Let There Be Rock: A História dos AC/DC

Índice

Prefácio de António Freitas 9 Introdução 11 Show Business 17 High Voltage 25 Rock ‘n’ Roll Singer 37 It’s a Long Way To the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll) 49 T. N. T. Or Five Guys In a Van Pillage England 63 Dirty Deeds Done Dirt Cheap 77 Let There Be Rock 85 Ain’t No Fun (Waiting Around To Be a Millionaire) 93 Powerage 101 Highway To Hell 113 Kicked In The Teeth 121 Back In Black 131 For Those About To Rock 149 Flick Of The Switch 159 Who Made Who 169 The Razors Edge 177 Ballbreaker 191 Ride On 201 Stiff Upper Lip 209 Can’t Stop Rock ‘n’ Roll 225 Rock ‘n’ Roll Train 237 Prólogo: Os AC/DC celebram 40 anos 249 Agradecimentos 251 Discografia 255 Bibliografia 273

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T. N. T. OR FIVE GUYS IN A VAN PILLAGE ENGLAND

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e forma a promover o novo album, o programa Countdown gravou um vídeo com a banda a tocar «It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock ‘N’ Roll)». A canção chegou ao número cinco nas tabelas da Austrália e o grupo atravessou Melbourne a fazer playback na caixa de uma carrinha, acompanhados por três tocadores de gaitade-foles profissionais, muitos fãs e uma equipa de filmagem.

Mais tarde, foram filmados numa pedreira nos arredores de Melbourne a tocar «Jailbreak». Paul Drane realizou os vídeos de «Jailbreak» e «It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock ‘N’ Roll)», com um orçamento de apenas 5.000 dólares. Drane foi citado no livro de Peter Wilmoth, Glad All Over: The Countdown Years 1974 –1987, “Fizemos uma filmagem numa pedreira onde poderíamos usar explosivos. O nosso técnico dos efeitos especiais ficou bastante contente, pois, naqueles dias, não havia muita oportunidade para esse tipo de coisas.

Parte do cenário explodiu, e no video podem ver-me a fugir. Bon Scott estava em primeiro plano, antes da parte em que é atingido. Um técnico de make-up tinha colocado alguns projécteis nas suas costas. Ninguém se feriu, mas Angus – que estava de pé sobre uma rocha a tocar guitarra – ficou um pouco assustado com uma dessas explosões”.

T.N.T. vendeu 11.000 cópias na primeira semana de lançamento.

Pode ter sido porque a banda era popular, ou poderá ter sido pelo facto de que o álbum vinha embrulhado com um par de cuecas de senhora.

Let There Be Rock: A História dos AC/DC Provavelmente nunca saberemos. Alcançou o número dois nas tabelas nacionais e no espaço de semanas, T.N.T foi disco triplo de Ouro com o lançamento do seu single seguinte, «T.N.T», com «Rocker» no lado-B. Com todo o seu sucesso, George e Harry estavam convencidos de que eles precisavam de voltar ao estúdio para registar o terceiro álbum dos AC/DC. Em Fevereiro, gravaram nove canções que se tornariam a pérola Dirty Deeds Done Dirt Cheap. Angus surgiu com o título que foi retirado dos desenhos animados, Beanie & Cecil. Lembramse desse programa? O vilão Dishonest John costumava andar com um cartão que dizia, “Dirty Deeds Done Dirt Cheap. Feriados, Domingos e taxas especiais”. No Natal de 1963, recebi um fantoche do Dishonest John daquele programa. É engraçado descobrir que uma das minhas músicas favoritas dos AC/ DC foi inspirada por um menino e a sua serpente de estimação! Não são todas?

Muito rapidamente registaram nove faixas, incluindo «Dirty Deeds Done Dirt Cheap», «Ain’t No Fun (Waiting Around To Be A Millionaire)», «There’s Gonna Be Some Rockin», «Problem Child», «Squealer», «Rock In Peace», «Jailbreak», o futuro hino de Bon «Ride On» e «Big Balls». A letra de «Big Balls» é uma exposição fantasticamente engraçada do uso de insinuação sexual por parte de Bon. Ele encantava na forma como distorcia uma frase e como Malcolm disse certa vez, ele estava obcecado com as suas bolas. Ambas as situações dignas de realce.

Enquanto o grupo gravava as suas faixas, Bon pegava nas músicas e reproduzia-as no seu leitor de cassetes. A partir daí deduzia quais as letras que o iriam inspirar. Para realçar a sua áspera e agradável voz, o seu ritual logo de manhã era gargarejar com mel e vinho tinto. Já estou a imaginar os cantores de bandas de tributo aos AC/DC em todo o mundo a tomar nota desta receita.

