Anderson José R. de Almeida (Assistente em Administração)
Sílvia C. De O. Aragão (Museóloga)
Conselho Curador do MACP
Carlos Eduardo Amaral de Paiva
Viviene Lozi
Mauricio Meneses
Zizele Ferreira Santos
Roberta Martins Nogueira
Exposição À Flor da Pele: Arte Negra no Museu
Curadoria
Gervane de Paula
Ludmila Brandão
Expografia
José Serafim Bertoloto e Viviene Lozzi
Organização Geral
Carlos Eduardo Amaral de Paiva
Organização Técnica Operacional
Ana Lia Rodrigues da Silva
Anderson José R. de Almeida
Juliano Gonçalo Silva
Sílvia C. de O. Aragão
Caio Augusto Ribeiro Bertoni
Montagem
Carolina Argenta
Matheus Clemente
Rodrigo Leite da Silva
Juliano Gonçalo Silva
Marcos Gontijo
Fotografias
Luzo Reis
Fred Gustavos
Rodrigo Leite da Silva
Marcos Gontijo
Projeto Gráfico
Tássia Ruiz - Secomm - UFMT
Diretoria Executiva da Ação Cultural
Eduardo Espíndola
Ana Graciela M. da Fonseca
Viviene Lozi Rodrigues
Conselho Consultivo MAS/MT
Pe. Antônio Edseu da Silva
Jan Moura
Denise Argenta
Renilson Rosa Ribeiro
Viviene Lozi Rodrigues
Equipe MAS/MT
Viviene Lozi Rodrigues
(Diretora Executiva)
Denise Argenta (Assessoria Museológica)
Assessoria Educativa e Cultural
Ana Flávia (Coordenação)
Gabriel Acioly (Estagiário)
Giselly Souza (Estagiária)
João Eduardo (Estagiário)
Veronica Miranda (Estagiária)
Ao Reitor Evandro Soares da Silva, ao Pró-Reitor de Cultura e Vivência, Fabrício Carvalho, à Coordenadora de Cultura e Vivência, Jessica Bastos.
Aos servidores do MACP, Ana Lia Rodrigues da Silva, Anderson José R. de Almeida, Sílvia C. de O. Aragão. Ao nosso bolsista de extensão, Juliano Gonçalo Silva.
Ao Conselho Curador do MACP: Carlos Eduardo Amaral de Paiva, Viviene Lozi, Mauricio Meneses, Zizele Ferreira Santos e Roberta Martins Nogueira.
Aos curadores Gervane de Paula e Ludmila Brandão.
Aos expografistas José Serafim Bertoloto e Viviene Lozzi.
À equipe de montagem Rodrigo Leite da Silva, Carolina Argenta, Matheus Clemente, Marcos Gontijo e Caio Augusto Ribeiro Bertoni.
Aos fotógrafos Luzo Reis e Fred Gustavos
À designer Tássia Ruiz e equipe da Secretaria de Comunicação e Multimeios – SECOMM.
À toda equipe do Museu de Arte Sacra de MT.
À professora Marilene Alves Costa.
À Deputada professora Rosa Neide.
Ao professor Renilson Rosa Ribeiro.
À professora Cristiane Thais do Amaral Cerzósimo Gomes.
Aos nossos apoiadores: SECEL, Ação Cultural, Suvinil, Todimo, Casa das Pretas, Assembleia Social, Casa das Molduras e Galeria Artô.
Apresentação
À flor da pele
Benedito Nunes
Nilson Pimenta
Alcides dos Santos
Clínio Moura
Rubem Valentim
Osvaldina dos Santos
Gervane de Paula
Paulo Pires
Paty Wolff
Babu 78
Sol Ferreira
Elaine Fogaça
Rodolfo Luiz
Wania de Paula
Fabrício Carvalho
Pró-Reitor da PROCEV
A Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência fica feliz em declarar que a UFMT está de volta às suas atividades presenciais e aberta ao público. Ponto de transição entre interno e externo, a PROCEV, por meio de suas ações, comumente é a primeira referência da UFMT nas comunidades, por isso a importância de reecontrar a sociedade e ver os nossos espaços novamente ocupados.
Depois de dois anos de fechamento, devido à imposição da pandemia de COVID-19, o MACP reabre suas portas com a Exposição À Flor da Pele: Arte Negra no Museu, uma adesão ao movimento de irrupção, já visto em outros espaços culturais, que reconhece o devido protagonismo desses artistas.
Parabenizo a curadoria de Gervane de Paula e Ludmila Brandão que, juntamente com o Supervisor do MACP, Carlos Eduardo de Paiva, reuniram nomes como Alcides Pereira, Babu 78, Benedito Nunes, Clinio Moura, Elaine Fogaça, Nilson Pimenta, Osvaldina Santos, Paulo Pires, Paty Wolf, Rodolfo Luiz, Rubem Valentim, Sol Ferreira, Wânia de Paulo e o próprio Gervane de Paula.
“À Flor da Pele: Arte Negra no Museu” é a expressão de uma Universidade atenta, em conexão com o seu tempo e pronta para receber visitantes: estudantes, servidores, toda a comunidade cuiabana e mato-grossense, para ver de perto como a educação, a cultura e a extensão contribuem para novas e outras vivências.
O que pode um museu?
Carlos Eduardo Amaral de Paiva Supervisor do MACP
Prestes a completar 50 anos, o Museu de Arte e de Cultura Popular vem à público apresentar a exposição: “À Flor da Pele: Arte Negra do Museu”. Depois de dois anos fechado, nosso museu reabre suas portas com uma exposição de retomada. Apresentamos ao público um diálogo entre gerações de artistas negras, negros e negres em que se propõem novos olhares sobre a produção artística mato-grossense.
