Revista ARC DESIGN Edição 50

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Nº 50 ARC DESIGN

R$ 15.00 QUADRIFOGLIO EDITORA

Nº 50

2006

2006

REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

FIBRAS E COUROS NA MODA PROPOSTAS BRASILEIRAS PARA O MERCADO INTERNACIONAL

BELÉM CULTURA, RESTAUROS, DESIGN

SOMOS NOSSA CRIAÇÃO POPULAR EM MOSTRA ANTOLÓGICA

ARQUITETURA PAULISTANA DEPOIS DO MOVIMENTO MODERNO

ARTHUR CASAS LANÇA MOBILIÁRIO EM SOFISTICADOS INTERIORES

SOM DIGITAL CONHEÇA SUAS NOVAS FACES E FAÇANHAS

DESIGN GRÁFICO NOVAS LINGUAGENS BRASILEIRAS


Fabio Del Re

Acervo ARC DESIGN

Chapéus, bolsas, colares, flores – a fibra do tururi, até agora ignorada, torna-se material da moda – e na moda – com direito a passarelas. O Pará, rico em sementes e fibras, nos dá o tururi, fibra de uma palmeira da ilha de Marajó. Um material rico em texturas, em transparências, moldável. Nossos olhos, antes acostumados à estética européia, estão abertos para tudo o que até algum tempo parecia não ter valor. Nossos designers procuram na natureza

Fabio Del Re

Aci ma, foto da capa com cha péu de tu ru ri em sua mais bo nita ex pressão: a trans pa rên cia; abai xo, co lar com pingentes em for ma de cha péu, tam bém na fi bra do Pará

sua matéria-prima. Nossas instituições, com destaque para o Sebrae, já enxergam essa nova riqueza e as parcerias são cada vez mais numerosas. Tudo caminha para a criação de um vasto repertório original, ou seja, que remete à nossa origem primeira – a natureza. Renato Imbroisi e os designers que com ele formam equipe, com sensibilidade e entusiasmo, são a mola propulsora na descoberta e no desenvolvimento de uma das vertentes do design brasileiro de raiz artesanal. Já diziam os portugueses que “em se plantando tudo dá”. Estava errado, não precisa nem plantar – basta

À di rei ta, bol sa na qual o tu ru ri subs ti tui o cou ro ou te ci do; à es quer da e no alto da pá gi na, pul sei ras em tu ru ri. O pro je to Tu ru ri de Mu a ná, que faz par te do Ta len tos do Bra sil, uma ini cia ti va do Se brae e do Mi nis té rio do Desen vol vi men to Agrá rio, foi ori en ta do por Re na to Im broi si, Ana Lu i za Lo Pumo e Fer nan da Sklovsky

Ac er vo AR C DE SI GN

Fabio Del Re

olhar a natureza e sua vegetação nativa.


5 0 edi çõ es. Qua se 10 anos. E mu i tos ques ti o na men tos, opi ni õ es con -

tra di tó ri as, pon tos de vis ta di ver sos que se mos tram de for ma cla ra nes ta edi ção. As 50 edi çõ es de ARC DE SIGN tra çam um per cur so do de sign, no Bra sil e do Bra sil. Da pre do mi nân cia do de sign ita li a no e seus es ti los, à “cara bra si lei ra”, seja no de se nho in dus tri al ou no seu li mi te opos to, o de sign de raiz ar te sa nal, fo mos es cre ven do uma his tó ria que se des lo ca, muda de rumo, avan ça à me di da que sur gem acon te ci men tos de im por tân cia no uni ver so do de sign, da ar qui te tu ra, da moda, do de sign grá fi co, do com por ta men to e do con su mo. A ma té ria so bre Be lém in tro duz um Bra sil ain da pou co co nhe ci do e fala do de sa fio de se cri ar de sign con tem po râ neo e de qua li da de no nor te do país. E mais: de se nho in dus tri al, ar qui te tu ra, de sign de in te ri o res, cul tu ra po pu lar, ar te sa na to – esta edi ção é mu i to bra si lei ra! E fa lan do em con tras tes, um his tó ri co de nos sos ele tro do més ti cos apa re ce em con tra po si ção à mo der nís si ma tec no lo gia do som digital. Es tar na moda é hoje uma op ção que im pli ca gran de agi li da de – prin ci pal men te men tal. Sem pre no rit mo das mu dan ças no mun do. ARC DE SIGN é um con vi te per ma nen te ao sa ber con tem po râ neo, à crí ti ca e ao re e xa me de opi ni õ es – man ten do sem pre aler ta o eixo da co e rên cia com a pró pria ver da de. Va mos nos exer ci tar? Ma ria He le na Es tra da Edi to ra


História, arquitetura, ar tesanato e os sabores e cheiros de Belém, cidade que sediou o seminário para inaugurar o “Centro de Design da Amazônia”, do Sebrae Pará

20

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Projeto de recuperação e valorização do ar tesanato, em diversas par tes do país, Talentos do Brasil desenvolve o potencial da fibra do tururi do Pará e do couro do peixe de Mato Grosso do Sul

Uma pesquisa cuidadosa sobre antigos utensílios domésticos – do fogão a car vão à enceradeira – resultou na exposição “Eletrodomésticos, Origens, História & Design no Brasil”, instalada no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro. Uma viagem ao passado e uma maneira de conhecer a evolução do design nesse segmento

NEWS

Enrico Morteo

NÃO SE OUVE MAIS MÚSICA COMO ANTIGAMENTE

COMPANHEIROS DE CAMA E MESA

Ethel Leon

TALENTOS DO BRASIL

Keila Bis

A CIDADE DO CHEIRO CHEIROSO

Maria Helena Estrada

12

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Os discos de vinil se foram, a fita cassete também e agora, com a chegada do MP3, os CDs parecem estar com seus dias contados. Pequenos aparelhos po dem supor tar um nú mero cada vez maior de músicas e as caixas de som seguem a mesma regra: pequenas, porém mais potentes

4

OPINIÃO

28

JOVENS DESIGNERS

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ALTERNATIVAS PARA O DESIGN

50

REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

nº 50, outubro 2006


Uma casa dos anos 1950 dá lugar, após seis meses de obra, a um estúdio fotográfico com características contemporâneas: além de atender ao pedido do cliente, o projeto é fiel aos princípios de seu autor, o arquiteto Ar thur Casas

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44

Seis escritórios de arquitetura se reuniram para divulgar a produção arquitetônica e urbana contemporâneas visando uma discussão em torno desses temas. O resultado é a mostra “Coletivo”, em car taz até 12 de novembro, em São Paulo

SOMOS é a mostra apresentada pelo Santander Cultural, impor tante centro multicultural de Por to Alegre. Com curadoria de Janete Costa, a exposição mostra as melhores peças de criação popular brasileira, de nor te a sul

Fernanda Sarmento

NOVAS LINGUAGENS NO DESIGN GRÁFICO NACIONAL

Maria Helena Estrada

SOMOS A CRIAÇÃO POPULAR BRASILEIRA

ARQUITETURA COLETIVA

Winnie Bastian

Ana Paula Orlandi

MUDANÇA DE CASA

34

58

Uma análise sobre a 8ª Bienal Brasileira de Design Gráfico ADG Brasil, que aconteceu entre junho e agosto passado, revela – entre outras mudanças – que o ar tesanato e a cultura popular estão cada vez mais presentes nos trabalhos dos designers gráficos

PRÊMIO TOP 100 ARTESANATO

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LOUCOS POR DESIGN

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VICO MAGISTRETTI – ADEUS, MESTRE

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COMO ENCONTRAR (ENDEREÇOS)

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SHOPPING TAMBÉM É CULTURA

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ENGLISH VERSION

www.arcdesign.com.br


Cristiano Americano do Brasil

Letícia Remião

O AMBIENTE AGRADECE

ARQUITETURA EM FOCO

A preocupação com o destino dos materiais de descarte e

A Biblioteca Nacional do Conjunto Cultural da República, uma das

com a escassez dos recursos não-renováveis tem levado al-

mais recentes obras de Oscar Niemeyer, será a sede da 5ª Bienal de

gumas empresas a combinar derivados de petróleo, como o

Arquitetura de Brasília, que acontece de 11 a 26 de novembro. Pro-

polipropileno, com sobras de outros materiais, como a celu-

movido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Depar tamento do

lose e a madeira.

Distrito Federal, o evento foi dividido em dois núcleos: mostra com-

Um exemplo é a linha Madeplast, criada pela Marfinite em par-

petitiva e mostras paralelas. O primeiro premiará dez trabalhos –

ceria com a Suzano Petroquímica, cujos produtos são forma-

os vencedores serão conhecidos no dia 17 de novembro – dentre

dos por 50% de raspas de madeira que são descartadas pela

inscritos de toda a América do Sul, nas categorias Obra Executada e

serraria, 50% de polipropileno e aditivos que agem contra os

Projetos Não-Construídos. O segundo núcleo é composto por ofici-

danos provocados pelos raios ultravioleta. As peças, que têm

nas, conferências, exposições internacionais, exposições de arqui-

aparência de madeira, são dirigidas aos segmentos de uten-

tetos brasilienses e mostra de trabalhos de estudantes.

sílios domésticos e de móveis para áreas externas.

Mais informações no site www.bienalbrasilia.com.br

Já a empresa gaúcha Coza investe na ampliação da linha Bios

Silvia Cadeville

– lançada em março deste ano –, cujas peças são feitas com polipropileno, lignina (uma resina que é sobra do processo de

PARA TODOS OS GOSTOS

extração da celulose) e fibras têxteis. A novidade são objetos

Conhecida pela fabricação de pu-

para banheiro, como porta-sabonete e porta-algodão. A pri-

xadores e maçanetas, a Altero

meira linha havia sido dedicada a produtos para mesa.

Design agora amplia sua área de

www.marfinite.com.br; www.suzanopetroquimica.com.br;

atuação e lança uma linha de mis-

www.coza.com.br

turadores e torneiras para lavabo e banheiro. Cerca de 30 modelos – alto, baixo, de parede, com cascata, monocomando ou comando normal – compõem a nova linha, que tem design italiano e minimalista, e diferentes acabamentos, como dourado e cromado. As peças atendem às normas de qualidade exigidas no Brasil – inclusive no que se refere à economia de água – e têm 15 anos de garantia. www.altero.com.br


Arc Design Dominici

9/19/06

2:03 PM

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O Shopping CasaPark, especializado em decoração e design, criou um espaço de 200 m2 dedicado a arquitetos e decoradores que, muitas vezes, atendem seus clientes no próprio shopping. O local recebeu o nome de Studio CasaPark e é

Jefferson Bandeira de Mello

EM NOME DO BOM ATENDIMENTO

equipado com pontos para laptops e sala de reuniões montada com sistemas de data-show, caso os profissionais precisem apresentar seus projetos. Além disso, há revistas do segmento, armários onde podem ser guardados objetos de valor e um living com máquinas de café. No local, idealizado pelas arquitetas Valéria Gontijo e Ana Paula Barros, funciona também a empresa Stretch, que oferece treinamento em programas especializados, impressão de plantas e outros – mas

LUZ RENOVADA

esses ser viços são pagos.

Ao completar 10 anos, em setembro, o Museu de Arte Contemporânea

Shopping CasaPark: Setor SGCV Sul/Lote 22, Brasília.

de Niterói (MAC), projetado por Oscar Niemeyer, inaugurou seu novo

www.casapark.com.br

sistema de iluminação, totalmente reformulado pelo lighting designer

Viviane Vilela

Peter Gasper. Com as mudanças, além de valorizar esteticamente o edifício e as obras nele expostas, o MAC passou a ser um modelo de eficiência energética, atendendo aos mais recentes padrões internacionais: o museu agora tem o dobro de lâmpadas, mas seu consumo não cresceu em nada. Nos espaços internos, um dos destaques é o sistema de iluminação direcional, criado por Gasper em conjunto com a Pinakhoteke, no qual uma luminária esférica se desloca por um trilho metálico, permitindo o direcionamento do foco de luz para qualquer lado. Para a iluminação externa, Gasper buscou valorizar as formas do edifício e destacar seu volume. Para isso, recorreu a suaves mudanças no contraste da iluminação, em sucessivas oposições de claro e escuro.