Enquanto o colectivo gravava, o manager Browning conseguiu finalmente uma digressão pelo Reino Unido como grupo de abertura do ex-guitarrista dos Free, Paul Kossoff e dos seus Back Street Crawler.

Este contrato foi oferecido a Browning pelo primeiro agente dos AC/ DC em Inglaterra, Richard Griffiths. Assim que Browning entrou na Virgin Agency em 1975, Griffiths lembrou-se imediatamente de ter visto a filmagem dos AC/DC a tocarem ao vivo em Melbourne, pela primeira vez. Ele achou que a banda era incrível. Rapidamente abandonou a Virgin para fundar a sua própria empresa de agenciamento chamada Headline Artists. Os seus dois primeiros clientes foram AC/ 65

T. N.T. Or Five Guys In A Van Pillage England DC e Paul Kossoff. Colocar os AC/DC na abertura de Kossoff em Inglaterra foi uma maneira perfeita de ajudá-los a lançar o seu ataque no exterior.

Para comemorar, os AC/DC fizeram um concerto de despedida no Bondi Lifesaver em Sydney. Pela primeira vez, Angus mostrou o seu traseiro despido à multidão. Considerando todo o sofrimento que a Austrália daria à banda nos anos seguintes, mostrar o rabo à multidão era uma maneira apropriada de se despedirem.

O músico Spencer Jones, cujo grupo fez uma versão de «Ride On», esteve nesse último concerto no Lifesaver. Este recorda-se que lhe mudou a vida, lembrando em Highway To Hell, “Durante a actuação, uma rapariga bastante grande subiu ao palco e despiu-se, enquanto Angus, aos ombros de alguém, fez o caminho para o balcão do bar para imitar o “duckwalk” de Chuck Berry. Então Bon pegou na rapariga nua e colocou-a nos seus ombros. A casa estava cheia e a multidão foi ao rubro”. Eu gosto de pensar que o primeiro ataque à terra-natal foi uma vingança de contornos kármicos contra os britânicos, por terem banido os criminosos para a Austrália, inicialmente.

Antes de partirem, participaram numa festa de entrega de discos de Ouro que também funcionou como despedida, em Melbourne, onde foram presenteados com três placas: duas por High Voltage e outra por T.N.T. Após dois anos de sólida digressão, aqueles álbuns ganharam progressivamente o estatuto de prata, ouro e platina na Austrália. Na noite antes do vôo para Inglaterra a banda também comemorou o 21.º aniversário de Angus. Apesar de no comunicado de imprensa ele ter apenas dezassete anos.

Os AC/DC chegaram a Londres a 8 de Abril de 1976, prontos para mandar abaixo a invasão de música britânica até à sua Coroa Real.

O rock ‘n’ roll estava a ser subjugado pelo movimento punk, o que se mostrou o momento perfeito para os AC/DC procederem à sua ofensiva. A Rainha estava a comemorar o seu jubileu e os Sex Pistols desfrutavam do sucesso da sua versão reescrita de «God Save The Queen».

Browning manteve astutamente em segredo a sua partida para Inglaterra, depois de ter visto anteriormente muitas bandas a falharem e a voltarem para casa com o rabo entre as pernas.Angus não ficou afectado com nada disto. Foi citado no jornal britânico Record Mirror & Disc, dizendo: “Sucesso lá [na Austrália] não significa nada. Saímos em alta ao invés de abusar da hospitalidade e decidimos ir para fora saquear e pilhar”. Eles partiram para a pilhagem, andando numa carrinha com Phil ao volante. Sendo um fanático por carros, ele preferiu ser o 66

Let There Be Rock: A História dos AC/DC motorista do grupo.

Fizeram a primeira actuação em Inglaterra no pub Red Cow em Hammersmith, onde se tornaram habituais.Também conseguiram lugar cativo noutro clube chamado Nashville Rooms. Originalmente, estava planeado serem a banda de abertura de Paul Kossoff e dos Back Street Crawler. Infelizmente, quando desembarcaram em Londres, Paul morreu de problemas de saúde devido a anos de abuso de heroína. Bon foi sentimentalmente citado como tendo dito no livro de Martin Huxley AC/DC: World’s Heaviest Rock, “Aquele coninhas do Paul Kossoff fodeu a nossa primeira digressão. Esperem para ver quando o Angus o apanhar”.

A mudança de planos não abrandou o grupo de forma alguma. Mais uma vez, eles tocaram onde puderam, sacando datas de clubes por toda a Inglaterra. A cena musical britânica, como Angus se lembra dela, era verdadeiramente desanimadora. Ele disse a Jodi Summers Dorland da Hit Parader, “Quando Bon subiu pela primeira vez a um palco num pequeno clube de Londres, a plateia era composta pelos Johnny Rottens e todo aquele tipo de gente. Bon, sendo mais velho, ia para o palco e mostrava o que realmente era. Lembro-me de ter visto Rotten e aqueles punks na semana seguinte vestindo o mesmo tipo de roupas e com o corte de cabelo do Bon”.