Desde a sua fundação o MACP participa ativamente da construção da identidade mato grossense, bem como com a difusão do patrimônio cultural do estado, sendo uma das principais instituições de fomentação das artes visuais do Mato Grosso.
Uma instituição que surge propondo-se a ser um “museu ação”, ou seja, partindo do pressuposto da dinamicidade da cultura e acompanhando os debates que povoam a esfera pública brasileira e mato-grossense.
Acreditamos que um museu está vinculado aos processos de democratização e de inclusão de artistas e públicos. Mais do que preservar determinadas memórias, um museu deve ser um equipamento que coloca a memória a favor do desenvolvimento social e do debate democrático, formando assim um espaço de acolhimento de novas narrativas mesmo que conflitivas.
Assumir uma exposição com a temática negra não significa tomar uma postura identitarista, não se trata de mera representatividade, mas de reconhecimento da imensa contribuição afrodiaspórica na construção das artes no Brasil e em Mato Grosso. Estado, que aliás, foi formado não só pelo trabalho do negro escravizado minerador, mas também pela resistência de um dos maiores Quilombos do Brasil, o Quariterê. Por isso que À flor da pele evoca uma existência
como resistência. Expor uma arte feita por negras, negros e negres em uma cultura hegemonicamente branca é romper com determinadas tradições seletivas e, quem sabe, apresentar memórias e narrativas alternativas de grupos historicamente silenciados.
Portanto, afastamo-nos de uma perspectiva enciclopédica de museu, uma exposição não é um amontoado de artefatos colecionáveis, é antes de tudo uma organização de imagens que constroem narrativas, assumindo posturas críticas e reflexivas. Afinal, acreditamos que a construção de memórias plurais é tarefa essencial para o futuro de uma sociedade democrática.
A Arte Negra nos Museus
Viviene Lozi
Diretora Executiva do MAS-MT e Membro do Conselho curador do MACP-UFMT
Para o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso – MAS-MT, participar da realização do projeto de exposição “À Flor da Pele: Arte Negra no Museu” é um grande prazer, primeiro, por contar com a curadoria de Ludmila Brandão e Gervane de Paula e a expografia de Serafim Bertoloto e Viviene Lozi, todas essas pessoas importantes para a consolidação do cenário das artes visuais no Estado. Segundo, pelo fato de esse projeto de exposição marcar a reabertura do MACP – Museu de Arte e de Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso, que depois de dois anos fechado, em decorrência da pandemia da Covid-19 e o isolamento social, reabre com essa exposição. E lembrando que dela participam tanto jovens artistas quanto outros já consagrados – inclusive, alguns in memoriam, que têm obras no acervo do MACP. E, isto, além do acervo de arte da SECEL –Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso que se encontra no MAS-MT.
Dedicada a artistas negros, a exposição coletiva reúne alguns dos artistas da década de 1970, bem como jovens e atuantes artistas negros que hoje fazem o árduo trabalho de se incluir no mercado nacional de artes visuais.
A exposição busca o diálogo entre gerações de artistas negros e negras grandes nomes das artes plásticas mato-grossenses como Gervane de Paula, Paty Wolff, Paulo Pires, Babu 78, Elaine Fogaça, Rodolfo Luis, Sol Ferreira, Vânia de Paula, além de Alcides Pereira dos Santos, Nilson Pimenta, Benedito Nunes, Osvaldina dos Santos, Clínio Moura e o artista Rubem Valentim (esses últimos in memoriam).
A parceria dessa exposição entre as duas instituições museológicas tem um caráter muito sensível e necessário. Para tanto, foi desenvolvido um trabalho afinado, alinhando, juntamente com
as equipes dos museus, curadores e artistas em todos os aspectos para permitir e comunicar a proposta de maneira íntegra e compreensível a todos os públicos que visitam os espaços.
É necessário que os espaços museológicos possam abrigar ações, debates e exposições que trabalhem temáticas pertinentes nos dias atuais, e, nesse sentido, o racismo no Brasil, por exemplo, infelizmente, ainda é latente e precisa ser discutido e levado para os espaços museológicos. A perspectiva, no caso, é de que é reconhecer a necessidade de um posicionamento antirracista, e isso exige estabelecer o combate a esse mal como princípio ético e prática diária numa sociedade estruturalmente desigual, para exigir, de maneira ativa, a transformação de políticas, comportamentos e crenças que possam eliminar o racismo nos níveis individual, institucional e estrutural.
A arte negra neste projeto apresentado não é apenas uma arte objetivada ou colocada como coadjuvante. Pelo contrário, no contexto de Mato Grosso, é uma arte muito expressiva; basicamente, os artistas plásticos matogrossenses negros ajudaram a formar a identidade do Estado com o que há de mais genuíno, significativo e crítico em suas produções.
No MAS-MT, poderá ser vista parte da exposição que conta com dois ambientes, sendo um a exposição permanente do artesão Clínio de Moura, que recebeu novos objetos tridimensionais e dois cartazes; já o segundo, com trabalhos em diversos suportes, esculturas, gravuras e pintura de cavalete.
A exposição ocorre nos ambientes 5 e 12 do circuito expositivo do Museu de Arte Sacra e conta com diversas ações educativas. Fica em cartaz no período de 16 de setembro de 2022 a 29 de janeiro de 2023, com visitação de quarta a domingo das 9h às 17h, com a coleção da SECEL e da Galeria Arto, com 25 obras dos artistas participantes.
