Priscilayanagihara

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES BACHARELADO EM ARTES VISUAIS

Priscila Yanagihara

VARIAÇÕES DA GRAVURA JAPONESA: REFERÊNCIAS EM MOVIMENTO

CAMPINAS 2013

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Priscila Yanagihara

VARIAÇÕES DA GRAVURA JAPONESA: REFERÊNCIAS EM MOVIMENTO

Monografia apresentada para Conclusão do Curso de Artes Visuais com habilitação em Bacharel da Universidade Estadual de Campinas.

Orientadora: Profa. Dra. Luise Weiss

CAMPINAS 2013

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Priscila Yanagihara

VARIAÇÕES DA GRAVURA JAPONESA: REFERÊNCIAS EM MOVIMENTO

A Banca examinadora abaixo-assinada aprova a monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas.

______________________________________________ Profa. Dra. Luise Weiss (Orientadora) Universidade Estadual de Campinas

______________________________________________ Profa. Dra. Ivanir Cozeniosque Silva Universidade Estadual de Campinas

______________________________________________ Fábio Freire, Mestre em Artes Universidade Estadual de Campinas

Campinas, 2013

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Agradeço: A Deus, pela vida e graça.

Aos meus pais, Jurandir e Masumi, e aos meus irmãos Daniel e Damaris, pelo suporte, sustento, orações e amor constantes.

À família pelo carinho sem fim.

À professora Luise Weiss, pela orientação e observações tão importantes, que me ajudaram muito neste processo.

À professora Ivanir Cozenisque Silva, pelo acompanhamento, e orientação em minha iniciação científica, que contribuíram muito a esta pesquisa.

Ao professor Fernando Saiki e colegas do atelier, pelo ensino, inspiração e ajuda. As minhas queridas Brenda, Daniele, Gisele e Marta, pela amizade, incentivo e companheirismo.

As minhas amigas Yukari, Esther, Chiaki, Karina, Hanna e Cindy pelas orações, abraços, e torcida.

Ao Esteban, por segurar minha mão nessa caminhada com tanto amor.

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“When I was about six, I started to copy down forms of objects. By the time I was about 50, I had produced an enormous amount of paintings and books, but until I reached 70, I hadn’t done anything of great worth… What had depicted by the age of 70 was actually only trivial. At 73, I have finally come to understand the true form and true nature of birds, beasts, insects and fish, plants and trees. At 80, I will make progress with my art, by 90 I will fully understand its meaning and at 100, I will be able to do the work of a god.”

“Quando eu tinha seis anos, comecei a copiar formas de objetos. Quando eu tinha 50, eu tinha produzido uma enorme quantidade de pinturas e livros, mas até alcançar 70, eu não tinha feito nada de grande valor... O que eu tinha retratado até 70 anos, na verdade fora apenas trivial. Aos 73 eu finalmente vim a compreender a verdadeira forma e verdadeira natureza das aves, animais, insetos, plantas e árvores. Aos 80, farei progresso com minha arte, com 90 eu vou compreender totalmente o seu significado, e aos 100 anos, eu serei capaz de fazer um trabalho de um deus.” Katsushika Hokusai

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Baren................................................................................................................................. 18 Figura 2: Pincel para molhar o papel ............................................................................................... 18 Figura 3: Facas, goivas e formões .................................................................................................... 18 Figura 4: Escovas para entintagem .................................................................................................. 19 Figura 5: Cola nori e nanquin em pedra ........................................................................................... 19 Figura 6: Pedras para fiação das facas e goivas ............................................................................... 19 Figura 7: Fudê, pincel de Shodô ...................................................................................................... 22 Figura 8: Gravura de Hokusai .......................................................................................................... 23 Figura 9: Impressão da primeira matriz na madeira pinus. Paisagem com barco. ........................... 29 Figura 10: Matriz de Cor copa da árvore - bokashi.......................................................................... 33

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SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................................................7 ABSTRACT ...............................................................................................................................8 1.

INTRODUÇÃO .................................................................................................................9

2.

OBJETIVO ......................................................................................................................11

3.

GRAVURA JAPONESA UKIYO-E ...............................................................................12 3.1 Panorama Histórico e Cultural ........................................................................................... 12 3.2 Ukiyo-e .................................................................................................................................. 13 3.3 Questões filosóficas .............................................................................................................. 15 3.4 Temas .................................................................................................................................... 15 3.5 Técnica .................................................................................................................................. 16 3.6 Materiais ............................................................................................................................... 18

4.

HOKUSAI ........................................................................................................................20 4.1 Estudos dos Ukiyo-e’s de Hokusai ...................................................................................... 23

5.

ENCONTROS E APRENDIZADOS .............................................................................25

6.

CURSOS E EXPERIMENTOS ......................................................................................27 6.1 Experiência do copiar, desenhar, entalhar, fazer, e criar................................................. 27

7.

VARIAÇÕES NA GRAVURA .......................................................................................32

8.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................42

9.

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................43

10. ANEXOS .........................................................................................................................45

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RESUMO Este Projeto Experimental II investiga as xilogravuras à base d’água, desenvolvidas por Katsushika Hokusai (1760–1849). Esse grande artista japonês fez uso dessa técnica dentro do estilo ukiyo-e, traduzido como “retratos do mundo flutuante”. O objetivo desse projeto é estudar o processo de desenvolvimento dessas obras na xilogravura japonesa, e a partir desse estudo focar na parte prática de desenvolvimentos de paisagens próprias. O foco principal é explorar as variações possíveis em todo o processo de gravação e impressão das minhas imagens. No estudo teórico, é dado maior ênfase nas questões filosóficas, compositivas e na parte técnica que inclui procedimentos de gravação e impressão. O tema presente nas gravuras escolhidas foi a paisagem. Para isso foram pesquisados livros das bibliotecas da USP, Unicamp e Centros Culturais. A importância desse projeto é perceber a enorme contemporaneidade dessas imagens com as obras do século XXI e sua influência até hoje, que se evidenciam na minha própria prática e escolha dessa técnica para produzir minhas gravuras. Palavras-chave: Gravura japonesa, Ukiyo-e, Hokusai.

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ABSTRACT This Experimental Project II investigates the water based woodblock prints, developed by Katsushika Hokusai (1760–1849). This great Japanese artist made use of this technique in ukiyo-e style, translated as “pictures of the floating world”. The objective of this project is study the process of development of this works in the Japanese woodblock prints, and from this study focus on the practical developing of my own landscapes. The main focus is to explore the possible variations in all process of the engraving and printing of my images. In the theoretical study, it is emphasized the philosophical questions, compositions and in the technical part it is included the procedures of engraving and printing. The principal theme chosen was the landscape. Books treating this topic were researched in the libraries of USP, Unicamp and Cultural Center. The importance of this project is understand the huge contemporaneity of these images with works of the XXI century and his influence until today, it becomes clear on my own practice and choice of these technique for produce my print. Keywords: Japanese prints, Ukiyo-e, Hokusai.

