Corredor Dom Pedro - Caminhos Culturais

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CORREDOR DOM PEDRO

CAMINHOS CULTURAIS

CORREDOR DOM PEDRO CAMINHOS

CULTURAIS

Patrocínio Realização ATIBAIA - Monumento Natural Estadual da Pedra Grande, Serra do Itapetinga.
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PALAVRAS DA EDITORA

Conhecer novas culturas, interagir com o meio ambiente, trocar conhecimento com outras pessoas, apreciar diferentes manifestações artísticas ampliam o saber e os horizontes.

O projeto deste livro e do portal Caminhos Culturais – Corredor Dom Pedro tem a força e o poder de apresentar ao público as riquezas históricas e culturais de 17 cidades, unidas por um caminho comum, uma estrada que contribui com inúmeras oportunidades para se vivenciar novas experiências.

Temos a convicção de que este projeto marca o início de uma integração turística e cultural ainda maior entre os municípios que compõem o Corredor Dom Pedro, colaborando com o turismo educativo, rural, ecológico, com a prática de esportes e com o fomento da atividade artística.

Assim como nós, da KM Cultural, tenho certeza de que o leitor vai se surpreender de diversas maneiras ao conhecer as riquezas ambientais e culturais encontradas nessa região.

Assim, fazemos o convite para que explore as belezas das cidades abrangidas pelo Corredor Dom Pedro.

Ao patrocinador, a Concessionária Rota das Bandeiras, nosso agradecimento por entender, colaborar, enriquecer e viabilizar esta iniciativa.

THABATA DE ANDRADE ALVES

Diretora da KM Marketing Cultural

www.corredordompedro.com.br

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MOGI GUAÇU - Palco do Teatro Tupec, parte integrante do centro cultural da cidade. ITATIBA - Centro de Controle Operacional da Concessionária Rota das Bandeiras.

PREFÁCIO

No vaivém incessante pelas rodovias do Corredor Dom Pedro, nosso trabalho na Concessionária Rota das Bandeiras tem uma prioridade clara: oferecer viagens cada vez mais seguras e confortáveis, com todo cuidado necessário à preservação da vida de um milhão de pessoas, que recebemos diariamente.

São cerca de 450 mil veículos por dia, conduzidos por motoristas que se deslocam para atividades relacionadas a trabalho, estudo ou transporte de muitas das riquezas produzidas no país. As rodovias que compõem o Corredor Dom Pedro garantem a ligação entre a Região Metropolitana de Campinas e o Vale do Paraíba, bem como o acesso ao Polo Petroquímico de Paulínia; transportam as delícias cultivadas no famoso Circuito das Frutas paulista, e conectam a região a algumas das principais rodovias do país.

Para garantir que cada um de nossos usuários chegue ao seu destino de forma segura e tranquila, a Rota das Bandeiras já investiu mais de R$ 2,8 bilhões em obras de modernização do Corredor Dom Pedro desde o início da concessão, em 2009. O resultado se reflete em conquistas que nos enchem de orgulho, como a escolha da rodovia D. Pedro I (SP-065) como a melhor do país na última edição da pesquisa de rodovias a cargo da Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Evidente que a vocação logística do Corredor Dom Pedro é inegável, mas há outro ponto que chama atenção e não pode passar despercebido: seu enorme potencial turístico. Além de garantir o acesso de nossos usuários a destinos famosos, como Campos do Jordão e o Litoral Norte do Estado, o Corredor Dom Pedro reúne muita história, tradição, arte e cultura em cada um de seus 17 municípios. De paisagens naturais encantadoras à arquitetura barroca, da diversidade gastronômica aos parques, das atividades esportivas à riqueza de sua flora e fauna, há atrações para todos os gostos, que podem ser apreciadas a partir de deslocamentos relativamente curtos e, tenho certeza, vão encantar os turistas que desejarem realizar tais trajetos. Apresentamos a você os Caminhos Culturais do Corredor Dom Pedro. Um projeto que nos orgulha, especialmente porque contribui para fomentar o turismo, valorizar as tradições e incentivar o desenvolvimento dos municípios e a melhoria na qualidade de vida em cada uma das comunidades em que atuamos. Permita-se embarcar nessa viagem de sabores, aromas e paisagens incríveis. Boa leitura.

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CONCHAL - Plantação de girassóis, uma cultura de beleza inconfundível.
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TROPEIROS

Com o avanço do movimento bandeirante paulista pelo interior do Brasil e as descobertas de ouro e pedras preciosas, surgiu uma nova categoria de empreendedores: os tropeiros. Com suas mulas e seus cavalos, os tropeiros formaram uma rede de comunicação e locomoção de mercadorias que integrou os mais remotos cantos do Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Esses intrépidos homens foram responsáveis pelo transporte da grande maioria das riquezas brasileiras produzidas nos séculos XVII, XVIII e XIX.

No lombo de suas mulas (animais resultantes do cruzamento entre o asno macho e a égua), carregavam toda sorte de mantimentos, ferramentas e até notícias de povoados mais densos. Entre as mercadorias estavam produtos derivados do leite, embutidos, azeite, vinho, sabão, vidro, legumes, verduras, tecidos, cachaça etc.

Não temendo obstáculos nem distâncias, esses homens tornaramse profundos conhecedores dos planaltos, das planícies e das serras; também contribuíram com a criação de muitos povoados e ajudaram consideravelmente no desenvolvimento dos comércios locais. Para o fornecimento de animais, surgiram fazendas de muares e, consequentemente, fortunas foram feitas em torno dos tropeiros.

Com suas “tropas”, conseguiram transpor as serras do Mar e da Mantiqueira para levar ouro e café aos portos de Santos, Paraty e Rio de Janeiro. Seguiam por caminhos traçados pelos indígenas e, na ausência de algum conhecimento anterior, criavam novas rotas.

Em suas longas viagens, permeadas por animais selvagens, peçonhentos e insetos portadores de doenças tropicais, chegavam

a percorrer três mil quilômetros, carregando em seus jacás cerca de 120 quilos de mercadoria por mula.

Com toda a mão de obra direcionada para a garimpagem, inclusive a escrava, esse novo nicho econômico movimentou mais ainda a emergente economia do Brasil colonial. Mais tarde, com o desenvolvimento da cultura cafeeira, colocou o país na rota do comércio internacional.

Logicamente, com a evolução dos meios de transporte, como as ferrovias, os tropeiros foram pouco a pouco desaparecendo, mas, em partes da Serra da Mantiqueira e no interior do Estado, ainda podemos deparar com alguns deles, transportando produtos locais, como os tropeiros que trabalham com lenha em Nazaré Paulista e região.

Contudo, os tropeiros deixaram algumas heranças que persistem até os dias atuais, como a base da alimentação caipira e mineira, tendo como ícone maior o feijão tropeiro!

Atualmente, ao dirigirmos pela Rodovia D. Pedro I (SP-065), passamos por muitos trechos desbravados tanto pelos bandeirantes como pelos tropeiros. Estes levavam as mercadorias do interior, passavam por Jacareí e depois iam em direção ao porto do Rio de Janeiro, assim como transportavam o café saído da região de Campinas e Jundiaí, e desciam a Serra do Mar até o porto de Santos. Um local icônico em Campinas é o Largo Santa Cruz, lugar onde os antigos tropeiros paravam para descansar, após percorrer o “Caminho dos Pousos”, e depois partir em direção aos sertões de Goiás e Mato Grosso.

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Os tropeiros desbravaram a região, criando novas rotas. CAMPINAS - Inaugurado em 1872, o prédio serviu como estação ferroviária até 2001. Hoje, abriga um centro cultural: a Estação Cultura.
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MOGI GUAÇU - A construção desta estação, por volta de 1890, teve o intuito de substituir a primeira, construída em 1878. LOUVEIRA - Esta estação, construída pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, foi inaugurada em 1872.

FERROVIAS

As estradas de ferro, no século XIX, foram o marco do desbravamento de territórios distantes em vários países. Foram elas as responsáveis pelo desenvolvimento econômico e social, pois tinham a capacidade de integrar os mais longínquos lugares com centros urbanos mais populosos e, principalmente, com os portos para a descarga da produção agrícola, possibilitando assim maior concentração de polos produtivos para escoar toda a riqueza gerada. A tecnologia veio com a descoberta da geração de energia por meio do calor, que transformou toda a sociedade, no período que conhecemos como Revolução Industrial. A partir daí, surgiram “Marias Fumaças” por todos os lugares, levando alimentos, cargas vivas, correspondências, pessoas e tudo o que era necessário, em “pouco tempo”, se comparado aos cavalos, muares e carroças.

Porém, para fazer com que os trilhos alcançassem os quatros cantos de um país, também eram exigidos estudos para transpor os obstáculos naturais da topografia dos territórios. Muitas ferrovias pareciam impossíveis de ser construídas, dadas as circunstâncias adversas do terreno. Um exemplo, no Brasil, foi a construção da São Paulo Railway, que conseguiu transpor a Serra do Mar e assim escoar a rica produção cafeeira do interior paulista, uma demanda urgente que colocou o país na rota comercial internacional. As ferrovias são um feito fantástico da engenharia e da capacidade humana de ultrapassar obstáculos.

Ao mesmo tempo, as ferrovias foram marcos iniciais de muitas cidades, pois suas estações atraíam comerciantes que se estabeleciam próximos a elas, fomentando um mercado paralelo de consumo.

“Pousos” também eram comuns, assim como casas que ofertavam comidas feitas localmente, além dos famosos armazéns de secos e molhados. Muitos quitutes, embutidos e iguarias locais foram disseminados pelas idas e vindas de passageiros que paravam nessas estações e apreciavam as novidades.

Por isso, a história das estradas de ferro é de extrema importância para entendermos toda a dinâmica do desenvolvimento dessas cidades e reconstruir sua memória. Algumas de suas estações estão preservadas fisicamente e outras estão guardadas em fotos, livros e documentos. De todo modo, seja estrutural, visualmente ou pela escrita, esses marcos históricos são o ponto de partida para nos levar pelos trilhos invisíveis da formação da cultura brasileira.

Estrada de Ferro São Paulo Railway

O armador, banqueiro, industrial e comerciante Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, com sua personalidade visionária, conseguiu a concessão para a construção de uma ferrovia que interligasse o planalto paulista ao porto de Santos, a fim de agilizar e modernizar o transporte de mercadorias, principalmente o café, do interior ao litoral. Uma iniciativa mais do que necessária, se voltarmos no tempo e imaginarmos a longa fila de carroças e mulas descendo a Serra do Mar, pelos seus tortuosos caminhos, repletos de mosquitos, riachos, lama, animais selvagens e peçonhentos, pedras e toda sorte de empecilhos. Não era apenas ir ao porto, e sim participar de uma verdadeira saga, digna de atos heroicos, exigindo coragem absoluta.