LUMINÁRIAS FALAM dência. Em uma clara referência ao universo dos cartoons, o designer Ricardo Utsumi criou a luminária Dialog, uma forma diver tida de personalizar ambientes. Feita em acrílico e metal galvanizado, a peça tem o formato de um “balão” de diálogo – 10 x 24 x 8 cm –, que recebe a aplicação de letras em vinil adesivo. Há alguns modelos com frases-padrão, mas é possível customizar a peça e inserir qualquer frase. Use a imaginação! www.dialogdesign.com.br

Jefferson Bandeira de Mello

Qualquer semelhança com os quadrinhos não é mera coinci-

www.macniteroi.com


casa brasil

19/10/2006

16:55

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ANALISANDO O PASSADO Para comemorar os 50 anos da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) organizou a mostra “Concreta 56: a Raiz da Forma”. Para um dos curadores, o designer André Stolarski, “as artes plásticas, assim como o design produzido naquele período (1956), perpetuaram uma das heranças

CIDADES X DE SIGNERS

da produção atual”. O público terá acesso a pinturas, fotografias,

“Dez Formas de Projetar uma Cidade” é o nome da exposição

cartazes, anúncios de propaganda, capas de discos e livros, entre

que acontece em Quito, de 13 a 19 de novembro, e que faz

outras exibições daquele período, subdivididos em duas seções:

parte da XV Bienal de Arquitetura Pan-americana. O aconteci-

ar tes plásticas (organizada pelo ar tista Lorenzo Mammi) e design,

mento é resultado de anos de pesquisa dos arquitetos e cu-

poesia e mobiliário (a cargo de Stolarski e do poeta João Bandeira).

radores, Joan Busquets e Felipe Correa, focada em descobrir

A exposição pode ser vista até 3 de dezembro.

as ferramentas e os métodos utilizados pelos designers para

www.mam.org.br

abrir espaços, construir cidades. Os resultados dessa investigação serão apresentados em discussões de temas como “Reciclando Teorias, Grandes Paisagens e Descentralização”

MELHORES MÓVEIS

e “Procedimentos Especulativos, Investigação Experimental

Projetar um móvel para um lugar específico, como residências, escri-

em Urbanismo”. Pretende-se, dessa forma, estruturar uma

tórios, clubes e igrejas. Esse é o desafio lançado pelo 3º Prêmio De-

pedagogia para que os profissionais de design saibam qual a

sign Movelpar, que acontece durante a Movelpar (feira de móveis),

sua função e quais técnicas eles podem dispor na inter ven-

de 12 a 16 de março de 2007, em Arapongas, PR. Promovido pelo Pa-

ção urbana. Após Quito, a exposição segue viagem para ou-

vilhão de Exposições de Arapongas (Expoara) e Arranjo Produtivo Lo-

tros países da América Latina.

cal de Móveis de Arapongas (APL), o concurso é dividido em três ca-

www.baq2006.com

tegorias: Estudante, Profissional e Indústria. As inscrições podem ser feitas até o final de novembro e, especialmente nesta edição, estão abertas também para os designers argentinos. Os classificados na primeira etapa terão os meses de janeiro e fevereiro para desenvolver os protótipos, que deverão ser entregues duas semanas antes do início da feira. Os resultados serão divulgados durante a Movelpar e os primeiros colocados nas categorias Profissional e Estudante receberão uma viagem à Itália (com hospedagem e ingresso para a Feira Internacional do Móvel de Milão) e ajuda de custos de R$ 5 mil e R$ 2 mil, respectivamente. O primeiro colocado na modalidade Indústria receberá o selo de excelência Movelpar Premiação 2006. Inscrições e outras informações pelo site: www.movelpar.com.br


casa brasil

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ESCRITA E LINGUAGEM As Edições Rosari acabam de lançar o “A Forma Sólida da Linguagem”, um ensaio sobre a natureza e a classificação da linguagem escrita, de Robert Bringhurst. Poeta e tipógrafo, autor de diversos livros sobre a área – o mais famoso é “Elementos do Estilo Tipográfico”, que ganhou, recentemente, versão brasileira –, Bringhurst apresenta uma breve história da escrita e um novo modo de classificar e entender a relação entre escrita e significado. Os primeiros quatro capítulos descrevem as formas mais antigas de escrita, suas movimentações ao redor do mundo e os desenvolvimentos tipográficos dentro e através das línguas. No quinto capítulo, Bringhurst introduz seu sistema de classificação de escritas, no qual analisa em que grau as diferentes línguas incorporam as quatro categorias da linguagem escrita: semográfica, silábica, alfabética e prosódica. www.rosari.com.br

ÍCONES DO DE SIGN EM DI VER SOS AMBIENTES A empresa italiana Edra, famosa por seus móveis assinados por grandes nomes do design internacional, acaba de lançar o livro “Interiores com Edra”, editado pela The Plan Art & Architecture Editions. O leitor poderá conhecer 32 ambientes que foram selecionados a partir de uma vasta gama de espaços mobiliados pela empresa no mundo todo, como casas da costa do Mediterrâneo, apar tamentos, lofts, hotel cinco estrelas, a embaixada italiana em Brasília (com projeto de interiores assinado por Fernando e Humberto Campana) e muitos outros. Dessa forma, a obra revela diferentes moradores e usuários, cada um com seu estilo de vida, o qual obviamente se reflete na maneira de decorar. www.edra.com

A PERCEPÇÃO DA LUZ

CASAS DO BRASIL

A mostra sobre os 20 anos de car-

O segundo volume do livro “Oca:

reira do arquiteto e lighting desig-

Arquitetura no Brasil – edição

ner Guinter Parschalk está repre-

Casas” é um retrato das diver-

sentada no livro “Lighting Design

sas maneiras de viver e morar

– Portfólio Brasil”, de sua autoria

nas diferentes regiões do Brasil.

e do estúdio que comanda, Studio

Por meio de imagens, acompa-

IX. “Por trabalhar com as sutilezas

nhadas de plantas, cortes e fi-

da percepção me é difícil reconhecer que o retrovisor está

cha técnica, a publicação apre-

cada vez maior e eu, que sempre fui de olhar para a frente, te-

senta 61 projetos de arquitetura

nho que ceder espaço para este tempo que se foi”, conta

residencial contemporânea de importantes profissionais como Arthur

Parschalk na introdução do livro. A obra é composta de fotos

de Mattos Casas, Simone Mantovani, Thiago Bernardes e Paulo Jacob-

de projetos comerciais e residenciais e algumas de suas lu-

sen. Na introdução, a arquitetura bandeirante trazida pelos portu-

minárias. A publicação tem textos em português e inglês e

gueses é abordada, assim como as construções indígenas foram no

faz parte da coleção Portfolio Brasil, da Editora J.J. Carol, que

primeiro volume do livro. Devido à linguagem fácil, a obra – com 416

busca apresentar o trabalho dos mais importantes arquite-

páginas e versão bilíngue –, lançada pela Editora Victoria Books,

tos, designers, fotógrafos e artistas plásticos brasileiros.

destina-se aos profissionais da área e àqueles que apreciam o tema.

O livro pode ser encontrado nas principais livrarias do país ou

Interessados podem encomendar o livro pelo telefone da editora:

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Processo seletivo

frente


Acervo ARC DESIGN

Fernanda Martins

À esquerda, vista do por to e do Mercado Ver-o-Peso, a par tir do For te do Castelo. Abaixo, o tucupi nas embalagens em que a fruta é transpor tada. Na pá gi na ao lado, o mer ca do de car nes, em fren te ao Ver-o-Peso, com toda a es tru tu ra em fer ro pro du zi da em Glas gow, Es có cia

A CIDADE DO CHEIRO CHEIROSO Ruas arborizadas com mangueiras, aromas desconhecidos de frutos e flores, um povo amável, e o som de um português bem falado, como não se ouve mais no Brasil. Esta é a Feliz Luzitânia ou Santa Maria do Belém do Grão Pará, uma cidade que declarou sua independência do Brasil em 1823. Depois, o ciclo da borracha a tornou rica, e foi nossa primeira cidade, já reintegrada a seu país, a ter luz elétrica, bonde e telefone

Maria Helena Estrada Fundada em 1616, Belém do Pará se manteve por muito tempo mais ligada a Portugal do que ao Brasil. E esta diferença se nota logo na chegada, não sentimos estar no norte ou no nordeste do país. Belém tem muito o que mostrar, começando pela “orla” fluvial, que aproveita os espaços restaurados das antigas docas. Arquitetura monumental, agora em sua nova configuração e destino, assume uma dimensão humana, onde há uma contrastante harmonia com os enormes guindastes e o rio manso. A Estação das Docas é um dos poucos lugares de Belém – a cidade foi edificada de costas para o rio – que se abre para as águas da baía de Guajará. Restaurantes e bares com mesinhas no terraço servem a cerveja de bacuri (delícia perfumada!), os sorvetes de mil frutas exóticas e

os sabores do tacacá, do taperebá e cupuaçu, da feijoa-

Ace

rvo

ARC

DES

IGN

desconhecidas para os sulistas de primeira viagem, e

da de maniçoba (que produz um leve torpor na boca),



Acervo ARC DESIGN

do caranguejo – que não é o siri, se apres-

Museu Goeldi e seu parque com imensa fauna e

sam a corrigir os paraenses.

flora; os espaços do Mangal das Garças, mara-

Qualidade é uma palavra que traduz a cida-

vilha plantada à beira de antigo mangue, com

de – da culinária à conservação do patrimô-

garças de um rosa forte povoando os jardins, um

nio cultural, todo restaurado pelo arquiteto Paulo Chaves, atual secretário estadual de Cultura.

diversos espaços; o Museu das Gemas, com inima-

Começamos pelo complexo arquitetônico Feliz Luzitâ-

gináveis cristais e pedras surgidas de escavações

nia, onde nasceu a cidade, com as edificações restaura-

arqueológicas, inclusive um tronco de madeira pe-

das do Forte do Castelo, construído no século XVII,

trificada. Instalado em um antigo presídio, o

da Casa das Onze Janelas (hoje sede do melhor

São José Liberto, sua sede acolhe, além do mu-

restaurante da cidade), da Catedral e do Museu de Arte

seu, uma oficina de ourivesaria, lojinhas de jóias e de

Sacra, vizinho à maravilhosa igreja de Santo

artesanato. No Goeldi e no São José Liberto pode-se

Alexandre, projeto do arquiteto ita-

comprar os brinquedos de Miriti, levíssimas miniaturas

liano Antonio Landi em 1760, com seu interior esculpido em jacarandá-escuro. Depois, outras raridades, como o 14 ARC DESIGN

mirante, restaurante e borboletário, ocupando os

trabalhadas na madeira clara e macia, que retratam a vida nos rios e na floresta, e que

Fernanda Martins

Fotos acervo ARC DESIGN

Acima, garrafinhas de água-de-cheiro e de poções preparadas com er vas medicinais da Floresta Amazônica, produto das er veiras do Pará, à venda no Vero-Peso. Abaixo, da esquerda para a direita: cestinho de palha e cuia, usados para ser vir o tacacá ou comidinhas típicas; miniatura em miriti representando devoto com cruz e figuras de bichos, carregada na procissão do Círio de Nazaré; coleção de sementes usadas nos colares, ar tesanato típico da região. Na página ao lado, em cima, a Casa das Onze Janelas, que integra o conjunto ar quitetônico da praça Feliz Lu zitânia; embaixo, o For te do Castelo, que abriga um belo museu com peças ar queológicas




têm seu momento de glória quando participam da procissão do Círio de Nazaré, sempre no segundo domingo do mês de outubro, desde 1793! Orgulho dos paraenses, com mais de um milhão de seguidores, essa é a mais antiga e a maior procissão católica do mundo. Por toda a cidade vêem-se também bandeirinhas vermelhas, sinalizando que “aqui tem açaí”. Imperdível, o Mercado Ver-o-Peso, também restaurado, onde se encontra da famosa farinha de mandioca paraense ao tucunaré seco, de maravilhosas sementes coloridas aos vidrinhos com poções para todos os males. Água de cheiro? Procure na banca da Beth Cheirosinha, filha da Beth Cheirosa. Nes ta pá gi na, mi nia tu ras das pe ças de ce râ mi ca ma ra joa ra e ta pa jô ni ca, re a li za das por Mes tre Car do so (fa le ci do em abril des te ano), úni co ce ra mis ta au to ri za do pelo Mu seu Go el di a re pro du zir e res tau rar pe ças ori gi nais, e fa zer as mi nia tu ras. Na pá gi na ao lado, con jun to São José Li ber to, com seu enor me cris tal e mi lha res de cris tais di ver sos em tor no à fon te, é sede do Mu seu das Ge mas e de di ver sas lo jas de ar tesa na to

Belém é rica em tradição, com palacetes não muito bem conservados e uma profusão de imensas grades e portas em ferro forjado, que eram produzidas na Inglaterra. A mais bela dessas estruturas é o mercado da carne, todo ele em ferro. Nesse outro Brasil, o Sebrae Pará inaugurou em agosto passado, com um bem articulado seminário, o Centro de Design da Amazônia. A Dra. Maria Oslecy Rocha Garcia, diretora-superintendente do Sebrae Pará e enérgica força propulsora dos projetos ali realizados, convidou o designer Carlos Alcantarino para levar adiante a idéia de incentivar o design local, começando por criar um centro de documentação e referência das riquezas dessa natureza exuberante, para em seguida desenvolver não apenas o artesanato, como também a aproximação entre profissionais do design e empresas. O primeiro pólo escolhido para ser tratado é o de design gráfico e embalagem – na verdade uma condição essencial para valorizar o que já se produz e vende, mas de forma primitiva.

