. Vendo o prato cheio do Eric, Angel disse: — Está brincando, verdade? Eric nem pestanejou. — Não. Meu papai estava vendo uma merda de DVD do melhor do golfe, assim, pensei em vir aqui e ver o que faziam. Como se não pudesse imaginar. Mas Angel não se importava. Sentia-se mal por Eric. Eram só ele e seu pai e nenhum dos dois cozinhava, nenhuma vez comiam comida caseira. Por isso é que passava muito tempo na cozinha dos Moreno. No que dizia respeito a Angel, Eric e Romero eram parte de sua família. Sofia tirou do micro ondas um prato com uma fatia de bolo de maçã. Pôs em cima uma grande bola de sorvete de baunilha. — Parece bom, Sofie — disse Angel dando uma olhada no bolo de maçã enquanto tirava uma bebida energética da geladeira. — Não é para você. — Pegou o prato e pôs na frente do Eric. Eric sorriu para Angel. — Obrigado, Sof. — Está faminto. Na verdade, vai comer tudo isso? — Angel se encostou na pia.

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— Merda, vou comer um pouco mais do purê de batatas delicioso que sua mamãe fez — disse Eric, pondo em sua boca outra enorme colherada. — Eu que fiz — disse Sofia sorrindo. — Sarah também gostou. — Angel sorriu para Sofia. — Cada ano que passa está melhor, Sofie. Sal entrou na cozinha. — Melhor no que? — Em tudo — respondeu Eric. Esse comentário surpreendeu Angel e pensou ter visto Eric e Sofia trocarem olhares. Ambos, Sal e Angel, ficaram olhando. Eric terminou de mastigar e pigarreou. — Quero dizer que, ouvi que Sarah disse que Sofie está aumentando velocidade na pista. — Eric olhou para Sal. — Mas Angel estava falando de sua forma de cozinhar. Sal voltou para a Sofia com um grande sorriso. — Assim é minha irmã bebê. Sofia estava começando a pôr os pratos dentro da máquina de lavar louças. — Já não sou um bebê, Sal. Sal pôs sua atenção em Angel. 250


— De modo que todo mundo está crescendo por aqui. Trouxe para casa uma garota, para conhecer papai e mamãe, Angel? De verdade? — Este cara está amarrado — sorriu Eric. Sem surpreender, Angel o fulminou com o olhar. — É isso o que acha? Tomou um gole de sua bebida e desejava que alguém mudasse de tema. Mas tinha um mau pressentimento. Viu na cara de Sal. Entrou na cozinha com um propósito. Sal pôs uma cadeira frente à mesa da cozinha e se sentou escarranchado. — E desde quando? Sofia respondeu por ele. — Três meses e umas semanas. Isso deixou Angel surpreso. Nem sequer ele sabia ao certo quanto tempo estavam juntos. Sabia que eram alguns meses. — Como sabe? A expressão de Sofie era de brincadeira. — Sarah e eu conversamos muitas coisas. — Voltou a olhar para Eric e depois, voltou de novo para Angel. — Mencionou recentemente. — Wow — disse Sal. — Então me conte, o que foi que te fez ser homem de uma só mulher? 251


Sabendo que Sal não o deixaria em paz até saber tudo, Angel decidiu lhe dar um breve resumo de tudo. Muito breve. Sal estava esperando por um relato mais detalhado, mas isso não ia acontecer. Angel fez o possível para parecer aborrecido. — Conheci-a na escola. Ela era a garota nova este ano e realmente não conhecia ninguém. — Angel encolheu de ombros. — Pensei que fosse genial, assim começamos a sair, a apresentei aos meninos e a Sofie e depois, estou com ela. Não é a grande coisa. Perguntou-se se alguém tinha acreditado. Todos o viram hoje. Demônios, nunca antes se esforçou por ocultar o afeto que sentia pela Sarah. Mas esta noite era diferente. Dizer que a amava provocou algo nele. Algo que não podia decifrar. Tudo o que sabia é que cada vez que a beijava, tocava-a, ou só a olhava nos olhos, algo dentro dele acendia. Sal parecia satisfeito. — Parece muito agradável. — Ela é realmente agradável — disse Sofia estando de acordo. — É minha amiga. Eric gemeu. — Oh, acredito que comi muito. Sofie, por que me deu tanta comida? Vendo que mudavam de tema, Angel aproveitou. — Bom, isso é o que ganha. Então, fazemos exercício amanhã? 252


Eric se sentou para trás na cadeira com as mãos em seu estômago. O aspecto de dor em sua cara fez Angel rir. Sem perder o ritmo, Sofia pôs um copo de água borbulhante em frente a Eric. — Olhe isto, tomate. Angel e Sal olharam para Sofia. — O que? Isso é o que papai toma quando come muito. Eric fez o que lhe disse e no meio copo parou com cara de asco. — O que é isso? — Água mineral — disse Sofia. — Beba tudo. Angel se surpreendeu como Sofia ultimamente estava se comportando como a mamãe dos pintinhos. Desfrutava de ver como se zangava quando a chamava sua irmã bebê, mas por mais que dissesse, não deixaria de chama-la assim. Soou seu telefone e quando viu que era Sarah, imediatamente se preocupou. Não estava na casa de sua tia há tanto tempo. Abriu a tampa do telefone. — Oi, o que houve? — Estou preparada. — Sarah disse. — Como é?

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— Está tudo bem. Saí de sua casa satisfeita, assim, só comi a sobremesa. Vem até aqui. Te contarei tudo. Só de pensar que voltaria a vê-la o fez sorrir. — Ok, chego em um minuto. — Angel — sussurrou Sarah. — Sim? — Disse que estou preparada. Levou um momento para entender. Mas quando o fez, seu coração disparou e dentro de suas calças, houve uma grande revoada. Maldição, ela o deixava louco. — Vou até ai. Angel não se deu conta até que desligou, mas Sal estava o vendo o tempo todo. — A vai trazê-la para cá? — perguntou Sal. Angel lhe respondeu com um amplo sorriso: — Não. — Fiquem juntos. Só se lembre, não seja bruto. — Disse piscando os olhos, Angel pegou as chaves de seu carro e saiu.

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Sua tia a tinha feito pensar que ia haver uma grande quantidade de parentes por parte de sua mãe ali. Se Sarah soubessem quem ia estar lá, preferia que Angel estivesse lá. Durante todo o dia, Sarah não deixou de pensar que Angel havia dito que a amava. Ela desejava ardentemente poder lhe dizer que ela também o amava, mas como poderia? Como ia assim, do nada, lhe dizer que o amava quando muito em breve iria embora e ele sabia perfeitamente que era por escolha própria? Simplesmente não podia fazer isso. Por mais que tivesse gostado de ter ouvido dizer que a amava, preferia não ter escutado. Só deixou a culpa muito mais pesada. — E o que foi que aconteceu? — Saíram do caminho da entrada da casa de sua tia. Angel pôs sua mão em seu colo e ela a envolveu com suas duas mãos. Sarah respirou profundo. — Antes de mais nada, tanta preocupação para nada. A maioria dos parentes que chegaram, eram por parte de meu tio e os poucos que chegaram do lado de minha mamãe, eram de parentes longínquos. Aparentemente, os membros mais próximos de sua família vivem no Arizona. Na real, ninguém parecia interessante. Minha tia literalmente teve que lembrá-los que tinha uma irmã. Os adultos comeram na mesa da sala, enquanto que... — e elevou os dedos para citar — nós, as crianças, comemos na cozinha. Na verdade, estava muito chato. Pulou a parte em que os sobrinhos de seu tio a paqueraram descaradamente. Surpreendeu-se que os dois fossem quase da mesma idade que Angel e comparados com ele, ambos eram um par de crianças imaturas. 255


Angel sorriu: — Que bom. A verdade é que me preocupei quando me ligou tão rápido. Pensei que tinha acontecido algo. Ela se encostou nele. — Não, o que aconteceu é que não podia esperar para estar contigo. Angel apertou sua mão. Quando se aproximaram do beco pela parte de trás do restaurante, Sarah não estava segura de onde estavam. Olhou ao redor um pouco confusa. Quando entraram, sorriu. O que tinha em mente? Não tinha planejado fazer uso de um dos reservados, ou tinha? Caminharam por um corredor curto e através do pequeno escritório desordenado. Passaram por outra porta para o que parecia ser uma sala de descanso. Já tinha ouvido falar dela, mas nunca esteve lá. Havia um mostrador com um forno micro ondas, uma torradeira, uma geladeira contra a parede com gabinetes a seu redor, uma mesa a metade do cômodo e um sofá junto à mesa frente a um televisor que se encontrava no canto. Então, no final do quarto a viu, uma cama. Era uma pequena cama individual com uma colcha escura, nada elegante, mas serviria. Sentiu seu coração acelerar. Angel foi para a geladeira, abriu e tirou uma garrafa de vinho. 256


Sarah sorriu. — Ouça, meu tesouro! Pensei que possivelmente quisesse relaxar um pouco. Era notório que ela estava nervosa? Serviu-lhe um copo e depois pôs a garrafa dentro da geladeira e pegou uma cerveja para ele. Ela mordeu o lábio quando ele a levou para a cama. Sarah sentiu como se o enxame que estava em seu estômago ficava louco. Tomando um comprido gole de seu vinho, viu quando se aproximou de novo do mostrador. Abriu um gabinete em cima dele e tirou uma bolsa de plástico branco. Retornou e sentou a seu lado. Sorriu e respirou fundo. — Quero que saiba que, mesmo que vá embora, quero que estejamos juntos. Sua vista nublou com lágrimas mornas. Tinha pensado nisso tantas vezes, mas não se atrevia a perguntar. Era lhe pedir muito. Depois de tudo, era escolha dela retornar. Como poderia escolher? Angel tirou uma caixa pequena da bolsa e a deu. Antes que pudesse abri-la, ele pôs sua mão sobre a dela. — Sarah, isto não vai ser fácil, mas estou disposto a fazer tudo o que for necessário. Não me importa se tiver que dirigir cada fim de semana. Só porque está muito longe não significa que serei seu namorado em meio tempo. Entende o que digo? Quero que tudo seja exatamente como é agora. — Ela forçou um sorriso e assentiu.

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— Claro que sim. — Ele a beijou e retirou sua mão da sua, para que pudesse abrir a caixa. Abriu-a e tirou um bracelete de prata com pingentes. — É lindo. — Contemplou os diferentes pingentes. — Você os escolheu? Angel assentiu. — Cada um deles. Passou cada um. Primeiro uma estrela de mar pequena, depois várias conchas de mar e um bote. Os sapatos para correr e a garrafa de vinho a fizeram sorrir. — A senhorita achou engraçado quando lhe perguntei se tinha um pingente em forma de garrafão de vinho. Sarah riu. — Então o lugar não era muito elegante. — Sim, deve ter sido. O pingente de coração tinha seu nome gravado, Sarah. — Vire-o — disse Angel. Fez e leu a inscrição. Para ti... para sempre ~ Angel. Pôs sua mão sobre sua boca, conforme as lágrimas rodavam suas bochechas. Seus olhares se cruzaram por um momento e depois, Angel a beijou. Ela respirou fundo e depois novamente pôs sua atenção no bracelete. Havia mais um pingente que parecia como um frango ou pato. Um pouco confusa, voltou a olhá-lo. 258


— Cuac! Sarah começou a rir — Ai, Angel, é perfeito. — e abraçou seu pescoço. A beijou e logo a afastou um pouco para poder vê-la, limpou suas lágrimas com seus polegares e sorriu. — Me deixe ver. Pegou o bracelete de sua mão e pôs em seu pequeno punho, segurando-o. Sarah levantou a mão ao ar. — Amei. — Te amo. — Angel a olhou nos olhos. Eu também. Por pouco saíram essas palavras de sua boca, mas soube as parar e sorriu. Era uma tortura, mas não podia dizer. Angel pegou o copo que Sarah segurava com sua outra mão, o pôs no piso e a puxou para ele. Seus olhos estavam fixos em seus lábios, de modo que baixou a cabeça e a beijou, imediatamente procurando sua língua. Ela a ofereceu imediatamente, querendo que sentisse quanto o amava, compensá-lo já que não podia dizer-lhe. Seguiu beijando-a enquanto a deitava sobre o travesseiro e depois recostou parcialmente sobre ela. Sua respiração estava mais agitada, chupando sua língua mais forte. Sua boca começou a percorrê-la, beijando suas bochechas, seu queixo e empurrou sua cabeça para trás com suavidade. 259


— Te amo tanto — sussurrou enquanto lambia e chupava com suavidade seu pescoço, fazendo com que seu corpo estremecesse. Sarah acariciava seus fortes bíceps enquanto Angel desabotoava sua blusa. Quando terminou de despi-la, ele se despiu e ficou a olhando. Depois, arrastou-se para ela. — Sarah — sussurrou — As primeiras vezes serão rápidas. Contigo não posso me controlar. Sarah tragou saliva. As primeiras vezes? — Mas te recompensarei. Prometo isso. Sarah se ofereceu, disposta. Apesar de todo seu nervosismo, ela desejava que Angel sentisse quanto o amava. Tinha que saber. Ele significava para ela o mundo, não havia dúvida de que ela queria que sua primeira experiência fosse aqui, com ele.

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Capítulo Dezessete Afligido por todas essas assombrosas emoções, Angel seguia ainda dentro dela. Beijou-a na têmpora e logo na frente. Desde que conheceu Sarah, sentia muitas emoções pouco familiares, mas nenhuma comparada com o que estava sentindo neste momento. Passou tanto tempo rindo e pensando que os meninos com namorada séria eram bobos. Pensava também que era inimaginável alguém estar satisfeito com uma só garota. E agora aí estava ele, olhando Sarah, sabendo, sem dúvida que nunca estaria satisfeito com ninguém mais que ela. Desde o primeiro dia em que olhou seus olhos inquietantes, Sarah tinha capturado algo nele. Bobamente pensou que seria suficiente só chegar a conhecê-la. Tinha sido apanhado por seus olhos feridos, sua risada contagiosa e sua obstinada determinação e sem aviso prévio, tinha ficado de joelhos por ela. Sem fôlego, beijou-a nas têmporas: — Você, é minha. Ela assentiu com a cabeça, passando seus dedos ao longo de suas costas. De jeito nenhum a deixaria fora de sua vida. A ideia o sobressaltou, apanhando cada um de seus sentidos. Angel a beijou suave e meigamente, enquanto se virava e saía dela. Por um momento, 261


se sentou a um lado da cama, sentindo-se um pouco aturdido. Nu, ficou de pé e caminhou para a porta. — Aonde vai? — perguntou Sarah. Angel se virou e sorriu. — Vou ao banheiro. Volto já. Saiu do quarto e seguiu o corredor em direção ao banheiro. Quando retornou, Sarah estava sentada na cama, segurando sua calça. Angel deslizou ao seu lado na cama, vestiu as calças, encaminhou-se para o sofá que estava do outro lado do quarto e entregou a Sarah uma toalha. — Sente dor? O aspecto inocente na cara de Sarah o fez sorrir. Ela negou com a cabeça. — Não, mas penso que pode ser doloroso se tentarmos imediatamente. Angel se levantou da cama e elevou a colcha pela parte superior. Sarah se moveu a um lado e logo se meteu debaixo dela. Angel deslizou junto a ela sob a colcha e a atraiu a seu lado, deslizando seus braços ao redor de seu quente corpo nu. — Meu Deus, vou sentir saudades de estar com você todos os dias. Sarah ficou tensa. 262


— O que foi? — perguntou Angel. Sarah negou com a cabeça. — Nada, é que eu não gosto de pensar sobre isso. Angel não disse nada, mas não podia deixar de se perguntar por que Sarah estava tão determinada a retornar, se nem sequer podia pensar nisso. Então, se lembrou, Sydney. Angel a beijou no nariz. — Talvez, assim que Sydney for à universidade, possa considerar retornar. A expressão em seu rosto deixou Angel envergonhado. Ele já tinha visto essa mesma expressão antes e o fez sentir-se incômodo, mas não soube o que significava. — O que se passa? — perguntou Angel. Ela o olhou por um segundo, ainda com esse aspecto desconcertante. — Sydney — disse Sarah. — Bom, não é tudo... como você pensa — disse hesitante. Sem compreender, Angel fechou os olhos. Foi então que viu uma ligeira mudança em sua expressão.

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— O que quero dizer, é que não se trata só de Sydney, Angel. Pra falar a verdade, não sei o que acontecerá com minha mãe. Pode ser que então, ela já tenha saído. A última coisa que Angel queria era falar sobre a mãe dela. Com todo o egoísmo que sentia, não queria estragar a noite, não essa noite. Angel a beijou suavemente. — Não há por que nos preocuparmos com isso agora, ok? Deslizou suas mãos por todo seu corpo nu e respirando profundamente, fechou seus olhos. Ter Sarah assim tão perto, sem absolutamente nada entre os dois deixava-o louco. Estava pronto, de novo. Beijou-a mais intensamente desta vez, querendo come-la. Por mais que quisesse fazer amor uma e outra vez, sabia que ela estava dolorida e não queria machucá-la. Não queria que Sarah recordasse assim a primeira vez em que estiveram juntos. Mas lhe fez a promessa de compensá-la. Depois de tomar fôlego, abriu-se caminho para seus quadris. Sentiu como Sarah tremia enquanto a beijava na parte interior das coxas. Ela nunca esqueceria esta noite. Angel se asseguraria disso.

***

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Valeria levou Sarah ao shopping. Mais tarde nessa noite, todos iriam celebrar o aniversário de Angel. Sarah queria escolher um presente e Valeria queria comprar um vestido novo. Alex ia estar lá, de modo que Valeria queria fazê-lo babar. Sarah estava nervosa por seu presente. O bracelete que Angel lhe deu era muito especial. Queria que seu presente fosse especial para ele também. Ele não gostava de joias, mas ela sentia que isto merecia algo especial. Escolheu uma corrente de prata singela e mandou gravar uma frase. Sua... para sempre ~ Sarah. Sarah era dele em todos os sentidos. Queria algo que o recordasse dela todos os dias, especialmente quando ela fosse para o Arizona. Duas semanas haviam se passado desde que se entregou a ele pela primeira vez. Depois disso, aproveitavam todas as oportunidades que tinham para fazê-lo novamente. Cada vez o desfrutavam mais. Só de pensar nisso, a fazia sentir-se desejosa. Ambas, ela e Valeria, examinaram a corrente quando o funcionário da loja entregou a Sarah sobre o mostrador. — Olha, isso ficou bonito de verdade — disse Valeria. Sarah enrugou o nariz. — Acha mesmo? Não acha que é muito brega? — Não, de jeito nenhum. — Valeria revisou a gravura. — Oh! Isto vai encantá-lo. Valeria saiu da loja para atender seu telefone e Sarah terminou de pagar pela corrente. Quando saiu da loja, conseguiu ouvir o fim da 265


conversa de Valeria e deu-se conta de que estava falando com Alex. Valeria virou para olhar Sarah. — E esse sorriso? — perguntou Sarah brincando. Saíram do shopping caminhando lentamente. Valeria encolheu os ombros. — Alex é bonito, mas não sei. Detesto que faça eu me iludir. — O que ele queria? — Saber se vou hoje à noite. Sarah estava surpreendida. Sabia que Alex seguia ligando pra Valeria, mas não esperava que ele quisesse seguir vendo-a. — Isso é o que ele queria? — Parece que sim, disse que vai ficar me esperando. Quer falar comigo. — Bem, isso é bom, certo? — Sarah franziu o cenho, ao pensar em como tinha incitado Valeria antes e como ela tinha se decepcionado. E agora, estava fazendo, de novo. — Não muito. Disse a ele que tinha estado falando novamente com Reggie. Não menti pra ele. Ultimamente, Reggie esteve falando comigo e mandando mensagens de texto. Alex me perguntou se pensava em voltar com ele, respondi que não tinha certeza. Isso sim foi mentira. — O gesto da Valeria se tornou amargo. — Não quero meu ex de volta, especialmente sentindo o que sinto por Alex. Acredito que 266


simplesmente é um menino. Sinto que toda essa estória do Reggie o deixou meio doido. Feriu uma fibra do seu orgulho, tenho certeza. — Ainda sente algo por ele? — Sarah não podia entender Valeria. Pensava que ela superava facilmente sua relação com os meninos. Entretanto, Alex a tinha feito chorar e muito. A cara de Valeria disse tudo e Sarah se sentiu mal por ela. — Estava tudo bem até que ele começou a me procurar de novo. Mas se vejo ele essa noite, sei que vai ser ainda pior. Sarah se deteve antes de dizer algo esperançoso para animá-la. Não voltaria a fazer o mesmo. — Bom, não tem por que preocupar-se por isso agora. O que tiver de ser, será. Terminaram suas compras e se foram de carro para sua casa. Valeria deixou de falar sobre Alex e Sarah não queria trazer esse tema de novo à conversa. Estava folheando uma revista quando recebeu uma mensagem de texto de Sofia que quase lhe causou um ataque do coração. — Quero morrer, Romero surpreendeu ao Eric e a mim. Pode falar? Sarah se endireitou e apertou o botão para chamar. Sofia lhe respondeu ao primeiro toque. — O que aconteceu?

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— Fui recolher um DVD que queria que me emprestasse — disselhe rindo. — espere. Aturdida, Sarah a esperou. Em toda sua vida, não podia entender como Sofia podia encontrar graça em toda esta situação. Desde a primeira vez que Sofia mencionou que ela e Eric se beijaram, mal podia conter-se. Após, para o terror de Sarah, punha-a a par de cada encontro que ela e Eric tinham. Cada um desses momentos era mais intenso que o anterior. O coração quase saia pela boca e Sofia estava aí, se acabando de rir! Escutou uma porta se fechar e novamente escutou a voz de Sofia. — Ok, eu acabava de sair da casa e Angel acabava de chegar. De qualquer modo, Eric estava sozinho em casa, mas acabava de sair do banho. Só tinha a toalha posta e começamos a nos beijar e nos tocar. — Sofia abaixou a voz. — Sarah, a toalha caiu e eu vi tudo! Sarah sentiu que ia desmaiar. Começou a se abanar com a revista. Valeria ficou olhando. — Quer que ligue o ar condicionado? Sarah negou com a cabeça. — E o que aconteceu? — Me afastei dele. Ele, na verdade, se sentiu mal e não parava de se desculpar e de perguntar se eu estava bem. E eu estava. Só fui pega de surpresa. Mas foi emocionante. — Novamente, Sofia voltou a rir, 268


fazendo com que Sarah ficasse desconcertada. — Então, ouvimos que alguém batia na porta. Romero nem sequer esperou. Assim, sem preambulo, entrou. Eu agarrei o DVD do suporte e saí correndo dali. Emocionante? Sarah se abanou mais forte ainda. Valeria a olhou estranho e ligou o ar condicionado. Sarah agradeceu o ar frio. Quase começava a suar. — Romero te disse alguma coisa? — Não, só ficou ali sem poder dizer uma palavra. Acha que ele vai falar alguma coisa? — Não sei — respondeu Sarah. Na verdade, não sabia. Isso estava fora de controle. Desejava poder dizer a Sofia que não lhe contasse mais nada. Já não queria saber de nada. Já era bastante ruim ocultar uma coisa grande assim de Angel. Não estava segura de qual das duas coisas era pior. Só de pensar a fez estremecer-se. Mas também sabia que Sofia estava sozinha em tudo isto. Sarah não sabia se devia sentir pena por ela ou admirá-la. O mundo de Sofia estava cheio de homem das cavernas prepotentes, mas ao que parece, isso não a detinha. — Tenho Eric na outra linha! — disse Sofia quase aos gritos. — Logo te chamo!

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Houve um clique e a chamada terminou. Sarah olhou o telefone totalmente aturdida. — O que foi tudo isso? — perguntou-lhe Valeria. — Acredita em mim, você não quer saber. Já estava em casa quando Sofia ligou de novo. Eric tinha sido honesto, mas contou a Romero o indispensável e Romero prometeu não dizer nada, mas pensava que Eric era incrivelmente estúpido. Sarah ficou aliviada ao saber de tudo e além disso estava contente de não ser a única que sabia. Mesmo assim, preocupava-se que Romero ficasse bêbado e espalha-se a estória para todo mundo. Essa noite ia ser muito interessante. Todos iriam estar ali.

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Capítulo Dezoito Como era de costume, o coração de Angel se descontrolava só de ver Sarah. Assim que Sarah entrou no carro, beijou-a. Era para ser um beijo inocente, mas incapaz de conter-se, beijou-a apaixonadamente até que alguém no assento de atrás pigarreou. Sarah se afastou imediatamente e voltou. Romero, Sofia e Eric estavam amontoados no assento de atrás. — Não os vi, meninos. — Sua expressão escandalizada ao vê-los, surpreendeu Angel. Esta não era a primeira vez que ele se mostrava apaixonado por ela na frente deles. — Foi minha culpa — disse Angel sorridente, enquanto dirigia para sair da entrada dos carros. — Esqueci que havia alguém no assento de atrás. — Eu estava falando contigo quando ela entrou no carro — protestou Romero. Angel riu entre dentes e entrelaçou seus dedos nos de Sarah, colocando ambas as mãos em cima de sua perna. Sarah olhou para frente, um pouco rígida. Na verdade, não sabia o que fazer. Esperava que Sarah não estivesse chateada. Todo o caminho para o boliche foi muito silencioso, exceto pelos protestos de Romero a respeito da música. Angel desligou o rádio para 271


calar Romero e olhou pelo retrovisor para ver sua reação. O que viu foi a cabeça da Sofia, no ombro do Eric. — Está cansada Sofia? — perguntou Angel. Endireitando-se imediatamente, Sofia lhe respondeu. — Não. Angel viu a hora no relógio. Eram oito horas. — Eric, estava dormindo em cima de você? Sarah endireitou em seu assento e levou a mão de Angel para seus lábios e a beijou. Imediatamente se esqueceu de Sofia e em troca sorriu. Estava contente que Sarah não estivesse zangada. Tinha que lembrar que, embora não se importasse com o que as pessoas pensassem a respeito de como Sarah o enlouquecia e o fazia sentir, ela era um pouco mais reservada. Quando chegaram ao boliche, Angel levou Sarah para longe dos outros. Com seus braços abraçou sua cintura e a atraiu para ele. — Está zangada? A cara confusa de Sarah lhe deu alívio. — Por que? — Nada. — Beijou-a, sentindo-se um maluco. — Não importa.

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Ele devia saber que algo assim não a faria se zangar. Não importa o que tinha acontecido, já tinha passado. Sarah o olhou estranho, mas não perguntou nada. No boliche havia mais gente do que Angel tinha esperado. Sabia que as sextas-feiras eram muito agitadas. Apagaram as luzes e puseram música, mas havia muita gente. A maioria dos meninos da equipe já tinha chegado e aparentemente, Sarah e Sofia tinham convidado à equipe de corrida, porque muitas delas estavam lá. Sarah e Sofia se afastaram para estar com suas amigas da equipe de corrida. Angel não se importou. Tinha esperanças de que elas a convencessem a unir-se à equipe e decidisse ficar. Faltava só uma semana antes que ela fosse e isso o estava matando. Mas não ia pensar nisso e arruinar a noite. Romero lhe arrumou um refresco e pôs seu braço ao redor de seus ombros. — Feliz aniversário, cara. Angel bebeu cuidadosamente o refresco. Já sabia. Estava certo, sabia que era apenas para esconder o álcool disfarçado com refresco. Angel tossiu. — Que diabos era isso? Romero começou a rir e outros membros da equipe fizeram o mesmo. — É seu aniversário, Angel. Não seja maricas!

