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RODRIGO
VAZQUEZ
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“O fascismo é, em essência, uma revolta na ordem e para a ordem.”

(Labirintos do fascismo, João Bernardo)

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Este trabalho se propõe a documentar alguns dos momentos de expressão popular de um movimento social que estava adormecido, o da extrema direita no Brasil. Ele não é inédito, já tivemos um dos maiores partidos fascistas do continente, o Partido Integralista, mas está de cara nova e crescendo. Ressurge de forma inesperada, a partir de um sentimento de descontentamento que começa a se organizar e tomar forma após as grandes manifestações desencadeadas por reinvindicações de grupos de esquerda em 2013.

Se há um marco histórico para essa reorganização, eu arriscaria o ano de 2014, quando houve uma reedição da Marcha da Família, manifestações que, em 1964, ajudaram a dar apoio popular ao golpe militar no Brasil. No aniversário de seus 50 anos, um pequeno grupo de pessoas refez o trajeto da marcha original clamando pelos mesmos ideais conservadores de outrora – a família, Deus, a propriedade privada – mas com algumas atualizações, em vez do comunismo agora o grito é “fora PT”. Se, em 2014, esse grupo de pessoas fora visto com desdém e como motivo de chacota, apenas quatro anos depois se tornariam a multidão que elegeu o candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro, com quase 58 milhões de votos.

A associação dessas pessoas foi turbinada pelas redes sociais e essa nova direita soube usar muito bem os recursos e a pouca regulamentação dessas novas ferramentas de comunicação. Não apenas se aglutinaram em volta de um líder pouco provável, um político de carreira e inexpressivo, como criaram toda uma rede de afetos e trocas de informações quase impenetrável. O bolsonarismo possui hoje aspectos que remetem à uma seita, onde é quase impossível o diálogo com seus seguidores e qualquer questionamento é logo visto como ofensa ou traição.

Neste ano de 2022, esse ciclo parece chegar a um ponto crucial. Bolsonaro perde a eleição por uma margem pequena para o histórico líder do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva. Muitos de seus seguidores – e não apenas eleitores – ainda não acreditam na derrota, e parece haver uma radicalização cada vez maior dos grupos mais aguerridos. Se no reflorescer da direita brasileira, durante os grandes protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff, os grupos que pediam intervenção militar eram minúsculos e excluídos dentro do próprio movimento, hoje eles ganham protagonismo e crescem a cada dia, mostrando que o movimento de radicalização não esmoreceu.

Depois de novamente se sentirem como protagonistas da história nacional, essas pessoas não irão aceitar voltar para seu antigo lugar de irrelevância, até porque eles não estão lutando por mudanças, mas pela conservação de seu próprio mundo, um lugar cada vez mais fechado e que está sempre sendo ameaçado por qualquer ideia mais progressista. Eles continuarão mesmo após Bolsonaro, se agarrando a qualquer um que lhes prometa a manutenção de seus privilégios, mesmo que mínimos.

De fato, eles continuarão por aí.

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RODRIGO VAZQUEZ

Fotografar é o privilégio de poder expressar para os outros as formas como vejo o mundo.

Nasci em São Paulo, Brasil. Formei-me em história pela Universidade de São Paulo (USP) e fotografia pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC).

Utilizo a fotografia para investigar e documentar as contradições sociais e os movimentos históricos que têm modificado nossa sociedade; também uso essa ferramentas para expressar em imagens angústias da alma, minha própria e daqueles com quem cruzo em meu caminho.

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rvazquez.com.br @r.vazquez_

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Fotografias

Rodrigo Vazquez

Edição e revisão

Diego Ruiz

Diagramação

Rafael Ruiz

Primeira edição

2022

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Depois de novamente se sentirem como protagonistas da história nacional, essas pessoas não irão aceitar voltar para seu antigo lugar de irrelevância, até porque eles não estão lutando por mudanças, mas pela conservação de seu próprio mundo, um lugar cada vez mais fechado e que está sempre sendo ameaçado por qualquer ideia mais progressista. Eles continuarão mesmo após Bolsonaro, se agarrando a qualquer um que lhes prometa a manutenção de seus privilégios, mesmo que mínimos.

De fato, eles continuarão por aí.

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