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Immacullée: sobrevivi pela fé e o perdão Nícia Ribas, de Plurale em revista
Vestindo traje típico africano, em tons fortes de vermelho, laranja e amarelo, com os cabelos longos penteados para um lado, a bonita africana Immacullée Ilibagiza falou de pé, durante quase uma hora, para o auditório lotado do Oi Casa Grande, Leblon, Rio de Janeiro, no último dia 10 de outubro. Sobrevivente do genocídio ocorrido em Ruanda em 1994, um dos maiores e mais sangrentos da história da humanidade, ela está no Brasil, participando de conferências e eventos nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida e Cachoeira Paulista.
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PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2011
“Quando li o livro Sobrevivi para contar, da Immacullée, me apaixonei pelo seu relato, comecei a recomendar e a dar de presente para os meus amigos”, disse Silvia Aquino, que em parceria com o Instituto Ekloos, promoveu a vinda da ruandesa ao Brasil. Para abrir e encerrar o evento, foi escolhida a jovem banda Filarmônica do Rio de Janeiro, que encantou a plateia formada principalmente por católicos da Zona Sul. De família católica da tribo tutsi, Immaculée estudava engenharia na Universidade Nacional de Ruanda, quando, em 1994, os hutus decidiram exterminar os tutsis, estuprando mulheres e matando quase um milhão de pessoas em apenas 100 dias. Por orientação de seu pai e irmãos, ela ficou escondida na casa de um pastor, dividindo o espaço de um banheiro mínimo com mais sete mulheres, durante 91 dias. “Só sobrevivi por causa da minha fé em Deus e da minha capacidade de perdoar.” Com 23 quilos a menos, uma Bíblia, um dicionário de inglês e um rosário, Immaculée saiu daquele banheiro e ficou sabendo que toda sua família tinha sido dizimada. Após recuperar-se, passou a trabalhar na ONU. Em 1998, mudou-se para Nova York e continuou a trabalhar nos escritórios da organização durante vários anos. Hoje, casada com Bryan Black e mãe de Nikeisha e Bryan Jr., ela continua morando lá. Dedica-se atualmente à Fundação Ilibagiza cujo objetivo é ajudar sobreviventes na recuperação dos efeitos dos genocídios e das guerras. Recentemente, Immaculée Ilibagiza foi homenageada no “Michael Collopy de Arquitetos da Paz”, projeto que honrou legendários como Madre Teresa, Nelson Mandela e Dalai Lama. Recebeu também o título de doutora honoris causa da Universidade de Notre Dame e da Universidade de Saint John, além do Prêmio International Gandhi Peace Prize em 2007. “Conto minha história mundo afora com o objetivo de falar do genocídio, para que não aconteça o mesmo em outros locais. E também reforço sempre a ideia do perdão”, diz ela, que depois do genocídio foi à prisão para dizer aos assassinos de sua família que os perdoava.