Arte Negra Arromba Porta do Sistema de Arte
Ludmila Brandão
No início dos anos 90, o grande pensador jamaicano Stuart Hall debruçava-se sobre as questões teóricas que dividiam o campo dos Estudos Culturais, do qual se tornou um de seus mais importantes expoentes. Há quinze anos pelo menos, dizia Hall, estruturalistas e culturalistas disputavam a hegemonia teórica do campo quando a contenda foi interrompida pelo feminismo que chegou arrombando a porta e, “como um ladrão no meio da noite, interrompeu tudo o que estava fazendo e virou a mesa dos estudos culturais”.
A porta foi, enfim, arrombada! Multiplicam-se exposições consagradas a artistas indígenas, mulheres, negros e negras, LGBTQIA+, no mundo, no Brasil e cá entre nós.
Em São Paulo, a exposição Raio-que-o-parta: Ficções do Moderno no Brasil, deste ano de 2022, reuniu cerca de 200 artistas de diferentes regiões do país cujas obras assinalam que a vaga modernista não se limitou aos restritos círculos artísticos de São Paulo, como nos faz crer os livros de arte. Um belo exemplo pode ser encontrado na arquitetura vernacular paraense da primeira metade do século XX, que deu nome à exposição, inventada e praticada por mestres-de-obra e moradores sem formação acadêmica, e de evidentes traços modernistas. O que nos surpreende nessa exposição, além das mais de 600 obras é o fato de a imensa maioria dos artistas ser completamente desconhecida até então, muitos deles, mulheres e homens negros, indígenas, caboclos.
Com o slogan “o pessoal é político” e a demonstração da natureza sexuada do poder, o feminismo logo se viu acompanhado pelas questões de raça e sexualidade no mesmo embate do campo. Dessas irrupções resultaram a profunda revisão de todos os paradigmas dos Estudos Culturais.
Se, nas Humanidades, questões ligadas às minorias subalternizadas foram inseridas em meio às reflexões correntes por força e obra de seus representantes, o mesmo sucede, com algumas décadas de atraso, com o sistema de Arte. Quantas mulheres artistas podem ser encontradas num livro clássico de História da Arte? Quantos artistas negros? Ou indígenas? Já é quase lugar comum (mas ainda vale a pena lembrar) a comparação entre as obras de Pablo Picasso inspiradas nas máscaras africanas e disputadas pelas mais importantes instituições artísticas do mundolembro aqui Les demoiselles d’Avignon de 1907 - e o fato de as próprias máscaras, para as quais o artista espanhol atraiu interesse, serem exibidas em museus etnográficos! A elas reservava-se o interesse pelo exotismo de suas formas como conhecimento da cultura em geral, jamais como peças de valor artístico intrínseco.
O MACP não poderia deixar de se engajar nessa irrupção bem-vinda. No entanto, é bom lembrar que esta não é a primeira exposição no museu dedicada a artistas negros. Em 1988, sob o nome Negra Sensibilidade, os trabalhos de nove artistas negros (uma mulher), foram aqui exibidos. É necessário, todavia, verificar o contexto. Ao fundo, percebemos uma espécie de homenagem - espírito do tempo - à “contribuição” do negro à cultura brasileira repercutindo, de certo modo, a ideia das três raças que participariam igualmente dessa construção, a despeito das práticas de assujeitamento que seguem em curso neste país. Tratava-se, ainda que com as melhores intenções, de um museu branco abrindo espaço para a produção de artistas negros.
A situação que agora temos é completamente outra. O protagonismo das minorias vem conquistando os espaços de arte, convertendo-os em territórios dos mais variados matizes em termos de raça, gênero, sexualidade e o que estiver por vir. Não se trata de concessão, de render homenagem, mas de assunção do que lhe é de direito.
Assim pensamos que esta exposição haveria de reunir alguns dos artistas desse primeiro movimento do MACP com jovens e atuantes artistas negros que hoje fazem o duro trabalho de arrombar as portas do sistema artístico. Que por aqui fiquem para sempre!
Artistas Negros Importam
Gervane De Paula
O Estado de Mato Grosso abriga um núcleo expressivo de artesãos, ceramistas, tecelões, músicos, escritores, fotógrafos, artistas visuais populares, modernos e contemporâneos. Aqui também é possível encontrar inúmeros rituais religiosos, danças folclóricas, festas populares e uma culinária de aromas e sabores inigualáveis, uma magia de costumes e tradições. A mão negra contribuiu e continua presente em todo o processo de desenvolvimento não só cultural como também no aspecto político e econômico do Estado.
Esta mostra coletiva de artes visuais, promovida pelo MACP tem como objetivo a ambição de valorizar e reconhecer a contribuição dos artistas afrodescendentes para a cultura mato-grossense e brasileira. Além de prestar uma justa homenagem a homens, mulheres e crianças do mundo inteiro que sofreram e continuam vítimas de injustiças e violências raciais por terem a cor Negra, “À FLOR DA PELE”.
A mostra é composta por obras de artistas que foram revelados a partir de meados dos anos 70, período em que o cenário artístico e cultural começou a ser representado também pelas mãos de artistas afro-mato-grossenses, e através de documentos literários, históricos, fotografias, vídeos e um expressivo acervo iconográfico produzido por esses artistas com obras que hoje se encontram aos cuidados do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT e da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso.
A mão negra nas artes plásticas matogrossenses em formato coletivo e de movimento artístico/cultural é considerada historicamente um fato recente, levando-se em consideração o vazio que a memória nos deixou. Talvez os contadores de histórias tenham tido o cuidado premeditado de preservar somente o que lhes era conveniente, uma estratégia torpe de
garantir apenas a narrativa do colonizador. Desde que aqui chegou, a mão negra certamente vem contribuindo substancialmente para o desenvolvimento do Estado, muito além de somente garimpar, plantar, construir pontes e abrir estradas para brancos passar. De fato, não fosse a bravura e a força física dos africanos, com certeza sequer uma pinguela, tampouco uma trilha os aventureiros aqui chegados, teriam a seu favor.