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Alguém sempre tentava pôr algo em sua bebida. E sabia que os meninos iam tentar prejudicá-lo, porque era seu aniversário. Mas ele tinha outros planos para essa noite. Não iam fazê-lo perder isso. Sempre acontecia a mesma coisa. Todos eram menores de idade, por isso, a única oportunidade de tomar um gole era colocar escondido. Tinha certeza que mais da metade das pessoas que estavam ali, traziam algo. Angel nem sequer gostava do licor forte. O mais forte que tomava era cerveja e mesmo assim, tomava sozinho uma ou quando muito, duas. Mas não queria desiludir os meninos, assim, fingia que estava tomando. Sabia que todos estavam bebendo a mesma merda e breve, ninguém se daria conta de que tinha se desfeito da sua bebida. Já havia passado várias horas e Angel não podia acreditar que continuava chegando gente. O lugar estava ficando muito cheio. Angel sabia que Sarah estava lhe dando espaço para ficar com os meninos. Sarah foi até ele por um momento, mas depois ficou junto de suas amigas. Angel não tinha problema algum se Sarah ficasse a seu lado a noite toda, mas à conhecia. Não o faria. Para ela, sempre foi importante lhe dar espaço. Alex chegou tarde, mas Angel gostou. Sabia muito bem que este ripo de festas não se comparava com as que Alex tinha agora na universidade. Mas mesmo assim, estava ali, parecendo mais feliz do que nunca. — Feliz aniversário, pequenino. — Alex chocou sua mão e o puxou para si para lhe dar um abraço de urso. Angel lançou um grunhido quando Alex, a propósito, o abraçou fortemente. Só Alex o 274


fazia sentir mais menino. Soltou-o e deu uma olhada ao redor. — Maldição, este lugar está muito cheio — Alex parecia satisfeito. Havia muito álcool no ambiente. Isso nunca era bom. Percebeu que vários empregados estavam com cara preocupada. Havia só um guarda de segurança. Era um cara mais velho, já entrado nos cinquenta anos e já tinha dado bastante duro tentando separar uma disputa verbal entre duas garotas. É obvio que em nada tinha ajudado um grupo de bêbados por aí gritando: Briga! Briga! Briga! Angel estava vigiando Sarah, mas com a chegada de Alex, perdeu-a de vista entre a multidão. Romero se aproximou e Angel lhe perguntou. — Viu as garotas? Era óbvio que Romero já estava bêbado. — Sim, vi um montão delas. — Refiro-me a Sofia e Sarah, cara. Romero levantou as sobrancelhas e elevou os ombros. Angel percebeu que Romero não ia ser de grande ajuda. — Não sei de Sarah, mas Sofia está com o Eric. — E onde está Eric? — Eu é que sei? Angel franziu o cenho. Por que diabos isso lhe incomodava? Bem quando estava tentando ordenar seus pensamentos, aconteceu uma 275


comoção a suas costas. Deu a volta e antes de se dar conta, havia copos e comida voando pelos ares. Todos estavam brigando, as garotas gritavam e mais e mais gente se envolvia na rixa. Angel procurava freneticamente Sarah e Sofia. Sentiu uma mão no ombro, e instintivamente a tirou de cima, mas viu que era Alex. — Onde está Sofia? — Sua cara de preocupação era igual ao que Angel sentia. — Não sei. — Angel estava zangado, tinha perdido de vista às garotas. Isto era um caos. Todo mundo estava sendo empurrado. Angel e Alex abriram espaço entre a multidão. — Ali está Sarah — assinalou Alex. Angel a viu e saiu disparado para ela. Estava com Valéria, mas não via Sofia em nenhum lado. A expressão de preocupação da Sarah se atenuou no momento em que o viu. Ele a pegou pela mão assim que a alcançou. — Onde está Sofia? Ela negou com a cabeça. — Não sei. Separamo-nos quando todo mundo começou a empurrar. — Circulem, circulem! — O segurança e um par de empregados do boliche estavam fazendo com que todo mundo saísse.

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A única coisa que podiam fazer era sair dali. Cheios de ansiedade, ficaram parados fora no estacionamento vendo todos saírem do lugar. Que diabos tinha passado por sua cabeça para trazer Sofia neste lugar? Angel sentiu como Sarah lhe apertava a mão. Viu Eric sair entre a multidão, mas não Sofia. Viu quando Eric levantava sua mão entre a multidão e conforme as pessoas dispersavam, viu Sofia de mão dada com ele. Angel exalou aliviado. — Aí estão! — Sarah levantou sua mão para chamar sua atenção. Eric os viu e caminhou por entre a multidão para eles, sem soltar a mão da Sofia. Quando chegaram, sorriu e deu um tapinha com sua mão livre no ombro de Angel. — Cara amigo! Este é um aniversário ou o quê? Angel sacudiu a cabeça e se dirigiram para o carro. Alex e Valéria já estavam lá. — E agora, aonde? — Perguntou Alex. Para Angel, a festa tinha terminado. Já tinha seus próprios planos. Eles estavam, depois de tudo, festejando seu aniversário. — Acredito que já tive ação suficiente por uma noite — disse Angel mentindo. — Vou levar os meninos para casa. — O que? — Havia uma nota de desencanto no tom do Eric. — Não são nem sequer onze — adicionou Sofia. 277


Angel puxou Sarah pela cintura e ela se encostou nele. — Sim, Sarah está cansada. Sarah levantou subitamente a cabeça e lhe deu uma cotovelada na costela. — Não me jogue a culpa! Angel tentou, mas não pôde ocultar um sorriso: — Sarah, carinho, era para você me seguir. Alex tirou suas chaves do bolso. — Toma. — As lançou para Eric. — Leve Sofia e esse bêbado para casa. Valéria quer me ensinar algo. Alex esboçou um sorriso malicioso e Valéria lhe deu uma cotovelada. — Não fale assim. Romero se aproximou da turma. — Ouçam! E a festa? — Acho bom que você não vomite no meu carro — advertiu Alex a Romero e se afastou com a Valéria. Romero ficou confuso. — Seu carro? Eu vou com Angel, certo? Voltou para Angel. 278


— Você vai com eles. — Angel apontou para Eric e Sofia que já estavam indo em direção ao carro de Alex. Caminhavam para multidão que ainda se encontrava no estacionamento. — Te cuide, Sof. Eric tirou a mão de Sofia e a mostrou a Angel. — Não se preocupe, está comigo! — Está de acordo com isso? — disse Romero apontando para Eric. — Não seja bobo — Angel franziu o cenho. — Mexa esse traseiro, antes que lhe deixem. Se fosse outro, Angel se sentiria estranho. Mas conhecia Eric e sabia que como sempre, cuidaria da Sofia. Romero saiu disparado atrás deles. — Ouçam! Me esperem. Eric, me dê a mão também! Sarah deu risada e Angel voltou para lhe dar atenção. A risada de Sarah o fazia feliz, mas ao mesmo tempo o desafiava. — E então? Aniversariante. Onde vai me levar? O coração de Angel deu um salto. Sabia perfeitamente bem onde a levaria.

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Logo que entraram no quarto, Angel puxou Sarah para ele e lhe deu um beijo apaixonado. Já estava preparado para ela. Demônios, esteve preparado toda a noite. Depois de uns minutos, Sarah se afastou para tomar ar. — Wow! — disse Sarah quase sem fôlego. — Oh sim, wow. — Angel sorriu. Estava a ponto de beijá-la de novo, mas Sarah o deteve pondo a mão em seu peito. — Espera. — Afastou-se e correu para sua bolsa que estava no sofá. — Tenho algo para você. Isso não deixou Angel muito feliz. Tinha pedido que não gastasse com ele. Sabia o pouco que ganhava como babá e que economizava tudo para que retornasse ao Arizona. — Sarah, carinho, disse que... — Silêncio, eu queria. — Tirou uma caixa com um toque prateado ao redor. Angel sorriu de lado e pegou a caixa. Sarah pegou sua mão e o levou para a cama. Sentaram-se e Angel começou a abrir seu presente. Sarah se sentou junto a ele. O entusiasmo de Sarah o divertia. Abriu a caixa e tirou a corrente de prata. Sabia que Sarah estava ansiosa esperando alguma reação de sua parte, mas era tão adorável que não conseguiria dizer o que realmente queria lhe dizer, ela não devia ter gasto tanto dinheiro com ele. 280


— Gostei. Beijou-a de novo. — Lê a inscrição. Angel rodou a pulseira. Sua... para sempre ~ Sarah — Queria te dar algo para que recordasse de mim diariamente, quando for. Quando for. Demônios, ele odiava ouvir isso. Sarah devia estar louca se pensava que precisava de algo para lembrar dela. Sarah sempre estava presente, em sua mente. Entretanto, sorriu-lhe e pegou em seus braços. Já era hora de receber o presente pelo qual tinha esperado toda a noite.

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Capítulo Dezenove Sarah se assustou quando viu a hora em seu relógio. Seu telefone celular estava chamando e ainda não eram nem seis da manhã. Quem ligaria a estas horas? Estirou-se e pegou o telefone. Era Sydney. O abriu para responder sem saber o que esperar. — Olá? — Ouça Lyne — soava muito tranquilo. — Tudo bem? — Ah sim — disse. — Perdão por te ligar tão cedo. Não podia dormir. — Por que? O que aconteceu? — Em todos os anos que o conhecia, sabia que as únicas vezes em que Sydney não dormiu era porque estava estressado a respeito de algo. Sentou-se na cama e pôs um travesseiro atrás dela. — Não aconteceu nada. Sarah já conhecia esse tom. — Sydney, está estressado por algo. Deveria saber quanto te conheço e não tentar me esconder algo. Houve silêncio no outro lado da linha e logo um suspiro.

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— Não pude deixar de pensar em você e em Angel — disse. — Tem certeza que ficará bem se voltar? Sarah franziu o cenho. Passaram quase duas semanas que Angel e ela fizeram amor pela primeira vez. Deixou passar um tempo antes de contar para Sydney, não queria trair Angel ao compartilhar algo tão íntimo com outra pessoa. Mas perto de uma semana, não pôde mais se conter. Para ela mesmo. Diariamente, Angel lhe dizia quanto a amava. Isso a estava matando já que não podia lhe responder da mesma forma. Então, não pôde mais e contou para Sydney em prantos. Depois, Sydney ficou fora de si, sendo pouco otimista de que ela pudesse voltar ao Arizona. Mas ela se esforçou para convencê-lo de que poderia e o faria. Não tinha como ela se esquecer disto, só de pensar a devastava. Tinha que voltar, sem importar quanto queria ficar agora. Senão, não ia poder ser capaz de viver consigo mesma. Como poderia lhe dizer agora que lhe daria as costas simplesmente por um sujeito que tinha conhecido a quatro meses? Embora fossem os melhores quatro meses de sua vida, não podia. Nunca poderia esquecer como Sydney chorou aquele dia tão terrível em que Sarah soube que teria que mudar-se. Ela também tinha chorado por ele, da mesma forma que tinha chorado por si mesmo. — Sydney, já lhe disse. Posso sim. Angel e eu continuaremos juntos, embora eu mude para o Arizona.

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— Tem certeza? — perguntou. — Não ficaram longe um do outro nem um só dia desde que começaram a sair. Sarah fechou seus olhos, apertando-os. Sabia que Sydney estava certo. Ia ser duro, mais duro do que quando deixou Sydney. Mesmo assim, tinha que ir. — Ficarei bem, Syd. Pude sobreviver todo este tempo aqui, lembra como pensei que não poderia? — Sim claro, ficou bem, mais que bem, por causa dele. — Bom, terei você quando retornar e me ajudará a passar por isso. Houve um estranho silêncio, por alguns segundos. — Lynn, em todos os anos que te conheço, nunca tinha ouvido você tão feliz. Odiaria ter você de volta deprimida. — Impossível — respondeu Sarah. — Enquanto você estiver aí para mim, estarei bem. Não pôde evitar de escapar um bocejo. Estava tão cansada. A parada no restaurante tinha durado mais do que tinham planejado. Tinha chegado em casa depois do toque de recolher. Por sorte, como ela pode perceber, ninguém tinha notado. Todos pareciam estar dormindo quando ela chegou. — Deveria voltar a dormir — disse-lhe Sydney. — Parece muito cansada. — Estou bem. — Sarah bocejou novamente. 284


— Não, está cansada. Volte para cama. Falamos mais tarde. — Tem certeza? — Claro. — Bom — disse-lhe. — Deixa de se preocupar com isso, Syd. Tudo será como antes. Parecerá como se nunca tivesse partido. Depois de ter desligado, foi ao banheiro e pensou no dia que tinha pela frente. Da noite em que se entregou a Angel e concordaram em continuar com sua relação mesmo quando ela retornasse ao Arizona, sentia-se cheia de culpa. Tinha que dizer a Angel a verdade sobre Sydney e por pouco contou nessa mesma noite. Mas se acovardou, por não querer estragar o momento. Sarah sacudiu a cabeça, recordando como vergonhosamente utilizou a sua mãe para mudar o tema. Preparou uma desculpa depois de outra para não lhe dizer. Mas não podia lhe dar o prazer de lhe dizer que o amava até que sua consciência estivesse limpa e lhe dissesse a verdade. E não poder fazêlo, a estava matando. Ia ser algo tenso, mas se Angel, na verdade, a amasse como dizia, tinha certeza que a entenderia. Voltou a dormir logo que sua cabeça tocou o travesseiro. Sendo um pássaro madrugador, assustou-se quando o telefone voltou a tocar e percebeu que dormiu por mais três horas. Desta vez, era Angel quem ligava. — Olá? — Olá, carinho, te acordei? 285


— Mm — Sarah estirou os braços. — Sim, mas é lindo que seja sua voz que estou escutando. — Não faça esse som, Sarah — disse Angel. — Ficarei louco o dia todo até que possa estar contigo. — Todo o dia? Não vinha me pegar hoje cedo? — Não, carinho. Estamos com pouco pessoal hoje. Sofia e eu vamos ajudar com o serviço de hoje de manhã e agora temos que voltar para o restaurante. Não poderei te pegar a não ser até às sete da noite. — Olá Sarah! — Ouviu a voz da Sofia. Sarah franziu o cenho, brava com ela mesma por haver dormido até tão tarde. Poderia ajudar com o serviço da manhã. — Quer que lhes ajude? — Não, Eric vai nos ajudar. Estou indo pegá-lo agora. — Sua voz ficou mais baixa. — Além disso, ficamos juntos até tarde ontem à noite. Quero que descanse para mim, para hoje à noite. — Espero que tenha descansado — disse Sarah — porque eu estou bem agora. — Para — sussurrou. — Merda! Se puder parar antes das sete te ligo, tudo bem. — Ok — respondeu Sarah rindo. — Te amo, carinho.

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Ela sentiu que seu coração estava sendo sequestrado, incapaz de lhe dizer o que tanto ansiava. — Ok, adeus. Acabou. Hoje mesmo, a noite, lhe diria tudo. Cada célula de seu corpo morria de medo, mas tinha que contar. Não podia passar um dia a mais sem lhe dizer o muito que o amava. Queria manter sua consciência limpa, não deixaria que Sydney também se envolvesse dentro de toda esta complicada mentira. Talvez ele pudesse lhe aconselhar sobre a melhor forma de contar para o Angel. Ligou para ele, mas entrou na caixa de mensagem. Deixou-lhe uma breve mensagem, lhe dizendo que tinha que falar com ele e que não ia estar com Angel durante o dia, por isso, podia lhe ligar a hora que fosse. O resto do dia passou lavando sua roupa e repassando sobre o que diria a Angel. Desta vez, não daria para atrás. Tinha ensaiado uma e outra vez. A cada momento que olhava o relógio, o nó que sentia no estômago crescia e ficava mais pesado. Ligou para o Sydney várias vezes, mas sempre dava fora de área. Angel entenderia. Dizia a si mesmo uma e outra vez. Ele tinha que entender. Depois que contasse, lhe diria o quanto o amava, Angel saberia que não havia nada por que se preocupar. Sarah estava olhando sua roupa no closet quando escutou

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— Você! — e pulou um salto que quase a fez perder o equilíbrio. Virou e viu Valéria parada ali com um sorriso. — Que aconteceu com você? Sarah fechou os olhos e pôs sua mão no peito. — Meu deus! Estive tão nervosa o dia todo, estou um desastre. — Por que? — Valéria entrou e se sentou na cama de Sarah. Sarah deixou cair os ombros. — Hoje à noite direi a Angel. — Dirá o que? — A respeito de Syd. Os olhos da Valéria ficaram enormes. — Ainda não sabe? Sarah fez um movimento com seus olhos. Valéria sempre a fazia se sentir pior, especialmente a respeito disto. — Não, mas hoje à noite vai saber. Sem mais pretextos. Hoje direi. — Virou para continuar olhando em seu closet. — É só que não sei como começar. — Pois espere o pior. Sarah virou rapidamente e a fulminou com o olhar. — Ouça, obrigada! Isso sim me ajuda. 288


Valéria elevou os ombros. — Só quero te dizer que vai deixa-lo triste, Sarah. Sabe que deixará. Merda, seu irmão ainda acha que tem direito de me dizer que não gosta que esteja falando com Reggie. Nem sequer estou com ele e para começar, nunca foi meu namorado, mas Angel sim está louco por ti. E tem mais direito de sentir que é dele, toda dele. E não vai ficar muito contente quando voltar para Sydney, sua amizade masculina. — Mas tenho que contar para ele — disse Sarah. — Sim, deve — disse Valéria. — Já pensou no que vai dizer? — Todo o dia. — Sarah deixou cair seu vestido na cadeira de seu quarto. — Acredito que deve ficar muito linda esta noite — disse Valéria. — Você sabe, se arrume muito sexy. A distração fará com que não seja tão duro, que a irritação seja menor. — Você acha? — Sarah ficou olhando de forma apreensiva. — Sim. — Valéria se levantou da cama. — Tenho um vestido verdadeiramente sexy que posso te emprestar. Ficará um pouco curto, mas tampouco ficará vulgar. Prometo isso. Sarah viu quando Valéria saiu correndo para seu quarto. Mordeu o lábio enquanto pensava nisso. Parecia algo maluco, mas estava disposta a tentar algo que pudesse ajudar.

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Valéria retornou com um vestido preto. Era de decote baixo à frente e tinha duas aberturas dos lados. Parecia que ficaria uma ou duas polegadas mais acima dos joelhos. Sarah ficou olhando. — Acha que ficará bem? — Experimente — disse Valéria ao lhe entregar e sair de seu quarto. Sarah experimentou e ficou perfeito, algo mais justo do que ela normalmente usava e muito mais revelador. Realmente mostrava boa parte de seu busto. Supostamente era para uma festa, um pouco mais elegante que as roupas usuais de festas que ela costumava usar. Mas estava certa que, depois que Angel a visse neste vestido, em lugar da festa, iriam voltar ao restaurante, no qual para ela estava perfeito. Virou-se para ver no espelho como estava a parte detrás quando Valéria voltou. Sarah virou bem na hora para ver Valéria colocar a mão na boca. — O que foi? — Aí meu Deus! Sou um gênio. — Riu Valéria. — Estou certa que nem sequer vai escutar nada do que lhe disser. Como não pensei nisto antes? Sarah voltou a olhar-se no espelho. Esse vestido não tinha nada a ver com ela. No momento que Angel a visse, saberia que algo estava acontecendo. — Pensa que seu pai vai me deixar sair com isto?

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— Boa pergunta — disse enquanto rodeava Sarah, vendo como parecia. — A que hora vem te pegar? — Às sete. — Não se preocupe. — Valéria tinha um olhar picareta em sua cara. — Verão um espetáculo e logo irão jantar. Mas como não gostam de gastar, vão a uma seção mais cedo, ao redor das cinco. Sarah voltou a olhar-se no espelho. Voltou a horrível sensação que sentia no estômago, mas com o vestido ou sem ele, diria a verdade essa mesma noite, sem importar nada mais. Começou a arrumar-se bem antes das cinco. Valéria lhe ajudou com seu cabelo. Seu cabelo era muito, mas Valéria alisou ainda mais para que ficasse super sedoso e sensual. Sarah olhava para Valéria pelo espelho do banheiro vendo como se concentrava em escovar seu cabelo. — E como foi com Alex ontem à noite? Os dois pareciam muito sociáveis. Valéria tirou a vista do espelho e encolheu de ombros. Seguiu concentrada no cabelo de Sarah. — Acho que desligou o telefone ou o pôs para vibrar, já que não tocou a noite toda. Tentei resistir o quanto pude, mas é tão difícil. Mas não dormi com ele. Disse que não vou mais dormir com ele. Então, me perguntou se era pelo Reggie. E respondi, 'Não, é porque me dói muito.' E logo se desculpou por ser tão imbecil.

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A cara da Valéria era de desgosto, mas Sarah não pôde evitar rir. Alex era bem engraçado. — Para — disse Valéria. — Vai se queimar. Sarah controlou sua risada o melhor que pôde e Valéria continuou contando o que aconteceu o resto da noite com Alex. Sarah não pôde evitar rir algumas vezes mais. Vendo seu modo, Valéria queria culpar Alex pela que pensava. Ela tinha se entregado muito fácil e sem compromisso. Mas Alex não tinha o direito de lhe pedir que deixasse de sair ou falar com qualquer outra pessoa. Alex era, como disse Valéria, ridículo. Valéria lhe disse que podiam sair mas não haveria nada de sexo e hoje de noite voltariam a sair. Sarah teve que rir novamente por isso. Se era verdade que Alex era como Angel, mas multiplicado por três, pela forma que todo mundo fazia parecer, Valéria devia estar sonhando se pensava que podia tirar Alex de cima. Não é que pensasse que ele iria forçá-la a fazê-lo. Mas estava certa de que ele encontraria uma forma de manipular as coisas. Se tratasse de alguém mais, talvez Valéria poderia encontrar a força de vontade para manter-se firme. Mas com ele, Sarah duvidava seriamente. Valéria foi se arrumar, deixando que Sarah terminasse de se arrumar sozinha. Quando Sarah já tinha quase terminado, escutou uma batida na porta. Olhou o relógio. Eram seis e meia. Angel lhe disse que ligaria se pudesse sair mais cedo. Então continuou arrumando sua maquiagem e depois escutou Valéria. — Sarah, é para você. 292


Talvez acabou tão cedo que queria surpreendê-la. Sarah se alegrou de estar preparada. Pôs as coisas de volta em sua bolsa de maquiagem e as colocou em sua bolsa. Passou perfume e pegou a bolsa. Respirou profundamente e se olhou no espelho pela última vez. Angel ia saltar assim que a visse. Conforme se aproximava, viu a janela e pareceu ver um inconfundível Chevy Empala 1964 amarelo canário, estacionado exatamente em frente da casa. Não pode ser. Deu a volta na sala e ficou paralisada. Aí estava, todo ele, de baixo para cima, parado ali, olhando dos pés à cabeça. Por um momento, ela ficou sem fala. — Sydney! — Sarah saltou em seus braços. Ele a abraçou fortemente. O aroma de seu perfume trouxe-lhe à memória todas as boas lembranças. Quando a afastou, Sarah ficou vendo sem poder acreditar. — Meu Deus! O que está fazendo aqui? — Temos que conversar, Lynn.

*** Angel tinha saído cedo, sentia-se culpado por sair quando ainda havia muita gente no restaurante. Mas não tinha visto Sarah o dia todo e estava ansioso por vê-la. 293


Foi para casa se trocar e estava para sair e pegar o carro, quando tocou seu telefone celular. Deu uma olhada na tela do telefone e sorriu pensando que tinha lido a mente, já que estava a ponto de ligar para ela. — Olá, carinho. — Angel? — Sarah parecia estranha e isso o deixou imediatamente incomodado. — Tem alguma coisa errada? — Nada — respondeu Sarah. — Bom, aconteceu algo. Os vizinhos... os hum... os Gledson, tiveram uma emergência e necessitam que eu vá imediatamente cuidar de seus filhos. Estão desesperados e não posso negar Angel. Sentindo-se desiludido, mas ao mesmo tempo vendo sua preocupação, suspirou. — É por toda a noite? — Não sei — disse. — Mas te ligo tão logo saiba algo. — Está bem — deu a volta em sentido oposto e foi para o restaurante. — Te amo. Houve um silêncio prolongado, depois Angel voltou a escutá-la. — Ok, adeus Angel.

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Estava na parte de atrás do restaurante há mais ou menos uma hora quando seu telefone tocou. Respondeu imediatamente sem sequer ver quem lhe ligava, pensando que se tratava de Sarah. — Olá? — Olá, Angel. Ficou calado por um segundo. — Dana? As únicas vezes que tinha lhe ligado desde o dia em que esclareceu coisas, foram em algumas poucas ocasiões bêbada, lhe deixando mensagens, mas realmente não havia voltado a falar com ela. Agora, lamentava ter respondido. — Sim, sou eu. — O que quer? — Não era seu estilo ser grosseiro, mas tampouco se metia em problemas com Sarah. A última coisa que queria era dar esperanças a Dana. — Não estou te ligando para lhe esfregar isso ou para te fazer sentir pior, se isso for o que está pensando. Só te liguei para que saiba que estou aqui, se precisar de mim. Angel moveu impacientemente os olhos. Não tinha ideia do que Dana estava querendo dizer e na verdade, não lhe interessava. — Dana, não preciso de você, ok? Agora estou trabalhando. Tenho que ir. 295


— Angel, sei que te chateei, mas antes que acontecesse algo entre nós, fomos amigos. Não sei o que aconteceu entre você e Sarah, mas sei que é bem parecido com ela, assim, se necessitar de alguém para conversar, lembra que sigo sendo sua amiga. Suas palavras ressonavam por todo o lugar, entretanto Angel não podia as entender. Então, decidiu levá-la na brincadeira. — Está bem, obrigado. Tenho que ir. Mal acabou de desligar, seu telefone tocou novamente. Algo o chateou, viu o identificador de chamadas, pensando que poderia ser novamente Dana. Não era. Era Eric. — Olá amigo. Onde está? — perguntou Eric. — Estou trabalhando. — Trabalhando? — Angel escutou Romero. — Pergunte, pergunte! Angel sorriu. — Me perguntar o quê? — Sarah está contigo? — Não, teve que trabalhar. Havia muita gente no restaurante, assim voltei. — Ah..., então Sarah não está contigo? Então, Angel escutou novamente ao Romero 296


— Não lhe disse? Era ela. Eu sei que era ela. — O que foi? — perguntou Angel. Eric disse ao Romero que se calasse. — Nada, homem, este cara que anda bêbado. Pensa que viu Sarah faz um tempo. Sem desanimar, respondeu. — Não, está de babá. — Ficou sorrindo, escutando sua conversa. Não podia dizer se Romero estava bêbado ou só estava sendo desagradável. Eric e Romero andaram de um lado para outro por uns minutos, escutou como brigavam. Depois, o telefone ficou mudo e logo soou a buzina do automóvel. Riu entre dentes. Par de idiotas. — Está bem, amigo — disse Eric a Angel. Angel riu. — Já está bêbado? — Não — respondeu Eric. — Não esteve bebendo, mas por sua maneira de atuar, parece que sim. A outra linha estava soando. — Não responda a outra linha. É este pentelho —disse Eric. — Responde! — ouviu Romero gritar.

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— Espere. — Angel desligou e pegou a outra linha. — O que foi, cara? Ficou parado no posto de anfitrião à entrada do restaurante e olhou para trás para ver quantos clientes tinham. Era cedo, mas a maioria dos empregados da cozinha já estavam trabalhando fazendo horas extra e seu pai havia lhe dito que se o trabalho diminuísse o suficiente, para que fechasse cedo e os deixasse ir para casa. — Era ela, homem — disse Romero. Casualmente, caminhou para trás, dando uma olhada na segunda mesa. Estava vazio. Sabia que Romero não podia estar certo, mas mesmo assim seguiu com a corrente. — Ah sim? Onde? — Em um carro, um puto Chevy Empala amarelo, um desses carros velhos, todo remodelado, com um sujeito.

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Capítulo Vinte Sarah estava ao mesmo tempo aflita e assombrada quando viu Sydney. Tampouco tinha se dado conta do quanto sentia saudades até que sentiu a emoção em seu abraço. Tinha tantas perguntas que lhe fazer que quase se esqueceu de que Angel estava para chegar em qualquer momento. Sentia-se péssima por ter mentido do modo que tinha feito. Mas sabia que não tinha como Angel estar preparado para conhecer Sydney, não desta forma. Seria uma bofetada na cara. Precisaria explicar tudo a cada um, antes que pudessem se conhecer. Toda esta confusão era culpa dela e agora ameaçava lhe explodir na cara. Todo o dia estava uma pilha de nervos e agora, estava a ponto de um colapso. Sydney lhe havia dito que tinham que conversar e teve a sensação que não ia ser uma conversar curta. Os únicos lugares que conhecia eram aqueles aos que tinha ido com Angel. Todos eles eram frequentados por todo mundo na escola. Não havia forma de levá-lo ao lugar especial de Angel e ela. De modo que decidiu ir pelo rumo da praia aonde nunca tinha ido com Angel. Ela imaginava que aí era seguro.

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Ao chegar lá demonstrou ser justamente o contrário. Ficaram obstruídos no tráfico do sábado. Parecia que todo mundo tinha saído essa noite. Afundou no assento várias vezes quando pensou ter visto gente da escola, inclusive meninos da equipe de futebol americano. Quando finalmente chegaram à praia, Sydney lhe soltou a bomba. Ela esperava algo grande devido a ele ter vindo dirigindo até aqui, mas ainda estava surpreendida e preocupada quando o escutou. — Lynni. — Sydney começou a falar. — Devia te dito isto a muito tempo. Sarah se preparou. Enquanto que não se tratasse de uma enfermidade que ele padecesse, poderia suportar algo. — O que? — Lembra-se de Carina Santiago? Sarah ficou a pensar por um momento. — A garota na orquestra que toca o solo? — Sim. — Sydney respirou profundamente. — Bom, justo antes que fosse, ela e eu começamos a falar, muito. Bom, realmente começamos a sair. Mas você estava passando por tanta merda, estressada pelos problemas com sua mamãe, que não queria dizer isso. E você partiu amavelmente. — De que está falando? — Eu escondi algumas coisas. 300


Sarah sacudiu a cabeça. — Por quê? — Vamos, Lynn, tinha muitas coisas em cima. A metade do tempo estava quase doente de preocupação por sua mãe. Como ia poder sentar e te contar todas as coisas boas que me estavam acontecendo? Isso não teria estado bem e inclusive, quando foi, sentiase muito miserável e aí, justo foi quando tudo começou realmente para mim e para Carina. Não podia fazê-lo. Sarah ficou olhando, com o estômago revolto, sentindo-se tão egoísta. Todo este tempo que tinha passado dizendo que devia estar lá pelo Sydney e agora se dava conta de que ela tinha estado tão ocupada com suas coisas que não se deu tempo de escutá-lo. Ele sempre a tinha apoiado a passar por tudo, guardou seus próprios sentimentos para ele mesmo, nunca compartilhou suas ansiedades ou emoções a respeito desta nova relação. A menos que lhe tenha oculto a ela outra coisa antes disto, Sarah sabia que para ele, esta também era uma primeira vez. — Oh Sydney, sinto-o muito. — Abraçou-o fortemente. Ele a apartou amavelmente. — Do que está falando? Se fui eu que te ocultei as coisas. — Sim, mas o fez por mim, já que era uma covarde e chorona inútil. Desfiz-me toda a merda em você, uma e outra vez e nenhuma só vez me detive pensar em quão difícil tinha sido para você também.

