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Sustentabilidade ano IV • edição no 3

inovação para uma economia verde

outubro/novembro 2011 Impressa: R$ 22,50 Online: R$ 5,99

EDIÇÃO ESPECIAL DE ENERGIA: EFICIÊNCIA E RENOVÁVEIS

Smart Grid: país entra de vez

na geração distribuída Hidrelétricas vs Energias Renováveis:

para onde vamos? Educação e Tecnologia:

soluções para o consumo responsável

O BARATO SAI CARO Sem foco e planejamento, o custo de economizar 1 MWh nos programas oficiais é três vezes maior que o da geração de 1 MWh em Belo Monte dia mundial da água

www.revistasustentabilidade.com.br

dia mundial da água


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Sustentabilidade é inovação. Sustentabilidade é inteligência.

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3 editorial }

A ineficiência energética brasileira ostaria de escrever sobre avanços tecnológicos, inves-

está em crise e não há outro lugar para investir com tamanha

timentos em novos projetos, programas de educação

rentabilidade já que nos países desenvolvidos as taxas de juros

das empresas, universidades e governos para melhorar

rondam o zero. A enxurrada de dinheiro fortalece o real e força

o desempenho energético do país e a relação entre consumo e

o Banco Central a ‘enxugar’ este capital comprando direta-

produção de energia, qualidade de vida e meio ambiente.

mente os dólares no mercado e vendendo títulos, tirando da

G

No entanto, o que relatamos nas matérias desta edição – fora

economia dinheiro essencial para investir. Aumentamos nossas

algumas iniciativas pontuais – é uma série de entraves legais,

reservas cambiais – hoje acima de US$ 340 bilhões –, mas im-

gerenciais e macroeconômicos que conjuram contra botar o

possibilitamos o aumento da taxa bruta de investimento – hoje

Brasil no pódio da corrida pelas novas energias renováveis e efi-

abaixo de 20% do PIB.

ciência energética.

Juros altos também retiram a capacidade do governo de in-

O ambiente macroeconômico desencoraja qualquer investi-

vestir e planejar. Nos primeiros sete meses de 2011, o governo

mento nestas áreas. De um lado temos taxas de juros escor-

federal criou um superávit primário de R$ 91 bilhões, enquanto

chantes de, no mínimo, 12% ao ano. Do outro, temos uma moeda

os investimentos ficaram em R$ 25 bilhões.

fortalecida artificialmente frente ao dólar e ao euro. Juntos, estes

Os reflexos para a eficiência energética são óbvios: por que in-

fatores impossibilitam ganhos de competitividade, investimen-

vestir em novos equipamentos e processos e obter ganhos

tos em inovação e ameaçam fortemente nosso parque industrial,

econômicos na conta de luz de um dígito se a aplicação na

pois, para as empresas, é mais barato importar equipamentos e

ciranda financeira rende no mínimo 12% anuais, sem risco? É uma

produtos do que investir.

lógica perversa, apesar do alto custo da eletricidade no Brasil.

Câmbio e juros estão intimamente ligados. Juros altos

Há quem diga que temos um potencial para economizar ime-

atraem capital especulativo, principalmente quando o mundo

diatamente 30% de todos os 420 terawatts-hora consumidos

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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4 editorial }

anualmente no país. Mas, no Plano Decenal de Energia (PDE) e

biomassa e etanol celulósico, tecnologias que já vêm sendo

no Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) foram iden-

viabilizadas em outros países.

tificados potenciais de economia energética de 5% e 10% em 2020 e 2030, respectivamente.

Os entraves, contudo, persistem. A capacidade de geração de conhecimento de nossas universidades é imensa, mas não con-

É pouco. Afinal, parte do plano prevê investimentos e ino-

seguimos transformá-la em inovação efetiva. Falta criar meca-

vação, por parte das empresas, em melhorias do desempenho

nismos que aproximem centros de conhecimento e empresas,

energético de produtos e processos, que podem não vir à luz por

para que estas invistam em inovação.

conta do nefasto ambiente macroeconômico.

A criação deste ciclo de investimento é improvável num

Do lado das energias renováveis, podemos até comemorar o

cenário de escassez de dinheiro. O mundo está numa corrida

sucesso da eólica que, com preço baixo, acabou se instalando de

pelo controle das novas tecnologias energéticas limpas. O

fato no Brasil com mais de meia dúzia de fabricantes de equipa-

Brasil, apesar de seus abundantes recursos naturais – sol, vento,

mentos investindo no país após uma década de tentativas. O

biomassa, água – custa a entrar nesta corrida. Falta foco em

sucesso vem da política de obrigar um índice mínimo de 60% de

políticas públicas e pragmatismo contra os entraves micro e

nacionalização da tecnologia como contrapartida para o finan-

macroeconômicos.

ciamento barato do BNDES. Vem também, sobretudo, da necessidade das empresas eólicas estrangeiras buscarem mercados ativos após o colapso dos mercados na Europa e EUA. Deveríamos fazer dessa janela de oportunidade uma

Boa leitura,

política consistente e concreta, de olho nas demais renováveis

Alexandre Spatuzza

como a solar fotovoltaica, células a combustível, termossolar,

Diretor de conteúdo

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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5 sumário } 6 Capa Eficiência Energética O barato sai caro

30 Artigo Energia: o que muda com a Convenção do Clima?

17 Eficiência Energética Educação e Tecnologia: soluções para o consumo responsável

19 Artigo Demandas tecnológicas para a eficiência energética

22 Entrevista

32 Geração distribuída Brasil entra na era da smart grid em 2012

37 Artigo Eficiência e sustentabilidade

38 Entrevista

Hamilton Moss de Souza

25 Estudos de casos

Maurício Tolmasquim

41 Artigo

Gerenciamento do calor em equipamentos

Leilões de energias renováveis

42 Capa Energias Renováveis

27 Perspectiva Projeções de consumo ascendente e desenvolvimento responsável

Hidrelétrica vs Solar, Eólica e Biomassa

50 Energia Eólica

29 Artigo

Promessas de um mercado promissor

Economia de baixo carbono e a eficiência energética

A edição especial da Revista Sustentabilidade – Energias Renováveis/Eficiência Energética é uma publicação do portal Revista Sustentabilidade Projeto editorial e reportagem Vespa Serviços de Comunicação e Abaporu Comunicação

Colaboradores Eugênio Melloni, Janaina Simões e Marcel Gomes

Aliança estratégica e comercialização InvestVida Brasil

Projeto gráfico e direção de arte Lu Cury

Diretor Executivo Ailton Oliveira

Assistência de arte Ione Gomes Franco

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Revista Sustentabilidade Edição Especial


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6 eficiência energética }

O BARATO A falta de planejamento tem um preço amargo: no Brasil, hoje, é mais barato construir novas usinas do que economizar energia Por Alexandre Spatuzza

O

s sinais econômicos e o desempenho brasileiro na

construir novas usinas com potência total de 1,7 mil megawatts.

área de eficiência energética são no mínimo confli-

Isso equivale a um investimento de R$ 347,00 para cada

tantes. Cresce o rigor da legislação ambiental e o

megawatt-hora economizado. A falta de foco e eficácia desses

preço da energia elétrica se mantém alto – principalmente para

programas de eficiência energética, entretanto, é revelada por

as empresas –, incentivando fortemente a implantação de me-

uma simples comparação: o investimento a ser feito em Belo

didas de eficiência energética. Enquanto isso, entretanto, os es-

Monte para gerar 1 megawatt-hora será de R$ 77,97.

forços nesse sentido são diminuídos e diluídos por problemas

Gilberto Jannuzzi, pesquisador do Departamento de Energia

como a falta de financiamento adequado, taxas de juros altas e a

da Faculdade de Engenharia da Unicamp, a falta de foco é gri-

falta de foco das políticas.

tante. Mesmo considerando a vida útil dos equipamentos e dos

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),

programas, que diminuem os custos, a conta na ponta do lápis

entre 1998 e 2007, foram investidos R$ 1,9 bilhão em mais 3 mil

mostra o desperdício. “A taxa de retorno é muito baixa e a falta

projetos que economizaram 5,6 mil megawatts-hora (MW/h) por

de transparência dos números e de monitoramento não nos per-

ano. Esse investimento resultou no adiamento da necessidade de

mite verificar se os critérios foram adotados corretamente”, diz.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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Segundo estudo de Jannuzzi, a conta fica ainda mais crítica

o custo marginal de expansão do sistema de energia elétrica foi es-

ao incluirmos os programas mais recentes dos quais 64% são des-

timado em R$ 138,00 por MWh no Plano Decenal 2007/2016 da

tinados à troca de equipamentos, que duram menos de dois

Empresa de Planejamento Energético (EPE), do principal órgão do

anos, para a baixa renda: foram R$ 3,8 bilhões para economizar

governo federal responsável pela incumbência que o batiza.

7, 3 mil MWh/ano, ou seja, R$ 520,00 por MWh.

“Há um potencial de 30% de economia no uso da eletricidade,

Isto está longe do que se pratica mundo afora. Um estudo da

na média,” afirma Máximo Pompermayer, superintendente dos

Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que os progra-

programas de eficiência energética da Aneel. “Mas temos uma le-

mas podem ser bem mais compensadores. Na análise de 217 proje-

gislação amarrada, que direciona os recursos obrigatórios para uma

tos de eficiência energética de 13 setores industriais, o custo médio

camada da população cujo efeito no consumo total é o irrisório”. Pompermayer se refere ao Programa de Eficiência Energética

NASA Visible Earth/site: http://www.fourmilab.ch/cgi-bin/Earth

do MWh economizado foi de R$ 79,00 por MWh. Em comparação,

Foto de satélite, registrada em 18/10/2011, revela a luz das cidades brasileiras vistas do espaço. As duas maiores manchas de iluminação encontram-se nas macrometrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro Revista Sustentabilidade Edição Especial


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EM UM ANO, A TAXA BÁSICA DE JUROS É DE 12%, MAS OS GANHOS FINANCEIROS EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA LIMITAM-SE, EM GERAL, A UM DÍGITO

(PEE) que, ao completar mais de uma década, já arrecadou mais

O Ministério de Minas e Energia (MME) está elaborando

de R$ 3 bilhões das distribuidoras de eletricidade para implemen-

há mais de três anos o PNEf, que, apesar de pronto, ainda não

tar projetos e programas para reduzir o consumo de eletricidade.

havia sido lançado até o fechamento desta edição da Revista

A lei determina que 0,5% do faturamento líquido dessas empresas

Sustentabilidade.

– que são mais de uma centena – seja destinado a estes programas.

PLANEJAMENTO

AÇÃO GOVERNAMENTAL A timidez do governo brasileiro frente à questão da eficiência

“A energia menos impactante e mais barata é a energia econo-

energética contrasta com a urgência dos especialistas da área.

mizada, o que chamamos de negawatt”, disse o presidente da

Estes últimos demandam ações mais concretas e focadas para

EPE, Maurício Tolmasquim. “Por isso eficiência energética é im-

desmantelar o ciclo vicioso no segmento da energia. Iniciativas

portante para o planejamento, mas não exclui a necessidade de

sem as quais, dizem, será necessário buscar novas fontes de ener-

planejar o fornecimento”.

gia cada vez mais distantes e caras, tanto para o bolso, quanto

O potencial de economia energética de 30% estimados por

para o meio ambiente.

Pompermayer está bem acima dos 5% previstos no Plano de De-

“Nossos estudos mostraram que a economia de energia faz

senvolvimento Energético 2020 (PDE), bem com dos 10% pre-

mais sentido que construir novas usinas”, afirma Rodrigo Garcia,

conizados até 2030 nas premissas básicas do Plano Nacional de

analista de eficiência energética da CNI. “Os atrasos no PNEf

Eficiência Energética (PNEf). “Projetamos nos planos o que

mostram que governo não está dando prioridade para a questão”.

achamos que vai acontecer e o que não queremos que aconteça”,

Em comparação, o governo federal dos EUA, frente à crise fi-

afirmou Tolmasquim. Revista Sustentabilidade Edição Especial

nanceira de 2008, aprovou no congresso o Recovery Act, em


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A GRANDE MURALHA DO FINANCIAMENTO INDUSTRIAL As empresas brasileiras enfrentam uma gran-

mas de eficiência energética, chamadas Escos.

de barreira à eficiência energética: faltam li-

Apesar de ter anunciado em 2008 que pre-

nhas de financiamento acessíveis e sobram

tendia assinar contratos somando R$ 85 mi-

taxas de juros abusivas.

lhões até final de 2010, só R$ 33 milhões

Figueiredo da SustentaX é categórico: “Investir em eficiência não paga a comissão.

foram liberados em 15 operações e, destes, apenas R$ 1,8 milhões foram para as Escos.

Só a taxa de juros que recai sobre o emprés-

Sendo pequenas empresas, as Escos não

timo ultrapassa a eficiência da bomba que

conseguem apresentar garantias suficientes

você compra”.

para obter o dinheiro que é essencial para im-

Na ponta do lápis, a conta é simples: a taxa

plementar os programas de eficiência. O agra-

básica de juros é de 12% ao ano e os ganhos

vante é que a remuneração dessas empresas,

em eficiência energética são, em geral, de um

regidas por contratos de desempenho, pro-

dígito por ano.

vém da economia de energia gerada nesses

“Financeiramente, não faz sentido investir

mesmos programas.

em eficiência energética. Então, as empresas

Apesar de iniciativas pontuais – como algu-

focam em enfrentar problemas conjunturais

mas cidades que começam a oferecer descon-

como dólar baixo e desindustrialização” diz

tos no Imposto Predial e Territorial Urbano

Garcia da CNI.

(IPTU) para edifícios mais eficientes – o ciclo

De fato, há aí um grave problema com os programas brasileiros de eficiência energética.

vicioso de financiamento às Escos ilustra a falta de foco do governo na questão.

Nos EUA e Europa os programas têm como

“O governo tem que ser a força motriz e de-

opção de financiamento os créditos de car-

veria dar uma gama de incentivos fiscais, mudar

bono, já que a redução no consumo corta di-

a lei de licitações para o poder público comprar

retamente a queima de combustíveis fósseis

as tecnologias mais eficientes, mesmo que mais

nas centrais elétricas térmicas que represen-

caras, e focar os programas de eficiência ener-

tam 70% da geração. No Brasil, cerca de 70%

gética nas indústrias e nos edifícios públicos”,

da geração elétrica é de fonte renovável hí-

resume Cutri.

drica, o que torna difícil contar com o sequestro de CO2 para financiar as ações.

Apesar de tarde, no final, todos acham o PNEf benvindo, pois traz as diretrizes básicas.

