Arte na Escola

Dos meios às mensagens

proposta para os encontros de artes 2014

:: Os livros vão acabar?

Tem haver com aquele filme Fareheint 451.

As folhas rasgadas não servem. Vamos jogar fora!

Por que o papel reciclado é mais caro?

Não sei mais qual é a minha folha?

Essa parada de reciclagem cansa muito! ::

Este jogo de frases compiladas sugere a diversidade de questões que a oficina de papel suscitou nas turmas. Escutar estas impressões e perceber que simples comentários traziam conteúdos que poderiam ser aprofundados como a história das mídia, processos de ressignificação, autoria coleUvo produção artesanal e industrial, comunicabilidade, permiUu o desenvolvimento da propostas aqui apresentadas

Quando ressignificamos algo?

Descartamos aquilo que foge ao padrão?

Não estaria na diferença aquilo que o singulariza?

Direções do trabalho:

ArUcular conceitos inerentes a comunicação contemporânea à praxes educaUva

IncenUvar processos colaboraUvos, noção de autoria coleUva e múlUplas vozes.

Experimentar processos de configuração de imagem edição de conteúdo e desenvolvimento de linguagem.

Fazer mídia alternaUva

Sobre a Escola

O Projeto Tô no rumo é financiado pela Petrobrás, realizado nos colégios Primeiro de Maio e Graham Bel. O Ensino médio técnico tem duração de três anos e é desUnado à jovens moradores de comunidades* O Projeto aqui relatado foi realizado no colégio Graham Bell que tem como mantenedora a CooperaUva de professores Gbell da qual faço parte.

No colégio Graham Bell não há inspetores, é o sujeito e seu bom senso; a sala dos professores é aberta, há sempre um café e lanche para quem chegar; a sala de artes, feita com a contribuição de toda comunidade escolar é chamada de laboratório, dispomos de um computador escaner conectado à internet;

Os espaços são livres e transitáveis...

os jovens

O Primeiro desafio que encontramos foi preencher o número de vagas que o Projeto ” Tô no Rumo” oferecia. As pesquisas* sobre juventude nos alertam para a dificuldade de encontrarmos jovens entre 15 e 23 anos, moradores de comunidades** com interesse e disponibilidade para estudar de segunda a sábado. Mesmo o curso sendo gratuito incluindo transporte e lanche. Por outro lado, o sonho de uma profissionalização fez com que pais e avós zelosos trouxessem os seus filhos ao projeto. O boca boca também foi responsável por trazer jovens por interesse próprio. A maioria mulheres.

Trabalhar com a juventude urbana das favelas do Rio de Janeiro, cujas questões sócio econômicas e culturais são latentes, só reUfica a necessidade da praUca educaUva exercitar a escuta, a parUcipação e criUcidade. Cada jovem traz consigo seus afetos e desafetos, questões idenUtárias e culturais, modos de acesso\consumo a bens (materiais e imateriais) que necessitam de um olhar direcionado. Pela praxe educaUva tangenciam questões religiosas, de sexualidade e gênero, família e saúde.

Ao gerar espaço para eles se colocarem encontramos o universo de cada um. Falam sobre seus Deuses, estéUca, reconhecem interesses, territórios, biografias e poéUcas. É sobre este conteúdo que trabalho para desenvolvimento de mecanismos próprios para inserção de cada um no mundo a sua volta.

Através do engajamento, da poéUca e do sonho o jovem se aproxima do arUsta. Como arte educadora me proponho a orientá-­‐lo no processo que vai do pensamento a linguagem.

*UUlizo o termo comunidade para me referir as regiões que passaram por processo de pacificação, no entanto acredito que este assunto mereça uma discussão mais aprofundada mas que não caberia nesse relato. **sobre geração Nem Nem em Estudo Juventude, Desigualdade e o Futuro do Rio de Janeiro, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

PAPEL

É o material gerador!

SOBRE ele foram propostos, livros, cadernetas, fanzines e cartões postais. A PARTIR dele foram criadas situações de socialização, intercâmbio de ideias e expressões de subjeUvidades. O movimento da Arte postal e o arUsta Paulo Bruski trouxeram experimentalismo e ousadia ao processo.