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1. INTRODUÇÃO Este trabalho do Projeto Experimental II investiga as xilogravuras (gravura feita em madeira), desenvolvidas por Katsushika Hokusai (1760–1849), grande artista japonês, que fez uso da técnica do moku hanga (que é a xilogravura japonesa), dentro do estilo ukiyo-e, que pode ser traduzido como “retratos do mundo flutuante”. Esta parte teórica enfatiza as questões temáticas e filosóficas presentes nas obras, fazendo um recorte histórico a partir do Período Edo (1603-1868), época em que elas foram realizadas. Juntamente com o estudo teórico desse artista, este trabalho abarca uma prática artística, começando pelo aprendizado e estudo constante da técnica de xilogravura japonesa. Para tanto, foi acompanhado um curso específico. Foram desenvolvidas gravuras de paisagens de imagem própria. Como parte central da pesquisa, as variações possíveis no processo de impressão e gravação foram exploradas. Ao longo do estudo, essas variações foram se multiplicando e modificando, de maneira interessante. A escolha em estudar este grande artista se deu pela importância dele tanto no século XVIII e XIX, quanto atualmente na gravura japonesa e na arte contemporânea ocidental. Hokusai é autor de séries como “Trinta e seis vistas do monte Fuji” e “Lugares Famosos de Edo”. Ele retratou cenas de paisagens da região, costumes do cotidiano, retratos de pessoas do povo e senhores feudais. A xilogravura foi uma técnica muito usada por esse artista para desenvolver seus trabalhos. Somado a isso, meu interesse específico e apreciação por essas xilogravuras, tanto pela qualidade técnica no rigor da escolha e tratamento nas matrizes e cores, quanto pela sutileza estética fez com que escolhesse este tema. Hokusai atuou durante o Período Edo. Edo foi uma cidade adotada pelo xogunato1 Tokugawa (ditadura militar estabelecida no Japão em 1603) para se tornar a futura capital do país. Nessa época houve grande crescimento e circulação artística, o que propiciou que muitos japoneses entrassem em contato com a literatura chinesa e europeia, sobretudo, a holandesa. Este contato influenciou muito as artes desenvolvidas durante aquele momento

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Xogunato era o grupo de xoguns, que eram samurais que por sua linhagem tinham algum parentesco com a família Imperial. Em nome do Imperador, eles governavam para unificar a nação, formando alianças com outros chefes samurais.

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em Edo, e também as que seriam desenvolvidas na Europa posteriormente. Da mesma maneira, Hokusai, com suas gravuras e pinturas, influenciou muitos artistas impressionistas e pós-impressionistas de origem europeia, fato este amplamente conhecido na história da arte. Nesta lista destacam-se artistas como Van Gogh, Henri Matisse, Edgar Degas, Jean-François Millet, Toulouse Lautrec e gravadores do Expressionismo alemão e franceses como Os Fauves. Uma parte teórica desse estudo foi feita durante minha pesquisa anterior de Iniciação Científica, em que foram pesquisadas xilogravuras de paisagem dos artistas Katsushika Hokusai e Ando Hiroshige. (Yanagihara, P. 2013)

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2. OBJETIVO O objetivo deste projeto é pesquisar e estudar a xilogravura japonesa (moku hanga), especificamente ukiyo-e de Hokusai, e a partir desse estudo produzir as próprias xilogravuras nessa técnica oriental. As obras foram estudadas com enfoque nas questões técnicas, temáticas e estéticas. Deu-se maior ênfase na maneira como a obra surge, na questão compositiva, na parte técnica de cada uma, nos procedimentos de gravação e impressão e, também, nas questões temáticas que eram importantes naquele período. O desenvolvimento prático se inicia pelo aprendizado individual, no intuito de conhecer e experimentar o processo da xilogravura com impressão à base de água. Juntamente com esse aprendizado, utilizou-se essa técnica como meio de expressão, relacionando-a mais diretamente com o objeto em estudo, explorando também as possibilidades de variações na impressão dessas gravuras.

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3. GRAVURA JAPONESA UKIYO-E

3.1 Panorama Histórico e Cultural Katsushika Hokusai atuou durante o Período denominado Edo, quando a cidade de Edo passou a ter proeminência, tornando-se posteriormente a capital do país. Foi um grande e importante período para as artes no Japão. Foi uma época em que os artistas produziam muito, em todas as áreas artísticas, tais como na poesia, teatro, pintura, cerâmica, gravura, entre outras. Neste período de ebulição e grande circulação das artes, a cidade de Edo também crescia e muitos estrangeiros passaram a visitar e morar naquela região. Antes de Edo, a capital do Japão era Kyoto. Após alguns anos os xoguns que estavam governando o país decidiram se transferir para a cidade que no século XX seria Tóquio a atual capital do Japão. Eles levaram consigo seus vassalos (daimyo), assim como toda a corte. Essa mudança de cidade agitou o país, atraindo muitos artistas e artesãos. A cidade de Edo se enriqueceu muito rápido com isso.2 O xogunato Tokugawa se estabeleceu em Edo em 1603, e durou até 1868. Este regime foi uma ditadura militar governada pelos xoguns da família Tokugawa. Esses xoguns eram samurais que por sua linhagem tinham parentesco com a família Imperial Japonesa. No começo, as artes eram cultivadas pela aristocracia do país. Os monges, tendo um importante papel social e religioso, até certo momento eram os únicos que usavam a cor em trabalhos artísticos. A cor é muito importante na xilogravura ukiyo-e, pois era um elemento que os japoneses associavam aos deuses. ‘’Iro (cor), como metonímia das coisas do amor e do sexo, associa-se inicialmente aos deuses, (...) o trabalho despendido na obtenção dos pigmentos vegetais e minerais é tido como uma oferta às divindades, um modo de homenageá-las;’’3 Aqueles que fazem arte e se relacionam profundamente com 2

GOMEZ, Manu. A arte japonesa do UKIYO-E. [Filme-vídeo]. Produção de Manu Gomez e MGV Productions. França, Studio Molíère, 2011. Digital, 52 min. color. Som. 3

HASHIMOTO (2002). p 32.

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ela são chamados de ‘’retirados-do-mundo’’, e para estes, como o próprio nome diz, não há uma preocupação em fazer arte para os outros. Essa preocupação, no entanto, passa a prevalecer no período Edo, em que ocorre um grande desenvolvimento e abertura das artes para a sociedade, e não apenas para a aristocracia. A arte passa a ser comercializada, os japoneses passam a ver muitas obras de artistas holandeses, literatura chinesa, entre outros. Existe um refrão confuciano que representa muito a filosofia ukiyo-e, que diz que o artista não veio ao mundo para criar, mas para transmitir. No livro de Hashimoto (2002), a autora pontua muitas questões filosóficas e culturais da época, como os japoneses pensavam e encaravam essas questões artísticas já citadas. Os diferentes temas também são abordados nesse livro. Existe uma forte ligação entre a vida no Japão, a natureza e suas estações. Isso é fortemente representado pela poesia e pelas artes.

3.2 Ukiyo-e Ukiyo-e pode ser traduzido como “retratos do mundo flutuante” (Hashimoto, 2002) ou “Pintura que descreve o mundo transitório” (Fund. Mokiti Okada). Foi um estilo desenvolvido por artistas japoneses. Restringir o Ukiyo-e a apenas um estilo é reduzi-lo muito. “Yo” pode ser traduzido do japonês, como aquilo que está na veia das superfícies líquidas, mundo flutuante, um pouco da ideia do carpe diem4. “E” significa desenho em japonês. “Ukiyo” no século XI a XV tinha esse conceito de mundo flutuante, mas no sentido negativo, sendo relacionado com questões budistas. Já no século XVII a XIX tem outro sentido, o do prazer.5 O termo gravura veio com o Ocidente. Antes ukiyo-e era chamado de pintura no Japão. A tradução da palavra mostra um pouco de toda a profundidade de pensamento que se tinha na época, também pelo o que eles viviam dentro do xogunato Tokugawa. Este tipo de xilogravura (moku hanga) foi iniciado por Hishikawa Moronobu (1618-1694). A xilogravura já era praticada desde o século XIV, sedo utilizada em templos budistas na China. Os monges escreviam livros que continham imagens de xilogravuras ao 4

