Revista ARC DESIGN Edição 20

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R EV I STA B I M E S T R A L D E D E S I G N A R Q U I T E T U R A I N T E R I O R E S C U LT U R A

2001 Nº 20

Ver ou ser visto? Os óculos da moda

QUADRIFOGLIO EDITORA

ARC DESIGN

Nº 20

2001

Exclusivo: design gráfico na revista Senhor

ICFF: design em N.York

Jovens designers em Milão Jóias do design


Abaixo,

colagem

feita

por

Glauco

Rodrigues em homenagem a Carlos Scliar. Na parte superior da composição, capas das edições 1 e 7 da revista Senhor, as únicas feitas por Scliar: o objetivo era mostrar para a equipe de arte o espírito que as capas deveriam ter. Na parte inferior, foto de Carlos Scliar e, à sua direita, capa da edição 13, de Glauco Rodrigues.

A imagem de capa foi elaborada pela equipe de ARC DESIGN em homenagem à revista Senhor. Partindo de fragmentos da capa do primeiro número desta publicação a cola gem foi realizada sobre foto da calçada do Teatro Amazonas, Manaus (abaixo). O dese nho das ondas, que são em branco e preto, representa a confluência dos rios Negro e Solimões. Na verdade, o famoso desenho da calçada de Copacabana

Foto Jean Manzon

foi originalmente feito em Manaus.


Iniciamos o quinto ano de ARC DESIGN. Precursores na discussão em torno das questões relativas ao desenho industrial, ao design na fronteira da arte, ao design semiindustrial e também ao design gráfico, temos procurado trazer – e analisar – todas as informações importantes sobre o que se passa no mundo, ao mesmo tempo que garimpamos, descobrimos e valo rizamos o design brasileiro de qualidade e os novos profissionais. Continuaremos a publicar informações com conteúdo crítico, pensando nos profissionais e no público consumidor, que reconhecem em ARC DESIGN um guia seguro para caminhar neste novo universo que é visto por alguns como um simples “assunto na moda”, mas por outros como um “plus” cultural. Nesta edição, design, moda e tecnologia se tocam, interagem em três campos de atuação: na joalheria, com os Campana e a equipe de cria dores da H. Stern; nas novas coleções de óculos; nos acessórios “fashion” da vanguarda inglesa. Esta edição também dá ênfase ao design jovem: no Salão Satélite, em Milão; na feira de N. York, com os alunos da Art Center College of Design. Nossa matéria de capa? Uma homenagem à inteligência brasileira, ao “talento e tom” de um grupo de designers gráficos, artistas, chargistas, intelectuais. Mestres da palavra e da forma, foram os criadores da revista SENHOR. Mostrar a vocês o que foi a SENHOR é o nosso presente de aniversário.

Maria Helena Estrada Editora


20

Senhor, a incrível revista que circulou de 1959 a 1964, revo-lucionou a linguagem gráfica editorial no Brasil e permanece como exemplo

REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES CULTURA

Nº 20, junho/julho 2001

34

Óculos: ARC DESIGN publica os últimos lançamentos destas próteses performáticas. Ver ou ser visto? Eis a questão

Maria Helena Estrada

DESIGN AMERICANO PARA A CASA: EXISTE?

Winnie Bastian

AS MÁSCARAS DA MODA

REVISTA SENHOR: TALENTO E TOM

Fernanda Sarmento, com a colaboração de Tomás de Sá

ÍNDICE ÍNDICE ÍNDICE ÍNDIC

42

O que havia de novo na ICFF, realizada em maio de 2001 em N. York? Veja a seleção de ARC DESIGN. Dentre os destaques, muitos projetos de... estudantes!

Imagem da capa: colagem realizada pela equipe de ARC DESIGN, remetendo à primeira edição da revista SENHOR


46

O Salão Satélite, realizado em Milão durante o Salão do Móvel, indica o que está acontecendo com o jovem design internacional

48

A exposição “Aluminum by Design: from Jewelry to Jets” revela a história deste material e suas aplicações, da indústria bélica à de utensílios domésticos

54

Entrevista exclusiva com Fernando e Humberto Campana. O processo de imersão no universo dos designers resultou na coleção Campana, criada pela H. Stern

60

CASA­ASSINADA­­ AbItAre­ItAlIA­brASílIA SAtélIteS­DA­MoDA

6

NEWS FATOS SEM FOTOS

68

MATERIAL CONNEXION

70

QUEM INVESTE NO DESIGN?

Publi-reda­cio­nais

Da redação

ATUALIDADES

Winnie Bastian

UNIVERSOS EM SINTONIA: A TRANSFORMAÇÃO DOS MATERIAIS

Da Redação

A FORÇA DO ALUMÍNIO

Maria Helena Estrada

DESIGN JOVEM = DESIGN INOVADOR?

CE ÍNDICE ÍNDICE ÍNDICE ÍN

73

EXPEDIENTE

92

ASSINATURAS

93

p.­60 p.­64 p.­66




NEWS.NEWS.NEWS.NEWS MUSEU DA CASA BRASILEIRA A XV edição do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira terá uma comissão julgadora composta de 14 membros. Cada categoria contará

VARIAÇÕES EM TORNO DA LAMY

com dois profissionais especializados: Oswaldo

Após três anos e meio de desen-

Mellone, arquiteto e designer, e Cíntia Malaguti,

volvimento, a empresa alemã

designer e professora da Faculdade Belas Artes

Lamy lança em agosto a sua pri-

(mobiliário residencial); Auresnede Pires Stephan,

meira caneta com comprimento

designer e coordenador do curso de Desenho

ajustável: a Lamy Pico.

Industrial da Faculdade Belas Artes (utensílios

Projetada pelo designer suíço

domésticos), e Camila Fix, designer; Antônio

Franco Clivio, seu tamanho varia entre 9 e 12 centíme-

Carlos Mingrone, professor da FAU-USP, e Gil-

tros: é possível diminuir o comprimento da caneta para

berto Franco, lighting designer (iluminação); Al-

que ela caiba no bolso ou na carteira, ou aumentá-lo para

fredo Farné, designer, e Suzana Padovano, de-

maior conforto ao escrever. Recarregável, a Lamy Pico

signer, professora, coordenadora da Faculdade

chega ao mercado em três versões: cromada brilhante,

de Artes Plásticas e Desenho Industrial da FAAP

cromada fosca e preta.

(equipamentos eletroeletrônicos); Elisa Gomes,

Com produção de 8 milhões de instrumentos de escrita por

designer têxtil, e Rosângela Ortiz de Godoy, ar-

ano, a Lamy é uma das principais fabricantes de canetas e

quiteta especializada em tecelagem artesanal

lapiseiras do mundo. No Brasil, seus produtos são comercia-

(têxteis e revestimentos); Pedro Mendes da Ro-

lizados com exclusividade pela Compactor.

cha, arquiteto, e Vicente Wissenbach, editor da

Compactor: 0800-231144 - compactor@compactor.com.br

revista Finestra (equipamentos complementares da construção); Ethel Leon, editora da revista

DESIGN JOVEM

Design Belas Artes, e Mauro Claro, arquiteto

A primeira coleção de objetos de Rodrigo Almeida pode ser

(ensaios críticos).

conferida na loja Via São Paulo. Tendo iniciado a carreira

As inscrições acontecerão nos dias 9 e 10 de

como estilista, o jovem designer trocou a moda pelo design

agosto e os trabalhos podem ser enviados

de objetos no começo de 2000. Depois de pesquisar diver-

por correio ou entregues no próprio Museu

sos materiais, elegeu a fibra de vidro.

da Casa Brasileira.

A Via São Pau lo dispõe de aces só ri os e uti li tá ri os de

A mostra dos produtos premiados, que será

de sig ners selecionados pela arquiteta Heloísa Maia Cam-

inaugurada com a entrega dos prêmios em 13

pos: Kimi Nii, Fernando e Humberto Campana, Tetê

de novembro de 2001, terá curadoria de

Knecht, Camila Fix, Grupo Moirá, Xavier Deconinck, entre

Maria Helena Estrada. Este ano, a mostra da

outros. É só chegar e escolher!

premiação será acompanhada por uma expo-

Via São Paulo: Rua Mateus Grou, 597, São Paulo, SP.

sição com as mais importantes indústrias bra-

Tel.: (11) 3034-0421

sileiras que atuam em segmentos correspondentes ao prêmio. Museu da Casa Brasileira: Av. Brig. Faria Lima, 2.705, São Paulo, SP, CEP 01451-000. Tel.: (11) 3032-2564. Site: www.mcb.sp.gov.br

6 ARC DESIGN


S.NEWS.NEWS.NEWS.NEW NOVO ENDEREÇO NA CIDADE

VÉRTICE

Inaugurada em junho, a loja Interni lançou

Os alunos de Desenho Industrial

a coleção “Origens” de móveis e objetos

da Faculdade de Comunicação e

para a casa. Todos os produtos são exclu-

Artes Mackenzie já têm uma re-

sivos e com design ou direção de arte de

vista própria, a Vértice. O obje-

Maria Cândida Machado. Ao lado, vaso em

tivo é valorizar e mostrar para

cerâmica de Gilberto Paim e Elisabeth

o mercado o trabalho dos es-

Fonseca, com “piercings” executados por Virgílio Bahde.

tudantes, mas também de

Interni: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.022, São Paulo, SP.

oferecer um espaço para a troca de informa-

Tel.: (11) 3081-1664

ções e experiências entre formandos e profissionais do mercado. O tema da primeira edição é a importância do design na sociedade: em discussão, a consciência profissional do designer.

PRÊMIO SAMSUNG DE DESIGN

Por enquanto, a revista é distribuída aos alunos da instituição

Os finalistas da primeira etapa do 2º Prêmio Samsung de

e a profissionais da área.

Design já foram selecionados e os trabalhos podem ser

Faculdade de Comunicação e Artes Mackenzie: Rua Itambé,

vistos no site da premiação.

135, prédio 9, São Paulo, SP. Tel.: (11) 236-8320

Tendo como tema “Transporte Urbano”, 456 estudantes

fca@mackenzie.com.br

de todo o Brasil enviaram 248 projetos, que foram divididos nas categorias Design Gráfico/Web Design, Desenho Industrial e Publicidade. Os 40 selecionados serão analisados pela comissão julgadora sob os critérios: originalidade, adequação ao tema, conceito, criatividade e voto popular. O finalista, que terá o nome divulgado em 6 de agosto, concorrerá ao prêmio com o vencedor da segunda etapa. A data-limite para inscrição e envio dos trabalhos para a segunda etapa é 20 de novembro. Enquanto isso, visite o

O DESIGN DA ESCRITA

site e dê o seu voto até 31 de julho. Vale lembrar que tan-

Lançado na feira Paperworld 2000, em Frankfurt, no início de 2000,

to as inscrições como o envio do material serão feitos to-

o lápis Grip 2001, da Faber-Castell, chegou ao Brasil. Mais uma vez,

talmente pela internet.

a empresa surpreende, conseguindo inovar em um dos mais anti-

www.premiosamsung.com.br

gos instrumentos de escrita: com corpo de secção triangular e face antideslizante, o Grip 2001 é ideal para longas escritas.

Abaixo, bicicleta Arco, um dos projetos classificados na 1ª etapa do 2º Prêmio Samsung de Design.

O lápis recebeu diversos prêmios, entre eles o IF Design Award 2001, da Feira de Hannover, e o ISPA (International Stationary Press Association), Produto do Ano 2000, na Feira Anual de Papelaria, em Frankfurt – a maior do mundo. Com mina de grafite em diversas graduações, é feito com madeira macia e possui a exclusiva Técnica Sekural, que, segundo a empresa, garante a fixação da grafite ao corpo do lápis, conferindo maior resistência. Faber-Castell: Av. Nações Unidas, 10.989, conjs. 121 e 142, São Paulo, SP. SAC: 0800-7017068


NEWS.NEWS.NEWS.NEWS PRÊMIO SALÃO DESIGN MOVELSUL

PROGRAMA SEBRAE DESIGN

As inscrições para o prêmio Salão Design Movelsul 2002 já

Aumentar a competitividade das micro e

estão abertas e acontecem até 9 de novembro. Organizada

pequenas empresas por meio do design.

pela Movelsul Brasil 2002 e promovida pelo Sindicato das

Este é o objetivo do Programa Sebrae

Indústrias da Construção e do Mobiliário de Bento Gonçal-

Design, lançado no início de maio em

ves (Sindmóveis), a premiação tem como objetivo aproximar

Brasília. A ação contemplará as seguintes

empresas e designers. O júri terá representantes do Brasil,

áreas: design de produto, design gráfico

Uruguai e Argentina.

e de embalagens, e design de ambientes

Os trabalhos devem ser enviados, pelo correio, para a Movel-

de trabalho.

sul: Rua 13 de Maio, 229, 2º andar, CEP 95700-000, Bento Gon-

O Sebrae pretende instalar Centros de

çalves, RS. Informações pelo telefone (54) 452-3067 ou pelo

Design em todo o Brasil, conforme as

e-mail movelsul@italnet.com.br

particularidades de cada região. Em Caruaru (Pernambuco) por exemplo, deve ser instalado um centro nacional de artesanato em cerâmica e confecção. O Ins ti tu to Eu ro peu de De sign, de Mi lão, atu a rá como con sul tor in ter na ci o nal na mon ta gem e ges tão ini ci al des ses cen tros. O ins ti tu to tam bém será res pon sá vel pela “trans fe rên cia de know-how”, ou seja, o trei na men to dos fun ci o ná ri os do cen tro (de sig ners e pro fes so res). Al guns téc ni cos vi rão do IED e ou tros pro fis si o nais do cen tro de de sign se rão trei na dos em Mi lão e Bar ce lo na. A meta é inau gu rar sete Cen tros de De sign em todo o Bra sil até 2002, sen do dois até o fi nal de 2001.