Participam da mostra os pintores: Alcides Pereira dos Santos (Ruy Barbosa BA 1932 - 2007), Benedito Nunes (Cuiabá 1956 - 2020), Nilson Pimenta (Caravelas BA 1956 - 2017), Osvaldina dos Santos (Cuiabá 1931 - 2010) e o ceramista Clínio de Moura (Várzea Grande MT 1928 - 2008), todos eles falecidos. A exposição conta ainda com a minha participação, do escultor Paulo Pires e do pintor Adão Silva Segundo (Babu78), nós três somos artistas praticamente da mesma geração. A artista plástica Elaine Fogaça, a escritora e pintora Paty Wolff, o multiartista Sol Ferreira e os fotógrafos Rodolfo Luíz e Wânia de Paula também se fazem presentes. Esse grupo representa o dinamismo e a renovação das artes visuais na região, realizadas por Mãos de Homens e Mulheres Negras.
“À FLOR DA PELE” também apresenta obras do pintor, escultor e gravador Rubem Valentim (Salvador 1922 - São Paulo, 1991), artista baiano que viveu e trabalhou por um longo período de sua vida em Brasília e possui um conjunto de obras no acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT.
Atualmente, vem ocorrendo uma presença maior de artistas e curadores Negros e Negras nas mostras e nos circuitos de artes visuais, no âmbito nacional e internacional. Primeiro, na Europa e nos Estados Unidos, para depois chegar à América Hispânica e finalmente atracar no Brasil Negreiro.
Ainda é muito cedo para atribuir qualquer espécie de juízo a esse momento sintomático, a ponto de ser considerado um processo perene de descolonização cultural, somente o tempo deverá revelar a dimensão dessa tendência.
Mesmo que o estado de equidade venha a varar dias e noites até chegar, não estamos dispostos a dar sequer um minuto de trégua, pelo contrário, os artistas, ativistas
líderes e a população negra em geral caminham juntos e de mãos dadas em direção a essa conquista, um processo de desestruturação cultural e, sobretudo, racial, uma caminhada a passos firmes, seguindo os mesmos caminhos e os rastros cujas pegadas ainda estão frescas, deixadas por guerreiros destemidos, a exemplo do Doutor King (Atlanta, Estados Unidos, 1929 -1968), Malcom X (Omaha, Estados Unidos, 1925 - 1965), Zumbi dos Palmares (Serra da Barriga - AL, 1655 - 1695), Tereza de Benguela (Reino de Benguela, África. 1700 - 1770), Chico da Matilde (Canoa Quebrada - CE, 1839 - 1914), Milton Gonçalves (Monte Santo de Minas – MG, 1933 - 2022), Geraldo H. Costa (CuiabáMT, 1939 - 1990), Angela Davis (Alabama, Estados Unidos, 1944), Vó Francisca (Chapada dos Guimarães – MT, 19142022), Mestre Nezinho (Quilombo Mata Cavalo - MT), entre outros quilombolas.
Artistas negros importam? Precisamos respirar e circular para nos situar e existir, eis a questão!
À FLOR DA PELE
Marilane Alves Costa
Observe a face turva
O olhar tentado e atento
Se essas são marcas externas
Imagine as de dentro (Elza Soares/Pitty)
Uma “janela de oportunidades” se abre com a Exposição À Flor da Pele, que reúne artistas negros consagrados em Mato Grosso.
Juntos ou separadamente, através de sua arte e de suas obras, esses artistas parecem ilustrar o poema de Oliveira Silveira, Encontrei Minhas Origens:
Encontrei minhas origens/ em velhos arquivos/ livros/ encontrei/em malditos objetos/ troncos e grilhetas/ encontrei minhas origens/ no leste/ no mar em imundos tumbeiros/ encontrei/ em doces palavras/ cantos/ em furiosos tambores/ ritos/ encontrei minhas origens/ na cor de minha pele/ nos lanhos de minha alma/ em mim/ em minha gente escura/ em meus heróis altivos/ encontrei/ encontrei-as enfim/ me encontrei
Um encontro com as origens, dessa natureza, em tempo, espaço, arte, beleza, classe e raça, pode ser considerado uma dessas coincidências da vida que só acontecem de tempos em tempos, como nos versos de Esmeralda Ribeiro (1994, p.21).
Um dia, quem sabe,/ depois dos 300, 400, 1000 anos de Palmares/ gestaremos novos Zumbis, Acotineres/ para redesenhar/ a nação/ e talvez do rubro solo/ verdes frutos surgirão.
E, eles surgiram, construíram-se, encontraramse e espalharam arte e cultura pelos quatro cantos da terra. Alguns deles, mais apressados, subiram ao andar de cima, “tudo coloiado”, para
fazer “futxicaiada” com São Benedito, o santo que tanto retrataram, esculpiram e devotaram. Os outros continuam entre nós, nos inspirando, produzindo e contribuindo para a continuidade do Brasil e de Mato Grosso, quiçá em novos marcos pautados pelo respeito étnico-racial e social.
Entender a cultura de uma sociedade tão complexa como a brasileira implica conhecer o que lhe é reconhecido como próprio, seu português/ brasileiro, suas tradições populares, manifestações religiosas originais, sua estética nos objetos, música, expressão corporal, no cinema e artes visuais, seu patrimônio arquitetônico, paisagístico, sua história, assim como todo o processo incessante de trocas, passadas e contemporâneas, que, afinal, marcam tão profundamente a própria formação e continuidade do Brasil (ALFAYA, 2013)
Conhecer e entender a diversidade cultural brasileira, mas sobretudo a cuiabana e mato-grossense é uma necessidade. Entender nossos artistas é entender a nossa gente e vice-versa.
