Espiritualidade
meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). Também em Mateus, Jesus utiliza as expressões meu Pai e vosso Pai: “Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!” (Mt 7,11); “nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Estes exemplos mostram que, de fato, a relação de Jesus com o Pai, que aparece, sobretudo, nas suas orações, tem um caráter único. Apesar de Jesus afirmar que Deus é Pai de todos, ele revela que Deus é antes de tudo seu Pai. Creio que Deus é nosso Pai Jesus é, desde toda a eternidade, o Filho de Deus. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho Unigênito que está no seio do Pai é que abriu caminho para ele” (Jo 1,18). Mas o Filho único, ao assumir nossa condição humana, nos deu acesso à paternidade de Deus e nos tornamos também filhos de Deus. Jesus, enquanto primogênito, foi gerado primeiro para se tornar irmão de muitos (cf. Rm 8,29). Quem foi batizado no Cristo se revestiu de Cristo (cf. Gl 3,26). Segundo Paulo, os cristãos são constituídos filhos de Deus por
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adoção (cf. Rm 8,14-17), porque se tornam filhos no Filho. A filiação dos cristãos é uma filiação real, porque em Cristo nos tornamos verdadeiros filhos de Deus. A filiação do cristão é carregada de realismo: “Vede que manifestação de amor nos deu o Pai, sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!” (1 Jo 3,1). Somos nascidos de Deus (cf. Jo 1,12-13; 3,1-11; 1Jo 2,29–3,10; 4,7; 5,1; 5,18). O Filho nos comunica sua filiação e, nele, somos filhos e podemos chamar Deus de Pai. Que tipo de Pai Deus é? Em Lc 15,11-32, Jesus nos conta uma parábola sobre o Pai que acolhe o filho que se perdera. Acolhe com amor, ternura, benevolência e misericórdia infinita. Podemos, então, confiar num Pai que trata dessa maneira seus filhos. Ele só quer e só faz o que é melhor para nós. Seu perdão fica à nossa disposição, basta que o aceitemos para que aconteça em nossa vida e a transforme. Faria bem a nossa espiritualidade se aprendêssemos a chamar Deus de Pai com toda confiança filial. Isso encheria nosso coração de alegria e daria uma orientação mais otimista à nossa vida, fundada na bondade de nosso Pai que nos chamou à vida e nos quer bem. Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R. Belo Horizonte, MG
Akikolá 03/06/2015 10:34:00