TOK & STOK

O Sebrae vê no design “uma área priori-

Agora é a vez de Goiânia ter uma loja Tok & Stok. Dando

tária de apoio, devido ao impacto positivo

continuidade ao projeto Tok & Stok 21, que prevê a abertura

que causa nas empresas que o adotam

de, em média, três lojas por ano, a rede acaba de inaugurar

como iniciativa estratégica; pelo benefício

sua 20ª unidade.

que traz à sociedade”, segundo o edital

Fundada em 1978 pelo casal Régis e Ghislaine Dubrule, a Tok

de lançamento do programa.

& Stok é uma das maiores redes nacionais de móveis e acessó-

Uma das me tas do Pro gra ma Se brae

rios para casa, escritório e jardim. Fiel à proposta de oferecer

De sign é dar consultoria a 6 mil empre-

produtos de design nacional e internacional, com entrega ime-

sas até o final de 2002.

diata, a nova loja tem 3.600 metros quadrados.

Sebrae: (61) 348-7219

Tok & Stok Shopping Flamboyant: Av. Jamel Cecílio, 3.300,

www.sebrae.com.br

Goiânia, GO. SAC: 0800-160161 www.tokstok.com.br 8 ARC DESIGN


S.NEWS.NEWS.NEWS.NEW DE OLHO NA EXPORTAÇÃO

PROMOSEDIA

O Programa Brasileiro de Incremento às Exportações de

Único evento dedicado

Móveis (Promóvel) acaba de implementar mais um projeto:

exclusivamente a ca-

o consórcio de móveis. Adotando o modelo das indústrias

deiras, a Promosedia,

italianas, o programa pretende dar condições para que as

Feira Internacional da

empresas brasileiras possam concorrer com países já tradi-

Cadeira, conta com di-

cionais no mercado de exportação de móveis.

versos eventos parale-

De início, serão formados cerca de 15 grupos de consór-

los, entre eles, algumas

cios nos diversos pólos que integram o Promóvel. Pos-

das principais premia-

teriormente, deverá ser incorporado ao projeto o chamado

ções do setor. O Top

“consórcio vertical”, no qual empresas de grande porte

Ten Award elege os

ajudarão a capacitar empresas menores, a fim de alavan-

dez melhores produtos

car as exportações.

lançados na feira, se-

O Promóvel é um programa da Abimóvel: Av. Brig. Faria

gundo critérios de for-

Lima, 1234, 16º andar, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3813-7377

ma, função e tecnolo-

www.abimovel.org.br

gia. Entre estes, imprensa e arquitetos escolhem a “Chair Of The Year”. Já o Catas Award seleciona a melhor cadeira do mercado sob critérios

PRÊMIO NACIONAL ABIMÓVEL DE DESIGN

como segurança, função e durabilidade. Procu-

Os projetos selecionados para a segunda etapa do Prêmio Na-

rando estimular a cultura da cadeira junto às fa-

cional Abimóvel de Design do Mobiliário serão expostos du-

cul da des de ar qui te tu ra e aos ins ti tu tos de

rante a Fenavem, de 13 a 17 de agosto, no Palácio de Conven-

de sign, em colaboração com a indústria, o con-

ções do Anhembi. As duas últimas etapas do julgamento

curso Ernesto Caiazza: Ideas for the Design for a

acontecerão no dia 12 de agosto. O júri é composto por Álvaro

European Chair possui, desde 1997, a categoria

Weiss, Aurenesde Pires Stephan, Carolina Szabó, Ítalo Rossi,

Young Designers, exclusiva para designers com

Liliane Rank, Clementina Moreira Alves, Manlio Gobbi, Mar-

menos de 36 anos.

cos Otávio Bezerra Prates, Silvia Farias e Telmo Pamplona.

Em comemoração ao 25º aniversário da Promo-

Será escolhido um trabalho de cada área (profissional e

sedia, acontecerá a mostra “Chairs in Contempo-

estudante), nas categorias: móveis para quarto, estar so-

rary Art”. Com a curadoria de Agnes Kohlmeyer,

cial, áreas de refeições, cozinha e afins, exterior e lazer,

serão expostos pinturas, fotografias, esculturas,

escritórios e institucionais.

desenhos e vídeos de 50 artistas do mundo intei-

Entre os 50 projetos selecio-

ro, utilizando os mais diversos – e inusitados –

nados, 26 são de produtos no-

materiais: cera, velas, cobre, borracha, unhas,

vos e 24 já comercializados.

pontas de cigarro.

Abimóvel: Av. Brig. Faria Li-

A mostra “Chairs in Contemporary Art” acontece-

ma, 1.234, cj. 161, São Paulo,

rá do dia 8 de setembro de 2001 a 6 de janeiro de

SP. Tel.: (11) 3813-7377.

2002, no Civici Musei, em Udine, Itália.

Palácio de Convenções do

Promosedia: Via Trieste, 9/6, Manzano, Udine, Itá-

Anhembi: Av. Olavo Fontou-

lia. Tel.: 39-0432-745611, fax: 39-0432-755316.

ra, 1.209, São Paulo, SP.

www.promosedia.it

9 ARC DESIGN












REVISTA SENHOR

Talento e Tom Fernanda Sarmento, com a colaboração de Tomás de Sá

A re vis ta SE NHOR foi pu bli ca da no Rio de Ja nei ro de mar ço de 1959 a ja nei ro de 1964. Sua con cep ção grá fi ca é um dos me lho res exem plos de de sign edi to ri al cri a do em re vis tas bra si lei ras ou mes mo in ter na ci o nais. Mar cou épo ca, fez his tó ria e está no co ra ção e na me mó ria de to dos que a co nhe ce ram. O que fez des ta re vis ta uma pu bli ca ção tão es pe ci al?

Quem? Adão? Ah, esse foi o primeiro.

“SENHOR tinha dois critérios: talento e tom. O primeiro excluiu inúmeros medalhões, quase todos membros da academia brasileira do túmulo gratuito. Tom é mais vago. Queríamos uma certa ironia, uma seriedade temperada pelo humor, à parte humor puro e simples, rejeitando o solene e o grandiloquente. Recusamos bons amigos, de valor, porque não pegavam o tom”, declarava Paulo Francis, em 1981, no livro “O Afeto que se Encerra”. O lançamento da SENHOR aconteceu naqueles anos ousados, quando o Brasil vivia a aventura do novo com o governo inquieto de JK se desdobrando na busca de suas metas de desenvolvimento. Nesse contexto afirmativo do final dos anos de 1950, também no âmbito das artes e da cultura ganhavam força propostas inovadoras. Elas se manifestavam na literatura, no teatro, na música, no cinema, mas sobretudo nas artes plásticas,

No alto, charge de Jaguar para a SE NHOR nº 30 (agosto 1961). À esquerda, capa do primeiro número, realizada por Carlos Scliar em março de 1959. Ilustração que reproduz o desenho da calçada de Copacabana e na qual toda a imagem é composta por mosaicos de pedras portuguesas. Na página ao lado, capa nº 10 (dezembro 1959). Com ilustração de Jaguar, esta capa é o próprio retrato do espírito da revista



(foto de época)

MICHEL BURTON

BEA FEITLER

(foto de época)

JAGUAR

GLAUCO RODRIGUES

(foto de época)

CARLOS SCLIAR

A sequência de fotos no alto das páginas traz os retratos da equipe que “fez” a SE NHOR, em fotos de época e atuais. Abaixo, da esquerda para a direita, sequência de capas ilustradas por: Glauco Rodrigues, capa nº 5 (julho 1959); Carlos Scliar, capa nº 7 (setembro 1959); Bea Feitler, capa nº 16 (julho 1960); Glauco Rodrigues e Jaguar, capa nº 2 (abril 1959); Glauco Rodrigues, capa nº 12 (fevereiro 1960); e Glauco Rodrigues, capa nº18 (agosto 1960). No pé da página, Carlos Scliar (de costas) e Glauco Rodrigues, no departamento de arte da revista

22 ARC DESIGN


(foto de época)

NEWTON RODRIGUES

(foto de época)

ARMANDO ROSÁRIO

IVAN MEIRA

(foto de época)

LUIZ LOBO

NAHUM SIROTSKY

PAULO FRANCIS

“A Senhor tinha um projeto gráfico neutro. Todo trabalho criativo era feito pela direção de arte” Carlos Scliar, dezembro de 1999

que estava em evidência desde o início da década, (1951),

público intelectualizado, mas com ângulo de interesse flexível,

quando se realizou, pela primeira vez, a Bienal Internacio-

que abrangesse matérias jornalísticas, como reportagens e

nal de São Paulo.

crônicas, além de diversos artigos, ensaios e ficção.

Ao mesmo tempo, a imprensa passava por grandes transfor-

Sirotsky procurou Simão Waissman, um dos proprietários da

mações, os jornais e as revistas modernizavam-se na sua es-

Editora Delta, empresa que já havia publicado obras de por-

trutura editorial e nos seus processos produtivos, agora com

te, como o Dicionário Caldas Aulete. A Delta desejava lançar

mais ênfase no planejamento gráfico e contando com novas

uma série de revistas de alta qualidade, que seriam vendidas

técnicas que a incessante expansão da publicidade exigia.

por assinatura, e Waissman entusiasmou-se com a idéia de

Foi nesse cenário de euforia que surgiu no Rio de Janeiro, em

Sirotsky, mas lhe pediu um “boneco” para que pudesse visua-

março de 1959, a revista SENHOR, considerada um marco na

lizar a revista proposta. Sirotsky não teve dúvida: convidou o

história da imprensa brasileira.

pintor Carlos Scliar – um apaixonado pelas artes gráficas –

A idéia inicial partiu de Nahum Sirotsky, jornalista que se des-

para inventar graficamente a revista. Enfatizou que tinha de

tacara como editor internacional em “O Globo” e como diretor

ser uma revista muito bonita.

nas revistas “Visão” e “Manchete”. O que ele pretendia era lan-

Combinando páginas e imagens de revistas importadas, muito

çar uma revista com a melhor qualidade gráfica, dirigida a um

bem impressas, como “Paris Match”, “Réalités” e “Esquire”,


Scliar montou o protótipo gráfico. O resultado causou um grande impacto em Waissman, que o aceitou logo, mesmo sem saber ao certo qual seria o conteúdo da publicação, exigindo, porém, a contratação do artista que fizera aquele projeto gráfico. Além de assumir a direção de arte, Carlos Scliar recebeu carta branca para montar a sua equipe. Mas impôs uma condição: só permaneceria nessa função por um período de dez meses, ao fim dos quais voltaria para o seu ateliê de pintor, porém deixando um assistente em condições de substituí-lo. Trouxe de Porto Alegre, como assistente, o pintor e gravurista Glauco Rodrigues, seu companheiro no Clube de GraAcima, fac-símile do editorial do primeiro número. Abaixo, abertura da matéria “Desarmamento” com ilustrações de Jaguar (nº15, maio 1960)

vura do Rio Grande do Sul. Completou a equipe de arte com outros profissionais igualmente talentosos, como o cartunista Jaguar (Sergio Jaguaribe) e o fotógrafo Armando Rosário e, posteriormente, com Bea Feitler, recém-chegada dos Estados Unidos, onde havia estudado. Diretor geral da revista, Nahum Sirotsky escolheu a equipe de editores que o assistiria na definição das matérias e do texto. Foi certeiro: convidou Paulo Francis, Luiz Lobo e Newton Almeida Rodrigues, jornalistas de muito talento. Mas no início não foi fácil conseguir o consenso entre eles. A equipe começou a trabalhar em meados de 1958 e, embora não tivessem uma idéia clara de como seria a SENHOR, certas características já se delineavam. “Desejávamos que fosse uma revista de cultura, mas sem forçar; teria de ser de alto nível, mas que fosse digerida por um público novo

24 ARC DESIGN


Na sequência acima, páginas da matéria dedicada a Berlim e às possibilidades de reunificação da Alemanha (nº 3, maio 1959), cuja abertura apresenta composição gráfica racionalista. A foto do portal de Brandenburg serve de cenário ao encarte, em formato menor, preso no centro da página. Esse tipo de solução cria variações na estrutura do projeto gráfico, acrescentando autonomia ao texto no encarte. Abaixo, o mesmo recurso foi utilizado para o conto de Leon Tolstoi, “A Morte de Ivan Ilitch” ilustrado por Glauco Rodrigues (nº 2, abril 1959)