Ah sim, eles seriam notados em Inglaterra. Notados e magoados, isto é. Uma das primeiras coisas que Bon fez quando chegou a Londres foi visitar o pub em Finchley onde foi empregado de balcão durante os tempos dos Fraternity. Assim que lá entrou, alguém lhe atirou com uma caneca de cerveja à cara. Ele disse que entrou no meio de uma luta de outra pessoa qualquer. Bon ficou com um olho negro e deslocou o maxilar. Nas fotos da primeira sessão fotográfica em Inglaterra, cobriu os ferimentos usando óculos escuros. Pelo lado positivo, se pode haver um, isto forçou Bon a fazer extenso trabalho de odontologia, que era muito necessário desde o seu acidente de mota.

Após a chegada a Inglaterra, a divisão britânica da Atlantic Records editou um LP combinando os álbuns High Voltage e T.N.T., tornando-se no seu primeiro lançamento europeu. A capa era composta por uma fotografia característica de Angus com o uniforme de escola, curvado para a câmara, com um raio a fulminar o pé direito. Na verdade, era a versão australiana de T.N.T., mas com duas canções de High Voltage. «She’s Got Balls» e «Little Lover» substituíram «Rocker» e «School Days», a versão do original de Chuck Berry. Se a maioria das músicas eram de T.N.T., então porque é que chamaram ao álbum 67

T. N.T. Or Five Guys In A Van Pillage England High Voltage? Confusos? Bem, também eu.

Fosse High Voltage ou T.N.T., este álbum chamou a atenção do DJ da BBC, Radio 1, John Peel. Em Junho os AC/DC gravaram uma sessão de quatro faixas em Maida Vale 4 Studios em Londres para o programa de rádio de Peel. Exactamente o que o médico receitou, AC/ DC ao vivo nas ondas de rádio britânicas. Estou-me a borrifar para o quão ameaçadores os Sex Pistols eram, o Sid Vicious não ganhava ao Bon! Embora Coral Browning não estivesse oficialmente na folha de pagamento, foi-lhe oferecido um escritório na Atlantic Records de Londres para ajudar Michael com a banda. Ela rapidamente convenceu os jornalistas Caroline Coon e Phil McNeill a ir vê-los. McNeill fez a resenha do espectáculo no Nashville Rooms de Londres para o New Musical Express com o título, “I Wallaby Your Man”. “No meio da grande explosão do punk rock britânico, um quinteto de semelhantes e impiedosos ozzies que se pavoneiam como gatos entre os pombos rabugentos, auto-conscientes e paranóicos de Londres... e com um sentido do que vende ao invés do que é porreiro, eles bem que poderão vir a fazer uma limpeza... Estamos impressionados”.

A imprensa britânica de rock na época era dominada pela Melody Maker, New Musical Express e pelo Sounds (que era o mais recente jornal estreando-se em 1970). O jornal Sounds apoiou de imediato os AC/DC, colocando-os na parte superior da sua lista “New Order Top 20”. Atrás deles estavam Eddie And The Hot Rods, The Sex Pistols, The Damned, Iggy Pop And The Stooges, Ted Nugent, Rainbow, Motörhead, Judas Priest e, partilhando a última posição, os Ramones e os The Dictators.

A digressão de nove datas de apoio aos Back Street Crawler, que foi adiada devido à morte de Paul Kossof, iniciou-se no famoso Marquee Club em Maio. [Kossof foi substituído pelo guitarrista Geoff Whitehorn.] Este era o lugar para actuar em Londres, tendo por lá passado artistas como Jimi Hendrix; Led Zeppelin; Emerson, Lake & Palmer, entre muitos outros. O jornalista Phil Sutcliffe assistiu ao concerto e previu que a banda iria ser enorme. Ele tornou-se um dos maiores apoiantes do grupo na imprensa.

A 4 de Junho, fizeram a primeira actuação como banda principal no Marquee, lançando uma digressão de dezanove datas patrocinada pelo Sounds, perversamente intitulada, Lock Up Your Daughters Summer Tour. O set incluída um DJ e projecção de videos de outras bandas.

68

Let There Be Rock: A História dos AC/DC Antes do evento naquela noite, enquanto todos esperavam nervosamente a chegada de Bon, Browning pediu a um fotógrafo para ir lá fora tirar uma foto ao letreiro onde se lia, “AC/DC LOTAÇÃO ESGOTADA”. Depois da foto tirada, Bon entrou pela porta lateral, para alívio de todos. Alguns dias depois, o fotógrafo levou as fotos para Browning ver.