Com a sensibilidade “À flor da pele”, apresentamos:
benedito nunes
Benedito Nunes foi pintor e desenhista, nascido em Cuiabá, com uma curta passagem por Várzea Grande. Recebeu nome de santo (santo negro!), nome que lembra festa, tchá co’bolo, fé, religiosidade.
Sua arte de cores vívidas, onde o verde predomina, lhe rendeu o codinome de “Van Gogh do Cerrado”, justamente por retratar a paisagem do centro-oeste brasileiro, seus costumes, sua gente, seus ofícios, seu cotidiano. Tanto que a composição Reza de Bugre, do músico mato-grossense Ronaldo Muniz e também cantada por Maurício Detoni, poderia ter sido feita sob encomenda para musicar algumas de suas obras.
Sou do centro-oeste brasileiro/ onde a lua desce mansa clareando/ estes campos, estas águas, estes rios/ Somos de uma terra boa, manto verde, solo fértil/ rio claro, areia branca/ e esta noite de luar/ e o carro corre ligeiro rumo à velha capital/ e toda essa gente ora na igreja do rosário
A cada traço, a cada rosto, outra cor ganha força e destaque no trabalho de Benedito, a cor do povo negro, presente em Retrato de família, Quitanda, Salão de Beleza,
Salão de Beleza, 1980 Óleo sobre tela, 69x84 cm Acervo MACP
Conversa, Travessia, Figura Humana, Pantanal, Brasileiro, A Cor do Mato, Menino e Pássaros, Açougue, entre outros. Mas, não é só isso! Em seus trabalhos é possível visualizar o lugar destinado a essa parcela da sociedade em nosso estado.
Clovis Moura (1988), sociólogo e historiador brasileiro, discorre sobre esse “lugar” e as estratégias e mecanismos, historicamente, utilizados por camadas brancas para que negros e negras se mantenham invisibilizados,
Bloqueios estratégicos que começam no próprio grupo família, passam pela educação primária, a escola de grau médio até a universidade; passam pela restrição no mercado de trabalho, na seleção de empregos, no nível de salários em cada profissão, na discriminação velada (ou manifesta) em certos espaços profissionais; passam também nos contatos entre sexos opostos, nas barreiras aos casamentos interétnicos e também pelas restrições múltiplas durante todos os dias, meses e anos que representam a vida de um negro (MOURA, 1988, p. 8).
Benedito Nunes dedicou a sua vida, “todos os dias, meses e anos” para nos tirar da invisibilidade. Sua vida, obras e compromissos sociais o imortalizaram.
Óleo
ao Frei Quirino,
Janela Aberta, 2006 Acrílica sobre tela, díptico, 80x200 cm Acervo MACP
Açougue, 1979
Óleo sobre tela, 73x68 cm Acervo MACP
Atentado
1981
sobre tela, 98,5x80,5 cm Acervo MACP
Cenas idílicas do cotidiano, 1985 Óleo sobre tela, díptico, 129x109 cm
Acervo MACP
Cenas idílicas, 1986 Óleo sobre tela, 137x177 cm
Acervo MACP
Cenas idílicas do cotidiano, 1985
Óleo sobre tela, díptico, 129x109 cm
Acervo MACP
Roupas no Varal, 1989
Óleo sobre tela, díptico esquerdo, 92x80,5 cm
Acervo MACP
Bandeira do Brasil, 1989 Óleo sobre tela, díptico direito, 92x95 cm Acervo MACP
Sem título, 1984
Óleo sobre tela, 138x11 cm
Acervo MACP
Rodoviária, 1984
Óleo sobre tela, 120x100 cm
Acervo Secel
nilson pimenta
Nilson Pimenta é autor de obras como Acampamento, Sítio, Família com cana, Caravelas/BA, Dona dos Peixes, Festa, Festa da Bicharada, Casamento Coletivo.
Natural de Caravelas, Bahia, cidade banhada por um rio de mesmo nome, ele é considerado aquilo que os cuiabanos chamam de pau-rodado, quando a pessoa de fora chega em Cuiabá para se fixar. Talvez, em tempos passados, ele tenha ouvido o barulho d’O Rio, assim como Marisa Monte:
Ouve o barulho do rio, meu filho/ Deixa esse som te embalar/ As folhas que caem no rio, meu filho/ Terminam nas águas do mar
Ele chegou ao mar do Espírito Santo, mas foi às margens do Rio Cuiabá que faleceu em 2017, aos 60 anos de idade. Nilson era negro, trabalhou no campo e no garimpo até se tornar servidor da Universidade Federal de Mato Grosso, onde exerceu a função de vigilante.
Sua história de vida é de uma superação incrível, uma vez que os negros seguem ocupando posições mais vulneráveis no mercado de trabalho, com jornadas
Ver e pensar desmatamento, 1984 Óleo sobre tela, 100x120 cm
Acervo MACP
A arte de fazer automóveis, 1994
Óleo sobre tela
Acervo Secel
Quarto de dormir, 1997
Óleo sobre tela, 120x100 cm
Acervo Secel
superiores à de brancos, menores salários e com menos acesso aos serviços públicos e equipamentos (BORGES, 2002).
Esse entendimento também é corroborado por MORAES (2009), ao discorrer sobre as peculiaridades da formação do Estado brasileiro, durante o seminário “Desvendar o Brasil, suas singularidades, contradições e potencialidades”. Ele problematiza que a abolição da escravatura, em 1888, não significou trabalho livre para todos e que isso explica as peculiaridades econômicas e sociais do desenvolvimento brasileiro às quais estamos submetidos até os dias atuais.
