Projetil 58

Page 17

17 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

Super Cérebros Quando habilidade é confundida com deficiência

Fabrício Barbosa Larissa tem 12 anos e está no sétimo ano escolar. Vai para a escola pela manhã e à tarde vê televisão ou brinca na casa de suas amigas. É muito comunicativa, se relaciona bem com todos e vive feliz com a sua família. Uma criança igual a todas as outras, mas com uma característica especial: ela é superdotada. Apesar disso, Larissa não tem nada a ver com a figura típica dos “nerds”, tidos como pessoas retraídas, que vivem escondidas atrás de livros, óculos gigantes e aparelhos dentais. Pelo contrário, Larissa é uma das mais “populares” de sua turma, sempre rodeada por amigos. Ao contrário do que muitos imaginam, os alunos superdotados não são deficientes e apresentam as mesmas características mentais, sociais, emocionais e físicas de outros alunos da mesma idade, e isso os torna nem sempre facilmente identificáveis. A diversidade de características que podem ser apresentadas pelo superdotado, tais como habilidades psicomotoras, artísticas, traços de criatividade e senso de liderança, implica na necessidade de utilizar os mais diversos recursos para a identificação. “Nunca pensei que o fato de minha filha ser muito comunicativa e ter espírito de liderança poderiam ser características da superdotação”, conta Neusa, mãe de Larissa. A dificuldade na identificação de alunos superdotados também se deve ao despreparo dos educadores. “A formação do professor é deficiente. Ele não é treinado para olhar e mapear os interes-

tir de então, iniciar o atendimento dos ses, estilos de aprendizagem e haalunos superdotados dentro da própria bilidades do aluno”, afirma a escola, porém sem descartar os atenpesquisadora Jane Chagas, do dimentos extra-escolares, para o aperInstituto de Psicologia da Univerfeiçoamento das habilidades e necessisidade de Brasília(UnB). dades particulares de cada um. A superdotação é, na verNo entanto, segundo Nilcemar dade, uma predisposição genétiMartins, diretora da Escola Estadual ca. Todos os tipos de superdoCoração de Maria, não é bem isso que tação e talento correspondem a acontece na prática. Nilcemar conta que características psicológicas e a haa escola onde trabalha só começou a bilidades que estão sempre muser atendida pelo NAAH/S em 2007. dando. Essas características exisHoje, um aluno já foi identificado cotem em diferentes intensidades, mo superdotado e outros quatro esem todas as pessoas, variando de tão realizando acompanhamento junuma para outra. Até mesmo entre os to ao núcleo. Contudo, ainda há muito superdotados existem diferenças de a ser feito. A diretora relata que quanperfis. Um aluno pode demonstrar do o primeiro aluno foi identificado, grande aptidão com máquinas e não houve uma conscientização entre tecnologia, enquanto outro se destaca os outros alunos sobre a superdotação, nas artes. O processo de identificação muitos inclusive nem sabem que estudeve levar em conta todas essas condidam com um colega superdotado. A ções e a conscientização da escola e da única formação que aconteceu foi com família também é importante, já que os professores, que receberam orienmuitas vezes a superdotação é confuntações sobre como lidar com alunos dida erroneamente com deficiências ou superdotados, sem autismo, o que um maior aprofungera preconceito damento. e sofrimento para O Censo Esos superdotados. Superdotação colar 2006, do InsNas escolas não é doença, mas tituto Nacional de estaduais de MS, o Estudos e Pesquisas processo de idenuma predisposição Educacionais Anísio tificação da sugenética presente Teixeira (Inep), perdotação é feiaponta a existência to pelo NAAH/S em todas as de 2.553 alunos suNúcleo de Ativipessoas perdotados no Bradades de Altas sil, mas a estimativa Habilidades / é que possam exisSuperdotação, órtir até 1.487.431 jovens de 6 a 17 anos gão do Governo Federal. O NAAH/ S é um projeto que foi criado pelo /com superdotação que ainda não foram identificados. Segundo Nilcemar, MEC em 2005 e implantado em todo é um risco muito grave não identificar o Brasil. Ele identifica superdotados e esses alunos e deixar de explorar suas desenvolve atividades personalizadas de habilidades, seria um desperdício de acordo com o perfil de cada aluno, no potencialidades muito grande, tanto horário oposto ao da escola. A para o aluno quanto para o país onde pedagoga Angélica Guerra, funcionária ele vive. Larissa é um exemplo disso: do NAAH/S, disse que o atendimento “Quando soube que era superdotada oferecido fora do contexto escolar se fiquei muito feliz, pois poderia usar deve ao fato de que as Altas Habilidaminhas qualidades para ajudar quem des só começaram a ser atendidas reprecisa”. Por isso é extremamente imcentemente e, portanto, não são de coportante investir na identificação de tais nhecimento da grande maioria dos proalunos e na conscientização das pessofissionais da educação. Segundo ela, a as que convivem com eles – só assim proposta do núcleo visa antes a formais Larissas poderão surgir. mação desses profissionais para, a par-

Inclusão pedagógica

Mitos e verdades Mito: A superdotação é uma doença. Superdotados são frágeis, orgulhosos, instáveis e solitários. Não é uma doença. Pelo contrário, é uma predisposição genética presente em todas as pessoas e que implica em habilidades avançadas em determinadas áreas. A superdotação se manifesta mais em algumas pessoas do que em outras. Os superdotados, ao contrário do que se imagina, têm menos transtornos de conduta que os alunos “médios” e se destacam por seus recursos pedagógicos, autonomia, autocontrole e sociabilidade. Mito: O superdotado possui bom rendimento escolar. Destaca-se em todas as áreas do currículo acadêmico. Superdotação não é garantia de rendimento escolar. Cerca de 33% dos superdotados passam despercebidos e outros 33% fracassam ou têm problemas de aprendizagem Mito: O superdotado é um gênio e é superior em todas as categorias da vida e em todas as áreas de desenvolvimento. O superdotado não precisa, necessariamente, ser um gênio. São conceitos diferentes. O habitual é que ele se destaque em um aspecto ou área específica. Mito: Os superdotados formam um único estereótipo: o de indivíduo esquisito, que vive constantemente aborrecido. Os superdotados apresentam tantas diferenças entre si como o resto das crianças e jovens chamados “normais”. Na escola, podem se aborrecer se as atividades não corresponderem às suas capacidades.

Fonte: NAAH/S Campo Grande - MS


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.