Desde 2006, o governo oferece, por meio

O desafio, como salientou Garcia, é transfor-

do BNDES, uma linha chamada Proesco para

mar os planos em ações efetivas e não apenas

empresas de engenharia que projetam progra-

numa lista de desejos.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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Eficiência Energética no Brasil: Ganhos e Custos Comparados (% e MWh) Custos em R$/MWh %

400

15%

347

300

12 10

10%

200

138 5%

2,6 ual de Taxa an ica s á b juros Brasil

ual de Taxa an édio de m o n r to re as de EE program

99

100

dústria EE na in média o (projeçã 2019) té anual a

ia nos arginal Econom as EE Custo m são do program 1/2000) de expan trico 9 elé (Lei 9.9 sistema

77,97

as Program is de EE ia tr s u d in

de Energia nte o M Belo

Fontes: EPE/CNI/PROCEL

2009, um pacote de recuperação econômica que alia a criação

(BNDES) para financiar projetos das empresas de conservação

de empregos com a melhora da matriz energética suja e progra-

de energia por meio de contratos de desempenho.

mas de eficiência energética. Desde sua criação, US$ 8,9 bilhões

Em termos financeiros, o mais importante é o PEE que, am-

foram destinados a programas de racionalização do consumo em

parado por lei, arrecada cerca de R$ 300 milhões ao ano. No en-

empresas e residencial. O Recovery Act inclui R$ 5 bilhões em

tanto, especialistas do setor – e até da Aneel – são unânimes ao

subsídios diretos para financiar a melhoria do isolamento tér-

dizer que o PEE é direcionado à camada errada da população e

mico de 377 mil residências, o que reduziu as contas de luz de

tem pouco efeito, pois concentra-se em programas de trocas por

cada casa beneficiada pelo programa em mais de US$ 300 anuais,

equipamentos mais eficientes – na maioria, itens de linha branca,

segundo dados do governo estadunidense.

como geladeiras – orientados à população de baixa renda. Assim,

No Brasil, a ação governamental, apesar de centralizada, é

pouco sobra para implantar projetos no setor industrial, que con-

confusa e calcada em três pilares: os programas de etiquetagem

some quase metade de toda a energia elétrica do país, e no setor

e selos, o PEE da Aneel e o Proesco que é uma linha de crédito

público, seja no plano federal, estadual ou municipal.

do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Revista Sustentabilidade Edição Especial

“É um clientelismo muito grande, as pessoas recebem o equipa-


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ESTIMA-SE QUE O BRASIL TEM POTENCIAL IMEDIATO DE ECONOMIA ENERGÉTICA DE 30%. MAS AS PROJEÇÕES DO GOVERNO SÃO CONSERVADORAS: 10% ATÉ 2030 mento e as empresas distribuidoras de energia aproveitam para

presa nas comunidades pobres para aliar geração de renda, edu-

combater furto de energia e expandir suas bases de consumidores”,

cação e ganhos ambientais. Pompemayer destaca o programa im-

avalia Garcia da CNI. “Este dinheiro poderia ser direcionado para

plementado pela Neoenergia que apoia a criação de oficinas e a

os setores que mais consomem e, no final, nós que pagamos por

produção de artesanato reutilizando resíduos descartados.

estes projetos que são decididos pelas concessionárias”.

Segundo ele, entretanto, o processo educativo mais ade-

Segundo Jannuzzi, quando há uma obrigação de investir o

quado deve incluir alguma contrapartida econômica por parte

dinheiro em camadas específicas, as empresas se preocupam

dos beneficiários, estabelecendo a responsabilidade comparti-

muito mais em gastar o dinheiro para cumprir a legislação do

lhada. O executivo da Aneel sugere uma contribuição adicional

que buscar os melhores resultados. E mesmo assim não con-

feita na própria conta de luz, longamente parcelada até que

seguem gastar todo o dinheiro, pois o número de famílias

pague o equipamento adquirido. Isto também ampliaria os fun-

cadastradas na tarifa social é de algumas dezenas de milhares.

dos disponíveis para eficiência energética e evitaria casos de

“Se este dinheiro fosse aplicado com os critérios certos, seria

revenda dos equipamentos e lâmpadas fluorescentes compactas

bem fácil atingir, em 20 anos, a meta de 10% do PNEf,” calcula

mais caras como registrado pelas pesquisas de Jannuzzi. “No

Jannuzzi. Essa opinião é compartilhada por Pompemayer, cujos

final, estes programas não foram inteligentes e não resolvem o

cálculos revelam que esse foco inadequado destina 60% dos re-

problema principal que é a falta de renda”, disse.

cursos para eficiência energética a uma camada da população que consome apenas cerca de 4%.

ETIQUETAGEM E INOVAÇÃO O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Instituto Na-

LINHA BRANCA E BAIXA RENDA

metro) tem sido mais eficaz. Apesar de estar em fase inicial e

“Reconheço que estes programas têm seu valor social, principal-

incluir, até agora, menos de 10 equipamentos, a iniciativa do In-

mente quando aplicado inteligentemente com campanhas edu-

metro vem, desde 2001, estabelecendo exigências de eficiência

cacionais e de conscientização, já que não adianta trocar a

cada vez maiores. Hoje, existem níveis mínimos para ares-condi-

geladeira ou dar uma lâmpada se as pessoas não são orientadas

cionados, lâmpadas e motores elétricos.

a melhorar os padrões de consumo”, explica. Alguns programas brasileiros aproveitam a entrada da em-

cional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (In-

O PBE não deve, contudo, ser confundido com o selo do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) que Revista Sustentabilidade Edição Especial


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FOCO INADEQUADO: 60% DOS RECURSOS PARA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA SÃO DESTINADOS A UMA CAMADA DA POPULAÇÃO QUE CONSOME APENAS 4%

tem 22 programas de pesquisa de consumo de equipamentos, faz apenas indicações do nível de consumo de cada produto e é coordenado pelo MME por intermédio da Eletrobrás. O governo, diz Alexandre Paes Leme, técnico do PBE, já fez

Consumo por segmento no Brasil

um cronograma para incluir mais itens que, ao ingressarem no PBE, deverão ampliar sua eficiência em 10% a cada três ou quatro anos. “Esta previsibilidade fará com que as empresas planejem a

outros 14%

inovação para atingir as metas”, diz Leme. Em 2013, micro-ondas e edificações, entre outros itens, pas-

comercial 17%

industrial 43%

sam a fazer parte do PBE. Em 2014, será a vez dos chuveiros elétricos. Além disso, o comitê Gestor de Indicadores e Níveis

residencial 26%

Eficiência Energética (CGIEE) já encomendou estudos para incluir equipamentos de informática e ventiladores, bem como, a pedido da CNI, capacitores industriais. A decisão de dar um período de quatro anos para cada ciclo

Fonte: EPE Resenha mensal do mercado de energia elétrica – Julho 2011 (consumo acumulado 12 meses – 423.829GWh)

não foi aleatória, pois leva em conta os ciclos de inovação nas diferentes indústrias. É um esforço de inovação para o qual as empresas deverão se adequar. A Embraco, maior fabricante de compressores usados em vários equipamentos incluindo refrigeradores, mantém uma equipe de 500 pessoas para pesquisa e desenvolvimento dos seus

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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produtos, além de parcerias com a Universidade Federal de

em prédios que têm certificação ambiental, como LEED ou

Santa Catarina (UFSC).

Aqua, o desempenho energético pode ser menor que o espe-

“Investimos 3% do faturamento líquido em pesquisa e ino-

rado se não for mantido corretamente. Por isso, o Aqua, por

vação, independente da conjuntura econômica”, afirma o diretor

exemplo, já inclui manutenção como quesito. O LEED agora

de Relações Institucionais de Pesquisa e Desenvolvimento da

está introduzindo no Brasil a certificação para operação e

Embraco, Guilherme Lima.

manutenção em prédios existentes.

Os campos de desenvolvimento dos produtos da Embraco

“A eficiência energética no edifício depois de construído tem

concentram-se na eficiência energética, mas também focam na

que ser pensada desde a concepção do projeto, contando com

redução de consumo de matérias-primas e a diminuição do uso

itens como automação e um plano de operação e manutenção”,

de componentes danosos ao meio ambiente.

explica Rodrigo Cutri, coordenador do programa de eficiência energética na Fundação Santo André. Inovar em detalhes simples pode fazer a diferença num plano

PROCESSOS INOVADORES

de manutenção. Cerca de 80% da sujeira de um edifício entra

Inovação de produtos, no entanto, não é tudo. Grande parte dos

pelos pés e, se não for controlada, resulta em custos mais altos

ganhos em eficiência requer mais a inovação em sistemas de

de limpeza dos pisos, carpetes e filtros de ar-condicionado, o que

manutenção, processos e hábitos.

resulta em maior consumo elétrico. A solução chega a ser banal:

Um exemplo disso é o setor imobiliário, onde reside um dos

basta colocar um capacho para captar a poeira.

maiores potenciais de contribuição para o aumento da eficiên-

“Não é questão de projeto, mas de falta de controle” diz New-

cia energética, principalmente no segmento de edificações já

ton Figueiredo, CEO da consultoria Sustentax que concluiu a

construídas. No mundo inteiro, os imóveis já existentes são res-

primeira certificação LEED de Operação e Manutenção no Brasil

ponsáveis por cerca de 40% de todas as emissões CO2. Mesmo

em um edifício paulista.

Uso final da energia som 3% ferro 3% freezer 5% tv 9%

lava-roupas 0,4% micro-ondas 0,3% outros 14% chuveiro 24%

Residencial

Comercial

equipamentos de escritório 15%

ar-condicionado 48%

lâmpadas 14% geladeira 22%

iluminação 23%

ar condicionado 20%

Fonte: Robert Lamberts – LabEEE – UFSC

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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14

O PREÇO DA ENERGIA PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA É 57% MAIS ALTO DO QUE A MÉDIA DE OUTROS 27 PAÍSES

ISO 50001

questão de sobrevivência,” explicou Marcelo Massarani, coor-

Além destes selos, o Brasil está começando a implantar a ISO

nológico e da Engenharia (FDTE) que foca em educação

50001 de eficiência energética, que será representada no Brasil

continuada, pesquisas e oferece um curso de eficiência ener-

pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Lançada

gética. “O setor químico, o de alumínio, papel e celulose e me-

em julho de 2011, a certificação vai além dos processos produ-

talúrgico estarão na frente por necessidade”.

denador de cursos da Fundação para o Desenvolvimento Tec-

tivos, inclui edifícios e foi bem recebida pelo mercado que já a

Entre as micro e pequenas empresas – que consomem 32%

está demandando, principalmente por causa do altos custos da

da energia do país, excluindo-se as irregulares – a eficiência

energia. Como em todas as ISO, para renová-la é preciso sempre

também está em alta, mas por uma questão de legislação e de

melhorar o desempenho.

crescimento econômico.

“A ISO 50001 oferece padrões internacionais e mostra que se

“A demanda é devida ao processo natural de intensificação

pode efetivamente economizar dinheiro”, explicou José Cunha, di-

de carga à medida que as MPE investem em automação e a

retor de Certificação da consultoria Bureau Veritas Certification.

energia elétrica tem mais peso nos custos”, explicou Ricardo Wargas, coordenador do Programa de Eficiência Energética

QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA

do Sebrae-RJ. Além do custo, explica Wargas, as empresas acabam sendo

Um estudo publicado, em agosto de 2011, pela Federação das

pressionadas pela população que não aceita mais desperdício e

Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que

pela legislação urbana que força evitar sistemas antigos, como,

o preço da energia para setor industrial brasileiro é 57% mais

por exemplo, os que jogam o calor na rua ou geradores a diesel

alto que a média de 27 países medidos. Enquanto a média

antigos que soltam fumaça.

brasileira está em R$ 329,00 por MWh, a média dos países avaliados é de R$ 215,50. Isso faz com que empresas naturalmente busquem a eficiência, começando pelas mais eletrointensivas. “É uma Revista Sustentabilidade Edição Especial

“Mostramos que não é só a troca de equipamentos que gera o resultado. Pensar em todo o processo gera eficiência na produção em geral. A eficiência energética é uma chave para a melhora da eficiência econômica”, diz. k


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15 eficiência energética }

É A NOVA FRONTEIRA A renda da população aumenta, eleva-se o consumo e o efeito dominó se estende ao desafio da eficiência energética. Ao lado da tecnologia, a educação é o novo consenso entre especialistas. Por Alexandre Spatuzza

ma crise social, econômica e ambiental sem prece-

Uma típica representante dessa nova classe emergente

dentes se anuncia e ameaça não apenas a hu-

brasileira é a empregada doméstica Andréia Noemi Pereira da

manidade, mas o planeta como um todo. O que nos

Silva, 31 anos, casada e mãe de uma filha. Residente em Ribeirão

empurra para esse beco sem saída do século 21 é nossa forma

Preto, polo sucroalcooleiro paulista, ela conquistou acesso a

perdulária de consumir e utilizar os recursos naturais. Tal con-

novos bens de consumo antes inacessíveis a sua família: nos úl-

clusão vem de um amplo movimento político, empresarial e so-

timos três anos, adquiriu um carro, uma motocicleta e um com-

cial que exige novos hábitos, preceitos, conceitos e padrões de

putador com banda larga. “Vou menos ao cabeleireiro, compro

consumo de matérias-primas – sobretudo, de energia – para

menos roupas e até comida, mas é bom poder se movimentar

garantir o bem estar socioambiental mundial.

com mais liberdade na cidade”, diz, insatisfeita com o transporte

U

Diante desse quadro, o Brasil atira-se num paradoxo. Afinal,

público local, que segundo ela é “caro e lotado”.

o surto de crescimento econômico sem precedentes no qual o país se regala pode ser colocado em cheque na medida em que é conduzido de forma socioeconomicamente insustentável. Hoje,

ELASTICIDADE ENERGÉTICA

95 milhões de brasileiros, quase metade da população do país,

A nova condição de Silva revela um mecanismo econômico im-

encontram-se na classe média, segmento para onde ascenderam

placável: à medida que aumenta a renda da população, aumenta

29 milhões de pessoas entre 2003 e 2009, segundo estudo da

também o consumo, principalmente o energético. A geração de

Fundação Getúlio Vargas.

resíduos no Brasil – indicador do nível de consumo da sociedade Revista Sustentabilidade Edição Especial


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16

O CRESCIMENTO MÉDIO PROJETADO DE 5% DO PIB BRASILEIRO ATÉ 2020 SERÁ ACOMPANHADO POR UM AUMENTO DE 4,6% NO CONSUMO DE ELETRICIDADE

- aumentou de 359 quilos por habitante ao ano em 2009, para

Popermayer da Aneel, que é crítico dos programas de troca pura

378 quilos em 2010, um acréscimo de 5,3%, segundo dados da As-

e simples de equipamentos para a população de baixa renda. Se-

sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

gundo ele, a Aneel contratará consultores para melhor guiar os

Especiais (Abrelpe).

programas de eficiência energética previstos na lei que obriga in-

No consumo energético, vemos uma tendência parecida: em

vestimento de cerca de R$300 milhões por ano.

2010 o consumo de eletricidade no país atingiu 419 tWh, um aumento de 7,9% em relação aos 388 tWh consumidos em 2009. Paralelamente, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu

EDUCAÇÃO

7,5% no mesmo período.

“O melhor caminho para a educação e conscientização é mostrar

Da mesma maneira, o crescimento médio projetado de 5%

que é preciso pensar no jeito de consumir e até aliar os progra-

do PIB brasileiro até 2020 será acompanhado pelo um aumento

mas com geração de renda e uma contrapartida do consumidor

do consumo de eletricidade estimado pela EPE em 4,6%. Ou

para ele saber o custo”, diz Popermayer.

seja, para cada ponto percentual de aumento do PIB o consumo de energia cresce um pouco abaixo de um ponto percentual.