Fotos acervo ARC DESIGN

No seminário, Ângela Carvalho, Adélia Borges, Camila Fix, Giovanni Vanucci, Geraldo Pougy e os irmãos Campana discutiram diversos temas ligados ao design contemporâneo. 17 ARC DESIGN


Walda Marques

A preocupação com a divulgação do design como ele-

Walda Marques

Walda Marques

Nesta pá gi na, par te da co le ção de mó veis do pólo move lei ro de Pa ra go mi nas (cuja li nha mestra é a eco lo gia), assistido pelo Se brae Pará, com pro je to do desig ner Car los Al canta ri no. Na pá gi na ao lado, o Por to das Do cas, res tau ra do pelo ar qui te to Paulo Chaves, que reú ne ba res, restau rantes, lo jas, es pa ço para eventos e para o “fo o ting”

mento estratégico esteve presente no discurso de diversos palestrantes, e teve como conclusão a mesa-redonda “O Efeito ‘design’ nos Resultados de sua Empresa”, com Filomena Padron, da Natura, e Arthur Benicol, da Tramontina, com a editora de ARC DESIGN, Maria Helena Estrada, como moderadora. Um dos primeiros projetos a ser implantado acontecerá no início de 2007, com oficinas e exposições montadas sobre uma enorme balsa que irá percorrer o rio Guamá, interagindo com as comunidades ribeirinhas vizinhas a Belém. Um novo mundo a ser integrado ao nosso rico repertório brasileiro. Esse novo mundo tem um passado bastante remoto e muito importante – a cerâmica marajoara e a tapajônica, cujos exemplares estão no Museu Goeldi. Os mais antigos remontam a mais de 1500 anos atrás. Há uma cidade inteira próxima a Belém, Icoaraci, onde se vive da cerâmica – aquela boa e a de má qualidade. Nesse universo sobressai o trabalho de mestre Cardoso, mor-

do Museu Goeldi para produzir réplicas e miniaturas da coleção. Vale uma visita. ❉ 18 ARC DESIGN

Fernanda Martins

to em abril deste ano, e único ceramista com permissão



Fotos Fabio Del Re

Aci ma, cha péu Ar raia, fei to com o au xí lio de um mol de de gesso com for ma to de uma ca be ça. As fi bras são co la das no mol de e após 20 mi nu tos já es tão se cas e o cha péu, pron to para ser usa do. Ao lado, co lar Pen ca de Flor, fei to à mão, na cor na tu ral da fi bra do tu ru ri e fio de pia çava. No pé da pá gi na, bro che An tú rio, que teve suas fi bras des co lo ri das para che gar à cor cre me. Na pá gi na ao lado, no alto, bol sa Tatu, sem tin gi men to e com alça de cou ro. Em bai xo, co lar Elos da Na tu re za: os elos são fei tos de pia çava e a flor, de fi bra de tu ru ri

TALENTOS DO BRASIL Pro je to do Mi nis té rio do De sen vol vi men to Agrá rio em par ce ria com o Se brae e a Pe tro bras, Ta len tos do Bra sil é uma das di ver sas ini ci a ti vas – do go ver no e de em pre sas – que es tão trans for man do o de sign de raiz ar te sa nal em um dos ca mi nhos mais pro mis so res para vi a bi li zar a pro du ção con tem po râ nea no país. Este de sign com iden ti da de pró pria, re co nhe cí vel e va lo ri zá vel, é o que o mun do – dos pro du to res aos con su mi do res – está pe din do 20 ARC DESIGN


Keila Bis Agregar componentes e/ou valores artesanais, próprios das diferentes culturas, é uma das maneiras de fugir da repetição “ad infinitum” dos mesmos padrões formais existentes em todo o mundo. Essa vertente de pensamento é comprovada por dois projetos da equipe coordenada por Renato Imbroisi, dessa vez em Marajó e em Mato Grosso do Sul, com fibras naturais e com a pele de peixes, respectivamente. Essas intervenções, sempre delicadas, aprimoram antigas técnicas ou fazeres, introduzem novas idéias e desenhos, os quais são assimilados pelos membros das comunidades.

Coxim, Corumbá e Miranda, em Mato Grosso do Sul. Com esse projeto, no qual também atuaram as designers Liana Bloisi e Maria Cristina Moura, entra em cena uma nova matéria-prima, que já começa a ganhar valor no

TURURI

Mulher-Peixe é o projeto realizado em comunidades de


Fotos Lena Trindade

mercado internacional: a pele dos peixes. “Se antiga-

nascem nas copas da palmeira bususezeiro. Transfor-

mente a pele era jogada fora, hoje nós a compramos

mada em peças de artesanato, é a fonte de renda da

para fazer artesanato”, conta Margarida Lopes, há qua-

comunidade de Muaná – no arquipélago de Marajó, no

tro anos nessa atividade. Seu marido é pescador e ela se

Pará. Neste projeto atuaram as designers Ana Luiza

dedica a limpar, lavar, curtir e secar as peles de tilápias,

Lo Pumo e Fernanda Sklovsky.

piranhas, pacus e pintados, até que fiquem prontas para

Os homens escalam o tronco para retirar os cachos.

serem modeladas. O tingimento é feito com anilina, mas

Depois de aberto e lavado durante um dia, usam um

pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso

ferro que prolonga as fibras, deixando-as prontas para

do Sul estão estudando pigmentos vegetais que melhor

serem tingidas em tons da terra, como bege e cru, ou

se adaptem ao couro do peixe. Além do couro, as esca-

preto. “O tururi é leve e resistente, portanto fácil de ser

mas e as vértebras são usadas em colares, pulseiras e

costurado e utilizado”, diz Imbroisi.

brincos. “Lavamos várias vezes com ervas para retirar

Design, sim. Mas também uma nova forma de desco-

o cheiro”, conta a artesã Vânia Alecrim.

brir o Brasil, em um roteiro ecológico e cultural pelo

Tururi de Muaná parece até nome de samba-canção.

olhar sagaz e poético dos fotógrafos Lena Trindade e

Mas o tururi é uma fibra que se retira dos cachos que

Fabio Del Re. ❉


PELE DE PEIXE Acima, bolsa Coxim, confeccionada com cerca de 34 peles de tilápia, coladas e depois costuradas. Abaixo, colar Espinhaço, em fios de cobre; seu desenho foi inspirado nas armadilhas dos pescadores – os “sinos” capturam o peixe. No alto da página ao lado, a par tir da esquerda: depois de ser cur tida e seca, a pele do peixe é passada pelo lado avesso para ficar uniforme; em seguida, utili za-se o frisador para que a pele fique enrugada como o botão de uma flor (técnica empregada principalmente na execução de broches e apliques); por fim, as pétalas são unidas e costuradas. No pé da página ao lado, colar Margarida: feito à mão com a pele do pacu, representa as flores do Pantanal

23 ARC DESIGN


COMPANHEIROS DE CAMA E MESA

Do primeiro aparelho de som, ninguém esquece. Jovens na faixa dos 20 anos ganharam, quando pequenos, o “meu primeiro Gradiente”, tradução do “my first Sony”, com dispositivo de karaokê, estímulo à auto-exibição. Mas e o primeiro aspirador de pó, o fogão da infância, a cafeteira, companheira das manhãs sonolentas, quem se lem bra des ses itens tri vi ais, al guns tão pres ta ti vos, que se tor nam im pres cin dí veis? Ou al guém se ima gi na vi ven do sem ge la dei ra? Ethel Leon


A exposição “Eletrodomésticos, Origens, História & Design no Brasil”, inaugurada no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, nos faz prestar atenção nessas máquinas servidoras que povoam a maioria dos lares brasileiros. A mostra é programa para toda a família. As bisavós ficarão encantadas com o fonógrafo de sua infância, as geladeiras que não gelavam – eram apenas armários bem vedados, nos quais se colocava gelo, trazidos por vendedor. Vão-se lembrar das lides de cozinhar no fogão a carvão, nos difíceis anos da Segunda Guerra Mundial. Os avós vão lembrar das primeiras geladeiras elétricas, compradas em seríssima decisão de conselho familiar e aguardadas com festa e exibição aos vizinhos. Vão recordar dos programas da TV Tupi a que assistiam, sentados em poltronas com pés de palito e diante de telas com imagens em preto-e-branco, emolduradas por madeiras de alta qualidade. E também das novelas

Aci ma, rá dio art déco, dé ca da de 1940, fa bri ca do pela So ci e da de Ele tro Mer can til Pau lis ta (SEMP) – apesar de ser desen vol vi do por en ge nhei ros e téc ni cos bra si lei ros, a ins pi ra ção para o que era con si de ra do mo der no vi nha dos EUA. No alto da pá gi na, à es quer da, li qui di fi ca dor Bra sí lia, da Wa li ta, de 1960 (data da inau gu ra ção da nova ca pi tal), faz re fe rên cia ao Pa lá cio da Al vo ra da e suas co lu nas

do rádio, a que suas mães ouviam, diariamente, enquanto bordavam ou cerziam roupas da família diante de enormes aparelhos de madeira ou já menores, de baquelite. Quem tem mais de 40 anos vai reconhecer a enceradeira, presença obrigatória nas casas brasileiras de classe média para cima, nos anos 1950 e 1960. Seu ruído característico preenchia todos os cômodos, mesmo que fosse utilizada apenas na sala, deixando o assoalho de tacos brilhando para receber as visitas. Mas a exposição permite leituras mais precisas, especialmente para quem estuda história do design. Nos países com forte tradição na área, as mostras históricas se sucedem, reconstruindo visões do passado, recuperando personagens esquecidos, em tentativas de criar linhagens do presente. Elas partem de acervos preexistentes, reorganizando objetos em novas narrativas. O esforço brasileiro é bem maior. Aqui, o garimpo é um verdadeiro suplício, pois não temos centros de memória industriais e os museus mal cumprem uma de suas prerrogativas básicas, a conservação de objetos. Não há instituições preocupadas com a memória recente, especialmente aquela da vida urbana, caracterizada pela industrialização. A pesquisa demonstra um rastreamento cuidadoso, que traz projetos de design brasileiro, como os fogões Dako e Wallig e os rádios da Invictus, assim como os primeiros objetos Arno e Wa-

Aci ma, te le vi sor Wi de vi si on, 1960, tam bém faz alu são à ar qui te tu ra de Os car Ni e me yer. Na página ao lado, no alto, ventilador Picolino, 1957, produzido pela Walita, semelhante ao ventilador da Siemens alemã; embaixo, gramo fone, um dos precursores dos eletrodomésticos

25 ARC DESIGN


lita. Sem qualquer ufanismo, a mostra revela as cópias de alguns produtos, como o ventilador Picolino, da Walita, “semelhante” ao modelo da Siemens alemã. No entanto, não há nessa constatação uma reprovação moral, mas o reconhecimento de esforços para acompanhar o patamar dos artigos importados. A televisão Philco Curvilínea, de 1969, em que o aparelho de TV é engastado a um painel curvo, que lhe serve de abrigo, foi projetada e vendida apenas no Brasil – e não deixa de ser interessante essa dualidade formal reto/curvo, plástico/madeira como expressão singular de nossa arquitetura moderna. Nesse mesmo mote, vale a pena observar os objetos reunidos – batedeira e liquidificador Walita e a TV Widevision, com referências explícitas às colunas do Palácio do Alvorada. Os esforços historiográficos dos últimos anos refletem-se na mostra. O reconhecimento das matrizes racionalistas européias (Peter Behrens) tem o mesmo peso das fontes norte-americanas, que incorporaram o streamlining e várias características do art déco em seus produtos. Ambas comparecem nos eletrodomésticos distribuídos e depois fabricados no Brasil, privilegiando o design como campo da história cultural. Destoando um pouco da expografia contemporânea, que não recomenda a profusão de textos, a mostra abusa de legendas explicativas, adotando postura didática e unívoca da narrativa apresentada. Parece medida acertada para expor objetos tão Aci ma, as pi ra dor de pó elé tri co norte-ame ri ca no Kwickkle en, 1907. No alto da pá gi na, a par tir da es quer da: ge la dei ra Colds pot, design Ray mond Lo e wy, 1935, pro du zi da com os mes mos prin cí pi os cons tru ti vos de uma car ro ce ria de au to mó vel; fo gão a car vão Pi lo to Dako, 1937, em fer ro; fo gão elé tri co Dako, 1949; mis tu ra dor de mas sa Tur mix aco pla do ao li qui di fi ca dor Wa li ta, 1952, pro du zi do sob li cen ça da em presa Tur mix, Su í ça

26 ARC DESIGN

prosaicos como fogões, ferros de passar roupas e aspiradores de pó num museu, prática ainda incipiente no Brasil. Ah, e grande curiosidade: a exposição foi patrocinada pela rede de varejo Ponto Frio, que, quem diria, adotou esse nome pela tradução da famosa geladeira projetada por Raymond Loewy para a Sears, em 1935, a Coldspot! ❉


Aci ma, a par tir da es quer da, ba te dei ra Wa li ta, fi nal da dé ca da de 1960, com de ta lhes dou ra dos em re fe rên cia a Bra sí lia; fo gão Dako a gás Ve de te Flo ral, 1972, re fle xo da cul tu ra Pop; pri mei ro fer ro de pas sar da Arno, 1985; ka rao kê por tá til, o Meu Primeiro Gradiente, mos tra in flu ên cia pós-mo der na. Abai xo, te le vi sor So lid Sta te, da Phil co, 1969, fa bri ca do e co mer ci a li za do ape nas no Bra sil

Aci ma, rá dio Emer son, 1952, com “ares art déco”, mas ins pi ra do nos tem plos da Amé ri ca Cen tral

Aci ma, te le vi sor Hego, 1966, épo ca em que a in dús tria bra si lei ra de te le vi so res se ex pan diu, cha mava aten ção por suas co res e aca ba men tos

27 ARC DESIGN


O SAMBA E O DRAGÃO Há poucos anos, a indústria brasileira era reconhecida

dignidade do produto até o fim do projeto.

como especialista em fabricar produtos de muito baixo custo. Com tão grande população de baixo poder aqui-

A atual supremacia chinesa

sitivo, parecia uma grande oportunidade para a indús-

Hoje em dia, a situação mundial em muito se modifi-

tria brasileira se especializar em produzir produtos de

cou. A China, por todas as razões internacionalmente

primeiro preço. E aí estava o grande desafio do design

conhecidas (impostos, baixo custo da mão-de-obra,

industrial brasileiro: fazer “o bom design” acessível.

benefícios e subsídios governamentais) e auxiliada por essa nossa desastrada política cambial atual, vem se

O primeiro preço é um posicionamento perverso

tornando a grande ameaça da indústria nacional, com

Para a indústria, o primeiro preço é sempre uma posi-

uma capacidade de produção muito superior à nossa e

ção delicada, pois se por razões aleatórias, alheias a

a custos muito inferiores.

qualquer controle, outro país ou região passa a contar

Certamente não conseguiremos competir com os baixos

com situação mais favorável, essa posição é perdida.

custos chineses, mesmo que nossa política cambial sofra

Brigar pelo primeiro preço é se automutilar. É cortar

os merecidos ajustes. Enquanto a indústria chinesa hoje

custos, é cortar qualidade. Excessivos “tear downs” só

produz para todo o globo, lidando com volumes gigantes-

fazem piorar cada vez mais a qualidade dos produtos e

cos (o que reduz o custo unitário), praticamente toda a in-

reduzir cada vez mais a lucratividade da indústria.

dústria brasileira é voltada para o mercado interno.