Via-se o letreiro e mais abaixo estava Bon, sozinho, passando pelo local a caminho do espectáculo. Não havia nenhum séquito nem nenhum carro alugado para a estrela de rock em ascensão. Apenas muito casual – e despretensioso – assim era Bon. Quando Malcolm e Angus regressaram à sua terra natal de Glasgow, o público destruiu as duas primeiras filas de assentos no City Hall. Umas boas-vindas excelentes para a banda, considerando que a maioria do público – de acordo com Bon – era composta por parentes de Angus e Malcolm. Acho que isso realmente não deveria ser uma surpresa. Enquanto na Escócia os Youngs apreciaram os reencontros, Phil e Bon foram passear pela zona rural à procura das raízes familiares de Bon. Há relatos de que tudo o que encontraram foram dois ursos a dar uma queca na floresta. Aposto que isso encantou o Bon tanto como se tivesse encontrado um primo perdido.

A 12 de Junho, Angus foi destaque de capa no Sounds... o primeiro de literalmente milhares de futuras capas de revistas. O single «Jailbreak» com o lado-B «Fling Thing» foi lançado na Austrália. «Fling Thing» era uma música tradicional escocesa que não foi incluída em nenhum dos seus álbuns. Mais uma coisa para mandar abaixo os coleccionadores mais ardentes. [Para os fãs de AC/DC que queiram manter todos os lançamentos de singles ordenadamente, disponibilizamos uma discografia completa na parte final deste livro].

Na última data da digressão do Reino Unido no Lyceum em Londres, a Atlantic Records organizou um concurso de “Melhor Menino/ Menina de Escola”. Outras fontes dizem que era mais um concurso para encontrar “A menina de escola que nós mais gostaríamos de…”

Não havia nenhuma evidência que Bon usasse o seu vestido e tranças para o evento. Se o tivesse feito, provavelmente teria vencido. A vencedora, Jayne Haynes de Middlesex, Inglaterra, ganhou uma viola acústica e uma noite na companhia do baixista Mark Evans. Bon não ficou contente. Talvez o ciúme de Bon tenha sido o verdadeiro motivo para a iminente demissão de Mark.

Duas noites depois, comemoraram o trigésimo aniversário de Bon, que não apareceu na sua própria festa. Algo que não era invulgar, porque muitas vezes preferia sair sozinho. Acabou por estar ausente três 69

T. N.T. Or Five Guys In A Van Pillage England dias, escondendo-se com a namorada, Silver [Margaret] Smith. Alcançar o grande 3-0 na década de Setenta deve ter sido traumático para ele. Especialmente se recordarem a popular frase da década de Sessenta, “Não confiem em ninguém com mais de 30!”

Em Julho fizeram a sua primeira digressão europeia através da Holanda, da Áustria e cinco datas na Suécia.

Este périplo foi organizado por Tomas Johansen, o representante dos Abba. Como ele tinha dificuldade em colocar os Abba na Austrália, fez um acordo para trazer os AC/DC para a Suécia e levar os Abba à Austrália. Na minha opinião não foi justo para a Austrália.

Antes da partida para a Suécia, filmaram um segmento de vinte minutos para o Superpop de Mike Mansfield, um programa de televisão britânico que também contou com o ídolo de Malcolm, Marc Bolan e a sua banda T. Rex. Durante a tour, Bon foi mantendo a imprensa australiana informada das suas aventuras e/ou desventuras, enviando cartas para Debbie Sharpe do Melbourne Herald. Ele relatou que as datas nos clubes suecos eram mais como um cabaret, com polcas, canções folclóricas e cerveja.

Agora sei porque é que eles apreciaram tanto o Wisconsin!

A matéria–prima sueca para Bon eram as praias de topless e piscinas. E Bon adorava nadar. De acordo com Mark Evans, o resto da banda estava a borrifar-se para estas regalias. Angus e Malcolm tinham a visão afunilada. Tudo o que queriam era tocar. Estavam convencidos de que um dia iriam ser grandes e que tudo o resto era secundário. A frase favorita de Malcolm era, “Estamos só à espera para de tornarmos podres de ricos”.

De alguma forma, a banda conseguiu encaixar algum tempo de gravação no Vineyard Studios em Inglaterra para registar «Dirty Eyes», «Carry Me Home», «Love At First Feel» e «Cold Hearted Man». Este EP de quatro canções nunca foi editado, tendo estas músicas acabado por aparecer mais tarde em vários formatos: álbuns, singles e no box-set, Bonfire. Naquele mesmo mês, fizeram a sua estreia televisiva europeia interpretando «Jailbreak» no programa So It Goes, em Londres.