Concessão dada, agora só faltava uma equipe que conseguisse construir uma via férrea que transpusesse todos os obstáculos. Então, em 1867, foi fundada a Estrada de Ferro São Paulo Railway Company – SPR, com capital inglês, sob a batuta dos engenheiros James Brunlees e Daniel Makison Fox. Com quatro declives, sistemas de tração de composições e contrapesos, além de pontes sobre rios, finalmente a ferrovia ficou pronta. Os seus 159 quilômetros de extensão ligavam Santos, Cubatão, Santo André, Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá, São Caetano do Sul, São Paulo e Jundiaí. Depois de nacionalizada, em 1947, passou a se chamar Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e, dez anos mais tarde, Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA. Hoje, novamente privatizada, atua somente no transporte de carga, sem passageiros.

Companhia Paulista de Estradas de Ferro

Como o fim da linha da São Paulo Railway ficava em Jundiaí, fazendeiros e investidores resolveram construir outra ferrovia que ligasse Jundiaí até Rio Claro. Fundada em 1868, e inaugurada em 1872, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro venceu seu primeiro trecho: Jundiaí –Campinas. A “Paulista” foi inovadora em muitos aspectos, entre eles a primeira a ser eletrificada, além de criar vários hortos florestais com o intuito de cultivar árvores, como o eucalipto, para a fabricação de dormentes. Seus serviços para os passageiros, como o restaurante e as cabines, eram de primeira qualidade. Com o passar dos anos, seus trilhos passaram a percorrer quase todo o Estado de São Paulo. As oficinas foram montadas em Jundiaí, no complexo ferroviário. Depois de várias crises do setor cafeeiro, entre outras, em 1971, foi integrada à Ferrovia Paulista S.A. – FEPASA.

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Estrada de Ferro Bragantina

Com a produção de café se expandindo para o interior, cada vez mais aumentava a distância entre as fazendas e a ferrovia São Paulo Railway Co. Então, em 1878, os cafeicultores, reunidos, começaram a construção de uma linha para unir a última estação da SPR, em Campo Limpo, até a cidade de Vargem. Em 1884, os trilhos foram aquecidos pelas locomotivas em pleno funcionamento. Para manter o poder do transporte ferroviário, os ingleses compraram a Ferrovia Bragantina, antes da oferta da Estrada de Ferro Mogiana feita para a compra dessa linha. Em seguida, acrescentou-se um tronco até Atibaia, no bairro Caetetuba, que ia até Piracaia. Com a quebra da Bolsa de 1929 e a falência da maioria dos cafeicultores da região, as atividades da Bragantina foram encerradas.

Estrada de Ferro Itatibense

A Companhia de Ferro Itatibense foi inaugurada em 1889. Com apenas 21 quilômetros de extensão, saindo de Louveira, possuía as estações de Luiz Gonzaga, Abadia e Tapera Grande. Esse diminuto trecho desenvolveu sobremaneira as duas cidades: Louveira e Itatiba. Com um coro bradando “Muito peso, pouca força; muito peso, pouca força”, os passageiros seguiam cheios de fuligem, porém felizes!

Companhia Carril Funilense

A Companhia Carril Funilense foi inaugurada em 1899, para o escoamento de produtos agrícolas e para o assentamento de novos colonos rurais, cujas fazendas se situavam entre Campinas e os então distritos de Paulínia e Cosmópolis, sendo ampliada anos depois até Conchal. Sua linha integrava ainda os loteamentos que mais tarde deram origem às cidades de Artur Nogueira e Engenheiro Coelho. A Funilense foi estratégica ao ligar o norte da região de Campinas com o porto de Santos e também no desenvolvimento, não só agrícola, mas tecnológico e social. Com a produtividade aumentando a passos largos nas fazendas produtoras de café e cana de açúcar, o transporte deveria ser mais ágil e menos dispendioso. Mulas, carroças e estradinhas de

terra nãos eram mais eficientes, principalmente diante do aumento substancial da demanda. A exportação do café crescia cada vez mais e exigia mais mão de obra. Ora, com o fim da escravidão, o governo do Brasil implantou programas de imigrações maciças, dando incentivos aos que aqui chegavam. O Estado de São Paulo, juntamente com os fazendeiros, seguiu esses programas porque eram a única saída para atrair mão de obra e conseguir abastecer o mercado internacional. Com mais pessoas imigrando, mais terras para a implantação dos denominados Núcleos Coloniais e, consequentemente, mais demanda interna, surgiu a necessidade de uma estrada de ferro na região.

Em 1924, sem conseguir sanar as dívidas com o investimento, a Carril Funilense foi incorporada pela Estrada de Ferro Sorocabana, administrada pelo Estado de São Paulo, sob o nome de “Ramal Pádua Salles”. A nova administração revitalizou os trilhos, construiu novas estações, e expandiu a malha para os núcleos coloniais Conde de Parnaíba e Visconde de Indaiatuba (hoje, Conchal), e Martinho Prado (hoje, Mogi Guaçu). Na década de 1960, com a implantação das rodovias, a Funilense foi desativada. Hoje, boa parte do traçado da antiga ferrovia é ocupada pela Rodovia Prof. Zeferino Vaz (SP-332).

Companhia Mogiana de Estradas de Ferro Inaugurada em 1875, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro foi uma realização da família Silva Prado, com Antônio de Queirós, José Estanislau do Amaral e o Barão do Tietê, José Manuel da Silva. O primeiro trecho, de 34 quilômetros, se estendia de Campinas até Jaguariúna, depois Mogi Mirim, com mais 7 quilômetros, Amparo, com mais 30 quilômetros, até chegar a Casa Branca, totalizando 172 quilômetros. Sua ampliação não parou por aí e seus trilhos alcançaram o Triângulo Mineiro e Poços de Caldas. Em suma, a Cia. Mogiana conseguiu a façanha de integrar quase dois mil quilômetros. Mesmo sendo uma potência – foi a primeira ferrovia a transpor o Rio Grande – seu declínio veio com a quebra da Bolsa de 1929 e, como todas as ferrovias, passou para o controle do governo do Estado de São Paulo, em 1952, e, 19 anos depois, foi incorporada pela FEPASA.

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CAMPINAS - Maria Fumaça da linha turística que liga Campinas a Jaguariúna. JUNDIAÍ- Complexo Fepasa, antiga oficina ferroviária da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. JACAREÍ - Pátio dos Trilhos (antiga estação ferroviária). ARTUR NOGUEIRA - Réplica da antiga estação ferroviária. CONCHAL - Antiga estação de trem fundada em 1912 pela Funilense. PAULÍNIA - Trem de carga dirigindo-se ao pátio da VLI Logística. COSMÓPOLIS - Trem trazido da Inglaterra no início do século XX. PAULÍNIA - Rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), cortada pela linha de trem da Rumo Logística.
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NAZARÉ PAULISTA - Rodovia D. Pedro I (SP-065): final de tarde na ponte sobre a Represa Atibainha.

RODOVIAS

Quando entramos em nossos carros ou embarcamos em um ônibus e seguimos por uma estrada asfaltada, com recursos de suporte aos viajantes, monitoramento por câmeras e, ao lado, belas paisagens, não imaginamos quanto de história, aportes financeiros, projetos desafiadores, utilização de tecnologia, mão de obra e uma pitada de sonho constitui o contexto de uma rodovia. Quando o interior do Estado de São Paulo foi desbravado, os primeiros caminhos utilizados foram as trilhas indígenas. Essas trilhas levaram os desbravadores a lugares inimagináveis, na época. Com o desenvolvimento da agricultura, da mineração e da colonização, o primeiro meio de transporte foi o de muares, carroças e cavalos, que perdurou por séculos. Desde a vinda da primeira leva de colonizadores, em 1532, até a abertura da primeira estrada, 260 anos se passaram até que, em 1792, o então governadorgeral da capitania, Bernardo José Maria de Lorena, pavimentou com pedras um trecho da Estrada Velha que ligava São Bernardo do Campo a Cubatão, conhecido como Calçada do Lorena. Passado mais um século, as estradas de ferro se transformaram no principal meio de transporte para cargas e pessoas, até que, em 1926, o então presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos, criou a Diretoria de Estradas de Rodagem com o objetivo de projetar, gerir e construir estradas. Em 1934, foi fundado o DER – Departamento de Estradas de Rodagem, subordinado à Secretaria de Estado dos Negócios da Viação e Obras Públicas, pelo interventor Armando Salles de Oliveira. Os primeiros projetos para a construção de estradas começaram em 1939, com os esboços da Via Anchieta (Santos/São Paulo) e da Via Anhanguera (São Paulo/Jundiaí), inauguradas em 1948 e 1949, respectivamente. No mesmo ano da inauguração da Via Anchieta, foi lançado, pelo DER, um projeto para integrar todo o interior paulista com a criação de Divisões Regionais: DR.1 – Campinas; DR.2 – Itapetininga; DR.3 – Bauru; DR.4 – Araraquara; DR.5 – Cubatão; DR.6 – Taubaté;

DR.7 – Assis; DR.8 – Ribeirão Preto; DR.9 – São José do Rio Preto; DR.10 – São Paulo; DR.11 – Araçatuba; DR.12 – Presidente Prudente; DR.13 – Rio Claro; e DR.14 – Barretos. Com as Divisões Regionais, a expansão e a construção de rodovias principais e suas vicinais foram feitas de forma acelerada e integrada, proporcionando o escoamento da produção em todos os cantos do Estado.

A primeira estrada construída na Divisão Regional de Campinas, DR.1, foi a Rodovia Vereador Geraldo Dias, que interliga Jundiaí, Louveira, Vinhedo e Valinhos, e o trecho entre Valinhos e Campinas, com o nome de Rodovia Visconde de Porto Seguro, conhecida como Estrada Antiga de Campinas. Em 1972, foi a vez da SP-065, a Rodovia D. Pedro I, que liga Jacareí a Campinas e, na sequência, as rodovias SP-332 – Professor Zeferino Vaz; SP-360 – Engenheiro Constâncio Cintra; SP-063 – Romildo Prado; e SP-083 – o Anel Viário José Roberto Magalhães Teixeira.

Curiosidades

Os nomes dados às rodovias são homenagens a vultos históricos ou a pessoas que, de alguma forma, fizeram a diferença, seja em âmbito nacional ou regional. No caso da SP-332, o Professor Zeferino Vaz foi um dos responsáveis pela construção da Unicamp, com o objetivo de reunir os mais brilhantes cientistas brasileiros em uma instituição de ensino. Já a SP-360 homenageia o engenheiro Constâncio Cintra, um amparense construtor da primeira ponte de concreto armado do Brasil e membro do Partido Republicano Paulista – PRP. Na SP-063, Romildo Prado foi diretor do jornal Progresso de Itatiba, criado em 1894. E o Anel Viário José Roberto Magalhães Teixeira faz uma homenagem ao dentista e político, prefeito de Campinas por dois mandatos nas décadas de 1980, pelo PMDB, e 1990, pelo PSDB. E, por fim, a SP-065 foi nomeada Rodovia D. Pedro I porque em 1972, quando foi inaugurada, o país comemorava os 150 anos da Independência do Brasil.