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Sem aviso, as lágrimas brotaram. Sentia-se terrível, mas quando seus olhos se encontraram, ele parecia zangado. — Não se atreva a fazer isto, Lynn. — Brandamente limpou as lágrimas de suas bochechas mas falou firme. — Você foi a melhor amiga que alguém pôde ter. Crê que me esqueci o que fez por mim? Se não tivesse sido por você, nunca teria terminado o secundário. Era o pedaço mais gordo e ocioso de... — Não, não o foi! — ela o deteve, furiosa. — Sim era, Lynni. Mas você foi a única pessoa que não pensava assim. E justo agora, está bem para dar uma patada a qualquer um que me fizesse sentir como era antes. — Isso é porque sempre soube a pessoa incrível que você é, Sydney. Eles não te conheciam como eu. — Nunca me esquecerei disso. Mas sempre sigo escutando o muito que me deve. Não me deve nada. Você me ajudou a sobreviver nos anos mais difíceis de minha vida. Se não tivesse sido por você, acredito que teria me dado um tiro. Assombrada, Sarah ficou olhando-o. — É verdade, Lynn. Sinto vergonha em admitir, mas houve ocasiões em que quase agradecia que as coisas não fossem perfeitas para você, porque sabia que se as coisas tivessem sido um pouco mais normais, talvez não me tivesse necessitado tanto. — Como pode dizer isso. Se alguém deve algo, esse sou eu? — As lágrimas lhe queimavam os olhos. — Eu nunca lhe daria as costas. 302


— Eu sei — disse. — Por isso é que estou aqui. Deve ficar, Lynn. Angel e você se pertencem, da mesma forma que Carina e eu. Por que crê que aceitei a vaga de Columbia? Sarah o olhava sem compreender. — Ela vai estudar lá — disse. — Isto esteve me matando, porque eu sei que quer ficar com Angel. Aqui é onde deve estar. Se retornar ao Arizona só porque não quer me dar as costas, como crê que me sentirei quando for a Columbia? Que tal se insistir em retornar ao Arizona, perde Angel e fica sozinha? Como acha que poderia viver com isso? Deixaria a escola, Lynn. Juro-o por Deus. Perderei a Carina antes que de te perder. — Não! — Exclamou Sarah. — Então fique aqui, Lynn — disse. — Deixa de ser tão obstinada e diga que o ama. Fique aqui e seja feliz. — Viu muito profundo em seus olhos. — Nada, nem ninguém, poderão romper conosco, nada, nem sequer à distância. Sarah sorriu, sentindo que o coração inchava mil vezes. — Por isso é que te amo tanto, Sydney. — Eu também te amo. Sarah o abraçou fortemente. Seguiram andando por aí quase por uma hora mais, com Sarah insistindo em que contasse a respeito de Carina. Sydney, sem duvidar, contou-lhe tudo. Para assombro de Sarah, já eram íntimos fazia tempo. Sarah tratava de sacudir a culpa.

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Ele deveria ter podido compartilhar isto com ela. Sarah sabia quão grande isto era. Logo a surpreendeu com outra notícia mais. — Não sabe que estou aqui contigo. Sarah riu. — Ah sim? Pois Angel pensa que é uma garota. — A expressão de sua cara a fez rir. — O assumiu isso quando lhe contei a respeito da melhor amizade que tinha tido na vida. Assumiu que era uma garota e nunca o corrigi. — Sarah conteve a respiração sem saber que reação esperar. Ele sorriu devagar. — Bom, Lynni... acredito que ambos temos muitas coisas que explicar. Sarah riu e deslizou sua mão na dele como sempre o tinha feito. — Ia dizer hoje. Já tinha decidido. Por que acha que ando vestida assim? O que aconteceu é que, de repente, você chegou. Sydney lhe deu uma olhada de acima a abaixo. — Por um momento ia te dizer algo, mas depois pensei melhor não. — Sacudiu a cabeça, tratando até de digeri-lo. — Diabos, Lynni. Quase não pude te reconhecer. Sarah se ruborizou. — Isto não foi minha ideia, ok?

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— Não estou dizendo que seja má ideia. Só estou dizendo que... wow! Sentindo-se consciente de si mesma, Sarah riu. — Pará. — Está bem, está bem, mas sim, diga-lhe quanto antes. E Lynni, se necessitar que fale com ele, farei. Sarah sorriu. Não podia pensar que isso aconteceria com Angel. Não podia imaginar escutando outro rapaz falando a respeito de sua relação com ela, nem sequer Sydney. — Morro de fome — disse-lhe Sarah. — Há algo bom por aqui? Sarah não se importava com o bom. Tudo o que lhe importava neste momento era ser discreta. — Encontraremos algo.

*** Angel ficou quieto por um momento. Sabia que não podia ser, mas Romero soava muito convincente. Tomou o que acabava de escutar e sacudiu a cabeça e de novo começou a caminhar. — Não, amigo — disse-lhe. — ela está de babá na casa de uns vizinhos. 305


— Então chama-a — disse-lhe Romero. O tom insistente de Romero estava começando a lhe incomodar, aparentava tão seguro. Angel ficou quieto por um momento. — Ela te viu? — O que estava fazendo? Isso era ridículo. Não havia modo em que Sarah saísse com outro. Ele confiava nela. — Não — respondeu Romero. — Eu não vi! — gritou Eric. — Sim claro, o teria visto se não dirigisse como uma velha. Quando retornamos, já tinham ido — disse-lhe Romero. Realmente retornaram para certificar-se? Angel tomou o telefone da recepção sem mencionar a Romero. — O que é o que ela estava fazendo? — Marcou o número de telefone do Sarah. — Falando, acredito — respondeu Romero. — Vi-a conforme íamos passando e queria retornar para me assegurar, mas Eric ia dirigindo tão rápido e não baixava a velocidade. Ela estava diferente. — Porque não era ela! — gritou novamente Eric. Angel o escutava com um ouvido enquanto esperava escutar a voz de Sarah com o outro. Mas a chamada foi para caixa postal. — De modo que supostamente está trabalhando, certo? — perguntou-lhe Romero.

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Angel não gostou como isso soou. Sabia que Sarah não lhe mentiria. Vacilou para responder. — Só estou dizendo — disse Romero — Que, em caso de a vermos novamente, vou perguntar, 'o que há de novo?' Se esse gay se atrever a me dizer algo, acomodo-lhe um murro. Angel riu entre dentes, mas realmente não achou graça. Isto começava a parecer estranho. Sarah não era das que não respondia quando ligava. Sempre lhe respondia. Se perdia alguma chamada dele, sempre lhe retornava imediatamente. Além disso, ligou do restaurante. Talvez ela não reconheceu o número. Só um par de vezes lhe ligado daí. — Ouça, chamo-te depois — disse Angel. — Chama-a — insistiu Romero. — Farei. — Logo que pendurou, marcou o número de Sarah. Respondeu-lhe novamente a mensagem. Desta vez, lhe deixou uma mensagem. — Sarah, carinho, sou eu. Me chame assim que tiver chance. Na seguinte meia hora, o restaurante já estava limpo e vazio. Voltou a revisar a cozinha e depois fechou. A caminho da casa de Eric, lhe chamou de novo. — Ouça amigo, está no restaurante? — Não, já vou para a casa. — O que? Não vai se encontrar conosco? 307


— Estou cansado — disse-lhe bocejando. — tive um dia muito comprido. — Bom. Ouça, pôde falar com Sarah? Angel franziu o cenho. — Não, ainda não. — Jogou uma olhada ao relógio do tabuleiro. Eram pouco mais de nove. — Bom, não se preocupe. Estou seguro que não era ela, mas já sabe como fica Romero. Angel sorriu. — Sim, sei. Mas não estou preocupado, na verdade, estou cansado. Deteve-se, vendo a luz vermelha no semáforo. Merda! Estava lhe dando dor de cabeça. Por alguma razão, a chamada de Dana o atormentava na cabeça. Estava tratando de recordar do que lhe tinha falado. Agora, tivesse desejado lhe dado atenção. Havia dito algo como que estava aí se precisasse. O semáforo trocou para verde e justo recordou. Não estou chamando para lhe esfregar isso. Não sei o que aconteceu com Sarah e você, mas sei que está muito parecido com ela. De onde vinha tudo isso? Nada disso tinha sentido. Bom, demônios, ele nunca seria um detetive. Isso sim era certeza. Era suficiente. Já estava suave. Não necessitava nada disto. O que precisava era dormir. E planejava fazer isso assim que chegasse a casa. 308


Se não tivesse falado com o Romero hoje, não estaria se perguntando em onde estaria Sarah. Inclusive, se não tivesse podido saber dela toda a noite, ele sabia perfeitamente onde estava: com os vizinhos de babá. Estava a ponto de chegar em casa e começava a sentir-se exausto. Suas pálpebras se sentiam cada vez mais pesadas. Tentava piscar fortemente para manter os olhos abertos. Justo a duas ruas de sua casa, soou o telefone e a alma lhe voltou para o corpo. Tomou o assento do carona e franziu o cenho quando viu que era Eric novamente. — Ouça amigo. — Angel podia escutar Romero dando lata, mas Eric ou o que fora, estava tampando o ruído do telefone e não podia entender o que estavam dizendo. — Já está em sua casa? — Não — respondeu-lhe Angel. — Mas quase. — É ela, amigo — disse-lhe Eric. Tomou um momento para registrar isso. — Sarah? — Sim — respondeu Eric. — Está com um cara. Quase lhe deteve o coração. Teve que sair do caminho, de modo que pudesse pensar... respirar. — Está seguro? 309


— Com certeza é ela — Eric soava quase como se desculpando. Angel se deixou cair no assento, mas apertava o volante. Deu um gole amargo, incapaz de acreditar. — Aonde? — Em um restaurante fora do Proctor — respondeu-lhe Eric. — Nunca tinha visto esse lugar antes. — Ainda está aí? — Angel se incorporou. E de repente lhe caiu à ficha. Eric não estava falando de tê-la visto fazia um tempo. Ela ainda estava aí, com outro cara. — Sim — respondeu-lhe Eric. — Estiveram comendo ali. Tiraram-se da mão quando entraram no lugar e na verdade, não sei quanto tempo mais possa conter Romero. Está preparado para entrar aí e lhe partir agora mesmo a esse cara. — Não, não, não! — Angel pôs em marcha o automóvel. — Vou para lá. Como chego aí? A cabeça de Angel ia a toda velocidade. Desde quando vinha ela lhe fazendo isto? Pensou em todos os sábados em que ela tinha trabalhado e nunca o perguntou. A raiva lhe corria pelas veias e ele estava agradecido por isso. Era uma sensação familiar que ao menos sim sabia como dirigir e lhe ajudava a acalmar a dor. Ela o tinha cegado por completo e se sentiu preparado para partir para cima de alguém. Pisou a fundo o acelerador. Muito em breve, poderia fazê-lo.

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*** Sydney e Sarah tinham conduzido durante um tempo e ela deliberadamente o dirigia por ruas que Angel e ela nunca frequentavam. Viu um pequeno café que ainda estava aberto, no centro de uma das praças. — Aí — assinalou Sarah. Sydney franziu o cenho. — Tem certeza? Não o estava, mas parecia bastante discreto. Definitivamente, ninguém da escola andaria por esses lugares. — Sim. Sydney a tirou da mão conforme entravam com cautela ao lugar. Aí dentro havia duas pessoas mais e estavam sentadas juntas e mesmo assim, a garçonete já de idade levou um tempo para aproximar-se e anotar o pedido. Sarah aproveitou o tempo para perguntar mais sobre Carina. Estava decidida a inteirar-se de tudo, de cada um dos detalhes. Ainda se sentia terrível de que ele não tivesse podido compartilhar nada sobre Carina.

Inclusive,

quando

chegou

a

comida,

continuou

lhe

perguntando, às vezes sentindo-se comovida e sustentando sua mão em cima da mesa. Como tinha perdido tudo isso? Finalmente terminaram. Sydney insistiu em pagar. Pôs o braço sobre seus ombros conforme saíam do lugar. Ela se aconchegou nele, 311


com o olhar para o piso e de repente, levantou a vista. Quase lhe dobraram as pernas quando viu Angel. A amarga repugnância de seu olhar era inegável. Deu uma olhada em Sydney e logo voltou a vê-la muito devagar até que seus olhos se cravaram nos dela. — Estava trabalhando, Sarah?

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Capítulo Vinte e Um Mesmo quando Angel tinha chegado ao estacionamento e tinha visto o Empala amarelo estacionado em frente ao café, tinha a esperança de que tudo fosse um grande equívoco. Estacionou junto ao automóvel de Eric, onde Eric e Romero estavam parados. Eric voltou-se para a janela do café conforme Angel se aproximava. Era ela. E parecia incrivelmente sedutora. Estava aí, sentada com sua vista fixa nos olhos do outro cara. Angel olhava com desgosto conforme ela pegava a mão do cara ali e então se deu conta do decote que usava, nunca tinha usado algo assim em público. Eric e Romero lhe contaram como viram o carro sair da praia e o seguiram até este local esquecido de Deus. Sarah não era tola. Somente, que não tinha contado que esse par de tolos a vissem. E agora, estava aqui de pé, olhando seus olhos assustados, procurando respostas. Seus olhos verdes, antes formosos, que normalmente o olhavam com tanto brilho e emoção, estavam quase cinzas. Tudo o que viu neles foi medo e algo que lhe pareceu ser, maldita seja, como culpa. Tudo parecia irreal, como se fosse uma espécie de estranho pesadelo. Olhou-a de cima a baixo, incluindo o vestido provocante que 313


tinha posto. Por um momento pensou que ia vomitar. Então o escutou falar. — Homem, não é o que está pensando — disse o cara. Angel se lançou ao ataque disposto a lhe partir a cara. Sua voz retumbou. — Como diabos sabe o que... — Pare. — Sarah se interpôs entre os dois. Angel ficou olhando. Sentiu como uma neblina vermelha de dor e raiva lhe cegava. Acaso estava protegendo este cara? Apertou fortemente os punhos. — Angel, sinto tanto, devia ter dito isto faz muito tempo. O coração de Angel se oprimiu. Faz muito tempo? — Este é Sydney. A mente de Angel ficou em branco. Ficou ali, com o coração a tudo o que dava. Deu um passo para trás. — Sydney? — Ficou olhando Sarah e logo novamente ao Sydney. — Sim. — disse-lhe ela. — Quis dizer isso desde o começo, mas então, você assumiu que se tratava de uma garota e sei quão estúpido foi de minha parte, mas... Suas palavras zumbiam em seus ouvidos. Só havia uma só coisa que ele podia escutar. Ouvia gritos dentro de sua cabeça. Todo este 314


tempo ela teve outro cara esperando-a no Arizona. Angel sacudiu sua cabeça e se retirou. — Angel, por favor. Viu suas lágrimas, mas não lhe importou. Algo oprimia sua garganta e quase lhe impedia de emitir alguma palavra. — Com ele é com quem retornará a viver? Sarah se aproximou dele. Angel retrocedeu, já que não queria que ela desse um passo mais. Romero e Eric, sem falar, estavam parados a suas costas. Conforme ia digerindo a realidade, a raiva se apoderava dele. — Com ele é com quem fala todos os dias? — Elevava a voz com cada palavra que dizia. — É com ele que malditamente não pode deixar de viver? Sarah pôs a mão sobre sua boca por um segundo. — Angel, por favor, você não entende. Me deixe... — De modo que ele esteve vindo aqui a cada sábado, Sarah? — Não! — Isto é o que chama trabalhar? Angel se afastou, sentindo novamente que ia vomitar. Não queria que Sarah visse quão profundamente isto o afetava, nunca mais. Através da extremidade do olho, viu como ela caminhava para ele. 315


Angel não precisava escutar mais. Não importava o que ela tivesse que dizer. Tudo era muito claro. — Angel. — disse Sarah. — Me escute, por favor. — Já não importa, Sarah. — Ele parou e a olhou. — A menos que me diga que não é verdade, que não vai retornar a viver com este cara, que não é por quem quer me deixar, não preciso escutar nada mais. — Eu não estou te deixando por ninguém... — Besteira! Sarah ficou congelada e Angel começou a caminhar de novo. Ele tinha perdido o controle e precisava ir dali antes que se voltasse contra Sydney. — Ele é meu melhor amigo, Angel. Essas palavras soaram como uma cacetada em seu estômago. Deteve-se e voltou. — De verdade Sarah? Pois eu pensava que seu melhor amigo era eu. Angel começou a pestanejar rapidamente, tratando de evitar que lhe saíssem as lágrimas. Voltou o rosto, com pânico por pensar que ela pudesse vê-lo chorar. — Você é mais, Angel. — Ela tentou tomar sua mão, mas Angel a retirou. — Ele só foi meu amigo por muitos anos. Tudo o que te 316


contei sobre ele é certo. Somos como família. Tem que acreditar em mim. Angel apertou os dentes. Pensou na forma em que ela olhava Sydney no café e lhe segurou a mão sobre a mesa. Ela se apoiava nele quando estavam por sair do café. Esse vestido. Esse vestido que dizia a gritos ‘me tome’ e o tinha posto para o Sydney. Como família? Na verdade, Sarah pensava que ele era estúpido? Não queria perguntar, mas tinha que sabê-lo. — Você o ama, Sarah? Quando não lhe respondeu imediatamente, soube e isso o devastou. Era mais do que podia suportar sem decompor-se. Tinha que sai dali, rapidamente. — Anda, vai. — disse-lhe. — É livre para ir com ele sem ter que mentir e sem se esconder. Imediatamente se foi para seu carro. — Angel, você entendeu tudo errado. — disse-lhe Sarah chorando. — Por favor, não faça isto! Angel apressou o passo e quase tinha chegado a seu automóvel quando as lágrimas alagaram seus olhos. Nunca, nem em um milhão de anos, tinha havido uma garota que o fizesse se sentir como ela. Logo que podia ver, fez o retorno. Passou rapidíssimo perto de Sarah que ainda seguia de pé ali, chorando e tomou a estrada. Limpou os olhos, incomodado, porque não podia deixar de chorar.

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Tudo fazia sentido agora. Todo este tempo tinha mentido e nunca lhe havia dito que o amava, porque não podia. Não podia... porque ela estava apaixonada pelo Sydney. Como tinha podido ser tão cego? Deitou-se com ele também? Saiu da estrada e abriu a porta, justo para aliviar o estômago.

*** — Tenho que ir atrás dele! — declarou Sarah enquanto corria para Sydney. Um casal já de idade que caminhava para seu automóvel a viram com preocupação. As lágrimas lhe caiam pelas bochechas e sabia agora que sua cara parecia um desastre, mas não lhe importava nada disso. Tirou seu telefone da bolsa e começou a marcar freneticamente o número de Angel. — Eu não o faria, Sarah. — disse-lhe Eric quando passava perto de Sarah. Sarah voltou, o olhou e tratou de tomar ar. — Sei, mas preciso fazê-lo. Eric acudiu a cabeça. — Conheço Angel minha vida toda e nunca o tinha visto assim. — Sim, caralho. — disse Romero. — Isto sim esteve feio. Sarah

limpou

seu

rosto

e

tentou

ganhar

compostura

desesperadamente. 318


— Mas pelo mesmo preciso falar com ele e lhe explicar. O que acontece é que ele não entende. — Voltou para Sydney. — Por favor, me leve até ele. — O que você quiser, Lynni. — Sydney pôs uma mão em seu ombro. — E quem caralho é Lynni? — disse Romero aborrecido. — Ouça, se acalme. — disse-lhe Eric franzindo o cenho. — Só me perguntava se também mentiu a respeito de seu nome? — Romero começou a caminhar para seu automóvel, sem esperar uma resposta. Sarah queria gritar. Não menti. Mas o tinha feito e merecia isto, tudo isto. — Ouça, esse é seu segundo nome... — começou a dizer Sydney. Sarah tocou Sydney no braço. — Está bem. Não importa. — Claro que sim. Ele te chamou de mentirosa. — É o que é. — A decepção nos olhos de Eric era profunda. Deu a volta sem despedir-se e caminhou para seu carro. Sarah pôde sentir que chegava outra onda de lágrimas. — Vamos, Syd.

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No momento em que subiu no carro, paralisou. Estava pior que quando tinha chorado antes. Antes, tinha chorado de medo: medo de ter visto Angel tão fora de controle, medo de sua total incompetência para fazer com que ele entendesse, mas agora, chorava de raiva, raiva por ter sido suficientemente estúpida para deixar que as coisas chegassem a isto. Sarah decidiu que Eric estava certo. Agora não era tempo de explicações, especialmente não com Sydney aí. Esperaria até amanhã para chamá-lo. No momento em que chegaram na casa de sua tia, já havia se tranquilizado física e emocionalmente. Sentou-se aí, olhando a lua pela janela, sem ter vontade de se mover. Sydney apertou sua mão. — Vêm, vamos entrar. Sydney passou a noite no sofá da sala e retornou muito cedo pela manhã. Os dois seguintes dias foram uma verdadeira tortura. Sarah chamou Angel ao menos cinco vezes por dia e lhe mandou inumeráveis mensagens de texto e não recebeu resposta. Não podia acreditar quão irracional Angel estava sendo. Nem sequer queria discutir. Sarah se sentou em sua cama e ficou olhando seu telefone. Tinham passado somente dois dias desde que o tinha visto pela última vez e sentia saudades terrivelmente. Ele não sentia saudades também? Se tivesse sido ao contrário, ela já teria dado o braço a torcer e teria respondido. Acaso tudo o que lhe havia dito a respeito de amá-la tanto tinha sido uma mentira? Ou possivelmente se deu conta que lhe era impossível amar a uma mentirosa. 320


Escutou que alguém tocou brandamente a sua porta. Esta se abriu e Valeria se deteve a entrada. — Como está? Sarah sacudiu a cabeça e apertou os lábios, olhando para seu telefone. Estava doente de tanto chorar, mas ao ver a expressão de simpatia de Valeria, lhe provocou um nó na garganta. Valeria se sentou na cama junto a ela e a abraçou. Apertou-a um pouco forte e depois a soltou e lhe deu umas palmadas na perna. — De modo que decidiu ser um idiota. Dê-lhe tempo. Superará. Sarah não era tão otimista. Valeria não o tinha visto naquela noite. — Não, na verdade, acredito que agora me odeia. — Está brincando? Acredito que ainda está abatido. Mas eu acho que você pode esperar, você sabe, que jogue. Sarah ficou vendo Valeria, a qual evitava fazer contato visual. — O que quer dizer? Valeria ficou de pé e caminhou até o escritório do Sarah. — Sabe que os meninos são bastante tolos. — Tomou uma folha de papel e uma caneta. Depois retornou e se sentou na cama junto a Sarah. Pôs seus olhos na folha de papel e começou a desenhar. — Fez-lhe mal, e pode ser que agora, queira lhe revidar isso. Assim passa. É muito imaturo, mas... 321


— De que você está falando, Valeria? — Pôs sua mão sobre a caneta de modo que Valeria deixasse de desenhar — Sabe de algo? Os olhos da Valeria finalmente se encontraram com os de Sarah e respirou profundamente. — Não realmente, mas falei com o Alex. — E? — Sarah podia sentir como suas vísceras se esticavam. — Bom... Bem, você sabe que Alex é pior que Angel, de modo que pensa que você enganou Angel. Contaram-lhe toda a história errada, o tarado. — Começou a desenhar de novo. — Alex pensa que todo este tempo esteve enganando Angel e que Syd foi seu namorado há anos. Sarah apertou fortemente seus olhos fechados e se preparou. Quando olhou para baixo, Valeria estava desenhando com fúria. — Que mais te disse? Valeria deixou de desenhar, mas não a olhou. — Acabo de falar com ele. Disse-me que Angel ia jantar com Dana hoje. Isso golpeou Sarah como se fossem toneladas de pedra, mas realmente não lhe surpreendeu. No mais profundo, sempre soube que houve mais entre Angel e Dana. Com razão não sentia saudades. Valeria tocou a mão de Sarah.

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— Ouça, ela é a pessoa mais chata que há no planeta. Não há forma em que ele se meta com ela. É muito óbvio o que está fazendo. Angel não era tão imaturo. Sarah não podia imaginar Angel fazendo essa classe de jogos. Mas sim, viu ele tão ferido que precisava agarrar-se a alguém. Alguém que o fizesse sentir melhor e certamente, escolheu Dana. Sarah se levantou. Já tinha pensado desde ontem. Isto só tinha confirmado. — Tenho que sair daqui. — Tirou a mala de abaixo da cama. — Aonde vai? — perguntou-lhe Valeria. — Retornar ao Arizona, aonde devia ter estado todo este tempo.

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Capítulo Vinte e Dois Angel esperou impaciente que o semáforo mudasse para o verde. Já estava arrependido de ter aceitado isso. Mas não conseguia deixar de pensar na chamada de Dana essa noite. Ter terminado com Sarah era, sem dúvida, a coisa mais dura que já tinha feito e queria ter certeza que não estava cometendo nenhum engano. Mas quando ligou para Dana esta manhã, ela insistiu em querer falar com ele pessoalmente. Alex concordou em cobri-lo no restaurante, inclusive lhe disse para levar seu tempo e que desfrutasse, como se pudesse desfrutar de algo sentindo-se assim. Esperava que Dana fosse rápida e chegasse ao ponto. Não estava de humor para mais. Estava tão cansado pela falta de sono nas últimas duas noites, que somente pensar em Sarah o fazia golpear o volante. Foi buscar Dana e comentou que não tinha muita fome, mas que podiam ir tomar um café, de modo que foram ao Starbucks. Ela falou todo o caminho, mas não a respeito do que ele queria escutar. Então, quando chegaram à cafeteria, Angel foi direto ao ponto. — Então, me fale de uma vez. O que estava querendo me dizer quando me chamou sábado à noite? — Angel, eu não sabia que você estava ignorando todos. Odeio causar problemas... Angel cortou seu discurso. 324


— Terminamos. O que tínhamos, acabou. Só queria saber o que tinha para falar. Dana ficou surpreendida. Mas de repente, seu olhar se encheu de compaixão. — Sinto muito ouvir isso. Angel lutou por não demonstrar a sua raiva com os olhos. Levavam só cinco minutos e já estava perdendo a paciência. — É sobre sábado, Dana. — Ah, sim. Bom, eu não os vi, mas Lorena me perguntou se eu sabia o que estava acontecendo com você e Sarah. — Dana começou a brincar com seu guardanapo. — Estava me ligando da praia Lujan e disse que Sarah estava lá de mãos dadas, beijando e outras coisas com outro cara. Angel podia sentir que tudo se repetia de novo. A raiva queimando em suas veias. — Beijando e outras coisas? Tem certeza? — Bom, acredito que isso foi o que disse. Bem... que caralho. Já deveria saber que não ia poder tirar uma resposta direta de Dana, especialmente quando se tratava de Sarah. — Isto é importante Dana — Angel não ocultou a irritação em sua voz. — Mas pensei que vocês tinham terminado. 325


— Isso mesmo. — Levantou sua voz, depois se deteve para tomar um gole de café e tomar um tempo antes de voltar a falar. Decidiu que o melhor era se comportar de forma agradável. Talvez isso o acalmaria. Aproximou e pôs sua mão na dela. E se esforçou para falar calmamente. — É um detalhe importante, querida. Só quero saber a verdade. Dana sorriu ao ver sua mão na dela. — Bom, me deixe mandar uma mensagem para ela. Tirou seu telefone da bolsa e começou a escrever. Quando terminou, abaixou o telefone e voltou a pegar a mão de Angel. — Quer falar sobre isso? — Dana acariciava lentamente os dedos de Angel. — Falei sério quando disse que me tinha, Angel. Sabe disso. Angel forçou um sorriso e se sentou de novo em sua cadeira. — Sei, mas não quero. Na hora certa seu telefone soou. Dana o levantou e o leu. — Bom, diz que estavam de mãos dadas, abraçando-se e trocando olhares. Ela parecia feliz. Angel tentou ocultar a onda de dor que o percorria quando ela leu a mensagem. Tinha sentido. Desde que conhecia Sarah que ela nunca tentou esconder o afeto que sentia por Sydney. Depois do sábado, não tinha pensado que a dor pudesse o fazer se sentir pior. Por que estava fazendo isto a si mesmo? Por que tinha vindo para cá? Já 326


sabia que Sarah estava apaixonada por Sydney. Então lembrou. Precisava confirmar. E agora já tinha feito. Angel pode ver que Dana estava incomodada, já que tão logo ele obteve a informação, agarrou suas coisas e a conduziu para fora do lugar. Não se importava. Nem sequer tinha terminado seu café. Depois dessa mensagem, não poderia suportar nada no estômago. Foi levá-la e retornou ao restaurante. Alex estava ao telefone no escritório de trás quando Angel chegou. Pôs sua mão no telefone e se sentou ao ver seu irmão. — Isso foi muito rápido. — Sim, só fomos tomar um café. — Angel pegou um avental da prateleira. Viu que Alex desligou o telefone. — Se quiser, pode ir. Eu tomo conta. — Era Valeria. Angel diminuiu o passo por um segundo mas não olhou para Alex. — Ah sim? Angel nem sequer tinha ligado seu telefone nos últimos dois dias. Disse a todo mundo que tinha perdido e que somente lhe chamassem no restaurante ou em sua casa. A última coisa que queria era ouvir Sarah se desculpar por estar apaixonada por Sydney. Preferia não voltar a falar com ela.