O fazer de muitas mãos

praUcas que se dão pela colaboração

Penso sobre potencializar a experiência da aprendizagem, busco uma coerência maior entre o formato das aulas e o conteúdo em si. O conteúdo que quero abordar na oficina é de natureza aUtudinal -­‐ colaboração e integração são inerentes a este fazer. Dessa forma transfiro da verborragia docente para o campo da experiência.

O contato com a polpa de papel, pigmentos, água e cascas orgânicas provocou uma excitação nas turmas que trouxe à tona questões sobre o lugar do lúdico e da experimentação na transição da infância para a juventude, onde esta relação é tolhida por diversos sistemas, inclusive a escola.

Livro de turma.

Ao constatarmos que o número de folhas produzidas durante a oficina eram insuficiente para cada um fazer o seu bloco. Surgiu a ideia de fazer um livro da turma. Nos livros de turma cada página é um perfil de um integrante . A construção foi processual, os elementos são inseridos a medida que as propostas foram se dando.

As páginas estão sendo escaneadas para serem publicadas online, dessa forma todos poderão acessá-­‐las

A imperfeita,

foi um folha que gerou comoção em uma das turmas, e foi usada como metáfora para falarmos sobre a diversidade e a diferença. A costura de suas rachaduras a e intenção de fortalecê-­‐la foi responsável pela primeiras proposta das folhas, posteriormente levadas as demais turmas. O arUsta Leonilson insUgou o imaginários dos grupos

Correspondência

Já imaginou enviar uma palavra de presente para um desUnatário desconhecido?

A leitura coleUva de Correspondências de Bartholomeu Campos Queiroz inspirou esta proposta.

O livro foi escrito no contexto da consUtuição de 88, e trazia o espírito daquele momento. Na história palavras que conUnham valores divulgados neste documento viajavam pelo Brasil sendo enviadas de brasileiros a brasileiro. Sugeri o cartão postal como mídia para nos correspondermos por implicar uma rápida e imagéUca circulação de ideias.

Os alunos enviavam palavras com a jusUficaUva para tal escolha. Os desUnatário de outra turma ao receber a palavra produzia uma imagem para o cartão e o enviava de volta, e assim inciava-­‐ se uma conversa.

Carimbos

Antes de iniciar tais trocas cada um desenvolveu um símbolo que forneceria idenUdade visual

à correspondência. A proposta de se idenUficar por símbolos direcionou a pesquisa para a história da escrita e da imprensa -­‐ Ideogramas e pictogramas foram abordados .

Procurar um símbolo que o represente foi uma direção de trabalho para o desenvolvimento de subjeUvidades.

Fanzine

Com intuito de criar situações de comparUlhamento de ideias e visões de mundo o Fanzine foi a mídia escolhida pois pressupõe tais conceitos. Dois vídeos pesquisados foram imprescindíveis para o conhecimento do assunto* . Através dessa mídia experimentamos os conceitos punks Faça Você mesmo e mídia alternaUva. Os Zines aproximaram estes jovens de uma juventude de outrora.

* Ver referências pesquisadas

Fanzine produzido por mim como estratégia de reunir todas as propostas e conteúdos trabalhados durante o projeto. Como proposta da coordenação pedagógica realizamos uma oficina de Zines com os professores que pensaram determinados conteúdos para este formato. Este trabalho trouxe reflexões a respeito dos materiais e sua perUnência do e o quanto podem potencializar aprendizagem

Cadernetas produzidas por uma turma para as aulas de campo de Geografia

impressões comparUlhadas Experimentamos inúmeros formatos, ora com apresentação individual, ora com apreciação do trabalho de um colega, ora com leitura das correspondências, avaliação das aulas e das pesquisas desenvolvidas. Perceber os momentos de comparUlhar como um movimento arUculado ao processo individual de pesquisa e desenvolvimento.

Dinâmicas como escolher um trabalho que não seja o seu para comentar posiUvamente , incenUvavam um olhar para o outro.

Autoria coleUva

Ao quebrar a lógica natural do meu e do teu, propomos outros caminhos a produção. O nosso não como um processo que anula o individuo mas que coloca sujeitos para intercambiar colaborar na produção de um bem comum a todos. As folhas de papel, os cartões postais foram processos colaboraUvos que geraram espaços de negociação e incorporaram a palavra a palavra Nós e suas implicações ao vocabulário das turmas confeccionadas são um exemplo de um produto de autoria coleUva.