25 ARC DESIGN


que teríamos de encontrar ou formar” – observou Scliar, em depoimento dado à revista Visão, 1989. Não era uma fórmula fácil. As discussões na redação eram acaloradas, como lembra, com humor, Nahum Sirotsky: “Começamos a criar a revista brigando. Quando resolvíamos uma página, só faltava chamar a polícia”. Mas todos convergiam num ponto, sem nenhuma concessão à modéstia, tinham consciência de que fariam a revista mais bonita do Brasil. “Não há apresentação brilhante que salve matéria chata”, afirma Scliar. Uma convicção que os estimulava, ao mesmo tempo que impunha enorme exigência quanto ao teor da reAcima, o caráter inovador é dado pelos cortes das fotos (nº 8, outubro 1959). Fotos de Armando Rosário. Abaixo, abertura da matéria com foto tra ba lha da em alto-con tras te so bre fundo colorido. A disposição do título sinaliza o conteúdo do texto

vista, à qualidade dos textos, à seleção das matérias, boa parte delas solicitada a colaboradores especialmente convidados. Articulando esses critérios – gráfico e de conteúdo –, a equipe coordenada por Nahum Sirotsky buscava o “tom” que identificaria a sua linha editorial. E, ao mesmo tempo, esta encontraria a sua expressão coerente no trabalho da direção de arte. Pelo menos para Carlos Scliar, era indispensável essa complementaridade, no sentido de que a índole dos textos fosse corroborada ou “assumida” pela expressividade do planejamento gráfico. Enfim, o primeiro número da SENHOR foi para as bancas. Impresso em papel fosco, no formato 23,5 x 32 cm, trazia 100 páginas e uma belíssima capa de Scliar. Tudo evidenciava


À direita, páginas de matéria sobre o carnaval, (nº 36, fevereiro 1962)

Abai xo e à es quer da, pá gi nas da ma té ria “O Ve rão”, que trou xe um novo con cei to de ilus tra ção in cor po ra da à fo to gra fia. De se nhos fei tos por Ja guar e Glau co Ro dri gues, in te gra dos às fo tos das mu lhe res (nº 12, fe ve rei ro 1960)


o caráter diferenciado e inovador da

texto, na SENHOR a imagem fotográfica tinha um es-

revista; o sumário compreendia arti-

paço próprio, posicionada com criatividade para lograr

gos, reportagens, contos, poemas, seções

equilíbrio compositivo.

com matérias especiais, serviços, humor. Co-

Não era somente o realismo documental que interessa-

laboravam nesse número escritores e intelectuais

va, mas a linguagem poética, o que ensejava uma inten-

como Otto Maria Carpeaux, Anísio Teixeira,

sidade narrativa mais próxima à expressão cinemato-

Clarice Lispector, Carlos Lacerda, Paulo

gráfica. Para visualizar a revista em seu conjunto, Scliar

Mendes Campos e outros. Em encarte, a

passou a fazer miniaturas das páginas e as colocava

tradução de uma novela de Hemingway, “As

em sequência na parede – como um longo storyboard

Neves do Kilimanjaro”. Apesar do preço de capa – Cr$ 70,00 – ser muito su-

–, podendo controlar, assim, os pesos, ritmos e a sequência das matérias.

perior ao de outras revistas brasileiras da época, SENHOR

Aliás, Senhor utilizou recursos técnicos, como a mani-

logo despertou grande interesse e sua tiragem alcança-

pulação gráfica da fotografia para a obtenção do alto-

ria, em poucos meses, cerca de 40 mil exemplares, sen-

contraste. Antecipou-se, mesmo, na aplicação de fotos

do 30 mil destinados a assinaturas.

com tonalidade de cor rebaixada – recurso que só se tor-

Um dos aspectos que diferenciavam a arquitetura gráfi-

nou de uso corrente ao final dos anos de 1980, agilizado

ca de SENHOR era a generosidade de espaços em bran-

pelo aparecimento dos programas de computação gráfi-

co, sabiamente articulados com a variedade das ilustraçõ-

ca. E, ainda, valorizou com maestria a técnica da cola-

es e desenhos, admiráveis na sua diversidade de estilos

gem, difundida pelo dadaísmo e pouco utilizada pelas re-

e técnicas. Em quase todos eles evidenciava-se o talento-

vistas brasileiras.

so desempenho de Glauco Rodrigues, que criaria tam-

Em matéria de publicidade, Carlos Scliar impôs uma

bém inúmeras capas em outras edições. SENHOR recu-

norma que mudava radicalmente a maneira como, até

perava, em certo sentido, a tradição das revistas brasilei-

então, os anúncios eram veiculados nas revistas: na

ras de caráter satírico e humorístico, como se via pelas

SENHOR, as páginas de publicidade só podiam ser co-

páginas irreverentes que apresentavam o traço nervoso

locadas no início e no fim de cada edição. Mas, por ou-

dos desenhos e charges de Jaguar.

tro lado, a equipe fazia questão de estimular a criativida-

Outra característica inovadora da revista estava na sua ma-

de dos anúncios. Desse modo, a revista apresentava em

neira criativa de usar a fotografia, então fartamente utiliza-

suas páginas de publicidade propostas audaciosas, ja-

da por revistas como a “Manchete”, “O Cruzeiro” e outras.

mais vistas, como a que foi criada para a fábrica de teci-

Valendo-se de cortes ousados e explorando novas formas

dos Santa Branca, em que se colou um pedaço de tecido,

compositivas, a equipe de SENHOR conseguia acrescen-

sobre o anúncio, em todos os exemplares da edição.

tar às imagens fotográficas

Inusitada também foi a idéia

uma dimensão semântica, ul-

de Ivan Meira, que dirigia o

trapassando aquele caráter

departamento de publicidade:

meramente documental, tão

ele idealizou a criação de uma

frequente no fotojornalismo

sequência de 24 páginas pu-

da época. Também ao contrá-

blicitárias para a loja Serva Ri -

rio das demais revistas que

bei ro, pa ro di an do uma fo to -

costumavam tratar as fotos

no ve la, tendo como protago-

como simples legenda ima-

nistas os atores Jardel Filho e

gética para o conteúdo do

Irina Grecco.

Nesta página, ilustrações de Fortuna, um dos maiores chargistas do Brasil, colaborador em diversas edições da SE NHOR. Na página ao lado em sentido horário, sequência de capas da Senhor: nº 13 (março 1959), realizada por Glauco Rodrigues; nº 23 (janeiro 1961), fei ta com lá pis de cera e co la gem de te ci dos por Glau co Ro dri gues; nº 19 (se tem bro 1960) re a li za da por Mi chel Bur ton; nº 11 (ja nei ro 1960) re a li za da por Glau co Ro dri gues 28 ARC DESIGN



Nesta página e na seguinte, exemplos que mostram o trabalho tipográfico da SE NHOR. À esquerda, capa nº 22, realizada por Bea Feitler (dezembro de 1960), na qual o logotipo “é” a fumaça da locomotiva. Abaixo, capa nº 30, ilustrada por Glauco Rodrigues (agosto de 1961). A colagem do cavalo é feita com o programa de apostas do Jockey Clube. No pé da pá gi na, a for ma da ilus tra ção é re pro du zi da na man cha de tex to, isto em tem pos em que os tex tos eram com pos tos em li no ti po e todo o pro ces so era ma nu al (nº 3, maio 1959). Ao lado, aber tu ra da ma té ria “A Moda é Jâ nio” (nº 23, ja nei ro 1961). Na pá gi na ao lado, no alto, ma té ria so bre Bo o ker Pitt man (nº 5, ju lho 1959). Embaixo, ma té ria so bre o fo tó gra fo Otto Stu pa koff (nº 52, ju nho 1963)

Mas assim como estimulava a criatividade, SENHOR não tinha a menor complacência com propagandas de baixa qualidade, comunicando às agências que só aceitaria anúncios compatíveis com o padrão de qualidade da revista. Exigência e rigor, além de talento, eram palavras de ordem em todos os setores dessa audaciosa empreitada. Até julho de 1960, 17 números da SENHOR tinham sido publicados. O caminho percorrido desde o primeiro número mostrava que a fórmula adotada pelos seus criadores estava certa. Sofisticada na sua feição gráfica e na sua linha editorial, a revista vinha mantendo em


suas páginas um interesse cultural vivo e ágil, aberto para a arte, a literatura e as questões da atualidade brasileira e internacional. Nelas eram publicados textos inéditos de autores nacionais, como Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Jorge Amado e tantos outros, juntamente com boas traduções, também inéditas, que levavam ao público brasileiro textos de Tolstoi, Kafka, Faulkner, Sartre etc. Ensaios e artigos focalizavam as criações brasileiras, até mesmo na música popular, ou tratavam de temas políticos e econômicos, questões da educação e da problemática social. Dirigida às elites, a revista também queria – como disse Nahum Sirotsky – fazer com que elas repensassem o Brasil. Publicado o 17º número, Carlos Scliar deixa a direção de arte da revista para se dedicar exclusivamente à pintura. Tinha permanecido 20 meses nessa função, dez a mais do que ele próprio estabelecera em seu contato inicial com a Delta. Nesse mesmo período, também se afasta da equipe Bea Feitler (abrindo, a seguir, o Estúdio G, com Glauco Rodrigues e Jaguar), mantendo, porém, uma colaboração periódica com a revista. Como estava previsto, Glauco Rodrigues passa a dirigir essa área, mas não por muito tempo, pois já nos primeiros meses do ano seguinte também decide voltar para o

Aci ma, brin ca dei ras ti po grá fi cas com tí tu los de ma té ri as. A pri mei ra su ge re a plan ta bai xa de um apar ta men to (nº 5, ju lho 1959). Na se gun da, o de se nho da es pa da fun di da com a vas sou ra se tor na um lo go ti po para mos trar a dis pu ta po lí ti ca en tre Lot te e Jâ nio Qua dros (nº6, agos to 1959). Abai xo, com po si ção cir cu lar que re me te às cri a çõ es dos fu tu ris tas ita li a nos (nº 13, mar ço de 1960)


Acima e na página ao lado, matéria idealizada por Ivan Meira para a loja Serva Ribeiro. Uma sequência de 24 páginas parodiava a linguagem das fotonovelas com singular competência gráfica

seu ateliê. Michel Burton, que já trabalhava com Ivan Meira no departamento de publicidade da SENHOR, assume a direção de arte, contando com a colaboração de Jaguar e procurando manter a linha idealizada por Scliar. Quando a revista já estava em sua 27ª edição, Simão Waissman e seu sócio a venderam a Gilberto Huber, proprietário da gráfica que a imprimia. Luiz Lobo, um dos homens-chave como editor de texto, já havia saído. Pouco tempo depois, Nahum também abandonou a revista por divergências políticas com o novo proprietário. Mas SENHOR continuou, agora sob a direção do jornalista

Ào lado e abaixo, folder publicitário para as lojas Renner, encartado na revista. Realizado em Londres, pela equipe da SE NHOR. Textos de Ivan Meira, projeto gráfico e direção de arte de Michel Burton e fotos de Richard Sasso. À esquerda, publicidade do dicionário Caldas Aulete, utilizando a técnica de rebaixamento da tonalidade da cor das retículas embaixo do texto


Odylo Costa Filho. Novamente vendida, em 1962, dessa vez

Judicioso, Luiz Lobo afirmou: “Nós todos fomos impor-

a Reynaldo Jardim e Edeson Coelho, estes a dirigiram até

tantes na revista SENHOR, mas havia outros jornalistas e

sua extinção, em janeiro de 1964. A revista já não era a

artistas intelectuais para fazerem o que fizemos. O único

mesma. Aliás, o Brasil estava na véspera do pior.

indispensável e insubstituível era o Scliar, com sua disci-

A SENHOR, famosa, importante, que passou para a história,

plina gráfica e seu talento artístico”.

tem o seu cerne e a sua substância na equipe que originalmen-

À base de “talento e tom”– e muito rigor – eles consegui-

te a criou. Eles é que fizeram essa admirável “aventura contra

ram inventar a melhor revista do Brasil. Sim, Scliar teve

a mediocridade”, como bem definiu Newton Almeida Rodrigues.

muito a ver com isso. ❉

33 ARC DESIGN


AS MÁSCARAS DA MODA “Os óculos são próteses e, ao mesmo tempo, possuem uma autonomia estética que transcende a mera função e se torna pura performance” Cristina Morozzi

Nesta página, acima, óculos Carrera em acetato translúcido fosco. Ao lado, Lagerfeld faz uma releitura do modelo “gatinho” (usual na década de 1950), em monel (liga metálica) com lentes de policarbonato. Na página ao lado, óculos da grife belga Theo, conhecida pelo humor e irreverência de suas peças. De cima para baixo: Satisfashion (acetato), N. 5 (titânio), George Slim (acetato bicolor), Poco e Pico (ambos em titânio) 34 ARC DESIGN


Winnie Bastian Fotos Rômulo Fialdini

Alguém disse que eles são a roupa da visão. Definição extremamente feliz, tendo em vista que os óculos, hoje, são mais lembrados por seus aspectos formais do que por sua função corretiva. Situação muito diferente de outras épocas, quando portar esse pequeno objeto era um “fardo” e não uma diversão, como acontece atualmente. Projetados para a produção em grandes séries, os óculos são objetos de desenho industrial com requintes de peças artesanais. Interpretam – ou até provocam – novas linguagens mutáveis de consumo, o que os coloca entre o design e a moda. Objetos que interagem, dialogam com nosso rosto e nossos estados de espírito, os óculos são máscaras que ocultam e revelam, que escondem ou desvelam segredos, dando uma leitura imediata de nossa imagem. E é nesta ambiguidade que reside sua força. O importante não é apenas ver bem, mas ser bem visto; o que já foi uma “bengala”, hoje serve a metamorfoses. Os óculos estão em evidência: viraram cult, estão no centro da moda. Tufi Duek, em recente entrevista a uma revista especializada (View, nº 28), afirma que os “óculos não são acessórios isolados, participam na própria criação da moda. E, quando se fala em moda, hoje, tem de se falar também em óculos, não dá para fugir”. Se nos séculos passados os óculos eram tratados como jóias, hoje passam a ser – como acontece com outros objetos cotidianos, na ausência de metais nobres ou pedras preciosas – valorizados pelo design. Além disso, a alta velocidade com que a moda se transforma exige mudança constante dos modelos que, embora efêmeros – com raras exceções, cada coleção permanece cerca de três meses no mercado –, também se tornaram mais ousados, principalmente os solares. Essa ousadia encontra respaldo na alta tecnologia atualmente disponível nos processos produtivos e nos novos materiais, avidamente pesquisados pela indústria. Dois motivos principais impulsionam esta procura: a moda – que pede renovação e, assim, materiais diferenciados – e a preocupação com as cópias: materiais inovadores e modos de produção sofisticados tornam as imitações inacessíveis e antieconômicas. Outro fator relevante na busca pela alta tecnologia é o consumo: “Nem todo mundo se deixa seduzir pelo lado fashion


ao comprar óculos, mas a tecnologia conquista a to-

Acima, em sentido horário: Sole Mio, óculos articuláveis, têm

dos...”, afirma um empresário do setor.