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— Sim — disse Alex. — Não precisa se preocupar em voltar a ver a Sarah por aqui nunca mais. Angel parou enquanto amarrava seu avental e olhou ao Alex. — E isso por que? — Vai para o Arizona. — Alex ficou de pé. — Essa noite. Seu estômago se embrulhou. Não podia entender por que isso lhe incomodava tanto. Sabia que ia embora logo, mas pensava que não iria até o Natal e para isso faltava mais de uma semana. Acabou de colocar o avental e deu de ombros. — Bom para ela. Passou depressa por Alex e caminhou para a porta do escritório. Não queria saber mais a respeito de Sarah e muito menos falar dela. — Ouça Angel — disse Alex — Valeria me disse que Sarah e esse cara, realmente, são somente amigos muito próximos. Angel seguia pensando no que a amiga da Dana disse sobre eles na praia. Seria possível, que de todas as pessoas, Alex também estivesse acreditando nesse lixo? Também era certo que ele mesmo tinha pensado nessa possibilidade centenas de vezes desde sábado. Mas não tinha sentido e depois de hoje, estava cada vez mais convencido de que não podia ser isso. Angel soltou uma gargalhada. 328


— Isso é mentira Alex. — Sim, isso foi o mesmo que eu disse. Com um humor de morte, Angel se voltou para Alex — Então, por que diabos está me dizendo isso? Alex sorriu para o aumento no temperamento de Angel. — Porque ela deu uma boa explicação sobre isso. Mantendo um olhar sobre Alex, Angel não se moveu. — Ela está apaixonada por ele. — Ela te disse isso? — Não foi preciso. — Angel foi para a porta deixando Alex no escritório. Já tinha dado por terminado o assunto. Mas Alex não. Seguiu Angel até a porta de trás do restaurante. Angel sabia que Alex nunca se intrometia, mas tinha a sensação que Valeria estava por trás do seu súbito interesse por interceder. — Sarah tem chorado por dias, Angel. Angel diminuiu um pouco o passo. Sentia novamente o seu estômago revirar. O último par de dias tinham sido um inferno para ele, mas odiava a ideia de saber que Sarah estava machucada. A imagem dela e Sydney lhe passou novamente pela cabeça e apertou a mandíbula. — Não quero ouvir mais — Soltou um grunhido e foi para a porta de trás. 329


— Só estava dizendo — continuou Alex. — Se me perguntar... Angel deu a volta. Ia terminar isso agora. — É um ajudante de cozinha. Ninguém está perguntando nada, então pode parar. Alex riu disso. Agitou as mãos no ar e se foi. Angel irrompeu no corredor para a porta de entrada na parte traseira do restaurante. A verdade é que estava afundando em um grande inferno nos últimos dois dias. Ficou feliz em saber que Sarah ia embora, porque estava certo de não saber como caralho ia fazer ao vê-la na escola. Ela poderia estar apaixonada por outra pessoa, mas seus sentimentos por ela não tinham mudado nada. Seguiam sendo tão intensos como sempre. Além disso, teria que adicionar todo o rolo emocional que tinha agora, sabia que voltar a vê-la seria brutal. O telefone tinha tocado todo o tempo em que Angel esteve caminhando. Ansioso para descansar sua mente, atendeu o telefone. — Restaurante Moreno, aqui é Angel. — Eu, hum... somente queria me despedir — a voz de Sarah era como um sussurro. Angel sentiu sua garanta se fechar. Acaso esse dia podia piorar mais? Ficou congelado por um segundo. Disse a única coisa que veio a sua mente perturbada. — Está indo embora antes. Escutou ela respirar fundo. 330


— Ahã, não tenho razão para ficar por aqui. Claro que não. Esse foi o golpe final. Seu coração já não aguentava mais. — Seja feliz Sarah. Adeus. — Enfurecido por sua voz falhar ao dizer a última palavra, Angel não esperou Sarah responder e desligou.

***

Sarah olhava pela janela do ônibus o último pôr-do-sol que veria da Califórnia por um longo tempo. E ainda por cima, ela tinha acrescentado mais um motivo para continuar irritada consigo mesma Além de nunca poder se perdoar por ter machucado Angel, foi contra seu melhor julgamento e ligou para ele. Não conseguiu evitar e ainda mais quando Valeria mencionou que acabava de falar com o Alex e disse que Angel tinha acabado de chegar. Sabia que era a melhor oportunidade de poder falar com ele lá, do que por seu celular, além disso, ansiava ouvir sua voz mais uma vez antes de ir. Tinha a ideia absurda que com passaria por isso, mas ao contrário, só intensificou sua agonia. Sua voz foi tão fria e amarga, nada parecido ao que uma vez já foi. Sua indiferença em volta dela era o que mais lhe doía agora. Angel nunca voltaria a olhá-la como antes e a dor era devastadora.

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Sydney não sabia que ela chegaria a Flagstaff essa noite. Sarah pediu para ele busca-la na estação de ônibus amanhã ao meio dia. Quando falou com ele essa manhã, Sydney se sentia terrível com tudo isso e tinha pensado que se talvez ele falasse com Angel, poderia fazê-lo entender. Antes de hoje, ela até poderia pensar que isso seria uma boa ideia. Uma pequena parte dela se prendia à ideia de que o amor que Angel sentia por ela o ajudaria a aceitar sua relação com Sydney. Mas perdeu toda esperança ao saber que Angel já seguiu em frente e que já estava se encontrando com Dana. Obviamente, ela estava em negação todo esse tempo. Amanhã seria um grande dia. Se Sydney soubesse quais eram seus planos, insistiria em ir com ela. Mas isto era algo que precisava fazer sozinha. Já tinha reservado um quarto de hotel para ficar em Flagstaff essa noite. Ainda faltava ao menos três horas para chegar. Tratou de dormir mas não conseguia. Valeria até emprestou um livro sobre o poder da mente e pensamento positivo. Fechou seus olhos e colocou sua cabeça para trás e tratou de pensar em momentos mais felizes. Recordou o dia em que conheceu Sydney, o menino gordinho da cafeteria na escola primária. Já o tinha visto antes, mas era tão tímida que nem em sonhos falaria com ninguém que não falasse primeiro com ela. Além disso, Sarah já tinha deixado de querer fazer amizades novas. Nunca pensaria que estariam juntos na mesma escola. Sydney tinha se sentado em frente a ela esse dia e começou a conversar com ela. Sarah lhe ofereceu suas batatas à francesa quando viu que ele tinha acabado as suas e ele as aceitou. Sydney dizia que 332


tinha amigos, mas que não gostava de ir ao pátio de jogos já que lá fazia muito calor. De modo que, em lugar disso, preferia ficar na cafeteria. Não passou muito tempo para que Sarah se desse conta da verdadeira razão para não ter amigos. Seu peso era um grande problema. Os meninos zoavam dele sem descanso. Roubavam seu dinheiro, mas ele dizia que devia a eles. Mas ela podia ver que isso o machucava. Ele ficou muito feliz por ela ter apoiado ele nesse momento. Em retrospectiva, era como se algo os tivesse unido. Ambos se ajudavam. Alguém atrás de Sarah espirrou fortemente e a trouxe de volta ao presente. Sarah franziu o cenho. Finalmente tinha conseguido pensar em algo que não fosse sua dor. Valeria tinha razão. Isto estava funcionando. Mas a melhor parte de tudo, era que tinha começado a cochilar. Fechou seus olhos e tratou novamente de pensar em coisas felizes. Pela primeira vez em dias, Sarah pôde adormecer.

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Capítulo Vinte e Três O restaurante esteve muito concorrido durante todo o dia. A semana antes do Natal sempre ficava assim, cheio, já que as empresas locais celebravam suas festas de Natal aí. Até agora, nunca se tinha dado conta da quantidade de canções que tinham a ver com desilusões amorosas e corações partidos. Com frequência se via mudando de estação de rádio do automóvel e em algumas ocasiões o desligava de forma abrupta, totalmente aborrecido devido ao nó que sentia na garganta. Finalmente ligou seu telefone, que estava cheio de mensagens de voz e de texto. Não eram de Sarah, mas de todas as formas, apagou todos. Não queria arriscar-se a escutar por engano a voz de Sarah ou ler, mesmo que só um pouco, de suas mensagens de texto. Inclusive, isso era doloroso. O alvoroço do almoço tinha passado e o restaurante gozava de um curto descanso. O pessoal da tarde tinha chegado e estavam se organizando para os jantares dos festejos dessa noite. A ausência de Sarah era notoriamente óbvia, de modo que Angel tinha comentado com sua família de seu rompimento, a alguns contou mais do que a outros. Disse a seus pais que tinham decidido dar por terminada sua relação já que Sarah retornava ao Arizona.

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Sofia era a que mais mal o tinha tomado e para sua surpresa, sua irmã estava zangada com ele por não querer compreender. O que era que teria que compreender? Sarah ia se mudar com outro cara e ela sabia fazia tempo. Fez-lhes saber claramente que não queria falar disso. A amargura crescia cada vez mais a cada ocasião que falavam. Sofia tem que ter visto algo nele, porque lhe pediu para não odiar Sarah. Angel sorriu amargamente. Odiá-la teria deixado tudo muito mais fácil. Durante os últimos dez minutos, Angel tinha estado sentado no escritório contemplando o lápis com que estava brincando em suas mãos, a voz de Sarah em sua ligação anterior ainda seguia em sua cabeça. Sofia colocou cabeça dentro do escritório. — Alguém te procura na entrada principal. Angel se levantou da cadeira. — Quem? — Sofia encolheu os ombros e se foi às pressas. Levantou-se e foi para a entrada do Restaurante. Conforme dava a volta na esquina viu quem era sua visita. Cada músculo em seu corpo se esticou e automaticamente apertou os punhos. Alex deixou o balcão da recepção e passou em frente a Angel e se dirigiu para o salão, sabendo do que se tratava isto. Sydney olhou Angel. — Tenho que ajustar contas contigo.

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Talvez este não fosse um Natal tão mau. Durante toda a semana tinha tido vontade de partir a cara de alguém e agora aqui estava Sydney, entre todo mundo, procurando-o. Sydney não era em nada pequeno, tinha boa aparência, mas seja como for, Angel estava certo que lhe poria um bom hematoma. Demônios, pelo modo como se sentia, tinha estado preparado para ter dado a Alex um bem mais cedo. Angel sorriu e se recostou no arco da entrada da sala de jantar. — Eu pensei que você e Sarah já estariam de volta ao Arizona. Sydney ficou olhando. — Escutou alguma de suas mensagens? Os dentes de Angel se apertaram e deu um gole amargo. — Já escutei tudo o que precisava escutar. — Então já sabe que ela está em pedaços? Sentindo uma pontada de dor, Angel afastou da mente qualquer pensamento de Sarah sofrendo. Agora ela estava feliz. Estava com o Sydney, aonde ela queria estar. — Tenho certeza que você saberá arrumar isso. Os clientes começavam a chegar em grupos, enchendo a entrada do restaurante. Sydney se aproximou de Angel. — Há outro lugar onde possamos falar? Angel olhou a recepção. Alex já tinha enviado alguém para recepcionar. Angel saiu pela entrada principal e Sydney foi atrás dele. 336


O clima estava muito frio e havia muitas pessoas chegando com casacos e jaquetas pesadas. Mas Angel se sentia acalorado. O Empala amarelo estava estacionado na frente do restaurante. Angel apertou os olhos por um segundo, recordando essa noite. Encostou na caminhonete do Alex que estava estacionada a dois carros de distância da entrada principal do restaurante. — Não tenho muito tempo. — Angel cruzou os braços. — Vai ser rápido. Angel fez o possível para aparentar estar aborrecido. — Angel, Sarah te ama. Ele ficou olhando Sydney, com uma expressão endurecida. — Que engraçado, nunca me disse isso. — Não podia. Sentia-se muito culpada de lhe dizer isso sabendo que ia embora — disse-lhe Sydney. — Ela é assim. Claro que se sentia culpada. Angel riu. — Ama-me tanto que morre por retornar ao Arizona para viver com outro cara? Sydney ficou olhando. — Para ser alguém que diz amar tanto Sarah, realmente não sabe uma merda a respeito dela, não é? 337


Angel apertou os lábios fazendo um esforço supremo para manter-se calmo. — Sei por que mentiu sobre sua verdadeira razão para retornar e que todo este tempo esteve apaixonada por mais alguém. — Suas palavras estavam cheias de amargura. — Não tem nem ideia, não é? — Sydney sacudiu a cabeça. — Sarah e eu estivemos juntos por anos e sim, me ama. Eu também a amo. Angel sentiu que a adaga que levava no coração se retorcia. — Ela é como uma irmã para mim, sempre foi assim e seguirá sendo. Mas se só o pensamento dela estando perto de qualquer outro cara te tem tão chateado, certamente vai perdê-la. O pulso de Angel se acelerou. Ficou olhando Sydney diretamente nos olhos. — Ela já tomou sua decisão. — Você tomou por ela. — Ela tomou o dia que decidiu que ninguém a deteria de retornar contigo — Angel apertou os dentes — nem sequer eu. Sydney o olhou com fúria sem poder acreditar. — Então é isso? Vai deixar que sua insegurança se interponha no que sente por ela? Vai deixa-la ir, assim sem mais?

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Angel não lhe respondeu. Requereu todo seu controle para evitar soltar murros sobre a caminhonete de Alex. Sydney se via enojado. Sacudiu a cabeça e começou a caminhar para seu automóvel. Uns passos depois, deteve-se e voltou. Angel não se moveu. — Sabe? Depois de tudo o que ela tinha me contado sobre você, esperava um pouco mais. Realmente, estava muito contente porque ela tinha te encontrado. Mas agora vejo que me enganei. Me alegro que retorne ao Arizona. Não a merece. Angel começou a se sentir mal, com a mesma vontade de vomitar que sentiu no dia em que viu Sarah com Sydney. O mesmo sentimento que teve quando esteve doente no dia seguinte. Olhou para seus pés com fúria. — Estou seguro que vocês dois estarão felizes. Sydney se voltou uma última vez antes de entrar em seu carro. — Sim, claro, se isso for o que você quer pensar. Sydney partiu, fazendo com que o motor rugisse ao passar por Angel. Angel, Sarah te ama. Por muito que quisesse acreditar nisso, pensar no apego indiscutível de Sarah com o Sydney o fazia impossível, a forma em que ela estava vestida essa noite para Sydney e a forma que tomou sua mão no restaurante. Era claro para ele o que Sarah sentia por Sydney e isso lhe queimava como brasa.

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*** Só levou um momento para Sarah dar-se conta de onde estava quando despertou. Veio-lhe à memória quando era pequena e ela e sua mãe viviam em hotéis por meses, algumas temporadas. Muitas vezes, ela acordava e estava sozinha, já que sua mãe foi trabalhar. Igual a quando era pequena, ligou a televisão, não queria ver nada, só odiava o silêncio. Sentou-se um momento na borda da cama e pensou sobre o dia que tinha pela frente. Devia ter feito isto faz tempo. Depois de tomar banho e ter bebido uma xícara de café que preparou na pequena cafeteira que havia em seu quarto de hotel, já estava pronta para ir. Poderia ter pego o carro, mas decidiu caminhar. Vinha preparada para isso. Arrumou-se e colocou suas botas e seu gorro. Inundou-se do rangente e gelado ar frio de Flagstaff e sorriu, recordando de como ela e Sydney estavam acostumados a caminhar para todos os lados. A caminhada seria por volta de uma milha e isso lhe ajudou a diminuir sua ansiedade. Sarah chegou ao Centro Coconino de Detenção de Mulheres pouco depois das nove. Tinha ligado antes, de modo que sabia que não devia trazer nada, exceto sua identidade e dinheiro. Depois de passar pela revisão de segurança e de caminhar nos largos corredores estéreis, registrou-se e foi escoltada a uma ampla sala que se parecia com o refeitório da escola. Havia outros visitantes aí, sentados nas mesas frente as internas que estavam vestidas com uma bonita cor azul.

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Tudo era sombrio. A única coisa que havia nas mesas eram caixas de lenços descartáveis. Passos e portas abrindo e fechando ressoavam fortemente, sacudindo seus nervos já superexcitados. Cada vez que a porta de onde as internas eram escoltadas para entrar ou sair se abria, continha a respiração. Abriu-se uma vez mais e entrou sua mãe. Via-se menor e frágil. Seu cabelo que usualmente trazia arrumado, agora estava preso em um rabo de cavalo e seus olhos estavam fundos com grandes olheiras sob eles. Sarah estava atônita, mas forçou um sorriso. Não estava aí para fazer sua mãe se sentir pior. Estava aí, porque sentia saudades e a necessitava desesperadamente. A expressão de sua mãe se quebrou quando estavam suficientemente perto e a abraçou fortemente. — Ai, minha vida, senti tanta saudade. Sarah não queria soltá-la. Não tinha se dado conta do muito que tinha sentido falta dela. Suas emoções a traíram mas já não lhe importou. Chorou abertamente. — Sinto sua falta, mamãe. Sua mãe a segurou um momento mais e depois a soltou para poder ver a cara de Sarah. Sua mãe lhe limpou as lágrimas com seus dedos. — Venha, sente-se.

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Sentaram-se uma frente à outra em uma das mesas. Sarah estava preocupada de que sua mãe tenha se incomodado, porque tinha vindo vê-la. Sempre lhe havia dito que não queria que a visse assim. Agora, Sarah entendeu por que. Mas sua mãe não se via nem um pouco zangada. Sua mãe alcançou as mãos de Sarah através da mesa. — Ninguém me disse que viria. — Ninguém sabe. Os olhos de sua mãe se entrecerraram. — Quem te trouxe? Angel? Sarah negou com a cabeça, olhando para baixo, para suas mãos entrelaçadas. — Vim sozinha, de ônibus. — O rosto de sua mãe mostrou uma preocupação ainda maior. — Tia Norma sabe que estou no Flagstaff. Só que não lhe disse que viria te ver. Não queria que tentasse me dissuadir. Sarah não poderia sobrepor o aspecto que apresentava sua mamãe. Muitas vezes, quando era menina e tinham que mudar por motivos desconhecidos para ela, sua mãe se via triste e preocupada, mas nunca assim. Também tinha perdido muito peso. — Retorna hoje? Essa era a pergunta que Sarah mais temia. Sabia que sua mãe não ia alegrar-se de que ela retornasse ao Arizona. 342


— Não, mãe. — Os olhos cansados de sua mãe procuravam uma resposta na cara de Sarah. — Ficarei na casa dos pais de Sydney para o Natal e Ano Novo. A expressão da cara da mãe de Sarah não mudou. — E o que aconteceu com Angel? Pensei que vocês eram inseparáveis? O nó na garganta de Sarah estava por afoga-la. Tudo o que pôde fazer foi negar com a cabeça e olhar para o outro lado para evitar que as lágrimas escapassem de seus olhos. Sua mãe apertou suas mãos. — Conte o que aconteceu. Sarah limpou as lágrimas com uma mão. Estava incômoda consigo mesma. Isto não devia ser sobre ela. A última coisa que queria era pôr uma carga a mais sobre os ombros de sua mãe, mas ela insistiu muito. — Fale, filhinha... Depois de se recompor, respirou profundamente. Sarah tomou novamente a mão de sua mãe. Sua mãe pegou e a apertou sorrindo. — Angel soube tudo a respeito de Sydney. — Sabia que sua mãe ia se confundir e sua expressão demonstrava. — Nunca lhe disse quem era Sydney... Sarah se sentiu como uma idiota. Tinha contado a sua mãe tanto como pôde a respeito de Angel. Mas suas conversas por telefone eram

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tão curtas que se sentia culpada por utilizar todo o tempo da chamada em falar de si mesma, de modo que muitas coisas ficaram sem contar. — E o que, carinho? Sarah olhou ao redor do lugar e sua vista retornou a sua mãe. — Sabe alguém que pensa que entre um menino e uma garota não pode haver somente uma amizade? Em um instante, o aspecto de preocupação e confusão na cara de sua mãe trocou por entendimento e assentiu com a cabeça. — Acredito que estraguei as coisas, mãe. — Falar com sua mãe a fazia se sentir muito bem. — De modo que ele não sabia a respeito de Sydney? — Sua mamãe soltou sua mão para alcançar a caixa de lenços da mesa e a passou para Sarah. — Assoe o nariz. Sarah assoou e continuou. — Não exatamente. Contou a sua mãe a sórdida história completa sobre como Angel assumiu que Syd era mulher e como quis lhe dizer a verdade tantas vezes e finalmente, quando se inteirou dessa verdade da pior maneira. Logo lhe disse de sua ligação para despedir-se e como Angel lhe disse que fosse feliz. — Então ele pensa que ficará no Arizona? Sarah se mordeu o lábio. 344


— Disso era o que queria falar contigo. A mãe de Sarah levantou a sobrancelha. — mãe — a voz de Sarah era quase como um sussurro. — Não posso voltar. Sua mãe sacudiu a cabeça, mas sua expressão era amável. Sarah olhou para longe. — Carinho, o que mais desejo é sua felicidade. Me olhe. Sarah voltou para os olhos cansados de sua mãe. Não ia ficar e discutir com ela. Quando chegou pela primeira vez na Califórnia, estava tão amargurada que não lhe importava quão zangada ficaria sua mãe se ela retornasse ao Arizona. Mas depois de vê-la hoje, seu coração lhe dizia para conceder a sua mãe qualquer desejo, sem importar o que fosse. — Me escute, neném. — Pegou uma das mãos de Sarah entre suas duas mãos. — Eu sei que agora parece como se fosse o fim do mundo. E nunca saberá o quanto eu sinto por não ter estado contigo quando isto aconteceu. Mas lhe dê tempo. As coisas irão se resolvendo por si mesmos. Angel entenderá... Talvez fosse a expressão de Sarah. Ela não podia acreditar que isto se resolveria de alguma forma, mas sua mãe parou sem terminar de falar. Se inclinou para ela, com um pequeno sorriso nos lábios. — Tenho boas notícias. — O que? 345


— Bom, não ia te dizer nada antes de que fosse certo, mas está tão triste. — Sua mamãe fez uma pequena careta. — Meus advogados encontraram certa possibilidade no meu caso. Pela primeira vez desde que tinha chegado, Sarah pensou ver uma faísca nos olhos de sua mãe. — O que isso significa? Sua mamãe se sentou para trás com um sorriso cauteloso. — Bom, não saberei nada até que vá a corte e isso não será até depois do Natal e Ano Novo, mas de acordo com meus advogados, se tudo sair bem, posso sair no começo da primavera. Sarah deu um salto de seu assento, fazendo com que o guarda a olhasse estranho. Lhe deu de presente um sorriso torcido e depois abraçou a sua mãe. — Ai, mãe, Por Deus! Essas são as melhores notícias. Sua mãe parecia resplandecer e depois recuperou a seriedade. Pediu a Sarah que se sentasse. — Mas tem que me prometer que ficará na Califórnia até então, Sarah. Já não falta muito. Sarah sentia seu estômago inquieto, mas nada poderia lhe tirar a felicidade que sentia pelo que tinha ouvido. O sorriso seguia em seu rosto e sentiu o nó em sua garganta novamente. Agora, era a alegria a que fazia afogar-se, a emoção tinha sido tão alheia a ela durante toda essa semana. 346


— Está bem, mãe. — Sarah sorriu — O que você quiser.

***

Carina era uma garota alta, de seios grandes e cabelo loiro, não se parecia em nada ao que ela pensava que poderia ser o tipo de garota para Sydney. Mas Carina adorava sua música e só com isso ela e Sydney podiam falar durante horas. Não lhe deu muita conversa, mas foi educada. Sarah esperava que pudessem chegar a ser amigas, especialmente se o relacionamento dela e Sydney fosse durar. Mas até o momento, as coisas tinham sido incômodas. Depois de passar alguns dias com eles, Sarah finalmente aceitou. A relação dela e Sydney era uma das coisas que teria que se acostumar com qualquer terceiro em questão. Sarah estava muito acostumada a ser completamente desinibida em torno de Sydney. Depois de tudo, ela tinha crescido a seu lado. Estando Carina perto, tinha que cuidar para fazer coisas que nem sequer faria estando perto de Angel. Como por exemplo, arrotar. Era tão fácil que tudo voltasse a ser como era antes e começar a rir e a aguentar as coisas. Surpreendeu-lhe que, apesar de que não tinha podido tirar Angel da cabeça, estar perto de Sydney realmente tinha lhe ajudado.

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O dia de Natal na casa de Sydney foi igual o de sempre. Os senhores Maricopa estiveram entoando as canções de Natal enquanto terminavam de preparar o jantar juntos. Viriam jantar alguns membros novos da família e Carina. Sarah estava vendo televisão na sala da frente apesar da música, mas não se importava. Quase se sabia de cor o filme, tinha o visto muitas vezes. Sydney saiu da cozinha, agitando a cabeça. — Já lhe estão dando o ponche. — Ria entre dentes. Sarah olhou por cima da televisão. Estava sentada no chão apoiada nos travesseiros que tinha usado de noite. Sydney apareceu para ver o que ela estava assistindo na televisão. — Outra vez está vendo Orgulho e Preconceito? — Sydney pôs uma cara de incômodo. — Por Deus, você não viu umas cem vezes? Sarah o ignorou e olhando para a televisão, sorriu-lhe. Sentou-se perto dela e tomou o controle remoto do chão. A próxima coisa que soube é que havia futebol americano na tela. — Ei! — Agora, assim está melhor — Sydney sorriu. — Eu tinha o controle remoto primeiro e além disso, sou sua convidada — Quis pegar o controle remoto, mas ele levantou o braço e Sarah não pôde alcançá-lo.

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— Vou contar a ela — e sorriu maliciosamente. — Sra. Maricopa! Não havia forma de que a mãe de Sydney a ouvisse com a música tão alta na cozinha e Sarah sabia. Ficou de joelhos para alcançá-lo, mas Sydney se foi para trás rindo e ela caiu sobre dele. Sarah tinha sua mão sobre o controle e Sydney começou a lhe fazer cócegas nas costelas. Sarah estremeceu e começou a rir. — Não é justo! Ela começou a lhe fazer cócegas nas costas, fazendo ele jogar o controle e pôde agarrá-lo, mas então, Sydney a segurou pela cintura e ela caiu, escondendo o controle debaixo de suas costas. Sarah não ria assim fazia muito tempo. Fechou seus olhos apertando-os, tentando tomar um pouco de ar entre as risadas. Quando os abriu viu por cima do ombro de Sydney, Carina. Ela estava parada no meio da sala, olhando-os. Via-se aturdida, por isso Sarah empurrou Sydney para tirar-lhe de cima. — Olá, Carina. Sydney voltou a cabeça imediatamente. A metade de seu corpo seguia sobre Sarah. Imediatamente se levantou de cima dela. — Ouça, neném. — Toquei, mas... — Os olhos de Carina se dirigiram a Sarah, que estava baixando a blusa que tinha subido e mostrava parte de suas costelas e logo olhou Sydney e depois olhou ao redor e saiu depressa pela porta. 349


— Carina, espera — Sydney saiu de um salto. — Aonde vai? Carina saiu e Sydney foi atrás dela. Sarah se levantou e chegou até a janela. Espiou e os viu discutindo. Carina parecia chorar. Sarah não podia acreditar quão ingênua tinha sido. Angel teria tido uma reação muito mais violenta. Só porque isto era normal para eles, não queria dizer que fosse para os estranhos. Era como se ela tivesse um irmão, mas em realidade, não era. Estiveram fora por um momento e quando entraram, pelo olhar que Sydney lhe mostrou, soube que era melhor não dizer nada. Mais tarde, quando Carina foi ao banheiro, teve oportunidade de dizer a Sarah que tudo estava bem. Mas Sarah sabia. Quase tinham arruinado o Natal. Assim, quando Valeria a chamou uns dias mais tarde para a convencer de que retornasse à Jolla para o Ano Novo, Sarah concordou. Originalmente, ela planejou ficar no Arizona e passá-lo com Syd e Carina. Mas depois do que aconteceu, decidiu deixá-los desfrutar de um romântico Ano Novo sem uma terceira pessoa. Sydney não gostou que ela fosse embora antes, mas estava contente de que decidisse ficar na Califórnia, ao menos até que sua mãe saísse da prisão.

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Capítulo Vinte e Quatro O Natal veio e foi sem nenhum sentimento de felicidade para Angel. O restaurante não estava nem um pouco cheio depois da semana de Natal como tinha estado na semana anterior. Seus pais foram ao México para uma semana de visitas a família. Todos os anos iam uma semana depois do Natal e retornavam depois do Ano Novo. Angel e Alex cobriam o turno da manhã no restaurante e como Sal estava de férias do colégio essa semana, ele e Sofia cobriam o turno da tarde. Angel não estava com humor para celebrar a véspera do Ano Novo, especialmente sabendo que o aniversário de Sarah era a meia noite e que ele não poderia lhe dar um beijo de aniversário. Deslizou seus dedos pela corrente que ela lhe dera no seu aniversário, antes de voltar a guardá-la na gaveta de meias, fechando com um golpe. Alex enfiou o nariz em seu quarto. — O que há com você? Angel ficou olhando mas não lhe respondeu. Sentou em sua cama e começou a colocar as meias.