Carpe diem é uma expressão latina que significa colhe o dia, aproveita o momento. É uma expressão que chama as pessoas a aproveitar o presente, antes que este seja passado, pois a vida é breve, a beleza é perecível e a morte uma certeza. 5

Diálogos com Evandro Carlos Jardim (gravador e Prof. Dr. ECA/USP) e Madalena Hashimoto (gravadora e Dra. FFLCH/USP) no Sesc Pompéia.abril de 2013

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lado. No início do século XVII passa-se a divulgar escritos antigos e de narrativas otogizôshi (que eram as narrativas medievais japonesas) com xilogravuras. Porém, pode-se dizer que ukiyo-e começa em meados do século XVII (Hashimoto, 2002). No Período Edo, essa manifestação artística era desenvolvida pela classe dos comerciantes. Com relação à produção xilográfica, divide-se o período Edo em duas partes. O Período Inicial (1603-1765), que também é conhecido como Período Primitivo, e o Segundo Período (1765- 1868), que é conhecido por conta da xilogravura multicolorida cuja denominação na época era nishiki-e ou “pintura brocado”. No Primeiro Período os artistas exploravam a linguagem da xilogravura e a estampa preta e branca (sumizuri-e), que é pintada a mão. Neste Primeiro Período o que mais se retratavam eram os locais de diversão com mulheres que trabalhavam nestes lugares, e o teatro Kabuki

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com suas

personagens. No segundo Período, os temas das xilogravuras ukiyo-e passaram a ser de paisagens, flores, pássaros e insetos. “Isso se deve talvez à prosperidade do comércio, motivados pelo aumento do intercâmbio de produtos entre as várias províncias do Japão. Esse fato forçou os comerciantes a empreenderem frequentes viagens, o que lhes despertou o interesse pelas paisagens de vários locais famosos do país” 7. Neste Período as cores são impressas à medida que a produção vai se desenvolvendo: nishiki-e, surimono (coisa impressa), ao-e (“pintura-azul”, impressa em muitos tons, mas com predomínio de azulanil), aka-e (“pintura-vermelho-carmesin”, impressa em muitos tons, mas com predomínio de carmim). Eles também utilizavam outros pigmentos (kira-zuri) que são conhecidos desde o século X. Os anos de 1780 a 1800 são considerados como sendo o ápice da estampa ukiyo-e. 6

O Kabuki é a tradicional forma de teatro japonesa que se originou no período Edo, no começo do séc. XVII. A palavra “Kabuki” é resultado da junção de 3 ideogramas chineses; “ka”, “bu” e “ki”, que significam respectivamente: cantar, dançar e representar. Foi criado por Okuni, uma dançarina de grande talento. Inicialmente, o Kabuki era uma espécie de drama leve, em que os principais personagens eram cantores e dançarinas. Essa forma de teatro era cultivada principalmente pelos mercadores da época. Eles expressavam seus ideais nas peças; faziam críticas à sociedade, ao governo e à fatos históricos, através de sátiras, ironias e dramas. O tema principal era a insatisfação dos mercadores com a classe samurai e o sistema feudal, pois a classe mercantil já gozava de alto poder econômico, mas ainda tinha que baixar a cabeça aos seus superiores. Nishikigoi, (2008). 7 Exposição: Ukiyo-e. Xilogravuras de Hiroshige: “As Cinquenta e três vilas da estrada de Tokaido”. São Paulo: Org Editora Hoeido. Fundação Mokiti Okada – M.O.A do Brasil e Museu de Arte M.O.A do Japão, 1982. p. 13.

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3.3 Questões filosóficas Dentro de um pensamento oriental, existe uma importante e essencial disciplina que muitos artistas japoneses adotavam: o ‘’retirar-se do mundo’’. O processo de retirar-se do mundo acontece por uma fixação pela arte. É o desejo de se ocultar, de fugir do mundo, para assim apreciar e aprender o caminho da arte. Instala-se nessas pessoas o suki no kokoro ‘’coração do amante das artes’’. Apega-se também a um-ichi-motsu, ‘’não possuir nada’’. No início não há um interesse pelo engajamento da religião, nem no mundo secular. Para os retirados-do-mundo, como o próprio nome o diz, não existe uma preocupação de fazer arte para os outros. Já no período Edo, a produção passa-se a ser para o outro: “... com o desenvolvimento da xilogravura, um mercado editorial se abre, ou, no dito de outra forma, inventam-se recursos xilográficos devido à sua demanda; escritores e pintores se profissionalizam; o trabalho se divide: surgem funções, como a do escritor, calígrafo, pintor, editor (o qual muitas vezes também é o pintor ou escritor), gravador das matrizes de madeira, impressor, distribuidor.” 8

3.4 Temas Na primeira parte do Período Edo, os temas concentram-se em assuntos das áreas de prazer, de teatro e de seus usos e costumes. No segundo período os assuntos adotados são: flores, pássaros, árvores, plantas e animais, que são trabalhadas por Hokusai, Hiroshige e Utamaru. As estampas ukiyo-e feitas por estes, e tantos outros artistas tem relação com muitos poemas que não devem ter sido escritos por eles. ‘’As estações, como marcas de transiência, explicitam-se em seres: pássaros e flores da primavera são referidos a amores em gestação; plantas, insetos e chuvas de verão, à sua saciedade; pássaros migrantes e folhas caídas de outono a seu rompimento; chuvas e neves de inverno, a seu lamento.’’ 9 Os temas da natureza (flores, pássaros, insetos, plantas, animais) são compreendidas de maneira diferente, dependendo da família que as 8 9

HASHIMOTO (2002) p. 46. HASHIMOTO (2002) p. 185.

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representa, e do modo como estas o fazem. Muitas vezes os elementos naturais parecem como metáforas, como por exemplo, os pássaros, dando sentido de liberdade.

3.5 Técnica Todo o processo do ukiyo-e era feito por várias pessoas. Tinha um caráter cooperativo. Por exemplo, sabe-se que ‘’As Trinta e seis vistas do monte Fuji’’ foram feitas por etapas/fases/divisões de trabalho, sendo supervisionado pelo editor, e às vezes acompanhado pelo artista. No processo da xilogravura japonesa tradicional, pode-ser dividir as etapas em quatro pessoas: o editor, que é encomendado para coordenar, supervisionar o processo do trabalho, o designer (pintor) que é quem faz o desenho de fato, o gravador que é a pessoa que entalha, cava a madeira e o impressor, que é quem passa a imagem para o papel. Pode-se incluir nesta produção a pessoa que prepara o papel, e aquela que passa o dooza que é a cola usada em uma das faces do papel japonês. As texturas e superfícies dos papéis feitos à mão colaboram para o brilho e suavidade da cor. (HILLIER, 1991). É apenas o nome do pintor que consta nas obras. O nome do gravador, impressor, não aparece junto às obras (M.O.A, 1982) Pode-ser dizer que o processo se inicia com a pessoa responsável em preparar o papel. Este papel é chamado de Washi: “Wa” que significa japonês ou oriental, e “Shi” que é papel. O método de fabricação do papel foi levado da China para o Japão, e lá o processo fora adaptado. O papel para impressão é feito de longas fibras de Kozo e Neri, substância viscosa extraída de um tubérculo, feitas a partir da casca de três arbustos: o Kozo, Gampi e Mitsumata. O papel era preparado por várias famílias espalhadas por todo o Japão. Em meados do século XIX a demanda aumentou muito, e o papel Washi foi sendo substituído pelo papel ocidental e os métodos artesanais, por máquinas.10 Após a fabricação do papel, era necessário passar uma cola em uma das faces do papel, para impermeabiliza-lo. Essa cola chama-se dooza. Depois da secagem dessa cola, o papel estava pronto para ser usado na impressão da matriz.