apenas 1 centímetro de espessura quando dobrados; armação

Se a passagem da celulóide – componente plástico desco-

metálica para lentes de grau, da Sàfilo; da empresa francesa

berto no final do século XIX – ao acetato levou décadas,

Lunor, armação inspirada nos modelos do século XVIII e XIX,

hoje os materiais evoluem em ritmo surpreendente. Os

mas produzida com materiais atuais (acetato e liga de cobre

naturais – chifre, osso, marfim, casco de tartaruga e

e berílio). Confortável: não possui palhetas de sustentação

couro –, tão utilizados em séculos passados, perderam

nasal, sendo sua fixação feita pela ponte.

seu espaço de forma definitiva no século XX. Ocupando seu lugar, um amplo espectro de plásticos e ligas

Abaixo, Giorgio Armani explora a transparência do acetato, combinado ao metal. No pé da página, modelo da Chanel com hastes em aço inox: aspecto arrojado graças à acentuada cur-

metálicas possibilita inovação formal e proporciona conforto ao usuário. O acetato, surgido na primeira metade do século XX, continua a ser amplamente utilizado. Tem dividido espaço, contudo, com o Optyl, resina plástica injetável mais adequada à produção industrial em grande escala: com melhor usinagem, permite a execução de produtos mais ergonômicos e com custo menor do que o acetato, cujo processo produtivo baseia-se na pantografia – processo no qual as chapas de acetato são recortadas com base em um gabarito. Outro plástico que vem ganhando espaço é o náilon, uma resina altamente flexível e teoricamente inquebrável. Tem a desvantagem, contudo, de apresentar pouca disponibilidade de cores, suportando apenas as escuras. A co-poliamida, o propionato e o policarbonato, mais leves e mais resistentes do que o plástico convencional, também são alternativas interessantes. Quanto aos materiais metálicos, o tradicional Monel – 36 ARC DESIGN

vatura da lente


Ao lado, modelo Aura, da grife japonesa Kata; em propionato de celulose, mais leve do que o acetato. Abaixo, o modelo Ray Ban em monel possui tela metálica que bloqueia a luminosidade lateral. No pé da página, o modelo da grife Vogue aponta a nova tendência nos óculos de sol: armações maiores e visualmente mais “pesadas”


Acima, Thierry Mugler inova com a lente recortada e bisotada. À esquerda, modelo WHY 3, com hastes em titânio, é o mais recente lançamento da Oakley; possui borrachas hidrofílicas, que possibilitam melhor aderência ao rosto, por absorção do suor

38 ARC DESIGN


À esquerda, óculos de Gianfranco Ferrè para leitura; acima, armação metálica de Christian Lacroix com haste trabalhada: resina

Foto divulgação

plástica colorida injetada manualmente nos orifícios sinuosos

liga metálica de níquel (63 a 70%), cobre e ferro – vem, aos poucos, sendo substituído pelo titânio e seus derivados e pelos metais com memória. O titânio tem destaque no universo das armações metálicas: cerca de 50% mais leve – uma armação pode pesar somente 2 gramas! – e duas vezes mais resistente que os metais tradicionais, apresenta altíssima resistência à corrosão, sendo, assim, antialérgico. Material caro em virtude das dificuldades de extração e refino, é utilizado em outras ligas de custo mais acessível – e com praticamente os

Acima, Starck Eyes, criação de Philippe Starck em parceria com

mesmos benefícios –, como o beta-titânio, um compos-

Alain Mikli. A articulação, que exigiu mais de 4 mil horas de

to que agrega vanádio e alumínio.

pesquisa, imita os movimentos da clavícula humana, conferindo

Um dos mais recentes materiais tecnológicos é o me-

maior flexibilidade e resistência à armação. A construção da

tal com memória, formado por uma liga de níquel (de

articulação, que não utiliza parafusos, proporciona pressão

50% a 60%) e – claro – titânio (40% a 50%). O Flexon,

equilibrada nas têmporas e melhor fixação das hastes.

nome comercial pelo qual se tornou conhecido, apre-

No pé da página: à esquerda, armação Kata em liga de monel

senta grande flexibilidade e possui um alto fator de

com paládio e lentes de policarbonato; à direita, modelo

memória, o que significa que a armação pode ser sub-

Lagerfeld em monel polido com haste curva

metida a qualquer tipo de torção e, ao ser liberada, retorna à forma inicial. As transformações e a evolução pelas quais passam os objetos são, também no mundo da moda – e dos óculos –, o resultado da invenção de novos materiais tecnológicos. ❉

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Acima, o modelo Overthetop não possui quaisquer dobradiças e envolve completamente o crânio, de modo a facilitar a prática de esportes, como ciclismo e corrida. Produzido pela Oakley. À direita, armação de Paul Smith, em acetato de algodão com dobradiças de metal

À esquerda e abaixo, armações da grife inglesa Oliver Peoples. À esquerda, modelo que mescla acetato e alpaca, reproduzindo, com leveza, o modelo gatinho. Abaixo, Cha Cha e Jive (em preto), ambos em acetato de algodão. No pé da página, à esquerda, armação produzida pela empresa francesa Sthenos: as hastes dobráveis se inserem na parte frontal da armação, facilitando seu transporte

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À direita, óculos de Sergio Tacchini: a haste larga continua o desenho da parte frontal, em um modelo propositalmente “pesado”. Abaixo, Du Contra, em acetato tingido: humor revelado ao simular uma armação invertida. Design Mellotica, produzido pela Di Padova

ONDE ENCONTRAR: BY OPTICAL Rua Lauro Muller, 116, loja 301, Rio de Janeiro, RJ. Tel.: (21) 2543-7892 CENTRO ÓTICO MIGUEL GIANNINI Rua dos Ingleses, 108, São Paulo, SP. Tel.: (11) 253-2000 EMPÓRIO DOS ÓCULOS Rua Santana, 125, Mogi das Cruzes, SP. Tel.: (11) 4794-2630 GIARDINI OPTICAL Rua Sabará, 573, São Paulo, SP. Tel.: (11) 258-6613 MELLOTICA ÓCULOS ESPECIAIS Rua da Consolação, 2625, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3081-6693 ÓPTICA MORISSON Av. Brig. Faria Lima, 2237, São Paulo, SP. Shopping Iguatemi, 3o Piso. Tel.: (11) 3064-2939 ÓTICA JOÁ Rua Prof. Arthur Ramos, 143, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3814-2645 ÓTICA LUNETTERIE Rua Visconde de Pirajá, 550, sobreloja 206, Rio de Janeiro, RJ. Tel.: (21) 2239-8444 ÓTICA MARTINS Av. Floriano Peixoto, 67, lojas 1 a 4, Santos, SP. Tel.: (13) 3284-2000 ÓTICA VENTURA Rua Bela Cintra, 1845, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3083-7090 1 2

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Representante exclusivo Oliver Peoples e Paul Smith em São Paulo. Representante exclusivo Theo no Brasil.


Design Americano para a Casa: Existe? Maria Helena Estrada

Em maio deste ano realizou-se mais uma International Contemporary Furniture Fair, em N. York. Feira, galerias de design e de arte, museus, uma grande movimentação na cidade. Inovação? Pequenas novidades? O que havia nessa ICFF 2001 e na mítica maçã?

O design norte-americano não tem o glamour e a elegância do design italiano; não se utiliza da economia de meios como faz o novo design alemão: “think simple, live simple”; não tem a praticidade bem construída do design suíço; nem a clareza, simplicidade e consciência ecológica do design holandês; não tem uma geração de ótimos designers, como a França e a Inglaterra; não tem a força expressiva do design brasileiro. Nascido entre os anos de 1940 e de 1950, da riqueza e da fartura de meios, o design norte-americano tem “colado” ao projeto, até hoje, o imediatismo do consumo. Será que está faltando o que se conhece Acima e abaixo, ArcoBellini, design Mario Bellini para a empresa norte-americana Heller. Lançada há dois anos no Salão do Móvel, Milão, as novas versões coloridas ganharam o nome de ArcoBellini, clara referência a “arcobaleno”, ou arco-íris

como a cultura do projeto, ou cultura, simplesmente? Como defini-lo, classificá-lo? À parte o design de aparelhos e equipamentos tecnológicos – nos quais se percebe mais engenharia do que design –, vemos uma ausência de rumo, de qualidade formal, de inspiração, de poesia, de inovação. Quais os grandes nomes da indústria norte-americana do design? Primeiro, Frank Lloyd Wright. Nos anos de 1950, George Nelson, Charles e Ray Eames, todos norte-americanos. Ao lado deles, Saarinen (finlandês), Bertoia (italiano), Mies van der Rohe (alemão). Na ICFF 2000 despontou com força Karim Rashid (filho de egípcios, educado no Canadá, com estágios nos estúdios Sottsass e Pesce). Na edição deste ano destacamos duas boas cadeiras: Go!, de Ross Lovegrove, e ArcoBellini, de Mario Bellini. E mais Philippe Starck – indossando seu olhar irônico para tudo e todos –, que em 2000 fez uma interessante cadeira em alumínio para a Emeco, este ano (talvez atendendo a um briefing do cliente) apresentou algumas versões country-kitsch do modelo clássico da empresa. Patético! Pouco havia para ser visto, além da presença forte, maciça, coordenada do design italiano, que ocupava quase metade da sala principal da ICFF com o “Italian Glamour” – o que, digamos, salvava a feira. O Soho tornou-se o novo paraíso do “made in Italy”: moda, móveis e luminárias. A grande maçã assiste a tudo, alegre e passivamente.


Acima, poltrona transformável em chaise-longue de Cori Grosser, aluno do Art Center College of Design. Abaixo, “Italian Glamour”, estande central e recepção da Federlegno-Arredo na manifestação conjunta italiana na ICFF, N. York. Ao pé da página, Go!, cadeira de Ross Lovegrove em colaboração com a Bernhardt Design. Inicialmente produzida em alumínio, as novas versões são em magnésio, por ser um metal mais leve

Podemos imediatamente pensar na Al. Gabriel Monteiro da Silva e arredores, em São Paulo. Mas há uma diferença básica: aqui os showrooms são de importadores, que têm a liberdade de apresentar produtos brasileiros e europeus em um mesmo espaço. Mas cuidado, designers e industriais brasileiros! Comecemos logo a produzir e a nos destacar, pois estamos correndo o perigo de assistir a uma hegemonia forte e indestrutível do “made in Italy”. Vamos aprender com uma experiência válida, vamos nos manter permeáveis a outras culturas para criarmos nossa própria história, embarcar em nossa própria viagem. Mas lá como aqui sobrevive o fino raio de luz da esperança, e este se encontra nas Escolas de Design, principalmente nos alunos do Art Center College of Design, de Pasadena, Califórnia. Escola incrivelmente bem equipada, sobre a qual falaremos em outra edição de ARC DESIGN. Na feira encontramos um tímido estande brasileiro, com produtos da Etel Interiores e com o Coquinho (laminado feito a partir da casca de coco), estande que infelizmente perdia sua unidade com a inclusão de peças de artesanato “caseiro”. Mas vale a tentativa, principalmente porque, nos informa a Etel Interiores, foi grande o retorno comercial, com encomendas dos Estados Unidos, Itália, Holanda e Alemanha. Quanto às lojas e galerias, a famosa Troy expunha móveis em madeira maciça – carvalho europeu – retos, pesados, óbvios. Havia a Moss, com Citterio, e a Flos; a Felissimo, com uma pequena mostra institucional, e o resultado do concurso Design 21, patrocinado pela Unesco: exposição desigual e desconexa; a Sputinik, filha aplaudida da japonesa Idée, com idéias e protótipos de 43 ARC DESIGN