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— Tenho convidados hoje, então, vem aqui em baixo e me ajude a dar uma limpeza na casa. Angel deixou cair os ombros. — Quem vêm? — Nenhum dos seus idiotas e irritantes colegas de escola — disse rindo — à exceção de Eric e Romero. Mas todos os outros são adultos, atue como se fosse. Angel franziu o cenho. — A que horas? Alex se afastava, mas gritou. — Daqui uma hora. Angel olhou o relógio. Já eram quase nove. Só tinha feito exercício e tomado banho. Esperava ter uma noite tranquila jogando bilhar e se deitando cedo, não tinha vontade de uma maldita festa. No momento em que desceu, o balcão da cozinha se converteu em um mini bar. A música soava muito forte e Romero já estava instalado com uma cerveja na mão. Sal e Sofia chegaram quando Angel pegava uma cerveja do refrigerador. — E agora o que foi? — Perguntou Sal. Alex retornava do pátio com um cooler. 352


— Hora da festa, irmão. Sal ficou olhando e Sofia sorriu. Sal voltou a olhar Angel. Ele levantou as mãos ao ar. — Nem me olhe. Isto é ideia do Alex. — Ahã — disse Alex. — Não se preocupe. Não há nenhum dos seus amigos torpes e juvenis, à exceção de Eric e Romero. Romero pegando a dica. — Vejam, aqui estou! Alex o ignorou enquanto tirava uma bolsa de gelo do congelador. — São só uns dos meus amigos mais refinados. Sal sacudiu a cabeça. — Boa sorte. Mas lembre-se que este lugar amanheça limpo, porque eu não vou levar nenhuma bronca por isso. Sofia saiu correndo da cozinha e subiu. Alex a parou. — Ei aonde vai, Sof? — Oh sim, ela estará perto de todos seus refinados companheiros da universidade. — Sal sorriu e deu uma olhada em todas as garrafas de bebida no balcão. Alex não gostou disso. — Bom, pois ninguém a convidou. 353


Angel riu. — E o que vai fazer? Trancá-la em seu quarto? Alex levantou uma sobrancelha. — Não é uma má ideia. — Ah sim — disse Romero sorrindo. — Não são com os caras da universidade que precisaria se preocupar. Os três irmãos ficaram olhando. — E o que quer dizer com isso? — Perguntou Alex. Romero negou com a cabeça e encolheu de ombros. — Não sei, só saiu. Angel, que era o mais próximo de Romero, deu-lhe um empurrão. Terminaram de listar as coisas e as pessoas começaram a chegar. Angel foi com Romero à sala principal, com sua mente a milhas de distância, como era costume. Romero passou acotovelando-o para captar sua atenção. Depois de várias conversas Alex percebeu que seus refinados amigos da universidade já tinham tido muito. Foi para a cozinha para pegar algo para comer. Angel parou bruscamente quando entrou na cozinha e viu Sofia. Vestia de calça jeans e saltos que a faziam parecer mais alta, para não mencionar mais velha também, mas era da blusa que não podia afastar 354


o olhar. Era a mesma blusa preta sem costas que Sarah pôs na primeira festa que falou com ele. Alex entrou atrás de Angel. — O que faz parado, Sofia? Sofia deu uma olhada na sua blusa. — O que? Sarah me deu faz tempo. O que tem de mau? — Parece... — Alex lutou para encontrar uma palavra. — Ardente? — Disse Sofia para incomodá-lo. A mandíbula de Alex endureceu. — Precisa ir se trocar. — Por que? Eric entrou do pátio e ficou imóvel ao ver Sofia. Alex percebeu como a olhou. — Vai trocar agora, Sofia, antes que alguém mais entre. Sofia saiu brava da cozinha e foi para cima. Angel se sentiu mal. Não lhe incomodava como estava, mas se sentiu aliviado ao saber que a blusa desapareceria. Só de vê-la havia lhe trazido lembranças de Sarah, quando a beijou e a segurou pela primeira vez. Era muito doloroso e por mais que sentisse saudades, alegrava-se de não voltar a vê-la.

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O tempo passou rapidamente e antes que imaginasse, já estavam fazendo a contagem regressiva. Angel estava fora com Sal, Alex e um par de garotas. Sofia tinha entrado com o Eric e Romero para ver a contagem regressiva na televisão grande. Quando já tinham terminado os abraços e as felicitações de Ano Novo, Alex trouxe mais cervejas para dentro. Angel o seguiu, com Sarah em sua mente, pensando no que ela estaria fazendo nesse momento. Agora já era maior de idade. Alex entrou na cozinha. — Que merda é essa? Angel não pôde ver nada, mas Alex estava pálido. Entrou na cozinha no momento em que Alex foi contra Eric. — Estava beijando minha irmãzinha? — Foi um beijo de Ano Novo — disse Sofia parando em frente ao Eric. — Vale-me Deus! Você não deve beijar a minha irmã dessa maneira. Que caralho te passa? — Como a beijou? — Angel tentava parar Alex. Que diabos tinha visto? Já havia gente aparecendo na cozinha e Sal entrou rapidamente do pátio. — Só foi pelo Ano Novo, Alex. Relaxe — disse Eric. Alex passou pela Sofia e pegou Eric pela camisa. 356


— Sei o que vi, seu bastardo. Mova-se Sofia! Entre Angel, Sal e Sofia conseguiram o deter. Eric foi para a porta. — Que diabos tem, Alex? — Perguntou Angel. — Espere, Eric. — Não! Quero que vá — berrou Alex. — Se voltar a te ver perto de minha irmã, juro por Deus que te parto a cara! Sal interveio. — Chega, Alex. Antes disto, Alex não parecia bêbado, mas agora Angel pensava que estava. Eric foi depressa. Angel voltou para Sofia. Parecia que estava a ponto de chorar. Os convidados tinham saído da cozinha, lhes dando um pouco de privacidade, salvo pelo Romero que estava parado na porta. Angel não queria nem perguntar. Era muito estranho. Mas tinha que perguntar. — Como é que estava te beijando? — Seu amigo colocou a língua na sua garganta! — Gritou Alex. Antes que Angel digerisse isso em sua mente, Sofia começou a falar. — Talvez, a que tinha a língua em sua garganta era eu, não lhe ocorreu isso? — As lágrimas escorriam pelas suas bochechas e no

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momento, deixou-os atordoados. — Já não sou um bebê, Alex. E estou cansada de que continuem me tratando assim! — Só tem dezesseis anos, Sof — a voz do Alex soava muito mais tranquila e Angel se deu conta de que não estava bêbado. — Verei Eric se isso for o que quero. Não vai me impedir! — Sofia saiu correndo, dando um empurrão em Romero ao sair da cozinha. — Sobre meu cadáver — disse Alex, dizendo brandamente e depois mais forte. — Ouviu-me, Sof? Sobre meu cadáver! Alex virou e olhou para Angel. — Não quero esse imbecil perto dela nunca mais.

*** Sarah estava cansada e seus pés doíam. Parecia que a festa não ia terminar nunca. Valéria tentou puxá-la para o círculo de garotas com as que estava dançando, mas Sarah fez um gesto de que queria ir ao banheiro. As amigas de Valéria viviam em um condomínio particular. Tinham um centro de recreação e era onde estava sendo realizado a festa. Era do tamanho de uma pequena sala de banquetes com uma piscina no exterior.

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Sarah passou pelo banheiro e saiu. Fazia frio, mas se sentia bem. Sentou-se em uma das mesas que havia perto da piscina e procurou em sua pequena bolsa seu pó compacto. Seu telefone celular estava tocando. Perdeu uma mensagem de texto. Sydney a tinha ligado para lhe desejar feliz aniversário. Quando o abriu, viu que, além disso, tinha duas chamadas perdidas. Ambas eram de Sofia. Sarah sorriu. Depois de terminarem, Sofia tinha ligado algumas vezes. A primeira para lhe dizer quanto sentia e outra, antes do Natal, para lhe dizer quanto sentia saudades e que desejaria que estivesse na Califórnia. Em ambas as ocasiões, Sarah se comoveu. Não se lembrava de haver mencionado a Sofia que seu aniversário era no Ano Novo. Clicou sobre a mensagem e leu o texto.

Odeio meus irmãos. Estou zangada e chorando.

Me ligue. Preciso falar contigo.

Sarah pensou nos homens das cavernas e não pôde evitar franzir o cenho. E agora o que tinham feito? Ligou para Sofia quem respondeu imediatamente. Estava histérica. Sarah apenas escutava. Do pouco que entendeu, Alex tinha quebrado sua vida.

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— Sofia, se acalme. Respira fundo. — Sarah fez seu melhor esforço para falar em um tom suave. Lembrou como sua mãe fazia quando ela era pequena e estava chorando. — Não posso entender o que me diz. Sofia respirava agitadamente, mas Sarah podia adivinhar que estava tentando se tranquilizar. Parecia uma menina pequena e Sarah desejou poder estar com ela e abraçá-la. — Alex disse ao Eric que se mantivesse afastado de mim. Sarah temia perguntar por que, mas mesmo assim, o fez. Escutou em silêncio enquanto Sofia lhe contava tudo, de repente, desmoronou e começou a chorar de novo. Uma vez que se acalmou, soava mais determinada e zangada que qualquer outra coisa. — Não é justo, Sarah. Eric não foi outra coisa além de um cavalheiro comigo. Foi tudo culpa minha e disse isso a eles. — Disse? — Sim. — Soou satisfeita. — Disse-lhes que era minha língua em sua garganta. Sarah deixou escapar uma risada ofegante. — Não! De verdade? Finalmente, Sofia não soava tão triste. Inclusive, Sarah acreditou tê-la ouvido rir. — É verdade. Eric sempre se contém. É tão cavalheiro comigo. Sofia suspirou. — Me deixa louca, então tomei a iniciativa. 360


Sarah não podia acreditar que Sofia pudesse dizer coisa semelhante. De algum modo, ela desejaria poder ter estado lá, mas Por Deus, de todos os irmãos que pudessem havê-la surpreendido, por que tinha que ser Alex? Sabendo que se sentiria terrivelmente incômoda, sentiu certo alívio de não ter estado lá. — E o que Alex te disse quando falou isso? Sofia lhe disse que todos ficaram sem fala, inclusive lhe descreveu o olhar de surpresa de Angel. Por um momento pareceu que Sofia tinha escapado de seu estado de ânimo abatido. Mas quando chegou ao final do relato, começou a choramingar de novo. — Eric me mandou uma mensagem, mas só para ver se eu estava bem. Disse que não queria arriscar se meus irmãos revistassem o telefone. Disse que queria falar com Angel sobre isto. Disse que não pensava que fosse boa ideia e me fez prometer que ele falaria com Angel antes que eu fizesse. Sarah tentava se concentrar, mas só de ouvir seu nome tremia por dentro. Angel não era precisamente a pessoa mais razoável que ela conhecia. Mas nestas circunstâncias, não via como tentar falar com ele podia lhe prejudicar. — E o que vai dizer a ele? Que vocês estiveram escondendo isto todo este tempo? Ficará furioso. Acredite, eu sei de primeira mão. Sarah tinha começado a preocupar-se com como se sentiria Angel neste momento. Sabia que já se sentia traído por ela e agora isto? Eric era um de seus amigos mais próximos. Doeu a alma por ele.

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Sofia lhe disse que pensaria e antes de dizer algo, consultaria ela para saber sua opinião. Falaram por um momento mais e Sarah lutou contra a incrível tentação de saber se Angel e Dana estavam juntos na festa. Mas decidiu não torturar a si mesma. O fato de que nem sequer lhe mandou uma mensagem genérica de feliz aniversário dizia tudo. Ele já tinha terminado com ela para sempre.

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Capítulo Vinte e Cinco Ultimamente, Angel não dormia muito. Levantou cedo e se dirigiu ao quarto de Sofia, tratando de não despertar Alex. Precisava chegar ao fundo de todo este assunto com Eric e não queria Alex gritando com Sofia até o ponto de dizer algo absurdo como o que havia dito ontem à noite. Conhecia Eric fazia muito tempo e confiava nele completamente. Sabia que devia haver algo mais em tudo isto. Esta era uma conversa que temia ter. Nem sequer sabia por onde começar, mas tinha que conversar rápido antes que Alex despertasse. Bateu brandamente na porta entreaberta do quarto de Sofia antes de aparecer. Para sua surpresa, ela já tinha se levantado e estava em seu computador. Minimizou a tela em que estava quando Angel entrou. Para seu alívio, nem sequer teve que pensar o que dizer. Ela falou primeiro. — Está zangado comigo? Angel levantou um ombro. — Não sei. 363


Ela se levantou e fechou a porta atrás de Angel. A expressão de sua cara lhe lembrou quando eram meninos. Sofia sempre tinha sido tratada com cuidado. Tinham lhes ensinado isso a vida toda. E aprenderam muito bem. Ninguém se metia com a doce Sofie. Assim era antes e assim era agora. Angel se sentou em sua cama e ela em sua escrivaninha. — Olhe, o que aconteceu ontem à noite foi minha culpa. Assumo toda a responsabilidade. — Falou em voz baixa e seus olhos pareciam suplicar. — Angel, Eric me deu um abraço de Ano Novo e eu o beijei. Angel ficou olhando. — Por que? Primeiro olhou Angel e logo virou para outro lado. — Gosto dele. Sempre gostei. Isto não era o que Angel queria escutar. Sacudiu a cabeça. Eric era como da família e Sofia era... bom, sua irmãzinha, maldita seja. Levantou-se sem saber o que dizer. — Não. — Não, o que? — Sofia parou frente a ele. — Não pode. — Por Deus, por que não? Vocês agem como se eu fosse um bebê. Faço dezessete este ano, a mesma idade de Sarah quando começou a sair contigo. 364


A mandíbula de Angel se apertou. — Isso é diferente. — Em que sentido? — Só é, Sof. Angel tentou caminhar ao redor de Sofia para sair dali. Esta conversa tinha terminado. Alex tinha razão. Eric devia manter-se afastado. Mas Sofia não o deixou passar. Pôs sua mão em seu peito e o olhou diretamente aos olhos. — Você e Alex vão ter que enfrentá-lo, cedo ou tarde. Já não sou mais uma criança. Angel não estava acostumado que ela fosse tão intrépida e não gostou. — Papai vai gostar tampouco. — Eu me encarrego de papai, Angel. Só me prometa que não brigará com Eric. Não foi sua culpa. Angel assentiu com a cabeça e ela o deixou ir. As coisas não tinham saído como tinha planejado, mas ao menos estava aliviado por não ter que brigar com Eric. Alex era outra história. A imagem de Eric beijando a sua irmã ficaria em sua mente por algum tempo. Mas passaria. A menos que quisesse que Sofia lhe lembrasse a cada momento que ela tinha sido quem tinha iniciado o beijo. Angel encolheu os ombros, nada mais a pensar.

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Não queria que o tempo passasse e brigasse feio quando finalmente falasse com Eric. Não só a conversa com Sofia o tinha deixado inquieto. Precisava esclarecer algumas coisas com Eric. Planejou lhe chamar mais tarde esse mesmo dia, mas Eric ganhou. Seu telefone tocou justo quando estava entrando no restaurante. — Olá Eric, que foi? Por um momento, houve silêncio na outra linha e Angel sorriu. Sabia que sua alegre saudação deixaria Eric sem jeito. — Ouça... e como está tudo? — Quer dizer, com o Alex? — Angel riu. — Vai estar assim por um tempo. Mas Sofia me disse o que aconteceu. E está bem. Desculpa que Alex teve aquela reação, Eric. Eric clareou a garganta. — Não, está tudo bem. Sei que poderia ter sido muito pior. Angel riu. — Aha, saiu daqui inteiro. — Claro que não, merda! Tive que trocar as calças quando cheguei em casa. — Há, Ha! Romero me disse que faria isso. — Claro, tenho certeza que esse imbecil teve muito que dizer. De fato foi uma surpresa que Romero não tivesse muito que dizer na noite passada. Depois do incidente, a festa diminuiu. Alex estava 366


muito alterado para relaxar, então começaram a limpar e todo mundo se foi. Angel baixou a voz quando passou perto de Alex, que estava sentado em um dos reservados, revisando a correspondência do restaurante da semana passada. Ele se encarregava disso enquanto seus pais estavam fora, portanto, agora estava fazendo isso. — Olhe, acredito que não é nada estranho que minha irmã se apaixone platonicamente pelo amigo de seu irmão mais velho, correto? — Fez uma pausa, mas Eric não disse nenhuma palavra. Angel não sabia como soltar o resto sem soar embaraçoso. Mas embaraçoso ou não, tinha que entrar. — Não pode deixar que uma coisa assim volte a acontecer, correto? — Isso soava pouco convincente, mas ia ao ponto e se sentiu satisfeito. — Angel, já tem quase dezessete. Angel parou de fato, deu uma olhada em seu telefone. — Está querendo ver minha cara? — Ouvi o que está dizendo — adicionou Eric rapidamente. — E sim, prometo isso, Angel. Mas vamos, quanto tempo mais acredita que possa impedir que ela saia com alguém? Angel havia reatado a marcha, mas podia sentir a agitação dentro dele. Sabia que sua irmã quase tinha dezessete, mas não podia medir a maturidade com um número. Sofia era diferente. — Não se preocupe com isso. Só promete que não voltará a se envolver em outra de suas tolices, promete? 367


Escutou Eric exalar fortemente. — Sim, sim, tem minha palavra. — Obrigado. — Isso era pedir muito? Mas Angel não podia evitar pensar que esta era outra conversa que não se desenvolveu como ele queria. Este ano realmente estava uma porcaria e acabava de começar.

*** Quando Sarah retornou do Arizona fez Valéria lhe prometer que não diria a Alex que tinha voltado. Assim, quando ele a chamou na véspera do Ano Novo para convidá-la a sua festa, Sarah se sentiu mal que Valéria recusasse seu convite. Sarah lhe disse que ficaria em casa. Não estava com humor para festas, mas Valéria estava chateada que Alex a houvesse convidado no último momento. Disse que Alex lhe assegurou que tinha planejado a festa no último momento, mas lhe respondeu que não ia cancelar os planos que já tinha feito. — Ninguém planeja uma festa de Ano Novo no último momento. — Valéria soltava faíscas. — Deve pensar que sou bastante tola. Sarah sabia que sua estadia na Califórnia seria por pouco tempo. Sua mãe tinha ligado no dia de seu aniversário e lhe disse que tinha falado com seu advogado e que as coisas estavam ainda melhor. 368


As coisas entre ela e Angel estavam completamente sem esperança. Sydney tinha ligado no dia seguinte de seu aniversário e lhe confessou que tinha ido ver Angel, antes do Natal. Não havia dito antes, porque não queria que os festejos do Natal e Ano Novo fossem ainda mais duros para ela, mais do que já eram. Mas lhe contou a negativa de Angel de nem sequer escutar seu lado da versão. A princípio isso a machucou, mas depois, a raiva se apoderou dela. Estava certa que Dana tinha algo, se não, tudo a haver com o marco inquebrável na cabeça de Angel. Veria Sofia assim que chegasse depois da aula de educação física, mas enquanto isso, só precisava tomar três aulas. Assegurou-se de que pudesse tomar todas elas por volta do final do dia. Seu plano era simples, mover-se rápido de uma aula para outra e manter a cabeça baixa. A última coisa que queria era encontrar-se com Angel e Dana. Seria somente questão de tempo para que Sarah o visse. Ela sabia, mas queria adiar tanto quanto fosse possível. No momento que ela entrou em sua aula de física, deu-se conta que todo o planejado tinha sido em vão. Angel estava sentado atrás e seus olhares se encontraram. Por um momento ela ficou imóvel. Reuniu suas ideias o suficiente para saber que se sentasse na frente, não teria que olhá-lo. Não era de estranhar que a maioria dos assentos dianteiros estivessem vazios, assim se sentou no primeiro que viu. Apenas tinha se sentado quando Kim, uma garota que conhecia da equipe de corrida, se inclinou para lhe falar. — Meu Deus, pensei que tinha retornado ao Arizona. 369


Sarah voltou para ver uma cara com um grande sorriso. Aí se deu conta de que não se fixou em quem estava em sua classe. O único que tinha visto foi Angel. Outros eram como imagens imprecisas ante seus olhos. Sua respiração quase se normalizou e se forçou a sorrir. — Mudança de planos. Ficarei por aqui um tempo mais. A aula começou e tentou se concentrar no que o professor lia. Dificilmente podia escutar o que dizia. Tudo o que podia pensar era na expressão de Angel ao vê-la. Queria apagar de sua mente. Ele não estava zangado, mas tampouco parecia feliz. Quando a aula terminou, por mais que dissesse a si mesma que não devia voltar, não pôde resistir. Virou para onde ele estava sentado, mas já não havia ninguém. Aparentemente, Angel não tinha planejado falar com ela. Sarah mordeu o lábio. Embora sentiu que lhe vinha, tratou de sacudir a angústia. Já tinha chorado o suficiente por Angel Moreno. O resto do dia foi um pouco menos doloroso. Quando apareceu na aula prática, o treinador Rudy estava mais que contente de escutar queria fazer parte da equipe. Disse que era uma mera formalidade. De fato, já era parte da equipe. Ninguém estava mais contente de ver Sarah que Sofia. Sarah quase se afogou quando Sofia a abraçou tão forte, que pensou que não ia deixar ir. Sarah lhe explicou brevemente que ficaria um pouco mais de tempo, mas lhe disse que suas intenções eram retornar ao Arizona assim que as circunstâncias mudassem.

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Os dois dias seguintes foram pior ainda. Angel não apareceu na aula de física e ao final do terceiro dia, seu nome não foi mencionado ao passar a lista. Obviamente, tinha mudado seu horário. Era uma bofetada na cara, mas ela aguentou. Ao menos não teria que lutar, vendo-o na aula todos os dias. Sydney estava cada vez mais incomodado com a prolongada inflexibilidade de Angel. Esse fim de semana, Sarah comentou com Sydney sobre a mudança de horário de Angel e para surpresa dela mesma, nesse momento, desmoronou e começou a chorar. Sydney não podia acreditar. — Mande-o a merda, Lynni. É um imbecil. Seria possível que ela tenha estado tão equivocada a respeito de Angel? Surpreendia-lhe agora, que em algum lugar de sua mente retorcida, realmente pensou que Syd e Angel poderiam ser amigos algum dia. — Só estou esperando que minha mãe saia, para poder voltar para casa — disse Sarah. — É a única coisa que quero. — Mas não pare sua vida, Lynn. Pode levar um tempo. Desfruta. Saia. Sério, se divirta. Sarah não podia nem sequer imaginar estar se divertindo. Mal podia se concentrar em viver o dia sem ter nenhum tipo de crise emocional.

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As coisas deram um giro na segunda-feira durante a aula prática. Como se todo seu cilindro emocional não fosse suficiente, agora lutava com a dor física. Durante uma das rotinas de aquecimento, Sarah pisou em um buraco e caiu fortemente. Sentiu ranger seu tornozelo e imediatamente soube que estava muito machucada. Sofia chegou imediatamente a seu lado, mas Sarah já tinha ficado de pé. O treinador Rudy chegou tão logo lhe avisaram. — Não tente caminhar apoiando nesse pé. Machucará mais. Terá que pôr gelo imediatamente. Antes que Sarah soubesse o que estava passando, já estava em seus braços e a levava carregando para o ginásio. Para sustentar-se melhor, Sarah passou seus braços no pescoço dele. Alguns dos meninos começaram a rir conforme eles passavam. Sentiu-se incômoda até que moveu o pé do lado equivocado e a dor insuportável no tornozelo a fez esquecer-se de tudo. Fechou os olhos, apertando-os fortemente e fez uma careta, desejando que a dor desaparecesse. Quando o treinador ficou satisfeito de ter esfriado o pé com gelo tempo suficiente, levou-a para seu carro e depois a sua casa. Sarah se surpreendeu de que cancelasse a aula tão cedo por culpa dela, mas a verdade é que se alegrava de poder ir para casa. O treinador Rudy realmente parecia preocupado pelo tornozelo de Sarah. Deu-lhe alguns papéis que tinha em seu escritório sobre o cuidado adequado de uma entorse de tornozelo e no caminho da casa, explicou o que podia e que não podia fazer. Logo, o tema mudou ao que ela temia. 372


— Quando saberemos com certeza quanto tempo vai estar por aqui? Quero dizer, poderemos contar contigo para toda a temporada? Sarah sempre tinha sido vaga quanto a sua situação, mas ele nunca tinha insistido. Tinha a sensação de que o treinador sentia que se tratava de um tema um pouco delicado. Mesmo assim, ela se sentia mal por não lhe poder dar uma resposta mais concreta, já que ele estava muito entusiasmado que ela estivesse na equipe. Sarah não queria que ele pensasse que não levava a sério sua participação na equipe. — Minha mamãe está na prisão. — Sarah voltou seu olhar para a janela com medo de ver sua expressão. Fora Sydney e sua família, Angel era a única pessoa a que ela havia dito. — Oh, sim — respondeu. — Então, está esperando ver quando vai sair? Sua atitude a surpreendeu. Sarah pensou que, talvez, se sentiria incômodo e mudaria o tema ou algo assim, mas foi como se lhe houvesse dito que sua mãe tinha ido às compras. Sarah se voltou para olhá-lo. — Ahã, não saberemos até dentro de umas semanas, assim, realmente não sei. — Voltou a ver suas mãos. — Mas eu quero estar na equipe. Ela realmente desejava estar na equipe. Desde que sua mãe a fez prometer que ficaria na Califórnia, era uma das coisas que ela focou para permanecer com uma atitude positiva. Correr era sua paixão e tinha planejado usá-la como forma de terapia.

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— Oh, como eu sei que quer. Posso ver quando corre. — Parou na entrada e desligou o carro. — Sempre há uma habilidade para algo. Muitas pessoas pensam que a pista é somente correr, mas não é só isso. Trata-se de saber quando é o momento de apertar e quando terá que esperar. Você tem isso Sarah. Vi desde a primeira vez que vi sua substituição. Sorriu com verdadeiro orgulho, como se fosse seu irmão mais velho. A fazia se sentir bem. Seu antigo treinador no Flagstaff havia dito o mesmo. Lhe sorriu. — Obrigada. — Ouça. — Ele esperou até que Sarah voltasse a olhá-lo. Sua expressão tinha mudado. Novamente, tinha cara de treinador preocupado. — Eu tenho um irmão que entrou e saiu da prisão, Sarah. Não há nada por que se envergonhar. Levou tempo para entender que o que ele fez, não reflete na pessoa que sou. Sarah pensou nisso. Ela nunca sentiu vergonha de sua mãe, mas só de pensar que alguém falasse mal dela a enfurecia. Quanto menos gente soubesse, menos arma teriam contra ela. Sarah assentiu com a cabeça. — Sei. Mas há pessoas que nunca poderão entender. Eu nem sequer entendo. — Sarah se voltou e ficou o mais cômoda que pôde sem mover o tornozelo. — Tudo o que sei é que, por anos, esteve pegando dinheiro de seu chefe. Ofereceu devolvê-lo. Eu nem sequer tinha ideia de que podia ir a prisão por isso. Pensei que, por ser mãe

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solteira, poderiam ter aceitado que pagasse e lhe dar liberdade condicional ou algo assim. O treinador Rudy lhe escutou em silêncio, sem interrompê-la. Também virou ficando de costas para porta, ficando também um pouco mais cômodo. Sarah lhe contou como tinha planejado retornar ao Arizona e terminar a preparatória em sua antiga escola. Logo, contou sobre a visita a sua mãe e como, depois de tudo, foi que retornou à Jolla. O treinador nunca lhe deu a impressão de ter pena dela ou de estar julgando. Mas escutou cada uma de suas palavras. Esperou que tivesse terminado, respirou profundamente e sorriu novamente. — Não pensei que pudesse sentir mais respeito por ti do que já sentia. É muito madura e forte para a idade que tem. Muitas garotas de sua idade teriam achado que isto fosse o fim do mundo. Mas o tomaste com muita graça. Nunca teria imaginado que estava passando tudo isto. Sarah esboçou um leve sorriso. — Sabe? Esta é a primeira vez que falei sobre minha mãe desde que está na prisão e não chorei. Sinto-me bem. — É porque já quase terminou. Está quase acabando, Sarah. E tem feito um trabalho estupendo. Só uma coisa, a próxima vez que vir sua mãe, diga a alguém. Tenho certeza que não acredita que é grande coisa, mas se algo te acontecesse, poderiam chegar a passar quase vinte e quatro horas antes que alguém soubesse. 375


Sarah tomou nota mentalmente. Sentia-se realmente bem logo depois de ter falado com o treinador. Encharcou seu tornozelo em água morna enquanto falava com Sydney essa noite. Para sua surpresa, ele não estava comovido como ela estava, sobre a conversa com seu treinador. — Não é esse que Angel chama de pervertido? Só ouvir seu nome era suficiente para deixá-la deprimida e franziu o cenho. — Sim, mas também diz que você é meu namorado. Qual é o ponto? — Só estou dizendo que é um pouco estranho que ele te levasse para casa, ou não? — E o que queria que fizesse? Eu não podia caminhar. — Sarah tentou mover um pouco o pé, em seguida, se arrependeu. — Ouça, 'olá'... podia ter ligado para alguém. — Por que? Ele podia me trazer e foi muito mais rápido. — Sarah não podia acreditar que Sydney estivesse falando assim. — Porque talvez tinha uma equipe cheia de meninos esperando para ter sua aula. Sarah não respondeu a isso. Estava ficando um pouco incômoda. — Olhe Lynni, eu não sei, mas a maioria das vezes, quando há rumores assim sobre os professores ou treinadores, há algo de verdade nisso. Talvez alguém adicione alguma coisa para fazer a intriga maior, 376


mas se olhar a fundo, os rumores começaram por causa de algo verdadeiro. Não, de jeito nenhum. O treinador Rudy nunca tinha sido outra coisa mais que cortês e encorajador com ela. No que lhe consentia, as pessoas que começam esses rumores não são mais que uns idiotas. Syd lhe fez prometer que tomaria cuidado, mas ela sabia que não havia nada com que se preocupar. O treinador Rudy não era nenhum pervertido.