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CORREDOR DOM PEDRO

O Corredor Dom Pedro está situado em um dos mais importantes pontos de escoamento de produtos nacionais, ligando o Vale do Paraíba à Região Metropolitana de Campinas. É composto de cinco rodovias e três vias de acesso, que passam por dezessete cidades, perfazendo um total de 297 quilômetros.

Rodovia D. Pedro I – SP-065: Jacareí, Igaratá, Nazaré Paulista, Bom Jesus dos Perdões, Atibaia, Jarinu, Itatiba, Valinhos e Campinas.

Rodovia Romildo Prado – SP-063: Louveira e Itatiba.

Rodovia Engenheiro Constâncio Cintra – SP-360: Jundiaí e Itatiba.

Anel Viário José Roberto Magalhães Teixeira – SP-083: Campinas e Valinhos.

Rodovia Professor Zeferino Vaz – SP-332: Campinas, Paulínia, Cosmópolis, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Conchal e Mogi Guaçu.

SPA-122/065: acesso a Valinhos.

SPA-067/360: acesso a Jundiaí.

SPA-114/332: acesso ao distrito de Barão Geraldo, Campinas.

Programa de Concessões Rodoviárias do Estado de São Paulo Instituído em 1998, o Programa de Concessões Rodoviárias do Estado de São Paulo teve como objetivo modernizar as estradas do Estado, tornando-as mais seguras e confortáveis para os usuários. Para isso, ofereceu concessões à iniciativa privada para que esta investisse em melhorias e infraestrutura, um investimento alto de que o governo estadual não dispunha. As concessionárias, por sua parte, assumiram o compromisso de executar obras de implantação de novas rodovias, recuperação do pavimento, construção ou ampliação

de novas pistas, passarelas, serviços de atendimento médico e mecânico, além de investimentos nas áreas social e ambiental.

Concessionária Rota das Bandeiras

Em 2009, a Concessionária Rota das Bandeiras, que tem esse nome em homenagem aos desbravadores do interior paulista, recebeu a concessão do Governo de São Paulo para administrar o Corredor Dom Pedro por 30 anos, na segunda fase do Programa de Concessões Rodoviárias do Estado. De lá para cá, as exigências estipuladas foram concretizadas com recursos provenientes da arrecadação das praças de pedágio. A receita do pedágio é a base dos muitos investimentos aplicados nas rodovias, com destaque para as obras de modernização, ampliação e manutenção da malha, os serviços de apoio aos usuários, 24 horas por dia, sete dias por semana, e o custeio das atividades da Polícia Militar Rodoviária. Além disso, 5% da receita é repassada às prefeituras das 17 cidades da área sob concessão, e 1,5% à Agência de Transportes do Estado de São Paulo – ARTESP.

Programa de Investimentos da Rota das Bandeiras

Desde 2009, o Corredor Dom Pedro de rodovias já recebeu mais de R$ 2,8 bilhões de investimentos, com destaque para a remodelação dos trevos e implantação das marginais da Rodovia D. Pedro I (SP-065) na região de Campinas; a duplicação das rodovias Eng. Constâncio Cintra (SP-360) e Prof. Zeferino Vaz (SP-332), entre Engenheiro Coelho e Conchal; o prolongamento do Anel Viário Magalhães Teixeira (SP083), facilitando o acesso ao Aeroporto de Viracopos; a implantação da Perimetral de Itatiba, e a construção ou remodelação de 24 passarelas.

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COSMÓPOLIS - Nascer do sol na Rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332). Obras de reparo e manutenção. Posto de Serviço de Atendimento ao Usuário.

Infraestrutura

Diariamente, as rodovias do Corredor Dom Pedro recebem cerca de 450 mil veículos e 1 milhão de pessoas. Para garantir a segurança, a qualidade e o conforto da viagem de cada um desses usuários, a Rota das Bandeiras conta com uma equipe de cerca de 2,5 mil profissionais, entre integrantes diretos e indiretos. A partir de seu Centro de Controle Operacional (CCO), a Concessionária opera 91 câmeras de monitoramento e 11 painéis de mensagem variável, assim como coordena o trabalho nas seis bases do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) e o deslocamento de sete ambulâncias, sete veículos de inspeção de tráfego, guinchos leves e pesados, caminhões-pipa e de apreensão de animais. São cerca de 220 atendimentos por dia. Um trabalho incessante, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Programas

As ações da Rota das Bandeiras não se limitam ao cuidado com as rodovias do Corredor Dom Pedro. A Concessionária também atua para ampliar a qualidade de vida de 2,5 milhões de pessoas que vivem nos 17 municípios da área sob concessão, por meio de programas de responsabilidade social e segurança viária. O principal destaque é o programa “Rota da Educação”, que já beneficiou mais de 70 mil alunos da rede municipal com aulas de educação para o trânsito, mobilidade urbana, ética e cidadania, visando à construção de uma cultura de segurança viária. Também se destacam o programa “Parada Legal”, que oferece serviços gratuitos de segurança e bem-estar aos usuários em pontos itinerantes; a campanha “Por Cima do Risco”, de conscientização sobre o uso de passarelas, e o programa “Rota da Transformação”, que estimula ações de voluntariado entre os integrantes da Concessionária.

Responsabilidade ambiental

A gestão da empresa com responsabilidade ambiental, em todas as suas ações, é um compromisso da Rota das Bandeiras. Por isso, a Concessionária planeja suas atividades com foco tanto na preservação e na proteção do meio ambiente, como no desenvolvimento de políticas internas envolvendo seus colaboradores.

Todas as obras executadas respeitam rigorosamente as leis ambientais e visam contribuir para a recuperação e a recomposição da flora e da fauna do Corredor Dom Pedro. A cada árvore suprimida

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Viatura do Resgate. Equipamento e ferramentaria.

nas obras de modernização de suas rodovias, 25 novas mudas são plantadas pela Rota das Bandeiras. Assim, cerca de 400 mil mudas foram plantadas desde o início da concessão, em 2009. Mais do que simplesmente plantar e acompanhar o desenvolvimento das novas mudas, a Concessionária busca contribuir para que uma nova cultura de responsabilidade ambiental seja desenvolvida nas comunidades lindeiras. Por isso, também desenvolve atividades voltadas à educação ambiental com crianças e adolescentes.

A equipe da Rota das Bandeiras também é capacitada para desenvolver diariamente ações voltadas à preservação da fauna existente às margens do Corredor Dom Pedro e à proteção do solo e dos mananciais, em caso de acidentes envolvendo cargas perigosas. No caso específico da fauna, a Concessionária monitora constantemente possíveis áreas de risco para impedir atropelamentos e garantir a segurança dos usuários e também dos animais que vivem às margens das rodovias. Além disso, em todos os projetos para ampliação ou implantação de novas rodovias, está prevista a construção de passagens de fauna, conforme a necessidade indicada nos estudos ambientais.

A Rota das Bandeiras carrega ainda o lema dos três “Rs” em seu dia a dia: reutilizar, reaproveitar e reciclar. Todas as praças de pedágio instaladas a partir do início da concessão são providas de um sistema de captação de águas pluviais, destinadas a operações de limpeza. Além disso, a coleta do lixo é seletiva e “aqui jogamos o resíduo certo no lugar certo”.

Em 2015, as ações socioambientais desenvolvidas pela Rota das Bandeiras foram coroadas com a certificação do Selo Verde do Instituto Chico Mendes, que reconheceu o trabalho diário voltado ao meio ambiente e às comunidades do Corredor Dom Pedro.

Resultado

Todas as ações da Concessionária Rota das Bandeiras são pautadas pela excelência no atendimento aos usuários e às comunidades lindeiras e pelo respeito ao meio ambiente. É uma engrenagem que não para, com o objetivo permanente de proporcionar viagens mais seguras, ágeis e confortáveis a todos.

A consequência do profissionalismo envolvido no trabalho torna esse conjunto de rodovias um dos mais modernos da América do Sul.

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ITATIBA - Sede da Concessionária Rota das Bandeiras.
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VALINHOS - Famílias de biguás, adaptados ao ambiente urbano, chamam a atenção de quem visita o Centro de Lazer do Trabalhador (CLT). COSMÓPOLIS - Vista da Usina Ester, parte indissociável da história da cidade.

CIDADES

As cidades interligadas pela Rodovia D. Pedro I e suas vicinais foram fundadas no sentido litoral–interior, conforme iam chegando os colonizadores. O maior obstáculo era a Serra do Mar e, ao ultrapassála, as portas do planalto paulista foram abertas. Por muitos anos, o então Mato Grosso de Jundiahy permaneceu totalmente desconhecido. Quando se iniciou o movimento das bandeiras, essas terras, além de Jundiaí, começaram a ser exploradas para a captura de indígenas e a busca de ouro e pedras preciosas, e muitos desses desbravadores resolveram se estabelecer ao longo desses caminhos. Com a distribuição de sesmarias, fazendas foram fundadas e, já no século XVIII, com a transferência do cultivo do café do Vale do Paraíba para essa região, floresceram também os centros urbanos. Nas terras além de Campinas, as ferrovias e as colônias de imigrantes deram o impulso final para o desenvolvimento da região.

Antes, o que eram somente pequenas casinhas no entorno de uma capela, com três ou quatros ruas, transformou-se depois em cidades como Campinas, com população acima de 1,2 milhão de habitantes; outras, como Jacareí, Atibaia, Valinhos, Jundiaí, Itatiba, Paulínia, Cosmópolis, Artur Nogueira e Mogi Guaçu que variam entre 50 e 400 mil habitantes, representam essa evolução. Mas também há aquelas menores e com ótima qualidade de vida, como Igaratá, Nazaré Paulista, Bom Jesus dos Perdões, Jarinu, Louveira, Conchal e Engenheiro Coelho.

A média do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH dessas cidades é de 0,764, um dos mais altos do país, sendo que três cidades estão entre o terceiro e o trigésimo PIB do Estado de São Paulo.

As principais características dessas cidades são a mescla de urbanização com áreas rurais de grande produção agrícola. Essa mistura se reflete diretamente nas tradições e nos costumes, intimamente ligados com a história do crescimento do Estado, que floresceu com a economia cafeeira, os novos parques industriais e com investimentos públicos em infraestrutura e educação. Outro fator também foi fundamental: o turismo. Por oferecer diversos atrativos, como uma topografia acidentada, rica em rios, com igrejas centenárias, patrimônios preservados, museus, festas temáticas, áreas de preservação, pousadas, hotéis, estradas de excelente qualidade, aeroporto e muito próximas da cidade de São Paulo, essa região recebe um imenso número de turistas que a procuram com objetivos diversos e, em sua maioria, voltam pelas experiências vividas, principalmente o acolhimento dado pelos habitantes locais. Então, boa viagem!

