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CONFLITO DE FRONTEIRAS Uma das guerras mais sangrentas e intrigantes da história da América Latina completa 150 anos e poderá ser relembrada em docudrama brasileiro filmado em cinco países por Lucas Alencar e Raquel Temistocles

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Guerra do Paraguai

DIA 11, SÁBADO, 22H, HISTORY, 83 E 583 (HD)

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ESSA GUERRA SÓ HÁ CULPADOS, não há inocentes.” A frase do historiador Eduardo Bueno é contundente, mas traduz o sentimento que perdura até hoje nos povos afetados por um conflito que rompeu há 150 anos. Para esclarecer as dúvidas e as inverdades sobre o que realmente aconteceu nos campos de batalha, o canal History estreia neste mês o especial Guerra do Paraguai sobre o combate que uniu Brasil, Uruguai e Argentina contra o Paraguai. Para quem faltou às aulas de História para ir ao cinema, a produção une o útil ao agradável. Cheia de efeitos, animações, dramatização e entrevistas, o docudrama realizado pelo Studio Fly tenta passar a borracha nas explicações confusas que surgiram nos anos seguintes aos acontecimentos. “Tive uma preocupação didática em contar por que a guerra estava acontecendo, datas, fatos e personagens que não estão na cabeça do público. Isso, sim, foi difícil. Além de fazer o entretenimento, procuramos explicar a Guerra do Paraguai, porque realmente não é muito conhecida”, explica o diretor Matheus Ruas. Pode não ser muito conhecida, mas é muito polêmica. Tanto que o documentário procura ouvir especialistas no tema com ideias discrepantes. Como autor, Ruas afirma que o objetivo é evitar julgamento sobre possíveis culpados. “Como telespectador, nunca assisti a um [documentário] que fosse honesto. O desafio foi procurar a honestidade

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no tema, não tender nem para um lado e nem para o outro.” Mesmo assim, é difícil não se sensibilizar com um dos países envolvidos, principalmente quando sua nação é protagonista da guerra, caso de Brasil e Paraguai. DOIS LADOS DA MOEDA Quando falamos sobre qualquer conflito bélico é preciso separar fatos de opiniões. O indiscutível é que Uruguai e Argentina, que disputavam com o Paraguai a região do Rio da Prata – importante local de importações e exportações – formaram com o Brasil, em 1865, a Tríplice Aliança. Depois da invasão paraguaia ao Mato Grosso e Rio Grande do Sul, os três países unidos atacaram e deram início a uma guerra com mais de dez batalhas em seis anos. Com cerca de

Entre a vida e a morte – Na imagem acima, atores encenam uma das grandes batalhas que ocorreram durante a Guerra do Paraguai entre paraguaios e brasileiros. Na foto ao lado, combatente mostrando a precariedade dos acampamentos brasileiros durante os conflitos. Enquanto o Paraguai perdeu mais de 300 mil cidadãos, cerca de 75 mil brasileiros morreram

400 mil mortos, o conflito terminou com o assassinato de Francisco Solano López, presidente do Paraguai. Mas o motivo por trás do início da guerra ainda permanece nebulosoemuitoshistoriadorestêmdificuldadedeexplicar.Um deles é Michael Lillis, ex-diplomata irlandês, autor de Calúnia: Elisa Lynch e A Guerra do Paraguai, e um dos entrevistados do documentário. Para ele, “a ação de Solano López foi um desastre para seu país e motivado por um desejo arrogante por mera glória militar. Acho que a responsabilidade de D. Pedro II

Protagonistas da guerra Dos mais de 500 mil militares e civis envolvidos no conflito entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, algumas figuras foram determinantes para os rumos do combate: um presidente, um imperador e dois comandantes do Exército Brasileiro

ALMIRANTE BARROSO

Comandante da Armada Brasileira na Batalha do Riachuelo, em 1865. A importante vitória que conquistou no conflito naval desestabilizou o exército paraguaio, que assumiu estratégia defensiva até o fim da guerra.