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Capítulo Vinte e Seis Ver Sarah foi pior do que Angel havia imaginado. Foi completamente inesperado e na verdade, não sentia-se preparado para enfrentar isso. Ficou sentado na sala de aula esse primeiro dia por quase vinte minutos antes de sair pela porta de trás. Esteve quase a ponto de voltar para casa, mas pensou melhor e passou no escritório do conselheiro e trocou todo seu horário. Não lhe importou em que aulas ficaria, contanto que não tivesse que vê-la diariamente. Isso o mataria. Até agora, ele fez todo o possível para evitá-la. Sofia lhe disse na primeira noite, que tudo o que Sarah tinha comentado é que tivera uma mudança em seus planos, mas que isso era temporário. Que ainda iria ao Arizona. Mas ainda não sabia data. Sofia não gostava que Angel não tivesse a intenção de reconciliar-se com Sarah e muito menos de voltar a sair com ela. Toda a semana tinha sido um pesadelo. No mais, tratava de não pensar em Sarah, mesmo não faltando os estúpidos intrometidos que lhe perguntavam a respeito dela. Parecia que toda a maldita escola estava falando disso. Para piorar, Dana estava atrás dele de novo. Convenientemente confundiu sua breve saída para o café como um convite para retornar a sua vida. Havia tornado a abraçá-lo cada vez que o via. E ele sabia que

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Dana estava por trás de todos os rumores que se espalharam rapidamente de que Sarah o tinha enganado. O fim de semana foi tranquilo e finalmente houve um par de dias sem que ninguém lhe perguntasse a respeito de Sarah. A segunda-feira passou muito rápida, mas Angel se perguntou se já tinha superado a sensação de tensão que teve todo o dia, pela preocupação de vê-la novamente. Essa noite fez exercícios com Alex no pátio de trás. Justamente quando acabavam de terminar, Sofia entrou com uma garrafa de água. Angel se deitou nos bancos para descansar. — Sarah se machucou hoje durante a corrida. — Sofia se sentou em uma das cadeiras do pátio. Angel se sentou. — Ainda está aqui? — perguntou Alex. — Ainda. — Sofia virou-se para Angel. — Ninguém lhe disse que Sarah ainda não foi? Angel encolheu seus ombros. Em sua mente podia ver Sarah com o pé machucado. — Não me diga! — disse Alex sorrindo. — Por isso estava tão tenso durante todo o fim de semana. Angel o ignorou. Sofia não tinha afastado a vista dele. Contudo, não podia permitir-se perguntar nada sobre Sarah. Mas acabou que não aguentou. 379


— Torceu o tornozelo durante uma das corridas. Machucou-se bastante. O treinador Rudy teve que carregá-la até o carro. Alex limpou o suor de uma de suas sobrancelhas e riu. — Aquele pervertido? Angel tinha a sensação de que o fato de Sofia lhes contar não fora sem razão. E se a razão era incomodá-lo, estava funcionando. — Ao seu carro? — Angel tratou de não parecer tão aborrecido como na realidade se sentia. Sofia começou a beber de sua água e olhou para Angel. Quando terminou, calmamente tampou a garrafa antes de responder. — Bem, sim, ela não iria caminhar até sua casa. — Ele a levou para sua casa? — O entusiasmo perplexo de Alex não estava ajudando Angel. Tentava arduamente manter-se calmo. Tinha a sensação de perceber o que Sofia pretendia. Mas ainda que fosse certo, não importava que ela se propunha. Ele continuava indignado. — Sim, por isso cheguei em casa cedo. Suspendeu o resto da aula de ginástica. Alex sentou-se, gargalhando. — Ai Deus! Isto só está ficando melhor. Quer dizer que agora sai com o treinador? — Cale-se, Alex. — Finalmente Angel reagiu. 380


— Sim. — Interveio Sofia. — Assim é que começam os rumores. Foi suficientemente amável para levá-la para sua casa e de repente, já andam saindo? — Quem sabe. Este tipo está sempre preparado. Conheço algumas garotas que na verdade, sim, saíram com ele. — Podem prendê-lo, idiota. Pode perder o emprego. — De repente, Angel estava defendendo as intenções do pervertido? — Não — disse Alex rindo. — Ele sabe o que faz. Sarah já fez dezoito, não? Já é maior de idade. Angel começou a se perguntar se Alex e Sofia não estariam juntos nisto. Os dois pareciam muito sintonizados durante a conversa. De repente, levantou-se. — Sarah não faria isso — disse Sofia e adicionou — além disso, ainda não superou Angel. Angel parou e olhou para Sofia. — Ela disse isso? A expressão de Sofia murchou. — Não, mas... — Mas nada. — Angel caminhou na frente dela. — Ela vai para o Arizona, porque é onde ela quer estar, Sof. O que eu não sei é por que diabos ela está demorando tanto. — Sabia que seu amigo Sydney tem uma namorada? 381


Angel parou, mas não virou para ela. — Isso é verdade? — Com todos os malditos rumores que se espalharam, já não sabia no que acreditar. — Sim e é sério. Sarah passou o Natal com eles — Sofia foi até ele para encará-lo. A expressão de Sofia era de esperança. — Isso muda as coisas? Angel pensou por um momento e a imagem que finalmente tinha deixado de lhe atormentar lhe apareceu de novo. O vestido, esse maldito vestido que usou para Sydney na noite em que mentiu sobre onde estava. E a forma como se arrumou. Nunca a tinha visto assim anteriormente. Angel apertou os dentes. — Não. Tomou um longo banho e pensou em tudo o que Sofia lhe dissera. Inclusive, se passasse por cima da questão do vestido, nunca estaria satisfeito com Sarah distribuindo tanto afeto para outro cara. Nunca.

*** Sentado em seu carro, Angel esperava que Sofia terminasse a aula de ginástica. Chegara cedo e de onde estava estacionado, tinha uma vista perfeita dos degraus. Mascava chicletes lentamente como uma técnica para acalmar-se quando viu Sarah com muletas subindo os

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degraus e sentando-se. Tinham se passado quatro dias desde que se machucou e pelo que via, não tinha melhorado. Esta era a primeira vez que a tinha visto em toda a semana. Ele pegava Sofia todos os dias, exceto na segunda-feira quando saía cedo, mas Sarah não tinha estado ali até agora. Ainda a distância, não podia deixar de olhá-la. Estava com seu cabelo solto. O vento o tinha revolto e ela estava tirando as mechas do rosto. Sentou-se ali, olhando a aula de sua equipe sem ela. Angel pensava em quão diferente seriam as coisas se Sydney não existisse. Sem dúvida, estaria com ela sentada, tirando as mechas do rosto e beijando-a em cada momento. Algo se acendeu quando se deu conta de que o treinador pervertido saía do ginásio. Seu olhar foi imediatamente para Sarah. Escreveu algo na sua prancheta, deu uma olhada na equipe e voltou a olhar para Sarah. Angel respirou fundo quando o treinador Rudy começou a caminhar em direção a ela. O treinador sentou-se ao lado de Sarah e imediatamente suas mãos estavam sobre seu tornozelo. — Agora está ansioso doutor? — Angel disse para si mesmo. Falaram e inclusive riram. O treinador parou algumas vezes para dar instruções ao resto da equipe que estava praticando no campo, mas nunca saiu do lado de Sarah. Angel começou a socar brandamente a parte inferior do volante uma e outra vez, tratando de não perder a paciência. Mas o maldito 383


treinador não deixava de falar com Sarah desde que foi sentar a seu lado. Sarah sacudiu a cabeça para tirar o cabelo da cara e logo o treinador pegou uma mecha de cabelo e colocou atrás de sua orelha. Angel cuspiu o chiclete pela janela e desceu do carro. Respirou fundo. O ar estava frio e ajudou a esfriar um pouco seu ânimo, muito pouco. Encostou-se em seu carro e fixou sua vista no treinador todo o tempo. Não o faça. Apenas fique aqui e espere pela Sofia. Ela já não é problema seu. Angel olhou seu relógio. Não podia deixar de notar o flagrante desprezo do treinador pela equipe. O resto da semana, quando ia buscar Sofia, ele estava lá embaixo com eles treinando-os duramente. Mas agora, estava tão ocupado com Sarah, que apenas olhava para a equipe e a aula já estava por terminar. O treinador disse algo que fez que Sarah rir muito alto. Angel olhou ao redor para ver se alguém mais tinha notado. Não sabiam que as pessoas começariam a falar? Ninguém pareceu notá-lo, mas quando o treinador voltou a pôr sua mão no tornozelo de Sarah, Angel começou a caminhar. Não tinha ideia do que ia dizer ou fazer e inclusive, a voz em sua mente não pôde detê-lo. Angel não tinha feito segredo de sua relação com Sarah o semestre passado e o treinador os viu juntos muitas vezes. Talvez, ver Angel fizesse com que esse sujeito se retirasse. 384


Angel pensou a caminho dos degraus quando o treinador chamou a todos. Esse momento foi quando seu olhar se encontrou com o de Sarah. O sorriso em seu rosto se apagou quando o olhou e se virou para o outro lado. Angel começou a caminhar mais lentamente nos degraus, já que o treinador estava indicando em que áreas tinham que trabalhar. Devia estar de brincadeira. Passou toda a aula praticando com Sarah e agora queria dar-lhes um sermão? Angel chegou ao fim dos degraus no momento em que o treinador terminou. Todo mundo se dispersou e Sofia aproximou-se para encontrá-lo. Sarah estava lhe dando as costas enquanto agarrava suas muletas. O treinador a sustentou pelo braço quando Sarah perdeu o equilíbrio. Angel se concentrava em manter a calma. Sarah riu quando o treinador titubeou por ter perdido o equilíbrio e por pouco, voltou a perdê-lo. — Vamos Sarah, está me matando — disse o treinador brincando. — Agora sim, consegui. — Sarah ria conforme ficava em pé. Continuava dando as costas a Angel. Não tinha se dado conta que estava tão perto e o treinador não o tinha visto entre tanta gente. — Quer que lhe de carona até sua casa? — perguntou o treinador. — Eu posso te levar. — Não é necessário, treinador. Ela tem quem a leve. 385


Ambos, Sarah e o treinador, viraram-se para vê-lo. Angel não sentia que estava dirigindo-se a um treinador de sua escola. Este tipo era hábil e Sarah já era maior de idade. O treinador fitou-o como a um rival e logo olhou novamente para Sarah. Sarah olhou para Angel. — Verdade? Engraçado eu não sabia. Sua atitude o surpreendeu, mas não se retratou. — Sim, eu levo você para casa. Sarah desceu dos degraus. As muletas faziam cada passo mais ruidoso que o normal. O treinador estava atrás dela, cuidando de seus passos. — Prefiro caminhar. — Seus olhos estavam acesos. Mas Angel notou uma ligeira quebra nesse ardor quando seus olhares se encontraram e aproveitou a vantagem. — Por que? Sarah olhou para outro lado rapidamente e logo voltou a olhá-lo novamente. O coração de Angel se acelerou. Ela estava tão perto dele que teve que lutar consigo mesmo para não tomar seu rosto em suas mãos e beijá-la como tinha feito antes tantas vezes. — Nem sequer falou comigo desde que retornei. — Parou antes que suas emoções a traíssem. Seu olhar rígido vacilou. E quando Angel viu seus lindos olhos chorosos, soube que tinha cometido um grande engano. — Nem sequer quer saber por que estou aqui? 386


Angel entrou em pânico ao ver que as lágrimas escorriam pelo rosto. Isto era a última coisa que podia imaginar que aconteceria. Não pôde pensar em nada mais que em sacudir a cabeça. — Sinto muito. — Foi a única coisa que pôde dizer. Sarah ficou vendo sem poder acreditar e se apoiou em sua muleta para limpar as lágrimas e em um instante, passou de sensível a resolvida. — Bom, eu também sinto muito. Virou-se para Sofia. — Nos vemos na segunda-feira. O treinador Rudy se afastou um pouco, mas ainda estava próximo. — A oferta ainda está de pé? — É obvio — respondeu o treinador sorrindo. — Fica no caminho da minha casa. Angel apertou o maxilar, mas não foi atrás dela. O treinador virou-se casualmente e deu a Angel uma última olhada. Havia algo em sua forma de sorrir quando alcançou Sarah e pôs sua mão em seu ombro conforme caminhava. Angel estava certo desta vez. Rudy o estava desafiando.

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Sarah pensava que não havia nenhuma parte de seu coração que faltasse quebrar. Estava tão magoada consigo mesma por ter chorado. Por que Angel ainda tinha tanto poder sobre ela? Foi patética a forma que todo seu corpo entrou em um frenesi assim que o viu. Estar tão perto dele teve um efeito deprimente nela. Não pôde aguentar o que estava sentindo, mas o óbvio desprezo de Angel por ela era agora inegável. Nem sequer lhe importava, porque ela ainda continuava aqui. Tratou desesperadamente de ir para casa. Falar com o treinador Rudy de sua mãe era uma coisa, mas falar com ele a respeito de Angel seria algo muito diferente. Sydney seria o primeiro a criticar isso. Sarah permaneceu em silêncio a maior parte do caminho e o treinador finalmente lhe perguntou. — Está bem? Sarah assentiu com a cabeça, mas não disse nada. — Não tem que me contar nada — disse. — Só espero que saiba que apesar de sentir neste momento que nunca conseguirá, eventualmente o superará. Prometo-lhe isso. Sempre sabia o que dizer exatamente. Sarah pensava que isto era parte de ser treinador. No campo, quando ela se questionava, ele sempre sabia quando lhe dizer algo que a fazia sentir-se melhor. Mas inclusive agora, fora do campo, suas palavras eram reconfortantes. — Verei novamente a minha mãe amanhã.

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Chegaram em frente a garagem e o treinador desligou o carro. — Verdade? Quando? — No domingo, mas vou amanhã. — Já disse a alguém? — perguntou-lhe sorrindo. — Bom, estou dizendo agora. — Então, ninguém mais sabe? Ele se encostou contra a porta por um momento e parecia muito mais jovem do que usualmente aparentava. A forma que brilhava recordou-lhe Angel, quando estavam acostumados a estacionar em seu lugar e namorar. As palavras do Sydney lhe vieram à mente. Os rumores começam com coisas válidas. — Tem algo errado? Sarah negou com a cabeça. — Não, sinto muito. Minha mente estava em outro lugar. O que me dizia? Sentiu-se um pouco tola. Ele parecer mais jovem não queria dizer nada. — Perguntava se eu sou a única pessoa que sabe que você vai? Sarah riu. — Não, todo mundo sabe, inclusive minha mãe sabe.

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— Vai novamente de ônibus? — Sim, meu amigo me pegará ao chegar. Franziu o cenho. — É um longo caminho para que vá sozinha. Sua tia ou sua prima não podem acompanhá-la? Havia algo no treinador Rudy. Talvez fosse, porque nunca tivera uma figura paterna ou irmãos mais velhos, mas suas palavras amáveis e sua preocupação a enterneceram. Gostava. — Valéria enjoa em viagens longas, especialmente de ônibus. E minha tia tem que trabalhar. — Sarah sorria. — Mas, estarei bem. A outra vez dormi quase todo o caminho. — Ofereceria levar você, se não tivesse que trabalhar. É um passeio magnífico. E — enfatizou —nunca estive no Gran Canyon. Sarah enrugou o nariz. — Trabalha nos fins de semana? — Não em todos os finais de semana. Sou árbitro de futebol. — Verdade? — Era tão alto que não o imaginava como jogador de futebol. — Então joga também, correto? — Bom, jogava, antigamente — disse rindo. — Agora, sou apenas juiz. Sou muito velho para jogar. Mas mesmo assim, é divertido.

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— Não é tão velho — disse Sarah arrependendo-se no mesmo instante que isso saiu de sua boca. Foi inapropriado. — Poderia ter jogado na universidade, mas me dediquei aos livros e me graduei antes. Não podia esperar para começar a ensinar. Sorriu novamente e de novo Sarah teve a sensação de que não estava conversando com um professor ou treinador. Sentia-se tão à vontade, como quando falava com Sydney. — Então, há alguma razão em particular pela qual vai ver sua mãe? Ou só porque quer? Sarah assentiu com a cabeça. — Sim, depois de vê-la a última vez, me dei conta que devia ter feito isso antes. A única razão pela que não ia, era porque quando foi presa, disse-me que não queria que fosse. — Bom, possivelmente a próxima vez que você for, eu possa te levar. Sarah sabia que isso poderia soar estranho a outros. Talvez sua longa história com Sydney a tenha feito acreditar que poderia existir gente que se preocupasse com alguém sem ter outras intenções. Sarah decidiu que ele era uma boa pessoa. Mostrou um verdadeiro interesse por ela e confiava nele. Antes que pudesse responder, o treinador se ajeitou um pouco em seu assento. — Diga, alguma vez você correu no Canyon? 391


— Sim, as pistas são estupendas, eu adorava treinar lá — disse Sarah sorrindo, recordando de todas as vezes que ela correu com Sydney. — Alguma vez esteve no Monte Solidão? Sarah sentiu um vazio no estômago ao lembrar-se dos piqueniques que ela e Angel fizeram lá e as outras vezes que retornaram depois, supostamente para escalar, mas sempre acabavam recostados em um cobertor. Sarah assentiu com a cabeça como pôde. — As pistas ali também são espetaculares. Às vezes, levo os meus estudantes. Falando de treinamento. Talvez, quando seu tornozelo estiver melhor, possa nos acompanhar. — Sim — disse-lhe Sarah, mordendo o lábio. — Parece bom. — E na verdade soava bem, retornar ao parque seria algo agridoce e como correr sempre tinha sido terapêutico para ela, já podia ver-se perdendo em seus pensamentos nesses lindos atalhos. Quando conversou com Sydney essa noite, ficou surpresa de sua atitude. Pensou que ficaria furioso por Angel e em lugar disso, se colocou no papel de advogado do diabo. — Então, não gostou que o pervertido levasse você para casa? Esse é Angel. Na verdade, você se surpreendeu com sua atitude? — Está bem, Sydney, antes de mais nada deixa de chamá-lo de pervertido. — Sarah estava caminhando com cuidado por seu quarto. Seu tornozelo estava muito melhor. — E segundo, esse não é o ponto. O ponto é que Angel espera que esqueça tudo e suba de um salto em 392


seu carro sem mais, sem nem sequer um simples 'olá' ou 'um como vai?' Na verdade acha que sou uma idiota? Ela ponderou o que disse por um momento. A quem queria enganar? Apenas podia acreditar que tinha rechaçado a oportunidade de que ele a trouxesse para casa. — Lynni, quantas vezes viu Angel comportar-se excessivamente machista? Ele é impulsivo e voluntarioso — disse Sydney rindo. — A última coisa em sua mente seriam as formalidades. Estou certo que perguntaria como você estava dentro do carro. — Isso não é ao que me referia. Sydney riu. — Sei, sei. Estou brincando. Está bem, não soube o que dizer sobre isso. Mas, não é isso o que sempre tem feito? Reagir? Muito no fundo, suas intenções eram honoráveis, não? Deixou de lado tudo que passou, para afastá-la de uma situação de possível perigo. — Perigo? Isso sim que é ridículo. O treinador Rudy é inofensivo. — E o que é o que o treinador Rudy pensa de tudo isto? Sarah sabia que Sydney não ia gostar de todo o tempo que o treinador estava dispensando para conversar com ela, em lugar de somente tê-la deixado em sua casa. Mas já tinha aprendido a lição das verdades pela metade. Ela não ia mentir para não voltar a discutir de novo.

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— Não perguntou e eu não lhe disse. Apenas me disse que conseguiria superar Angel. — E por que ele disse isso? — Não sei. Acredito que viu como estava triste e possivelmente pensou que me sentiria melhor. Sarah sentou em sua cama e moveu seu tornozelo em círculos no ar. Estava definitivamente melhor. — Contei a ele que verei de novo a minha mãe. — Deixe-me adivinhar: ofereceu para levar você. — Sydney começou a rir. Sarah, incapaz de acreditar que Sydney estava rindo dela, não lhe respondeu. — Lynni? — Hmm? — Está tirando sarro de mim, né? — Só disse que seria uma viagem muito longa para que eu fosse sozinha, e que... — Ai, meu Deus, este cara é demais! — O tom de Sydney mudou de brincalhão a exasperado. — Me diga, por favor que está percebendo, Lynni. — Não. — Insistiu ela. — Porque não é o que você está pensando. Perguntou-me se minha tia podia me acompanhar. Pensa 394


que é uma viagem muita longa para ir sozinha. Tudo o que ele disse é que, se não tivesse que trabalhar, ele se ofereceria para me levar. Mas como tem, não pode. — Lynni. — O que? — Prometa uma coisa. — O que? Sarah estava frustrando-se. O treinador Rudy a tinha ajudado a esquecer um momento duro em sua vida e agora, Sydney estava confundindo as coisas. — Sabe aquela voz que lhe acalma e diz para não ser paranoica? — Sim? — Esqueça. Daqui em diante, qualquer coisa a respeito deste tipo, questione. Certo? Sarah estava tão cansada que não queria continuar discutindo com Sydney. Disse-lhe que concordava, embora soubesse que não havia razão para se preocupar.

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Capítulo Vinte e Sete Jogar bilhar com os rapazes sempre tinha ajudado Angel a relaxar. Esta era a primeira vez que Eric aparecia depois da festa de Ano Novo. Alex e Sofia estavam trabalhando juntos no restaurante, mas chegariam logo em casa. Angel não estava seguro se ter Eric aqui era uma boa ideia. Falou brevemente com Alex a respeito de não culpar Eric, mas Alex continuava com a ideia de que não o deixaria perto de Sofia se ninguém mais estivesse ali. Angel esperava que isso não significasse que faria uma cena se todos estivessem aqui. Este foi outro lento e amargo fim de semana para Angel. Sua mente estava na mesma, o que já estava se tornando quase irritante. Estar tão perto de Sarah na sexta-feira fez com que percebesse que não estava nem um pouquinho perto de superá-la. O ressentimento que Sarah tinha por ele o surpreendeu. Ele foi o enganado. Sarah esperava que ele aceitasse outro cara em sua vida? Isso não ia acontecer. Mas estar tão perto dela, pela primeira vez desde aquilo, o tentou a aceitar ficar com ela de qualquer jeito... Entretanto, isso era melhor. Ter só que lutar com o fato dela estar fora da Califórnia seria bastante difícil. Mas saber que ela estaria com Sydney o faria impossível. Não havia jeito disso funcionar. E como se as coisas não fossem suficientemente más, a tensão se elevou ao máximo com esta coisa do treinador. Esperava que Sarah soubesse que não devia cair na merda deste cara. O olhar de suficiência na cara do treinador era agora a imagem que Angel tinha gravada na 396


mente e aceitou o desafio. Professor ou não, Angel não teria escrúpulos em acabar com ele. Eric tinha acomodado as bolas de bilhar. — Comece a tacar, Angel. Angel se reclinou e fez sua jogada. As bolas se espalharam violentamente e uma delas voou fora da mesa. Romero riu. — Calma, matador. — Ouça amigo — Eric se agachou e recolheu a bola até onde tinha rodado. — Qual é o problema? Angel os ignorou e se preparou para tacar novamente. Sofia e Alex entraram pela porta do lado. Angel notou que Eric ficou tenso. A bola que lhe deu entrou na caçapa e levou um momento para pôr giz em seu taco. Sofia caminhou para eles em lugar de ir para a porta da cozinha e Alex a seguiu. Sofia sorria despreocupadamente. Alex se sentou em um dos bancos do bar, entre Eric e Sofia. Para alívio de Angel, Alex cumprimentou Eric, mas apenas com um movimento de cabeça. — Sarah me mandou uma mensagem. — Sofia se centrou em Angel, mas não tirava o olho de cima de Eric. Angel fingiu não ter interesse e caminhou ao redor da mesa de bilhar para ter um melhor ângulo. 397


— Ah sim? Qual? — Estava preocupada de que estivesse chateada por causa de sexta-feira. Angel fechou seus olhos por um segundo. Esta não era uma conversa que desejaria ter na frente dos meninos. Era como lhes dar munição. Mas queria saber se Sarah disse algo mais. Continuou fazendo suas jogadas sem responder a Sofia. Planejou ficar todo este tempo sem perguntar para Sofia de Sarah e não ia começar hoje. Sofia pôs sua mão em seu traseiro, obviamente incomodada por Angel não estar mostrando interesse. — Disse que gostaria, mas não pôde e adicionou uma cara triste. Angel levantou a vista para a Sofia e finalmente cedeu. — Não podia? E que diabos quis dizer com isso? — Não sei. Foi tudo o que ela disse. Não respondi, porque disse que tinha que ir. — Sofia foi para a porta da cozinha. — Seu tornozelo está melhor, no caso disso te interessar. Angel olhou para os meninos e parou olhando Alex, quando o viu sorrir de orelha a orelha. — O que? Alex virou para ver se Sofia estava dentro da casa. — Contaram-me sobre sexta-feira. Angel fez um movimento com seus olhos. 398


— E? — De modo que as coisas estão esquentando entre Sarah e o treinador pervertido. Disse para você que ele era um tipo escorregadio. — Sarah e o treinador Rudy? — Perguntou Romero. — Não diga? — Só lhe deu uma carona até sua casa. — Angel agarrou o taco um pouco mais forte. — É sua vez. — Duas vezes — disse Alex. — E ninguém mais a levou. Valéria disse que ficaram conversando um momento na garagem. Na noite de sexta-feira, ficou mais tempo do que da primeira vez. Angel ficou olhando para Alex. Uma nova tensão se apoderou de seus músculos. — E o que foi que Sarah disse sobre isso? Alex ainda tinha um estúpido sorriso em sua cara. — Valéria lhe disse que parecia um pouco horripilante, mas Sarah não pensa assim. Diz que ela se sente realmente a vontade perto dele. — Alex sacudiu a cabeça. — Vou lhe dizer. O treinador está conquistando-a. Algo queimou as vísceras de Angel. De repente, Sarah no Arizona com Sydney soava ideal. Por que diabos não estava de uma vez lá neste momento? — Sabe a respeito dele, Angel? — Parecia que Eric era o único que demonstrava estar preocupado. 399


Angel assentiu com a cabeça mas franziu o cenho ao recordar como Sarah não tinha concordado cada vez que tinha advertido ela que esse tipo era um pervertido. Ela tinha suas próprias ideias sobre esse sujeito e Angel sabia que essa opinião era favorável. Mas como Sofia, não dava crédito aos rumores. — Escutei que deixou a escola aonde ensinava antes, já que alguém o acusou de violação — disse Eric. — O que? — Angel sentiu que o cabelo arrepiava em sua nuca. — Pensei que era um professor novo. Que vinha diretamente da Universidade. Alex disse: — Não, não é tão jovem quanto aparenta. — Quantos anos tem? — Algo como vinte e seis ou vinte e sete. — Alex tomou uma garrafa de água da geladeira pequena e foi para a cozinha. — Eu já tinha escutado essa história da violação — disse Romero e se agachou para tacar. Depois acrescentou encolhendo os ombros. — Mas ouvi tanta merda a respeito dele, que quem sabe o que foi que realmente ocorreu. Angel sentou-se em um dos bancos do bar, pela primeira vez interessado no que Romero dizia. — Qual é essa história?

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Romero olhou Eric e logo ficou de pé sustentando seu taco reto e na frente dele. — É diferente cada vez que a escuto, mas basicamente houve alguém que denunciou esse idiota, seja por violação ou intento de violação. — Sentou-se para escutar algo estranho. — Não houve evidência suficiente, de modo que retiraram as denúncias. Mas acredito que todo mundo estava tão enfurecido com isso, que ele procurou transferir-se para outro lugar. E por sorte, para A Jolla, ficamos com ele. Angel se perguntava por que nunca ouviu essa história, ou talvez tenha escutado. Possivelmente nunca deu atenção aos detalhes. Tudo o que sabia com certeza, é que o tipo tinha fama de ser muito amistoso com as garotas. E pelo que Angel tinha visto na sexta-feira, já não havia dúvida em sua mente, ele estava conquistando Sarah.

***

A viagem de Sarah para ver sua mãe foi perfeita. Tê-la visto foi tão emocionante quanto a primeira visita. Mas as coisas pareciam melhores. Sua mãe não tinha ido até a corte, mas os advogados estavam ainda mais otimistas a respeito das oportunidades para que saísse antes do tempo e Sarah pôde apreciar a mudança no aspecto de sua mãe. Continuava com olheiras, mas eram menos pronunciadas que

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da outra vez. E além disso, havia um brilho em seus olhos que fez Sarah sentir-se muito esperançosa. Antes de ir, sua mãe lhe deu algo em que pensar seriamente. — Sarah, quero que saiba que eu sei que você passou por muitas coisas. Quando sair daqui, você decidirá onde quer viver. Já não tenho trabalho aqui em Flagstaff, mas se aqui é onde quer estar, encontrarei uma forma de fazer com que funcione. Mas se quiser ficar na Califórnia, sua tia se ofereceu para que fiquemos com ela até que possa me pôr em pé novamente. Pense e logo me diga. A escolha parecia mais que óbvia. O único motivo que tinha para ficar em La Jolla já não queria nada com ela. Em Flagstaff, ao menos, tinha Sydney. Passou todo o sábado com Syd e sua família. Carina não apareceu lá. Sydney lhe dissera que estava ocupada e Sarah mudou o tema pela paz. No domingo depois de visitar sua mãe, Sydney a levou para a estação de ônibus e a deixou lá. Cada vez que retornava ao Arizona, preocupava-se que as coisas ficassem diferentes entre Sydney e ela, mas como sempre, parecia como se nunca tivesse ido.