A aparição no Festival Orange em Nimes, França, em Agosto foi cancelada, mas no dia 28 filmaram uma performance ao vivo de três temas no teatro Wimbleton em Londres para o Rollin ‘Bolan Show que ia para o ar aos fins-de-semana no Reino Unido. Como se isso não fosse emoção suficiente para um mês, tocaram com Ted Nugent, Brand X e Black Oak Arkansas no Festival Rock de Reading, no Reino Unido no dia 29, na frente de 50.000 pessoas. A palavra “turbilhão” deve ser 70

Let There Be Rock: A História dos AC/DC inserida aqui. George, Harry Vanda, Michael e Coral Browning viajaram até lá para vê-los tocar. Supostamente a sua prestação não recebeu a habitual reacção por parte do público, o que causou tensão dentro do colectivo e do management. Algumas fontes consideram este desempenho um tiro-a-seco para os AC/DC, o que vocês e eu sabemos ser uma impossibilidade. 50.000 pessoas podem estar erradas, vocês sabem!

No final do verão, os AC/DC tinham-se tornado a banda da casa no Marquee, quebrando recordes de bilheteira e atraindo mais de 1.400 fãs todas as noites de segunda-feira. E isso sem contar com os que ficavam de fora! Isto inspirou o New Musical Express a escrever, “O único som que trespassava a parede era um chunka-chunka-chunka, enquanto o bar ressoava com Australianos desbocados a dizerem-me para prestar atenção ao Angus Young porque ele iria despir-se. Quando ficou de cuecas e subiu para um amplificador, uma fonte bem informada levantou-se e disse, ‘Meu Deus, ele está usar as mesmas cuecas há quatro semanas’.”

Era exactamente este tipo de imprensa que Griffiths procurava quando celebrou um acordo com o representante do Marquee, Jack Berry, para os deixar tocar lá uma vez por semana. Além disso todas as revistas locais tiveram anúncios de página inteira para as datas dos AC/ /DC no Marquee, incluindo comentários de Berry que os comparava aos Led Zeppelin. Inicialmente, quando começaram a tocar nas noites de segunda-feira, não havia muitas pessoas na plateia. O promotor da Atlantic Records, Dave Jarrett, começou a trazer colegas de trabalho para os ver. Em pouco tempo, o grupo atraía tantas pessoas que o próprio Jarrett não conseguia entrar.

Será interessante salientar que naquele tempo havia três estilos populares de artistas de rock. As bandas com muitos membros, como os Pink Floyd e os Yes. Depois tínhamos os grupos de hippie rock ou cantores folk como Grateful Dead e Bob Dylan. E por último, e definitivamente não menos importante, o frita-vos-o-cérebro-nas-colunas-dos-altifalantes rock de estádio como os Led Zeppelin, The Who e Black Sabbath. Os AC/DC ceifavam tudo isso incluindo o punk e tudo o mais que lhes aparecesse pela frente.

Após o lançamento da versão do Reino Unido de High Voltage, a critica do autor Mark Putterford apareceu na Kerrang! Ela merece ser realçada: “Narinas ranhosas a arfar, dentes tortos a ranger e joelhos encardidos a tremer, o enlouquecido e exagerado Just William [N. do T.: é uma personagem, um colegial de uma série de livros e TV] começa a 71

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DIRTY DEEDS DONE DIRT CHEAP

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s AC/DC fizeram 16 datas australianas entre Janeiro e Fevereiro de 1977, que incrivelmente, seriam as últimas performances oficiais de Bon no seu País. O single «Dirty Deeds Done Dirt Cheap» com o lado-B «Big Balls» e «The Jack» foi lançado no Reino Unido. Simultaneamente, na Austrália, a Alberts editou «Love At First Feel» e «Problem Child». O lado-A foi gravado nos Vineyard Studios em Inglaterra, no Verão anterior. No dia 13 de Janeiro, o colectivo apresentou-se ao vivo no velho armazém da Haymarket para o Festival de Sydney. Como era habitual, ultrapassaram os cabeças-de-cartaz, os compatriotas The Little River Band.

Completada a digressão com passagem por Melbourne, Perth e Adelaide, os AC/DC voltaram ao Albert Studios em Sydney e registaram oito músicas novas. Hoje em dia ainda interpretam algumas dessas faixas ao vivo, mais de um quarto de século depois.

Dizer que essas músicas em particular teriam longevidade é dizer pouco. O álbum incluía a faixa-título, «Let There Be Rock». Os outros sete temas eram: «Go Down», «Dog Eat Dog», «Bad Boy Boogie», «Problem Child», «Overdose», «Hell Ain’t A Bad Place To Be» e a tão lasciva, «Whole Lotta Rosie».