Para o design, trabalhar com o primeiro preço é tam-

de custos se sobrepõe à busca de soluções mais ade-

Como en fren tar a pu jan ça e o ape ti te avas sa la dor do dra gão chi nês?

quadas e ao designer resta tentar conseguir manter a

A única alternativa à indústria brasileira é se diferenciar,

bém uma árdua tarefa. Qualquer alternativa de corte

28 ARC DESIGN

Tiago Moraes

Tiago Moraes

Abai xo, à es quer da, Smart-hydro, ba nhei ra de hi dro massa gem con tro la da ele tro ni ca men te que pode ser pro gra ma da via te le fo ne ou in ter net, desen vol vi da para a I-Hou se; re ce beu, em 2005, dois im por tan tes prê mi os: IF e Red Dot. Na se quên cia, o tam bém pre mia do ven ti la dor e con tro le re mo to Spi rit, provavel men te o pro du to mais co nhe ci do do es tú dio In dio da Cos ta


Como o design pode ajudar a indústria brasileira a enfrentar a avassaladora ameaça da indústria chinesa Guto Indio da Costa

é inovar, com competência e criatividade de forma a

Já é hora do design brasileiro ajudar a indústria a dei-

criar produtos únicos, que não tenham similar no mer-

xar de ser exportadora de matéria-prima para ser ex-

cado internacional e assim consigam seu lugar.

portadora de propriedade intelectual em forma de no-

Essa busca por inovação deve ser constante, uma políti-

vos produtos.

ca de longo prazo e não apenas uma ação isolada. O Bra-

O momento é espetacular. O país está maduro, o design

sil precisa de produtos com sucesso mundial. Precisa-

industrial brasileiro está maduro, como confirmam os

mos de outras Havaianas, precisamos de outras Em-

diversos prêmios que tem obtido mundo afora.

braer... e insisto aqui que não é por meio de artesanato,

Agora, precisamos transformar esses produtos premia-

sedutor segmento para o design nacional, que se conse-

dos em retorno comercial. Precisamos de visão empre-

guirá tamanho retorno comercial: a solução é industrial.

endedora e com abrangência mundial. Precisamos ven-

A presença da indústria brasileira em feiras de produ-

cer as barreiras das normas internacionais, dotando

tos no exterior ainda é absolutamente insignificante.

nossos produtos da qualidade exigida.

Quase não temos produtos nem marcas que tenham pe-

Se o produto chinês será o mais barato, que o “made in

netração internacional. Nesse ponto, estamos empata-

Brazil” seja o mais interessante e inovador. Vamos com-

dos com a China, que também não tem! A China produz

bater o dragão, com samba, cultura e bossa brasileira.

para marcas internacionais, ela simplesmente fabrica a

Para quem acha isso um sonho distante, apresento al-

propriedade intelectual de terceiros. É na propriedade

guns produtos que temos ajudado a conceber, produ-

intelectual que reside o grande lucro da cadeia produti-

tos que, entre outros, de outros designers brasileiros,

va. Se algum dia uma Coréia ou um Vietnã oferecer me-

teriam seu lugar em qualquer mercado internacional. ❉

lhores condições do que a China, toda a indústria inter-

Guto In dio da Cos ta é de sig ner in dus tri al e comanda o es cri tó rio In dio da Cos ta De sign

nacional vai migrar para lá atrás de custos mais baixos.

Studio Oz

Abai xo, à es quer da, ter mi nal de check-out para su per mer ca do, cria do para a Itau tec, mas ain da não lan ça do: as mer ca do rias con ti nuam no car ri nho e o ter mi nal to ta li za a com pra ao re co nhe cer os pro du tos por suas eti que tas RFID (iden ti da de por rá dio-fre quên cia); pre mia do pelo Mu seu da Casa Bra si lei ra em 2005. Na se quên cia, ter mi nal de re co nhe ci men to fa cial Lobby watch, desen vol vi do para a Cog ni tec

29 ARC DESIGN


NÃO SE OUVE MAIS MÚSICA COMO ANTIGAMENTE Se a tecnologia, com suas constantes inovações, é uma das responsáveis por nossas mudanças de comportamento, ela agora lança a cartada decisiva no campo da música – e de nossos hábitos de escutá-la. Miniaturiza-se tudo, menos o que depende de uma realidade imutável: o som resulta de uma vibração que percebemos graças à movimentação do ar. Vai daí...

Enrico Morteo O salto tecnológico imposto pelas tecnologias digitais

perfeita paz com os românticos e nostálgicos.

começou a modificar de maneira significativa nossa

É verdade, para orientar-se na rede é preciso uma boa

paisagem cotidiana, e um caso emblemático é o do som

familiaridade com softwares e hardware, mas o futuro

de alta fidelidade.

parece traçado.

Trata-se de um setor “maduro”, no qual já assistimos,

O iPod não é só o herdeiro do mítico walkman Sony:

ao longo dos anos, à extinção de múltiplas tecnologias:

Steve Jobs, CEO da Apple, soube intuir uma mudança

desapareceram as vitrolas e os discos de vinil, torna-

épica no consumo da música, alavancando um sucesso

ram-se obsoletas as velhas fitas cassete, a tecnologia

comercial que relançou a empresa aos vértices do mer-

D.A.T. nunca decolou, os CDs já cambaleiam. De fato,

cado. Basta um elegantíssimo iPod, um Mac dotado de

a integração entre a tecnologia MP3, a internet e o com-

iTunes – software de gestão musical fácil e eficaz – e o

putador tornou supérfluas todas as passagens interme-

universo da música não terá mais segredos. Assim,

diárias, assegurando o desaparecimento de CDs, leito-

nosso computador está pronto para se tornar um dis-

res e reprodutores. Hoje, até a rádio viaja na rede, em

creto sistema hi-fi.

Acima e ao lado, dois modelos de estações para iPod, ambos da JBL: o On Stage II (acima) tem 12 W de potência, enquanto o Radial (à esquerda) tem 60 W de potência. Ambos, além de amplificar o som, funcionam como carregador do iPod. No alto da página, Eclipse TD 510, da Fujitsu Ten, com 10 cm de altura e potência de 40 W


Aci ma e ao lado, MP3 pla yer Mica, de sign do es tú dio Nor way Says para a Aso no: com fone de ou vi do in te gra do, pesa ape nas 22 g e tem ca pa ci da de para 1 GB

Já faz alguns anos que a norte-americana Harman

sendo uma vibração que percebemos graças ao movi-

Kardon lançou no mercado um mini-kit acústico, pen-

mento do ar. Podemos fazer desaparecer os leitores do

sado sobretudo para as últimas gerações de iMac, ca-

som, mas não podemos renunciar às caixas acústicas.

paz de oferecer uma performance sonora mais do

Se até algum tempo a tendência era a de miniaturizar ao

que suficiente para a fruição doméstica. Na mesma

máximo woofer, tweeter e subwoofer, hoje os difusores

estrada se moveram, antes, a JVC, e hoje os tantos

se tornaram os únicos elementos visíveis, objeto de

que propõem estações de amplificação e difusão pen-

uma atenção especial. A eles compete a delicada tarefa

sadas expressamente para o iPod e os outros repro-

de definir o estilo do som: um estilo que deverá não

dutores portáteis de MP3.

apenas satisfazer o ouvido, mas também o nosso gosto,

Mas é no terreno das caixas acústicas que se joga hoje a

harmonizando-se com o ambiente.

partida decisiva. Primeiro porque o verdadeiro obstáculo

Não é por acaso que a Bang & Olufsen, até ontem

à desmaterialização do som são as nossas orelhas. Mes-

exemplo de um minimalismo refinado e tecnológico,

mo digitalizado ou computadorizado, o som permanece

hoje propõe difusores que mais se assemelham a escul-

Abai xo, à es quer da, alto-fa lan te (50 W de po tên cia e 1,13 m de altura) e subwoofer (50 W de potência) Mo dal, da Ku ni hi ro Tsu ji Sci en ti fic. Na se quên cia, detalhe da parte superior do alto-falante. À direita, Mi u ra To tal Sound, design Tos hiy u ki Kita para a M’s System: um úni co ci lin dro de 11 cm de di â me tro e 90 cm de com pri men to pro por ci o na, se gun do o desig ner, um som de qua li da de su pe ri or ao ste reo; sua po tên cia é de 12 W


Aci ma, Sound Stick II, da Har man Kar don: in di ca do para uso com com pu ta dor e mul ti mí dia, é com pos to por dois alto-fa lan tes – com 10 W de po tên cia cada um – e um sub wo o fer, com 20 W; me dem, res pec ti va men te, 5,08 x 25,4 x 5,08 cm e 23,2 x 25,8 x 23,3 cm

turas pós-modernas do que a componentes técnicos. Também Toshiyuki Kita desenhou para a M’s System o Miura Total Sound, que condensa a dupla de difusores em um único elemento cilíndrico, em metal lustroso. Ainda do Japão chegam os difusores Modal, criados por Kunihiro Tsuji, cuja particularidade, junto à elegância da forma, é a de emitir o som para o alto, propiciando melhor difusão das ondas sonoras no ambiente. Os produtos de maior conteúdo tecnológico – como os difusores Eclipse TD510, produzidos pela Fujitsu Ten – que adotam membranas flutuantes no interior de um Acima, as três novas versões do iPod (Apple). À esquerda, iPod Video, com capacidade para 30 GB e 80 GB. Ao centro, iPod Nano, em alumínio (natural ou colorido), disponível nas versões de 1 GB, 2 GB e 4 GB. À direita, iPod Shuffle: em alumínio natural, mede 2,71 x 4,11 cm e armazena 1 GB; um clipe adaptável permite sua fixação à roupa. Abaixo, MP3 player Beo Sound 2, da Bang & Olufsen: em aço inox, tem 7,5 cm de di â me tro e pesa 90 g; funciona com cartão de me mó ria tipo SD

32 ARC DESIGN

invólucro ovóide – não podem renunciar a uma elevada taxa de sofisticação estética. Porque na nossa imperativa cultura das imagens não podemos esquivar-nos do domínio das formas: sabemos medir não apenas o belo, mas também o bom, apenas com os olhos. ❉


Belas artes pag 57

19/10/2006

17:04

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MUDANÇA DE CASA O proprietário deste escritório costuma dizer que trocou uma casinha dos anos 1950 por um Casas. A brincadeira refere-se ao arquiteto Arthur Casas, que assina esta construção contemporânea feita para abrigar a parte logística de um estúdio fotográfico. Graças a materiais préfabricados, o espaço ficou pronto em seis meses Ana Paula Orlandi / Fotos Tuca Reinés 34 ARC DESIGN


Em nome da se gu ran ça, a fa cha da ga nhou ar de bun ker (aci ma). No re cuo (abai xo) foi cria da uma pa re de ver de. Pro je to pai sa gísti co de Cláu dio Ma ri ut ti. No es cri tó rio com sala de reu ni ão (à es quer da), piso e fe cha men to da es tan te de cu ma ru. Pol tro nas da Neo Design para Casa Ma triz, dese nho de Ar thur Ca sas

Corria o ano de 1991 quando Manolo Moran, então

grafo paulistano, perfeccionista por natureza. “Era mui-

chegado de uma temporada em Barcelona, instalou seu

to improvisado”, exagera. “Mas como a casa estava em

estúdio fotográfico no Alto de Pinheiros, bairro da capi-

bom estado, sempre adiava uma atitude mais radical”,

tal paulista. Na época, o galpão foi parar nos fundos do

continua. Até que as pequenas demandas começaram

terreno, dividindo espaço com uma casinha da década

a incomodar. “Precisei trocar o portão e gastei a maior

de 1950 que ocupava a frente do endereço. Durante

grana. Também queria mudar o piso, pois achava a pa-

anos, a construção funcionou como um ponto de apoio

ginação cansativa”, conta. Quando viu que a lista de

ao abrigar escritório, além de camarim e sala de ma-

modificações crescia, Manolo decidiu procurar o ar-

quiagem. Essa solução, porém, nunca satisfez o fotó-

quiteto Arthur Casas. 35 ARC DESIGN


Acima, à esquerda, a garagem sem pilares ganhou forro de alumínio. Na sequência, as plantas do térreo e do 1º pavimento. Na página ao lado, a canaleta de vidro translúcido Profilit (Pilkington Brasil) traz luminosidade e afasta a sensação de confinamento na sala sem janela das assistentes (no alto), além de proteger o escritório do barulho da rua (foto inferior)

36 ARC DESIGN

No primeiro encontro, Manolo logo sacou que a espera

ainda surpreende o fotógrafo. “Aprovei o primeiro es-

valera a pena. “Ao longo desses 15 anos maturei meus

boço, que foi executado na íntegra”, recorda Manolo.

desejos e assim consegui verbalizar bem tudo o que

Afinal, estava tudo lá, como a garagem para dez veícu-

queria”, lembra. Entre referências mil, o viajado rapaz

los que fez o arquiteto suspender a construção com

tirou da cachola a imagem do aeroporto de Oslo, na No-

ajuda de uma estrutura metálica presa na parede.