Nas duas páginas, projetos de alunos do Art Center College of Design, focalizando a idéia de “chairs in progress”. Acima, design Eugene Shon; ao lado, cadeira de Yung Tuen Chiang, na qual os “envelopes” em plástico do assento e do encosto podem ser preenchidos com qualquer material. “Eu prefiro marshmallows”, diz Chiang, “porque são engraçados”. Abaixo, estofado multiuso de Sean Yoo, no qual se nota a influência do sofá de Haberli para a Edra

jovens designers (mas nenhuma foto ou possibilidade de fotografar); havia uma bela e pequena mostra na loja Takashimaya, com vasos em feltro cinza e borracha preta (caríssimos). Salvando a temporada, duas grandes mostras: “Aluminum by Design”, no Cooper Hewitt Design Museum – publicada nesta edição de ARC DESIGN – e, na Ace Gallery, o show de tecnologia da luz de Hiro Yamagata, japonês que vive na Califórnia. Difícil descrever alguma coisa que está mais próxima do 4º Milênio do que de nossos pontos de referência atuais. Não se chega a entender o que nos atinge mais vivamente, se a beleza do espetáculo ou a tecnologia que, supomos, o torna possível. O largo corredor de entrada e três das salas da Ace Gallery foram revestidos – piso, paredes e teto – com um material prata, holográfico e refletivo. Do teto, desciam cubos espelhados, presos por fios de náilon, que giravam à altura dos olhos. Um complexo sistema controlado por computadores conduzia as sequências do espetáculo feérico de raios laser. A sensação era a de se entrar em uma galáxia fora do nosso conhecido e tridimensional sistema solar. Corram, quando souberem que Hiro Yamagata se apresenta em alguma parte do mundo. E, por favor, nos avisem! ❉ 44 ARC DESIGN


Acima, sofĂĄ em madeira curvada com estofamento removĂ­vel. Design Kelly Lee, bem resolvido em sua versatilidade de uso. Abaixo, projeto de Philip Godfrey Aja com 18 cubos (almofadas estofadas ou madeira pintada) sobre uma base de madeira

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SALÃO SATÉLITE

Design Jovem = Design Inovador? “A qualidade formal do mundo artificial não é um ‘optional’ da história: não diz respeito apenas a uma pequena minoria de pessoas de olhar exigente, mas representa uma grande questão social (...) porque nosso siste ma in dus tri al ou cons tru i rá um mundo formalmente melhor, ou estará destinado a falir.” Andrea Branzi

Acima, a poesia da floresta por Benedetta Mori Ubaldini – escultora italiana que reside em Londres –, feita com tela de ga linheiro. Embora um pouco fora do contexto, era um dos destaques do Salão Satélite

Acima, ao lado e abaixo, Hagadugu, brinquedo multifuncional. Uma simples concha em plástico com uma infinidade de usos. Design Alex Hochstrasser

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Ao lado, mesa Bantam, design do suíço Beat Karrer. Tampo construído com uma chapa de alumínio de 14 mm revestida com folha de óxido de alumínio, forma construtiva (usada na indústria espacial) que permite à mesa suportar um peso dez vezes maior do que os seus 18 quilos. As laterais deixam visível o desenho do “honeycomb” em alumínio. Abaixo, Dino, pia para crianças da Adriano Design. Produzida em plástico, pode ser colocada sobre qualquer tipo de bidê Pelo terceiro ano consecutivo o Salão do Móvel de Milão organiza, durante a Feira, o Salão Satélite, local privilegiado para a exposição de projetos e protótipos de jovens designers e de alunos de Escolas de Design de diversas partes do mundo. Privilegiado, porque seus organizadores estimulam as indústrias expositoras e os empresários presentes à Feira a visitar o Salão Satélite e travar conhecimento com os talentos emergentes. Em 2001, devido ao grande número de adesões, o Salão Satélite contou com um júri encarregado de selecionar os estúdios de design e as escolas participantes. Como sempre, quando o critério é o da seleção de jovens profissionais e estudantes que ainda não estão no circuito comercial, a mostra é desigual. Mas é graças a essa iniciativa pioneira do Cosmit, órgão organizador do Salão do Móvel, que as indústrias poderão encontrar os novos talentos de que tanto necessitam. O que havia na mostra? A promissora geração de alunos de boas escolas universitárias de design; algumas boas idéias, inovadoras, mas nem sempre possíveis de serem desenvolvidas; velhas idéias recicladas ou “releituras”. Um destaque especial, não para o design, mas para a arte, com a presença de Benedetta Mori Ubaldini, com seu colorido zoológico de arame (tela de galinheiro). A iniciativa aprimora-se a cada ano. Esperamos começar a encontrar idéias e projetos, produtos mesmo, que nos revelem, que anunciem os grandes nomes do futuro. ❉

Abaixo, cadeira Moritz, design Alex Hochstrasser, criada para um jardim de infância. Duas conchas em madeira laminada curvada e dois conectores em borracha permitem diversas configurações

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A Força do

Alumínio “Aluminum by Design: Jewelry to Jets” é o título do livro e da mostra itinerante que propõe um exame multidisciplinar sobre a contribuição do alumínio ao design. Visitada por ARC DESIGN em maio deste ano, no Cooper-Hewitt Design Museum, a exposição fazia parte da “semana do design” em N. York. Da Redação


Embalagem, joalheria, arquitetura, mobiliário, transporte, equipamentos esportivos, armamento militar, utensílios para a cozinha, aparelhos eletroeletrônicos: da indústria pesada à doméstica, o alumínio é um material com versatilidade comprovada – a multiplicidade de aplicações possíveis atravessa as fronteiras de diferentes tipologias de objetos. As primeiras tentativas de se conseguir o alumínio em estado puro foram registradas na metade do século XVIII. No entanto, os experimentos que obteriam mais sucesso aconteceram somente na década de 1840. Finalmente, em 1853, o cientista Henri Sainte-Claire Deville chegou a um alumínio considerado bastante puro. A partir de então, o novo material passou a ser visto como uma maravilha da ciência e testemunho da habilidade do homem, mas ainda era disponível em quantidades limitadas. Os objetos em alumínio desse período incluíam jóias e outras miudezas, frequentemente combinando o metal com outros materiais preciosos – uma embalagem de perfume em vidro com detalhes em ouro e alumínio, por exemplo –, medalhas e mecanismos de relógios. A condição de novidade rara, cara e restrita às elites só foi modificada com o aprimoramento do processo de fabricação, em 1886, que possibilitou a produção em larga escala e, com isso, a diminuição do preço. O alumínio, agora, poderia ser empregado em usos mais práticos, especialmente na fabricação de utensílios para a cozinha. Como vemos, a inovação no design por meio do uso de novos materiais é assunto importante há mais de um século! Aos poucos, o alumínio ganhou novos mercados, sendo um deles a indústria moveleira. A Alcoa, uma das pioneiras na fabri-

Na página ao lado, detalhe do avião Sikorsky (1934). No alto desta página, à direita, lata de refrigerante que, junto com o sistema de abertura “pop-top”, é considerada um dos melhores exemplos de pesquisa de material e design do século XX. Acima, cafeteiras Bialetti (1930), design Alfonso Bialetti. Em alumínio fundido, com fundo duplo, é um desenvolvimento, já clássico, da famosa cafeteira napolitana. Abaixo, da esquerda para a direita, anúncios: empresa Bohn Aluminum, publicado na revista Fortune (1946); linha Deluxe da marca Colorama de acessórios para cozinha; a popular cadeira de praia dobrável, símbolo da cultura norte-americana da década de 1950

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cação de móveis “all-aluminum”, em 1929 já produzia uma linha completa de cadeiras para escritório com aproximadamente 25 estilos diferentes. No período entre-guerras, as estruturas sociais e os estilos de vida mudaram rapidamente com os avanços da tecnologia, da magia do moderno, do futurista, do novo... O alumínio não poderia estar em melhor companhia e o início da década de 1930 testemunhou a mudança de seu significado no contexto da vida doméstica: o material deixou de ser apenas um novo item na cozinha, aceito simplesmente por seus benefícios e sua eficiência, integrando-se à idéia de modernidade que dominava a cultura norte-americana. Contribuiu para isso um livro de receitas, publicado em 1926, pelo Club Aluminum Utensil Company, que mostrava utensílios em alumínio – não na cozinha – mas na sala de jantar. Os objetos deixaram de ser meros utilitários e o alumínio ganhou novo sentido estético, aparecendo em bandejas, coqueteleiras, tábuas de queijo, castiçais, cigarreiras. Uma variedade de acessórios criados pelo então jovem designer Russel Wright, verdadeiros “objetos de desejo”, transformaram as peças de alumínio em ícones do estilo de vida casual que emergia. Acima, cadeira Miss Blanche (1988), design Shiro Kuramata, famoso designer japonês já falecido. Abaixo, chaise longue Lockheed Lounge (1985), estrutura em fibra de vidro e borracha revestida por folhas de alumínio com solda aparente; design Marc Newson

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Acima, sala de café da manhã projetada por Russel Wright para a mostra “Design for the Machine”, organizada em 1932 pelo Philadelphia Museum of Art. Ao lado, utensílios Colorama (1950) da Heller Hostess-ware em alumínio anodizado. Verdadeiros ícones pop da cultura norte-americana, viraram objetos de colecionador

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Acima, luminária Titania (1991), com estrutura e lâminas em

Wilson T 2000 ganhou notoriedade em 1974 no U.S. Open, em

alumínio e filmes coloridos intercambiáveis em policarbonato,

Wimbledon. A partir de então, os jogadores deixaram de lado a

design Alberto Meda e Paolo Rizzato, para a Luceplan, Itália.

madeira e aderiram às qualidades do novo material: maior durabili-

Abaixo, da esquerda para a direita, raquete com estrutura em

dade, superfícies de impacto menores, leveza, maior resistência à

grafite (1987), desenhada em 1976 e produzida até hoje pela

chuva. Além de popularizar o esporte, as raquetes de alumínio

Prince; modelo T 2000 (1967), em alumínio, da Wilson, design René

foram o primeiro passo no desenvolvimento de raquetes de alta

Lacoste; modelo Kro-bat (década de 1960), em madeira, da Spalding

performance e mudaram a maneira de jogar tênis. Atualmente,

Sports Worldwide. Primeira raquete desenvolvida em alumínio, a

sofrem a concorrência de modelos em fibra de carbono ou titânio

Durante a Segunda Guerra Mundial, a indústria do alumínio cresceu vertiginosamente. Além do metal ter sido utilizado na fabricação de armamento militar, também era matéria-prima de cantis e objetos hospitalares. Com o fim da guerra, a indústria pretendia manter os níveis de produção, mas o plástico já começava a ocupar terreno... Perfeito para o reciclo, com produção não-poluente, o alumínio é hoje – junto com os plásticos – o material escolhido “por nove entre dez designers” para a criação de móveis e objetos. Nostalgia e futuro são palavras que se “colam” a este material, nas palavras de Paola Antonelli, em artigo publicado no livro que acompanha a mostra. “Em alguns casos tornou-se o material da nostalgia e da memória. Além do mais, o alumínio incorpora o otimismo que acompanha a reorientação do design em direção a um mundo melhor, mais limpo, mais simples. É o material que melhor expressa a nostalgia do futuro.” ❉


Imagens e informações extraídas do livro “Aluminum by Design: Jewerly to Jets”, que inclui artigos de: Paola Antonelli, Dennis P. Doordan, Robert Friedel, Penny Sparke, Craig Vogel. A Ferrari 360 Spider não participava da exposição e a imagem utilizada foi cedida pela empresa. A mostra “Aluminum by Design” tem curadoria de Sarah Nichols e é dividida em quatro seções: “Inventando o Alumínio”, “O Ideal Modernista”, “Competição e Conflito” e “Cruzando Fronteiras”. Foi inaugurada em outubro de 2000 no Carnegie Museum of Art, Pittsburgh. Itinerância: CooperHewitt National Design Museum (20 de março a 15 de julho); The Montreal Museum of Arts (23 de agosto a 4 de novembro); The Wolfosian-Florida International University, Miami Beach (15 de dezembro a 7 de abril de 2002); Cranbrook Art Museum, Michigan (1 de junho a 11 de agosto de 2002); Design Museum, Londres (7 de outubro de 2002 a 3 de janeiro de 2003).

