Revista Tecnologística - Ed. 129 - 2006

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Fotos: Divulgação

não fizerem o seu papel, o modelo vai se esgotar, e acredito que estamos muito próximos disso.

Tecnologística – O senhor acredita que o modelo adotado quando da privatização está esgotado? Dias – Ele foi muito bem conduzido, apesar das dificuldades, mas não podemos sentar sobre os louros. As concessionárias, ao longo desses dez anos, fizeram sua parte. Elas foram responsáveis por 95% dos investimentos no setor ferroviário, investindo R$ 9,2 bilhões, que redundaram em maior produtividade e segurança. A produção ferroviária medida em toneladas-km útil (TKU) cresceu 62%; as cargas tradicionais da ferrovia, como minério e carvão, cresceram 55%, enquanto as demais cargas cresceram 85%, diversificando a base de clientes deste modal. O número de acidentes por milhão de trem-km caiu 56%. Ou seja, as ações que as concessionárias têm que tomar têm sido tomadas, mas isso por si só não é suficiente. Ocorre que o contrato de arrendamento prevê direitos e obrigações de ambas as partes e, se ambas

Tecnologística – Quais são os principais pontos que a ANTF defende? Dias – São vários. Defendemos, por exemplo, que a expansão da frota é necessária para dar continuidade ao crescimento. Acompanhamos, após a privatização, um renascimento da indústria ferroviária nacional, fator que apoiamos. Hoje, nossa frota conta com cerca de 2,3 mil locomotivas e 72 mil vagões, e temos trabalhado estreitamente com a indústria para o fornecimento de equipamentos adequados às nossas necessidades. Mas acreditamos que alguns bens e equipamentos precisam de escala para serem competitivos, escala que a indústria nacional não tem. É preciso então haver uma desoneração na importação desses equipamentos, porque eles servirão para aumentar a oferta de transporte e serão, em última análise, um bem para todo o País. Tecnologística – Outro ponto muito importante e polêmico é a expansão da malha, não? Dias – Sim, é um ponto importantíssimo. O Brasil tem a menor densidade de malha do mundo, e temos regiões distantes do País que produzem bens afeitos ao modal ferroviário, como é o caso do agronegócio, que não são atendidas por ele. O Centro-Oeste e o Nordeste, principalmente, são regiões de grande potencial, cujo crescimento é estrangulado pela falta de oferta de transporte, o que afeta inclusive a competitividade do País, pois são bens de exportação. E a expansão da malha – que nós já temos acompanhado com a Ferronorte, a Transnordestina e a reativação da Ferrovia NorteSul – depende muito do planejamento de cada concessionária.

Tecnologística – Novamente, os recursos viriam de onde? Dias – Pode ser via governo, investimentos diretos das concessionárias – que se encontram bem capitalizadas – ou investimentos privados, até mesmo internacionais. Hoje, o setor tornou-se atrativo para os investidores, o que é bastante positivo. O importante é cada concessionária ter bem claros os seus projetos, mapear as necessidades em termos de expansão da malha, e aí sim ir atrás dos recursos. Tecnologística – Como o senhor vê o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), que o Governo Federal pretende aprovar até o final do ano? Dias – Eu acho positivo, porque nele tem-se uma visão ampla da estrutura de transportes do País, com debates sobre os diferentes modais e regiões. Essa visão abrangente e sistêmica é necessária, porque a ferrovia não pode ser pensada de forma estanque. Não adianta termos ferrovias maravilhosas com portos deficientes, por exemplo. E o Governo Federal parece ter compreendido que não pode se dar ao luxo de não utilizar sua rede de transportes da forma mais eficiente possível. Esse planejamento integrado é o que faltou muito no passado. E os próprios setores também têm que se estruturar, identificar suas prioridades, podendo montar um programa que ataque realmente aquilo que vai fazer a diferença. Não é apenas uma questão política, envolve todo um trabalho técnico, de engenharia, levantamentos que precisam ser feitos de forma séria. Mas acreditamos que tenha tudo para sair e vamos colaborar para que seja um plano consistente. Tecnologística – Isto remete a outra questão delicada, que é a intermodalidade... Agosto/2006 - Revista Tecnologística - 51


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