***

Talvez tenha sido a viagem do fim de semana ou o fato de que não tivesse se deslocado por perto de uma semana, mas Sarah sentiu-se 402


fora de forma durante sua primeira prática de corrida. O treinador Rudy tinha fama de levar as coisas com calma e tinha enfaixado o seu tornozelo muito apertado antes de deixá-la correr. Começava a sentir o pé adormecido. Diminuiu o ritmo até caminhar e procurou o treinador, mas não o viu. Tinha sido inflexível sobre o uso da faixa, por isso Sarah não queria tirá-la. Mas ela realmente estava incomodada, assim foi ao ginásio para buscá-lo. Não o viu em nenhum lado, caminhou para seu escritório onde tinha enfaixado o pé. A porta de seu escritório abriu justamente quando ela chegava e uma garota em sua roupa de treinadora de torcida de beisebol quase se choca contra ela, ao sair. — Sinto muito — disse-lhe a garota com um sorriso nervoso. — Tudo bem. A garota se afastou rapidamente. Sarah a olhava conforme ela corria, arrumando sua saia. Abriu a porta de seu escritório. O treinador Rudy tinha uma prancheta em uma de suas mãos enquanto vestia a camisa com a outra mão. — E aí, Sarah, como foi a corrida? Seu zíper estava aberto até a metade e Sarah ruborizou, esperando que ele não se desse conta que ela estava olhando ali. — Acredito que a faixa está muita apertada. Está deixando o pé dormente. Olhou para baixo em direção a seu pé.

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— Está bem, sente-se. Sarah se sentou na cadeira que estava junto a sua mesa e o treinador pôs a prancheta ali. — Passe o pé para cá. Sarah subiu a perna e ele a apanhou com suas coxas. De repente, Sarah sentiu-se vulnerável. Desamarrou os cadarços e sorriu ao tirar o tênis. — Deu a volta por toda a pista? — Só uma vez — disse Sarah — Mas caminhei no final. Uma vez tirada a atadura, ele massageou o tornozelo e levou suas mãos para a panturrilha. — Sente que está melhor? Sarah assentiu com a cabeça. Tinha que admitir que se sentia muito melhor. Moveu seu tornozelo em movimentos circulares e depois para frente e atrás. Sarah elevou a vista e viu quão comprometido estava trabalhando em seu tornozelo. O treinador a enfaixou novamente de forma meticulosa. E Sarah achou-se tola por haver sentido certa angustia desnecessária. Já estava se deixando influenciar por Sydney e todos os estúpidos rumores. — Me diga se estiver muito apertado. Quando acabou de enfaixar o seu pé, colocou a meia três-quartos e o tênis e amarrou os cadarços. 404


— Pare. Sarah parou. O espaço entre a cadeira e a escrivaninha era muito apertado. Quando ficou de pé, suas coxas tocaram as dele e seu rosto estava suficientemente perto do dele para sentir o aroma do chiclete em sua respiração. Sarah foi para trás e quase perdeu o equilíbrio. Seu olhar e o do treinador se cruzaram por um segundo. — Cuidado — disse. Sarah sorriu, sentindo que ruborizava. Esta segunda faixa estava muito melhor colocada e Sarah pôde dar umas voltas antes que terminasse a corrida. Sentiu-se a mais tola por reagir como fez no escritório do treinador. Inclusive, seus pensamentos sobre a garota que tinha saído de seu escritório tinham sido sem razão. Sydney lhe disse que prestasse atenção em tudo, mas era muito injusto chegar a essas conclusões tão desagradáveis. O treinador Rudy tinha boa pinta e era uma pessoa agradável, no que dizia respeito a ele. E além disso, que necessidade tinha ele de envolver-se com garotas de escola preparatória? Viu Angel esperando perto de seu carro quando ela caminhava de volta ao vestiário e seu corpo reagiu da mesma forma. Concentrou-se em manter-se tranquila, mas seu coração acelerou e sabia muito bem que isso não tinha nada a ver com as voltas que tinha dado. Já sabia que, enquanto continuasse na Califórnia, nunca poderia superá-lo, nem por indício. Só poderia tratar de fazer seu melhor esforço para evitá-lo até que retornasse para Flagstaff. Mas era desagradável saber, como vêlo sozinho lhe afetava tanto. 405


Sarah estava quase nos armários quando escutou que alguém chamava por seu nome. Viu que o treinador Rudy vinha para ela. — Ouça, vi que estava muito bem lá fora. Não dói nada? Sarah negou com a cabeça e sorriu. — Não, nada de nada. Está como novo, treinador. O treinador olhou para baixo, para seu pé e logo a olhou aos olhos. — Olhe, no sábado iremos ao Monte Solidão. Quer vir? — Seus lábios mostravam um sorriso torcido. — Prometo que lhe darei um bom treinamento. A mente de Sarah acelerou pensando se tinha algum compromisso para o fim de semana. Mas correr nas pistas da montanha, olhando para o mar, soava como algo que precisava fazer. — Parece realmente bom. — Estupendo, pegarei você às dez horas. Traga água. — Com o fichário, bateu-lhe no traseiro e piscou um olho antes de ir. Sarah ficou imóvel por um momento e logo acordou. Muitos treinadores batiam nos seus jogadores no traseiro, inclusive nos meninos. Ela via isso o tempo todo. Já tinha deixado de tirar conclusões.

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Capítulo Vinte e Oito Na sexta-feira pela manhã, Angel sentou-se na cozinha para fazer a tarefa de Espanhol da noite anterior. Depois de trocar seu horário para sair de sua aula de física, encontrou-se de novo com a mesma professora de Espanhol do semestre anterior. Até esse momento, não tinha se incomodado. Tudo o que lhe importava era não ver Sarah diariamente. Agora, estava seriamente arrependido. A quantidade de tarefa que esta mulher dava era irreal. Alex estava preparando uma bebida de proteínas quando Sofia entrou. — Bom, papai já disse que se algum de vocês pode ir amanhã ao restaurante em meu lugar, eu terei a manhã para minhas coisas. — Eu vou — disse-lhe Angel, sem tirar a vista de sua tarefa. — E aonde vai? — perguntou-lhe Alex. Sofia colocou a cabeça na geladeira e disse algo que Angel não entendeu. — Onde? — perguntou-lhe novamente Alex. — Correr com a equipe. — Sofia serviu-se de um copo de suco de laranja. Angel levantou a vista. Sofia evitou olhá-lo. 407


— No sábado? — Sim. — Sofia pegou a torradeira e a ligou na tomada. Angel franziu o cenho. Sof estava se comportando de forma estranha. Desde que confessou seus sentimentos por Eric e estando tão determinada em falar com seu pai para fazer as coisas a seu modo, perguntava-se quanto tempo lhe faltava antes de começar a ser ardilosa. — Por que no sábado, Sof? Alex serviu-se da bebida que preparou no liquidificador e se encostou contra o portal da porta. — Seus treinamentos para tomada de tempo ainda não começaram, ou já? — Não é uma tomada de tempo. Apenas vamos correr nas pistas do Monte Solidão. — Ah, então é uma viagem de campo? — perguntou Angel, sentindo como se liberasse um pouco da pressão. — Não — Sofia pôs manteiga no seu pão torrado e falou dando as costas. — Bom, pois que demônios é? — perguntou Alex. Sofia exalou, mas não virou para encará-los. — O treinador levará alguns de nós para correr nas pistas. Isso é tudo. As sobrancelhas de Angel se arquearam. 408


— Irão no seu carro? — Nem a pau! — Alex franziu o cenho em direção da Sofia, mas ela seguia sem virar. — Sofia, o que eu disse a respeito de tomar cuidado com este tipo? — Angel ficou de pé. Finalmente Sofia virou-se. — Disse-me que não estivesse a sós com ele. E não estarei. Estarão outras pessoas da equipe. Sarah vai estar lá. Isso apenas conseguiu piorar o mal humor de Angel. — Então levará as montanhas um grupo de garotas? — Não sei. Sarah foi quem me disse. Eu pensei que se ela ia estar lá, estaria bem. Só vamos correr. — Esqueça. — O tom de Alex foi definitivo. — Mas por que? — Frustrada, Sofia levantou os olhos para o teto. —Vocês são tão irracionais. Meu pai disse que estava tudo bem. — Papai sabe que ele é um pervertido, Sof? — perguntou-lhe Angel. — Não comece. Estou certa que concordará conosco assim que falar com ele — disse Alex a caminho de fora da cozinha. — Não vai, Sof. Sofia olhou de forma exasperada para Angel. 409


— Não se incomode em ir amanhã ao restaurante. Estarei lá. — Jogou seu pão torrado no lixo e saiu da cozinha. Angel estava soltando fumaça. Que merda Sarah estava pensando? Lembrou o que Eric havia dito. Talvez suas advertências não tivessem sido suficientes. Se ele não tinha escutado os rumores a respeito de que o pervertido tinha sido acusado de estupro e já estudava há tempos nessa escola, talvez Sarah tampouco tivesse escutado nada. Seu único consolo é que ela não estaria lá a sós com ele. Sofia mencionou que várias garotas iriam. Esse tipo não se arriscaria a fazer nada estúpido depois de já ter sido transferido de escola e menos ainda com um grupo de garotas ao redor. Sarah estaria bem.

*** Sarah acordou tarde no sábado. Esperou até ontem para falar com Sydney sobre ir com o treinador ao Monte Solidão. E como esperava, Sydney não ficou emocionado. Conversaram até tarde. Fez as advertências usuais, mas no fim, acabou contente que finalmente ia sair com as amigas, mesmo que o treinador também fosse. De noite, o treinador mandou uma mensagem dizendo que três das garotas tinham cancelado, mas que havia outras garotas que iriam e seriam quatro no total as que iriam correr. Para Sarah pareceu bem, mas se sentiu incômoda quando Sofia disse que ela não poderia ir. Sabendo o que Angel pensava, especulou sobre o que ele estaria

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achando a respeito dela ir ao Monte Solidão. Ela se deu conta de como Angel olhava o treinador no dia em que se apresentou na aula. Acabava de sair do banho e estava se enxugando em seu quarto quando tocou seu telefone. Era o treinador. Sarah olhou pela janela enquanto respondia. — Já chegaram aqui? Não me dei conta que era tão tarde. O treinador riu. — Não, de fato estou ligando para ver se ainda quer ir, ou se deixamos para outra ocasião. — E por que não iria? — Ninguém ligou pra você? Sarah olhou seu telefone. Não tinha chamadas perdidas. — Não, ninguém me ligou. Ele ficou calado por um momento e depois falou. — Parece que seremos só você e eu. As outras duas cancelaram na última hora. Mas se não quiser, podemos fazer isto em outro momento quando todas possam vir. O estômago da Sarah se revolveu. Sabia o que Sydney gostaria que respondesse, mas se sentiu mal. — Eu, bom...

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— Está bem, Sarah. Podemos tentar ir na semana que vem com todo a equipe se isso faz com que se sinta mais cômoda. Sarah se sentiu tola. Ele poderia simplesmente tê-la pegado sem lhe dizer nada e não lhe dando nenhuma opção. E ela tinha esperado com ansiedade toda a semana por isso. — Não, está bem. Se ainda quer ir, eu também. — Tem certeza? Sarah sorriu, sentindo-se mais aliviada. — Sim, totalmente. Só me dê quinze minutos. Enquanto se vestia, Sarah repassou todas as possibilidades. Sabia que o treinador Rudy era inofensivo, mas algo deixava suas vísceras revoltas. Estava contente que Valéria e sua tia foram cedo às compras. Com certeza Valéria faria sentir-se mal por ir. A conversa de ontem à noite lhe retornou de repente à mente. A única razão pela que Sydney finalmente estava de acordo para ir, é que ia em grupo. E agora, de alguma forma, se sentia como uma mentirosa. Talvez isso fosse o que estava lhe incomodando tanto. Se não dissesse agora, isso lhe incomodaria o dia todo. Pegou o telefone e ligou. Já tinha aprendido uma boa lição sobre mentir e ocultar. Seu lema agora era, que não importava quão ruins estivessem as coisas, era melhor dizer a verdade cedo, que fazê-lo tarde. — Olá Lynni.

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— Sydney, não tenho tempo para falar. O treinador chegará a qualquer momento. Apenas queria que soubesse, hoje vamos somente ele e eu. Sydney não disse nada, mas depois escutou seu inconfundível tom de censura. — O que? — Todo mundo cancelou. Ligou-me para perguntar se adiávamos para outra ocasião, quando todas pudessem ir. — E por que não lhe disse que isso seria bom? — Sarah quase podia ver suas sobrancelhas franzidas. — Porque esperei por isso toda a semana e seria uma tolice não ir. Estaremos em plena luz do dia no parque. Do que terei que me preocupar? — Lynn. — De forma pouco usual levantou a voz. — Este não é o mesmo parque que tem muitas pistas abandonadas que pode caminhar milhas e milhas sem ver ninguém? Sarah suspirou. — Espero que não corramos nessas, Syd. Só liguei para que não se zangasse mais adiante, não para você se preocupar. Estarei bem, prometo-lhe isso. — E como foi que todas cancelaram? — Sydney fez uma pausa e logo em um tom mais alto disse: — Em primeiro lugar, está certa de que ele não planejou tudo isto? 413


— Quer parar? — Sarah viu o carro do treinador parar na garagem. — Por que planejaria, se me perguntou se eu queria adiar para outra data? — Talvez isso faça parte do plano. — Já chegou Syd, tenho que ir. — Não acredito que deva ir, Lynni. Sério, tenho um mal pressentimento. — Sydney, deixa de se preocupar, por favor. — Sarah mandou um par de beijos ao ar e desligou. O treinador esperou Sarah sem descer do carro. Sarah apareceu pela janela do passageiro que estava aberta. — Bom dia, treinador. — Está bonita. Sarah olhou para seu suéter e encolheu os ombros. — Já me conhece, treinador. Fiquei elegante para a ocasião. — Subiu e colocou o cinto de segurança. — Sarah, se não se incomodar, não tenho nenhum problema que me chame Rudy. — Saiu da garagem e se dirigiu à avenida. — Mas depende de você. Só quero dizer que estaria bem se fizesse.

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Olhava para a frente enquanto dirigia, e Sarah estava pensando. Não era nada irracional. Soaria um pouco estranho a princípio, mas não era para tanto. Ela poderia até se acostumar. — Está bem, Rudy. Virou-se para ela e sorriu. — Isso eu gosto. O caminho para o parque se tornou frio. As nuvens estavam virtualmente tragando à montanha. Todas as vezes que tinha vindo aqui com Angel era outono, com um formoso céu azul e os raios de sol brilhando em qualquer ângulo do parque. Agora, parecia tão escuro e sinistro, como um tributo a como sentia-se ultimamente. — Não imaginei que o clima estaria tão ruim — disse o treinador olhando para o céu através do para-brisa. — A previsão é de chuva mais tarde, mas certamente já teremos ido. Sarah olhou por sua janela. Focou em relaxar. Ainda não podia sair do desconforto que sentia depois de desligar com Syd. Tudo neste dia parecia ruim. Em seu interior, sabia que deveria ter ouvido Sydney, mas uma grande parte dela queria acreditar que o treinador era boa pessoa. Estacionaram em uma área aberta. Havia apenas alguns carros no estacionamento. Realmente, Sarah não lembrava dessa parte do parque, mas era tão enorme que certamente havia muito mais que ela não tinha visto. Saíram e ele abriu o porta-malas. Estava fazendo mais frio aqui que quando saíram de sua casa. Ele pegou uma mochila 415


pequena e as águas. Deu a ela uma garrafa e Sarah estremeceu quando seu dedo acariciou sua mão. Seus olhares se encontraram. — Está bem? O rosto de Sarah ruborizou. Sentiu-se um pouco ridícula. — Sim. — Não está muito frio para você? — Suas palavras eram amáveis e notava a preocupação em seus olhos. Sarah respirou profundamente e sorriu. — Um pouco, mas eu gosto. É tão fresco e limpo. Caminharam até a área verde perto de uma das pistas. O treinador colocou sobre a grama a mochila e a água e começou a alongar-se. Lembrou Sarah que se assegurasse de mover o tornozelo o suficiente. Depois de esquentar por uns quantos minutos, Sarah sentiu-se mais relaxada e amaldiçoou-se por ficar tão apreensiva. Supunha-se que seria um dia para relaxar e esquecer de todas as suas preocupações e estava ficando difícil com sua ansiedade. Saltou no mesmo lugar um pouco mais e sacudiu as mãos. Olhou para cima e o treinador mostrava um sorriso em seu rosto. — Nunca tinha visto você se aquecer assim. — Estou tentando sacudir o frio. — Sarah sorriu bobamente. 416


— Tem certeza de que não está muito frio para você? Sarah negou com a cabeça e seguiu saltando no mesmo lugar por um momento mais. O treinador terminou o alongamento e recolheu sua mochila. Colocou as garrafas de água nela e a pôs nas costas. Ficou ali vendo Sarah por um momento. Seus olhos se moviam de acima a abaixo medindo-a, fazendo com que Sarah se sentisse invadida. Deixou de pular e sorriu. — Está preparada? — Com certeza.

***

Supunha-se que Angel só deixaria Sofia no restaurante, mas acabou ficando lá e ajudando. Isto acontecia com frequência ultimamente. Mas não tinha o que fazer e a última coisa que queria era estar, era sentado em sua casa atormentando-se com lembranças dolorosas. Eric e Romero passaram para tomar o café da manhã. Sentaramse na área do bar, que normalmente não estava aberta pela manhã, mas o restaurante estava muito cheio e Alex lhes disse que não queria que ocupassem lugar no balcão. Romero bufou e disse que era um cliente pagante, mas logo o calaram quando Alex lhe disse que pagasse sua conta. 417


Depois de levar uns pedidos as suas respectivas mesas, Angel foi para onde comiam Romero e Eric. Estavam falando sobre ir ver uma briga mais tarde da noite. Um amigo do tio do Romero estava promovendo e podia conseguir ingressos grátis. Angel estava considerando. Não saiu desde que rompeu com Sarah. Estava tratando de sacudir o péssimo humor que tinha ultimamente, mas saber que Sarah estava passando mais tempo com o pervertido enquanto eles praticavam, não lhe ajudava. Alex apareceu na porta do escritório. — Ouça, Angel, um tipo chamado Sydney está na linha te procurando. Não é o amigo da Sarah? Romero começou a rir e sua voz ficou aguda. — Ui, drama! Com os olhos fechados, Angel apertou a ponte de seu nariz, falando para si mesmo. — O que será agora? Ignorou Romero e não respondeu à pergunta de Alex. Em lugar disso, caminhou até o telefone do bar. — Peguei. É Angel. — Os dois, Romero e Eric ficaram olhando com curiosidade, assim, lhes deu as costas. Pelo espelho ao fundo do bar, podia-os ver até embevecidos e os sacudiu dali. 418


— Desculpe por ligar para você no restaurante, mas não sabia como podia localizá-lo — Angel não podia ter certeza, mas sentiu pânico em seu tom e isso o deixou nervoso. — O que aconteceu? — Não sei o que você sabe deste treinador dela, mas pelo que Sarah me disse, me parece que é um autêntico idiota. — Ela disse isso? — Angel quase sorriu. — Bom, não, me disse as coisas que as pessoas dizem sobre ele, mas ela está convencida de que é boa pessoa. Angel franziu o cenho, sem estar certo de que é o que queria obter de Sydney, mas começou a esgotar a sua paciência imediatamente. — Ah e daí? — Pessoalmente, não acredito que seja boa ideia que ela ande com ele, especialmente sozinha. — Sydney fez uma pausa. Angel pensou tê-lo ouvido grunhir. — Ele a convenceu de ir correr com ele em umas pistas isoladas acima nas montanhas. Eu não gosto disso. Acredito que suas intenções não são boas. Angel agarrou a borda da barra e apertou os dentes. — Ouvi sobre isso. Mas vão em grupo. — Por isso é que estou ligando para você. — Desta vez, Angel definitivamente ouviu uma batida de porta. — Ligou-me esta manhã. Convenientemente, todas as demais cancelaram no último momento. 419


Ela está lá com ele agora, sozinha. Acredito que este cara nunca teve a intenção de levar alguém mais. Acredito que planejou assim. Tudo ficou confuso depois da palavra sozinha. Já não pôde escutar mais nada. A tensão que tinha sentido nas semanas anteriores aumentou e sentia-se a ponto de explodir. Cada músculo de seu corpo estava tenso. Falou através dos dentes. — Disse onde? — Não, só que é o mesmo parque que você a levou no outono. O parque não estaria cheio em um dia como hoje e ele conhecia o carro que este estúpido dirigia. Encontraria e quando fizesse, Angel ia aliviar toda a tensão que trazia acumulada desde que tinha rompido com Sarah. Sentia-se preparado para matar. — Irei encontrá-la. Depois de desligar o telefone, Angel passou como um raio em frente a Eric e Romero. Ouviu que Alex lhes perguntava. — O que aconteceu agora? Já estava quase em seu carro quando Eric gritou. — Espera Angel. O que aconteceu? Aonde vai? — Tenho que encontrar Sarah — Alcançou o trinco da porta de seu carro. — O que aconteceu? — perguntou Romero. Angel virou-se pouco antes de entrar no carro. 420


— Esse pervertido do Rudy está sozinho com ela no Monte Solidão. Viu quando Eric e Romero correram para o carro de Eric, bem quando ligava o carro. A imagem de Rudy caminhando com Sarah na escola e o modo insolente com que olhou para Angel alimentaram seu temperamento, por si só assassino e agora, tinha ateado fogo.

*** Depois de correr perto de um quilômetro e meio, o treinador diminuiu o passo e parou perto de uma área gramada. Correram ao longo de uma pista que era quase paralela à estrada. Algumas vezes, a pista se afastava da estrada e outras estava à vista. Sarah não tinha visto um só carro passar por ali em todo o tempo que estiveram correndo. O treinador Rudy tirou as garrafas de água que trazia na mochila e deu uma a Sarah. Com a respiração entrecortada, lembrou a Sarah que não tomasse água muito rápido e nem muita. Sarah caminhou para uma pedra enorme que estava fora da pista e se encostou nela. Agora, estava contente do clima frio, já que o ar gelado estava abundante em seu nariz. O treinador se aproximou, caminhando e a acompanhou na pedra. Sua coxa roçou sua perna quando se encostou na rocha. — E como está esse tornozelo?

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— Bem. — Sarah olhou para baixo e o virou. — Estava um pouco nervosa, mas estava bem. O treinador tomou um gole de sua água. — Posso perguntar algo pessoal? Sarah pôs seu pé para baixo e virou-se para ele. — Sim. — Seu namorado do semestre passado parecia estar louco por você. Só me perguntava o que aconteceu para se separarem? Ele deve ter visto a dor em seus olhos, já que pôs sua mão na perna de Sarah. — Ouça, sinto muito. Não foi minha intenção te fazer sentir triste. Só estava curioso. Sarah sacudiu a cabeça e ficou olhando seus pés. — Não, está bem. Só foi um pouco difícil, mas acredito que vou superar. O treinador lhe bateu na perna e logo a apertou brandamente. — Foi sua primeira vez? Surpresa, Sarah virou-se para vê-lo. — Quis dizer, seu primeiro amor.

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Realmente ela não tinha pensado desse modo. Mas era. Nenhum outro menino havia sequer se aproximado do que ela sentia por Angel. E tinha a intuição de que nunca ninguém aproximaria. Ela assentiu com a cabeça e centrou sua atenção em sua garrafa de água. — Foi minha culpa. — Tomou um pequeno gole. — Fui realmente tola. Sarah se endireitou. A dor ainda era tão recente, que tinha medo de ficar sentimental. O treinador tirou a mão dela. — Vem cá. Está bem. — Falou brandamente. Suas palavras eram amáveis, seu tato parecia quente. Exceto na noite da terrível cena e o dia em que foi ver sua mãe, todas as vezes que tinha chorado por Angel, tinham sido a sós em seu quarto. Geralmente, Sydney era quem estava do outro lado do telefone, mas não podia evitar sentir-se sozinha. Sentou-se junto a ele. O treinador seguiu com sua mão na dele e lhe falou, olhando-a direto aos olhos. — Me escute, não tem que falar disso. Mas é uma garota bela, Sarah, não só por fora e espero que saiba que há muitos meninos por aí que morreriam para estar com alguém como você. Sarah não estava segura disso. Mas tampouco lhe importava. Havia só uma pessoa com a qual ela queria estar, mas entendeu o que o treinador quis lhe dizer. O nó em sua garganta estava ficando maior conforme ele falava. Podia sentir como os olhos enchiam de lágrimas. 423


Maldição. Era exatamente o que não queria, especialmente agora, que supunha que este dia a afastaria de suas dores. Tragou forte, tratando de conter-se. — Posso te abraçar? Sarah se encostou em seu peito sem responder e ele colocou seus braços fortes ao redor dela. Sarah sentiu quando a beijou na cabeça, e de alguma forma se sentiu bem. Parecia que era Sydney. Lágrimas escorreram pelas bochechas enquanto podia cheirar o aroma limpo de sua camiseta. Ela se afastou um pouco para encará-lo e ele limpou as lágrimas de seu rosto. — Tem ideia do quanto é especial? Sarah não estava certa de como responder isso. Sabia que ele sozinho estava tentando fazer com que se sentisse melhor, mas isso a deixava incômoda. O nível de ternura em seus olhos tinha mudado um pouco. Brandamente a beijou na testa e logo na extremidade do olho. — Tem olhos lindos — sussurrou-lhe. Sarah sentiu um calafrio por todas suas vértebras. Ele a estava consolando, dizia a si mesma. Mas seus beijos continuaram por seu rosto e seu corpo forte encostou mais no dela. Puxando-a pela cintura, seus lábios acariciaram os do Sarah. Ela pôs sua mão em seu peito. — Treinador? — Mas ele nem se alterou. 424


— Me chame de Rudy — disse-lhe e a beijou um lado da boca. — O que está fazendo? — Sarah o empurrou mais forte, mas não era obstáculo para ele. — Está bem, Sarah, não lute contra isto. Senti a atração o tempo todo. O ardor de seus olhos a alarmou. Era quase como ver outra pessoa. Finalmente caiu a ficha. — Do que está falando? Está me assustando. O treinador afrouxou a pressão sobre ela por um momento. — Vamos, Sarah. Nós dois somos adultos. Isto foi aumentando entre nós dois faz tempo. O pânico que começou a sentir disparou e utilizou seu pé para empurrá-lo. O treinador foi para trás de forma estranha, mas recuperou o equilíbrio e a alcançou de novo. Sarah escapou. A dor que sentia antes se transformou em fúria e medo. Ela tinha acreditado nele. — Como se atreve? — Deixe de fingir, Sarah — disse friamente. — Ambos desejamos isto. — O que? Está louco! Não posso acreditar que sequer pensasse isso. — Sarah se afastou dele cautelosamente, mas ele não se retratou. — Louco? — Agarrou-a pela mão e a puxou para ele. Em um instante, Sarah se encontrava presa em seus braços e lutava com todas 425


suas forças para liberar-se. — Não se faça de desentendida. Por que outra razão estaria aqui comigo? Sarah lhe deu uma joelhada, falhando na virilha por uma polegada, mas foi o suficiente para aturdi-lo e deixá-la ir. No momento em que se liberou, saiu correndo para o estacionamento. — Sarah, espere! Sem olhar para trás, nem vacilar, Sarah estava correndo a corrida de sua vida. Fez o que melhor sabia fazer e aumentou a velocidade. Sua mente ia também a toda velocidade, conforme as lágrimas lhe escorriam no rosto. Como pôde ser tão estúpida? Inclusive, com todas as advertências recebidas, pôs-se nesta terrível situação. Pensou a respeito dos poucos carros que haviam no estacionamento e orava para que houvesse alguém lá quando ela chegasse. Até o momento, não tinha visto nem uma alma. A meio caminho, deu-se conta de que o treinador estava atrás dela. Gritava algo, mas seu ouvido zumbia com o vento, ou talvez o medo não a deixasse ouvir. Gotas de chuva começaram a cair no seu rosto. A adrenalina percorreu seu corpo e acelerou ainda mais o passo. Quando finalmente chegou à esquina, pôde ver o estacionamento e lhe afundou o coração. Dos poucos automóveis que havia quando chegaram, só ficaram dois. Seu coração se transbordava enquanto que seus olhos procuravam alguém. Escutou um ruído de motor e tentou averiguar em que direção vinha.

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O carro acelerou perto da esquina para onde ela tinha vindo. — Ei! — Gritou Sarah, agitando seus braços ao ar. Mas o automóvel ia muito rápido. Estava fora de sua vista e ela não ia correr naquela direção. Logo teria que tomar fôlego e achava que não poderia correr mais. O estômago quase lhe sai quando viu que o treinador vinha saindo da esquina. — Sarah, espera. Quero me desculpar. Corria devagar e Sarah pôde ver que estava tão exausto quanto ela. Olhou para os lados procurando algo que pudesse usar como arma. Não encontrou nada e tampouco havia alguém à vista. — Não se aproxime — Sarah logo que pode falou, tinha a respiração muito agitada. Mas suas palavras não impediram que ele se aproximasse. Arremeteu contra ela com esse ardor enlouquecido que ainda mostrava em seus olhos.