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Informações retiradas do panfleto da papelaria World Papel, obtido em Julho de 2013. 16


Paralelamente a isso, o pintor fazia suas pinturas, que mais tarde seriam gravadas por um gravador. Os materiais utilizados nesse processo de gravação na madeira são a faca e a goiva em U. Originalmente, os japoneses só utilizavam a faca para cortar a madeira. As goivas são ferramentas ocidentais. Atualmente os gravadores no Japão também usam as goivas em seus trabalhos de xilogravura. O processo de entalhamento é bem minucioso, e é necessária uma boa iluminação que colabore em todo esse processo. Utilizando a faca, o gravador contorna todo o desenho, cortando aquilo que será tirado fora. O que fica em alto relevo é o que será impresso. Com a goiva em U o gravador retira as grandes áreas que ficarão em branco na hora da impressão. Os japoneses inventaram uma maneira para fazer o registro das matrizes, que é feito nela própria. Esse registro serve como guia para o impressor imprimir as cores exatamente onde devem ser impressas, uma vez que cada matriz corresponde a uma cor ou desenho diferentes. Depois que a matriz estava pronta, o impressor já podia entintar a madeira e colocar o papel. Para imprimir o desenho entalhado no papel o gravador usa o baren, que é um instrumento usado especificamente na impressão (como mostra na figura 1). Na xilogravura japonesa a base de água não se usa uma máquina de impressão. Tudo é feito à mão. O processo de impressão é o último processo na xilogravura. Após a imagem ser impressa, ela era comercializada pelas casas de impressão. Alguns outros livros foram consultados para observar e analisar as imagens de Hokusai. A técnica da xilogravura feita em aguada também fora estudada nesses livros. Por exemplo, no livro Japanese Color Print, o autor explica como era feita a impressão da xilogravura japonesa. “A great deal depended on the craftsmen responsible for blockcutting and printing. The artist merely supplied the drawing on transparent paper and indicated the colours by painting them in (…) the 'key-block', as the outline print was known. The engraver, pasting the drawing face-down on a block of hard wood like cherry (…), cut around the lines with a knife, and by clearing the wood between the raised lines, left them in high relief.”11 Todo esse processo acontecia sob a supervisão e orientação do editor, que era o responsável pela casa de impressão, as editoras. HILLIER, (1991). p. 10. ‘’Para se fazer algo grande, dependia-se dos artesãos responsáveis por bloco de corte e impressão. O artista apenas fornecia o desenho em papel transparente e indicava as cores pintando-as (...) na "chave-bloco", como a linha de impressão era conhecida. O gravador, colando o desenho virado para baixo sobre um bloco de madeira duro como a cerejeira (...) corta em torno das linhas com uma faca, limpando a madeira entre as linhas em relevo, deixando-os em alto relevo. ’’ (tradução nossa). 11

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3.6 Materiais Fotografias dos materiais descritos são mostradas abaixo, para visualização.

Figura 1: Baren12

Figura 2: Pincel para molhar o papel13

Figura 3: Facas, goivas e formões14

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Foto de baren tirada por Fernando Saiki. Foto do pincel tirada por Fernando Saiki. 14 Foto das ferramentas tirada por Fernando Saiki. 13

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Figura 4: Escovas para entintagem15

Figura 5: Cola nori e nanquin em pedra16

Figura 6: Pedras para fiação das facas e goivas17

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Foto das escovas tirada por Fernando Saiki. Foto da cola tirada por Fernando Saiki. 17 Foto das pedras tirada por Fernando Saiki. 16

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4. HOKUSAI Katsushika Hokusai nasceu em 1760, no período do Shogunato Tokugawa. É um dos grandes artistas gravuristas japoneses. Ele é autor do famoso trabalho “A Grande Onda” (1830). Hokusai inspirou muitos artistas japoneses e europeus. Ele também foi mestre de muitas pessoas que com o passar dos anos adotavam um de seus nomes, como se fosse deles, o que dificulta um pouco saber a verdadeira autoria das gravuras. Ele teve vários nomes, em diferentes épocas da vida, como Shunrô (nome dado pelo chefe da família Katsukawa, Shunshô), Shihoku Gankô, Tawaraya Sôri II, Hokusai Sôri,Tokimasa, Hokusai Shinsei, Gakyojin (Homem-Louco-por-Desenho), Tôyô Hokusai, Katsushika Hokusai Tokimasa, Gakyô-rôjin Manji (Homem-Velho-Louco-por-Desenho). Esses são os principais nomes, dos sessenta e três diferentes pelos quais é conhecido. 18 Hokusai, em seu trabalho de xilogravura, trabalhou com diversos temas como natureza, paisagem, costumes japoneses, teatro kabuki e mulheres. A paisagem foi o tema escolhido para ser observada e analisada neste trabalho. Hokusai desenvolveu a série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji. Nela, pode-se observar o Monte Fuji de diversas perspectivas. Em praticamente todas as imagens, as pessoas representadas estão voltadas ao monte, observando-o ou apontado para ele. Partindo pelo título, e também pela maneira de representar a paisagem, Hokusai chama atenção ao Monte, reafirmando sua importância não apenas na gravura, mas também para a sociedade e coração japonês. É incrível como a composição da imagem faz o olhar de alguma maneira se voltar para o Monte. Hokusai optou por fazer muitas das suas paisagens na posição horizontal, ou seja, no formato paisagem onde a largura é maior que a altura da imagem. Com Hokusai, a paisagem passou a ser um tema em si mesma. O Monte Fuji se tornou o símbolo da nação. Eles veneram esse vulcão que foi ativo pela última vez em 1707. Foi Hokusai quem abriu os olhos das pessoas para as maravilhas que a cercavam (Gomez, 2011). Ele faz diversas séries de paisagens como “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji” (1830-32), “[Série dos três brancos] Neve, Lua e Flores de cerejeira” (1832), “Oito vistas de Ryuku” (1833), “Um espelho de versos chineses e japoneses” (1833-34), “Mil imagens do mar” (1833-34), “Vistas raras de famosas pontes japonesas” (1834), “Raras 18

HASHIMOTO (2002) p. 34.

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vistas de paisagens famosas” (1834), “Um tour pelas cachoeiras japonesas” (1834-35) (Calza, 1999). Cada uma dessas séries são diferentes, e dão enfoque em determinadas paisagens, como o próprio título da série o diz. Hokusai produzia essas séries no intuito e no dever de promovê-las. Quando o xogunato Tokugawa muda-se para Edo, a cidade ainda não era muito conhecida. Esses artistas que faziam gravuras em uma técnica que possibilita uma reprodução em larga escala passam a representar as paisagens locais, promovendo-as. Dessa maneira, quando as pessoas fossem visitar Edo, elas se interessariam por visitar esses locais. Apesar desse caráter de difusão do lugar, não se pode restringir o significado de suas gravuras apenas a essa função. “Before this revolution, which seems a fair way of referring to it, landscape in ukiyo-e was used mainly as a background for figures, only extremely rarely achieving the status of independent genre. Hokusai lent landscape and nature pictures the same dignity accorded to the representation of humanity, and he did it using the most down-to-earth and most widespread art form, ukiyo-e and woodcuts”