D. PEDRO II

Tinha 40 anos de idade quando a Guerra do Paraguai começou. Alguns historiadores defendem que o imperador tinha ódio do presidente paraguaio e só aceitou encerrar a guerra quando o adversário foi morto.

DUQUE DE CAXIAS

Patrono do Exército Brasileiro, era veterano das guerras da Independência e Cisplatina quando foi escolhido para comandar as forças aliadas. Abandonou o conflito quando considerou que a vitória já era certa.

FRANCISCO SOLANO LÓPEZ

O segundo presidente da República paraguaia é uma figura rodeada de controvérsias. No Paraguai, é tido como herói nacional, já no Brasil, é considerado um ditador sanguinário e ambicioso.

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foi sua recusa em aceitar o conselho do Duque de Caxias, líder militar do Brasil, de voltar para casa. Infelizmente, o Imperador insistiu em continuar com a destruição do Paraguai”, analisa em entrevista exclusiva à MONET. No final da história, a guerra foi negativa para todos os lados. O imperador brasileiro gastou mais do que tinha e, consequentemente, enfraqueceu a monarquia. O sucesso da campanha acabou fortalecendo os militares, que derrubaram D. Pedro II depois de 29 anos e proclamaram a República. Já o Paraguai, com 60% da população dizimada, “foi literalmente levado de volta para a Idade da Pedra”, nas palavras de Lillis. Hoje, a destruição e o rancor estão enraizados na memória dos paraguaios, a ponto de classificarem os brasileiros como genocidas, como conta o diretor Matheus Ruas. Já no Brasil, a guerra não passa de uma página virada nos livros de História. Talvez não seja tarde demais para mudar isso.

Caminhos da Guerra Partindo da Argentina, o exército da Tríplice Aliança marchou rumo ao Paraguai para revidar as invasões em territórios brasileiros e argentinos e dar sequência a um combate que durou quase seis anos e dizimou a população e a economia do país derrotado.

Corumbá

Primeira invasão – O presidente Solano López organizou duas frentes para invadir a província brasileira de Mato Grosso, no início de 1864. Os paraguaios tomaram o Forte de Corumbá e saquearam as cidades de Dourados e Miranda, matando brasileiros. Quando mobilizava as tropas brasileiras para revidar o ataque, D. Pedro II visitou as cidades invadidas.

Miranda 1 Concórdia (setembro de 1865) Tropas das Forças Aliadas se reúnem na cidade argentina, se preparando para invadir o Paraguai 2 Batalha Naval de Riachuelo (junho de 1865) A Marinha Brasileira, sob o comando do Almirante Barroso, impõe importante derrota ao Paraguai

Dourados

3 Batalha de Tuiuti (maio de 1866) Paraguaios atacam o acampamento da Tríplice Aliança, que sai vencedora, a custo de muito sangue

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4 Tomada de Humaitá (março de 1868) Depois de dois anos de ataques, os Aliados tomam o Forte de Humaitá, símbolo do exército paraguaio

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FOTOS: GETTY IMAGES, THINKSTOCK E DIVULGAÇÃO

6 Tomada de Assunção (janeiro de 1869) O Exército Aliado invade e saqueia Assunção, capital do Paraguai. Solano López continua sua fuga 7 Batalha de Acosta Ñu (agosto de 1869) Soldados aliados derrotam 6 mil paraguaios, em sua maioria crianças, mulheres e idosos

Assunção

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5 Dezembrada (dezembro de 1868) Em apenas um mês, a Tríplice Aliança derrota o Paraguai em três batalhas: Itororó, Avaí e Lemos 4 3 2

8 Batalha de Cerro Corá (março de 1870) Solano López é cercado e morto pelo soldado brasileiro Chico Diabo, marcando o fim da guerra

São Borja 1

Itaqui Uruguaiana

Segunda invasão – Em maio de 1865, López ordenou a invasão da região argentina de Corrientes e da província brasileira do Rio Grande do Sul. Três cidades do Brasil foram invadidas e saqueadas pelos paraguaios. Para os comandantes do Império e do Exército do Brasil, esse foi o estopim da guerra.

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