ruega, que tanto lhe encantara em função da mistura

Aliás, esse foi o maior desafio da obra rápida e sem

de concreto, madeira e vidro. “Um visual limpo, além

percalços, executada em seis meses graças ao siste-

de aconchegante e sofisticado”, define. A sugestão foi

ma construtivo que utilizou blocos pré-moldados de

de pronto incorporada pelo arquiteto, conhecido inter-

concreto e divisórias tipo dry wall. Nessa criação, re-

nacionalmente por seus ambientes elegantes e livres

conhece Arthur, há um quê de arquitetura paulista –

de excessos. “A arquitetura deve ser limpa, pois as

uma das influências desse crítico mordaz da besteira

pessoas que vão ocupá-la já trazem um sem-número

neoclássica, dentre outras, que assola São Paulo.

de informações, como a própria cor da roupa”, defen-

“Mas a técnica é extremamente contemporânea: rápi-

de Arthur, que tem no currículo o Hotel Emiliano, em

da, fácil e econômica”, avisa. O resultado agradou em

São Paulo, e a loja da Natura, em Paris.

cheio a Manolo, que trabalha para as grandes agências

De fato, a sintonia entre cliente e profissional foi ime-

de publicidade fotografando gente. “Por causa do vo-

diata. É fato que os dois já se conheciam através de

lume de trabalho, não raro passo mais tempo aqui do

uma amiga em comum e Manolo já era fã do traço ar-

que em casa. E todos os dias agradeço ao Arthur por

rojado de Arthur. Mesmo assim a rapidez com que

ter inserido qualidade de vida no meu cotidiano”,

desejos e necessidades foram traduzidos por Arthur

conta, bem-humorado. ❉


37 ARC DESIGN


Imagens Visualize Arquitetura Digital

ARQUITETURA COLETIVA Um re cor te na pro du ção da ar qui te tu ra pau lis ta con tem po râ nea. Essa é a pro pos ta da ex po si ção “Co le ti vo”, que acon te ce no Cen tro Cul tu ral Ma ria An tô nia, em São Pau lo. Um dos ob je ti vos da mos tra é am pli ar a di vul ga ção da pro du ção ar qui te tô ni ca con tem po râ nea de modo a al can çar tam bém o pú bli co não-es pe ci a li za do 38 ARC DESIGN


COLÉGIO SANTA CRUZ / UNA ARQUITETOS No pro je to para a nova unida de do Co lé gio Santa Cruz (nas duas pá gi nas), no Bu tantã, em São Pau lo, os ar quite tos do Una re fi ze ram a ge o gra fia do sí tio, crian do novas re la çõ es ur ba nas para a qua dra: alarga ram e ar bo ri za ram os passei os pú bli cos e cria ram ruas la te rais ao lote, ge ran do qua tro frentes e di versos acessos. O com ple xo é for ma do por dois edi fí ci os, se pa ra dos por uma fai xa den sa mente ar bo ri za da (não-edi fi cá vel, pois fica so bre um cór re go ca na li za do) e inter liga dos por duas passa re las. O blo co vol ta do para a rua prin ci pal abriga os usos co le ti vos – “re la ci o nan do a es co la com a cida de”, ex pli cam os ar quite tos –, en quanto o ou tro, res guar da do, abriga as sa las de aula, la bo ra tó ri os e um pe que no au ditó rio

Winnie Bastian Coletivo: 1. que compreende ou abrange muitas pessoas

arquitetura como bem público. Assim, é natural que a

ou coisas, ou que lhes diz respeito; pertencente a um con-

mostra tenha sido organizada segundo “as escalas de

junto de pessoas ou coisas; 2. que pertence a ou é utiliza-

influência de cada projeto e da relação que estabele-

do por um número considerável de pessoas; que pertence

cem com a vida de determinada população: escala lo-

a um povo, a uma classe, a um grupo. As duas definições,

cal, escala da cidade, escala regional”, como afirmam

extraídas do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,

os arquitetos no texto de abertura.

traduzem o espírito que norteia a produção dos arqui-

Seis escritórios de jovens arquitetos, mas com uma

tetos que participam da mostra “Coletivo”.

produção já reconhecida, compõem a mostra: Andrade

O título da exposição – que, em primeira instância, faz

Morettin, MMBB, Núcleo de Arquitetura, Projeto Paulis-

referência à reunião de diversos escritórios – revela,

ta, Puntoni Arquitetos/SPBR e Una Arquitetos.

em uma segunda análise, a preocupação dos arquite-

A formação em comum – todos se graduaram pela Fa-

tos com a produção da cidade e sua consciência da

culdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade 39 ARC DESIGN


Paulo Katz

de São Paulo (FAU/USP) entre 1986 e 1996 – é um fator fundamental para a existência de uma unidade de valores que gera a identificação entre esses profissionais. Embora os projetos apresentem soluções e características singulares, o próprio grupo reconhece alguns elementos presentes na obra de todos, como a implantação do edifício diretamente relacionada à paisagem, o raciocínio rigoroso da estrutura (independente do programa ou do material) e o uso de acabamentos singelos e austeros, “testemunho final de que a arquitetura independe de custo ou sofisticação”, afirmam. Essas características evidenciam a forte referência que os profissionais

alguns dos quais foram seus professores na FAU/USP, como Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Em cartaz até 12 de novembro, “Coletivo” é um estímulo à discussão pública da arquitetura e do urbanismo contemporâneos e se propõe a ser a primeira de uma série de exposições sobre a produção arquitetônica contemporânea. ❉

Paulo Katz

Paulo Katz

encontram no trabalho dos mestres do modernismo,


Ricardo Migliorini

Ricardo Migliorini

ESTAÇÃO INTERMODAL DE COIMBRA / MMBB

EE BAIRRO PIMENTAS / PROJETO PAULISTA

A con vi te da Uni ver si da de de Coim bra, a equi pe do MMBB pro pôs, para o Se mi ná rio de Dese nho Ur ba no “In ser çõ es”, uma es ta ção (na pá gi na ao lado) que in te gra o me trô de su per fí cie (a ser im plan ta do so bre o lei to fer rovi á rio oci o so) e ou tras for mas de trans por te, ar ti cu lan do-as em di fe ren tes ní veis es pa ciais. Além disso, a pro pos ta bus cava in te grar o par que do Chou pal – onde a es ta ção se lo ca li za – ao te ci do ur ba no e con fe rir ur ba ni da de aos pon tos de con ta to en tre as re des de in fra-es tru tu ra e a ci da de. O resul ta do é “uma es ta ção pon te, re fe rên cia ho ri zon tal de 420 m na pai sa gem”, ex pli cam os ar qui te tos

Com um ter re no exí guo, os ar qui te tos do Pro je to Pau lis ta bus ca ram a má xi ma in te gra ção en tre os am bi en tes de con ví vio da es co la e áre as li vres exis ten tes. Si tua da em Gua ru lhos (SP), a es co la está orga ni za da em dois se to res bem-de fi ni dos: o di dá ti co (acima, à es quer da) e o es por ti vo (acima, à di rei ta). No pri mei ro, as sa las orga ni zam-se ao re dor de um pá tio cen tral des co ber to, “qua li fi can do o es pa ço de cir cu la ção e in te gran do-o às ou tras áre as de con ví vio”, de fi nem os ar qui te tos. A cir cu la ção ver ti cal prin ci pal (abaixo) lo ca li za-se no cen tro do con jun to, do mi nan do to das as ati vi da des do edi fí cio

Ricardo Migliorini


Nelson Kon

42 ARC DESIGN

CASA EM SÃO ROQUE / ANDRADE MORETTIN

CASA EM CARAPICUIBA / PUNTONI ARQUITETOS-SPBR

Lo ca li za da na ci da de de São Ro que, a 60 km de São Pau lo, em um ter re no am plo e com ve ge ta ção den sa, a resi dên cia (aci ma) con sis te em uma pla ta for ma de con cre to ar ma do, es ca lo na da para se adap tar à ge o gra fia do lote – um “an fi te a tro na tu ral”, com acesso pela par te alta – e criar re giões dis tin tas de uso. Co nec ta da à “doca” de es ta ci o na men to, a ala les te é o prin ci pal acesso da casa; a ala oes te con cen tra a pis ci na e a área ex ter na de con ví vio. En tre as duas alas, lo ca li zam-se o es tar e a co zi nha, in te gra dos em um úni co am bi en te; o piso su pe ri or des te vo lu me abri ga os quar tos

Os ar quite tos ti ra ram par tido do gran de des ní vel do ter re no (6m entre a rua e o pla no in fe ri or do lote) para pro mover a se pa ra ção das duas fun çõ es reu nidas pelo pro gra ma: tra ba lho e mo ra dia. A constru ção foi im planta da em dois ní veis: no in fe ri or, a ha bita ção (abai xo, à es quer da) se abre para os pá ti os junto ao bos que existente no fun do do ter re no; no su pe ri or, o es critó rio – com 3 m de largu ra e 25 m de ex ten são – é o úni co vo lu me vi sí vel da rua e re me te à idéia de um tubo aber to em am bas as ex tre mida des (abai xo, à di reita)


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Renne Cabrales

SOMOS “Um olhar de re fle xão na ex pres são do ima gi ná rio do povo como có di go e

Fabio Del Re

A CRIAÇÃO POPULAR BRASILEIRA

ma triz da vi su a li da de pre sen te nas mais di ver sas lin gua gens es té ti cas do país.” As sim Li li a na Ma ga lhães, di re to ra do San tan der Cultural, em Porto Alegre (RS), define a mostra “SOMOS a Criação Popular Brasileira”, exposta na bela sede desse espaço cultural. A curadoria é da arquiteta Janete Costa, que entrevistamos

Maria Helena Estrada

De nis e An dra de

A originalidade e a riqueza cultural do Brasil, representadas pelas obras de seus artistas e artesãos, estão reunidas nesta mostra, “SOMOS”. Somos um povo único por razões históricas, e profundamente diverso em suas manifestações por força da geografia. Mas é essa diversidade, ou multiplicidade, uma das razões de nossa riqueza. Na origem do fazer popular, encontramos a base de nosso patrimônio, rico em referências e expressões. Resgatar essa cultura – original –, e valorizá-la, é a premissa básica para a criação de um vocabulário, de uma linguagem contemporânea. É esta uma das intenções da mostra “SOMOS”, não por acaso sediada em Porto Alegre, cultura distante do Brasil mais divulgado e conhecido, como o nordeste ou o Rio de Janeiro. Peças de artistas como Galdino, Guma, Nhô Caboclo, Vitalino, Conceição dos Bugres, Nuca, Antonio Poteiro integram-se e interagem com uma coleção de ferramentas da colonização européia no sul do país. De machados neolíticos a candeeiros e carrinhos de ambulantes, das belas carrancas de madeira aos objetos de barro e brinquedos, o Brasil está todo lá. ❉ 44 ARC DESIGN

ARC DESIGN – Quem é Ja ne te Cos ta? JANETE COSTA – Uma me ni na de Ga ra nhuns (PE) com von ta de

de crescer. AD – Quais suas prin ci pais obras como ar qui te ta, de pré di os

e de in te ri o res? JC – A obra mais importante para mim é sempre a última. Mas sempre gostei de fazer hotéis – mais de 30 no Brasil nos últimos 15 ou 20 anos –, por meio deles podia mostrar todo o potencial da arte popular brasileira, utilizando peças de design, de arte contemporânea e popular, para mostrar que há um diálogo permanente entre elas. AD – Você po de ria ci tar al guns des ses ho téis? JC – Em São Paulo, há quatro Ceasar Park, o Intercontinental, o Excelsior, o Marabá e o Pergamon, que foi o primeiro hotel design brasileiro, com tudo desenhado por nós (meu filho Mário e eu), com exceção de duas cadeiras, que compramos prontas. O lustre de Lalique é lindo, eu fiz com as pedras que foram do navio La Normandie. AD – E os tra ba lhos fei tos fora de São Pau lo? JC – Acho im por tan te a res tau ra ção do Pa lá cio do Go ver no do Ma ra nhão, que foi fei ta ao lon go de seis anos, e a do Te a tro Ar tur Aze ve do, de São Luís, o Cen tro Ad mi nis tra ti vo


Renne Cabrales

Nes ta pá gi na, vis tas par ciais da ex po si ção. Aci ma, pe ças de ce râ mi ca de Ulisses Pe rei ra Chaves (MG), per ten cen tes ao Ins ti tu to Es ta dual do Pa tri mô nio His tó ri co e Ar tís ti co de Mi nas Ge rais (IE PHA/MG). Abai xo, obras da dé ca da de 1950, do Mes tre Gua ra ni. Na pá gi na ao lado, no alto, sede do San tan der Cul tu ral, em Por to Ale gre, onde acon te ce a ex po si ção “SO MOS a Cria ção Po pu lar Bra si lei ra”. Na se quên cia, mi nia tu ra de cava lo em ma dei ra, de au tor des co nhe ci do, pro du zi da du ran te a co lo ni za ção ale mã no sul do Bra sil, com cer ca de 70 cm de al tu ra. No pé da pá gi na ao lado, es cul tu ra de Nino (CE), com 1,11 m de al tu ra Renne Cabrales


Renne Cabrales

Acima, em primeiro plano, carrinhos de vender café, das ruas de Sal vador, de autor anônimo, da Coleção Cipó Comunicação Interati va, e máquina fotográfica em madeira. Abaixo, moringa “Bonecas”, de Isabel Mendes da Cunha, do Vale do Jequitinhonha (MG), com 0,81 cm de altura – coleção par ticular

de Uberlândia, e agora o Conselho Administrativo de São Luís, entre outras grandes obras públicas. AD – Sa be mos que você ide a li za e or ga ni za gran des mos tras cul -

turais. Fale-nos um pouco desse trabalho. JC – Um projeto do qual me orgulho é a exposição de arte popular “Viva o Povo Brasileiro”, realizada durante a ECO 92, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com 1.500 m2 da melhor produção de arte popular. Reservamos 500 m2 para os artesãos venderem seus produtos, pois o objetivo maior é a sobrevivência, para essa população manter vivo o seu trabalho. Foi um desafio: eu não saía da obra, passei dois meses lá, com serralheiros, marceneiros... E, tamanho o sucesso, tivemos que abrir mais um espaço para vendas. No ano seguinte, em 1993, no Rio Design Center organizei uma exposição mostrando todo o potencial da arte popular brasileira e a nossa capacidade de desenhar, de produzir. Sempre tive essa preocupação de dar emprego, de ser mais um elo nessa cadeia de desenvolvimento. Acho que conseguimos muita coisa e mais, agora, com a exposição “SOMOS a Cultura Popular Brasileira”, que ficou muito interessante.