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Hokusai não apenas representou essas paisagens, mas introduziu nelas um sentimento, uma forma de ver a paisagem com o uso de contrastes e passagem entre as cores muito suave. A dimensão de perspectiva, adotada na proporção dos elementos naturais, elevou o que seria mera representação ou ilustração de paisagem à imagem como obra de arte. ‘’Once again pride of places went to landscape and nature pictures in this phase, but Hokusai did not neglect this interest in human feelings, passions and moods, and he continued to explore ways of expressing them.”.20

CALZA, (1999). p. 229. “Antes dessa revolução, que parece uma forma justa de se referir a ele, paisagem em ukiyo-e era usado principalmente como um fundo para figuras, só muito raramente alcançou o status de gênero independente. Hokusai emprestou à paisagem e à natureza representada a mesma dignidade atribuída à representação da humanidade, e ele fez isso com os pés no chão, utilizando a mais comum e difundida forma de arte, ukiyo-e e xilogravuras.” (tradução nossa) 20 CALZA, (1999). p. 228. “Mais uma vez o orgulho dos lugares foi para figuras de paisagem e da natureza captadas nessa fase, mas Hokusai não negligencia o interesse por sentimentos humanos, paixões e humores, e ele continuou a explorar formas de expressá-las.” (tradução nossa). 19

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Essas gravuras eram inicialmente pinturas feitas com o Fudê, que é um pincel de Shodô (caligrafia japonesa) e Sumiê (desenho japonês) (como mostra a figura 7). Com esse pincel, Hokusai pintava lugares que foram considerados habitados por deuses.

Figura 7: Fudê, Pincel de Shodô21

O Monte Fuji já era conhecido como morada da princesa Sakuya, uma divindade. Ao pintar o Monte, ele endeusava ainda mais esse local, e os japoneses o reverenciavam mais. Outros lugares retratados como Ryukyu, e elementos como a Lua, a Água, as Cachoeiras, e Árvores, eram lugares e elementos que remetiam a deuses. Adicionalmente, de tanto serem retratados, passaram a ser considerados habitados pelos mesmos. “Now he wandered through nature in search of the same underlying laws, the universal system governing human existence, and seeking signs of the ubiquitous presence of the gods: in rocks and trees, in the waters and mountains, and in the very sounds of nature, but also in objects ritually manufactured by man.”.22

Foto tirada na aula de xilogravura japonesa (maio de 2013). CALZA, (1999). p. 229. “Agora, ele vagou pela natureza em busca das mesmas leis subjacentes, o sistema universal que rege a existência humana, e buscou sinais da presença ubíqua dos deuses: em rochas e árvores, nas águas e montanhas, e nos próprios sons da natureza, mas também em objetos rituais fabricados pelo homem.” (tradução nossa) 21

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Katsushika Hokusai. Esboço da Baia de Tago perto de Eriji, em Tokaido. Da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, 1830/32

Figura 8: Gravura de Hokusai

4.1 Estudos dos Ukiyo-e’s de Hokusai Eu escolhi os ukiyo-e’s de paisagem desenvolvidos por Hokusai, pois em um primeiro contato com as xilogravuras desse artista, as obras que tratam deste tema me chamaram muito a atenção. Tenho desenhado (de observação) algumas dessas xilogravuras desde o ano passado (2012). Elas me encantam. A maneira como eles olhavam as paisagens, a riqueza de detalhes, os recortes escolhidos são incríveis e muito lindos. Existe um rigor técnico muito forte, e ao mesmo tempo uma sutileza no traço. São gravuras feitas em madeira, e meu primeiro questionamento é como eles conseguiam fazer isso na madeira, que é um material duro, em uma técnica (xilogravura) que requer o corte, o entalhamento, a incisão, que são atos fortes. Como acontece isso? Algo tão leve em uma técnica artesanal e rústica? O recorte escolhido por esse artista em cada xilogravura não é o mesmo dos artistas renascentistas de ponto de fuga, de proporção. Existe certa proporção, e a composição tem um ponto de fuga, até porque Hokusai fora influenciado por artistas europeus, mas isso acontece de maneira diferente deles. Ele não está tão preocupado para que essas proporções sejam realistas. O olhar dele era diferente do produzido naquela época (séc

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XIX) no Ocidente. Este olhar, e a sutileza apresentada nos ukiyo-e’s mokuhanga têm muito a ver com questões filosóficas, culturais, meditativas, de pensamento e estilo de vida dos artistas japoneses nessa época. A qualidade técnica alcançada acontecia após muita observação, vivência e prática. O aprendiz demorava bastante tempo para começar a produzir suas próprias xilogravuras, uma vez também que todo o processo era realizado por diversas pessoas (desde fazer o papel, o desenho, gravação, impressão, etc). Enquanto eu desenho a partir dos ukiyo-e’s fico imaginando o processo meditativo desses artistas na época. Um aspecto interessante em Hokusai, e que se estende a outros artistas ukiyo-e’s é a relação existente entre a xilogravura produzida na época, com o teatro kabuki que cresceu muito no período, que também se relaciona com a literatura, e poesia. Isso é algo comum em qualquer movimento artístico, porém, como Edo estava em grande crescimento econômico e cultural, essas relações aconteceram de maneira muito mais intensa. Além de pintar muitas paisagens, lugares famosos, e vistas, Hokusai também retratou elementos da natureza, e muitas cenas do teatro kabuki e de pessoas em relações íntimas, em lugares reservados, ou públicos. Ele e outros artistas retrataram essas cenas e lugares, pois também eram locais comuns e muito visitados pela população na sociedade do Período. Um aspecto que me chama muito a atenção são as cores utilizadas por Hokusai. Ao observar as paisagens dele, eu achei que as cores usadas eram mais sutis, não tão intensas, e a passagem entre uma e outra, suave. Porém, após estudar um pouco mais, percebi que ao estabelecer essa relação eu poderia estar cometendo um erro, pois as séries das gravuras dele eram impressas em diferentes casas de impressão. Portanto, as cores nunca seriam as mesmas, uma vez que cada casa utilizava determinados pigmentos. Hokusai, com certeza, tinha as cores na sua mente, e essas deveriam ser impressas, mas como as impressões não eram feitas por apenas uma pessoa, não se pode estabelecer um padrão. Percebe-se que por um bom tempo ele utilizou o azul da prússia, que fora introduzido ao Japão por estrangeiros, e que encantou muitos artistas, assim como Hokusai. Os ukiyo-e’s de paisagem de Hokusai estudados são os que fazem parte das seguintes séries: Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, Oito Vistas de Ryukyu, Raras Vistas de Famosas Pontes Japonesas. Um dos catálogos usados para consultar essas imagens foi do museu do Hokusai (Hashimoto, 2010).