O título de Rosie é uma saudação de Bon a «Whole Lotta Love» dos Led Zeppelin. Esta canção é a epítome de como as conquistas femininas de Bon o inspiraram a compor músicas. Se ela não foi a mais

Let There Be Rock: A História dos AC/DC memorável conquista na estrada, pelo menos foi a maior. Rosie visitou a banda mais tarde durante uma digressão, mas desta vez com uns quilos a menos, para grande decepção de Bon visto que as medidas dela já não se ajustavam à canção. É claro que «Bad Boy Boogie» passou a ser a banda-sonora das histéricas sessões de strip nocturnas de Angus. É absolutamente hilariante ver um aluno de meio-metro, suado, pavoneando-se pelo palco tentando ser sexy. Muitas vezes depois de tirar a camisa, Angus assoava o nariz na mesma, sinal de que não se levava muito a sério e que era o primeiro a rir-se de si próprio.

Malcolm foi citado na CD Metal sobre a gravação de Let There Be Rock. “Epá, isso é que foi um álbum. Suponho que fomos um pouco mais sérios, e que queríamos obter um som mais cru e cortar nos refrões comerciais como «T.N.T.» Sabíamos exactamente o que queríamos, que era ter três grandes músicas para tocar ao vivo e que complementassem o resto do set. Sabíamos que «Whole Lotta Rosie» seria um tiro certeiro, e «Bad Boy Boogie» e «Let There Be Rock» eram as outras duas que sentíamos serem capazes de se aguentarem em palco. Estes três temas realmente ofuscaram as restantes canções do álbum e acabaram por fazer parte das actuações durante anos”.

A capa de Let There Be Rock é uma foto do grupo em palco, a fazer o que fazem melhor: seduzir audiências. Capturar relâmpagos de rock ‘n’ roll numa garrafa só levou um par de semanas e eles partiram de novo para o Reino Unido. A 18 de Fevereiro, iniciaram em Edimburgo uma tournée de 26 datas para divulgar Dirty Deeds Done Dirt Cheap.

O National Rockstar escreveu a 26 de Fevereiro de 1977 sobre a actuação na Universidade de Edimburgo: “O problema começou após o primeiro tema «Live Wire» e a meio de «Eat Dog» [sic]. A audiência invadiu o palco para se sentar nos altifalantes e monitores a centímetros dos seus novos heróis. Parte da multidão foi impedida pelos empregados do recinto e as pessoas não gostaram. Várias lutas despontaram à frente do palco... foi a presença de Angus Young, de 17 anos, envergando um casaco escolar de veludo preto, calções e uma pequena sacola de couro que desencadeou a bizarra reacção do público... Os AC/DC têm o que é preciso. É mais do que apenas rock – é a provocação. Eles serão a banda de 77”.

Let There Be Rock foi lançado na Austrália a 21 de Março de 1977. A arte da capa destaca pela primeira vez o relâmpago no seu logotipo. Sempre que perguntavam a Bon se ele era AC ou DC, gracejando 79

Dirty Deeds Done Dirt Cheap ele respondia, “Nem um nem outro, sou o relâmpago no meio!” Como ele estava certo.

A actuação na Universidade de Glasgow foi documentada por Eric Wishart para o Record Mirror a 26 de Fevereiro: “Angus Young foi incrível na guitarra. Vestido com a sua indumentária de estudante em calções, contorceu-se, abanou-se pelo palco sem parar, a cabeça a chicotear para a frente e para trás, parecia até que a qualquer momento se soltaria e começaria a voar... Em destaque, uma versão alongada de «The Jack», o hino à temida doença que Bob [sic] Scott apresentou com uma reinterpretação de «Maria», que teria feito os heróis de West Side Story pensar pelo menos duas vezes antes de se aproximarem de Natalie Wood”.

Descrevendo a atracção do grupo pelos fãs, Bon disse ao New Musical Express, “A imprensa musical está totalmente deslocada com aquilo que os putos querem ouvir na realidade. Eles podem passar a semana a trabalhar numa fábrica merdosa, ou talvez estejam no desemprego – mas no fim-de-semana só querem sair e divertirem-se, embebedarem-se, e enlouquecerem. Nós damos-lhes a oportunidade para fazerem isso”. Uma das melhores qualidades dos AC/DC foi terem sempre as suas prioridades bem definidas.