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BOM JESUS DOS PERDÕES - Todos os caminhos levam ao Santuário. PAULÍNIA - Portal Colonial, um dos quatro portais temáticos da cidade. JACAREÍ - Capela do Avareí, elemento da memória afetiva da população. MOGI GUAÇU - Ponte de ferro sobre o Rio Mogi Guaçu, construída em 1878, inicialmente para a passagem dos trens da Companhia Mogiana. JARINU - A beleza de sua área rural. ARTUR NOGUEIRA - Balneário Municipal, um de seus cartões-postais. ENGENHEIRO COELHO - Lago Municipal, local para a prática de esportes e lazer. CONCHAL - Vista aérea da cidade e do agradável Parque Ecológico. JUNDIAÍ - Vista do prédio da Prefeitura a partir do Jardim Botânico. ATIBAIA - Parque Edmundo Zanoni. NAZARÉ PAULISTA - Ponte sobre a Represa Atibainha. LOUVEIRA - Igreja Nossa Senhora da Abadia (1950). CAMPINAS - Mercado Municipal (1908). ITATIBA - Em meio ao verde, a frequentada pista de atletismo do Parque Ferraz Costa. IGARATÁ- A represa é um marco transformador na história da cidade. COSMÓPOLIS - Prédio histórico e cultural dos imigrantes alemães, conhecido como Escola Alemã, foi construído na década de 1920.

IMIGRAÇÃO

A contribuição dos imigrantes ao desenvolvimento do Brasil foi enorme e fundamental. Desde a chegada dos primeiros africanos até a imensa leva de imigrantes europeus no século XIX, a sociedade brasileira foi tomando forma e delineando suas características únicas.

O interior do Estado de São Paulo, principalmente a região de Campinas, foi o maior produtor de café do mundo. Suas fazendas tiveram nos negros, oriundos do continente africano, a mão de obra escrava e, após a abolição da escravatura, o governo federal estimulou a vinda de europeus, principalmente italianos, espanhóis, alemães, além dos japoneses, com contratos que asseguravam trabalho nas fazendas produtoras do “ouro verde”.

Ao desembarcarem em terras brasileiras e se registrarem nas casas de imigração, esses imigrantes eram conduzidos diretamente para o interior. Os custos da viagem desde seus países até as fazendas eram subsidiados pelo governo brasileiro e pelo governo do país de origem. Porém, nem tudo ocorreu como planejado, pois muitos proprietários de fazendas não estavam habituados a trabalhar com pessoas livres e remuneradas. Além disso, o clima e as doenças tropicais foram problemas marcantes na adaptação desses novos trabalhadores.

Quando a crise do café chegou e seus proprietários, em sua maioria, faliram ou investiram em outros segmentos econômicos, muitos imigrantes puderam comprar parte das terras para assim colocar em prática o cultivo de suas antigas culturas; no caso dos italianos, a videira, e dos japoneses, a batata. Além da economia, esses imigrantes agregaram valores à formação da sociedade brasileira, nos hábitos alimentares, no vocabulário, na arte em todas as suas vertentes, no esporte e na indústria.

Em pouco tempo, houve total integração desses imigrantes e seus descendentes ao conjunto social brasileiro. Entre as décadas de 1950 e 1990, os grandes centros urbanos davam mais oportunidades de trabalho e de educação superior aos jovens e, com isso, muitos deles se desvincularam do trabalho ancestral de seus familiares. Porém, hoje é notório que esse fluxo se inverteu e muitos descendentes desses imigrantes se dedicam, se instruem, resgatam e somam novos valores aos antigos costumes de seus antepassados.

A agricultura de subsistência deu lugar a um comércio local, mais tarde regional, nacional e internacional. Tanto é que, dentre as cidades que compõem o Corredor Dom Pedro, muitas fazem parte do agora denominado Circuito das Frutas, como Atibaia, Jundiaí, Louveira, Jarinu e Valinhos. Aqui, a produção de uva, vinho, pêssego, morango, entre outras, está na rota de exportação.

Por essa valorização e esse resgate cultural, hoje podemos desfrutar de toda a cultura desses que trouxeram para cá seus sonhos e suas expectativas de dias melhores.

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MUSEUS

A história pode ser contada e revisitada de várias maneiras, e também pode ser representada e perpetuada em patrimônios arquitetônicos, elementos urbanos e, principalmente, em museus. Na realidade, na maioria das vezes, os museus guardam em seu acervo a história local. Cada inauguração de um museu reflete quanto aquele local é valorizado e interessado na preservação das memórias dos antepassados e dos acontecimentos que hoje refletem a sua realidade econômica e social.

Muitos museus surgiram bem antes de Cristo e, em locais especialmente construídos, abrigavam os conhecimentos adquiridos por uma civilização ou pelo espólio de civilizações conquistadas. Hoje, a percepção de um museu está na evolução da tecnologia e na interatividade do acervo com seus visitantes. Porém, mesmo os museus mais simples são extremamente importantes, pois reúnem um conjunto de peças às quais seus proprietários atribuíram valor em determinado momento. E essas mesmas peças, mobiliários, documentos, fotografias ou vídeos fizeram parte de um período específico, relevante para a localidade na qual o museu está inserido.

Nas cidades ligadas pelo Corredor Dom Pedro, encontramos vários estilos de museus e suas modalidades. Nesse microuniverso, encontramos apetrechos do cotidiano dos Barões do Café; em outro, toda a história de uma das principais companhias de estrada de ferro do Brasil; em outro, a história da imigração italiana contada pela cultura da uva, e assim por diante. Em cada um deles, uma história nos remete a outras que, juntas, explicam a realidade atual.

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JUNDIAÍ - O museu da Cia. Paulista resgata a história da ferrovia no Estado de São Paulo. CAMPINAS - O Museu da Imagem e do Som preserva o acervo da memória audiovisual da cidade. JUNDIAÍ - Museu Histórico e Cultural de Jundiaí - Solar do Barão. JACAREÍ - Museu de Antropologia do Vale do Paraíba - MAV. ITATIBA - Museu de História Natural do Zooparque. CAMPINAS - Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. ATIBAIA - Museu Municipal João Batista Conti. VALINHOS - Museu Municipal Fotógrafo Haroldo Ângelo Pazinatto. CAMPINAS - Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC). CAMPINAS - O Prédio histórico do Jockey Club Campineiro é considerado uma das Sete Maravilhas da cidade (1925).

ARQUITETURA

As construções, ao longo do desenvolvimento dos centros urbanos e das áreas rurais, refletem a cultura e os elementos estruturais de um povo. Essas edificações representam momentos relevantes da história local e da evolução de seus ciclos econômicos e sociais. As cidades que fazem parte do Corredor Dom Pedro preservaram grande parte desses edifícios, como as igrejas matrizes e as capelas; as fazendas, com suas casas-sedes, senzalas, tulhas e terreiros; os solares e palacetes dos Barões de Café e a riqueza da decoração de suas fachadas e interiores; as estações de trem, maiores ou menores, e suas dependências; os institutos e prédios públicos; e prédios com linhas mais contemporâneas.

Em todos esses exemplares, alguns tombados, outros não, foram utilizadas técnicas construtivas que atestam a evolução da construção civil. Nos primórdios da colonização e diante da pouca opção de matéria-prima, o uso da taipa de pilão, do adobe e do pau a pique formaram o estilo colonial. Na época da riqueza da cultura do café, com a importação de elementos decorativos, como o vidro, as tintas coloridas e os portões de ferro, surgiram o neocolonial e o neoclássico. Na metade do século XX, o concreto ganhou espaço definitivo, marcando o início do modernismo. Arquitetos anônimos ou grandes empresas, como a Ramos de Azevedo, assim como escultores, pintores e entalhadores, ergueram o país. Com suas mentes e mãos brilhantes, marcaram definitivamente a memória, a história e a identidade cultural brasileira.

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MOGI GUAÇU - Prédio da antiga cadeia, um dos mais antigos da cidade. VALINHOS - Casa do artista plástico Flávio de Carvalho, projetada em estilo modernista (1929). ATIBAIA - Solar Coronel Manoel Jorge Ferraz (1834). CAMPINAS - O prédio da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, construído em estilo colonial espanhol (1944). NAZARÉ PAULISTA - Escola Estadual Francisco Derosa (1944). JUNDIAÍ - Projetado por Ramos de Azevedo, hoje o edifício sedia o Centro Jundiaiense de Cultura Josefina Rodrigues da Silva (1896). JACAREÍ - Edifício que abrigou até o final de 1990, a Manufatura de Tapetes Santa Helena (1918/1931). MOGI GUAÇU - Grupo Escolar Mogy Guassú (1913). COSMÓPOLIS - Prédios antigos de armazenagem da Usina Ester. JUNDIAÍ - Museu da Cia. Paulista. ATIBAIA - Museu Municipal João Batista Conti. ITATIBA - Casa antiga em estilo colonial. JACAREÍ - Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. ARTUR NOGUEIRA - Réplica da Estação Ferroviária.
ARTUR NOGUEIRA

PAULÍNIA

CORETOS

O coreto é uma construção que ainda observamos nas cidades interioranas e que preservaram esse elemento urbanístico de grande importância até o fim da década de 1960. Ele guarda o romantismo do tempo em que as praças eram o ponto central dos eventos da sociedade. Sua arquitetura básica é composta de uma planta circular, elevada em alvenaria e com cobertura.

Alguns estudiosos apontam que o coreto nasceu na China e foi trazido para a Europa na época das Cruzadas. Outros sugerem que ele surgiu com os movimentos liberais europeus, no século XIX, como forma de democratização de espaços para oradores e apresentações musicais, para que a população pobre pudesse assisti-los; por isso, o formato redondo. O coreto foi um grande passo para parte da sociedade que, até então, vivia excluída das atividades artísticas restritas aos grandes salões, palácios e casas de ópera, como também para a política em si, pois vários pensadores ou líderes poderiam expor suas ideias aos menos favorecidos e assim desencadear movimentos locais. Esse espaço democrático se espalhou por toda a Europa e, em vários países, onde tinha significados distintos: na Itália, coretto significava “local de venda de tabaco, bebidas e jornais”; na Inglaterra (bandstand), na França (kiosque à musique) e na Espanha (quiosco de música), significava local de apresentação de bandas musicais.

No Brasil, com o início da instalação de povoados e vilas, o centro era, em sua maioria, composto de uma capela com um espaço aberto em frente, que hoje denominamos de praça. Nesse espaço, eram construídos chafarizes para o abastecimento de água, muito comuns até o fim do século XIX. Quando as praças começaram a receber obras de paisagismo, o coreto surgiu como elemento decorativo e tornou-se popular, com a função de oferecer entretenimento para a população e também servir de espaço para discursos políticos e transmissão de notícias importantes. A expressão “bagunçar o coreto” significa que alguém atrapalhou um acontecimento importante da cidade.

Na década de 1940, a popularização do rádio e suas radionovelas fizeram com que as pessoas ficassem mais em casa à noite e, uma década depois, com a chegada da televisão, o coreto foi relegado a segundo plano. Muitos coretos foram demolidos, ou “abafados”, nas praças dos grandes centros urbanos, porém, nas cidades interioranas, ainda são destaque na paisagem urbana e funcionam como antigamente. Nas cidades cortadas pelo Corredor Dom Pedro, encontramos muitos coretos, cada um com seus traços e cores, mas todos com o mesmo significado: unir a população.