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5. ENCONTROS E APRENDIZADOS Em abril de 2013 eu participei de uma palestra no SESC Pompéia, chamada Diálogos, entre o professor Evandro Carlos Jardim, que dá um curso de gravura em metal no SESC desde 1995, e um artista convidado, que no dia fora a professora Madalena Hashimoto do departamento de Literatura Japonesa da USP. Madalena Hashimoto tem formação em artes plásticas e mestrado na área. No Brasil é quem mais tem conhecimento sobre gravura japonesa e ukiyo-e. A palestra começou com Madalena contando um pouco da experiência dela com as artes, e mais especificamente com a gravura. Ela levantou questões muito importantes para minha pesquisa, durante seu discurso. Hashimoto falou que o caminho para aprender é seguir os grandes mestres, e foi dessa maneira que ela o fez. Ela foi para os Estados Unidos e para o Japão estudar artes, literatura japonesa, e lá obteve muitos conhecimentos necessários para desenvolver seu trabalho. Um ponto interessante colocado por ela fora a questão de que muitas vezes, estudando os grandes mestres, temos o anseio de fazer o que eles faziam, e que isso não é algo que possa acontecer, pois o coração é outro, a pessoa, o sentimento, o pensamento é outro. Por mais que você estude a técnica, a história, não fará aquilo que os mestres fizeram. Podemos observar, aprender, dialogar com eles, mas não fazer o mesmo. Madalena Hashimoto mostrou alguns de seus trabalhos, e foi muito interessante. Ela mostrou gravuras, gravuras com colagens, alguns ukiyo-e’s. Durante a conversa, o professor Evandro Carlos Jardim que também é professor da USP, do departamento de Artes Plásticas, pediu para que ela explicasse o mundo do ukiyo-e. Então Madalena explicou o significado das palavras, fez uma breve contextualização histórica e falou dos artistas da época, citando mais Hokusai. Ela explicou muitas coisas que para mim foram novas. Por exemplo, ela falou que nas xilogravuras, o que está do lado direito superior é o título da série e embaixo a assinatura do artista. Participar da conversa com a professora Madalena Hashimoto e o professor Evandro Carlos Jardim foi muito interessante e importante naquela etapa de meu estudo. Muitas coisas que Madalena falou eu não sabia, como a questão das paisagens não serem apenas paisagens, mas serem representadas pelos artistas, por serem endeusadas, por serem habitadas por deuses. Foi algo muito interessante, pois os ukiyo-e’s que eu me propus 25


analisar são justamente os de paisagem. As questões filosóficas e até religiosas dos artistas, ao representar certos lugares, eram muito fortes e determinantes, e foi justamente por isso que eles decidiram fazer séries de lugares, em diferentes perspectivas e olhares. Dessas séries, cada ukiyo-e tem um elemento em comum (como por exemplo, o monte Fuji – nas 36 vistas do Monte Fuji de Hokusai). Depois desse encontro no SESC eu também consegui me reunir com Madalena Hashimoto na Casa de Cultura Japonesa, na qual ela faz parte da diretoria; um lugar que eu fui muito para fazer a pesquisa bibliográfica no começo do projeto. Nessa conversa eu expliquei para ela o meu projeto, sobre o que estou estudando, quais são os meus enfoques, e como está sendo desenvolvido. Eu levei alguns desenhos que fiz a partir de xilogravuras de Hokusai e Hiroshige. Conversamos um pouco sobre elas, percebemos que o que mais me chama a atenção nas paisagens é a questão da composição delas, pois ao estudar e observar as imagens, eu percebo também o que me aproxima delas. Ainda hoje existem oficinas de gravura no Japão, com pessoas que utilizam a técnica milenar de gravação e impressão japonesa. Claro que atualmente, esses artesãos e artistas também experimentam equipamentos e recursos modernos, mas a impressão e gravação são feitos como antigamente, e outros que reimprimem gravuras de grandes mestres artistas do passado. Madalena Hashimoto tem sido muito atenciosa me recebendo e conversando comigo, pois a partir desses encontros percebi o quanto eu não sabia sobre ukiyo-e e o quanto mais tinha para pesquisar, e aprender. No encontro com Madalena Hashimoto, eu perguntei se ela conhecia alguém que dava cursos de gravura japonesa. Ela disse que há alguns anos atrás ela dava, mas parou, e que naquele encontro Diálogos com Evandro Carlos Jardim, ela conheceu alguém que dava aulas. A partir dessa informação eu entrei em contato com o professor Fernando Saiki, atualmente mestrando da ECA USP, que dá um curso de xilogravura a base de água, dentro das técnicas japonesas no atelier Paulista, em São Paulo.

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6. CURSOS E EXPERIMENTOS

Eu comecei o curso de xilogravura japonesa em 2013 no Atelier Paulista, com o professor Fernando Saiki. Nas primeiras aulas ele me explicou muitas questões técnicas e conceituais. Ele falou sobre material, goivas, como era feito na época, o tipo de madeira adequada e mais usada hoje em dia para esse tipo de gravação e impressão. Ele tem pesquisado isso desde 2006 e realmente tem bastante conhecimento na área. Além de ser professor da xilogravura japonesa, ele também tem sua própria produção artística dentro dessa técnica. Durante as aulas ele mostra obras de muitos artistas, contemporâneos inclusive, que também fazem uso dessa técnica milenar para suas produções artísticas. Artistas como: Ito Jakushu, Hiroshi Yoshida, Hasui Kawase, Koitsu Tsuchiya, Paul Binnie e David Bull. O curso foi e tem sido extremamente importante para o meu aprendizado da técnica e discussão e aperfeiçoamento da prática. Lá eu gravo, imprimo, e aprendo muito sobre como tudo era feito no Japão, na época de Hokusai, e quais são as possibilidades de utilizarmos dessa técnica hoje, no Brasil.

6.1 Experiência do copiar, desenhar, entalhar, fazer, e criar. Antes de começar o curso de xilogravura japonesa, como parte prática do trabalho, eu fiz vários desenhos baseados nas xilogravuras ukiyo-e’s de paisagem de Hokusai e Hiroshige. As cores presentes nas gravuras e esses elementos da natureza são coisas que realmente me chamam muita atenção, mas a maioria dos desenhos que fiz foi em grafite (entre H a 6B). No momento do desenho, percebi que a questão da composição, dos recortes, é um aspecto que realmente me interessa. Em alguns dos meus desenhos, consegui colocar a suavidade de passagem dos planos, mesmo que apenas em grafite. Em outros desenhos, que sinto que estava mais ansiosa, apressada, isso não foi feito. Foram feitos cerca de 20 desenhos. Além disso, antes das aulas de gravura japonesa, eu fiz duas matrizes na madeira pinus. Entalhar essas matrizes foi difícil, pois a madeira não era muito adequada. Depois de um tempo, eu imprimi essas matrizes, como

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forma de experimento, pois foi a primeira vez que eu imprimi uma xilogravura com tinta à base de água. No curso estou gravando outras matrizes, e aprendendo um pouco mais sobre a técnica da gravura japonesa. A ferramenta que mais se usa são as facas e os formões. Na xilogravura japonesa, diferentemente das xilogravuras ocidentais, a linha é sempre preta, escura. A linha não é a luz na gravura. Isso modifica totalmente a maneira de se pensar a imagem, modifica a maneira de começar a pensar aquilo que será gravado. Essa primeira gravura na madeira pinus, fora feita antes de conhecer a técnica da xilogravura japonesa. Nesse período de experimentos, primeiro foi feito um desenho, que depois fora gravado em uma madeira. No começo a minha ideia era de fazer alguma paisagem com algum elemento que aparece nas gravuras de Hokusai. Eu comecei meu desenho assim, colocando uma montanha, e depois um barco. Isso aconteceu, pois eu desenhei as gravuras de Hokusai e Hiroshige por um tempo. Eu estava influenciada pela representação do Monte Fuji, recorrentes nas sérias desses artistas ukiyo-e’s. Após colocar a montanha, o barco e o mar, eu compus meu desenho, colocando algumas árvores, e depois de um tempo, percebi que a paisagem parecia mais com uma paisagem brasileira do que japonesa. Isso foi interessante, pois aconteceu naturalmente, por eu ser brasileira e ter na memória essas imagens, paisagens. Não é possível reproduzir algo que já fora feito por algum artista, pois, por mais que se busque uma aproximação, seja pela técnica, pela temática, o coração do artista que está fazendo, é outro, é novo. Ter essa consciência foi de extrema importância no processo dessa gravura, e das seguintes também. Após a gravação, eu imprimi a xilogravura em dois tipos de papel. Um era papel de restauração bem fino, e o outro era uma folha branca A2. A impressão fora feita com tinta a base de água, porém sem se saber exatamente a técnica. Foi interessante e diferente imprimir com a tinta a base de água, pois o resultado é totalmente diferente. A água é muito mais suave do que a tinta a óleo no papel (como mostra a figura 8).