Habitualmente, se designam aqueles que eram escravos como homens livres. Da escravidão ao trabalho livre. Mas esta expressão é extremamente enganosa. Havia uma massa de escravos libertados, outros que já estavam livres naquela ocasião, e o pequeno povo empobrecido das redondezas das fazendas, das pequenas cidades do país, que simplesmente sobreviviam sem que tivessem se tornado operários, sem terem se tornado encarnações
do trabalho assalariado. E isso atravessou a história social do Brasil. Refiro-me a essa massa, na beira da miséria, na maioria das vezes na terra, que não é de trabalhadores assalariados (MORAES, 2009, p. 135)
Do campo à cidade, da universidade ao mundo das artes, as obras de Nilson provavelmente expressam o olhar de um homem simples que viu e sentiu na pele o peso das desigualdades raciais e sociais no nosso país.
Óleo
Violência com a criança, 1983
Óleo sobre tela, 66,5x86 cm
Acervo MACP
Barbeira, 1984
Óleo sobre tela, 78,5x118 cm
Acervo MACP
Peixeira, 1985
sobre tela, 79,5x118,5 cm
Acervo MACP
CURADORIA:
Boy, 1984
Óleo sobre tela, 62x51,5 cm
Acervo MACP
Caminho sem saída, 1983
Óleo sobre tela, 49,5x70 cm
Acervo MACP
Enterrado vivo, 1984
Óleo sobre tela, 66x86 cm
Acervo MACP
Devorando prego, 1983 Óleo sobre tela, 70x49 cm Acervo MACP
Igreja, 1982
Óleo sobre tela, 50x40 cm
Acervo Secel
Noivos passeando no campo, 2000
Acrílica sobre tela, 60x40 cm
Acervo Secel
Treinamento indígena, 1980
Óleo sobre tela, 75x95 cm
Acervo Secel
Fumeleiros, 1980
Óleo sobre tela, 66x47 cm
Acervo Secel
Onça pantaneira, 2010
Acrílica sobre tela, 76x107 cm
Acervo Secel
ALCIDES Dos santos
Alcides dos Santos era baiano, da cidade de Rui Barbosa. Chegou a Mato Grosso bem jovem, onde foi trabalhador rural, pedreiro, sapateiro e barbeiro. Faleceu em 2007, após uma carreira reconhecida internacionalmente no mundo das artes.
Aos 19 anos, a religião passou a exercer forte influência em sua vida. Ele era evangélico e utilizou o “dom” concedido por Deus para pintar a natureza, a relação com a terra e com a cidade. Essa aproximação entre a fé e a arte é compreensível, considerando que Chauí (2005) destaca que a religião é uma das atividades culturais mais antigas.
Porque descobrimos que somos humanos quando temos a experiência de que somos conscientes das coisas, dos outros e de nós mesmos. Se a consciência é a descoberta de nossa humanidade, se a descobrimos porque nos diferenciamos dos outros seres da natureza, graças à linguagem e ao trabalho, podemos atribuir ao fato de sermos dotados de consciência a condição e a causa primordial do surgimento da religiosidade (CHAUÍ, 2005, p. 252)
Terceiro e Quarto dias da Criação, 1979
Esmalte sobre tela, 95x151 cm
Acervo MACP
Suas obras Planalto, Máquina de Papel, Disse Deus: Haja Peixe, As Paisagens e a Natureza, Mulheres, entre outras, já foram expostas em inúmeras galerias, salões de arte, exposições individuais ou coletivas.
Homem simples, considerado um autodidata, mas com capacidade de incorporar novas técnicas ao seu trabalho, Alcides, como ele assinava, inspirou gerações.
Sem título, 1983
Óleo sobre tela, 41x62 cm
Acervo MACP
Adão e Eva, 1978
Esmalte sobre tela, 69x122 cm
Acervo MACP
Vida no campo, 1978 Óleo e esmalte sobre tela, 104x139 cm
Acervo MACP
CURADORIA:
Petróleo no Brasil, 1978 Óleo sobre tela, 107x61 cm
Vida no campo, 1979 Óleo sobre tela, 104x89 cm
Clínio Moura
São Pedro
Escultura, 22x9x6 cm
Acervo galeria Arto
“Seo” Clínio Moura é uma dessas figuras que nos faz desejar termos tido a honra de tê-lo conhecido. Nascido em Várzea Grande, Mato Grosso, às margens do Rio Cuiabá, rio este que teria um papel preponderante em sua vida, atravessou o século XX e a primeira década do século XXI não só observando os acontecimentos e transformações socioculturais e econômicas do nosso país, mas como um ativo personagem, um homem que se despiu de pudores e inovou a cultura ribeirinha, tornando-se precursor da tradição do artesanato cuiabano na comunidade de São Gonçalo Beira Rio, onde faleceu em 2008.
Muito devoto, sua história guarda alguma semelhança com o santo que deu nome à sua comunidade, Frei Gonçalo de Amarante, português, que fez muitas peregrinações e depois seguiu para a cidade de Amarante em missão religiosa. Por isso e por sua atuação na comunidade, Frei Gonçalo ficou conhecido como o segundo fundador dessa cidade.
Seo Clínio também peregrinou por aí. Como Nilson e Alcides, ele teve seu tempo de atuação na roça. Trabalhou como marinheiro, transportando mantimentos, perfazendo
a rota Cuiabá - Corumbá - Cuiabá, antes que Mato Grosso se fizesse dois. Até que a saudade começou a apertar, como cantava Tonico e Tinoco
Se eu pudesse avoar, eu ia voando agora, para matar a saudade que eu sinto a toda hora da minha gente querida, hospitaleira e colosso, que mora no grande Estado, o querido Mato Grosso.