A opinião é compartilhada por Ricardo Wargas, supervisor do Programa de Eficiência Energética do Sebrae-RJ. Ele é

Comparativamente, apesar dos EUA e Europa terem uma in-

categórico: “o primeiro passo é sempre a conscientização”. War-

tensidade energética – sinônimo de eficiência energética – me-

gas afirma que o pequeno empresário só investirá em novos

lhor que o Brasil, o consumo per capita é bem mais alto que o

equipamentos mais eficientes quando estiver ciente dos re-

brasileiro e fica em torno de 14 mil kWh e 8 mil kWh por ano,

tornos, principalmente os econômicos. “A partir daí o em-

respectivamente, segundo dados do Banco Mundial. No Brasil,

presário começa a ter ganhos em todos os lados, pois começa

este consumo está em 2,2 mil kWh por ano.

pensar mais racionalmente sobre seu processo de produção”, diz.

Os programas de eficiência energética visam sempre reduzir

Rodrigo Cutri, coordenador dos cursos de eficiência ener-

a relação entre renda, preço e consumo de energia, conhecida

gética na Fundação Santo André, diz considerar a Educação um

pelos especialistas como elasticidade energética. Há, no entanto,

fator essencial quando se trata dessa temática. Cutri defende a

dois caminhos para atingir este objetivo, não excludentes: a

que a disciplina deva constar das grades curriculares de cursos

educação e a tecnologia.

de Arquitetura e Engenharia.

“Há que se ter um equilíbrio entre estes dois,” disse Máximo Revista Sustentabilidade Edição Especial

O foco educacional está no centro dos programas de


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17

Atividades das instituições universitárias e de pesquisa em eficiência energética

Instituição CATE - CEPEL CDEAM - UFAM

Ensaios

Metrologia

• •

CTEC - UFAL EXCEN - UNIFEI

GEE - PUC / RS GOSE - Unesp Green Solar - PUC / MG INMETRO INT IPT LABAUT - USP LABEEE - UFSC LACTEC

• • • • • • •

LAI - UFMG LENHS - UFPB NIPE - Unicamp NUCAM - Unesp

• • •

PEC - UFG PEE - COPPE

• • • • • •

Diagnósticos energéticos

Treinamento

• • • • • •

• • • • • • •

• • • • • • • • • • •

• • • • • • • • Fonte: CNI/PROCEL/Eletrobras

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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18

“NÃO PRECISAMOS NECESSARIAMENTE DE NOVAS TECNOLOGIAS. OS NOVOS HÁBITOS TÊM UM GRANDE PODER”

eficiência energética promovidos pelo Governo do Estado de

em 40 laboratórios nas escolas até o final de 2011 e chegar a 200

São Paulo. Arnaldo Neto, coordenador da área de Eficiência

em todo estado até 2013.

Energética da Secretaria Estadual de Energia de São Paulo, descreveu com exclusividade para a Revista Sustentabilidade as propostas do governo. “Não precisamos necessariamente de novas tecnologias. Os novos hábitos têm um grande poder e devem ser baseados em dois pilares: o primeiro é dar o exemplo e o segundo é educar”, afirma.

Os ganhos pragmáticos em eficiência têm outro poderoso aliado em potencial. Além de cursos e campanhas de conscientização, governo também pode propor regulamentos e normatizações que tornem obrigatórias as ações de eficiência. “As ações de comando e controle visam obrigar a sociedade atingir níveis mínimos de eficiência”, lembra Maurício Tol-

Operando em parceria com as distribuidoras locais (AES

masquim, presidente da Empresa de Planejamento Energético

Eletropaulo, CPFL, Bandeirante e Elektro), o programa paulista

(EPE). O grande exemplo da eficácia destes programas ocorreu

tem disponível R$30 milhões ao ano, que inclui a melhoria da

no apagão de 2001-2002. A população foi obrigada a reduzir o

eficiência em prédios públicos, priorizando hospitais e incluindo

consumo em 20% por meio de multas para os que não atingis-

escolas estaduais. A meta é, em quatro anos, reduzir o consumo

sem as metas. O resultado: o nível de consumo médio pré-

do estado em 10%.

-apagão só foi alcançado novamente depois de 6 anos.

Entretanto, a viabilidade da principal inovação do programa

Tolmasquim frisa, contudo, que para implementar progra-

está em análise na Aneel: a idéia é usar o dinheiro das dis-

mas de eficiência energética é preciso mesclar programas obri-

tribuidoras para montar disciplinas de eficiência energética nos

gatórios com incentivos fiscais, o que decorre na troca de

cursos de Mecatrônica, Eletrônica e Edificações nas escolas e

equipamentos perdulários por novos.

colégios de Ensino Técnico do estado (Etecs e Fatecs).

As tecnologias já estão disponíveis no mercado, oferecendo

“Há uma carência de profissionais que entendem de eficiência

significativos saltos de eficiência anualmente. O desafio é romper

energética. A maioria dos alunos está empregada e pode influenciar

com os comportamentos perdulários de uma época há muito pas-

suas gerências para melhorar o desempenho energético. Isto é au-

sada em que a única preocupação com a energia era garantia de

tomático”, disse Neto. Segundo ele, a meta é introduzir a disciplina

suprimento e preço acessível (Colaborou Marcel Gomes). k

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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19 artigo }

Novos Projetos de Eficiência Energética Dependerão Necessariamente do Emprego de Tecnologia Por Jose Starosta *

A

abordagem clássica inicial dos projetos relacionados

intervenção das instalações de ar-condicionado e outros sistemas,

1. Ferramentas de controle e automação, baseadas em inovação tecnológica e novos sistemas de gestão de instalações e utilidades, apoiadas nas informações disponibilizadas e na aplicação do conceito de smart-grid.

no caso dos prédios comerciais. Nas industriais, as utilidades

Os equipamentos instalados deverão ser necessariamente mon-

complementam os pontos de intervenção com atenção nos sis-

itorados e controlados remotamente por redes lógicas a eles as-

temas de produção e uso de ar comprimido, calor e frio, bombas

sociados. Não somente grandes equipamentos com potências

e ventiladores. A análise do processo industrial é outro ponto que

nominais da ordem de centenas de kW (quilowatt), mas simples

merece consideração, mas as intervenções têm menos peso.

reatores aplicados em sistemas de iluminação, ou mesmo os re-

com eficiência energética em instalações industriais e prédios comerciais trata classicamente de ações vincu-

ladas a práticas de retrofit em sistemas de iluminação, análise e

A busca contínua do melhor desempenho dos sistemas e

frigeradores de uma padaria.

melhores indicadores de consumo de energia traz à tona uma inte-

Considerando-se que equipamentos ligados às redes elétricas

ressante discussão: Teremos limites para imaginar que determi-

também o são às redes de informação, pode-se obter com abso-

nada instalação ou sistema atingiu uma situação adequada?

luta precisão sua forma de operação e energia gasta a cada in-

Claro que não! E a própria recém lançada ISO 50001 cor-

stante, o que subsidiará sua gestão e melhor controle de

robora esta conclusão. Os modelos dessa norma, que recomenda

operação. E ainda: os controles de operação não serão mais con-

o uso da técnica do “PDCA” inspirada nas normas de qualidade,

cebidos em combinações binárias (liga-desliga), mas inseridos

sugerem a busca contínua dos melhores indicadores de eficiência

no controle do processo, quer em uma operação clássica de in-

energética, além do compromisso da alta direção da empresas

versor de frequência em motores nas indústrias e grandes pré-

nestes “propósitos verdes”.

dios comerciais, quer em reatores eletrônicos “dimerizáveis”, não

O que nos parece claro é que os conceitos clássicos de projetos de eficiência energética apontados serão complementados por:

só em interiores, mas, por exemplo, em estradas com lâmpadas acionadas por reatores dotados de recursos para reduzir o fluxo Revista Sustentabilidade Edição Especial


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20

luminoso na falta de movimento (isso mesmo: dimerização em

conheça com precisão o carregamento de transformadores, per-

lâmpadas de vapor metálico ou sódio), ou ainda nos campos de

das elétricas, perfil de correntes e tensões harmônicas nos bar-

futebol nos horários de pré-jogo e intervalos.

ramentos, presença de ressonâncias, capacitores em sistemas

Evidentemente outras conveniências de operação podem estar associadas a processos em que a eficiência energética é

obsoletos que operam inadequadamente incrementando as perdas e causando perda da qualidade da energia.

obtida, como o prolongamento da vida de componentes e melhor controle da instalação.

4. Integração de fontes de energia e concessionárias/poder regulador.

2. Aumento da produtividade, influência da qualidade de energia.

Fontes renováveis de energia como fotovoltaicas, eólicas e bio-

De uma vez por todas, a qualidade de energia deve ser conside-

plantas com os sistemas típicos de alimentação pelas conces-

rada como insumo de qualquer processo produtivo. Quando não

sionárias locais. Geração distribuída, conforme as possibilidades

consideradas, perdas na produção, devido a paradas não expli-

de cada planta, além da integração aos processos produtivos, é

cadas sem que se entenda ou que se esclareça o que estaria ocor-

um caminho possível e muito próximo. A regulamentação da

rendo, são um mal comum que afeta estas plantas. Paradas de

conexão deve ser concluída em breve, deixando os consumidores

equipamentos sem claras informações e tomadas de ações cor-

livres para escolher de que forma vão se conectar à rede, inclu-

retivas induzem os processos a retrabalhos e perdas exageradas

sive injetando seus excedentes de produção de energia.

massa são boas alternativas para alimentação das cargas das

de energia, além das perdas operacionais. É comum verificar pro-

Outra discussão deve considerar novos modelos de tarifas de

jetos de incremento de qualidade de energia com aumentos de

energia que incentivem o uso de energia em períodos mais ade-

produtividade maiores que 20%. Por outro lado, sistemas elétri-

quados às curvas de carga das concessionárias. A discussão do

cos adequados às premissas e conceitos usuais das normas de

modelo de cobrança do fator de potência é outro ponto que deve

qualidade de energia têm como característica uma significativa

ser considerado.

redução de perdas elétricas.

5. Green IT 3. Nova abordagem na especificação de equipamentos e instrumentos para as instalações elétricas.

Usuários e fabricantes das cargas de tecnologia de informação têm

A tecnologia disponível em sistemas de monitoração e medi-

As discussões nos grandes bancos comerciais e datacenters in-

dores de variáveis elétricas atuais, onde a tensão de alimen-

cluem não somente aspectos de confiabilidade dos equipamentos

tação pode ser acompanhada a cada ciclo na alimentação nos

e da operação, mas também suas eficiências e a relação de com-

barramentos em que as cargas são alimentadas, é outra excep-

promisso das duas variáveis. Fabricantes de UPS (sistemas inin-

cional oportunidade para se eliminar os vícios presentes

terruptos de energia) que alimentam as cargas de tecnologia de

na alimentação de equipamentos. Monitoração online de dis-

informação (TI) desenvolvem equipamentos e modos de operação

torções, desbalanceamentos e afundamentos de tensão, com

mais eficientes, associados a componentes mais precisos. É o caso

indicação de ações corretivas e principalmente evitando recor-

de sistemas redundantes em que pelo menos um dos sistemas

rências, é uma poderosa ferramenta com alta tecnologia em-

opera em regime de bypass com redução de perdas.

barcada. Tudo isso, sem que os operadores das instalações abram as portas dos painéis. A monitoração adequada permitirá, por exemplo, que se Revista Sustentabilidade Edição Especial

buscado novas formas de economizar energia em seus processos.

Outro ponto de discussão é a aplicação dos sistemas de refrigeração de ambientes e equipamentos em datacenters. Os racks que abrigam as cargas TI são submetidos a analises e com-


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21

portamento térmico com sofisticadas modelagens na busca pela

custo operacional. Este tipo de prática é bastante comum quando

otimização que inclui também a eficiência energética. Entram

o empreendimento não é construído pelo usuário final do imóvel.

nessa discussão a temperatura de operação e os equipamentos

Neste aspecto, devem ser desenvolvidos e colocados à disposição

de precisão de atendimento a essas cargas TI.

indicadores de edificações relacionados com o uso de energia. As normas técnicas, procedimentos e recomendações aplicadas

6. Aspectos de arquitetura e construção civil.

às instalações deverão “correr atrás” daquelas já desenvolvidas no

Um importante desafio que vem sendo solucionado nos projetos

âmbito de construções sustentáveis, como as publicações do Procel

atuais é a definição da melhor solução de “casca” ou “envoltório”

(etiquetagem de edifícios), ISO 50001 e as normas LEED.

das edificações que considera as relações entre os aspectos de insolação, melhor uso da iluminação natural, adequação à carga térmica e outras variáveis relacionadas. Na Europa estão em execução projetos de aplicação de sofisticados sistemas de automação e controle para, por exemplo, dirigir a posição das células fotovoltaicas em relação ao Sol ou mesmo ajustar a posição de “brises” de proteção de fachadas em função da posição do Sol, adequando-os às necessidades dos interiores. Janelas com concepção de construção relacionada com o uso eficiente de energia já são uma realidade: o Empire State em Nova Iorque já economiza 40% em relação ao sistema anterior. No último Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, realizado pela

8. Novos modelos de financiamento, nova abordagem financeira de projetos e competividade com outros países com destaque para os BRIC. Estão em desenvolvimento no âmbito da Abesco diversas discussões sobre modelos de financiamento, contratos de performance, uso de facilidades de crédito pré-aprovadas e outras ferramentas que viabilizem os projetos de retrofit ou mesmo novas construções em que tecnologias sustentáveis sejam empregadas. Contudo, caso as tarifas, taxas de financiamento, de importação e impostos praticados não seguirem na linha de incentivo a estas praticas, a viabilização financeira de novos projetos será muito difícil.

Abesco, nos dias 1 e 2 de junho de 2011, em São Paulo, tivemos

Enquanto nossos concorrentes no mundo já fabricam seus

um case de proteção de janelas de um importante hospital com

próprios equipamentos e sistemas aplicados ao melhor uso da ener-

película adequada, também com resultado impressionante.

gia, nós continuamos pagando valores expressivos para se dar ao

7. Normas Técnicas e certificações.

luxo de usar estes equipamentos com alta tecnologia embarcada. Nossa sociedade merece um modelo mais sustentável de uso

Não é mais possível que instalações sejam concebidas sem que

de energia e este não depende somente do governo, mas “tam-

sejam consideradas a eficiência energética e a sustentabilidade.

bém” dele. Exemplo disso é o Plano Nacional de Eficiência Ener-

Muito em breve começaremos a ver as normas técnicas aproxi-

gética (PNEf) do Ministério de Minas e Energia, que está pronto

marem-se dessas variáveis. Temas como os materiais aplicados

para ser lançado e certamente será outro importante motivador

na construção e manutenção das instalações, descartes dos ma-

para ações de eficiência energética, que já é contemplada nos

teriais – como as lâmpadas que possuem metais pesados – e apli-

planos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e, por conse-

cação de mão de obra na manutenção devem ser mais discutidos.

quência, nos planos do governo federal. k

Por outro lado, a disponibilidade de energia pelas concessionárias aos empreendimentos deveria ser regulamentada de forma a que as edificações procurem por equipamentos mais eficientes logo na aquisição, evitando a compra daqueles que possuem menor custo inicial (preço de compra), porém, com maior

* Jose Starosta é engenheiro, Master of Science, diretor da Ação Engenharia e Instalações e Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). jstarosta@acaoenge.com.br

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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22 entrevista }

Francisco Stuckert/MME

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:

Segundo Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME) ações educativas para uma cultura de eficiência energética são prioritárias para o país. Por Eugênio Melloni

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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lançamento do derradeiro Plano Nacional de Eficiência

RS: É possível o país crescer com redução do consumo de energia?