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Figura 9: Impressão da primeira matriz na madeira pinus. Paisagem com barco.

No meu processo de criação, primeiro faço um desenho, como rascunho, em uma folha sulfite comum. O professor Fernando Saiki sugeriu que eu fizesse o mesmo desenho em uma folha de papel japonês, com o pincel de sumi-e (desenho), que era a maneira como os artistas gravuristas de ukiyo-e faziam. Eles desenhavam com esse pincel, que se chama fudê, e faziam suas pinturas e desenhos, que depois seriam entalhadas nas madeiras. Com esse mesmo pincel eles também fazem a caligrafia japonesa shodô. A maneira como se utiliza esse pincel é diferente. Ele deve ser manejado verticalmente, em cima do papel. Após o desenho feito, começava o processo te entalhamento. Dentro da técnica de xilogravura japonesa, uma das maneiras de passar o desenho para a madeira é colando o próprio desenho nela. Para isso é necessário que a folha seja bem fina, do tipo papel japonês. Eu passei na madeira o nori que é uma cola japonesa. Após isso colei o papel. Antes de começar a gravar, é necessário tirar algumas camadas do papel, com um pouco de águas nos dedos. No começo eu não conseguia achar o ponto certo, pois eu não deveria tirar todo o papel, se não o desenho que está no papel sairia. É necessário tirar de maneira

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que ainda dê para ver o desenho, ao mesmo tempo em que a fibra do papel não interfira ou prejudique a gravação. Depois disso, começa o processo da gravação propriamente dito. Com a faca é cortado todo o desenho, contornando a linha. Depois disso, com o formão, se tira uma parte da madeira, que contorna a linha, e com as goivas redondas (em U) se cava as partes que não são linhas e que ficarão em branco. Os japoneses inventaram um sistema de registro que fica na própria matriz, facilitando assim na hora da impressão. Esse registro tem dois pontos que normalmente ficam na parte inferior da matriz, na qual o papel se encaixa. O registro é feito com ferramentas específicas para isso, e no momento da gravação. Após esse longo processo de gravação vem a parte da impressão. Antes da impressão, porém, é necessário molhar o papel com um pincel. Esse pincel deve ter as cerdas bem macias para facilitar (exemplo do pincel, figura 2). Primeiro molha-se dois papéis jornais (que envolverão as folhas de impressão). Após molhar o papel (de maneira que ele fique umedecido), molham-se também os papéis de impressão. Originalmente, no Japão usava-se o papel de fibra de kozo (que é 100% fibra), mas usou-se a folha de papel massa. É necessário que o papel seja molhado pelo menos com duas horas de antecedência. Essa etapa de impressão é muito importante, e também exige técnica, para saber o quanto se deve passar o baren, o quanto de tinta ou água é necessário colocar. Para preparar a tinta que foi usada, foi necessário misturar em um pote um pouco da cola nori com água, em outro pote, tinta aquarela para as matrizes de cor, e o nanquin para a linha (se essa for preta). É necessário colocar um pouco desse nori diluído, e a tinta em cima da madeira gravada. Com uma escova espalham-se esses elementos na madeira, de maneira que toda a linha esteja coberta pela tinta. Após esse procedimento, pega-se o papel, encaixa-o no registro, coloca-se o ategami (que é um papel fino, semelhante ao papel manteiga, que facilita no deslize do baren sobre o papel), para então começa-se a passar o baren manualmente. Fazendo um paralelo com a impressão ocidental tradicional, o baren serve como a prensa ou a colher de pau. Depois de passa-lo, eu tirei o papel de cima da madeira. A imagem aparece invertida da que eu desenhei. Isso já é esperado, mas mesmo assim é interessante, pois surgem aspectos que não foram percebidos anteriormente. Antes da impressão o olhar está acostumado com o desenho que está na madeira. Depois de a matriz ser impressa, é

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impressionante como o olhar e a percepção mudam. Na matriz, antes de ser impressa, as linhas parecem mais finas, e alguns outros aspectos só são percebidos depois que a imagem é impressa. Alguns detalhes de gravação ficam mais evidentes, alguns erros também. A xilogravura acontece como um carimbo, porém, dentro dessa técnica, é na impressão que se percebe as falhas, as partes que poderiam estar mais profundas (no processo de entalhamento), ou a linha que não ficou muito reta (caso esse seja o objetivo). É com muita prática que se melhora a impressão, e consequentemente o processo de gravação. A prática de todo esse processo permite uma compreensão maior das xilogravuras estudadas de Hokusai, e de outros artistas.

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7. VARIAÇÕES NA GRAVURA Durante todo o processo prático do trabalho anterior, na iniciação científica, eu foquei no aprendizado da técnica, e no desenvolvimento de algumas imagens. Agora no Trabalho Experimental 2, o enfoque prático principal foi nas variações tanto na gravação quanto na impressão das imagens. As possibilidades são muito grandes, e explorá-las foi muito interessante. Ao desenhar e pensar as imagens, o foco principal foi desenvolver paisagens que vinham à mente, seja pela memória, criação, ou imaginação. Porém nem todas as paisagens são compostas por elementos tradicionais, como uma montanha, árvores, casas, e todas essas possibilidades. A maioria dos desenhos desenvolvidos são paisagens criadas, que remetem a algum elemento da natureza, como a árvore, mar, peixe ou pássaros. Eu gosto muito de formas que se repetem (como em algumas estampas japonesas), e tentei colocar isso em algumas das paisagens. Na etapa da gravação pensei nas possíveis variações da imagem, mas minha preocupação maior estava na técnica de gravação, uma vez que até o momento eu não tinha tanto domínio. Com a prática e o tempo, eu fui tendo mais segurança e rapidez no processo de gravação, mas ainda se tem muito a aprender. Após a matriz estar gravada vem a impressão. É nessa etapa que as variações realmente aparecem. As possibilidades são muito grandes. Com um bloco de matriz-chave e sua matriz de cor, as variações podem acontecer nas cores, na maneira de passar o baren, que dependendo da intensidade e de como é passado, pode criar marcas que aparecem na imagem impressa. Outras variações possíveis são: a maneira como se compõe as imagens no papel, que podem ser feitas sem seguir o registro, podendo também sobrepor as imagens, criando outros conjuntos, e relações e variações. Juntar matrizes de gravuras diferentes, misturar as técnicas, imprimir as gravuras com tinta à base de água, e algumas com tinta a base de óleo, são aspectos explorados na impressão. Outra variação acontece nas próprias cores, que mesmo fazendo parte da mesma matriz chave-bloco, e das matrizes de cor, quando alterando alguns aspectos cromáticos, permitem resultados diferentes. Existe um processo chamado bokashi, que é o degrade nas gravuras japonesas. Aqueles que aparecem principalmente nos céus das imagens. Eu incluí o bokashi em algumas de minhas impressões. O processo aconteceu da seguinte maneira: primeiramente

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eu imprimo no papel as cores da matriz de cor e coloco-as de volta no papel jornal que está umedecido dentro do plástico. Limpo a matriz, para começar a imprimir o bokashi. Para fazê-lo, a entintagem é diferente. Deve-se passar a tinta fora do relevo, e leva-la aos poucos com a metade do pincel para a área de cor (como mostra a figura 10). Esta técnica dá um resultado muito interessante, e eu gostei muito, pois o degrade permite uma suavidade na imagem e nas passagens de cor. Após fazê-lo, eu pude entender um pouco como os artistas ukiyo-e’s faziam naquele período.

