O USO DA VOZ Adriana Rodrigues Didier1
Este artigo faz referência aos assuntos abordados na palestra Uso da Voz, realizada no Sesc, como a espontaneidade e o prazer no uso da voz na vida familiar, social e escolar, a experiência da não separação por faixas etárias na vivência musical. Descreve o desenvolvimento da língua maluca e o significado de grammelot, comenta sobre a voz e a experimentação de sons no desenvolvimento da voz infantil, buscando na literatura o referencial necessário para estas abordagens. Palavras-chave: Espontaneidade no uso da voz. Língua maluca. Experimentação de sons.
A voz sempre fez parte da minha vida de uma forma bastante lúdica e espontânea pela convivência cotidiana com meus pais e irmãos. As reuniões familiares e sociais sempre envolveram o canto popular. Na sala da minha casa tinha um tablado para que todos pudessem cantar, tocar e dançar. Aos sábados nos jantares da casa da minha avó, os primos ensaiavam peças e números musicais para a família. As idades variavam de 17 a 1 ano. Todos participavam, nada era separado por faixa etária e o repertório era escolhido pelos que estavam tocando ou cantando. Os mais velhos escreviam, organizavam e dirigiam. Meu avô ensinava truques de mágica para todos. Quando meus filhos nasceram, continuamos a tradição e nas férias, todos os primos e amigos se apresentavam. Os adultos compravam ingressos, a cortina era feita de cobertores, os pequenos mesmo sem entender direito o que estava acontecendo apareciam com o rosto todo pintado, perucas e fantasias, riam e choravam. Os cachorros andavam para cima e para baixo, na maioria das vezes com um laço de fita no pescoço ou um chapéu na cabeça. Minha filha muito tímida, às vezes ficava responsável pela trilha sonora. O filho muito desinibido cantava o “Gago apaixonado” de Noel Rosa para qualquer pessoa que olhasse para ele. Na minha vida como educadora, eu não podia ser diferente. Esses são os meus valores, todos podem, todos têm algo a dizer, acrescentar, interferir. Nada melhor para mim, do que o espontâneo. Quando pensamos no uso da voz, em canto, muitas vezes a representação é a de um cantor erudito, numa voz impostada, distante da realidade do ambiente escolar. Na verdade, o professor logo pensa em quanto se esquece da sua própria 1
Diretora Técnico-Cultural do Conservatório Brasileiro de Música Centro Universitário