Engraçou-se com dona Biuína, com quem se casou e teve oito filhos. Importante destacar o papel que ela teve em sua vida. Como ressalta Valadares (2007), sobre a invisibilidade das mulheres na sociedade, é preciso “tornar o invisível, visível”. Ela aponta que se todas as mulheres pararem “A invisibilidade da mulher apareceria, então, em todos os espaços, no cotidiano, em todas as esferas da produção, em todos os campos do conhecimento científico, nas formas artísticas e culturais’’ (VALADARES, 2007, p. 64)
Dar visibilidade a dona Biuína é potencializar ainda mais a grandeza de Seo Clínio, cururueiro e tocador de viola de cocho, que se tornou aprendiz da mulher e da mãe dela. Ambas produziam utensílios como potes, panelas e
Santo Antônio
Escultura, 20x7x7 cm
Acervo galeria Arto
Santo Expedito
Escultura, 25x10x6 cm
Acervo galeria Arto
Clínio
CURADORIA:
moringas. Esse ofício, atribuído à condição feminina, foi passado de geração em geração, tendo uma relação estreita com a resistência africana, que data desde Palmares. Moura (1988), ao estudar a evolução da economia palmarina, ressalta que:
Além desse setor recoletor, desenvolve-se o artesanal, no qual eram produzidos cestos, pilões, tecidos, potes de argila e vasilhas de um modo geral. Esse setor artesanal era o que produzia grande parte do material bélico usado: facas, flechas e outros instrumentos venatórios e de guerra. Havia ainda a produção de instrumentos musicais, cachimbos de barro (para fumarem maconha), além de objetos de uso cotidiano (MOURA, 1988, p. 169)
Ao aprender o ofício, Seo Clínio rompeu barreiras, promoveu a inovação e “brincou” com a argila, produzindo peças que retratam o universo ribeirinho, suas crenças e religiosidade. Além de exercitar a sua criatividade, ele ainda vendia as peças no bairro Porto ou nas comunidades do entorno do São Gonçalo Beira Rio, comunidade que se projetou a partir de sua atuação.
RUBEM VALEnTIM
Brasília, 1974
Serigrafia sobre papel, 51x33 cm
Nossa Senhora Aparecida
Escultura, 28x9x8 cm
Acervo galeria Arto
Senhora de Santana
Escultura, 20x13x10 cm
Acervo galeria Arto
Rubem Valentim foi pintor, escultor, gravador e professor que nasceu ao mesmo tempo da realização da Semana de Arte Moderna e que neste ano completa 100 anos. Tanto a Semana de Arte quanto Rubem cumpriram papel transformador.
Baiano, natural de Salvador, suas obras refletem o interesse do artista pelas tradições populares do Nordeste, dos ritos e das festas, das coisas do povo. Segundo depoimento dado por ele,
Meu pensamento sempre foi resultado de uma consciência da terra, de povo. Eu venho pregando há muitos anos contra o colonialismo cultural, contra a aceitação passiva, sem nenhuma análise crítica, das fórmulas que nos vêm do exterior - em revistas, bienais, etc. É a favor de um caminho voltado para as profundezas do ser brasileiro, suas raízes, seu sentir. A arte não é apanágio de nenhum povo, é um produto biológico vital.
Tal nível de consciência advém da sua incursão pelo movimento de renovação das artes plásticas na Bahia, pela formação em jornalismo, da escrita de artigos sobre arte e
Acervo MACP
também do exercício da docência, quando passa a lecionar na condição de professor assistente de Carlos Cavalcanti no curso de História da Arte no Instituto de Belas Artes.
Ele viajou e residiu no exterior, onde participou de festivais de artes negras. Ao retornar ao Brasil, ele produz escultura na Praça da Sé, em São Paulo, e é convidado para “executar cinco medalhões de ouro, prata e bronze, para os quais recria símbolos afro-brasileiros para a Casa da Moeda do Brasil”.
O artista se aproxima do universo religioso e sua arte passa a expressar sua relação com o candomblé ou à umbanda, com suas ferramentas de culto, estruturas dos altares e símbolos dos deuses. Rubem faleceu em 1991.
Brasília, 1974
Serigrafia sobre papel, 51x33 cm
Acervo MACP
Brasília, 1974
Serigrafia sobre papel, 51x33 cm
Acervo
Brasília, 1974
Serigrafia sobre papel, 51x33 cm
Acervo MACP
Brasília, 1974
Acervo
Serigrafia sobre papel, 51x33 cm
MACP
MACP
Brasília, 1974
Serigrafia sobre papel, 51x33 cm
Acervo MACP
Sem nome, 2001 Óleo sobre tela, 60x70 cm
Osvaldina dos Santos é uma mulher cuja trajetória destoa da grande maioria de seu tempo. Negra, professora primária, divorciada e vivendo maritalmente com um “estrangeiro”, inseriu-se no mundo das artes, o que lhe proporcionou uma vivência, tal qual a poetizada por Oubi Inaê Kibuko.
Uma preta pulsa em mim/ sem medo, solta no meu apego./ Contemplando essa preta/ bela pétala jasmim/ faceira, companheira, guerreira.../ Te quero preta/ do polegar ao mindim.../ encantada, suada, iluminada!/ Acalanto minha preta/ caramelo, pão doce, pudim.../ Enxugo seu cansaço, dividimos tarefas,/ motivo seus passos, construímos novos laços./ Te adoro, sim preta/ sonho, lágrima, alento,/ chama, vida, gozo, movimento.../ Vivo essa preta/ perene como ouro e marfim/ sendo parte plena de mim!
Segundo a jornalista Neila Barreto (2021), Osvaldina era uma mulher simples que descobriu as artes na vida adulta, ao se aposentar do magistério, o que lhe impôs maior rigor “para adestrar as mãos para a pintura”. Mas o esforço valeu a pena e em meados dos anos de 1980 ela começou a receber prêmios e a vencer exposições de artes.