Figura 10: Matriz de Cor copa da árvore - bokashi

Um aspecto interessante do meu trabalho, que ficou mais evidente na impressão, é o movimento que existe em todas as minhas paisagens. Esse movimento acontece nas folhas que saem da copa da árvore na matriz de árvore, que sugere a existência e ação do vento, acontece também nos pássaros que estão voando, ao saírem do mar, na matriz de pássaro, ou mesmo nos peixes que não são estáticos. Esse movimento que surge desde o desenho, e no meu próprio pensamento, pode ser relacionado com os aspectos filosóficos estudados, sobre o “mundo flutuante” do ukiyo-e. É evidente que o meu pensamento hoje é diferente, o meu coração é outro, mas a junção de tudo aquilo que fora estudado, as referências, e a imaginação fizeram parte de todo meu processo criativo e expressivo nessas gravuras.

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Exemplos de variações: Série de impressão da matriz da árvore. Variações na cor verde:

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Série de impressão da matriz da árvore. Variações na cor rosa:

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Série de impressão da matriz peixe. Variações de cor:

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Série de impressão da matriz peixe. Variações de cor laranja:

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Série de impressão da matriz mar e pássaros. Variações de cor azul:

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Impressão da matriz árvore. Espelhamento:

Série de impressão da matriz árvore. Repetição e Sobreposição de imagens:

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Sobreposições matriz árvore e matriz peixe:

Matriz impressa com tinta a óleo:

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho do Projeto Experimental II apresentou meu trabalho teórico/prático sobre a xilogravura japonesa ukiyo-e, parte de sua história, tendo como referência as gravuras de paisagem de Hokusai, e explorou as variações e possibilidades dentro dessa técnica cuja impressão é feita com tinta a base de água, diferentemente da técnica ocidental. No início de minha pesquisa, era difícil entender como, tecnicamente, os artistas da época faziam essas xilogravuras que eu tanto admirava. Ao longo desse processo de estudo pude entender um pouco de todo o processo, seja pelas questões culturais e filosóficas envolvidas, e muito mais pelo aprendizado da técnica. De fato, os trabalhos desenvolvidos por Hokusai e outro artistas foram e continuam sendo incríveis. Com certeza tem inspirado muitos jovens artistas, assim como me inspirou e instigou para pesquisar sobre a técnica. Foi necessário e de grande importância o curso de xilogravura japonesa, pois lá, através da prática, que minha consciência sobre o trabalho foi se formando. Com a prática se entende melhor aquilo que era feito, e com ela todo o meu olhar e percepção mudaram também. As variações exploradas durante a gravação e impressão encontraram caminhos que às vezes era planejado, e às vezes não. A cor da tinta aquarela na madeira, e a impressão dela no papel, foram processos extremamente interessantes de serem explorados. Muitas vezes, após várias impressões, eu ficava surpresa com o resultado, pois não era algo esperado. Todo esse processo, que não acabou, mas que continua e continuará como pesquisa pessoal tem encontrado expressão para mim, de maneira que cada vez que faço, mais descubro e aprendo sobre a técnica e sobre meus pensamentos. Com este trabalho concluo uma etapa desse processo, finalizando o curso de Bacharel em Artes Visuais, mas que é apenas o começo do muito que ainda pode ser explorado e descoberto através da técnica, nas expressões e meios. O trabalho apenas começou.

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9. BIBLIOGRAFIA

CALZA, Gian Carlos. Hokusai. New York: Phaidon Press Inc, 2003. FAHR-BECKER, Gabriele. Japanese Prints. London: Taschen, 1999 HASHIMOTO, Kenichiro. Hokusai. Hokusai Museum. Japan, 2010. HASHIMOTO, Madalena. Pintura e escritura do mundo flutuante: Hishikawa Moronobu e ukiyo-e Ihara Saikaku e ukiyo-zôshi. São Paulo: Hedra, 2002. HASHIMOTO, Madalena. Org. Ukiyo-e Pinturas do mundo flutuante. São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2008. HILLIER,Jack. Japanese Colour Print. 3. ed. London: Phaidon Press Limited, 1991. KIKUCHI, Sadao. Ukiyo-e. Japan: Hoikusha, 1964. SHIBUI, Kiyoshi; KIKUSHI, Sadao. Hiroshige, ukiyo-e hanga. Later days one. Tokyo: Shuei-sha, 1964 SMITH, Henri D. Hiroshige: One Hundred Famous Views of Edo. New York, George Braziller, Inc, 1988. STEWART, Basil. A guide to Japanese prints and their subject matter. New York: Dover Publications,Inc, 1979 . TILBORGH, Louis Van. Van Gogh et le Japon. Amsterdam: Van Gogh Museum, 2006.

Catálogo de Exposição Ukiyo-e. Xilogravuras de Hiroshige: “As Cinquenta e três vilas da estrada de Tokaido”. São Paulo: Org Editora Hoeido. Fundação Mokiti Okada – M.O.A do Brasil e Museu de Arte M.O.A do Japão, 1982.

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Filme/Vídeo GOMEZ, Manu. A arte japonesa do UKIYO-E. [Filme-vídeo]. Produção de Manu Gomez e MGV Productions. França, Studio Molíère, 2011. Digital, 52 min. color. som.

Relatório YANAGIHARA, Priscila. Relatório Final de Iniciação Científica. Gravura Japonesa: Referências, Influências e História. Unicamp, 2013.

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10.ANEXOS Desenhos a partir das xilogravuras de paisagem de Hokusai e Hiroshige Hokusai

Hokusai. Ponte Japonesa de Edo. Da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, 1830-32

Hokusai. Superfície do lago Misaka na província de Kai. Da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, 1830/32

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Hokusai. Esboço da Baia de Tago perto de Eriji, em Tokaido. Da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, 1830/32

Hokusai. Desenho de Isawa, na Província de Kai.Da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, 1830/32

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Hiroshige

Hiroshige. Rio Seido e Kanada da ponte Shohei. Da série Cem Vistas de Edo, 1857

Hiroshige. Vistas de Massaki do santuário Suijin, Ushigawa entreada de Sekiya. Da série Cem Vistas de Edo, 1857

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Hiroshige. “Vista distante do Templo Kinruzan e Ponte de Azuma. Da série Cem Vistas de Edo, 1857

Hiroshige. Santuário Sujin e Massaki no Rio Rumida. Da série Cem Vistas de Edo, 1857

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Fotos do Processo Foto da primeira matriz entalhada, antes do curso de xilogravura japonesa.

Foto do desenho jĂĄ colado na madeira.

Fotos do processo de gravação da xilogravura.

Faca utiliza para cortar o contorno do desenho.

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Goiva utilizada para tirar grandes รกreas da madeira.

Fotos da matriz de รกrvore gravada.

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Foto da matriz de รกrvore entintada.

Foto da matriz de cor (folhagem da รกrvore) gravada.

Foto da matriz de peixe gravada.

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Foto da matriz de peixe entintada.

Foto da matriz de cor.

Foto da matriz de cor entintada.

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Foto da matriz de pรกssaro e mar.

Foto da matriz de pรกssaro e mar entintada.

Foto da matriz de cor gravada.

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