ITATIBA

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RELIGIOSIDADE

Um dos pilares da colonização, não só do interior do Estado de São Paulo, mas em todo o Brasil, foi a fé dos que aqui se fixaram. Quando os primeiros colonizadores aportaram em São Vicente, em 1532, com a esquadra de Martim Afonso de Souza, trouxeram consigo a esperança de prosperar e ter, enfim, um lugar ao sol para crescer e dar às suas famílias, ou às que formariam, um local seguro e com menos sofrimento do que em seus países de origem. Porém, era um empreendimento de alto risco, fosse pelo clima, no caso do litoral, úmido e de intenso calor, dos animais selvagens e peçonhentos, fosse pela justificada animosidade dos nativos.

Apoiados em sua fé, esses desbravadores conseguiram se estabelecer. Não à toa, a construção de uma capela era o marco da criação de povoados e vilas. Mesmo isolados, entre as quatro paredes dos templos, não se sentiam sós ou abandonados. Havia sempre um ser altíssimo para acolher e confortar os desafortunados. A maioria desses templos é católica, pois foram os católicos, em grande parte portugueses e espanhóis, que iniciaram a colonização brasileira. Com a vinda dos africanos, e mais tarde dos imigrantes de nações protestantes, outros templos foram erguidos.

Hoje, quando visitamos as cidades que são cortadas pelo Corredor Dom Pedro, observamos templos de diversos tamanhos e arquiteturas diferentes, porém com o mesmo objetivo: proteger, ajudar, afastar o mal e congregar todos os que neles se refugiam.

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CAMPINAS - Capela Nossa Senhora da Boa Morte (1875). BOM JESUS DOS PERDÕES - Santuário do Senhor Bom Jesus dos Perdões. ATIBAIA - Igreja de Nossa Senhora do Rosário. COSMÓPOLIS - Igreja Matriz Santa Gertrudes. ARTUR NOGUEIRA - Paróquia de Nossa Senhora das Dores. CONCHAL - Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. JACAREÍ - Paróquia Imaculada Conceição. NAZARÉ PAULISTA - Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré. ENGENHEIRO COELHO - Igreja Matriz de São Pedro. MOGI GUAÇU - Igreja Matriz da Imaculada Conceição. LOUVEIRA - Igreja de São Sebastião. JUNDIAÍ - Catedral de Nossa Senhora do Desterro. IGARATÁ - Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio. VALINHOS - Paróquia de São Sebastião. PAULÍNIA - Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. ITATIBA - Basílica Menor de Nossa Senhora do Belém. JARINU - Paróquia de Nossa Senhora do Carmo.

CAPELAS E ERMIDAS

Inicialmente, as capelas eram as principais construções e, com o passar do tempo e o aumento populacional, foram reconstruídas e elevadas a igrejas. Outras tornaram-se santuários, pela grande procura de fiéis e suas romarias. Mesmo que a maioria tenha sido reformada ou expandida, ainda existem aquelas pequenas construções que permanecem nas estradas de terra, como as ermidas. Essas pequenas construções religiosas são o exemplo clássico da dispersão da população no início da colonização.

Outras capelinhas isoladas foram construídas em antigos sítios ou fazendas e, mesmo com sua venda ou desapropriação, elas permaneceram e, assim, ainda atraem muitas pessoas. Ao pararmos em várias delas, é comum ver velas acesas e lindas flores ornamentando seu interior, prova de que ainda cumprem seu papel espiritual e social. Não importa o tamanho, a localização, se é capela ou ermida, igreja ou santuário; o que realmente importa é a intensidade da fé e o conforto que se encontra ao entrar em um desses templos.

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NAZARÉ PAULISTA - Zona rural. PAULÍNIA - Zona rural.

FAZENDAS

As cidades unidas pelo Corredor Dom Pedro e suas vicinais possuem uma história rica, ligada à agricultura. Desde a época do desbravamento do interior paulista pelos bandeirantes em sua busca de ouro e pedras preciosas, foram se formando nos caminhos por eles percorridos, nos povoados que surgiam, pequenos pousos, armazéns e sítios para cultivo de sobrevivência. Esses sítios foram ampliados, principalmente pela atividade tropeira, que comprava os produtos cultivados para levar às minas de ouro. Além disso, a Coroa Portuguesa iniciou um projeto mais intenso de colonização do interior, permitindo a doação de sesmarias para que os contemplados pudessem plantar de forma regularizada, resultando em enormes fazendas. Os sesmeiros iniciaram as plantações de cana-de-açúcar, de algodão e, mais tarde, com o declínio da produção cafeeira no Vale do Paraíba, do café. Aqui, esse grão encontrou solo fértil e clima favorável para seu cultivo, o que impulsionou a economia, não só do Estado de São Paulo, mas do Brasil como um todo.

As fazendas foram as responsáveis por grandes fortunas e seus proprietários formaram a classe denominada “Barões do Café”. Os “barões” trouxeram modernização aos centros urbanos, abrigaram os imigrantes, construíram ferrovias, influenciaram a política e, mais tarde, com a queda dos preços do grão no mercado exterior, fundaram fábricas ou faliram. Com o passar do tempo, as grandes fazendas foram desmembradas e alguns de seus lotes ficaram nas mãos dos herdeiros, enquanto outros foram comprados pelos imigrantes. Determinadas fazendas preservaram a sede, as senzalas, os terreiros, as tulhas, as casas dos colonos e os alambiques. Algumas delas podem ser visitadas e até mesmo alugadas para eventos.

Onde o café reinou, deixou como legado a história impressa nesses gloriosos patrimônios históricos do grande ciclo econômico que elevou o Estado de São Paulo à condição de maior economia do país.

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ITATIBA - Uma fazenda centenária abriga o Hotel Histórico Fazenda Dona Carolina (1872). ATIBAIA - Fazenda Paraíso, importante atrativo turístico (1860). CAMPINAS - Fazenda das Cabras, no distrito de Joaquim Egídio (1820). JARINU - Fazenda Terra Brasil (1800). ITATIBA - Fazenda Pereiras, antiga produtora de café, hoje se dedica ao cultivo de verduras, legumes e frutas orgânicas (1840). JUNDIAÍ - Fazenda Nossa Senhora da Conceição (1810). JUNDIAÍ - Fazenda Ribeirão, na Serra do Japi (séc XVIII). ENGENHEIRO COELHO - Coudelaria do Sol.

HARAS

O cavalo é um dos animais mais belos e úteis do mundo e, além do cachorro, é o melhor amigo do homem. Desde os primórdios da civilização humana, quando aprendemos a domá-lo, o cavalo nos tem ajudado a habitar diversas regiões geográficas. Além de ser um excelente meio de transporte, também foi instrumento de guerra e indispensável na agricultura. Como exemplos históricos, temos o temível exército mongol e seus guerreiros, montados em ágeis cavalos, assim como os romanos e os egípcios em suas bigas.

O cavalo foi tão importante na construção dos impérios que os cavaleiros formavam uma classe nobre. Eram tão fundamentais que, na era das Grandes Navegações, as naus e as galeras os transportavam até os locais a serem dominados. Foi assim que, no Brasil, os primeiros cavalos chegaram, em São Vicente, na esquadra de Martim Afonso, em 1532.

Com o passar dos séculos, o homem aprendeu a desenvolver novas raças com o cruzamento de garanhões e éguas selecionadas. Desses cruzamentos, várias habilidades foram transmitidas e assim surgiram cavalos excelentes para vários segmentos.

Em todas as cidades do Corredor Dom Pedro, os haras são atrativos para os que amam esses animais. As raças predominantes criadas nessa região são os lusitanos, os mangalargas e os pampas. Os haras e as coudelarias, além de venderem seus plantéis, oferecem aos visitantes atividades como passeios, cavalgadas noturnas, aulas de equitação e tambor, equoterapia e hospedagem. A maioria dos haras possui uma excelente infraestrutura para que os visitantes possam passar um dia inteiro no local. É muito comum estarmos nas vias públicas e depararmos com uma fila de cavalos e seus cavaleiros e também muitas carroças. Um exemplo curioso, que enfatiza o amor da população pelos cavalos, é a cidade de Bom Jesus dos Perdões, que oferece aos romeiros montados um local especial para abrigar suas montarias.

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ARTUR NOGUEIRA - Haras ZR - Zezé Rodrigues. JACAREÍ - Haras Bonanza. ATIBAIA - Hípica Bonanza, Residencial Porto Atibaia. PAULÍNIA - Teatro Municipal Paulo Gracindo.

APARELHOS CULTURAIS

As manifestações artísticas são realizadas desde o início da humanidade. A arte é uma das expressões humanas que extravasa o tempo, as fronteiras e os locais físicos. Ela é universal e independente. Não possui limitações e tão pouco aprisionamento.

No Brasil, essas manifestações culturais aconteciam em praças, terreiros e estradas de terra. Os espaços específicos destinados a elas começaram a ser construídos a partir dos recursos oriundos do café. Teatros foram erguidos para produções maiores, como óperas e peças teatrais, porém apenas para a elite. Quando a sociedade brasileira começou a ser um pouco mais homogênea, os investimentos na expansão de espaços para a produção de eventos culturais aumentaram sensivelmente, principalmente nas últimas décadas.

Nas cidades que compõem o Corredor Dom Pedro, muitos desses espaços foram criados em edificações históricas restauradas que hoje são núcleos democráticos para manifestações de muitas vertentes artísticas e folclóricas, como é o caso da Fazenda Roseira, em Campinas, e das antigas estações ferroviárias. Além dos patrimônios históricos, foram construídos novos locais para a disseminação da arte. Muitos deles fizeram do próprio edifício uma forma de arte arquitetônica, em que simplesmente passar diante dessas estruturas já nos encanta, por sua suntuosidade, formas e cores. Exemplos não faltam, como o Theatro Municipal de Paulínia, onde se destaca a arquitetura grega da fachada, ou as linhas curvas do Educamais, em Jacareí. Os aparelhos culturais são elementos fundamentais para a expressão da cultura local, a disseminação e o aprendizado da arte.

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CAMPINAS - Teatro Municipal José de Castro Mendes. ITATIBA - Teatro Ralino Zambotto. ATIBAIA - Centro de Convenções e Eventos Victor Brecheret. JACAREÍ - Teatro Municipal Ariano Suassuna, dentro do Complexo Educacional Paulo Freire (Educamais Jacareí). LOUVEIRA - Plantação de uva niágara rosada.
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FRUTAS E FESTAS

O cultivo de frutas no interior do Estado de São Paulo, principalmente nas cidades que compõem o Circuito das Frutas, cortado pelo Corredor Dom Pedro e suas vicinais, tem sua origem na imigração. No início da colonização dessa região, eram produzidos o algodão, a cana-de-açúcar e o café, que reinaram por muitas décadas. Com a vinda dos imigrantes, principalmente os italianos, o cultivo da uva foi o marco para transformar as frutas em fonte de renda e atrativo turístico para essas cidades. Com a queda do valor do café no mercado internacional, provocada pela quebra da Bolsa de 1929, nos Estados Unidos, os produtores do grão tiveram de migrar para outros segmentos, como a indústria, e se desfizeram de grande parte de suas fazendas. Esse foi o momento em que os colonos puderam plantar com mais liberdade, conforme suas culturas ancestrais.