AD – Qual a importância dessa mostra? JC – As pessoas não conhecem muito a nossa arte popular, até

mesmo os profissionais a desconhecem, pois há uma idéia distorcida de que aquilo que não custa caro representa pobreza. Há também uma falta de identificação, pela ligação com a contemporaneidade, que muda a toda a hora. Essa exposição representa 20% do nosso potencial, temos muito mais a mostrar. Existe um projeto importante do Instituto do Imaginário Popular Brasileiro, que estamos fundando agora, vamos nos dedicar mais a isso. AD – E onde fica a sede des te ins ti tu to? JC – Em São Paulo, mas queremos instalar também nas áreas

mais pobres, a começar por Tracunhaém e Aliança (PE), duas cidades de muita tradição e ainda com pouca interferência. AD – Como vai ser esse pro je to?

AD – Qual o con cei to des sa ex po si ção? JC – Mostramos a arte popular já consagrada: GTO, Artur Pe-

reira, Vitalino, Nhô Caboclo, Veio, Agnaldo. Cada um marcando muito a sua região e o sincretismo brasileiro. Na paralela, o Zé Roberto Nemer complementou a mostra com muitas peças de um colecionador de Porto Alegre, reunindo artesanato utilitário e artesania de utilidade doméstica. 46 ARC DESIGN

Denise Andrade

JC – Por exemplo, Tracunhaém tem um potencial cerâmico.

Vamos fazer um grande galpão, construir fornos, dar consultoria e trazer designers para interferir, mas sempre mantendo o elo com a tradição. A idéia é fazer um projeto para garantir aos produtos artesanais uma colocação no mercado. Queremos fazer com que as assinaturas mostrem ao mundo o que é o Brasil, para que uma peça brasileira possa ser identificada no meio de tantas outras. Eu quero simplesmente levantar o pavio, deixar a vela acesa e ir embora. Não quero que comece e termine comigo, como o projeto de arquitetura. Que não dependa de mim, mas onde a minha ação sirva de estímulo. ❉


Anuncio e-news 43

21/07/2005

19:50

Page 1

ARC DESIGN

E-NEWS

Ágil. Instigante. Informativo. Opinativo.

JUM NAKAO É DESTAQUE NO SÃO PAULO FASHION WEEK Na passarela, a cor branca sobressaia nos corpos cobertos

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por um colante preto. As “paper dolls” – produzidas com maquiagem carregada e peruca estilo Playmobil – exibiam

DESIGN E-news, informativo eletrônico com

peças elaboradas, inspiradas em trajes do fim do século 19: vestidos perfeccionistas, saias de construção volumétrica e blusas com mangas bufantes – modelagens confeccionadas

notícias indispensáveis de todo o mundo

com quase uma tonelada de papel vegetal e “costuradas” com fita crepe. Para o efeito admirável da estamparia, das

sobre design, arquitetura, moda, cultura

rendas e dos babados, utilizou-se a tecnologia dos cortes a laser. Um trabalho de excelência, aniquilado ferozmente pe-

material, exposições e matérias especiais.

las 15 modelos no término do desfile. Valendo-se da arte conceitual, a pretensão do autor foi atingida. A coleção “Desejos” ignorou o aspecto comercial e provocou reflexões importantes acerca do universo da moda. “O que eu queria era exatamente isto: levar emoção, fazer as pessoas

ARC DESIGN E-NEWS ARC DESIGN mais perto de você

pensarem, entenderem que a moda é transitória. Quis abordar ainda a questão do inatingível; as roupas rasgadas representam a inevitabilidade da perda, geram a falta, criam

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o vazio”, argumenta o criador, Jum Nakao. Veja matéria completa no site

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JOVENS DESIGNERS 40 pro je tos de vá ri as áre as, re a li za dos por alu nos de 20 es co las de de sign do Es ta do de São Pau lo, es tão reu ni dos na mos tra, que se gue até 30 de ou tu bro no Con jun to Na ci o nal, em São Pau lo

Juliana Mariz A mostra Jovens Designers, organizada pela Associa-

contemplar segmentos diversificados, como veícu-

ção de Designers de Produto (ADP), selecionou pro-

los, mobiliário urbano, calçados, eletrodomésticos,

jetos de alunos da graduação dos cursos de desenho

entre outros. “As idéias são viáveis e incorporam tec-

industrial do Estado de São Paulo. “É um balão de en-

nologia. Também me surpreendi de modo favorável

saio para vermos como estão sendo preparados os

com a qualidade das maquetes”, diz. Eddy destaca,

futuros profissionais”, explica o curador, Auresnede

por exemplo, o trabalho dos bancos de jardim, reali-

Pires Stephan. De acordo com o professor Eddy

zado por alunos da Faculdade de Campinas (Facamp).

(como é conhecido o curador), a mostra consegue

“Eles podem implantar o projeto no próprio campus

No alto da página, banco criado para o campus da Faculdade de Campinas (Facamp) pelas alunas Erika Takaezu, Kely Simas e Luciana Trigo, da mesma universidade. Composto por duas pranchas de madeira (teca em sarrafos) unidas por uma cunha de aço inox, pode ser usado como banco ou chaise-longue, conforme a posição em que é colocado

Ao lado, mo to ci cle ta para trans por te de cargas, 1º co lo ca do no Prê mio: o baú pode ser usa do de for ma op ci o nal; com sua re ti ra da, o en cos to re cli ná vel trans for ma-se em assen to para passa gei ro. Pro je to dos es tu dan tes Rafael Mo re no e Ro dri go do Vale Ci ossa ni, das Fa cul da des Me tro po li ta nas Uni das (UNIF MU)

48 ARC DESIGN


Aci ma, óculos 3º Ele men to, para es por tes ra di cais, com dis po si ti vo de ilu mi na ção Po wer LED com al can ce de 19 m. Re ti ran do as par tes agre ga das, podem ser usa dos como ócu los de sol co muns. Pro je to dos es tu dan tes Car los En ri que e Eduar do Le lis, da Uni ver si da de São Ju das Ta deu. Na se quên cia, fer ro de passar cujo dese nho de cur vas suaves e co res frias bus ca ate nuar a sen sa ção de ca lor nor mal men te provo ca da por esse tipo de apa re lho; pro je to do es tu dan te Leandro Dan tas da Sil va, da Uni ver si da de de Gua ru lhos (UNG)

da faculdade, o que é uma contribuição incrível.”

Também merece destaque a capa para automóveis

Outro projeto destacado pelo curador é o de uma moto-

Tatu, “ideal para quem não tem garagem coberta”, se-

cicleta idealizada por alunos da UNIFMU para motoboys

gundo seu criador, Arlindo Dornetas, aluno da Uni-

e pessoas que precisam transportar cargas. Bem-resol-

versidade Paulista (Unip). Capas em lona com filtro

vida, prima pelo conforto do motociclista ao propor uma

solar se desenvolvem a partir de uma estrutura metá-

nova posição para dirigir e incorporar itens como pára-

lica central, cobrindo o veículo sem esforço.

brisas, porta-objetos dianteiro, baú opcional, possibili-

Boas promessas para um futuro próximo no univer-

dade de anexar a mochila à moto (e não ao condutor).

so do design. ❉

Aci ma, capa para au to mó veis Tatu: possui estru tu ra com ar ti cu la ção re trá til que pode ser des lo ca da das ex tre mida des para o centro do veí cu lo e vice-versa; pro je to de Ar lin do Cassia no Dor ne tas, alu no da Uni ver si da de Pau lis ta (Unip). À direita, mo bi li á rio ur ba no para a Rua 25 de Mar ço: li xei ra com re ci pi en te plás ti co (um eixo per mi te o giro da peça para a re ti ra da do lixo), ex po si tor de pro du tos e lu mi ná ria com su por te para co lo ca ção de ban ners; pro je to dos es tu dan tes Ana Ma ria Angélico, Armando Caparrós e Cecília Gigli, do Centro Uni versitário Senac

49 ARC DESIGN


Celso Chitolina

ALTERNATIVAS PARA O DESIGN Evento realizado no Centro Universitário Senac, em São Paulo, reuniu profissionais e acadêmicos em torno da discussão sobre sustentabilidade e o uso de novos materiais

Thais Rebello

Da Redação

Aci ma, vis ta ge ral da mos tra “Car to gra fias da Di ver si da de”, re a li za da no Cen tro de Con ven çõ es do Cen tro Uni ver si tá rio Se nac, em São Pau lo

50 ARC DESIGN

Uma iniciativa que reuniu diversos eventos, integra-

“O confronto de opiniões entre academia e profissionais

dos, em torno da sustentabilidade e do design como

de mercado proporciona uma ampliação das práticas e

ferramenta para a melhoria da qualidade de vida. As-

visões dentro do segmento”, afirma Cyntia Malaguti,

sim foi a semana “Design Essencial”, que aconteceu de

docente que coordenou o “I Seminário Senac de Sus-

12 a 14 de setembro e foi composta pelo “I Seminário

tentabilidade”. Por esse motivo, optou-se por realizar

Senac de Sustentabilidade”, pelo “II Simpósio Senac de

mesas-redondas em vez de palestras isoladas. “Essa di-

Materiais” e pela mostra “Cartografias da Diversidade”.

versidade de visões sobre cada assunto é uma das

Organizado pela área de design do Senac São Paulo, o

principais riquezas do evento”, complementa Malaguti.

conjunto de eventos surgiu da proposta de ir além da

A importância de se tratar o design de forma abran-

esfera acadêmica, incluindo profissionais com atuação

gente e integrada também foi uma das preocupações

em diversas áreas, de forma a enriquecer a discussão.

da organização do evento, que buscou abordar várias


Fabio Del Re

Nes ta pĂĄ gi na, pro je to To po mor fo se, no qual a gaĂş cha He loĂ­ sa Croc co ex plo ra gra fi ca men te os dese nhos na tu rais do cer ne da ma dei ra, uti li zan do-o como estam pa em ob je tos do co ti dia no


Fotos acervo ARC DESIGN

Acima, em primeiro plano, produtos fabricados com resíduos de tubos de creme dental: mesa Rolimã design e produção Sicllo Ecodesign; protótipo de cuba, design Fabiola Bergamo; Banco-baú Coco, Sicllo Ecodesign, emprega fibra de coco e látex. À direita, lixeiras para reciclagem em laminado melamínico com impressão colorida estampada, design Vi viane Conrado e equipe (Chelles e Hayashi Design)

possibilidades e experiências do trabalho integrando

ner e coordenadora do projeto

os diversos campos do design.

Amazonlife, cujas criações – as bol-

No seminário, foi possível revelar

52 ARC DESIGN

sas e acessórios em couro vegetal – explo-

como diferentes culturas podem

ram o luxo com um olhar ambientalmente adequado.

propiciar diferentes manejos –

Outra questão interessante foi levantada pela pesquisa-

igualmente ricos e interessantes –

dora Leila Lemgruber, professora da Pontifícia Universi-

do mesmo material. É o caso de

dade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, que relatou sua

uma das mesas que confrontou

experiência com o design incluindo trabalho prisional,

o trabalho desenvolvido pela de-

mostrando como o design para a sustentabilidade pode

signer Lia Buarque, professora

envolver até a preocupação com quem está no presídio.

da Universidade Federal do Rio

No simpósio sobre materiais, destaque para a palestra

Grande do Sul (UFRGS), que co-

da holandesa Simone De Waart, professora da Design

ordena o projeto de uma “fábrica

Academy Eindhoven e coordenadora do projeto Mate-

sustentável” – cuja produção uti-

rial Sense. Pela primeira vez no país, a designer reuniu,

liza resíduos da agroindústria e

em sua apresentação, novos materiais e formas inova-

emprega funcionários com defi-

doras de uso de materiais já existentes.

ciências físicas –, com o traba-

O engenheiro de materiais José Ângelo Gregolin, co-

lho de Beatriz Saldanha, desig-

ordenador do Núcleo de Informação Tecnológica de


Fotos Thais Rebello

Aci ma, uma das apresenta çõ es do se mi ná rio, que reu niu cer ca de 120 par ti ci pantes. Abai xo, a desig ner Bea triz Salda nha e uma de suas cria çõ es em lona e cou ro ve ge tal da Ama zô nia. No pé da pá gi na ao lado, rou pas feitas com fios de PET re ci cla do; à es quer da, saia e ca mi se ta, design Isa be le Del ga do e Cris ti na Fe lí cio para a Ci clo Am bi en tal; à di rei ta, xale fei to em tear ma nual, cria ção de Da ni e la Mor rou (Bao bá Pro du tos Ar tesa nais)