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Capítulo Vinte e Nove Angel derrapou até parar quando percebeu que era o treinador que acabara de ver correndo na pista, mas estava sozinho. Onde estava Sarah? Olhou a pista. Talvez ela tivesse caído lá atrás. Poderia este idiota tê-la deixado sozinha? Eric e Romero voluntariamente se ofereceram a ajudar a encontrar Sarah e estavam dirigindo também pelo parque. Mandou uma mensagem de texto a Eric para que soubessem que os tinha encontrado e onde. Angel olhava pelo retrovisor e viu que o treinador corria para o estacionamento pelo que acabava de passar. Começava a chover um pouco mais forte. Pôs o carro na ré e dirigiu depressa para trás. Os pneus chiaram conforme deu volta no estacionamento, quando viu Sarah falando com o pervertido perto de seu carro. Estava muito perto dela e a postura de Sarah parecia na defensiva. Angel se aproximou deles e em um instante estava entre Sarah e o treinador. — O que aconteceu? O que é o que está errado? — perguntou a Sarah. Os olhos avermelhados de Sarah o enfureceram. O treinador respondeu por ela. — Foi só um mal entendido. 428


Angel tirou lentamente sua vista dos olhos chorosos de Sarah. Seu pulso palpitava em sua orelha. Falou tão calmamente quanto pode. — Que mal entendido? O treinador pareceu falar com calma. — Estávamos falando, sabe, a respeito de você e o rompimento. Ela ficou um pouco sentimental. Eu só tentava consolá-la. O queixo de Angel endureceu. A palavra consolo jamais lhe tinha parecido tão obscena. Dificilmente poderia conter-se. Olhou os olhos assustados de Sarah. — Foi isso que aconteceu? Diga-me a verdade. Algo nos olhos de Sarah pareceu piscar quando Angel disse a palavra verdade. Seus lábios trêmulos o destroçaram. Sarah cobriu com suas mãos sua boca e disse: — Me atacou. Não acabava de dizer essas palavras quando Angel se equilibrou sobre o treinador. — Filho de puta! — disse-lhe grunhindo e lhe deu um golpe no rosto que rompeu seu nariz. O treinador cambaleou para trás e suas mãos foram diretamente para seu nariz. Seu rosto era uma massa sanguinolenta. Angel arremeteu novamente contra ele, lançando outro golpe no queixo, nocauteando o treinador e jogando-o contra o carro. Novamente 429


arremeteu contra ele para virá-lo para golpeá-lo inconsciente, mas Romero e Eric lhe agarraram pelos braços. Conseguiu lhe dar um forte chute bem na virilha, fazendo com que o treinador caísse ao chão gemendo e se retorcendo. — Santa merda, Angel! — O xingou! Romero ficou vendo o treinador que rolava no chão de dor. Embora vendo o rastro de sangue no estacionamento escorrendo do rosto do treinador, não estava satisfeito. Esteve com ódio outras vezes, mas nada se comparava com o que sentia agora. Esse bastardo tinha muita sorte de que Eric e Romero tivessem chegado, ou só Deus saberia o que iria acontecer. Angel ignorou Romero e correu para Sarah. Colocou-lhe a mão sobre um ombro e procurou seu olhar aturdido. — Está bem? Machucou você? Sarah negou sacudindo a cabeça. — Não, só me assustou — disse choramingando. — Me beijou e me mantinha fortemente agarrada, mas pude escapar e corri. Tinha acabado de me alcançar. Ai, Angel se não tivesse chegado, não sei o que teria acontecido. Estava como louco. Ela o abraçou pelo pescoço e ele a abraçou fortemente. Seu aroma e senti-la em seus braços foi a única coisa que apaziguou o tornado que levava dentro de si. Deixaram o treinador lá para que ele se arranjasse sozinho, mas Angel conduziu diretamente para delegacia de polícia de La Jolla. 430


Insistiu com Sarah para denunciá-lo imediatamente. Sentou com ela o tempo todo, segurando sua mão. Emitiram uma ordem de prisão para o treinador. A policial advertiu a Sarah que provavelmente isto pudesse ficar feio, dado que ele era um professor, mas a animou dizendo que fora valente e que continuasse com isto, para que que não saísse em liberdade e fizesse o mesmo a outra pessoa. Angel se asseguraria disso. Saíram da delegacia. Deu-se conta que Sarah estava mandando as chamadas de seu telefone para a caixa durante todo o tempo que estiveram lá. Angel tinha certeza que era Sydney. Justamente no momento em que colocaram os cintos de segurança, o telefone de Sarah voltou a tocar e ela finalmente atendeu. Saudou-o e em seguida lhe rompeu a voz. — Sei. Sinto muito, estava na delegacia de polícia. Não, estou bem. Sim, estou com Angel. Mais tarde lhe conto, ok? — Baixou a voz, mas Angel escutou e pedia a Deus que ela não respondesse. — Eu também te amo. Seu ciúme descarado o queimou por dentro. Acelerou fundo. Fazia apenas umas horas que estava ansioso para matar alguém por Sarah e agora, só queria que ela descesse do carro, de sua vida. Entrou na autoestrada a alta velocidade. A chuva começava a intensificar-se. Não se incomodou em desligar o motor e nem sequer suavizou o tom de sua voz. — Tomara que te assegure de que esse malandro vá preso.

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Sarah assentiu com a cabeça e recolheu suas coisas, a bolsa Ziploc de plástico em que a polícia colocou todos os papéis para que não se molhassem com a chuva. — Obrigada Angel. Na verdade, me salvou hoje. Não sei mais o que posso dizer a você. Só desejo... Não terminou de falar e começou a abrir a porta rapidamente para sair. A paciência de Angel se esgotou. — Deseja o que, Sarah? — Que eu pudesse entender como me superou tão rápido. — Desceu do carro e fechou a porta. Angel jogou sua cabeça para trás sobre o assento. Incrível. Desligou o motor do carro, abriu a porta do carro e saiu. — Verdade que acredita que já superei você? — gritou por cima da capota do automóvel. Sarah não lhe respondeu. Nem sequer virou; já estava quase em casa. Angel deu a volta no carro e foi para onde ela estava. Chamou-a por seu nome, Sarah parou e virou. Angel viu que estava chorando. — Eu não poderia imaginar ter superado você e seguir adiante, Angel, mas você já está com outra.

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— O que? — Angel não podia acreditar que Sarah estivesse fazendo isto. — Não me jogue toda esta merda, Sarah. Não fui eu que... — Soube que correu para os braços da Dana dois dias depois que rompemos. Angel podia ver que estava furiosa e sua mente se agilizou para pensar no que Sarah lhe acabava de dizer. — Fui falar com ela, isso é tudo. — Que seja, não importa. Espero que os dois sejam felizes. — Sarah começou a caminhar para a casa. — Não, não, espere! — Angel deu alguns passos para frente. Não ia permitir que ela convertesse as coisas a seu favor. — A única razão pela qual fui falar com ela é porque tinha informações sobre você. Sarah parou e virou. — E que diabos ela saberia sobre mim? — Alguém viu você naquela noite. A noite em que você e Sydney seguravam suas mãos e se abraçavam na praia. — Apenas de pensar nisso revolvia as vísceras. — Naquela noite, me chamou para me dizer isso e nada disso tinha sentido para mim. Ignorei-a. Mas depois de saber a verdade, queria confirmar exatamente o que é que ela tinha visto.

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Lembrar-se de estar sentado lá e obter a confirmação de Dana lhe fez reviver a dor e começou a caminhar afastando-se. Já estava farto disto. — Estou cansada de chorar por você, Angel. — Sarah soluçou. — Nunca entenderá a minha relação com Sydney e ele sempre será parte da minha vida. Escutá-la tão angustiada quase o matava. Mas Sarah estava certa. Nunca o aceitaria. Não podia. Virou-se para enfrentá-la. Parecia tão desfeita como ele mesmo se sentia. Mas isso o enfureceu mais. Tinha feito isto, maldita seja, não ele. — O que é que quer que entenda, Sarah? Na verdade, quer que aceite que você vai viver com ele? Com o cara pelo qual está apaixonada? — EU NÃO ESTOU APAIXONADA POR ELE! — gritou Sarah. — Gosto dele. É muito diferente. Os dois estavam encharcados, mas não importava. Angel sentia que esta seria a última vez que falaria com ela, de modo que não pensava guardar nada. Começou a rir sem acreditar. — Como um irmão, Sarah? — Sim! Começou a caminhar para ela, mas parou uns metros antes. — E por que aquele vestido?

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Sarah ficou olhando com os olhos bem abertos com uma perda aparente. Angel estava contente de que a tormenta fora tão sonora já que sua voz atraiu aos vizinhos. Via como Sarah tratava de entender o que estava gritando. — Aquele vestido, Sarah! Alguma vez se vestiu assim para mim, mas pôs para seu irmão? Espera que acredite... — Era para você! — disse Sarah chorando. Continuava mentindo. Incrível. Angel apertou os dentes para tratar de acalmar sua voz. Continuava muito irritado. — Nem sequer ia me ver naquela noite! — Mas nos veríamos! — seus olhos se iluminaram. — Lembra? Você iria me pegar, mas Sydney chegou na última hora, assim saí com ele e liguei para você. Angel pensou por uns segundos, com a respiração agitada ainda. Não fazia sentido. Ela nunca se vestia assim. Sarah atirou tudo o que trazia nas mãos e caminhou depressa para ele. Parou frente a ele e Angel a olhou diretamente nos olhos alagados de lágrimas. — Isto soará como uma tolice. Eu ia contar de Sydney essa noite. Juro. Todo o dia estive preocupada. Valéria foi quem teve a ideia de que vestida assim te distrairia. E não sei, se faria as coisas mais fáceis. Não deu tempo de me trocar quando Sydney chegou. Mas o vestido, o cabelo, todo isso era para você, Angel, não para ele.

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Sentindo que tirava um enorme peso do coração e senti-la tão perto dele, teve que resistir para não puxá-la para ele. Pela primeira vez desde que tinham rompido, Angel começou a sentir um leve raio de esperança. Se tão apenas pudesse superar o fato de que ela ia voltar e viver com Sydney. — E quando vai para o Arizona? Sarah sorveu o nariz e mordeu o lábio. — Talvez não volte. O coração apaziguado de Angel começou a agitar-se novamente. Levantou uma sobrancelha. — O que quer dizer? — Minha mãe sairá da prisão mais cedo do que esperávamos, talvez em poucos meses. Por isso estou aqui. Fui vê-la e me disse que aguentasse um pouco mais. Mas também me disse que dependeria de mim o lugar que viveremos quando ela sair. Seu olhar procurava agora o olhar de Sarah. — E o que é que você vai fazer? — Isso depende. — Sarah tinha uma ruguinha entre as sobrancelhas. Angel franziu o cenho. Sempre havia algo. — Do que? — De você. — Parecia que Sarah continha a respiração. 436


Tomou um segundo para que caísse a ficha. Mas quando compreendeu, puxou-a e a abraçou. Surpreendeu-a, mas logo Sarah riu. — Não brinque comigo, Sarah. Ficará mesmo? Seus olhos voltaram a encher de lágrimas. — Quer isso? Angel sorriu e pondo suas mãos no rosto de Sarah, colocou-se em frente a ela. Ficou vendo seus lindos olhos antes de beijá-la meigamente. Sentia saudades de seu cheiro, de seus lábios deliciosos. Nunca mais ia deixa-la ir. Sarah se retirou e o olhou nos olhos. — Amo você, Angel. Escutá-la dizer pela primeira vez quase o fez engasgar. — Diga de novo — sussurrou-lhe. Os olhos de Angel brilharam e ela riu. — Amo você. — Eu amo você também, carinho.

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Capítulo Trinta Sarah ficou ali, deitada, tocando com seus dedos a marca da corrente ao redor do pescoço de Angel. Olhava seu pulso e sorria ante seu bracelete de pingentes. No tempo em que estiveram separados, o tinha tirado e se negava sequer a olhá-lo. Esteve a ponto de mandar para ele pelo correio, quando tinha perdido as esperanças. Algo em seu coração não permitiu e agora, se alegrava de não ter feito. Depois de uma semana de terem voltado, não podiam saciar-se um do outro. Após Angel fechar o restaurante a cada noite, Sarah sempre estava lá com ele na hora de fechar. Sarah se perguntava se seus pais tinham uma ideia do que faziam no quarto de trás. Angel se incorporou sobre seu ombro e mexeu com o cabelo de Sarah. — E como foi que ficaram tão próximos? — Ele a olhava nos olhos. — Você e Syd? Desde que haviam voltado, Sarah se esforçava para manter o mínimo de qualquer conversa sobre Sydney e até agora, Angel realmente não tinha perguntado muita coisa. Sabia que quando a poeira se assentasse, perguntaria e o momento tinha chegado. Ela já se preparou. Nunca mais lhe ocultaria nada, sem importar quão incômodo fosse.

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— Bom, contei que quando era garota, nos mudávamos muito frequentemente. Nunca tinha amigos. Quando fazia alguma amizade, tinha que deixá-los. Quando mudamos para Flagstaff, dei-me por vencida na questão de fazer amigos. Então Sydney quis ser meu amigo — disse Sarah sorrindo, enquanto lembrava. — Ele tampouco tinha amigos, embora a princípio não tenha admitido. Nessa época, na verdade, ele era gordinho. — Sydney era gordo? — Angel pareceu surpreso com isso. Sarah sorriu, tratando de não virar os olhos. — Sim e quando estávamos no Ensino Médio, ele realmente ficou enorme. Eu nunca fazia amigos por não saber quanto tempo nós iríamos ficar no mesmo lugar. Logo, minha mãe me disse que seu trabalho seria permanente e que nós íamos ficar lá. Então, Syd e eu realmente ficamos muito próximos. Como minha mãe sempre estava fora, passava muito tempo na casa dele. Sua casa se converteu em minha casa fora da minha e sua família sempre me tratou como se fosse parte deles. Angel levantou uma sobrancelha. — E alguma vez tentou ultrapassar os limites? Sarah negou com a cabeça. — Nunca. Como disse, por muito tempo era muito obeso e além disso, estava consciente disso, assim como eu estava muito consciente dos meus dentes. — Seus dentes? Seus dentes são lindos. 439


— Claro, mas isso é agora, depois de três anos de aparelho. Antes, eram espantosos. Assim, Syd e eu fomos um casal consciente de nossos defeitos que se apoiou um no outro por anos. — Sarah sorriu novamente, recordando essa época. Angel a olhava, assim Sarah continuou com o relato. — De qualquer forma, foi no secundário quando comecei a atormentá-lo para que perdesse peso. Foi quando comecei a correr. Tudo começou para fazer com que perdesse peso. Começamos a correr diariamente; aí foi onde começou minha paixão por correr. Já na escola preparatória, Sydney tinha perdido muito peso. Depois deu o estirão e isso, na verdade, lhe ajudou. Unimo-nos à equipe de corrida e por isso agora é que não se percebe o quão gordo era. Angel riu. — Realmente, a verdade é que nunca imaginei que tinha sido um verdadeiro gorducho. Sarah franziu o cenho, mas estava contente de que Angel não estivesse tenso por isso. Angel se encostou nela e a beijou docemente. Sarah estava surpresa o quanto estava feliz por estar com ele. Beijou-a mais e depois veio o que temia. — Baby, sei que ele é seu amigo. E vou tentar bravamente ser tão breve nisto quanto posso, mas preciso saber de tudo. Não quero que me oculte nada, especialmente referente a ele. Assim, se ele telefonar, não preciso saber de tudo o que falam entre vocês. Apenas quero que não me oculte isso.

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Angel deve ter visto algo em seu rosto ou sentiu que ela ficou tensa, porque parou e logo lhe perguntou — O que? — Tenho que dizer a você cada vez que ele ligar? Os olhos de Angel se entrecerraram. — Quantas vezes ele telefona, Sarah? Todo o assunto sobre honestidade total se foi pelos ares. Sarah sabia que estava mal, mas com esse olhar em seus olhos e o tom de sua voz, não havia forma que a verdade saísse neste momento. Dizer que suas chamadas eram diárias estava fora da questão. — Bem, nem sempre é ele quem liga, mas falamos várias vezes na semana. Sarah viu como Angel tentava manter-se equilibrado. Torceu o pescoço como sempre fazia, como se isso de alguma forma lhe ajudasse a liberar a tensão. Mas ela sabia que isso nunca funcionava. — Tentarei me esforçar — disse ela imediatamente. — E o que isso significa? Tentarei me esforçar? Na verdade é um grande sacrifício? — Não, mas o que acontece é que você não entende... Estou tentando — Angel reclinou-se para trás, pondo sua mão sob sua nuca. Sarah se deitou sobre seu ombro. — É muito uma vez por semana? 441


Ele ficou vendo mas não lhe disse nada e agora era a vez de Sarah de beijá-lo. Encostou-se sobre ele e deu-lhe beijinhos nos lábios e logo beijou a covinha que lhe formava na bochecha com a expressão franzida. Angel pôs sua mão livre atrás do pescoço dela. — Sarah, Baby, não quero que pense que sou insensível. Já entendi que é seu amigo de toda a vida e tudo isso. Só digo que vai levar um tempo para me acostumar a isto. Sarah o beijou por mais tempo. — Sei como é. Mas vamos fazer com que isto funcione. Temos que, porque não quero estar longe de você nunca mais. Angel sorriu e agora puxou-a para ele com ambos os braços. — Adoro ouvir você dizer coisas como essas. — A beijou longa e profundamente, logo parou e adicionou. — E sim, quero saber cada vez que fale com ele. Sarah ia ter que reduzir o número de ligações para Sydney, porque mentir para Angel era coisa do passado. Nunca mais voltaria a cometer o mesmo erro. Fizeram novamente amor e logo Angel levou Sarah a sua casa sem voltar a comentar mais nada sobre Sydney.

***

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O coração de Angel quase se paralisou quando escutou Sarah chorando ao lhe ligar. Não podia entender uma só palavra do que dizia. Mas depois a escutou rir em meio de tanto pranto. — Sairá depois de amanhã! Por várias semanas tinham esperado a data e finalmente a mãe de Sarah sairia da prisão. Angel não podia estar mais contente, a mãe de Sarah estaria aqui com ela durante o julgamento do treinador. — Eu disse querida, tenha fé — Já era tarde da noite e era dia de aula, mas mesmo assim ficaram acordados até tarde conversando. A princípio, quando ficaram separados, Sarah teve uma ideia louca de ir sozinha ao Arizona para buscar a sua mãe. Mas agora, Angel não deixaria isto acontecer. A tia de Sarah não poderia tirar um dia de folga em tão curto tempo de aviso, Angel fez os acertos necessários e ele mesmo levou Sarah. Sua mãe não ia ser liberada até a parte da tarde e Sarah sugeriu passar na casa de Sydney para visitá-los rapidamente, lhe dizendo que Sydney os havia convidado. Angel não foi com muita vontade, mas pelo bem de Sarah, fingiu que estava bem. Quando chegaram na casa de Sydney, Sarah se virou para ele e lhe perguntou. — Tem certeza que está bem com isto? Não realmente, mas poderia superar isso. No que lhe dizia respeito, Sarah era parte de sua vida, assim Sydney era parte da vida dela, ele teria que se acostumar com isto. 443


— Sim, estou bem. Reclinou-se e o beijou antes de sair do carro. Angel deu a volta no carro e se juntou a ela. Sydney já estava parado no alpendre com uma garota loira. Sydney se encontrou com eles na parte de baixo da escada do alpendre, e primeiro felicitou Angel e o apresentou sua namorada Carina. Depois virou e saudou Sarah. — Senti saudades, Lynni. Sarah soltou a mão de Angel e o abraçou. — Eu também. Angel viu como Sydney abraçou Sarah fortemente e por longo tempo. — Por Deus, que bom ver você. Concentrou-se em não ranger os dentes muito forte e tratou de não franzir o cenho. Sydney olhou para cima e seu olhar se encontrou com o de Angel, mesmo que ainda tivesse Sarah abraçada. — Acredito que a felicidade faça bem, né? A mãe de Sydney preparou o almoço e comeram no terraço. Sarah e Sydney falaram sobre a equipe de corrida que tinha deixado no Arizona e lhe deu todos os detalhes da liberação prematura de sua mãe. Angel olhou para Carina, que como ele, não teve muito o que dizer e se perguntava se ela se sentia tão incômoda quanto ele com essa relação. 444


Não ficaram muito tempo assim incomodados, Angel achou que foi, porque Sarah sentira seu desconforto e seu melhor esforço para não encolher-se cada vez que escutava Sydney chamá-la de Lynni. Sydney a abraçou bem apertado novamente ao despedir-se. Desta vez, casualmente, Angel se virou, não querendo ver a forma em que as mãos de Syd acariciavam as costas de Sarah. Estava agradecido de que nenhum dos dois disse do amor que sentia, já que isso poderia ter arruinado seu estado de ânimo e possivelmente a noite. Sarah apertava a mão de Angel conforme se afastavam no carro. — Obrigada por isso. Sei que não foi fácil. — Sarah levantou a mão de Angel, levou para sua boca e a beijou. — Por que ele chama você de Lynni? — Angel não queria que Sarah pensasse que estava zangado, mas não pôde evitar de lhe perguntar. Sarah encolheu os ombros. — No momento em que o conheci, me apresentei como Sarah Lynn, seu primeiro comentário foi, 'Parece mais uma Lynn que uma Sarah.' Depois de um tempo, o nome virou Lynni — Sarah voltou a beijá-lo. — Você se incomoda? Angel decidiu ser honesto. — Detesto. Sarah riu. — Por que? 445


Angel virou para ver seus olhos verdes brilhantes que o olhavam. — Soa exageradamente enjoativo. Sarah comentou que tampouco a sua mãe gostava, mas depois de anos de tratar de corrigi-lo, deu-se por vencida. Sarah era e seria sempre Lynni para Sydney. Estupendo. Quando chegaram ao centro de detenção de mulheres, ainda era cedo. Não tinham terminado a preparação e a papelada da liberação da mãe de Sarah. Sentaram-se em um banco frio e duro, no lobby. Sarah se encostou em Angel e ele a abraçou. Deu-se conta que ela estava ansiosa e deu-lhe um beijo na cabeça. — Já está quase acabando, querida. Sarah assentiu com a cabeça. Depois de uma hora de espera, finalmente sua mãe saiu caminhando e eles ficaram de pé. Angel se surpreendeu pela falta de semelhança entre elas. O cabelo de sua mãe era castanho claro e tinha os olhos muito escuros. A única coisa que tinham em comum, era o sorriso. Sarah correu para sua mãe e a abraçou. Depois de abraçarem-se por uns minutos, Sarah virou-se para apresentar Angel. Angel se aproximou para dar-lhe a mão, mas em lugar disso a mãe de Sarah o abraçou fortemente. Quando ela se retirou, examinou-o conscientemente. — Ouça menino, ela tinha razão. É lindo. — Nunca antes tinham me chamado assim — sorriu Angel. 446


Pegou a mala que a mãe de Sarah trazia e logo que ela a tirou do braço, com o outro braço livre, tomou o do Sarah. Os três juntos começaram a caminhar pelo corredor. — O que acham meninos? Vamos nos esquecer do passado e começar uma nova vida na Califórnia. Angel e Sarah viraram e se olharam, sorrindo. Sim, Angel gostou como soou isso.

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Epílogo Os músicos entraram no restaurante, atendendo a pedidos. Sarah sentou-se com sua mãe, seus tios e Valéria em uma dos reservados maiores. Os pais de Angel estavam celebrando uma festa de formatura, assim o restaurante só estava aberto para os convidados. A mãe de Sarah apertou sua mão e Sarah sorriu. O aspecto de sua mãe em nada tinha a ver em comparação a como parecia quando Sarah a visitou pela primeira vez no cárcere. Ganhara peso e estava vibrante e saudável. Sua mãe a esteve com ela durante o julgamento do treinador. Depois de Sarah apresentar a queixa, muitas outras garotas também o acusaram do mesmo. Entre uma coisa e outra, foi julgado por diferentes delitos, entre perseguição sexual e intento de estupro. Além disso, muitas outras garotas atestaram que ele também se comportou de forma inapropriada com elas. Só levou ao júri duas horas para deliberar. Foi declarado culpado e depois de todas as condenações que lhe somaram, ao menos passaria trinta anos no cárcere antes de poder pagar fiança. Angel não poderia estar mais contente. Mas Sarah não podia evitar de sentir-se mal pelo sujeito. Era muito jovem e sua vida estava arruinada. Guardou esses sentimentos para ela mesmo e celebrou junto aos outros.

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Sofia piscou o olho para ela e sorriu, de onde estava sentada com seus pais, de mãos dadas com Eric. Depois que Sarah ajudou a convencer Angel, Sofia e Eric os acompanharam, como casal, à graduação. Depois de fazer dezessete anos fazia um mês, teve permissão para sair. Certamente que Eric reclamou seu direito no momento em que soube. Angel e Alex faziam seu melhor esforço para evitar deixá-los sozinhos. Sarah lhe piscou os olhos e também sorriu. Nunca saberiam como sua irmã podia ser ardilosa. Quando Sydney chegou com Carina, Sarah se levantou para saudá-los. Primeiro abraçou Carina e logo depois, Sydney. Seus dedos percorreram os dela, enquanto estiveram saudando-se. Sarah virou e viu que Angel vinha para eles rapidamente e soltou a mão de Sydney. Os maus hábitos são difíceis de romper. — Como vai, Sydney? — Angel saudou Sydney de mão e lhe deu um tapinha no ombro. Logo virou e abraçou Carina. Angel lhes perguntou a respeito de como tinha sido a viagem e gentilmente puxou Sarah para seu lado. Cada vez se sentia mais a vontade com Sydney, mas houve muitas mudanças. Era inevitável. Sarah deixou de dizer que Sydney era seu melhor amigo, pelo menos com Angel por perto. Desde que tinham conversado, Sarah e Angel, as chamadas com o Sydney se reduziram para alguns dias na semana. Por mais que tentasse, a paciência de Angel não era muita. Sarah tinha ido sozinha uma vez mais ao Arizona para pegar a sua mãe. Mas depois, Syd e Carina tinham vindo visitá-la várias vezes e cada vez as coisas melhoravam. 449


Caminharam para o bar para tomar uma bebida. — E sua mãe finalmente já se acostumou a viver na Califórnia? — perguntou-lhe Sydney. Sarah tinha comentado que estava dando trabalho adaptar-se. — Já, inclusive tem até trabalho. Os pais de Angel lhe disseram que podia trabalhar aqui no restaurante. Começa semana que vem. — Mas não dirigirá os livros — disse Angel sorrindo, passando um refresco a Sarah. Ela o olhou, horrorizada e ele a beijou. — Estou brincando. Sarah fez um movimento com seus olhos e continuou. — Não ficaremos por muito tempo na casa de minha tia, logo teremos um apartamento. — Ainda trabalha de babá? — perguntou-lhe Carina. — Não, o restaurante esteve muito cheio. Estava trabalhando aqui, não tive tempo. — Certo, Lynni me contou que o negócio está florescendo. — Sydney virou-se para Angel. — Vocês não pensaram em abrir outro restaurante? Angel apertou a mão de Sarah. Ainda odiava ouvir como Syd lhe chamava, mas estava começando a aceitar que isso não ia mudar. 450


— Na realidade — disse-lhe Angel — já estamos planejando. Sarah e eu estamos pensando em abrir nosso próprio restaurante, ao terminar a universidade. Meu pai me disse que nos ajudará, mas não antes de terminarmos os estudos. — Angel se virou para contemplar os olhos de Sarah. — Primeiro nos casaremos. No outono, Sarah e Angel iriam à universidade de San Diego. Sarah esteve muito perto de ir ao Novo México durante o tempo em que Angel esteve fora de si. Entretanto, apenas umas semanas atrás receberam a notícia de suas bolsas em San Diego e agora, tudo estava perfeito. Ela ficaria em La Jolla e poderia trabalhar no restaurante meio período. Sydney sorriu. — Lynni me disse que se fosse por você, já estavam casados. Angel franziu o cenho. — Ah, sim. Sim. Esperaremos ela terminar a escola, mas não mais que isso. Os músicos começaram a cantar ‘Sabor a Mim’, uma formosa melodia mexicana, lenta e muito romântica. Sarah sorriu ao ver o gigante do Alex junto à pequena Valéria. Eles seguiam indo e vindo. Sarah não os compreendia. Alex olhava para Valéria de forma muito parecida como Angel a olhava, entretanto, todo o tempo, seguia jogando com a Valéria. Por várias semanas eram inseparáveis e logo sumia, lhe enviando algumas mensagens de texto para saber como estava e Valéria estava segura de que tinha outra pessoa.

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Algumas pessoas pararam para dançar, incluindo Eric e Sofia. Angel puxou a mão de Sarah. Ela pôs sua bebida na mesa e ele a levou a pista de dança. Antes de abraçar Sarah para dançar, deu um empurrão em Eric. — Como é cara — disse-lhe Eric, rindo. Sarah reclinou sua cabeça no largo ombro de Angel e fechou os olhos. Angel a apertou um pouco mais e lhe deu um beijo na cabeça. Nunca em todos seus sonhos mais estranhos de quando era pequena, poderia se imaginar tão feliz. Finalmente, estava em casa.

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