Faça você mesmo!

São instrumentos desenvolvidos para as aulas que permiUam que as propostas conUnuassem para além dos limites rsicos e temporais da aula. Confeccionei alguns displays de plásUco e as mídias trabalhadas ficavam ali expostas para quem quisesse acessar. Para os postais criou-­‐ se uma ideia de caixa de mensagens, onde eles verificavam a chegada de correspondência.

Estes instrumentos foram uma estratégia para lidar com a quanUdade de informações que estava passando por mim e que não conseguia administrar. Descentralizei da figura do professor o papel de mediador, colocando-­‐os em contato diretamente.

Considerações finais

Ao organizar o material para este prêmio pude me debruçar sobre esta experiência, coisa que ainda não Unha feito pois entrei de licença maternidade no final do ano leUvo. Exercitando o pensar sobre a experiência consigo dar nome a ela e trago como Utulo para o projeto uma frase que esteve presente em nossas discussões, “O meio é a mensagem”(Mc Luhan).

Foi o meu primeiro ano de trabalho como educadora que consegui de fato me libertar de definir qualquer conteúdo a priori. Tinha apenas direções de trabalho de caráter relacional a seguir. Os conteúdos foram surgindo no processo. Foi necessário estar atento aos fluxos de interesse. A liberdade na praxe provocou um caos, onde foi dircil gerenciar este intercâmbio, e isto foi fundamental para fornecer uma não linearidade as propostas deixando-­‐as mais fluídas e flexíveis aos interesses dos grupos.

Percebemos depois de quase três anos de projeto tô no rumo uma mudança de postura desses jovens, mais críUcos e criaUvos sim! São pequenos indícios, há um emponderamento no olhar, na expressão corporal e no modo de se colocar.

Por mais que tentamos desenvolver projetos interdisciplinares somos devorados por uma roUna escolar que nos fragmenta. Nas propostas desenvolvidas surgiram temas trabalhados em outras disciplinas. O fato dos alunos realizarem esta transdiciplinaridade me fez perceber que meus amigos educadores de outras disciplina conseguiam dar uma conotação mais plural ao conteúdos, de modo que este o sujeito da aprendizagem criava relações extrapolando as caixinhas das disciplinas. Os conteúdos são vivos e transdisciplinares e dentro dessa perspecUva são o jovem o rizoma dessa relação.

A sensação que tenho hoje depois de 7 anos no exercício da profissão é de ter começado de fato a praUcar alguns conceitos que são tão caros a nós educadores (parUcipação autonomia e criUcidade) e por outro lado testemunhar o desenvolvimentos desses jovens, não me parece um processo unilateral. Não se trata do professor os transformá-­‐ los, mas de uma pedagogia do encontros= onde ambos se transformam mutuamente.

Penso que o sucesso ou o fracasso de uma aula não seja responsabilidade exclusiva do professor, o estudante exerce um papel nestes contextos, suas inquietações, criUcas impulsionam experiências, e por outro lado nós provocamos e incenUvamos tais aUtudes.

Este não foi um trabalho um trabalho solitário é um empenho coleUvo de profissionais que trabalham com educação e são compromeUdos com o desenvolvimento humano.

Referências pesquisadas

Além desses conteúdos pesquisados, e da experiência em si este projeto é embasado em ideias conUdas na obra de autores como Mc Luhan, MarUn Barbero, Michel de Certeau, Freinet, Rubem Alves e Paulo Freire, John Dewey, Tião Rocha eJ orge Larrosa Bondía.

Leituras nas quais realizo uma curadoria e as incorporo a minha praxe educaUva.

Ar4stas:

Paulo Brusky e Leonilson

Leituras das turmas:

Correspondências de Bartholomeu Campos Queiroz

Vídeos assis4dos no youtube:

Como hacer un fanzine-­‐ paso paso hxp://youtu.be/sB_Xo-­‐5KlfA

Enzine-­‐se de Gazy Andraus

hxp://youtu.be/MNS8E0GmBjA