Energética está na cabeça do governo, mas ainda não

Souza: É possível, desde que sejam utilizados equipamentos mais eficientes ou que os equipamentos sejam utilizados de forma a se evitar o desperdício. Há situações que envolvem o comportamento, a consciência das pessoas. Não é preciso colocar o ar-condicionado na função “gelada” e depois ter de puxar o cobertor. O uso da energia tem vários aspectos: o técnico, de melhoria da eficiência dos equipamentos, e o comportamental, incorporando o combate ao desperdício como um eixo central na vida das pessoas. É preciso incorporar a questão da energia como parte do dia a dia, assim como se alimentar direito e fazer atividade física, dentro do chamamos de qualidade de vida.

O

está na sua agenda. Apesar do documento preparatório

com premissas e diretrizes básicas que já foi publicado e avalizado

por diversos segmentos da economia, o lançamento do texto final, que deve definir responsabilidades, focos de diagnóstico e direcionamento de recursos, é ainda um tema em suspenso. Uma das poucas certezas, por ora, é que o plano deve dar prioridade para ações educativas sobre consumo energético, segundo indicou Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), em entrevista à Revista Sustentabilidade. Revista Sustentabilidade: Em que pé está o trabalho de produção do Plano Nacional de Eficiência Energética? Quando o plano será lançado oficialmente? Hamilton Moss de Souza: Não posso responder a segunda pergunta. Isso dependerá de uma série de instâncias, ministérios e vários níveis de decisão. Obviamente temos uma data na cabeça, mas não vou dizer. Já aconteceu no passado de termos uma data e acabou complicando. Terminamos uma primeira fase muito importante, que foi a elaboração de um documento, o “Plano Nacional de Eficiência Energética – Premissas e Diretrizes Básicas”, que foi colocado em consulta pública entre o final do ano passado e começo desse ano. Esse documento recebeu cerca de 90 contribuições. Ficamos felizes com o envolvimento da sociedade e com a receptividade do plano. Várias das contribuições vieram de instituições do peso de uma Confederação Nacional da Indústria (CNI), de indústrias importantes do país, de associações. A primeira fase foi concluída. Incorporamos as modificações e estamos montando um grupo de trabalho com representantes de centros de pesquisas, universidades e de entidades, como a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e o Procel (Programa Nacional de Energia Elétrica) da Eletrobras. Esse grupo depende apenas da publicação de uma portaria para que comece a trabalhar na elaboração de um plano. Temos as diretrizes básicas, os encaminhamentos, os setores em que faremos diagnósticos. E agora vamos elaborar um plano de trabalho operacional, de duração bianual. Um plano mais efetivo, no sentido de estabelecer recursos e responsabilidades.

RS: Focar somente na questão comportamental não é insuficiente? E a indústria? Souza: A indústria representa cerca de 47% do consumo de energia no país. Então, é importantíssima. Contudo, trata-se de um setor que busca a eficiência de uma maneira mais intensa. Por isso, colocamos a questão do comportamento. Apesar de o impacto ser menor, há nessa frente uma ineficiência maior, onde os ganhos podem ser maiores. Mas é importante que sejam atacadas todas as frentes. Não há uma contraposição entre uma coisa e outra. A eficiência energética é uma questão de conscientização tanto do lado profissional, em que se procura utilizar melhores equipamentos, como no lado pessoal, em que se buscará deixar de usar energia quando não for necessário e utilizar melhor quando for indispensável. O plano terá todas essas frentes. Haverá um capítulo para a educação, relacionado tanto com a questão comportamental, como com treinamentos profissionais. Nos transportes podemos, por um lado, melhorar a eficiência dos automóveis. Por outro lado, quando optamos pelo transporte hidroviário ao invés do rodoviário, por exemplo, ocorre um impacto muito maior do que quando se trata de motores, que já são relativamente eficientes. RS: Alguns especialistas consideram que há um conflito de interesses no fato de as distribuidoras de energia elétrica conduzirem o programa de eficiência energética da Aneel. Souza: Pode haver ou não um conflito de interesses. As distribuidoras têm como função vender energia, sim. Mas a energia que se economiza em um consumidor pode ser vendida para Revista Sustentabilidade Edição Especial


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24

outro. A redução do consumo contribui, também, para se adiar investimentos. A empresa pode ter uma subestação complicada, instalada em área com alta densidade populacional e de elevado consumo energético. Se conseguir economizar energia naquela região, poderá investir em outra subestação mais distante, com um investimento menor. Os custos da eficiência energética muitas vezes são menores dos que os investimentos necessários para ampliar o suprimento de energia. Além disso, os grandes consumidores industriais são consumidores livres, ou seja, podem comprar a energia de diferentes concessionárias. Há muitos casos de concessionárias que fazem a fidelização do cliente por meio de serviços de eficiência energética. Além disso, há uma série de preocupações ambientais e de regulações a que essas companhias têm de se sujeitar. RS: Como é hoje a estrutura de fomento à pesquisa em relação à eficiência energética? Souza: Nós temos uma estrutura de pesquisa no país que é bastante importante. Temos algumas universidades, principalmente as federais e algumas estaduais de porte maior, que já desenvolvem trabalhos de eficiência energética há algum tempo. Na área de arquitetura, engenharia elétrica ou mecânica há grupos fortes no Brasil que vem trabalhando com tecnologias de eficiência energética também já há algum tempo. Esses grupos se relacionam: além de produzirem material próprio – teses de mestrado e de doutorado, laboratórios, criação de infraestrutura para testes de equipamentos –, contam com forte interação com o exterior, o que proporciona uma troca grande de tecnologias. Temos uma estrutura de centros de pesquisas ligados diretamente ao ministério, como o Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) da Eletrobrás e o Cenpes (Centro de Pesquisas) da Petrobras que é um importante centro da área de petróleo e gás natural, mas atua também na questão da eficiência energética. Há os fundos setoriais que têm alimentado e melhorado muito a pesquisa tecnológica no Brasil. Na questão da tecnologia há dois aspectos importantes. Há equipamentos que já são muito eficientes e que o ganho esperado é pequeno, no que se refere à pesquisa, mas são pouco utilizados nos processos. Então, é uma pesquisa mais de aplicação desses equipamentos em novos processos, não há grandes novidades. E na outra ponta, é pensar em tecnologias que tragam soluções e aplicações inovadoras. No geral, podemos dizer que a área de energia é uma área mais conservadora – se comparada com a informática, que a cada seis meses tudo muda. Mas, Revista Sustentabilidade Edição Especial

por outro lado, quando eu faço a junção do setor de energia com o setor de informática, com toda essa quantidade de informação circulando por aí, os novos equipamentos e as novas maneiras de se fazer as mesmas coisas – maneiras que a gente nem pensava que podiam ser feitas – também têm dado frutos na área de eficiência. Você pode fazer sistemas que trocam informações com o usuário, que fazem o controle de processos dentro de sua residência, que dão indicações de consumo sobre vários equipamentos. Essa tecnologia da informação, que a gente pode conjugar por meio de redes elétricas, tem o nome genérico de smart grid, é uma novidade importante que o Brasil tem trabalhado tanto de forma internacional, quanto nas universidades brasileiras. RS: O Brasil está atrasado na tarefa de consolidar uma política voltada para a eficiência energética? Souza: Em alguns aspectos, sim. Em outros, não. Não é eficiência energética propriamente dita, mas quando eu pego o setor sucroalcooleiro, por exemplo, o Brasil está 30 anos na frente. É um setor bastante eficiente. Temos a cogeração de energia, que é utilizada bastante na produção de álcool. É um setor que movimenta alguns bilhões de reais. É claro que há outros segmentos, como o de aquecimento solar. Israel tem 80% a 90% de aquecimento de água utilizando a energia solar. Fazemos ainda muito pouco nessa área. Por outro lado, na Indústria, nos últimos anos, a preocupação aumentou bastante. Acho que é importante, quando a gente se compara com outros países, verificar as especificidades, as diferenças que a gente tem. Quando se questiona, por exemplo, as perdas de energia de até 10% ocorridas no sistema de transmissão do Brasil, é importante considerar as dimensões do país. Uma coisa é Portugal, que tem o tamanho de um estado brasileiro. Quando a distância aumenta, nos sistemas de transmissão, as perdas são maiores. Muitas vezes, não se trata de um país não ter feito isso ou aquilo. É que houve um atraso em determinados segmentos. Há também a questão cultural. Quando o país passou por um período de energia abundante e barata criou-se uma cultura de desperdício, de deixar a luz acesa. Isso, no entanto, tem mudado bastante. Aprendemos com o passar do tempo. Volto, aí, para a questão dos aspectos comportamentais, que me parecem muito importantes, a cultura da eficiência. E o importante não é o que você deixou de fazer, mas o que está se propondo a fazer. O importante é olhar o que foi feito e não foi feito e caminhar, evoluir, incorporando o que há de melhor. k


p25-26 cases mat2_revista 25/10/11 15:10 Page 25

25 estudos de casos }

É A ALMA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Por Marcel Gomes

pesar do atraso do governo federal brasileiro em

graus, bem abaixo os 200 graus de caldeiras tradicionais”,

gerenciar a temática de maneira a consolidar uma

explica Waldenilson Muniz, gerente de Energia e Utili-

cultura de consumo energético mais eficiente no

dades da Basf na América do Sul. O desenvolvimento do

país, a eficiência energética já é fato em andamento no

novo equipamento exigiu investimentos de € 5milhões

Brasil. A Revista Sustentabilidade apresenta três casos

(equivalente a R$ 11,8 milhões) e trará uma redução de 20%

exemplares nos âmbitos industrial, comercial e residencial.

nos custos de energia da empresa.

A

A Basf, gigante química de origem alemã com diversas

O ganho, segundo ele, também é ambiental, na medida

fábricas no Brasil, acaba de inaugurar uma nova caldeira

em que a mesma energia final é produzida com menor quan-

para geração de vapor em sua unidade de Guaratinguetá

tidade de energia primária. Muniz afirma que a experiência já

(SP). O equipamento, movido a gás natural, é capaz de gerar

serve de exemplo para outras unidades da Basf no mundo: em

até 2,3 megawatts, o equivalente a 25% da demanda de ener-

outubro, uma fábrica da companhia na Argentina inaugurará

gia elétrica da companhia.

uma caldeira com inovações testadas e aprovadas em

A caldeira está longe de ser um modelo de sustentabilidade, pois não trabalha com uma fonte de energia re-

Guaratinguetá.

novável. Isso não impede, contudo, que seja possível, a

AR FRIO, NEGÓCIO QUENTE

partir dela, produzir boas práticas de melhoria da intensi-

Não é preciso ser uma transnacional bilionária para inovar.

dade do consumo energético.

Prova disso é a história da Viva Equipamentos, empresa de

A principal novidade é que os técnicos da Basf, em

Campinas (SP), mais conhecida por sua inovadora linha de

parceria com seus colegas da CBC Indústrias Pesadas, de-

climatizadores evaporativos. Fundada em 1994, por dois en-

senvolveram pré-aquecedores e recuperadores de calor que

genheiros oriundos da Unicamp, a Viva desenvolve, produz

permitem o máximo aproveitamento da energia gerada pela

e instala climatizadores, produto que pode substituir o ar

queima do gás natural.

condicionado em ambientes comerciais com um gasto até

“Com esses instrumentos, os gases liberados para a atmosfera após a queima saem com temperatura de 90

Revista Sustentabilidade Edição Especial

95% menor de energia elétrica. O funcionamento do equipamento é simples: um


p25-26 cases mat2_revista 25/10/11 15:10 Page 26

26

ventilador aspira ar externo, que passa através de um painel

Com mais eficiência na dissipação de calor, o refrige-

composto por um tipo de filtro, sobre o qual água circula

rador com o kit passa a gastar 15% menos energia do que os

continuamente movida por uma pequena bomba. A água

modelos convencionais, o que representaria uma economia

que evapora com o ar quente é reposta por ação de uma

de pelo menos R$ 25 mensais na conta de luz.

boia, que mantém o nível constante no reservatório. Ao sair

Gutiérrez se preocupou em criar um modelo prático de

do sistema, o ar está até 12 graus mais frio, limpo e úmido.

montar, que pode ser instalado sem auxílio de assistência

O climatizador pode ser usado em residências, indús-

técnica. O usuário teria apenas de verificar periodicamente

trias ou unidades comerciais como farmácias e supermer-

o nível de água do reservatório e colocar algumas gotas de

cados, onde o uso de aparelhos de ar condicionado pode

cloro para evitar a proliferação de micro-organismos.

representar entre 25% e 50% dos gastos com energia

O registro da patente do “kit geladeira” saiu há apenas

elétrica. O custo de instalação também é menor, pois não

dois meses e é dividido entre o estudante, o orientador e

é necessário isolar os ambientes – uma obrigatoriedade

a universidade. “Agora estamos mais tranquilos para

no caso do ar condicionado.

procurar empresas interessadas em investir e massificar

Ainda que alguns itens do equipamento sejam impor-

o produto”, diz Gutiérrez. k Divulgação/Basf

tados, como explica Amanda Melo, que trabalha na área comercial da empresa, o espírito inovador persiste no desenvolvimento de equipamentos sob demanda para atender peculiaridades de cada ambiente. Também no ramo da refrigeração, uma inovação criada na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp aguarda interessados na indústria ou entre concessionárias de energia para chegar ao consumidor final. O engenheiro e doutorando peruano Mirko Chaves Gutiérrez criou um equipamento batizado como “kit geladeira” durante suas pesquisas para o mestrado. Junto ao professor orientador Vivaldo Silveira Júnior, Gutiérrez introduziu o princípio da condensação evaporativa à geladeira residencial. Isso significa que, além de ar, o sistema utiliza também a água para dissipar o calor na parte de trás do equipamento. O kit é formado por um reservatório que usa uma pequena bomba para pingar água no tubo e fazer o líquido circular. Como a bomba fica ligada ao compressor, o sistema funciona em conjunto com a geladeira, desligando quando o motor está parado.

Revista Sustentabilidade Edição Especial

Movida a gás natural, a nova caldeira para geração de vapor da Basf em Guaratinguetá reduzirá em 20% os custos de energia da empresa


p27-28 futuro mat3_revista 24/10/11 16:03 Page 27

27 perspect

iva }

A ROTA DE COLISÃO? A saída para o mundo escapar do desastre da escalada energética está em novos padrões de consumo, políticas públicas focadas e investimento pesado em pesquisa e desenvolvimento Por Marcel Gomes

N

o futuro, trocaremos o transporte individual

efeito estufa de 38,9% do que seria emitido até 2020, os

pelo coletivo? Esta simples decisão reduziria

planos energéticos ainda preveem um aumento no con-

as emissões pessoais de CO2 para cerca de um

sumo per capita, mesmo levando em conta os ganhos ‘na-

quinto do valor. Hoje, isto é impensável, pois a lógica

turais’ de eficiência dos equipamentos.

atual é: se a renda melhora, o indivíduo não só compra

No Plano Decenal Energético em 2020 teremos quase

um carro, mas também televisores, computadores, celu-

duas televisões por domicílio, todos os lares terão

lares, DVDs, geladeiras etc.

geladeiras, 74% dos brasileiros terão máquinas de lavar

No Brasil, cada cidadão consome em média, por ano,

roupas e as casas serão iluminadas com 1% a mais de lâm-

2,2 mil quilowatts-hora (kWh) de eletricidade e 150 litros

padas em média. Para atender a toda esta demanda, está

de gasolina. Em comparação, um americano consome 14

previsto um aumento de 48% no consumo de eletricidade

mil kWh e 1,2 mil litros por ano. Chegaremos lá se não

no mesmo período.

fizermos nada. Mas hoje, este padrão de consumo sus-

Existirão ainda 50 milhões de carros circulando no Brasil

cita questões importantes: podemos suportar isso e tere-

(um aumento de 66% dos atuai 30 milhões). No final, se-

mos fontes energéticas suficientes? Uma resposta já está

gundo as projeções do governo, em 2020 consumiremos 11%

clara: é inexorável a necessidade de melhorar de vida

mais gás natural, 16% mais óleo diesel, 4,5% mais gasolina e

consumindo menos.