Materiais (NIT-Materiais) da Universidade Federal de São Carlos, falou sobre o estudo e a classificação dos materiais do ponto de vista da engenharia, uma abordagem diversa – e complementar – daquela do designer. Mostrou, ainda, a parceria que o NIT-Materiais desenvolve com empresas privadas, para criar parâmetros de como selecionar um material e trabalhá-lo para obter os atributos desejados. Completando o conjunto, a mostra “Cartografias da Diversidade”, organizada pelo Grupo de Pesquisa Matéria-Prima, reuniu um pequeno universo de materiais e produtos. “Buscamos reunir produtos nos quais os materiais fossem empregados de maneira não-usual”, revela a professora Denise Dantas, coordenadora do Matéria-Prima. Além disso, houve a preocupação de seleFabio Del Re

cionar materiais e produtos ecologicamente corretos. No todo, uma iniciativa bem planejada e de grande interesse para a comunidade-design. ❉ 53 ARC DESIGN


PRÊMIO TOP 100 ARTESANATO Uma ini ci a ti va pi o nei ra do Se brae na ci o nal, o Prê mio Top 100 Ar te sa na to, em sua pri mei ra edi ção, visa tor nar a ati vi da de ar te sa nal mais com pe ti ti va e pre pa ra da para o mer ca do Da Redação

54 ARC DESIGN


A riqueza e diversidade do artesanato brasileiro ganharam mais uma ferramenta de aferição e promoção, dessa vez com o olho nos mercados nacional e internacional. A partir da consciência de que a maior parte das ações de promoção comercial do artesanato enfoca sempre os aspectos estéticos e culturais dos produtos, deixando em segundo plano as questões de cunho competitivo, o Sebrae nacional propôs um prêmio inovador, no qual avalia não apenas a qualidade e a criatividade dos produtos, mas também – e principalmente – a competitividade. Iniciado em junho de 2006, o concurso recebeu a inscrição de

Aci ma, cen tro de mesa oval, em argi la, de Aní sio Ar tesa na to (PA). Ao lado, anel com quart zo rosa, do Gru po ITANS (CE). Na pá gi na ao lado, pom ba bran ca e fi gu ras fe mi ni nas fei tas com ma dei ra de de mo li ção, da Ofi ci na de Agos to (MG)

540 comunidades, que passaram por uma análise rigorosa, resultando nos 100 premiados finais, considerados os núcleos mais eficientes e competitivos do país. Os vencedores receberão certificados e terão seus nomes e produtos divulgados no portal do Sebrae nacional (www.sebrae.com.br), além de participar de exposições itinerantes a serem realizadas em todo o país. A idéia é que, dessa forma, os premiados se transformem em exemplo e referência para os demais artesãos e de orientação para os grandes compradores. No dia 25 de outubro acontecerá a cerimônia de premiação e nos dias 26 e 27 os vencedores participarão de uma rodada de negócios em São Paulo, para a promoção comercial junto a compradores nacionais. O viés diferenciado escolhido pelo prêmio, que se direciona às unidades produtivas e não ao artesão, diz respeito à filosofia de valorizar e estimular o potencial do artesanato como negócio gerador de renda. “Não é o talento dos artesãos que está em jogo,

Aci ma, jogo de ba nhei ro com cuba e acessó ri os, em argi la bran ca e cha mo te, da Ma giart (SP). Abai xo, bol sa fei ta à mão com fo lha-mo e da desi dra ta da, pro du zi da pela co mu ni da de Flor do Cer ra do (DF)

e sim o esforço das unidades produtivas para se tornarem competitivas e eficientes”, afirma o designer Eduardo Barroso, um dos idealizadores do prêmio. Para isso, a comissão organizadora baseou-se nos seguintes critérios de avaliação: grau de inovação dos produtos artesanais; eficiência produtiva; adequação cultural; qualidade percebida nos produtos/valor agregado; adequação econômica dos produtos; adequação logística; adequação com o meio ambiente; adequação ergonômica e funcional nas unidades de produção; responsabilidade social; práticas comerciais justas. Unidades de 22 Estados foram premiadas. A Paraíba foi o Estado com maior número de vencedores (13); empatados em segundo lugar (10), Piauí e Minas Gerais. ❉ Outra iniciativa que merece destaque é o projeto Artesanato Brasil com Design, lançado em 2003 pela Caixa Econômica Federal, um dos patrocinadores do Top 100. Em sua 3ª edição, o programa incentiva o desenvolvimento e a valorização do artesanato brasileiro por meio da produção de brindes corporativos 55 ARC DESIGN


Reprodução do livro “Vico Magistretti: l’eleganza della ragione”, de Vanni Pasca (Idea Books)

Acima, Vico Magistretti em 1965, estudando alguns protótipos da luminária Eclisse, uma de suas criações mais famosas, lançada pela Ar temide em 1967

VICO MAGISTRETTI – ADEUS, MESTRE Incrível como uma pessoa, mesmo a grande distância e sem se dar conta, pode influenciar de modo irreversível o destino de outra. Prova disso é que infelizmente nunca cheguei a conhecêlo bem de perto, mas seu trabalho foi decisivo em minha vida profissional. Posso dizer, sem qualquer constrangimento, que sou designer por culpa dele Baba Vacaro

56 ARC DESIGN

Era 1982, vínhamos de uma realidade de clausura cultu-

uma estante Nuvola Rossa. Foi lá que comprei meu pri-

ral, política e econômica e nessa época por aqui quase

meiro sofá do mestre Magistretti. Lembro perfeitamente

ninguém sabia o que fazia um designer. Mesmo assim,

do encantamento que causavam a simplicidade, a versa-

do alto de meus 16 anos eu já havia feito uma escolha.

tilidade e a espontaneidade que apareciam em seus mó-

Queria estudar design, queria fazer o que fazia Vico Ma-

veis dobráveis, desmontáveis e cheios de movimento.

gistretti. Acreditava no que ele dizia, que as idéias sur-

Seu trabalho foi sempre norteado por uma condição: a

gem do diálogo entre os executivos (a indústria, o mer-

realidade. Os resultados, soluções especiais, mas sem

cado) e o designer. Na Itália do pós-Guerra ele foi pionei-

excessos, refletiam sua pesquisa, sua cultura de projeto

ro nessa aproximação e, a partir de sua formação racio-

e a experimentação sempre inovadora de materiais e tec-

nalista, ajudou a pensar e a criar a identidade do design

nologias. Surgiam produtos encantadores, com grandes

italiano. Acreditei e apostei nisso desde o princípio; pelos

soluções de fabricação em formas únicas e silenciosas.

seguintes 20 anos, esse tem sido meu maior desafio e as-

Em seus 60 anos de trajetória profissional, Vico Magis-

sim procuro dar minha contribuição ao design brasileiro.

tretti ajudou a escrever a história do design. Fará muita

Nessa época, as Mecas do bom design em São Paulo

falta, mas nos reconforta pensar que sua contribuição fi-

eram as lojas Forma e Inter Design; desde os anos 1970,

cará para sempre, imortalizada em seus muitos produ-

a Probjeto já tinha sua licença para fabricação de produ-

tos que fazem parte do cotidiano, ajudando a melhorar a

tos da italiana Cassina. Foi ali que sentei pela primeira

vida das pessoas. Afinal, não é esse o sentido do design?

vez num sofá Maralunga, foi lá que vi pela primeira vez

Adeus, Mestre. Obrigada por tudo. ❉


top21

23/10/2006

14:39

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o grande prêmio do design PRÊMIO MERCADO DESIGN

TOP 21 ARC DESIGN lança uma premiação inédita para os melhores produtos brasileiros do século XXI, presentes no mercado. As categorias incluem do produto industrial ao artesanal e ao sustentável; interiores e acessórios; moda; móveis, luminárias, utilitários, embalagens; inovações, além dos profissionais que mais se destacam. Aguardem! Na próxima edição de ARC DESIGN ou em nosso site confira os detalhes sobre essa premiação. O Prêmio Mercado Design, avaliará o produto e sua trajetória, do projeto ao mercado. Pensar e criar o design é ir além da simples forma


NOVAS LINGUAGENS NO DESIGN GRÁFICO NACIONAL O conjunto de trabalhos apresentados na última bienal da ADG deixa transparecer o fortalecimento de linguagens que vão buscar suas referências criativas na cultura popular brasileira e também nas

Imagens cedidas pela ADG Brasil

experiências de artistas plásticos

À es quer da, Kit de Lan ça men to Cra ma: o in flá vel, ao ser ras ga do, re ve la uma car ta que anun cia o novo po si ci o na men to da em presa; a pas ta con tém um fo lhe to ins ti tu ci o nal e um ex pe ri mental (no qual cada página é feita por um de seus funcionários); cri a ção Cra ma De sign Es tra té gi co (RJ). Aci ma, Car taz da 8ª Bi e nal Bra si lei ra de De sign Grá fi co

À di reita, Des fi le Bic: o con vite e o jor nal do des fi le da gri fe da esti lista Lu i za Mar ci er ex plo ram ra bis cos e o tra ço des pre ten si o so de quem está com uma ca ne ta Bic na mão; design Es tu dio Ra di o grá fi co (RJ). Na pá gi na ao lado, car taz pro mo ci o nal fei to a par tir de co la gens com ele men tos grá fi cos da his tó ria do design; design Vi cen te Gil (SP)

58 ARC DESIGN


59 ARC DESIGN


Aci ma, Bra sil – um Desa fio à Ima gi na ção, design Re na ta Ri bei ro da Sil va, Uni ver si da de Fu mec (MG). Abai xo, Oba! Sum me ri ze: “li vro-ob je to” com uso de co la gens, do bra du ras, re cor tes e en car tes, cria do pela Agên cia Smart (SP) para o lan ça men to da co le ção da es ti lis ta Adria na Bar ra, e um car taz com ves ti do em ta ma nho real para ser re cor ta do, que apa re ce na úl ti ma pá gi na do li vro

Fernanda Sarmento A oitava edição da bienal da Associação dos Designers Gráficos (ADG), realizada entre junho e agosto deste ano, expôs um variado panorama da produção do design gráfico brasileiro dos últimos dois anos. Os trabalhos foram apresentados seguindo novas chaves de leitura crítica dessa produção e não mais por categorias, como nas edições anteriores. Esse esforço para aprimorar a reflexão crítica sobre a produção atual permitiu uma leitura conceitual, mas dificultou a visão comparativa dos trabalhos nas áreas específicas, obrigando os diversos projetos a se “adequarem” à nova organização. Entre as boas novidades está a criação de uma categoria

À es quer da, Re vista do Ar qui vo Público Mi nei ro, na qual fo ram uti li za das ima gens, co res, ti po gra fia e dia gra ma ção mais es ti mu lan tes e for ma to con for tá vel para enal te cer a tra di ção do pe ri ó di co com uma lei tu ra con tem po râ nea e agra dá vel; design Mar cia La ri ca (MG). Abai xo, BR2222, ca tá lo go do ban co de ima gens Sam ba pho to; design Es tú dio Tos tex (SP)

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Aci ma, Design de Re vis ta – uma Es té ti ca Des cons tru ti va, design Luis Ba cel lar, Uni ver si da de Tui u ti do Pa ra ná: um pro je to que bus ca fa lar de mú si ca, arte e com por ta men to de uma for ma di fe ren te, re len do con cei tos cons tru ti vis tas, da daís tas e fu tu ris tas, unin do ima gem e tex to em co res vi bran tes, movi men tan do a lei tu ra. Abai xo, à di rei ta, um dos car ta zes cria dos para a di vul ga ção da or ques tra sin fô ni ca do Es ta do de São Pau lo (OSESP) tra duz vi sual men te o uni ver so so no ro da or ques tra; design Kiko Far kas / Má qui na Es tú dio (SP)

Aci ma, MTV Dossiê Uni ver so Jovem 3: as ilus tra çõ es que se pa ram os ca pí tu los são im pressas, mis tu ra das na “boca da má qui na” após a ati va ção (ou desa ti va ção) de ca nais de co res CMYK e reim pressas para cons tru ir, na mon ta gem fi nal, li vros pa re ci dos por fora, mas di fe ren tes por den tro; design MTV Bra sil, De par ta men to Pro mo/Grá fi cos (SP). Abai xo, em ba la gem do CD Tudo de Novo Nova men te uti li za um in tri ca do jogo de cor tes e do bras, per mi tin do vá rias com po si çõ es vi suais e in ter pre ta çõ es das men sa gens nela con ti das; design Es tú dio Crop + L.A. Sal ga do (PR)

Abai xo, site ins ti tu ci o nal da agên cia de mar ke ting RMG Con nect faz uso de ilus tra çõ es para re for çar a idéia de que as vá ri as fer ra men tas de co mu ni ca ção de vem es tar co nec ta das para apro xi mar cada vez mais pessoas e marcas; design Nara Maitre, Phillipe Ro dol fi e Jean Bo e chat (SP)


Aci ma, Kit de Jo gos de Pra ça: o do mi nó tem pe ças qua dra das que po dem ser usa das no ver so para o jogo de da mas; o ver so do ta bu lei ro de da mas, em fel tro, pode ser usa do como toa lha para o jogo de car tas; design Re na ta de Cas tro, Cen tro Uni ver si tá rio da Ci da de (Uni ver Ci da de – RJ)

Aci ma, por ta pen-dri ve, brin de em bor ra cha ver de e ama re la trans lú ci da no for ma to da mar ca, para co me mo rar os 15 anos da MTV; cria ção In dús tria Na ci o nal Design (RJ)

para projetos de estudantes. Muitos destes, talvez por não apresentarem limitações por parte dos clientes, chegaram a resultados surpreendentes. Interessante observar como as referências nacionais começaram a ser valorizadas pelos jovens designers. Temos a impressão que o processo de valorização do artesanato e da cultura popular brasileira atingiu também a produção dos designers gráficos. Trabalhos com grafismos gestuais e soluções com acabamentos artesanais são encontrados em todas as áreas de atuação dos profissionais.