Na década de 1930, onde hoje é o município de Louveira, ocorreu uma mutação na uva niágara branca, e esta obteve uma coloração rosada. De sabor doce, essa nova uva niágara agradou o paladar de todas as regiões do Brasil. Desde então, essa variedade é o carrochefe da produção do Circuito das Frutas. Para homenagear essa fruta tão importante, foi realizada em Jundiaí a primeira festa tendo uma fruta como tema central. Daí por diante, a Festa da Uva entrou de vez no calendário oficial de várias cidades da região. Mais tarde, as produções de morango, caqui, goiaba, pêssego e figo também passaram a receber suas respectivas festas.

Hoje, o Circuito das Frutas é responsável por grande parcela da exportação desses produtos.

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ATIBAIA - Plantação de morango. JUNDIAÍ - Plantação de uva niágara. JARINU - Colheita de pêssego. JARINU - Plantação de atemoia. VALINHOS - Plantação de figo. MOGI GUAÇU - Plantação de maracujá-doce. VALINHOS - Plantação de goiaba roxa. ARTUR NOGUEIRA - Plantação de caju. ENGENHEIRO COELHO - Plantação de laranja. ITATIBA - Plantação de caqui. JUNDIAÍ - Plantação de café. ATIBAIA - Orquídeas na Flora Kusaba.

FLORES

As flores são um presente divino que a natureza nos proporciona com seus aromas, texturas, formas e até sabores diferentes. Grandes, pequenas, raras ou comuns, nos encantam e nos extasiam a cada florada.

Desde seu surgimento, ainda no período cretáceo (há 65 milhões de anos), elas embelezam o nosso planeta. Elas são mais antigas do que o homem, que só passou a cultivá-las em torno de 5.000 a. C., na Turquia, com o plantio de rosas. Por muito tempo, as flores foram divinizadas, como a flor de lótus, quando Buda lhe conferiu o símbolo de “o homem libertado de suas paixões”. Também foi motivo de uma espécie de “corrida ao ouro”, na Holanda, com o cultivo de tulipas (a primeira muda de tulipa plantada em solo holandês foi literalmente roubada, em 1593, de Karl Clusius, jardineiro austríaco renomado). As flores também traziam consigo estigmas, fruto de superstições culturais, como no Japão, onde um crisântemo era dado a uma possível noiva; caso o botão da flor não abrisse, a então pretendente não era considerada fértil e, assim, não seria pedida em casamento. O cultivo de rosas tomou forma no século II a. C., em Roma, onde eram tão valorizadas como as moedas de ouro e prata. Por isso, na Idade Média, a rosa era vista como símbolo do paganismo. Com o reconhecimento da Virgem Maria como divina, no século IV, a Santa recebeu o título de Rosa Mística, e assim essa flor retomou seu antigo status.

No Brasil de hoje, vários produtores cultivam diversas espécies de flores. Nas cidades do Corredor Dom Pedro, com grande destaque para Atibaia, podemos conhecer essas plantações que incluem desde orquídeas, bonsais e girassóis, até rosas e crisântemos.

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ATIBAIA - Crisântemos em estufa. ATIBAIA - Plantech Orquidário Takebayashi. JUNDIAÍ - Orquídeas da Vico Orquídeas. ATIBAIA - Bonsai. JUNDIAÍ - Vista da Serra do Japi a partir da Fazenda Ribeirão.

MEIO AMBIENTE

Apesar de todo o desenvolvimento industrial e agronômico da região leste e do Vale do Paraíba do Estado de São Paulo, podemos afirmar que, a partir da década de 1980, a conscientização e a preocupação com a preservação do meio ambiente resultaram na criação de muitas áreas protegidas e recuperadas pelos esforços do terceiro setor, do poder público e da população em geral. Hoje, várias áreas preservadas nos proporcionam lugares para conhecermos e, de forma consciente, desfrutar do ar puro, da vegetação densa, da observação de animais, e praticar muitas atividades físicas ao ar livre. Ao seguir o trajeto da Rodovia D. Pedro I, a partir da cidade de Jacareí, podemos conhecer:

APA Mananciais da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul

Criada em 1982, essa APA é constituída de Mata Atlântica e abrange 19 cidades, inclusive Jacareí e Igaratá. Ocupa uma área de quase 300.000 hectares. Aqui, muitos animais em risco de extinção encontram abrigo e proteção, além de preservar alguns mananciais que abastecem o importante rio Paraíba do Sul.

Sistema Cantareira

Apesar da criação de represas ser controversa, elas são fundamentais para a vida humana. As cidades de Igaratá e Nazaré Paulista são banhadas pelas represas Igaratá e Atibainha, respectivamente. Essas represas representam fonte de lazer e geração de renda para as cidades. Com a preocupação pela diminuição dos níveis dos reservatórios do Sistema Cantareira às quais pertencem, há uma forte mobilização pela preservação dos mananciais que abastecem esses reservatórios. E, ao preservarmos os mananciais, consequentemente,

estamos protegendo também toda a fauna e flora locais. Além disso, o contraste do verde com a azul das águas represadas forma uma paisagem linda e única.

Parque Estadual de Itapetinga

O Parque Estadual de Itapetinga possui uma área de 10.192 hectares e abrange quatro cidades, entre elas Bom Jesus dos Perdões, Nazaré Paulista e Atibaia. Sua vegetação é formada pela floresta ombrófila, pertencente ao bioma da Mata Atlântica, e abriga grandes recursos hídricos. O parque inclui dois grandes atrativos turísticos: o Monumento Natural Estadual da Pedra Grande, em Atibaia, e a Pedra do Coração, em Bom Jesus dos Perdões. A Pedra Grande é uma referência internacional para a prática do voo livre. Também podemos fazer muitas trilhas, admirar algumas cavernas e visitar o Rádio Observatório Pierre Kaufmann, conhecido como Rádio Observatório de Itapetinga.

Serra do Japi

A Serra do Japi está situada no município de Jundiaí e faz parte das Zonas Tampão da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. Essas denominadas “Zonas Tampão” estão localizadas nas áreas periféricas do Cinturão Verde de São Paulo e têm como objetivo garantir a proteção total dos ecossistemas que formam o núcleo desse Cinturão. Com isso, é possível preservar os mananciais; estabilizar o clima e amenizar os efeitos das ilhas de calor; filtrar o ar; proteger a biodiversidade e o solo, e tornar esses ambientes locais para atividades científicas.

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COSMÓPOLIS - Rio Jaguari. BOM JESUS DOS PERDÕES - Cachoeira do Barrocão.

Área de Relevante Interesse Ecológico Mata Santa Genebra

A antiga fazenda de café Santa Genebra era de propriedade do então Barão Geraldo de Rezende, localizada no atual distrito de Barão Geraldo e adjacências. Quando a fazenda foi a leilão, o senhor José Pedro de Oliveira a comprou e, depois de sua morte, seus herdeiros a desmembraram. A parte da viúva, senhora Jandyra Pamplona de Oliveira, foi doada ao município de Campinas e transformada em Área de Relevante Interesse Ecológico, no ano de 1981. A Mata Santa Genebra foi tombada dois anos depois pelo Condephaat. Sua gestão é compartilhada pela Fundação José Pedro de Oliveira e pelo ICMBio. É um lugar onde se realizam diversos trabalhos científicos.

Corredor das Onças

Implantado na Área de Relevante Interesse Ecológico do Matão de Cosmópolis, conecta as áreas de floresta do Matão de Cosmópolis e a Mata de Santa Genebra por meio de corredores verdes, nas cidades de Cosmópolis e Artur Nogueira. O objetivo é fazer com que os animais transitem sem o perigo de serem atropelados e evitar a aproximação deles nos centros urbanos e nas áreas rurais. Esses corredores estão preservados nas matas ciliares dos rios Pirapitingui, das Pedras e Atibaia.

O sucesso desse projeto se deveu a participantes, como os produtores e os proprietários das terras, que entenderam a sua importância na preservação da fauna e da flora locais.

Rios

As cidades de Paulínia, Cosmópolis, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Conchal e Mogi Guaçu são privilegiadas por possuírem muitos rios e ribeirões em seu território. Esses cursos d’água, além de abastecerem a agricultura e os centros urbanos, oferecem subsistência à fauna e à flora da região, além de proporcionarem áreas de lazer e refúgios naturais, como represas e lagoas. Alguns locais são visitados diariamente, como o Mini Pantanal, em Paulínia; a represa do rio Pirapitingui, em Cosmópolis; a Lagoa dos Pássaros, em Artur Nogueira; o Parque Ecológico Wilson Lozano, em Conchal, e o Parque dos Ingás e a barragem do rio Mogi Guaçu, em Mogi Guaçu.

Essas iniciativas fortalecem o vínculo do homem com a natureza e nos beneficiam em vários sentidos. O fundamental é ter em mente que o desenvolvimento sustentável só acontece quando alinhamos os interesses econômicos à preservação do meio ambiente.

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ATIBAIA - Represa Usina de Atibaia.
JARINU - Área Rural.
BOM JESUS DOS PERDÕES - Pedra do Coração. IGARATÁ - Pôr do sol na represa. ITATIBA - Área rural. PAULÍNIA - Mini Pantanal, área de preservação com 32 km², às margens do rio Atibaia, localizado no Parque da Represa.

FLORA

A rica Mata Atlântica que, séculos atrás, reinava e formava um enorme tapete em grande parte da região leste e do Vale do Paraíba no Estado de São Paulo, hoje está concentrada em algumas “ilhas” verdes que se tornaram áreas de preservação ambiental. Muitas espécies de vegetais foram à extinção e outras estão à beira. Quando temos a oportunidade de entrar em contato com a natureza e nos embrenhar nesses lugares, conseguimos entender os ecossistemas e seu equilíbrio. Nada está fora do lugar e tudo tem um propósito. Essa noção nos dá respaldo para compreender a relevância desses locais para o bem de nossa própria sobrevivência. Dessa forma, podemos assistir ao grande espetáculo das árvores crescerem, florirem e frutificarem.

O bioma da Mata Atlântica é composto de várias espécies de árvores, arbustos, trepadeiras, gramíneas, suculentas e flores. Entre as diversas árvores estão o ipê, o pau-jacaré, a paineira, a copaíba, o angico, o cedro, o jequitibá, o pau d’alho, a peroba-rosa e a quaresmeira. Entre as flores estão as orquídeas, as bromélias, as begônias, o antúrio, as helicônias e as endêmicas do Monumento Estadual da Pedra Grande: amarílis vermelha e cactácea rhypsalis spinescens.