Regressados a Londres, Angus e Malcolm mudaram-se para um apartamento em Ladbroke Grove. Phil e Mark também arranjaram um perto deles, e Bon ficou com a namorada, Silver. No livro de Clinton Walker, Highway To Hell, Silver recordou Bon, “No que diz respeito à minha vida, acho que não houve ninguém que me tivesse amado tão incondicionalmente como Bon. Ele nunca se queixava – isso era só do meu lado. Senti-me culpada por isso durante muito tempo. Porque o Bon era muito bom para mim. Ele aceitou-me exactamente como eu era. Ele também era muito atencioso, do género, quando ele andava na estrada eu era bombardeada com duas ou três cartas por dia e trazia-me sempre pequenos presentes ou flores. Era assim, com intensidade, até nos separarmos”. Silver descreveu Bon como um tipo muito caseiro, que apreciava uma casa limpa, pacífica, com jantares aos Domingos. Da mesma forma como foi habituado quando era novo.

A 5 de Março, Ian Flavin escreveu no National Rockstar, “Eles aplicam-se bem. Os rapazes mauzões exilados da Austrália entraram na hora H e martelaram uma dose ameaçadora de rock ‘n’ roll das ruas do princípio ao fim... Malcolm Young, o guitarra-ritmo, parecia ser o condutor, produzindo powerchords com a subtileza musical de um tigre enjaulado... [Angus] descarregou um fluxo constante de pequenos 80

Let There Be Rock: A História dos AC/DC solos em brasa à melhor forma de um herói da guitarra. Ele tem 17 anos. Se continuar a tocar quando atingir os 25, será algo poderoso de se contemplar”. E que tal continuar a tocar aos 50 anos de idade?

Naquela Primavera, o single «Dog Eat Dog» com o lado-B «Carry Me Home» foi lançado na Austrália. O lado-B não aparece em nenhum dos álbuns, frustrando novamente os coleccionadores a nível mundial.

O single «Love At First Feel» é a última canção a aparecer nas tabelas australianas até ao lançamento de Highway To Hell. A 3 de Abril, em Londres, a banda apareceu no especial do 5.º aniversário do Countdown, interpretando «Dog Eat Dog».

A digressão europeia de 12 datas incluía a abertura para os lendários Black Sabbath na Suécia. Infelizmente, os Sabbath estavam também a tornar-se lendários pelo seu alcoolismo e abuso de drogas. A banda estava um caos e as coisas agravaram-se quando os AC/DC superaram as actuações dos próprios Black Sabbath todas as noites. Em retaliação, os Sabbath encurtavam o tempo de abertura dos AC/DC. Certa noite, a tensão explodiu finalmente quando o baixista dos Sabbath, Geezer Butler, ameaçou Malcolm com uma faca ponta-e-mola. É claro que Mal começou a esmurrá-lo e os AC/DC foram expulsos da digressão.

Essa noite foi também a última representação do baixista Mark Evans com o grupo.

Acho que não se pode dizer que se viveu o estilo de vida do rock ‘n’ roll até que se possa afirmar que se deu um soco num dos deuses do rock. Sendo justo com Malcolm, Butler admitiu, anos mais tarde, que finalmente tinha deixado de beber depois de ter dado uma cabeçada em alguém numa discussão à entrada do seu hotel. Na manhã seguinte descobriu que o objecto da sua intensa irritação era uma estátua. O meu palpite é que a estátua recusou mover-se. Esta história deveria fazer parte de todas as reuniões dos AA. Na revista Q na secção Cash For Questions composta por perguntas de fãs estava explícito: “Os AC/DC esclareceram o incidente da ponta-e-mola durante a digressão de 1977 em que actuaram como grupo de abertura dos Black Sabbath na Europa”. Eis a versão de Malcolm: “Estávamos hospedados no mesmo hotel e Geezer estava no bar a choramingar para cima da sua cerveja ‘Há 10 anos nesta banda – 10 anos – esperem até vocês andarem por aí durante 10 anos, vocês vão ficar como nós’. Eu disse, ‘Acho que não’. Não lhe prestei atenção nenhuma. Ele já tinha bebido muito e foi então que sacou de uma ridícula ponta-e-mola. Por sorte, Ozzy apareceu naquele momento. E disse-lhe, 81

Dirty Deeds Done Dirt Cheap ‘Butler parvalhão do caralho, vai-te deitar!’ O Ozzy salvou o dia e nós passámos a noite toda com ele”.

Mark Evans foi despedido no final da digressão do Reino Unido... supostamente por conflitos de personalidade com Angus. Um espertinho qualquer disse, “A sua perdição foi ter sido bonzinho demais para se poder aguentar”. Inicialmente, Evans aceitou um pagamento total de dois mil dólares americanos cobrindo os royalties que tivesse a receber no futuro, mas dez anos mais tarde ganhou um generoso acordo com a Albert Music.

Angus tinha debaixo de olho o baixista dos Manfred Mann’s Earth Band, Colin Pattendon. Mas Browning estava mais inclinado para um baixista inglês que estava a trabalhar com os Bandit. O seu nome era Cliff Williams.