Acima, à esquerda, Handbags (1996-97), em alumínio anodizado, de Salvatore Ferragamo; à direita, Ferrari conversível 360 Spider (2000), totalmente em alumínio (estrutura e carroceria), design Pininfarina. Abaixo, à esquerda, Atomium Bruxelles Dress (1999), de Paco Rabanne. À direita, peças da série Starburst (1998), em alumínio e algodão, design Issey Miyake

53 ARC DESIGN


ic oM Fot

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Com

de conceitos do mobiliário para as jóias deram origem a uma coleção que foge do tradicional

uma coleção da H. Stern, conduzindo os designers da empresa por uma imersão em seu universo. Esta experiência e a transposição

A transposição de uso dos materiais é fator marcante no trabalho de Fernando e Humberto Campana. Eles foram a matriz criativa de

A TrAnsformAção dA mATériA

te


À esquerda e na página ao lado, peças da linha Pantográfica: dois tipos de pulseira – estreita (à esquerda) e larga (em deta lhe na página ao lado) – e fruteira (na página ao lado, nas mãos da modelo, que também usa anel e brincos da mesma linha)

Winnie Bastian

Jóias que se iluminam, vestem ou se transformam em acessórios para a

Fotos Fernando Laszlo

casa. Assim é a coleção Campana, recém-lançada pela H. Stern. Nessa parceria, os designers fazem o papel de diretores de arte, inspirando e conduzindo o desenho das peças, desenvolvidas pela equipe de design da empresa. O universo e os conceitos de Fernando e Humberto Campana foram transpostos com maestria, dando origem a peças únicas e dinâmicas, como era a intenção dos designers. “Fazíamos questão que essa fosse uma coleção cinética, com muito movimento”, esclareceu Fernando Campana. E conseguiram. Outra novidade nesta coleção são as jóias-conceito. Superando sua função primeira, assumem o papel de roupas ou objetos de decoração. O colar Craft (70 centímetros de comprimento e 15 centímetros de largura), por exemplo, transforma-se em um centro de mesa, enquanto as longas mangas em malha de ouro da linha Samburá (presas nas costas) substituem as de um vestido. A coleção é composta por dez linhas; algumas – Craft, Mosaico, Ropes, Slats, Zig Zag – são inspiradas em móveis criados pela dupla de designers, enquanto outras se baseiam em temas recorrentes em seu universo. A linha Craft é inspirada no papelão, material amplamente explorado por Fernando e Humberto Campana em móveis e luminárias. Nas jóias, o ouro foi moldado de forma a ficar corrugado, como o miolo do papelão. Ropes é a linha que remete ao mais forte ícone da obra dos irmãos Campana, a cadeira Vermelha. As cordas de algodão

Acima e à direita, peças da linha Mosaico: anel, abotoaduras e pren de dor de gravata

que formam a cadeira são transferidas para brincos e colares em fio de ouro. Nos brincos, os fios passam pela frente e por trás do lóbulo da orelha. Nos colares, dispostos de forma assimétrica, lembram uma teia. A cadeira Favela inspirou a linha Slats; as ripas de madeira transformaram-se em placas de ouro articuladas, que compõem brincos, anel e colar. 55 ARC DESIGN


A linha Zig Zag, por sua vez, é baseada no biombo de mesmo nome, lançado no último Salão do Móvel de Milão (veja ARC DESIGN 19). Fiel ao desenho do biombo, uma placa de ouro estrutura fios do mesmo material, enrolados aleatoriamente, dando origem a anéis, pingente e pulseira. Fernando e Humberto Campana foram os cicerones da equipe de design da H. Stern em um roteiro pela cidade, por feiras hippies e lojas de materiais e quinquilharias. Esse passeio foi a origem das linhas Mandala, Pantográfica e Samburá, cujos nomes remetem diretamente ao objeto que inspirou cada uma delas. Enquanto nas linhas Mandala e Pantográfica, as jóias são mutantes, nas peças da linha Samburá uma fina malha de ouro reproduz a trama dos cestos usados por pescadores. Jóias-gadget? Na linha Luz, as jóias possuem a forma de um casulo, em cujo interior há uma pequena lâmpada. O “conjunto” funciona com baterias que, quando descarregadas, podem ser substituídas nas lojas H. Stern. Estola é uma peça surpreendente: construída com 80 mil fios de ouro de 0,04 milímetros de diâmetro e 6 centímetros de comprimenAcima, pingente da linha Luz, que possui em seu interior uma lâmpada a bateria. As embalagens da coleção, em resina transparente, foram projetadas por Fernando e Humberto Campana e são compostas de dois blocos que se unem, formando um nicho para a jóia. À direi ta e abaixo, embalagens das li nhas Zig Zag e Craft, respectivamente

to. Se esses fios fossem interligados, alcançariam 5 quilômetros! As embalagens foram desenvolvidas por Fernando e Humberto, que se inspiraram no filme “Jurassic Park”, em que um âmbar encerrava, em seu interior, um inseto petrificado. Dessa forma, os designers desenvolveram embalagens que consistem em dois blocos de resina, que se completam formando um nicho na junção. Mas a participação dos Campana vai além: para o lançamento da coleção, reformularam as vitrines de todas as lojas H. Stern, expondo todas as texturas com as quais trabalham. “Transformamos as lojas em outdoors”, explica Humberto. Fernando e Humberto Campana conseguiram levar a ousadia com que trabalham em seus projetos para a linha da H. Stern, atendendo ao pedido do diretor de criação da empresa, Roberto Stern, quando visitou os designers e pediu: “desafiem-me”. ❉

Entrevista realizada por ARC DESIGN em julho de 2000 ARC DESIGN – Notamos que há dez anos, no início da carreira, vocês criavam

objetos com grande ênfase formal, escultóricos, enquanto hoje existe a procura pela produção industrial. Como foi essa transição? FERNANDO – Sempre quisemos ser ar tistas, comunicar ao público por meio de uma manifestação ar tística, que poderia ser música, cinema, teatro, escultura... Na época, acho que a última coisa em que pensávamos era no design. 56 ARC DESIGN


Arquivo Arc Design

HUMBER TO – Acho que a profissão nos escolheu. Não fo-

mos atrás de nada, foi um gesto espontâneo. Começamos em 1998, com as cadeiras “Desconfor táveis”, direcionadas – em nossa opinião – para o campo das ar tes plásticas, mas que foram lançadas em uma galeria de design, a Núcleon 8. A par tir desse momento surgiu o interesse pelo design. Os materiais foram nos ensinando como projetar um móvel. FERNANDO – Também é par te dessa nossa inquietude, que vem desde a infância. Não brincávamos da forma tradicional, inventávamos os brinquedos usando o bambu, o mandacaru que encontrávamos no quintal... A.D. – Quando vocês começaram a se destacar na mídia, os materiais com os quais trabalhavam eram papelão, plástico... E hoje vemos a introdução do bambu, das fibras naturais... Seria um retorno às raízes? FERNANDO – Começamos com os metais. Logo depois, pesquisamos o choque do metal com outros materiais, como galhos de madeira, borracha e pedra. Aos poucos, fomos introduzindo a tela de borracha – na luminária Stela –, o papelão, a corda, o plástico-bolha, o fio de plástico “spaghetti”. Houve uma época em que achávamos que poderíamos trabalhar com a madeira. Desistimos completamente dessa idéia. A.D. – E qual o motivo desta decisão? A dificuldade de inovação formal? FERNANDO – Muitos designers já trabalhavam com a madeira, então decidimos procurar outro caminho. Hoje não usamos a madeira porque sentimos pena de cor tar uma árvore, mesmo sendo de reflorestamento. A.D. – Em seus trabalhos, os materiais “falam” muito alto. Como vocês lidam com essa pesquisa? HUMBERTO – Nosso laboratório é a rua. É a vida, é observar as pessoas, a cidade, como ela se organiza – ou se desorganiza –, as lojas de materiais de construção no Brás, ou de tecidos e presentes na 25 de Março, o passeio pelas ruas... Os materiais têm impor tância fundamental em nosso trabalho, pois são eles que indicam a forma final do produto. A.D. – Voltando à relação com a indústria, à industrialização de produtos que surgiram de forma artesanal, como tem acontecido? FERNANDO – Nunca descar tamos um produto por ele ser semi-ar tesanal, porque ali reside uma idéia. E se essa idéia for bem desenvolvida, com tempo e habilidade, pode se tornar um bom produto. A cadeira Vermelha é um exemplo: foi projetada em 1993 e somente em 1998 entrou em produção industrial. Quem busca alterar códigos já existentes dentro do processo industrial também tem de esperar que essa produção assimile o novo código – como inventar uma forma de criar com o papelão, como trançar irregularmente uma cadeira... Tudo o que é novo no começo causa estranheza. A.D. – Quanto tempo, em média, vocês levam para desenvolver um produto?

No alto da página, à esquerda, e no pé da página, peças da linha Zig Zag: anel e pulseira, respectivamente. Acima, peças da linha Mandala: no alto, a modelo mostra a peça-conceito no lançamento da coleção; acima, pulseira


Arquivo Arc Design

Acima, um momento da noite de lançamento da coleção: modelo veste Estola, confeccionada com finíssimos fios de ouro

À esquerda, brincos e anéis da linha Craft, que reproduz com fidelidade o papelão corrugado. Acima e na página ao lado, brincos e colar da linha Slats, baseada na cadeira Favela 58 ARC DESIGN


FERNANDO – Levamos de meio dia a cinco anos. Vamos usar a cadeira Janette como exemplo. Queríamos trabalhar com piaçava natural ou ar tificial e não sabíamos como, até que um dia desmontamos uma vassoura e surgiu a fruteira Xingu. E da fruteira para a cadeira Janette, destinada a uma colecionadora de N. York, foi um pulo. Mas o material já estava no estúdio há cinco anos. A.D. – Da criação à produção, quanto tempo é necessário? FERNANDO – Em torno de um ano, pelo menos. A.D. – Vocês tinham falado antes que o material determina a forma. Há casos em que aconteça o contrário? HUMBER TO – Sim. A mesa Tatoo é um exemplo. Esse projeto foi um desafio. Queríamos fazer um produto em plástico e não tínhamos dinheiro para os moldes. Tentamos descobrir uma forma de ter acesso ao plástico e depois poder produzir a mesa em série. Foi quando, olhando para um ralo e sua textura, este nos “inspirou”. No momento em que são colocados juntos, a leitura muda completa-

mente: não são mais ralos, e sim um mosaico “bizantino neofuturista”; a luz passa por esse mosaico de modo poético, formando um tapete vir tual no chão. A.D. – Existe uma intenção prévia nessa metodologia projetual? FERNANDO – Nossa produção sempre procura apontar mais de um caminho para o mesmo material: essa é a nossa forma de colaborar com a reciclagem. Nessa linha de pensamento, desviamos os materiais de suas rotas originais, dando-lhes outras funções. HUMBER TO – Muita gente acha que reciclamos sucata, que saímos por aí catando lixo... Não, nosso trabalho – e nosso interesse – é indicar caminhos. FERNANDO – Buscar soluções formais e funcionais com materiais muitas vezes abandonados, banalizados pelo uso cotidiano, como o ralo – que fica no chão, as pessoas pisam, passam por cima e nem percebem que pode ter outra leitura. A co le ção Cam pa na le vou cer ca de um ano e meio para ser de sen vol vi da e en vol veu apro xi ma da men te 100 pes so as em sua pro du ção. Foi lan ça da em 21 de ju nho em São Pau lo, com uma fes ta ce no grá fi ca, e pode ser en con tra da em to das as lo jas H. Stern. 59 ARC DESIGN


a t u a ­l i ­d a ­d e s

casa­assinada

Em 1994 a Firma Casa deixava de ser um pequeno escritório de consultoria de design de interiores. Nascia, então, a loja – endereço certo para quem procura o bom design internacional.

Abaixo, ambiente da III Mostra Paralela de Decoração e Design, que aconteceu no anexo à loja Firma Casa. Projeto de montagem do arquiteto e designer Francisco de Almeida. No plano de fundo, poltrona Anêmona, com estrutura em metal e mangueiras plásticas trançadas. Design Fernando e Humberto Campana; produção Edra, Itália

Fotos Andrés Otero

60 ARC DESIGN

Quando a empresária Sônia Diniz decidiu importar móveis e objetos italianos tinha em mente o desejo de trazer peças com personalidade, a “não-cópia”. Vontade mais do que realizada: hoje, a Firma Casa é representante exclusiva das empresas italianas Zanotta, Moroso e Edra. Trazer para o Brasil indústrias que trabalham com os maiores nomes do design internacional não é a única prova de sucesso. Sônia Diniz conseguiu imprimir à sua loja uma identidade marcante e sólida, escolhendo as peças sob um único critério – identificação de comportamento e estilo. “Nossa filosofia de trabalho é o conceito da ‘casa assinada’. Produtos com formas limpas, clássicos contemporâneos: o design que permanece no tempo. Por isso, as parcerias com os representantes têm um significado muito forte: declaram uma mentalidade em comum”, explica a empresária. Mas nem só de importados vive a Firma Casa. A empresa seleciona e comercializa alguns móveis e objetos de designers já consagrados, como Fernando e Humberto Campana, e também de novos talentos, como Marcus Ferreira. O trabalho de alguns desses nomes foi visto na III Mostra Paralela de Decoração e Design. Nela, foram apresentadas, em cinco materiais diversos, peças inéditas de Fernando e Humberto Campana (plástico), Jacqueline Terpins (vidro), Francisco de Almeida (papel), Luciana Martins e Gerson de Oliveira (madeira e metal). Partindo do tema “textura”, o objetivo era mostrar a capacidade de cada profissional em explorar o inusitado. Sempre inovadores em suas criações, Fernando e Humberto Campana apresentaram móveis feitos com materiais “nãonobres” – marca registrada dos irmãos –, brincando com sobreposições, transparências, sombras e brilhos. Jacqueline


Ao lado, poltrona Shark, parte da família “Mixed Series”, que explora o choque entre materiais sintéticos e naturais. Estrutura em aço inox, assento em policarbonato com arremate em rattan. Design Fernando e Humberto Campana. Abaixo, ambiente da mostra: ao fundo, luminárias de piso Coluna Disco (esquerda), Peixe (direita) e luminária Disco de Mesa (centro), todas em papel-arroz; design Francisco de Almeida

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Terpins explorou o vidro plano, com jogos de luz, opacidade, reflexos e geometria. Francisco de Almeida utilizou em suas luminárias técnicas tradicionais japonesas e a dupla Luciana Martins e Gerson de Oliveira trabalhou a simplicidade e os objetos multifuncionais. A Firma Casa pretende organizar mostras anuais de design. “A vontade é intercalar o internacional e o nacional: um ano mostrar os importados; em outro, dar exclusividade aos brasileiros”, comenta Sônia Diniz. Iniciativas como esta agradam aos “design addicted” e ajudam a fomentar o mercado. Mas que ninguém se iluda! “Não acredito na popularização do design. Muitos já tentaram – a Alessi, por exemplo. Mas nem eles conseguiram baixar tanto os preços”, afirma a empresária. “As discussões, no Brasil, a esse respeito passam a impressão de que a indústria nacional vê o design como ‘moda’, não como projeto que possa permanecer no tempo”, finaliza. Se observarmos bem, vemos uma “linha condutora” de perenidade que une os bons projetos, criando a história do design. ❉

Nesta página, design Jacqueline Terpins. Acima, porta-CD Caleidoscópio em vidro laminado espelhado e laminado colorido, componíveis na horizontal ou na vertical. Ao lado, mesa lateral Reflexo, em vidro laminado colorido

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Foto

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Acima, mesa de centro Looping, com tampo inferior retrátil, design Luciana Martins e Gerson de Oliveira. Abaixo, poltronas Quatro, que nos remetem à sobriedade de linhas de mestres do passado, a meio caminho entre a Red & Blue de Rietveld e a Wassily de Breuer. Estofada (com revestimento em couro) ou em vidro laminado (com 20 mm de espessura), suporta até 230 quilos; design Jacqueline Terpins

63 ARC DESIGN


a t u a ­l i ­d a ­d e s

a­itália­em­brasília Com gran de re per cus são, o even to Abi ta re Ita lia 2001, re a li za do em Bra sí lia, trou xe o me lhor do de sign ita li a no – em uma ex po si ção – e de ba teu so bre o de sign ita li a no e o bra si lei ro em um se mi ná rio as sis ti do por mais de 800 pes so as.