1,6% mais querosene, para destacar as principais fontes. No

Entretanto, estamos longe disso. Mesmo que o governo brasileiro tenha uma meta de redução de emissões de gases

plano 2020, para um aumento anual médio de renda de 4,3%, o consumo final de energia deverá crescer 5,3%.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


p27-28 futuro mat3_revista 24/10/11 16:03 Page 28

28

energias renováveis modernas”, afirma. O ambientalista é

ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS

pré-sal trará ao Brasil. Para ele, os custos das energias re-

Mas não precisa ser assim. No início de 2011, a ONG am-

nováveis estão em queda, o que as torna mais competitivas

bientalista WWF, em parceria com a consultoria Ecofys,

em relação aos derivados de petróleo.

reticente sobre as vantagens que a exploração da camada

divulgou uma pesquisa que mostra que é possível diminuir

O estudo também mostrou que as mudanças neces-

o consumo de energia. Segundo o estudo, a incorporação

sitarão de investimentos de 170 bilhões de euros em

de inovação, modernização das redes elétricas e equipa-

pesquisa e desenvolvimento até 2050 por meio de sistemas

mentos mais eficientes poderão levar a um consumo ener-

colaborativos entre indústria e governos nacionais.

gético mundial em 2050 15% menor que em 2005. No final,

“Não quer dizer que vai ser fácil”, diz Mano Janssen,

conclui o estudo, isso gerará uma economia acumulada de

presidente da Ecofys. “As políticas públicas atuais são clara-

4 trilhões de euros em gastos com energia. O primeiro

mente insuficientes. Mas precisamos perceber que neces-

passo é investir.

sitamos agir para garantir os benefícios no futuro. E o

A meta estipulada pela pesquisa é diminuir as emis-

papel das empresas é primordial neste processo”.

sões de carbono em cerca de 80% até 2050, mantendo o

O foco, no entanto, é reorganizar nossas cidades e as

aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus. Para atingir

cadeias produtivas. Entre uma das propostas do estudo

isso, seria necessário alterar uma série de orientações vi-

da Eofys está a reforma de 2 a 3% de toda a área cons-

gentes nas políticas públicas, na produção das empresas

truída no mundo para tornar os edifícios menos per-

e no consumo das famílias, com o incentivo às formas

dulários, o que significa um investimento pesado. Para

renováveis de energia, à reciclagem de materiais e ao uso

os países em desenvolvimento o caminho é impor bar-

de transporte coletivo.

reiras aos produtos ineficientes, mas, sobretudo, pensar

Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF no Brasil, diz acreditar que

mais sobre como agimos sem levar em conta a importância das políticas públicas.

o Brasil poderia contribuir com esse “projeto global” por

“Consciência e ganho de mercado são fatores impor-

meio de seu potencial para a bioenergia, desde que

tantes mas, na nossa experiência, a legislação e as políticas

critérios rigorosos de sustentabilidade fossem seguidos. Ele

públicas alinhadas são os principais fatores para mudanças

aponta, porém, que o país precisa investir mais em ino-

no mundo empresarial”, lembra Wal Flor, sócia da consul-

vação. “Temos oportunidades de diversificação de nossas

toria paulista Lynx que implementa programas socioam-

fontes, com mais investimentos eficiência energética e em

bientais em grandes empresas de segmentos diversos. k

Revista Sustentabilidade Edição Especial


p29 artigo 1_revista 24/10/11 16:03 Page 29

29

O papel das tecnologias de eficiência energética na economia de baixo carbono

{ artigo

Por Sizenando Silveira Alves e Marco Antonio Saidel *

A

expressão Eficiência Energética é um termo guarda-

verter a tendência de carbonização da nossa matriz energética.

-chuva, que abriga sob si todas as facetas do uso

Observando-se a tendência dos últimos leilões de energia

racional e eficiente de recursos energéticos. Como

elétrica e o crescimento da quantidade de veículos automotores

veremos a seguir, todas elas são relevantes para a chamada

no Brasil, bem como nossa opção histórica preferencial pelo

economia de baixo carbono.

transporte de cargas e passageiros do tipo terrestre rodoviário,

Uma vez que, dentro de uma perspectiva de ciclo de vida

observa-se uma nítida tendência ao incremento proporcional,

completo, mesmo a produção de energia a partir de fontes re-

ao longo do tempo, de fontes energéticas fortemente emissoras

nováveis pode apresentar emissões de carbono em suas fases

de carbono em nossa matriz.

de construção e desativação (ao fim da vida útil da planta ge-

Há dois meios de se reverter tal tendência. Uma é o aumento

radora/produtora), a melhor alternativa para suprimento de

da participação de fontes limpas ou renováveis na matriz ener-

demandas energéticas, quando se pensa em termos de minimiza-

gética por aumento da disponibilidade de tais fontes, outra é a

ção das emissões de carbono, é a disponibilização de energia a

redução dos consumos energéticos, acompanhada pela prioriza-

partir da redução do consumo necessário para a realização de

ção ao uso das fontes renováveis para o atendimento das neces-

cada atividade humana consumidora de energia.

sidades energéticas assim reduzidas.

O desenvolvimento de tecnologias de eficiência energética,

Mesmo que o aumento puro e simples da disponibilidade de

tecnologias voltadas à obtenção de produtos ou processos pro-

fontes de energia limpa venha a se tornar uma alternativa eco-

dutivos que oferecem mais produtos ou serviços por unidade de

nomicamente viável no Brasil, a disponibilização e disseminação

insumo energético consumido, é uma rota importante para essa

de tecnologias de uso racional e eficiente de energia é um curso

disponibilização de insumos energéticos.

de ação do tipo “sem arrependimento” para reverter essa car-

Além da redução do consumo de insumos energéticos na

bonização de nossa matriz energética. Isso por que, mesmo que

economia como um todo, os investimentos no desenvolvimento

não importasse reduzir as emissões de carbono da economia na-

de tal tipo de tecnologia podem trazer avanços para a ciência e a

cional, ainda haveria os benefícios à economia (menos consumos

tecnologia do país, já que a obtenção de processos e produtos mais

energéticos para uma mesma produtividade industrial resultam

eficientes energeticamente, passa também pelo desenvolvimento

em maior competitividade da indústria nacional) e ao parque

de novos materiais e técnicas, tais como cerâmicas resistentes a

técnico-científico nacional. k

temperaturas extremas e bombas de calor de alta eficiência. Para o caso nacional, o papel destes desenvolvimentos tecnológicos é ainda mais importante. Primeiro pelo potencial de catálise de desenvolvimento tecnológico decorrente da busca e aprimoramento destes novos processos e materiais e, segundo, para re-

* Sizenando Silveira Alves é doutorando do curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP. * Marco Antonio Saidel é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) onde coordena o Programa para Uso Eficiente de Energia.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


p30-31 artigo 3_revista 24/10/11 16:04 Page 30

30 o} arercitclig agem

Energia: o que muda com a Convenção do Clima? Por Antonio Lombardi *

illiam Blake ficou famoso por dizer que “energia é

global o que funciona é parar de emitir; todo esse carbono estava

o deleite eterno”, mas desde os anos 1970 muita

fora da biologia do nosso planeta há milhares de anos; não

coisa mudou no cenário energético do mundo.

cabem no metabolismo atual deste mesmo planeta. Em seguida

Geopolítica, comércio, preços, interesses outros que se atrelam

vieram os teóricos que defendem que equipamentos mais efi-

a este mais imediato e uma barafunda de coisas que não vale à

cientes é que fazem a diferença. De fato, isso ajuda muito, espe-

pena mencionar. Primeiro foi a Conferência de Estocolmo, fa-

cialmente se olhamos os EUA, altamente ineficientes na

lando de recursos naturais e desenvolvimento. Depois vieram os

produção, distribuição e consumo de energia.

W

choques do petróleo, a Comissão Brundtland, a Rio’92, a Con-

Além desses, tivemos também de aguentar loucos de plantão,

venção do Clima e o Protocolo de Quioto (PQ). A grande coisa

feito o Björn Lomborg, que não entende nada de clima e que con-

que você precisa saber é que sustentabilidade não é a moda da

segue fazer com que um bando de gente preste atenção nele. Atra-

vez, veio para ficar e que este movimento vem ganhando força e

palha muito as donas de casa, oferece o amparo pseudo científico

velocidade com o tempo.

que os queimadores de energéticos fósseis querem e tudo parece

Vejamos; o Proálcool surgiu como resposta ao aumento dos

ficar bem. Entretanto, há um grupo de pessoas que vem seria-

preços do petróleo. Seguiu uma lógica simplista de mercado nos

mente olhando a questão energética. Disso independe o que saia

anos 1990 e por pouco o etanol não desaparece dos postos de

da COP 17. Aliás, acredito que não sai nada dessa COP. Gostaria

combustível. Com o PQ uma lógica de negócios, de mercado, foi

muito de levar um susto, mas sinto que isso não vá acontecer.

atrelada às necessidades de buscar por energia e energéticos al-

É fato que as lógicas econômica e de mercado precisam

ternativos. A redução de emissões de gases estufa foi o mote, mas

mudar. Muito. Mas como isso também não vai acontecer nos

o que embala esse movimento é, de fato, a busca pela redução

próximos seis meses, o melhor que podemos fazer nesse mo-

de custos. O petróleo está sendo negociado a pouco mais de USD

mento é usar o que temos para tentar produzir as mudanças que

98,00 o barril; custa USD 30,00 para ser produzido. Note que há

precisamos. Foi com esse ferramental que levamos questões im-

especulação no mercado de energia e falaremos disso adiante.

portantes relacionadas ao desenvolvimento sustentável à pauta

As primeiras iniciativas foram no sentido de buscar tecnolo-

das grandes corporações; energia é uma dessas questões. Con-

gias que otimizassem o consumo dos energéticos atuais. Ou seja,

tudo, ainda temos questões relacionadas à redução de custos

continuamos queimando petróleo, gás e carvão, só que de um

muito presentes, em que pese a percepção de que na verdade pre-

jeito mais eficiente. Não funciona. Para efeitos de aquecimento

cisamos de energia e energéticos que além de alternativos sejam

Revista Sustentabilidade Edição Especial


p30-31 artigo 3_revista 24/10/11 16:04 Page 31

renováveis. Não basta que tenhamos uma nova fonte de energia. Deve ser renovável e especialmente replicável em larga escala. Os preços já foram um fator crítico para a viabilização de muitos projetos. Hoje, no entanto, embora poucos ousem admitir os riscos políticos relacionados aos principais produtores de petróleo, os mesmos são compensados junto com os preços pela independência energética advinda de projetos inovadores. Na lógica dessa equação o preço passa a ser apenas mais um fator e não é o mais importante. O brent ainda garante bons lucros, numa lógica especulativa de mercado que deve prevalecer por mais alguns anos. Quando as indústrias cansarem de ser governadas pelo mercado financeiro e essa mesma lógica especulativa perversa (ainda há empresas que expressam em seus balanços lucros financeiros maiores que os operacionais), deverão reassumir seu papel no comando dos negócios e, assim, o que faz sentido para o cidadão, para o consumidor em última análise, passará a fazer sentido para os tomadores de decisão das corporações. Com isso não apenas energia limpa, mas outros produtos igualmente relacionados de modo direto com a sustentabilidade ganharão força. Dificilmente as pessoas abrirão mão de seu bem estar, especialmente num país como o Brasil, onde a maior parte da população começa a entender e a consumir as “benesses” do capitalismo. Não é justo e nem moralmente correto querer impedir o consumo, mas é mandatório colaborar para que o consumo de se dê em bases amigáveis ao meio ambiente e às futuras gerações. Por isso, não acredito que grandes mudanças venham desta COP, apesar de muita coisa ter acontecido graças ao que se debateu nelas. Acredito que o mercado deve assumir, de uma vez por todas, seu papel na produção de bens que levem em conta os recursos naturais de que dependem. Com a energia, mãe de todos os recursos, não deve ser diferente. Afinal de contas, nos damos conta cada dia mais de nossas limitações e finitudes. k

* Antonio Lombardi é sócio do Sustainable Hub, consultoria e assessoria em estratégia e sustentabilidade. lombardi@shub.com.br


p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 32

32 geração distribuída }

À BRASILEIRA País se prepara tecnologicamente para ingressar definitivamente, em 2012, na era da geração distribuída e da rede elétrica inteligente Por Eugênio Melloni

smart grid, rede inteligente de distribuição de energia

A substituição dos antigos “relógios” pelos smart meters está

elétrica, está prestes a sair do papel e começar a existir na

prevista para começar em 2012, segundo informações da Aneel.

prática em terras brasileiras. A Agência Nacional de Ener-

Num período de 10 anos, 63 milhões de novos medidores serão

gia Elétrica (Aneel) se prepara para divulgar, em outubro de 2011,

instalados nas unidades consumidoras brasileiras – residências,

uma resolução normativa que estabelecerá os requisitos mínimos

estabelecimentos comerciais, consumidores rurais, serviços públi-

para os novos medidores eletrônicos inteligentes, os componentes

cos e pequenas indústrias – conectadas à rede de baixa tensão.

A

básicos do smart grid. Enquanto isso, empresas de distribuição de

Além de registrar o consumo de energia, esses medidores

energia elétrica e de telecomunicações investem em pesquisas para

funcionam como centrais de comunicação interativa entre a dis-

o desenvolvimento de tecnologias que dêem conta do volume de

tribuidora e o consumidor que, no novo modelo, passa a ser

informação que será gerado com as redes inteligentes e a geração

dublê de gerador.

distribuída. Mas uma dúvida ainda paira no ar: ninguém ainda sabe quem vai pagar a conta por essas inovações. Revista Sustentabilidade Edição Especial

Com a rede inteligente é possível haver geração distribuída. Ou seja, além de consumir, os usuários ficam aptos a fornecer


p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 33

33

energia para o sistema, se eles também forem geradores. E isso

tornando mais eficientes seus investimentos em ampliação e

não é privilégio do Comércio ou da Indústria. A nova rede torna

modernização da rede.

viável a inserção de geradores residenciais no sistema elétrico, de forma ágil e eficiente.

Segundo Ricardo Savoya, da consultoria Andrade & Canellas, a implantação das redes inteligentes ocorrerá em dois momen-

O usuário poderá receber informações sobre os preços da

tos. Primeiro, troca-se os medidores eletrônicos o que permite

eletricidade associados ao seu consumo, o que favorece a utiliza-

uma maior eficiência no monitoramento do consumo e a corres-

ção mais eficiente da energia elétrica e a desconcentração do uso

pondente redução de custos para as distribuidoras. “Em um se-

em horários de pico.

gundo momento, com a introdução de mudanças regulatórias

Para as distribuidoras, o novo sistema permitirá, por exem-

diluir o consumo de energia no horário de pico”, diz.