À es quer da, a em ba la gem do CD que ho me na geia os Mestres da Guitar ra da, na for ma de um toca-di cos antigo, é de mi riti, ma dei ra cujo uso foi ce le bri za do pe los ar tesãos do Pará para con fec ção de brin que dos; design Lu Gue des (PA). À di reita, lo go mar ca Va ca tussa, design Mooz (PE)

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Aci ma, três embalagens de be bidas: à es quer da, Ca cha ça Pura, cria ção Caso Design Co mu ni ca ção (SP); ao centro, em ba la gem da Ca cha ça Ver de Ama re la, desen vol vida pela Co ral Design (MG); à di reita, em ba la gem para vi nho Sal ton Desejo, da Vi ní co la Sal ton; cria ção Mat tar Design (SP). Abai xo, li vro de fo to gra fias “Cai xa Bran ca”: ins pi ra da na pai sa gem da Antár ti ca, a em ba la gem foi con fec ci o na da em plás ti co in je ta do fos co, para re me ter a um ice berg; as fo tos fo ram im pressas em pa pel pe ro li za do, re presen tan do o gelo; cria ção 100% Design (SP)

No alto, mar ca para o Art Café, mix de loja de ar tesa na to com café, onde fo ram uti li za das ilustra çõ es que re me tem à cu ltu ra bra si lei ra e ao ar tesa na to; design Set Co mu ni ca ção (ES). Na se quên cia, Sig no de Co man do Am zn’s: o dese nho da mão mes cla-se ao dese nho de uma fo lha, re presentan do uma re la ção ínti ma e har mo ni o sa entre o ser hu ma no e a na tu reza, com ple menta do por uma ti po gra fia dese nha da es pe cial mente para o cli ente; cria ção Estú dio 196 Design (SP)

À di rei ta, peça pro mo ci o nal Pi na co te ca do Es ta do – 100 Anos de His tó ria: in clui ca tá lo go, pas ta con ten do fol ders com ex po si çõ es e even tos pro gra ma dos, além de uma ré pli ca de ti jo lo an ti go da Pi na co te ca, para ser dis tri bu í da aos po ten ciais pa tro ci na do res da co me mo ra ção dos 100 anos da ins ti tu i ção. Design Fer nan da Sar men to (SP)


Aci ma, si na li za ção Es co la Viva: gran des cír cu los iman ta dos dese nha dos pe las pró prias crian ças vei cu lam in for ma çõ es à por ta de cada classe; cria ção Rex Design (SP). Abai xo, fon te Af ter, desen vol vi da para tí tu los, com re cur sos Openty pe; design Fa bio Luiz Haag (RS)

Destacam-se ainda trabalhos que partiram da inclusão de objetos tridimensionais nas peças gráficas, reeditando, de certa forma, o tão bem-sucedido conceito do “livro-objeto”, muito desenvolvido por artistas brasileiros nas últimas décadas. Pelos trabalhos apresentados, observamos que parte dos designers gráficos nacionais parece ter percebido a riqueza de linguagens disponíveis na cultura brasileira, abandonando, assim, a postura tão usual de importar modelos e tendências internacionais. ❉

A 8ª Bienal de Design Gráfico teve curadoria de André Stolarski, Bruno Porto, Fernanda Martins e Marco Aurélio Kato

Abai xo, à esquerda e no centro, a si na li za ção para o Com ple xo da Pam pu lha com bi na o uso de co res, ti po gra fia le gí vel e pic to gra mas de lingua gem uni ver sal; na sequência, jogo da me mó ria; cria ção Hardy design, A&M e GPA&A (MG)

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SHOPPING TAMBÉM É CULTURA! Escolher – da luminária à echarpe – com o aval do Museu de Arte Moderna de N. York. Boa garantia! E uma oportunidade de conhecer um vasto repertório de “produtos design” de todo o mundo. As lojinhas de museus são um divertido campo de pesquisa para entrar em contato com a cultura material de diversas regiões do mundo. Uma contínua e boa garimpagem – deles e nossa – e descobre-se o necessário e o razoavelmente inútil, mas

© 2005 Timothy Hursley

sempre de muita boa qualidade ou de origens remotas e exóticas. E o mais importante não é possuir o objeto, mas conhecê-lo, e viajar pelas sensações que seu toque ou olhar nos traz

Fotos Thomas Loof e Pernille Pedersen

Acima, vista ex terna do MoMA: em primeiro plano, o jardim de esculturas, ao fundo, o edifício principal, projeto do arquiteto Yoshio Taniguchi. Abaixo, nas duas páginas, produtos disponíveis na loja do MoMA: 1. dos EUA, luminária Leaf, design Yves Béhar (2006): a luz gerada pelos LEDs é controlada pelo toque do usuário (de luz quente a fria, suave a intensa) e a par te superior gira até 180 graus; 2. do Reino Unido, colar Gingko, design Maria Jauhiainen (2006): a ar tista reinterpreta, em metal, as delicadas folhas da ár vore de ginko; 3. da Itália, bolsa em poliuretano com fios coloridos de seda , design Luisa Cevese (2006); 4. da Alemanha, tesoura Cassini, design Tobias Koeppe (1998)

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Thomas Loof e Pernille Pedersen

Aci ma, vis ta in ter na par cial da loja, que se des ta ca por seus es pa ços neu tros e bem-ilu mi na dos. Abai xo: 5. da Ho lan da, xí ca ra Dom bo, design Ri chard Hut ten (2002), au xi lia as crian ças no desen vol vi men to da co or de na ção mo to ra; 6. do Rei no Uni do, So li tai re Oli ve Pla te, design Bar naby Bar ford e An dre Klau sér (2003); 7. da Chi na, pás de me dida ajustá veis para só lidos e lí quidos, design Wil liam Kang e Ed ward Kilduff (2005); 8. do Ja pão, Origa mi Tote, bol sa em tra ma de po li éster plissa da, bor ri fa da à mão com pó de cro mo, ní quel e fer ro; design Rei ko Sudo e Hi ro ko Suwa (2005)

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Uma Publicação Quadrifoglio Editora ARC DESIGN n° 50, outubro 2006 Diretora Editora Maria Helena Estrada Diretor de Marketing Cristiano S. Barata Diretora de Arte Fernanda Sarmento REDAÇÃO Editora Geral Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico Fernanda Sarmento Chefe de Redação Winnie Bastian Redatora Keila Bis Revisora Jô A. Santucci ARTE Designers Ana Beatriz Avolio Betina Hakim Estagiário Danilo Costabile Participaram desta edição Ana Paula Orlandi Baba Vacaro Enrico Morteo Guto Indio da Costa Juliana Mariz Nelson Aguilar Marketing Ana Thereza Gil, Guilherme Vilela

Apoio:

Apoio Institucional:

ARC DESIGN – endereço para correspondência Rua Lisboa, 493 – CEP 05413-000 São Paulo – SP Telefones Tronco-chave: (11) 6808-6000 Fax: (11) 3898-2854 E-mails Administração administracao@arcdesign.com.br Assinaturas assinatura@arcdesign.com.br Direção de Arte arte@arcdesign.com.br Editora editora@arcdesign.com.br

Publicidade Daniel Resende

Marketing mkt@arcdesign.com.br

Circulação e Assinaturas Lúcia Martins Pereira

Publicidade comercial@arcdesign.com.br

Administrativo-Financeiro Silvia Rosa Silva Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DESIGN para assuntos internacionais Pré-impressão Cantadori Artes Gráficas Ltda. Impressão Prol

Redação redacao@arcdesign.com.br

Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito.

Papel: Suzano Papel capa: Supremo Duo Design 250g/m2 miolo: Couché Suzano Silk L2 130g/m2

Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos.

Distribuição nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A

www.arcdesign.com.br



LOUCOS POR DESIGN

“A cozinha repousa sobre três pilares. o prazer de comer, que é o primeiro ato humano; o prazer de dar prazer aos outros; o prazer da própria mesa, que congrega, reúne”, recita a filosofia de vida do pai de Olivier Anquier. E é assim, guiado pela sensibilidade e pela emoção, que este personagem encontra os objetos – muitos – que o rodeiam. Afirma não entender de design, mas escolhe – e desenha – objetos... design Da Redação / Fotos Nelson Aguilar


arc design – Quando e com qual objeto sua atenção foi des-

pertada para o design? OLiVier anQUier – Design? Não penso nele porque não faz parte de meu mundo, desconheço essa realidade. Minha relação com os objetos é a mesma que tenho com as pessoas: me agradam aqueles que expressem uma personalidade, que contêm uma história. O objeto é um objeto, e para mim vale aquele que me emociona. A palavra “design” parece criar barreiras, classificar. Eu sou um “procurador” de objetos, com personalidade aberta. Gosto de objetos e pessoas, por mais ecléticos e diferentes que sejam, que tenham uma vibração, como algo que aproxima. ad – A que você dá mais atenção: à forma, à utilidade ou ao ma-

terial de que o objeto é feito? Oa – Depende. Quando se trata de uma ferramenta, de um instrumento, este deve ser funcional. Mas entre dois objetos funcionais, vou preferir aquele que tenha também um apelo emocional. Desenhei um conjunto de facas de cozinha, que vejo sob diversos aspectos. São facas de trabalho, extensões do corpo, portanto têm praticidade e eficácia; como não tenho a postura, a rigidez de um “chef”, queria uma linha que não tivesse apenas o apelo funcional; queria também facas com a minha personalidade, que você despretensiosamente coloca à vista na cozinha.

Aci ma, cin zei ro cuja for ma re me te às tur bi nas de avi õ es; ao lado, mi nia tu ra do Con cor de; abai xo, es cul tu ra Fave la, de Sérgio Ce zar, RJ (não é exatamente design, mas é muito bonita); no pé da pá gi na, à es quer da, lu mi ná ria de Pi er re Be nain, que faz alu são a um fa rol. Na pá gi na ao lado, Oli vi er An quier e seu con jun to de fa cas, dese nha do por ele com a co la bo ra ção do desig ner fran cês Pi er re Be nain

ad – O que motivou a escolha das peças aqui publicadas? Oa – Tenho uma relação muito especial com o avião. Primeiro,

porque meu avô foi um dos primeiros pilotos de guerra, depois, quando eu era moleque, queria ser aviador. E hoje sou piloto de vôo livre. Mas o avião é um objeto sensacional, sua linha, seu desenho são de enorme elegância. Como sou amigo de Philippe Starck, tenho a miniatura do Concorde, em cuja concepção atuou o pai de Starck. A lixeira é uma turbina de avião, a luminária de Pierre Benain também remete à aviação. ad – Qual designer brasileiro, e qual fora do Brasil, você citaria

como destaque? Oa – Lembro apenas dos mais reconhecidos, como os irmãos Campana, importantes não apenas no Brasil mas em todo o mundo, e outros que reconheço pelo resultado do trabalho, como o ventilador de teto (Guto Indio da Costa n.d.r.). Parece que oscilo entre dois extremos, o emocional e o racional. Na Fran ça, além de Starck, gos to mu i to do jo vem Pi er re Benain, que já tem obras mu i to in te res san tes. ❉ 71 ARC DESIGN


COMO ENCONTRAR

A CIDADE DO CHEIRO CHEIROSO

ARQUITE TURA COLE TI VA

Carlos Alcantarino www.alcantarino.com

Al varo Puntoni www.puntoni.arq.br

Fundação São José Liber to www.saojoseliber to.com.br

Andrade Morettin Ar quitetos Associados www.andrademorettin.com.br

Mestre Cardoso daniellecsilv@gmail.com

Angelo Bucci www.spbr.arq.br

Museu Paraense Emílio Goeldi www.museu-goeldi.br

Centro Universitário Maria Antonia www.usp.br/mariantonia

Sebrae Pará www.pa.sebrae.com.br

TALENTOS DO BRA SIL Angela Klein comercial@d2a.com.br

COMPANHEIROS DE CAMA E MESA Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro www.museuhistoriconacional.com.br Ponto Frio www.pontofrio.com.br

O SAMBA E O DRAGÃO Indio da Costa Ar quitetura e Design www.indiodacosta.com

NÃO SE OUVE MAIS MÚSICA COMO ANTIGAMENTE Apple www.apple.com

MMBB Ar quitetos www.mmbb.com.br Núcleo de Ar quitetura nucleoarq@uol.com.br Projeto Paulista de Ar quitetura projeto_paulista@uol.com.br UNA Ar quitetos www.unaarquitetos.com.br

SOMOS A CRIAÇÃO POPULAR BRA SILEIRA Janete Costa Tel.: (81) 3463-9710 borsoicosta@gmail.com Santander Cultural Rua Sete de Setembro, 1.028 (Praça da Alfândega) – Porto Alegre www.santandercultural.com.br

JOVENS DESIGNERS Conjunto Nacional Av. Paulista, 2.073 – São Paulo

Asono www.asono.com Bang & Olufsen www.bang-olufsen.com Fujitsu Ten www.fujitsu-ten.co.jp Harman Kardon www.harmankardon.com JBL www.jbl.com Kunihiro Tsuji www.kunihiro-tsuji.com M’s System www.mssystem.co.jp

MUDANÇA DE CASA Ar thur Casas www.ar thurcasas.com.br Casamatriz Al. Gabriel Monteiro da Silva, 679 – São Paulo Tel.: (11) 3064-6050 www.casamatriz.com.br

ALTERNATI VAS PARA O DE SIGN Senac São Paulo www.sp.senac.br

PRÊMIO TOP 100 AR TE SANATO Sebrae Nacional www.sebrae.com.br

NOVAS LINGUAGENS NO DE SIGN GRÁFICO NACIONAL ADG Brasil www.adg.org.br

SHOPPING TAMBÉM É CULTURA! MoMA www.moma.org

LOUCOS POR DE SIGN Oli vier Anquier www.olivieranquier.com.br



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