Mesmo não sendo do reino vegetal, os fungos também compõem uma cena maravilhosa na floresta e são fundamentais na decomposição e na formação de matéria orgânica que é um rico alimento paras as plantas e para os animais. Há também os complexos líquens, que são em parte fungo e em parte vegetais, e dão um colorido especial aos troncos das árvores a que aderem.

A natureza é o bem mais precioso do planeta Terra e o jardim de nossas casas. Para que tenhamos sempre essas belas paisagens, basta conhecê-las, entendê-las e amá-las.

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Flor-camarão amarela Pluma flor brasileira Primavera Helicônia-papagaio
Amarílis
Agapanto Flor-camarão
Íris
Bromélia Hibisco Helicônia Mulungu Graxaim

FAUNA

A fauna da região leste e do Vale do Paraíba do Estado de São Paulo é rica e diversa. Com as inúmeras iniciativas de preservação do meio ambiente e com a criação de áreas de conservação e a conscientização da população em geral, os animais estão conseguindo sobreviver às ameaças representadas pelo desenvolvimento humano.

Nessas duas regiões, encontramos uma variedade de felinos, primatas, répteis, insetos, cervídeos, aracnídeos e aves. Dentre os animais de grande porte, podemos destacar a jaguatirica e a onça-parda que, no passado, foram amplamente caçadas por representarem perigo para os animais das fazendas e pelo valor de suas peles, e hoje são protegidas e estudadas por vários projetos do ICMBio.

Os primatas são aqui representados pelo macaco-bugio, o macacoprego e, com risco de extinção, o sagui-da-serra-escuro. Outro animal interessante que encontramos é o cateto, também conhecido como porco-do-mato por se assemelhar ao javali.

Quando falamos em répteis, as cobras e os lagartos são os grandes atrativos. As cobras cascavel, jararaca, coral-falsa, coral, caninana, cipó, entre outras, criam um colorido perigoso, porém belo, entre o solo, os ribeirões e as árvores. Entre os lagartos, o teiú é muito comum de ser encontrado e muitas vezes invade os jardins das casas.

Outros invasores de jardins são os insetos. São milhões deles e cada um com sua função nos ecossistemas, mas, a título de ilustração, destaquem-se as borboletas, as formigas lava-pés, as joaninhas e a temida abelha preta, a mamangava. Em meio aos campos e entre as árvores, com sua graça e leveza, lá está o veado-campeiro, comendo gramíneas e sempre atento ao perigo de predadores. E, entre folhagens caídas e troncos de árvores estão as aranhas, como a lenta caranguejeira, a rápida aranha-armadeira e a famosa aranha-marrom. E não podemos esquecer os pássaros, mas esses merecem uma seção à parte.

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Macaco-prego Veado-catingueiro Lobo-guará Sagui
Tamanduá-bandeira
Jabuti Onça-parda

Saíra-de-chapéu-preto

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PÁSSAROS

Assim como as flores, os pássaros se destacam em meio ao verde das matas. O silêncio da vegetação é interrompido pelo seu canto e o céu é preenchido por voos rasantes ou balés sincronizados.

O Brasil abriga uma quantidade significativa de pássaros que atraem pessoas do mundo inteiro para observá-los. De tamanhos distintos, alimentam-se de sementes, insetos, carniças e até filhotes de outras espécies de animais.

Dentre as espécies encontradas, destaque para o urubu-rei, o canárioda-terra, o jacu, o tucano, o sanhaço, a andorinha, a coleirinha, o bem-tevi, o beija-flor, a coruja, o carcará, a maritaca, o periquito, a tesourinha, o quero-quero, a siriema, o tico-tico, a saíra, o gavião-marrom, o sabiá, o pica-pau, a saudade, a jacutinga, a tiriba, o gavião-carijó, o murucututupequeno (coruja), o urutau, o araçari-poca, a maria-leque-do-sudeste, a juruva-verde, o tangarazinho, o tiê-sangue e o matracão.

Nos centros urbanos, é comum a “visita” de alguns pássaros que já se habituaram à presença do homem, como o bem-te-vi, a maritaca, o urubu, o beija-flor e o sabiá. Outras aves se embrenham na floresta e, esquivas, conseguem se camuflar perfeitamente, como as siriemas. E, ao cruzar um extenso gramado, cuidado com o ninho do quero-quero, que não se intimida e ataca qualquer um que chegar perto de sua cria.

Graças às pesquisas realizadas em campo, hoje conhecemos a maioria das aves e seus hábitos, conseguimos preservar seus habitats e, da caça, evoluímos para a observação de pássaros e borboletas.

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Filhote de beija-flor Sanhaçu-do-coqueiro Tiê-sangue Saíra-sete-cores Sabiá-laranjeira Coruja-buraqueira
Saíra-preciosa
Beija-flor Preto-soldado Coruja-das-torres Arara-canindé Filhote de bem-te-vi Pica-pau-branco
Urubu-rei
Tucano Carcará Caligo (olho-de-coruja) Danaus Dryas iulia Methona (borboleta-do-manacá) Ascia monuste Borboleta-estaladeira

PARQUES

Embora as cidades do Corredor Dom Pedro estejam rodeadas de verde, os parques construídos nos centros urbanos dessa região são uma excelente opção de lazer. Além de acessíveis, contam com uma infraestrutura pensada para proporcionar atividades diversificadas, com pista de corrida, campos de futebol, ciclovias, playgrounds, lagos para pesca, quiosques, aparelhos de ginástica, pedalinhos, entre outros equipamentos.

Um dos maiores é o Parque da Cidade, em Jundiaí, com suas pistas de automodelismo e aeromodelismo e onde são ministradas aulas de caiaque. Outro, também chamado Parque da Cidade, está em Jacareí e ocupa a histórica área da antiga Estrada de Ferro do Norte. Também em área histórica está o Parque Municipal Ferraz Costa, na antiga propriedade de Ferraz Costa, em Itatiba. Em Campinas, o Parque Portugal está na área da antiga fazenda cafeeira Taquaral. Outro é o Parque Edmundo Zanoni, que recebe a Festa das Flores e do Morango, em Atibaia. Os que aproveitaram os elementos naturais já existentes são o Parque Ecológico Wilson Lozano, em Conchal, e o Parque Ecológico, em Paulínia.

Os parques, em sua maioria, são locais para grandes festividades e shows. Também abrigam feiras temáticas e recebem eventos culturais e oficinas. Esses “oásis urbanos” são lugares perfeitos para a prática de atividades físicas e garantir a diversão do público

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JUNDIAÍ - Mundo das Crianças, espaço destinado à preservação ambiental, ao aprendizado e à diversão, focado nas crianças. PAULÍNIA - Parque Zeca Malavazzi (Parque José Maria Malavazzi), referência de lazer na cidade. ITATIBA - Zooparque. CONCHAL - Parque Ecológico Prefeito Wilson Lozano. CAMPINAS - Parque Portugal, popularmente conhecido como Lagoa do Taquaral VALINHOS - CLT (Centro de Lazer do Trabalhador Ayrton Senna). JUNDIAÍ - Parque da Cidade. ITATIBA - Parque Luís Latorre (Parque da Juventude).

JARDINS BOTÂNICOS

Os jardins botânicos se diferenciam dos demais jardins por especificidades e objetivos que ultrapassam o paisagismo. Esses locais reúnem coleções de relevância na flora local e são destinados a estudos e à preservação ambiental.

O maior jardim botânico do mundo, inaugurado no século XVIII, é o Royal Botanic Gardens, em Kew, na região de Londres, Inglaterra. O primeiro jardim botânico brasileiro foi fundado por D. João VI, na cidade do Rio de Janeiro, em 1808. E o mais antigo do mundo ocidental de que se tem relato foi o Jardim de Teofrasto, de 370 a. C., em Atenas, Grécia.

Por se tratar de um espaço científico, para um jardim conseguir o título de “botânico”, foram estabelecidas regras e normas, no mundo e no Brasil. As exigências são muitas: as coleções de plantas vivas devem ser reconhecidas, documentadas, identificadas e organizadas para estudos, documentação e pesquisas, compondo assim um patrimônio florístico. Também devem estar acessíveis ao público com o objetivo de educar e preservar o meio ambiente. As coleções devem ser protegidas com o uso de tecnologias para o cultivo de espécies raras, exóticas, silvestres e em perigo de extinção.

Devem ter bancos de germoplasmas e reservas genéticas e, de forma sistemática, fazer registros e documentação sobre o acervo vegetal para a promoção de conhecimentos entre as várias esferas. No Brasil, a criação de um jardim botânico deve ser registrada no Ministério do Meio Ambiente, o qual será o responsável pela fiscalização dos compromissos assumidos. Diante destas e de outras responsabilidades que um Jardim Botânico assume, quando visitamos um deles, não temos a noção exata do trabalho científico e técnico realizado em seu interior e muitas vezes fora de sua área física.

Entre as cidades que compõem o Corredor Dom Pedro, Jundiaí e Paulínia lutaram para conseguir um espaço tão valioso e primordial, ao se comprometerem a cumprir todas as normativas impostas e oferecer ao público e à sociedade um serviço de excelência, não apenas na exposição e na disposição das coleções, mas também na preservação da flora local.

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PAULÍNIA - Jardim Botânico Municipal Adelmo Piva Júnior. JUNDIAÍ - Coleção de cactos e suculentas no Jardim Botânico. JUNDIAÍ - Espaço África no Jardim Botânico.

ESPORTES

Entre montanhas e planícies, as cidades que compõem o Corredor Dom Pedro contam com áreas perfeitas para a prática de esportes, principalmente os de céu aberto.

Do tradicional futebol profissional, com os times campineiros Guarani e Ponte Preta, até a nova modalidade do birdwatching, tanto moradores como visitantes podem se exercitar e se aventurar.

Em Atibaia, onde os imigrantes japoneses exercem forte influência, a prática do beisebol, do softbol, do kendo, do judô e do gateball revelaram nomes e ganharam títulos nacionais e internacionais.

Quanto a pistas, os kartódromos com seus circuitos bem elaborados, em Atibaia, Campinas e Valinhos, são muito procurados e oferecem dias de competições acirradas. Já para os que curtem uma aventura em campo aberto, as estradas de terra, cheias de obstáculos, subidas e descidas, fazem a cabeça dos amantes do 4x4 e do mountain bike. Para os que amam desfrutar a natureza com calma e conhecer todos os seus meandros, há muitos lugares para a prática do cicloturismo e do trekking. Saindo da terra e indo para o ar, o balonismo oferece viagens marcantes. E, para os mais “adrenalizados”, a Pedra Grande, uma das melhores rampas das Américas, proporciona aos praticantes do voo livre o lugar perfeito para suas manobras, em Atibaia.

Um dos diferenciais dessa região é que, em grande parte das cidades, o ar é considerado de extrema qualidade. Então, vale a pena respirar fundo e enfrentar os desafios.