Banco de Imagens

plo, a obtenção de informações mais precisas sobre o consumo,

mais efetivas, um novo modelo de tarifação pode contribuir para

As empresas de distribuição de energia elétrica pesquisam o desenvolvimento de tecnologias para gerenciar o grande volume de informação gerado com as redes inteligentes Revista Sustentabilidade Edição Especial


p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 34

34

Para os especialistas, a redução do consumo no horário

como eólica e solar, podem fornecer energia ao sistema quando

de pico contribuirá principalmente com a diminuição da

o consumo das residências estiver baixo. A demanda no sistema

necessidade de investimentos em ampliação da capacidade do

de distribuição é reduzida e, ao mesmo tempo, são introduzidas

sistema de geração que é projetado justamente para dar conta

fontes mais limpas de energia.

da demanda entre as 17 e 20 horas. “Será possível estabelecer políticas que permitam a redução da demanda e que aprofunde o uso eficiente da rede existente”, diz Virginia Parente, professora do Programa de Energia da Universidade de São Paulo (USP).

“A energia poderá passar a ser gerada e integrada ao sistema a partir de unidades tradicionalmente consumidoras, criando-se um novo player no mercado, o prosumidor”, afirma Daniel Senna Guimarães, gestor do projeto Cidades do Futuro da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Segundo Senna, além de poder controlar mais seu consumo e custos com a conta

PROSUMIDOR

de luz, o usuário poderá promover a automação residencial, in-

Além dos medidores, segundo a Aneel, as redes inteligentes serão

terligando os aparelhos domésticos ao sistema elétrico. “O re-

compostas por sensores espalhados na rede elétrica que permi-

sultado esperado é um sistema elétrico mais seguro e confiável,

tirão integrar fontes renováveis de energia ao sistema. Com isso,

que dê à concessionária maior eficiência operacional e propor-

pequenos geradores residenciais à base de fontes renováveis,

cione uma abordagem de gestão mais centrada no cliente e com

PROCESSAMENTO DE DADOS É O FOCO DA PESQUISA BRASILEIRA

Um dos blocos de pesquisas com o objetivo de orientar essa

Segundo Hernandes, o Brasil conta com características

transição – o de Telecomunicações, Tecnologia da Infor-

mercadológicas e geoelétricas diferenciadas. Ele lembra

mação e Interoperabilidade – está sendo conduzido pelo

que o sistema elétrico no país conta com pouca rede sub-

CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento).

terrânea de energia, diferentemente do que ocorre em

As pesquisas do CPqD – instituição focada na inovação

outros países. Outra diferença é o fato de os chuveiros,

para Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) –

aparelhos que lideram o consumo de eletricidade nas

estão sendo realizadas sob encomenda da Associação

residências brasileiras, serem elétricos em sua maioria.

Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) e

“Temos também um consumo per capita cinco a dez vezes

da Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura

menor que nos EUA”, diz.

e de Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel). “O projeto da smart grid precisa de uma contextualiza-

Os medidores eletrônicos, de acordo com Hernandes, passarão a tornar disponível uma quantidade enorme de in-

ção local”, diz o coordenador do Grupo Smart Grid no CPqD,

formações sobre a rede elétrica. Um dos desafios será criar

Luiz José Hernandes Júnior, referindo-se às iniciativas rela-

arquiteturas de comunicação necessárias para conferir ca-

cionadas com a implantação de redes inteligentes nos Esta-

pacidade de análise e suporte para decisões a serem

dos Unidos e na Europa.

tomadas pelas distribuidoras com base nessas informações.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 35

Divulgação/Cemig

35

maior qualidade de serviço”, acrescenta Senna. Carlos Roberto Silvestrin, vice-presidente executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), considera que as redes inteligentes contribuirão para que sejam mobilizados blocos de geração distribuída, constituídos por usinas eólicas ou movidas à biomassa, de acordo com as necessidades do sistema elétrico. “Esses blocos podem ser ativados se houver uma maior necessidade de energia elétrica em São Paulo, por exemplo, onde é grande a presença de usinas de cogeração de energia com o uso do bagaço da cana-de-açúcar”, diz ele. Com a instalação dos medidores eletrônicos, será definido um plano nacional visando a migração gradativa do setor elétrico para o conceito de redes inteligentes.

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) gerencia em Sete Lagoas/MG um dos primeiros projetos pilotos de smart grid do país

QUEM PAGA A CONTA? processo de implantação dos smarts grids no Brasil

como as empresas vão capturar valor implementando as redes

deverá envolver investimentos de mais de R$ 60 bi-

inteligentes. Temos de fazer um modelo de negócios e, para isso,

lhões, de acordo com estimativas da Associação

dependemos do modelo regulatório a ser adotado”, diz o execu-

O

Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). O cál-

tivo. “Precisamos saber quem irá pagar a conta”, destaca ele.

culo envolve desde a troca, em todo o país, dos atuais medidores

Procurada pela Revista Sustentabilidade, a Aneel não comen-

de consumo por modelos eletrônicos, até projetos de automação

tou o assunto e limitou-se a enviar um material de divulgação

das redes elétricas das concessionárias, informa o presidente da

pouco esclarecedor sobre os custos de implantação do projeto.

Abradee, Nélson Fonseca Leite. “A EDP desenvolveu, em Portugal,

“A Aneel, em parceria com o Ministério de Minas e Energia,

um projeto-piloto de smart grid que identificou a necessidade de

avaliará os custos e benefícios decorrentes da adoção dessa nova

aportes de R$ 1 mil para cada ponto de consumo”, diz Leite.

tecnologia. A expectativa é que os custos de uma eventual subs-

Segundo ele, o desenvolvimento de projetos de smart grids

tituição dos medidores sejam compensados pelos ganhos advin-

no Brasil ainda depende de uma série de definições, no que se

dos da implantação das redes inteligentes, com destaque

refere a políticas públicas. “Para as distribuidoras, ainda é incerto

para a redução dos custos de operação, redução de perdas e Revista Sustentabilidade Edição Especial


p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 36

36

AS REDES INTELIGENTES ESTÃO CHEGANDO AO BRASIL COM GRANDE ATRASO PRINCIPALMENTE POR CAUSA DO FOCO EXCESSIVO DO GOVERNO EM EVITAR APAGÃO

manutenção das redes de distribuição e o aumento da eficiência

cio Lula da Silva, ainda se manifesta no governo de Dilma

no consumo de energia elétrica”, dizia o comunicado da asses-

Roussef. “Os governos do PT esqueceram de criar políticas pú-

soria de imprensa da agência.

blicas que resultassem na modernização da distribuição e da

O segmento das distribuidoras, por sua vez, sinaliza como a

transmissão de energia”, diz ele.

conta será dividida. “Esta é uma situação em que os usuários e

O presidente da Abradee afirma, contudo, que “nem sem-

as empresas do setor vão ser beneficiados. Então, nada mais

pre o que chega por último está em situação pior”. Segundo

justo que se atribua parte dos custos a eles”, diz Leite. O presi-

Leite, na Itália, onde a implantação das redes inteligentes en-

dente da Abradee argumenta que o país, com destaque para o

volveu a troca de 32 milhões de medidores, o processo não

meio ambiente, será beneficiado pelas redes inteligentes. “Isso

obteve os resultados esperados. “Estamos fazendo a prospecção

gera negócios, promove o crescimento da economia. Então,

do estado da arte de outros processos de implantação de smart

nada mais justo que o governo estabeleça uma política de incen-

grids com o objetivo de evitar que se repitam, no Brasil, erros

tivos para essa área”, afirmou.

ocorridos em outros países.

O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Es-

A Abradee está coordenando um dos principais projetos de

trutura (CBIE), frisa que no modelo regulatório brasileiro “ou os

pesquisas envolvendo smart grids no Brasil. O projeto de R$ 8

custos recaem sobre o consumidor ou sobre o contribuinte, que

milhões, por ora, é bancado pelos participantes: envolve 37 em-

são a mesma coisa”. Segundo Pires, a expectativa é que, se hou-

presas do setor elétrico – 33 distribuidoras e 4 geradoras –, seis

ver o repasse dos custos para a população, isso ocorrerá de forma

entidades de pesquisa (incluindo a Fundação Getúlio Vargas e o

bastante parcelada.

CPqD) e mobilizará 108 profissionais.

As redes inteligentes estão chegando com grande atraso no

Segundo Leite, a empreitada foi concebida para durar 8

Brasil, em relação ao nível de desenvolvimento tecnológico osten-

meses, deverá sofrer um atraso de um mês e, portanto, ser fina-

tado por outros países nessa área, diz Pires. “Na Inglaterra, por

lizada em outubro de 2011. “Trata-se do maior projeto de

exemplo, o consumidor adquire cartões pré-pagos de distribuido-

pesquisas destinadas a dar suporte à migração para um ambiente

ras de energia, como ocorre aqui com os celulares”, afirma.

de redes inteligentes no Brasil”, diz Leite. Segundo ele, as

Segundo ele, o atraso ocorrido nessa área decorre de uma

pesquisas foram divididas em sete blocos, entre os quais estão

visão governamental excessivamente focada na ideia de evitar

Automação de Redes, Geração e Distribuição, TI, Políticas Públi-

um novo apagão, que teria predominado na gestão de Luiz Iná-

cas e Regulação. k

Revista Sustentabilidade Edição Especial


p37 artigo 2_revista 24/10/11 16:05 Page 37

37 { artigo

Eficiência e sustentabilidade Por Paulo Vodianitskaia *

ficiência faz sentido em cenários de restrição. Enquanto

Somos seres que se alimentam de energia, principalmente solar.

aos governos, eventualmente, faltam recursos para a

Assim, deveríamos compreender melhor a importância da efi-

geração de energia, os impactos ambientais e sociais da

ciência energética, e também suas limitações: se de 1 watt uso 1

E

criação de novas usinas também podem ser restritivos. A emissões de carbono e poluição do ar são fatores limita-

watt, a eficiência é igual a 1, independentemente de como essa potência foi obtida.

dores das termelétricas. As hidrelétricas causam alagamentos e

Outros conceitos importantes para a sustentabilidade são a

desvio de cursos de água, perda de biodiversidade, migração de

exergia, que quantifica o potencial de uso de energia, e a emergia,

moradores e emissões de metano pela biomassa submersa. As nucleares oferecem riscos de contaminação no ciclo de vida do combustível radioativo. Usinas eólicas trazem poluição visual. As solares , o uso e sombreamento de áreas agriculturáveis. Portanto, não há energia limpa. Sua geração e uso afetam as condições de sustentabilidade (veja www.thenaturalstep.org), referentes à extração de substâncias naturais, às emissões de substâncias sintéticas, à destruição física da natureza e à capacidade das pessoas satisfazerem suas necessidades.

que é a energia investida pelo ecossistema para um produto ou serviço. Esses termos são ainda mal conhecidos. Se devidamente aplicados, nossa civilização não queimaria combustível fóssil a 1000 ºC para aquecer água de banho a 38 ºC. Entretanto, esse processo pode ser eficiente... O chuveiro elétrico, por exemplo, é eficiente, mas sobrecarrega o sistema. Na Suécia, a maior parte das residências são equipadas com bombas de calor, que levam calor do ambiente

Aos cidadãos pode igualmente faltar recursos, o que inibe

para o reservatório de água, com eficiência até três vezes superior

a compra de equipamentos eficientes. Devido às condições na-

à de um chuveiro elétrico. Apesar do seu sucesso na Europa e

turais restritivas, a Califórnia é exemplo de limites legais para

Japão e do pleno domínio dessa tecnologia, esse tipo de equipa-

equipamentos energívoros, desde os anos 70, e exerceu in-

mento é praticamente desconhecido no Brasil.

fluência mundial.

Eficiência energética é forte indutora de inovação e compe-

Nutrimos uma visão de uso irrestrito de recursos naturais,

titividade. Não há energia de menor custo do que a que dei-

mesmo com a população mundial crescente. Apesar disso, o Brasil

xamos de utilizar graças ao uso de equipamentos mais eficientes.

conta com os selos Procel e Conpet, que distinguem os produtos

Entretanto, é necessário considerar a origem dessa energia e o

mais eficientes, e o Programa de Etiquetagem do Inmetro, um dos

quanto ela é sustentável. k

mais abrangentes do mundo: desde 1984 informa a eficiência de 40 categorias de produtos, de fogões a coletores solares. Energia é vitalidade. Associamos energia à própria vida, mas nem sempre atentamos a seus custos ambientais e sociais.

* Paulo Vodianitskaia coordenador do GT Relações Institucionais da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade) e consultor da Hapi Consultoria.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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38 entrevista }

Divulgação/EPE

TECNOLOGIA O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, sugere que devemos nos apropriar e adaptar as tecnologias de renováveis que chegam ao país.

Por Alexandre Spatuzza

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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39

O

Brasil saiu atrás na corrida pelo controle de tecnolo-

gias de energia renováveis como eólica e solar. Entre-

tanto, para Maurício Tolmasquim, presidente do

principal planejador do setor energético brasileiro na última década, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o país está se posicionando para ser líder nesta área à medida que as empresas vão se instalando para atender o crescente mercado e para aproveitar os recursos naturais. Em entrevista exclusiva à Revista Sustentabilidade o executivo disse que além das quatro empresas do setor eólico já instaladas no Brasil – Alstom, Gamesa, Impsa e Wobben – mais quatro preparam sua entrada. Isto não apenas sinaliza que o setor está se consolidando, mas também que já deve ser planejado o próximo passo: a montagem de centros de pesquisa por meio de parcerias entre empresas e universidades a fim de adaptar as tecnologias desenvolvidas do hemisfério norte ao regime de ventos brasileiro, que é diferente. Segundo Tolmasquim, o modelo de regulamentação, os leilões competitivos e a exigência de conteúdo mínimo farão a diferença. O modelo de sucesso do setor eólico – que deve aumentar de 1 gigawatt para 12 gigawatts em 10 anos – será aplicado no segmento de energia solar – térmica e fotovoltaica. Revista Sustentabilidade: Quais as perspectivas para as energias renováveis no Brasil? Maurício Tolmasquim: As energias novas já não são mais novas, pois estamos olhando para PCH (pequenas entrais hidrelétricas), eólicas e biomassa como já instaladas em escala no Brasil. Hoje elas representam 8% da capacidade instalada e deve dobrar em 10 anos. As energias renováveis, incluindo a hídrica, hoje representam 83% da capacidade instalada e estas novas ajudarão a manter este patamar. Então as perspectivas são boas de três formas. O setor eólico tem mostrado alta competitividade nos leilões. Os leilões aumentaram a quantidade de

contratação, o que levou à escala de produção. O terceiro fator é que o Brasil está atraindo empresas. Há dois anos, tínhamos duas empresas de produção de equipamentos eólicos no Brasil. Hoje temos quatro instaladas e mais quatro que estão analisando sua entrada. Então, em 2020 chegaremos a quase 12 mil megawatts de eólica. RS: Já que o BNDES exige 60% de nacionalização dos componentes, existe espaço para o desenvolvimento tecnológico nacional na área de eólica? Tolmasquim: A internalização das indústrias também tem a ver com o fato de que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) exige um percentual mínimo de conteúdo nacional local. São fatores que permitem que esta fonte cresça e tenha perspectivas muito boas. Acho que existe a necessidade de haver um centro tecnológico de eólica no Brasil, estamos no momento certo e é fundamental. Este é o próximo passo. Não necessariamente temos que ter empresas brasileiras neste centro, por que são questões de escala internacional, mas o vento no Brasil tem características diferentes. Lá tem estabilidade maior, por exemplo. Então, é importante adaptar ou produzir aerogeradores focando na nossa realidade. É mais do que tropicalizar os aerogeradores. Assim, abre-se espaço para inovação nacional, mesmo que seja feito por consórcios de empresas estrangeiras apoiando alguma universidade. RS: O modelo é mais focado no mercado. O governo entrou com algumas regulamentações, com redução de tarifa de transmissão e distribuição, o compartilhamento de ligações, mas essencialmente foi centrado no modelo competitivo de leilão, que foi eficiente para atrair o investimento neste momento. Este modelo pode ser replicado para outras renováveis, como por exemplo, a matriz solar que agora vive uma redução drástica de preço dos painéis fotovoltaicos? Tolmasquim: Na verdade, foi um conjunto de fatores, mas o principal é que temos um modelo competitivo. O leilão existia há muito tempo, mas não contratava eólica, até que tivemos Revista Sustentabilidade Edição Especial


