Alma Que Procura Um Nome

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ALMA QUE PROCURA UM NOME

Ana Bettencourt

Carla Fragata

João Duarte

Jorge Oliveira

Lina Moniz

Luís Carvalhal

Manuela Brito

Miguel Jardim

ALMA QUE PROCURA UM NOME

O que há num nome?

Enquanto técnica, a fotografia veio mudar a nossa perceção no domínio da representação e modificar a nossa relação com a realidade representada. Há um antes e um depois de vermos o mundo fotografado. Enquanto dispositivo ótico, a fotografia veio cumprir com as regras de construção da representação espacial postas em prática desde a renascença. Cedo se percebeu que a fotografia não necessitava de ficar refém da sua própria natureza e os movimentos artísticos iniciais a isso tentaram escapar criando modos de limpar da imagem aquilo que eram algumas das características específicas do dispositivo técnico tentando aproximá-lo de outras práticas artísticas correntes. Esta subversão do carácter excessivamente rigoroso e transparente da imagem, teve por consequência alargar o nosso entendimento do fotográfico e da prática fotográfica. Se olharmos à nossa volta, para a imensidão de imagens que nos rodeiam, ou para dentro da galeria dos nossos telefones, percebemos facilmente a diversidade de práticas que envolvem a fotografia e o ato de fotografar. Com a fotografia, veio também um olhar diferente sobre o tempo e de como ele afeta a construção não só da nossa perceção da realidade como da nossa memória. Das ruas vazias de Daguerre, por causa da longa exposição que foi necessária para impressionar a placa, à coroa da gota de leite de Edgerton, impossível de ver por não conseguirmos descodificar visualmente um fragmento tão curto de tempo, há um vasto conjunto de questões que nos interroga sobre a natureza do visível, da realidade e do imaginário. A fotografia é, também, um modo de dar visibilidade, de revelar (em sentido próprio) estas interrogações e de nos mostrar o mundo de um modo totalmente diferente - o inconsciente óptico de Benjamin.

Vem isto a propósito do conjunto de fotografias reunidas neste livro, resultado de um projeto desenvolvido por um grupo de artistas visuais que explorou fotograficamente a possibilidade de partir de um conjunto de poemas dos tempos finais da ditadura e torná-los imagem. A partir de um tempo histórico determinado e de um conjunto de palavras carregadas simbolicamente, cada um foi construindo a sua realidade, numa lógica de experimentação, onde se misturam técnicas e processos, clássicos e alguns menos ortodoxos, onde o importante é a exploração de um corpo de sentido, de uma memória pessoal onde a narrativa não segue qualquer tipo de linearidade. A história é a nossa história sem enredo, aqui individual e não coletiva de que a Natália Correia falava num dos poemas escolhidos. Tradicionalmente, a prática e os processos fotográficos aparecem ligados ao meio líquido, um mundo uterino feito de química onde se revelam e nascem as imagens. Não por acaso, o nome escolhido para este coletivo é, apropriadamente, “Escafandristas”, mergulhadores que varrem o fundo do mar e nos trazem à luz uma realidade à qual não temos acesso diretamente. Também aqui somos surpreendidos pelo resultado que cada um consegue trazer à superfície da visibilidade de modo que cada um de nós possa construir, por cima de cada conjunto de imagens, a sua própria vivência e trabalhar a sua memória. Dos fotogramas aos scanners, da mistura de imagens bidimensionais com objetos, de escalas de cinza conjugadas com elementos cromáticos, de imagens tradicionais a outras difusas, da intervenção manual às colagens, o que ressalta deste conjunto de trabalhos é a exploração de um mundo de possibilidades de se chegar à imagem.

Voltando à interrogação meio Shakespeariana do título, aqui há um nome que atravessa todos estes trabalhos: fotografia. Parece simples.

Francisco Feio, outubro 2024

Os Escafandristas são um coletivo de artistas tem como premissa criar universos artísticos e plásticos, em que a expressão é livre e a sensação domina.

Com recurso a técnicas e métodos criativos, a experimentação ganha maior dimensão com uma dinâmica de grupo que potencia a criação.

Desenvolvemos linguagens plásticas, usando a fotografia como suporte e com recursos a diversos materiais.

ALMA QUE PROCURA UM NOME

Colectivo Escafandristas

© Ana Bettencourt / insta @atbettencourt / anabettencourt.myportfolio.com

© Carla Fragata / insta @carlaamfragata

© João Duarte / www.joaoduarte.net

© Jorge Oliveira

© Lina Moniz / insta @lintxa

© Luís Carvalhal / insta @luiscarvalhal_author / www.luiscarvalhal.net

© Manuela Brito / insta @mmgrito / cargocollective.com/manuelabrito

© Miguel Jardim / insta @migueljardim

edição de autor

44 páginas 20x25cm

design gráfico

Luís Carvalhal

edição

Ana Bettencourt, Carla Fragata, João Duarte, Jorge Oliveira, Lina Moniz, Luís Carvalhal, Manuela Brito, Miguel Jardim

agradecimentos

Francisco Feio

©Escafandristas / Outubro 2024

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