O modo de viver à italiana esteve em foco mais uma vez. A versão 2001 de Abitare Italia, realizada em Brasília no mês de maio, seguiu o sucesso da anterior, em São Paulo, publicada na ARC DE SIGN 17. Dois eventos – um seminário e uma exposição – paralelos e complementares constituíam a manifestação, que abordou não apenas o design italiano, mas também o brasileiro, presente em três conferências. A exposição, que mostrava 60 anos de design italiano, foi realizada na sede da Embaixada da Itália, projetada pelo arquiteto Pierluigi Nervi na década de 1960. O seminário, realizado no Centro Cultural Banco do Brasil, foi assistido por cerca de 800 pessoas, entre profissionais e estudantes. Com o tema “Brasil - Itália: Percursos do Design”, trouxe brasileiros e italianos para conferências em torno do design e seus processos. A maior polêmica, no entanto, girou em torno de uma questão brasileiríssima: o uso da madeira no design. Criticada por alguns, defendida por muitos: será a madeira a única alternativa para a viabilização do design brasileiro? Participaram do encontro: Rodrigo Rodriquez, presidente da Federlegno-Arredo (Itália); o designer italiano Aldo Cibic; o designer brasileiro Maurício Azeredo; o estudioso da Amazônia Luiz Galvão; os de sig ners Fer nan do e Humberto Campana; e Maria Helena Estrada, editora de ARC DE SIGN. Nas palavras iniciais de abertura, o embaixador da Itália, Dr. Vincenzo Petrone, afirmou que “Abitare Italia 64 ARC DESIGN

2001 em Brasília é mais uma prova de que compreendemos o percurso a ser seguido nas relações entre a Itália e o Brasil”. O objetivo do evento, segundo ele, era o de adicionar mais um ponto de contato aos muitos que já unem Itália e Brasil. Aldo Cibic – um dos fundadores do grupo Memphis, ao lado de Ettore Sottsass – foi o primeiro conferencista, abordando o tema “fazer design na Itália”. “O grande design italiano é feito de pequenas empresas”, afirmou Cibic, e esta é a razão de sua grande vitalidade. Pequenos produtores, que se associam uns aos outros sem preconceitos de status, criaram esse fenômeno, que exporta design para o mundo todo. Com exceção das grandes empresas, os protótipos são desenvolvidos em pequenos laboratórios, sempre utilizando as novas tecnologias. E grandes designers trabalham com essas empresas, a exemplo da Magis, que edita peças de Jasper Morrison, Stefano Giovanonni e Ross Lovegrove. Outro fator relevante é o claro entendimento por parte das empresas de que objetos “de imagem”, aparentemente “sem uso”, não só ajudam a vender outras peças, mas também servem de laboratório experimental para novas idéias. Cibic mostrou um pouco de seu extenso trabalho no campo do design, inclusive o Smart Home Fitness, projeto de 1998, primeiro produto a utilizar o Techno Gel, material hoje amplamente difundido. Maurício Azeredo expôs o trabalho que vem desenvolvendo, há cerca de 30 anos, com o uso quase exclusivo de madeiras brasileiras. Criticou a dependência do design brasileiro e a submissão da indústria a modelos estrangeiros, motivo que o levou a buscar elementos – as madeiras nativas – que conferissem ao móvel uma identidade brasileira. Em sua conferência, Azeredo afirma: “não acredito ser possível imaginar que um país com tamanha diversi-


seráaabi mali deiza ra ção vi a única alternativa para a viabilização

do design brasileiro?

dade cultural, com tantos nichos ecológicos, tantos climas, luzes, cores e principalmente tão variados problemas, possa estar sujeito a uma única resposta. Não é possível, nem responsável, tentar submeter nosso país a uma camisa-de-força”. Azeredo ilustrou a conferência com diversos móveis de sua autoria – sempre em madeira, exibindo uma marcenaria primorosa –, dentre os quais destacamos o encaixe tridimensional, de sua invenção, que proporciona precisão construtiva ao mesmo tempo que representa um desafio ao processo criativo, revela o designer. Rodrigo Rodriquez encerrou o primeiro dia de conferências, trazendo a visão do design como um sistema, uma estrutura que compreende o projeto, a produção, a comercialização e a promoção do “made in italy”. O sistema industrial italiano – por meio da FederlegnoArredo –, além dos programas de qualidade total, investe em ensino e pesquisa. Muitas empresas estimulam o designer a ser inovador, a propor produtos para os quais ainda não existe demanda como forma de estimular o desejo do consumidor. Por esse motivo, realizam pesquisas constantes em busca de novos materiais e tecnologias. No segundo dia de conferências, após uma sequência de imagens do Salão do Móvel e da Iluminação deste ano, mostrada por Rodrigo Rodriquez, iniciou-se a palestra de Luiz Galvão. Galvão apresentou parte do trabalho que vem realizando há 20 anos com resíduos florestais – o subproduto desperdiçado na extração florestal pela indústria do beneficiamento de madeiras (60% de cada árvore abatida, estima-se). Luiz Galvão estudou 42 espécies de madeira, a maioria delas completamente desconhecida pelo mercado consumidor. Dez dessas espécies tiveram suas características relatadas durante a conferência. Em seguida, ilustrou sua apresentação com peças realizadas jun-

to a comunidades indígenas, o que não classifica como design, mas como arte. Foi respondendo a esta afirmação que Maria Helena Estrada iniciou sua conferência, com uma definição básica, elementar de design: “se estamos criando objetos utilitários, estamos fazendo design, e não arte”. O tema de sua conferência era “design brasileiro e italiano: semelhanças e diversidades”. Embora apresentem diferenças fundamentais, têm em comum a origem – nascem da pobreza, de uma necessidade premente (no caso brasileiro, para dar valor agregado à nossa matéria-prima); ao contrário do design norte-americano, que nasce da fartura. A jornalista discutiu a viabilidade e os possíveis caminhos do design brasileiro. Um ponto polêmico em sua palestra foi o questionamento da validade do estímulo ao uso da madeira no design – uma questão tão iminente que ARC DE SIGN pretende lançar um suplemento dedicado à exploração da Floresta Amazônica e à utilização da madeira. Encerrando o seminário, Fernando e Humberto Campana falaram sobre sua carreira e a relação com o design. Enfatizaram a importância do diálogo com a indústria, pois “a função do designer é atingir o máximo de pessoas possível”, dizem. Esse diálogo foi perseguido desde o início da carreira, quando procuravam materiais industrializados para empregar em seus produtos, estes muitas vezes executados artesanalmente. Hoje possuem peças fabricadas por diversas empresas (entre elas as italianas Edra e Fontana Arte e a holandesa Hidden). Criados em Brotas, interior de São Paulo, os designers revelam grande ligação com o campo, ao mesmo tempo que têm na cidade uma de suas principais fontes de inspiração. A coexistência harmônica entre caipira e urbano, ingênuo e moderno é o que torna a obra dos “fratelli Campana” única, internacional e, ao mesmo tempo, autenticamente brasileira. ❉ 65 ARC DESIGN


a t u a ­l i ­d a ­d e s

satélites­da­moda Ar te sa na to e moda de van guar da. É pos sí vel unir es sas duas ma ni fes ta çõ es? A fu são, que pa re ce im pro vá vel, pode ser mu i to ori gi nal. Foi o que mos trou Sa tel li tes of Fas hion, ex po si ção or ga ni za da pelo Crafts Coun cil em par ce ria com o Bri tish Coun cil. No foco, cha péus, bol sas e cal ça dos de fas hion de sig ners bri tâ ni cos.

Foto Gry Garness

Explorar o design, a manufatura e o significado de acessórios artesanais na moda. Esta é a proposta de Satellites of Fashion, uma exposição que, tendo iniciado seu roteiro pela Europa e seguindo para o Caribe, foi apresentada em três capitais brasileiras: Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com a curadora do evento Claire Wilcox, o “fazer com as mãos” não tem sido muito explorado pela moda. “Se por um lado o mundo da moda oferece um espaço de ampla liberdade ao artesanato, por outro, as habilidades artesanais representam um recurso criativo imenso que muitas vezes não é reconhecido”, afirma Wilcox no catálogo da mostra. No entanto, inventividade não faltou aos participantes. Nomes já consagrados, como o designer de sapatos Manolo Blahnik, e no vos talentos do circuito “fashion” bri tâ ni co apre sen ta ram 83 aces só ri os nos quais a tô ni ca foi dada ao modo de pro du ção ar te sa nal e ao uso de di fe rentes ma te ri ais: ara me, cou ro, pra ta de lei, pe nas, en tre ou tros. Partindo do conceito de que os acessórios são como “satélites em órbita pelas extremidades do corpo”, a mostra foi como um resumo do que está acontecendo com a cabeça, os pés e as mãos dos britânicos. Claro, nem todos teriam coragem de usar muitos dos objetos vistos na exposição... Mas a moda – dizem – é assim mesmo. ❉

66 ARC DESIGN

Nesta página: no alto, à esquerda, bota em couro de cabrito e de bezerro, pintada em preto e verde com salto feito à mão, design Joanna Walker; acima, carteira Leque, bordada com linhas de cetim e seda, design Lulu Guinness; à esquerda, bolsa em organza de seda com adornos em prata de lei, design Emily Jo Gibbs. Na página ao lado, em sentido horário: chapéu Fechos Azuis, em cobre moldado eletronicamente, design Adele Tipler; chapéu Dente-de-Leão, em pena de avestruz, “spartre” e flocos, design Jo Gordon; Cálamos em Vôo, em cálamos de penas, design Dai Rees; Picos Gêmeos, em lona de chapelaria, arame, tarlatana, feltro e lantejoulas, design Pip Hackett


Foto Kevin Summers

Foto Gry Garness Foto Gry Garness


Photograph by Renato Zacchia. Copyright © 2000 Dlogic Corp., New York City. Dlogic, designlog.com, and designzine.com logos are registered trademarks of Dlogic Corp. All rights reserved.

Fatos sem Fotos.Fatos sem Foto

ÀS ESCOLAS UNIVERSITÁRIAS DE DESIGN Todas as escolas universitárias de design do Brasil estão convidadas a participar do workshop “Designing Designers”, organizado pela Faculdade de Arquitetura/Design do Instituto Politécnico de Milão, por iniciativa dos professores Sassaro e Simonelli, e de Rodriquez, presidente da Federlegno-Arredo, Itália. O evento é realizado anualmente em Milão, Itália, durante o Salão do Móvel. Razões para o encontro? Afirma-se que antes de desenhar o produto é necessário dese nhar a matéria. Hoje se vai além: é necessário “desenhar” o designer, ou seja, dar ao profissional em formação as armas e condições para o exercício consciente da profissão; é ne cessário capacitá-lo para colaborar com a indústria, para atuar de modo responsável. “Designing Designers” ou “Desenhando o Designer: estratégias de formação para o Terceiro Milênio” é o título desse workshop anual que trata de questões curriculares e que, pelo segundo ano consecutivo, foi realizado em Milão durante o Salão do Móvel, em abril de 2001. Os temas gerais desse segundo encontro tinham como título: “Projetos de formação e pesquisa para a indústria e para os pólos industriais” e “Projetos de formação e pesquisa para o mundo em vias de desenvolvimento”. Alguns dos relatos apresentados diziam respeito a: “O designer a serviço do melhoramento constante da qualidade dos ambientes urbanos” (Instituto para o Design Integrado; Bremen, Alemanha), “A estratégia do design entre universidade e indústria” (Politécnico de Milão, Itália), “As características da formação do designer industrial em um contexto de recente industrialização” (Escola Politécnica de Istambul, Turquia), “O ensino do design visando uma projetação colaborativa” (PUC/RJ, Brasil). Cento e dez docentes universitários (dos quais 42 estrangeiros) e 20 estudantes, representando 37 escolas universitárias de 17 países participaram do workshop, organizado pelo COSMIT (organizadores do Salão do Móvel), relatando suas experiências. ARC DESIGN assistiu algumas apresentações do segundo encontro – no qual a única escola brasileira era a PUC/RJ – e, como ficou impressionada com a importância desse trabalho, se coloca à disposição das escolas universitárias para qualquer esclarecimento, pelo e-mail editoraarc@arcdesign.com.br.

designzine.com—the online newsstand for design—is where you will find articles from Arc Design and other distinguished magazines. designlog.com—the global source for design—is where you can peruse the complete catalogs of cutting-edge manufacturers.