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40

EM 2020 CHEGAREMOS A QUASE 12 MIL MEGAWATTS DE EÓLICA

sucesso com a questão da banda, da Interconexão Compartilhada por Geradores (ICG), do BNDES. Mas o leilão mostrou que a eólica pode ser competitiva com um diferencial. Na Europa, o setor eólico tem dívidas enormes - veja Portugal e Espanha –, por conta dos incentivos que foram dados. Aqui, temos um sistema que onera pouco o consumidor. Sem dúvida alguma, acho que a biomassa tem espaço para cair. Acho que o preço está caro. A solar é uma oportunidade. Agora, é necessário entender se a solar vai entrar como parques solares térmicos, que são mais centralizados e poderiam ser contratados por meio de leilões, ou se será descentralizada por meio de painéis fotovoltaicos. Aí não seria por meio de leilões, seria uma energia instalada nas residências e etc. RS: Então a fotovoltaica, em sua opinião, não faria sentido para parques solares grandes? Tolmasquim: Os parques centralizados fotovoltaicos são poucos prováveis. O fotovoltaico é muito interessante para hoje botar perto das residências, porque a energia que se consome nas residências é muito cara o que torna a fotovoltaica atrativa quando houver condições técnicas como medidores adaptados para isso. O smart grid viabilizará o fotovoltaico nas residências. Para o solar térmico, com concentrador de torre, ou por sistemas parabólicos, seja qual for a tecnologia, já existem grandes áreas disponíveis e haverá venda para a rede como faz um parque eólico. Este sistema demanda ainda uma queda maior de preço. No caso da solar concentrada, tem que comparar com outras gerações centralizadas como a hídrica, eólica ou térmica, cujos preços são competitivos em torno de R$100/MWh. Por isso, vai demorar um pouco mais para a energia solar ficar competitiva. Já a fotovoltaica é viável, se for instalada nas residências ou empresas, pois se compara com o preço final que o consumidor paga, que é mais caro, e não se compara com o preço dos leilões. Revista Sustentabilidade Edição Especial

RS: Estamos falando de que prazo para isso? Tolmasquim: Acredito que um prazo maior que 10 anos. RS: Para o Brasil ser uma potência nas novas renováveis, qual a lacuna tecnológica que precisa ser encarada e solucionada pelo país? Tolmasquim: O Brasil não é produtor destas tecnologias. Tem pesquisa, mas não produz. Agora temos um grande mercado e estas tecnologias crescerão. Haverá uma atração de empresas para o Brasil, vai acabar havendo desenvolvimento de tecnologia aqui. É a mesma questão da eólica: serão necessários centros tecnológicos que serão puxados pela própria demanda. Como o Brasil tem recursos naturais como sol e vento, as empresas serão atraídas. Mas temos que reconhecer que o Brasil não é líder nestas áreas. Isso virá com a penetração destas fontes e com a necessidade de adaptar as tecnologias a nossa realidade. No fundo, talvez o certo seria termos desenvolvido a nossa tecnologia, mas o desenvolvimento não ocorreu aqui. Agora, nós temos a condição de adquirir e desenvolver esta tecnologia porque o mercado está aqui, o sol e o vento estão aqui. Esta é uma vantagem que ninguém pode tirar da gente. RS: O sistema interligado nacional está pronto para receber estas renováveis? Tolmasquim: Isto é algo permanente. Temos que fazer reforços, o próprio operador do sistema (ONS) tem que se preparar para incluir estas fontes. Mas isto não me preocupa, temos aqui a tradição de operação de modelos e de sistemas muito sofisticados. Obviamente, é algo que tem de ser feito, mas em tempo de ter todas as condições para incluir estas fontes. Existe uma série de problemas que têm que ser enfrentados. Mas são questões ultrapassáveis, pois na hora que a eólica começar a entrar em peso, teremos que operar o sistema de uma outra maneira. k


p41 artigo 4_revista 25/10/11 15:19 Page 41

41 { artigo

Considerações sobre os leilões de energias renováveis Por Fabio Moura e Eduardo Barreto Alfonso *

evido a diversos fatores, que vão desde queda nos cus-

A grande preocupação é que nenhuma fonte é 100% con-

tos e aumento na priorização política até conside-

fiável. Os parques de energia eólica instalados no Brasil têm ca-

rações sobre sustentabilidade, as energias renováveis

pacidade para produzir apenas 80% do seu potencial estimado

vêm ganhando espaço na matriz energética brasileira. Um ele-

na época do leilão, produzindo abaixo do esperado. Ainda que

mento importante neste processo, que funciona como um bom

os avanços tecnológicos permitam estudos mais precisos, muitos

termômetro do setor, são os leilões de energias renováveis, rea-

especialistas entendem que a energia eólica deve ser utilizada

lizados periodicamente pelo governo.

como uma forma de compensar a baixa da produção das usinas

D

Há margem, entretanto, para algumas considerações e ques-

hidrelétricas durante o período de secas, em vista da maior in-

tionamentos sobre tais leilões, em especial no tocante às fontes

cidência de ventos no mesmo período, e não como uma forma

de energia e seus preços. Quando são realizados os leilões de

completamente autônoma e voltada a substituir as demais.

energia, como o de 17 e 18 de agosto deste ano, são inscritos pro-

A Lei 10.438/2002, que criou o Programa de Incentivo às

jetos de todas estas formas de produção de energia: biomassa, ter-

Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o Proinfa, já demons-

melétrica, eólica e PCHs. Um ponto importante que vem sendo

trava esta preocupação ao não priorizar uma fonte em relação

discutido é a questão de preterir uma fonte de produção em re-

às demais, dividindo equanimemente os incentivos para eólica,

lação à outra por questões de competitividade econômico-finan-

pequenas centrais hidrelétricas e biomassa. Todavia, a própria

ceira atual. Hoje, a bola da vez são as fontes de energia eólica,

lei determina que, em caso de uma das fontes não alcançar a

dominando os leilões ao bater recordes de preços. Por que não

meta estipulada de 1.100 MW, a Eletrobras deverá contratar ime-

priorizar então os investimentos e ações neste tipo de energia?

diatamente as quotas remanescentes de potência entre os pro-

Em 2010, houve a experiência de realização de leilões específicos para cada fonte alternativa. Porém, apesar de na previsão inicial o preço da energia eólica ter sido estabelecido acima das demais fontes, acabou sendo a mais barata.

jetos habilitados nas demais fontes, o que retorna à questão da predominância de uma fonte sobre as demais. Assim, independentemente da realização de leilões conjuntos ou separados por fonte de energia, ainda nos parece interessante

No setor eólico, por exemplo, houve um aumento significa-

que haja mecanismos para balancear os leilões entre as diversas

tivo dos aproximadamente 30 MWh produzidos no Brasil em

fontes, de forma que o predomínio de uma fonte não iniba o de-

2005, para mais de 1 GWh em 2011. Mas as reduções no valor da

senvolvimento das demais, o que poderia gerar um desequilíbrio

energia, que de 2009 para 2010 caíram de, em média, R$ 160 para

futuro em relação à baixa diversidade de alternativas na matriz

R$ 147 por MWh, não são oriundas apenas dos ganhos de escala,

energética brasileira. k

mas também na melhora da tecnologia. Como a tecnologia utilizada para a produção energética está em constante evolução, é difícil que se preveja com segurança o valor ou o preço futuro da energia proveniente das diversas fontes.

* Fabio Moura é sócio de FHCunha Advogados. * Eduardo Barreto Alfonso é advogado especialista em contratos de infraestrutura de FHCunha Advogados.

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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42 energias renováveis }

SUSTENTÁVEL O Brasil ocupa o 3o lugar no ranking das energias renováveis, mas desce do pódio sem a hidrelétrica. O desenvolvimento energético sustentável do país agora depende da “invasão” de matrizes mais limpas como a eólica e a solar

Banco de Imagens

Por Alexandre Spatuzza e Janaína Simões

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a capacidade eólica brasileira subirá dos atuais 1 mil megawatts para 11 mil MW em 2020 Revista Sustentabilidade Edição Especial


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43

força do Brasil está na grandeza e diversidade de seus

Mundo afora, a equação das fontes para energia elétrica é o

recursos naturais. Sempre esteve. Mas se um dia esse

inverso: 70% são sujas, ou seja, oriundas de fontes não renováveis

foco em matérias-primas brutas já foi considerado um

e fósseis. No entanto, isso caminha para mudar à medida que

sinal de desvantagem econômica, hoje ele pode virar uma van-

governos e empresas investem bilhões para desenvolver energias

tagem na corrida pelas novas matrizes energéticas renováveis

renováveis e reduzir emissões de carbono. Segundo projeções da

que contam com investimentos mundiais da ordem de US$200

Agência Internacional de Energia (AIE), em 2050, 46% da energia

bilhões segundo estudos da ONU. “Temos o sol, o vento e a bio-

mundial virá de fontes renováveis, com destaque para eólica (ter-

massa, e isso ninguém tira da gente,” afirma o presidente da Em-

restre e marítima) e solar fotovoltaica.

A

presa de Planejamento Energético (EPE), Maurício Tolmasquim.

Outras tecnologias como a geotérmica, a biomassa, as células

Entre estes recursos está a água. Para fins energéticos, 75%

a combustível e ondas do mar vêm chamando atenção como

dela já estão sendo explorados. Por essa razão o Brasil tem a

alternativas. Elas recebem uma proporção crescente dos inves-

quarta matriz mais limpa do mundo, com mais de 70% renovável,

timentos de pesquisa e desenvolvimento, subsídios governa-

segundo o relatório REN21's Renewables Global Status Report

mentais e de fundos de capital de risco, este último um

(GSR) da Organização das Nações Unidas para Meio Ambiente

importante mecanismo para levar tecnologias novas a mercado.

o

o

o

(UNEP). Na frente, vem China (1 ), EUA (2 ) e Canadá (3 ).

Segundo levantamento da Associação de Private Equity dos

Investimentos em energias renováveis no mundo (2004-2010) bilhões de dólares 250

211 200

160 130

150

103,5 100

62,8 40,9

50

22 2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Fonte: REN21 Reneable Energy Policy Network for the 21st Century

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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44

O INVESTIMENTO GOVERNAMENTAL EM RENOVÁVEIS EM TODO O MUNDO ALCANÇOU OS US$5 BILHÕES EM 2010: UM SALTO DE 66% EM RELAÇÃO À 2009

Mercados Emergentes (EMPEA), em 2009, as energias reno-

Portanto, não é só a disponibilidade de recursos naturais que

váveis e empresas desenvolvedoras de tecnologias de armazena-

coloca um país bem no ranking, mas sim a capacidade de desen-

mento representavam 84% do total do estoque de investimentos

volver e aplicar tecnologias novas, o que depende de políticas

acumulados em US$ 174 bilhões. Além disso, em 2010, os inves-

públicas e um ambiente econômico favorável.

timentos governamentais em renováveis em todo o mundo

Poderá o Brasil aproveitar seus recursos naturais para ser

atingiram US$ 5 bilhões: um salto de 66% com relação aos

líder nas energias renováveis existentes e nas que virão? Isto será

US$ 3 bilhões do ano anterior.

essencial, pois o mercado elétrico brasileiro é um dos que mais

Divulgado em julho, o REN21 da ONU mostra o Brasil como o quinto país que mais atrai investimentos nesse segmento. Do

cresce – o consumo está projetado em cerca de 5% ao ano até 2020 – e o parque gerador nacional precisará de expansão.

total de US$ 211 bilhões direcionados para renováveis em 2010,

Mas, se depender apenas da energia hidráulica ou biocom-

US$ 7 bilhões foram aplicados no Brasil, principalmente em bio-

bustíveis, essa expansão será cada vez mais difícil. A maior parte

combustíveis e biomassa.

de nosso potencial hidrelétrico inexplorado está na Amazônia

O país é o segundo do mundo em geração de energia por bio-

ou em áreas protegidas. A produção de biocombustíveis neces-

massa e responde por 7,8 gigawatt (GW) da capacidade instalada

sita de ampliação da área plantada que também é restrita por

de cerca de 114 GW em 2011, cenário em que o destaque é o

condicionamentos socioambientais.

bagaço de cana.

Por outro lado, a energia solar fotovoltaica desliza sobre uma

No entanto, quando a hidroeletricidade é excluída, o Brasil

revolução. Em 2010, foram instalados 17 GW de nova capacidade

desaparece do mapa, deixando o quarto lugar para a Espanha

mundo afora. Eram apenas 7 GW em 2009. Ao mesmo tempo,

(líder em eólica) e a quinta posição para a Alemanha (líder em

dados da AIE indicam que os preços no setor deverão cair 18%

solar e eólica).

ao ano e os custos de geração deverão ser 70% mais barato no

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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45

segmento fotovoltaico de grande porte, em 2030. O Brasil enfrenta um grande desafio de manter a liderança

queima também pode ser estendida a outros materiais o que prolonga a oferta de energia das usinas na época de entressafra.

em renováveis já que no mundo há uma crescente corrente de

A empresa baiana Cetrel inaugurou, na Paraíba, em março,

países direcionando políticas públicas para este setor: hoje são

uma planta-piloto de energia a partir da queima do biogás

119 nações; em 2005, eram apenas 55.

oriundo da fermentação da vinhaça. Outras indústrias agrícolas andam no mesmo sentido. O

BIOMASSA

setor madeireiro já pesquisa o desenvolvimento de processos para utilizar restos de madeira para formar briquetes que pos-

“O consumo de energia está aumentando, devido ao aumento da

sam ser queimados para produzir energia. A Companhia

população, à urbanização e melhoria de vida das classes C e D. O

Suzano de Papel e Celulose, por exemplo, investiu R$ 170 mi-

desafio é manter ou aumentar esta contribuição de renováveis”,

lhões para fundar no ano passado a Suzano Energia Reno-

afirma José Goldemberg, pesquisador do Instituto de Eletrotéc-

váveis que produzirá pellets de resíduos de madeira para

nica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

exportação com a finalidade de gerar energia. A ERB (Energias

Para Goldemberg, a melhor estratégia para o Brasil, hoje, é

Renováveis do Brasil ) está investindo R$ 200 milhões para

expandir a produção atual de etanol e biodiesel, que já são

adaptar a Usina de Aratu a fim de usar eucalipto como fonte

comercialmente competitivos, e ampliar a cogeração de eletrici-

de energia e gerar vapor que serão vendidos à empresa química

dade com bagaço de cana, o que ainda enfrenta problemas na

Dow. A cadeia agroindustrial do arroz conta com cerca de

modernização das caldeiras.