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ATIBAIA - Paragliders na Pedra Grande. ATIBAIA - Paraglider na Pedra Grande. BOM JESUS DOS PERDÕES - Campo de Beisebol “Estádio Takeo Tsuji”. PAULÍNIA - Kartódromo Internacional San Marino. ATIBAIA - A região do Corredor Dom Pedro conta com pistas especializadas e diversas trilhas para os amantes do motocross. BOM JESUS DOS PERDÕES - Pedra do Coração. Para quem curte um 4x4 contemplativo, a região oferece inúmeros passeios. PAULÍNIA - Pescadores no Mini Pantanal. NAZARÉ PAULISTA - Competição de natação na Represa Atibainha. PAULÍNIA - Ciclistas no Mini Pantanal. JUNDIAÍ - Caminhada em trilha na Serra do Japi. CAMPINAS - Centro de Treinamento de Campinas do Jockey Club de São Paulo.
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Café da manhã colonial: um dos atrativos do turismo rural mais procurado por moradores e visitantes.

AROMAS E SABORES

No início da colonização brasileira, os que aqui aportaram para reconstruir a vida tiveram como referência os conhecimentos indígenas para se alimentar. Pescados, mandioca, frutas, algumas ervas e animais de caça compunham a alimentação básica dos litorâneos. Com os anos e o desbravamento do interior, a agricultura se desenvolveu melhor, graças a um solo mais rico. Assim, os tubérculos, a cana-deaçúcar, os grãos e alguns animais, como galinhas e porcos, foram introduzidos aos poucos. Os pratos ganharam mais diversidade e o modo de prepará-los, também. Com a chegada de africanos, europeus e japoneses, mais ingredientes foram para a panela.

O intercâmbio dos produtos era feito pelos tropeiros que conseguiram, por exemplo, levar a bananada de Santos para Campinas e os embutidos de Jundiaí para Jacareí. Nesse ziguezague, a culinária típica brasileira foi formando sua personalidade. Hoje, apesar de a indústria de alimentos conquistar os quatro cantos do país, nas cidades que compõem o Corredor Dom Pedro podemos encontrar ingredientes e pratos caseiros e, muitos destes, preparados da mesma forma há séculos. Um dos destaques são os doces portugueses, as compotas e as geleias, assim como os vários tipos de cogumelos e temperos. Também os embutidos e o mel. E os pratos típicos de fazenda, elaborados em fogões a lenha, além das sobremesas, completam o roteiro gastronômico.

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Frutas desidratadas, sabores saudáveis. A fruta como ingrediente principal de doces. Com as famosas geleias, das artesanais às industriais, a região é referência na sua produção. Frutas cristalizadas, mais do que uma antiga forma de conservação, são uma delícia da cultura gastronômica apreciada por muitas pessoas. Os apicultores da região estão entre os mais qualificados do país. Os doces portugueses produzidos na região fazem parte da memória afetiva de seus munícipes. A produção de cogumelos de qualidade alavanca o turismo rural na região.

ALAMBIQUES

Os alambiques são o símbolo do primeiro ciclo econômico do Brasil. Introduzida no início do século XVI, a cana-de-açúcar foi o marco agrícola inicial. A experiência portuguesa no cultivo dessa cultura na Ilha da Madeira, em São Tomé e Príncipe, nos Açores e em Cabo Verde foi fundamental para o sucesso de sua adaptação em solo brasileiro.

A cana foi tão importante que a produção do açúcar conseguiu cobrir parte dos custos da colonização. O primeiro engenho, construído na então Vila de São Vicente, foi denominado Engenho dos Erasmos.

A partir daí, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro também começaram a produzir açúcar e o Brasil se tornou o maior exportador do produto para o mercado europeu. E, como sabemos, foi a partir dessa produção que surgiu a brasileiríssima cachaça.

As cidades do Corredor Dom Pedro possuem inúmeros alambiques, uns mais sofisticados, outros mais rústicos, e alguns ainda em seu lugar de origem em antigas fazendas.

Fruto de uma cultura secular, são repletos de história e tradição e representam um dos produtos brasileiros mais apreciados no mundo. Talvez, tão interessante quanto saborear as cachaças, seja conhecer onde são fabricadas. Além de podermos degustar os vários sabores, o local do alambique serve muito para “um dedo de prosa”. Conversa vai, conversa vem, o copo sempre estará cheio.

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ATIBAIA - Alambique Fazenda Paraíso. JARINU - Alambique Ferrara. LOUVEIRA - Sítio Registro. ITATIBA - Alambique da Fazenda Dona Carolina. ENGENHEIRO COELHO - Alambique de cobre da destilaria de gim Draco, na Fazenda Santo Antônio.

A quantidade e a qualidade das cervejas da

região já justificam a criação de um roteiro para o turismo cervejeiro.

CERVEJARIAS ARTESANAIS

A cerveja é uma das bebidas mais antigas feitas pelo homem. Resultado de uma fermentação acidental, no tempo em que o homem iniciava suas habilidades na doma dos alimentos, até se tornar a bebida mais consumida no mundo, a cerveja é símbolo de alegria, lazer e descontração. Porém, na Europa da Idade Média e nos primeiros anos da era Moderna, a cerveja era tomada principalmente porque filtrava a água, pois, nos centros urbanos, rios e córregos funcionavam como esgoto. Um dos principais fabricantes de cerveja eram os monges trapistas. Como esse líquido era literalmente bebido como água, muitos queriam fabricá-lo, e os resultados não poderiam ser piores, pois misturavam tudo o que encontravam para baratear a produção. Isso aconteceu até o ano de 1516, quando o duque Guilherme IV, da Baviera, promulgou a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza da Cerveja, que estipulava os ingredientes certos para seu preparo: água, lúpulo e malte de cevada. Essa lei é considerada uma das mais antigas sobre alimentação do continente europeu. Depois disso, as cervejas foram se aprimorando até chegarmos à excelência das atuais.

A partir da década de 1980, após as grandes fábricas dominarem o mercado, muitas pessoas iniciaram estudos sobre a fabricação artesanal desse produto milenar. Em consequência, nas cidades do Corredor Dom Pedro, foram abertas muitas cervejarias de grande sucesso. Em alguns lugares, como Jacareí, que recebeu o epíteto de “Capital da Cerveja”, existem inclusive associações.

A ciência do preparo da cerveja é tão ampla e fascinante, desde sua história até os elementos utilizados, que todo cervejeiro é, no fundo, um alquimista.

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ADEGAS

As adegas estão intimamente ligadas aos imigrantes italianos que começaram a chegar ao Brasil na segunda metade do século XIX. Apesar da presença dos excelentes vinhos portugueses e espanhóis desde o início da colonização, foram os italianos que desenvolveram em escala comercial o cultivo da uva e seus derivados. Esses imigrantes, conhecedores profundos da viticultura, aplicaram toda a história e tradição de suas origens na fabricação do vinho.

Como no caso dos alambiques, as adegas vão de rústicas a sofisticadas, todas com excelente qualidade, tanto é que o vinho escolhido para o Papa João Paulo II, em sua visita ao Brasil em 1980, veio da região.

Muitos fatores foram decisivos para tanto sucesso: primeiro, o conhecimento do cultivo da uva; segundo, o solo propício; terceiro, o clima; quarto, a altitude mais elevada que no litoral; e, quinto, a capacidade de comercialização e modernização na relação entre produtores e consumidores. Quando entramos numa adega, nos sentimos em casa, diante do tratamento dispensado aos visitantes.

Além disso, podemos degustar vários tipos de vinho, acompanhados de acepipes fantásticos. Sentimo-nos acolhidos nos braços de nonos e nonas de tão pitoresca e agradável que é a experiência. Sem falar que é muito comum ouvirmos casos e histórias que vão longe, quando os cicerones percebem que você é curioso e quer conhecer mais sobre a vida de seus antepassados.

As adegas são o retrato mais fiel do sucesso e da integração dos imigrantes italianos em terras brasileiras.

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LOUVEIRA - Produção de uva, vinho e sucos da Vinícola Micheletto. JUNDIAÍ - Família Fontebasso. JUNDIAÍ - Família Brunholi. JUNDIAÍ - Espaço Cultural Museu do Vinho. ATIBAIA - Nardini Vinhos. LOUVEIRA - Produção de uva em zona rural.

PRODUÇÃO CULTURAL

Com paisagens lindíssimas e uma rica história, as cidades que fazem parte do Corredor Dom Pedro reúnem muitos elementos para que seus moradores se inspirem e se transformem em grandes artistas. Há também os que escolheram viver aqui e montar seu ateliê, proporcionando assim mais prazer e diversidade para os admiradores de arte.

As influências históricas são manifestadas de muitas formas, como nas danças e nas lutas de origem africana, e em danças folclóricas como a congada, trazidas pelos portugueses, as quais foram e são retratadas em pinturas, esculturas e até em tapetes. Os japoneses oferecem arranjos florais como o ikebana, uma cerâmica requintada, e grupos de taiko. Indo além das influências históricas, diversos escultores, pintores, caricaturistas, fotógrafos, atores, muralistas e músicos transformam o cotidiano com cores, indagações, reflexões, abstrações, usando muita criatividade e imaginação. São artistas que encontraram aqui o espaço certo onde expor, apresentar e desenvolver suas produções.

Não importa o tamanho das cidades: todas possuem uma ampla gama de atrativos culturais, em que a valorização da arte é levada a sério e entendida como uma forma de desenvolvimento do potencial humano.

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ITATIBA - Atelier do artista plástico Leonardo Dogh. JUNDIAÍ - Atelier da artista plástica Alice Vilhena. ARTUR NOGUEIRA - Alunas de violino do “Projeto Retreta”. MOGI GUAÇU - Oficina de bonecas oferecida pela Secretaria de Cultura. CAMPINAS - Obra em papel machê de Natasha Faria. JARINU - Centro Cultural Tao Sigulda. ATIBAIA - Ceramista Shugo Izumi. VALINHOS - Obra de João do Monte.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

C a m i n h o s c u l t u r a i s : C o r r e d o r D o m P e d r o - -

S ã o P a u l o , S P : K m M a r k e t i n g C u l t u r a l ,

I S B N 9 7 8 - 6 5 - 9 9 0 7 8 0 - 4 - 0

1 C o r r e d o r D o m P e d r o - F o t o g r a f i a s 2 C o r r e d o r D o m P e d r o - H i s t ó r i a 3 . E s t r a d a s - B r a s i lF o t o g r a f i a s .

Índices para catálogo sistemático:

1 C o r r e d o r D o m P e d r o : F o t o g r a f i a s : B r a s i l

7 7 9 . 9 9 8 1

E l i e t e M a r q u e s d a S i l v a - B i b l i o t e c á r i a

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Editora KM CULTURAL

Edição

ANA LÚCIA F. DOS SANTOS THABATA DE ANDRADE ALVES

Textos RENATA WEBER

Fotografia

MÁRCIO MASULINO ALVES

Tratamento de Imagem THIAGO DE ANDRADE

Projeto Gráfico MÁRCIO MASULINO ALVES

Revisão SILVIA MOURÃO

Impressão MAISTYPE

2 1 - 8 7 4 1 6 C D D - 7 7 9 9 9 8 1
2 0 2 1
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- C R B - 8 / 9 3 8 0 162
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