O mate rial para esta seção foi for ne ci do pelo Material ConneXion. Tradução: Winnie Bastian

DECORCOAT (tm)

mc# 1475-02

Processo decorativo que permite revestir alumínio e aço (em folhas ou rolos) com duas – em alguns casos três – cores diferentes de uma única vez. Possibilidade de aplicação de qualquer cor – até mesmo as metálicas – e de relevo. Utilizado para decoração de interiores em carros (painel), decoração de paredes em barcos, revestimento externo de paredes e sistemas de telhado Categoria: Metais

MATE­RIAL CON­NE­XION

SPECTRA BOUND (TM) / KID KUSCION

mc# 3579-01

Placas para revestimento de pisos em áreas desportivas. Feitas totalmente a partir de pneus reciclados, são utilizadas principalmente em áreas recreativas infantis Categoria: Polímeros

EXTRUDED PL ASTIC NETTINGS

mc# 3411-01

Redes plásticas obtidas a partir de um processo de extrusão contínua. Disponíveis em diversos tamanhos e materiais, como polipropileno, polietileno e nylon. São geralmente usadas para filtragem, controle de erosão, agricultura e aquacultura Categoria: Polímeros

METAL FOAMING BY POWDER METALLURGY

mc# 3071-01

Processo para extrusão de ligas metálicas, formando uma espécie de “espuma sólida”. Essas peças possuem microestrutura isotrópa com células fechadas e apresentam alta fração de porosidade. Uma gama de ligas – incluindo alumínio, zinco, chumbo e aço – pode ser expandida a partir desse método, na forma de painéis de espuma metálica ou perfis ocos preenchidos com esta “espuma” Categoria: Metais

ICE STONE

mc# 3547-01

Material construtivo composto de 83% de vidro reciclado, aglutinado com cimento e aditivos. É três vezes mais resistente que o concreto, à prova de fogo, moldável a qualquer forma e tão usinável quanto pedra e vidro. Está disponível em uma ampla paleta de cores, em folhas planas para paredes interiores e exteriores, divisórias de banheiros, tampos de mesa, pisos e superfícies decorativas. Possui a resistência, o toque e a durabilidade das pedras naturais Categoria: Materiais com Base de Cimento, Vidros


GEOLOGICA(r) COLLECTION

mc# 2002-01

Aglomerado naturalmente colorido que não utiliza aglutinante. É composto de ingredientes de pedras naturais, argila e óxidos metálicos, que são moídos e sedimentados em placas (ladrilhos). Resistente à umidade, abrasão, impacto, produtos químicos e choque térmico. Tem sido utilizado na arquitetura, tanto para aplicações externas – como revestimento de fachadas – como internas Categoria: Materiais Naturais

FIBER STONE TECHNOLOGY

mc# 3638-01

Painel “sanduíche”, composto por uma fina cobertura de pedra, polímeros de fibra de vidro reforçada e um cerne em colméia de alumínio. É utilizado para paredes sem fins estruturais e revestimentos de piso Categoria: Materiais Naturais, Polímeros, Vidros, Metais

FORTRA (TM) FIBER-CEMENT BOARD

mc# 3790-01

Prancha de fibrocimento que reproduz o aspecto da madeira e ao mesmo tempo possui a durabilidade do concreto. Composta de cimento, areia e fibras de madeira, é utilizada para painéis de acabamento Categoria: Materiais com Base de Cimento, Materiais Naturais

TOUGHTEK

mc# 3749-02

Tecido resistente à abrasão por contato, revestido com polímero de fórmula patenteada. É rugoso e não escorrega, quer esteja seco ou molhado, no frio ou no calor. Disponível em duas versões – standard e extra-rugosos –, com diversas cores e texturas e pode possuir como base malha, tecidos ou não-tecidos. Não propaga fogo. Aplicações incluem luvas, malas, bagagens, mochilas, sapatos e cadeiras Categoria: Polímeros

AIR JET TEXTURING

mc# 4144-01

Processo no qual fios formados por um único filamento de nylon são pulverizados e emaranhados para ficarem felpudos (em diversas densidades) e, então, construir um fio semelhante ao fio natural torcido, como chenille e bouclé. O processo pode ser utilizado com quaisquer fibras filamentares, como rayon, carbono, polipropileno, Kevlar(r) (DuPont) e Cut Resistant Fiber (CRF) Categoria: Polímeros, Materiais Naturais, Derivados de Materiais Naturais, Materiais com Base de Carbono

71 ARC DESIGN



Q

Quem investe no design?

FIRma casa vOkO

FORma EscRIba GIROFLEX 1 ARC DESIGN


Voko

Acima, detalhe do sistema de passagem de cabos da linha Physio. Nele, os fios passam por todo o painel, o que facilita sua acomodação. À direita, estação operacional: layouts flexíveis que permitem rápidas reconfigurações

Compor ambientes conforme as necessidades atuais da empresa, mas considerando também as necessidades futuras. Essa é a característica fundamental da linha Physio de estações de trabalho. Desenvolvido pela Voko, o sistema procura garantir a flexibilidade nas mudanças do espaço físico dos escritórios: a partir dos mesmos componentes originais, o usuário pode começar com uma configuração standard e, posteriormente, alcançar níveis mais sofisticados de layout ou tecnologia. Se mobilidade é a ordem do dia quando se trata de “novas maneiras de trabalho”, isso não se aplica apenas ao nomadismo. Ao mesmo tempo


À

esquerda,

estação

gerencial: configura ções diferenciadas e compactas que otimizam a utilização de espaços. Abaixo, outro detalhe da passagem de fios

que as revoluções na informática possibilitam o trabalho em qualquer lugar ou hora, dentro do escritório essa necessária mobilidade pode trazer problemas: como deslocar e acomodar tantos fios? Na linha Physio a questão é solucionada por um sistema de passagem que não só acomoda os cabos elétricos como facilita as mudanças de configuração, sem exigir complexas operações de desmontagem das estruturas dos biombos. Dispondo de grande variedade de acabamentos, a linha Physio confirma uma característica constante nos produtos Voko: lançar mão de ferramentas de design para projetar espaços de trabalho inteligentes. ❉

VOKO Av. das Nações Unidas, 12.995 - Mezanino Brooklin - São Paulo, SP Tel.: (11) 5507-3730 - vendas@voko.com.br


forma

Pensar fora da caixa: esse princípio

FORMA Av. Cidade Jardim, 924 São Paulo, SP Tel.: (11) 3816-7233 www.forma.com.br

Nas duas páginas, sistema Resolve. Na página ao lado, no alto, estações de trabalho conjugadas que fogem do tradicional sistema de “baias”. Nesta página, estações com tela superior para proteção de reflexos e ar-condicionado; no caso das estações

in dividuais

(no pé da página ao lado), a tela se prolonga verticalmente para proporcionar mais privacidade ao trabalhador

ponto – e não com uma linha ou uma

orientou o desenvolvimento do Resolve,

parede para divisão do espaço –, um

um sistema para escritórios que liberta

poste (ou eixo) usado para alojar cabos,

os profissionais das “baias” isoladas.

principal elemento articulador do sistema.

Produzido pela Herman Miller e proje-

O sistema Resolve possibilita várias

tado por Ayse Birsel, será, em breve,

configurações, sempre utilizando o

distribuído pela Forma.

ângulo de 120 graus, que substitui a

Desde o início, Birsel pensou fora da

sensação de “encaixotamento” dos sis-

“baia”. “No mínimo, um escritório deve

temas tradicionais pela de abertura.

proporcionar um lugar para conectar

Algumas estações de trabalho possuem

equipamentos e ter acesso a cabos. A par-

uma tela vertical com uma curvatura na

tir daí, é possível tomar posse de seu

parte superior que se liga ao eixo e pos-

espaço para atender outras necessi-

sui rodízios que permitem seu repo-

dades”, diz a designer. Partindo desse

sicionamento para reduzir o reflexo

princípio, iniciou o projeto com um único

nos monitores, bloquear uma saída de


ar-condicionado ou simplesmente para dar mais privacidade – soluções para as maiores queixas na rotina dos escritórios. Podem parecer ajustes sem importância, mas representam, para quem trabalha, um grande controle sobre o ambiente. E maior controle leva a menor desgaste. No início do processo de desenvolvimento do Resolve, foram mostrados protótipos a 200 profissionais: a maioria não gostou, o que foi considerado um resultado positivo. Se a resposta tivesse sido diferente, significaria que as idéias eram muito comuns.


Escriba

ESCRIBA Tel. (11) 4787 3800 www.escribanet.com.br

SHOWROOM Av. Europa, 715 São Paulo

Mais recente lançamento da Escriba,

zados, também, em home-offices. Mobi-

ArxStudio é uma linha de produtos mul-

lidade e versatilidade são as principais

tifuncionais para espaços de trabalho,

características desse sistema: as peças

planejada para atender aos diversos

podem ser adaptadas para criar um es-

ambientes do escritório: áreas de recep-

paço de trabalho, a partir de mudanças

ção ou espera, salas de reunião e postos

simples e rápidas, facilitando reconfigu-

individuais de trabalho. Podem ser utili-

rações de layout quase instantâneas.


Coerentes com essa filosofia, muitos

perfícies de reunião (quadradas ou re-

elementos que compõem o sistema

tangulares) e superfícies representati-

ArxStudio apresentam versões com ro-

vas de reunião e conferência (destina-

dízios especiais, dotados de freios. Três

das a áreas como direção e presidência).

tipos de superfície compõem o sistema:

Disponível no mercado desde o início do

superfícies avulsas (em formato oblon-

ano, a linha ArxStudio é o retrato do

go, com rodízios ou deslizadores); su-

novo escritório: leve, colorido e versátil.

Superfícies

de

trabalho

ArxStudio:

versatilidade na combinação dos acabamentos e cores de tampos e pés (com e sem rodízio). Design josé roberto calejo


Giroflex

No alto das duas páginas,

O investimento em pesquisa, tecnologia e

sável pelo projeto, os show-rooms apresen-

fachadas de alguns show-

desenvolvimento consolidou a imagem da

tam grande modularidade, proporcionando

rooms Giroflex; da esquerda

Giroflex como uma empresa de ponta no

espaços flexíveis e dinâmicos, que podem

que se refere a mobiliário de escritórios.

ser facilmente modificados para dar lugar a

Os show-rooms são determinantes no

atividades esporádicas, como uma expo-

desempenho da empresa, motivo que le-

sição ou um lançamento de uma nova linha

vou a Giroflex a investir na reformulação

de mobiliário.

desses espaços.

Decidiu-se por uma arquitetura de inte-

para a direita: Piracicaba, Goiânia, Santos e Londrina

Segundo Antonio Malicia, do escritório

riores neutra, que valorize o produto. Com

Batagliesi Arquitetos + Designers, respon-

ambientes claros, as cores que se destacam


GIROFLEX R. Dr. Rubens Gomes Bueno, 69 Santo Amaro - São Paulo, SP Tel.: (11) 5643-2900 www.giroflex.com.br são as do mobiliário e as dos estofados. Sinalização e detalhamento de revestimentos complementam o projeto, que proporciona unidade de linguagem entre os diversos show-rooms da empresa. A Giroflex possui pontos-de-venda em todos os Estados do Brasil; atualmente, cer-

No pé das duas páginas, vistas internas do

ca de 40 show-rooms já estão reformula-

show-room localizado na fábrica da

dos, condizendo com o espírito da Giroflex:

Giroflex, em Santo Amaro, o primeiro a

uma empresa em constante inovação.

passar pela reformulação












Uma Publicação Quadrifoglio Editora ARC DESIGN nº 20, junho/julho 2001

Apoio:

Diretora Editora – Maria Helena Estrada Diretor Comercial – Cristiano S. Barata Diretora de Arte – Fernanda Sarmento Redação: Editora Geral – Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico – Fernanda Sarmento Chefe de Redação – Winnie Bastian Revisora – Jô A. Santucci Produção – Tatiana Palezi Arte: Designers – Adriana Lago Anita Cortizas Cibele Cipola Participaram desta edição: Fernando Laszlo Fernando Salles Rômulo Fialdini Tomás de Sá Departamento Administrativo: Cláudia Hernandez Vivian Camões (secretária) Departamento de Circulação e Assinaturas: Thais Gameiro

Apoio Institucional:

Conselho Consultivo: Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo; Maureen Bisilliat, curadora do Pavilhão da Criatividade do Memorial da América Latina; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, presidente da Federlegno-Arredo, Itália, consultor de Arc Design para assuntos internacionais Fotolito: Relevo Araújo Impressão: Litokromia Print Papel: Suzano Papel – Couchê Reflex Matt (miolo – 150 g) Supremo Duo Design (capa – 250 g) Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições, ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Quadrifoglio Editora, Projetos de Marketing Ltda. Rua Lisboa, 493 – São Paulo – SP CNPJ – 01.792.485/0001-66 IE – 206.094.268.113 ISSN 1415 – 027

Arc Design: endereço para correspondência Rua Lisboa, 493 - CEP 05413-000 São Paulo – SP Telefones Tronco-chave: (11) 3088-8011 FAX: (11) 3898-2854 e-mails Assinaturas Redação Direção de Arte Administração Editora

assinearc@arcdesign.com.br redacaarc@arcdesign.com.br artearc@arcdesign.com.br administarc@arcdesign.com.br editoraarc@arcdesign.com.br

Internet Site:

www.arcdesign.com.br








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