308 mW instalados para gerar energia.

A queima de bagaço nas caldeiras é hoje a forma que as usinas

No entanto, o custo é um fator preponderante, já que o mo-

usam para produzir a própria energia. A sobra é vendida para a

delo elétrico brasileiro prevê a contratação a longo prazo por

rede elétrica. No entanto, as usinas precisam contar com

meio de leilões pelo menor preço, abrindo espaço para melhoria

caldeiras de alta pressão para ganhar eficiência na produção de

dos equipamentos e no preço do combustível.

energia excedente.

“A biomassa é uma fonte renovável que crescerá, mas o custo

O caminho é aproveitar não só o bagaço, mas também os ou-

tem que cair”, lembrou Tolmasquim. Apesar dos benefícios como

tros subprodutos como a palha e a vinhaça: para cada litro de

a redução de custo de transmissão e distribuição, a energia de

etanol, são produzidos 13 litros de vinhaça. Esses dois resíduos

biomassa teve um preço médio de R$ 102,00 por megawatt-hora

são hoje aproveitados para recompor o solo por meio da queima

(MWh) no último leilão para energia A-3.

ou mistura no substrato. Mas, em estados como São Paulo, por

Pesquisadores na Unicamp, Unesp, Unb e UFRJ estão empe-

exemplo, em que a legislação proíbe a queima até 2014, as em-

nhados em desenvolver sistemas para melhorar o desempenho

presas são forçadas a buscar alternativas. Isto mobiliza fornece-

da biomassa, inclusive resíduos sólidos, como fonte de energia.

dores de tecnologia e atrai investimentos. A Dedini Indústrias de Base, de Piracicaba, anunciou em julho uma parceria com a empresa alemã de geração de energia Envi-

COMPETITIVIDADE EÓLICA

rotherm para comercializar caldeiras de leito fluidizado. Essa tec-

Se o setor da biomassa quiser aumentar a presença na matriz

nologia permite queimar a palha e o bagaço junto com outros

energética vai precisar desenvolver e dar escala as tecnologias

resíduos para ampliar a produção de energia para cogeração. A

já existentes para competir com a energia renovável mais Revista Sustentabilidade Edição Especial


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46

MAIS BARATA QUE A ENERGIA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE, A EÓLICA SERÁ A RENOVÁVEL QUE MAIS CRESCERÁ NOS PRÓXIMOS 10 ANOS NO BRASIL

barata para novos empreendimentos no Brasil: a eólica, que

próximo de US$ 50 ou US$ 60/MWh em 20 anos. Segundo estu-

chegou a R$ 99/MWh.

dos da AIE, em 2019, a fotovoltaica representará mais de 10% da

Mais barata que a energia hidrelétrica de Belo Monte, a eólica

energia mundial. Hoje, é apenas 0,1%.

será a renovável que mais crescerá nos próximos 10 anos no

Os investimentos no desenvolvimento tecnológico – princi-

Brasil. As projeções da EPE revelam que essa fonte, a partir dos

palmente para aumentar a eficiência de conversão dos painéis

atuais 1 mil MW, chegará a 17 mil MW em 2020.

em novas tecnologias de silício, nanomateriais e elementos

A combinação de boa demanda, contratos de longo prazo e queda de custo da tecnologia abriu caminho para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abrisse os cofres o que tornou os preços competitivos.

orgânicos – são vultosos, liderados pela China cujas empresas dominam 27% do mercado de painéis. No Brasil, a energia solar fotovoltaica oficialmente foi pensada apenas para sistemas isolados como as mundialmente re-

“Todos os projetos eólicos têm apoio do banco”, disse An-

conhecidas experiências como a eletrificação rural e os painéis

tônio Carlos Tovar, chefe do Departamento de Energias Re-

fotovoltaicos na Amazônia com capacidade instalada média de

nováveis do BNDES. “Temos todo o interesse em apoiar solar,

620 MW. Apesar de Tolmasquim considerar esta opção viável

mas o preço ainda está muito alto”.

apenas para a micro geração, algumas empresas já apostam na tecnologia em escala comercial. Uma das primeiras foi a MPX,

ONDA SOLAR Impulsionada pelos ventos da eólica, a próxima onda de re-

do empresário Eike Batista. Em agosto, ele inaugurou a usina Tauá no Ceará, com investimentos de R$ 10 milhões e capacidade instalada de 1 MW.

nováveis no Brasil será a solar fotovoltaica, o que deve acompa-

Além disso, no primeiro semestre, a Eletrosul abriu chamada

nhar a tendência mundial de queda de preços de equipamentos

aos pesquisadores interessados em desenvolver tecnologia para

e tecnologia. No mercado global a energia solar custa hoje

purificar o silício de aplicação orientada a painéis solares. O

US$300/MW/h, valor que deve continuar a cair até atingir algo

Brasil é, hoje, líder mundial em exportação de silício para fins

Revista Sustentabilidade Edição Especial


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Hermínio Nunes/Eletrosul

47

A Eletrosul está investindo em pesquisa para purificar o silício que compõe os painéis solares com o objetivo de estabelecer uma produção nacional desses componentes metalúrgicos de qualidade menos pura. Ao mesmo tempo, pesquisadores na USP, Unicamp, UFSC e UFRGS já pesquisam novas tecnologias para os painéis de silício, bom como a utilização de componentes orgânicos. Já é possível vermos projetos comerciais utilizando a energia solar no Brasil. A Cemig está testando a tecnologia na cidade de Sete Lagoas onde também opera a geração distribuída (smart grid) em projeto piloto. O Fundo de Incentivo à Energia Solar (FIES) do Estado do Ceará conta com R$10 milhões e desenvolveu uma proposta para um leilão estadual de solar fotovoltaica no qual o governo comprará energia para abastecer prédios públicos, em contratos de 15 anos. No caso das centrais, o fator chave será a complementaridade, afirma Ricardo Simões, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). ”Onde se instala parques eólicos, é possível instalar também painéis fotovoltaicos”. Da eólica à solar, estas iniciativas estão atraindo a atenção de

O POTENCIAL FOTOVOLTAICO BRASILEIRO O grande potencial fotovoltaico do Brasil vem de sua alta irradiação solar comprovada por meio de um convênio entre o Inpe e a ONU. No atlas solar, a irradiação solar global brasileira foi identificada como incidente em qualquer região do território (4,2 mil a 6,7 mil kWh/m2), sendo que as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste têm a melhor incidência. Os números são consideravelmente superiores aos de países da União Europeia como Alemanha (900 a 1250 kWh/m2) e Espanha (1,2 mil a 1,85 mil kWh/m2) onde, com grande aporte de subsídios, a capacidade instalada de solar fotovoltaica é de 17 GW e 3,8 GW, respectivamente.

investidores. Após ter investido R$600 milhões em eólica e bioRevista Sustentabilidade Edição Especial


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48

Evolução projetada das fontes renováveis no Brasil

Eólica 9%

PCH 24%

(831 MW)

(6.447 MW)

PCH 42%

Biomassa 49%

(3.806 MW)

(4.496 MW)

Eólica 42% (11.532 MW)

Biomassa 34% (9.163 MW)

2010

2020 Fonte: PDE 2020 (MME/EPE)

massa com recursos do Fundo Rio Bravo Fipe de energia I, a Rio

oferecerá as mesmas condições que oferece a outras tecnologias.

Bravo já contempla solar no segundo fundo de R$ 1 bilhão que

Entretanto, há no Brasil poucas iniciativas termossolares.

deve lançar em breve, garante Fábio Okamoto, gestor da carteira.

Além de um projeto experimental de um convênio entre a Universidade Federal de Pernambuco e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), há um projeto na Paraíba da empresa

TERMOSSOLAR DE CONCENTRAÇÃO

portada, a Braxenergy tem um projeto de 50 MW baseados em

A grande irradiação solar também oferece a opção de montar

espelhos espalhados em 180 hectares já com licença ambiental.

centrais solares térmicas de concentração (CSP). Com capaci-

Com investimentos de R$ 275 milhões, o projeto, segundo Hélcio

dade instalada mundial de cerca de 1 GW, esta tecnologia utiliza

Camarinha, presidente da empresa, pode gerar eletricidade a

sistemas de espelhos que concentram o calor solar em uma torre

preços competitivos. Assim como na biomassa e na eólica, essa

na qual óleo ou água são aquecidos para girar turbinas a vapor.

tecnologia é importada – licenciada pela americana Skyfuels –,

O custo de geração desta tecnologia está em US$ 180,00/MW/h.

apesar de 95% dos componentes serem produzidos no Brasil.

paulista de engenharia Braxenergy. Utilizando tecnologia im-

“A termossolar é para grande escala, acima de 30 MW, dife-

Camarinha aposta alto na tecnologia. “Fizemos medições

rente da fotovoltaica que necessita apenas de um incentivo do

desde 2007 e identificamos um potencial de 16 GW de capaci-

governo e regulamentação melhorando a condições para mi-

dade instalada no Brasil”, diz. Segundo ele, os únicos limitadores

crogeração distribuída,” afirma Tovar do BNDES. Segundo ele,

desta tecnologia são a terra para instalar o projeto e a água ali-

o banco já acompanha e recebe regularmente consultas para fi-

mentar o processo de geração. Além do projeto na Paraíba, Ca-

nanciar projetos termossolares de concentração para os quais

marinha espera receber, até o final do ano, a licença prévia para

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mais cinco projetos de CSP que totalizam 350 MW de capacidade

forma-se o movimento cinético regular das ondas em energia

instalada nos estados da Bahia, Piauí e Pernambuco.

elétrica por meio de turbinas. São varias as tecnologias que

Naun Fraidenraich, coordenador do convênio entre a Chesf

servem para esse fim. Estima-se que o Brasil, com mais de 8 mil

e a UFPE, defende que o Brasil invista em pesquisa e na abertura

quilômetros de orla, tenha potencial de 90 mil MW. Os

de um laboratório nacional para acompanhar o desenvolvimento

primeiros experimentos já estão sendo desenvolvidos dentro de

mundial da tecnologia do CSP, que segundo alguns estudos, vai

uma parceria formada por Eletrobrás, Tractebel, Coppe e Uni-

se tornar mais barata que a solar fotovoltaica e a eólica em

versidade Federal do Rio de Janeiro. Juntas elas investirão US$

questão de duas décadas.

15 milhões num projeto de 100 kW no nordeste que deverá

Para o governo, esta é a mais propícia energia solar de grande

começar a operar ainda em 2011.

porte para o Brasil já que há no Nordeste terra disponível. Glo-

Apesar de ter recursos naturais ricamente distribuídos, o

balmente, chega a 1 mil MW a capacidade instalada desta tec-

Brasil ainda aposta em grandes centrais geradoras. O único setor

nologia que, apenas em 2010, registrou um surto de crescimento

de renováveis que conta com uma estrutura robusta de pesquisa

acelerado no qual foram acrescentados mais 75% de capacidade

e desenvolvimento, inclusive com aportes governamentais, é o

instalada, segundo o relatório da ONU.

da biomassa oriundo da indústria sucroalcooleira. As outras fontes ainda carecem de foco e estrutura. O modelo da eólica

FORÇA MARINHA

deu certo, mas dependemos de tecnologia estrangeira que, conforme atestam especialistas, necessita ser adaptada para as

Outro potencial brasileiro, que também no mundo começa a

condições nacionais. A competitividade brasileira depende agora

despontar, é a energia vinda do mar. O conceito é simples: trans-

do desenvolvimento nacional destas novas tecnologias. k

RENOVÁVEIS MOVIDAS A PRÉ-SAL Capacidade Instalada de Renováveis por Fonte no Mundo (sem hídrica) – 2010

O deputado federal José Luiz Penna (PV-SP) está propondo uma lei para fomentar as novas energias renováveis. Segundo o texto proposto por Penna, não só deve haver um foco para implementar as tecnologias, como deverá haver um fundo específico para financiar pesquisa, desenvolvimento e inovação. Parte do dinheiro virá do pré-sal e a outra, de dotações orçamentárias. Para Penna, é uma iniciativa essencial. “Não é possível um país tropical não ter um plano arrojado de energia solar. Precisamos acordar o país“, disse.

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BRASIL SE FIRMA NA

Por Janaína Simões

epois de quase uma década do lançamento do Programa

Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST) e coordenador

de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica

do Projeto SONDA (Sistema Nacional de Organização de Dados

(Proinfa), o Brasil se firmou na rota dos investimentos

Ambientais) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Os po-

de empresas de energia eólica. Já são quatro fabricantes interna-

tenciais eólicos crescem bastante com a altura do gerador, por-

cionais instalando-se aqui e mais quatro em preparação. Segundo

tanto, alguns podem ter sido subestimados”, diz Pereira.

D

projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) a capacidade eólica deve subir dos 1 mil MW atuais para 11 mil MW em 2020.

Prospectar o potencial também está entre as iniciativas do Estado de São Paulo que deve lançar ainda em 2011 um atlas

Entre os mais recentes estão a dinamarquesa Vestas Wind

eólico. Segundo o subsecretário estadual de Energias Reno-

Systems, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo, que fe-

váveis, Marco Antonio Mroz, esse documento revelará o po-

chou em julho um contrato de fornecimento de turbinas para

tencial de geração de pequeno porte – também chamado de

três projetos eólicos da Companhia Hidroelétrica do São Fran-

autoprodução – que poderá ser complementar e viável com a

cisco (Chesf), na Bahia.

queda nos custos.

Três fatores explicam o sucesso da eólica. Primeiro, a crise fi-

O segmento, entretanto, é dominado pela tecnologia impor-

nanceira de 2008 deixou as empresas sem novos contratos na

tada que muitas vezes requer adaptações às condições nacionais.

Europa e nos EUA, o que as levou a investir no emergente Brasil.

A obrigação de nacionalizar 60% das turbinas – condicional do

Em segundo, o avanço tecnológico permitiu a queda do preço e

financiamento do BNDES para fabricantes estrangeiros – ajuda

um mapeamento melhor dos ventos no Brasil. O terceiro fator

na transferência de tecnologia, mas é também preciso investir

foi o barateamento da oferta de financiamento pelo BNDES. Isso

em centros de pesquisa para o setor desenvolver tecnologia na-

tudo fez com que a eólica saísse mais barata que todas as outras

cional, dizem os especialistas.

fontes no leilão de energias novas em agosto 2011.

“Na maior parte das vezes os levantamentos eólicos são reali-

Hoje, se fala em um potencial de 100 mil MW de eólica no

zados por empresas estrangeiras especializadas nessa tarefa, mas

Brasil: os mapeamentos ultrapassaram os 100 metros de altura

empregando modelos ‘caixa preta‘. Não se sabe muito sobre a

o que resulta em novos potenciais no interior, expandindo dos

qualidade dos resultados, pois muitos foram desenvolvidos em

parques mais antigos localizados na costa. A Bahia, por exemplo,

países de clima temperado e não clima tropical”, diz Pereira.

tem um potencial de 20 mil MW, a maioria no interior, segundo o secretário Estadual de Desenvolvimento, James Correia. Os dados sobre o potencial eólico nacional precisam de atualização. É o que defende Enio Bueno Pereira, pesquisador do Revista Sustentabilidade Edição Especial

Em contraponto, o grupo de Meteorologia da Energia do CCST-Inpe está desenvolvendo um processo de código aberto, adaptado as condições climáticas do Brasil. O caminho da nacionalização é longo mas, pelo menos, já começamos a percorrê-lo. k


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