Clifton Williams nasceu em Romford (Essex), Inglaterra, a 14 de Dezembro de 1949. Quando tinha nove anos de idade a sua família mudou-se para Liverpool. As influências musicais de Cliff foram os Beatles, The Kinks e alguns artistas de blues. Quando tinha 13 anos, todos os seus amigos começaram a formar bandas. Quando tinha 16 anos, Cliff já tocava viola baixo... Sendo que o seu treino formal baseava-se em alguns riffs que tinha aprendido com um baixista profissional que vivia nas proximidades. Não há provas de que o seu nome fosse Paul McCartney.

Antes da música se ter tornado a sua vocação, ele passou dois anos a trabalhar como engenheiro num escritório atrás da estação de comboios de Lime Street em Liverpool. O primeiro grupo de Cliff era composto pelo vocalista Mick Stubbs, o teclista Clive John, o guitarrista Laurie Wisefield e o baterista Mick Cook. Chamavam-se Home. Em 1970, os Home assinaram contrato com a Epic Records e lançaram Pause For A Hoarse Horse. Não olhem para mim, estou apenas a relatar os factos.

Enquanto estava nos Home, Cliff abriu para os Led Zeppelin na Wembley Empire Pool, o segundo concerto da digressão Electric Magic em Novembro de 1971. O evento contou com artistas de circo e bandas de rock. Farinha do mesmo saco, se pensarmos nisso.

Em 1972, Jim Anderson substituiu Clive John nas teclas e o colectivo lançou um álbum homónimo. Esse lançamento incluía o seu único sucesso, «Dreamer», que atingiu a 41.ª posição da tabela britânica. O terceiro e último lançamento foi The Alchemist de 1973.

Os Home foram convidados como músicos de apoio a Al Stewart na sua primeira digressão americana, em 1974. Mick Stubbs deixou a 82

Let There Be Rock: A História dos AC/DC banda e o resto do colectivo transformou-se na Al Stewart Band. Cliff não aguentou muito tempo a tocar a música de Stewart. Acabou por sair antes do final do ano e formou o seu próprio grupo, Bandit, com o vocalista Jim Diamond e o baterista Graham Broad. Assinaram imediatamente pela Arista Records e lançaram um álbum de estreia homónimo em 1977.

Após terem colocado um anúncio no jornal Sounds, os AC/DC testaram mais de 50 baixistas. Cliff esclareceu à Guitar School: “Fiz a audição. Eles queriam fortalecer a sua secção rítmica então vieram para Londres onde havia um maior número de músicos. Eles já tinham lançado alguns discos nessa altura, tinham sucesso na Austrália e tinham feito uma ou duas excursões europeias, mas ainda não tinham ido até aos Estados Unidos. Esperavam uma digressão americana para o álbum Let There Be Rock. Enfim, recebi um telefonema de um amigo de um amigo que achava que eu poderia ser a pessoa certa para o trabalho e acabei por fazer umas quantas audições”.

Eles realizaram as audições num quarto pequeno em Victoria e as primeiras faixas que tocaram com Cliff foram «Live Wire», «Problem Child» e um tema antigo de blues. Pouco antes da sua audição, um amigo avisou-o que eles preferiam que os seus baixistas tocassem com palheta em vez dos dedos. Cliff foi convidado para se juntar ao grupo a 27 de Maio de 1977 e Angus foi citado a dizer que Cliff foi contratado devido à sua boa aparência, o que atrairia mais raparigas. Angus, em nome de todas nós - muito obrigado!

A entrada de Cliff encantou Bon, visto que ele era o que tinha a idade mais próxima da sua (Cliff era três anos mais novo). Cliff também tinha muito em comum com Bon. Ambos gostavam de filmes, livros e raparigas. Embora duvide que seja esta ordem. Assim que ele entrou para a banda, voltaram para a Austrália para o preparar.

Em Junho, Angus e Bon apareceram em palco com os Rose Tattoo no Bondi Lifesaver. Era altura de se prepararem para a primeira incursão pelos Estados Unidos. Let There Be Rock foi lançado nos EUA a 23 de Julho de 1977, apenas quatro dias antes de actuarem no Amarillo World Headquarters em Austin, Texas. O álbum acabaria por alcançar o número 154 na tabela da Billboard. Antes de partirem para a América, os AC/DC fizeram duas actuações dissimuladas no Bondi.

Na primeira noite usaram o nome The Seedies. Na segunda, chamavam-se Dirty Deeds.

Em antecipação à sua chegada aos Estados Unidos, a Atlantic contratou uma nova equipa de promotores. A primeira missão do falecido 83