Osvaldina ingressou aos 70 anos de idade no curso de Educação Artística da UFMT. Sua vida educacional e profissional é um belo exemplo para o texto de Almeida (2006), ao discorrer sobre a presença de mulheres na educação, a feminilização do magistério ao longo do século XX, o debate sobre a vocação, missão e destino. Segundo ela, atualmente, é cada vez maior o contingente feminino entre estudantes nas universidades. E isso se explica pelo significado histórico da educação:
Para as mulheres, educar-se e instruir-se mais do que nunca significou uma forma de quebrar os grilhões domésticos e conquistar o espaço público. Foi também
Acervo Casa das Molduras
Locomotiva puxada a burro, 1984 Óleo sobre tela, 100x71 cm
O Fiat no mundo da arte, 1989 Óleo sobre tela, 36x56 cm Acervo Casa das Molduras
O Fiat no mundo dos Casarões, 1989 Óleo sobre tela, 36x56 cm
Acervo Casa das Molduras
a possibilidade de se adequarem às normas sociais e ao mundo novo que se descortinava e principiava a selecionar os mais preparados intelectualmente. Possuidoras de saberes domésticos e dos saberes privados sobre o mundo dos homens, desejavam o saber público, mesmo derivado do saber masculino e referendado com seu selo oficial. Esse saber público era, de certa maneira, a via de acesso ao poder. E tanto o saber como o poder são passíveis de confronto com os sistemas de desigualdades e opressão (ALMEIDA, 2006, p. 103)
Retratada como uma pessoa alegre, muito forte, com profundo amor por Cuiabá, seus trabalhos, ao longo de quase 40 anos, expressaram nossas águas, rios, cachoeiras, os casarões cuiabanos, nossas festas, a fé e a tradição. Faleceu em 2010 deixando um rico e belo exemplo de vida e de coragem.
E a vida é feita de encontros e despedidas. Se por um lado nos despedimos de artistas tão valorosos, por outro celebramos a chegada e a permanência de novos artistas, novas cores, técnicas, criatividades, novas formas de ressignificar a vida e a arte. Como canta Milton Nascimento,
São só dois lados/ Da mesma viagem/ O trem que chega/ É o mesmo trem/ Da partida/ A hora do encontro/ É também, despedida/ A plataforma dessa estação/ É a vida desse meu lugar/ É a vida desse meu lugar/ É a vida
E a vida desse lugar tem muita novidade boa!
Os turistas, 2000 Óleo sobre tela, 60x40 cm Acervo Secel
O aposentado II
Acrílico, 75x86 cm
Acervo Casa das Molduras
São Benedito, 2001
Óleo sobre tela, 54x84 cm
Acervo Casa das Molduras Chapada, 1994
Óleo sobre tela, 88x98 cm
Acervo Secel
Sem título
Óleo sobre tela, 47x55 cm
Acervo Casa das Molduras
cm Acervo MACP
Gervane de Paula. Cuiabano, radicado no centenário Araés, bairro que é o berço de “famílias tradicionais, artistas, personalidades da sociedade mato-grossense e negros descendentes de escravos, que por décadas trabalharam nos garimpos” (KROLOW, et al., 2019, p. 03).
Não é por acaso que arte e artista se fundem e se confundem numa explosão de força, cores, beleza e realismo, onde o cotidiano de tempos presentes ou passados nos tocam de forma tal que suspirar é “feito espuma colorida que chego a pensar que a vida é um sonho em movimento” (SODRÉ, 2005, p. 17).
E é neste movimento, dos quintais cuiabanos, dos bichos, das danças de rodas, das cirandas, dos vestidos rodados, das bandeirolas e violas, rezas e santos que vai se percebendo a complexidade e os compromissos sociais constitutivos da existência de Gervane.
Talvez por ter-se feito na luta, enfrentando tanta hostilidade, e superando inúmeros obstáculos para a concretização do seu sonho de tornar-se um artista e cidadão pleno, contestando o papel subalterno comumente destinado aos negros, Gervane de Paula
traz dentro de si tamanha humanidade, identificação e compromisso com os oprimidos. Essa é a arena frequente das suas obras. Tem sempre uma causa a defender. E o faz sem panfletagem, nem pieguice. (BELÉM, 2011)
Desde sua juventude assumiu “a cultura como uma necessidade humana básica”, algo que Juca Ferreira (2013), ex-ministro de Estado de Cultura pontua com propriedade ao discorrer sobre o direito à cultura, a cultura como fator de cidadania, o papel do Estado que não realiza cultura, mas que deve promover e criar condições para a sua realização e, não menos importante, a relação da cultura como setor econômico.
Talvez por isso, em um breve olhar para a biografia de Gervane, apresentada em seu blog, é possível perceber a sua alta capacidade de articulação com as comunidades, setores culturais, artistas locais ou de além-mar, e setores de Estado. Tanto que, uma das funções assumidas em sua trajetória foi a de difusor de arte da Secretaria de Estado da Cultura, entre os anos de 1995 a 2000.
Negro, oriundo das camadas populares, pode-se dizer que sua trajetória em ascensão se equipara a outras, evidenciadas no estudo de Costa (2012), ao destacar que em Mato Grosso, especificamente em Cuiabá, existe uma parcela significativa de negros e negras ascendidos.
Como fatores responsáveis pela ascensão de negros no Brasil podemos citar a escolarização, os casamentos inter-raciais e trabalhos diferenciados. Em Mato Grosso, merece destaque o papel da cultura, já evidenciado por Bandeira (1988), Madureira (2000), Volpato (1993) e outros historiadores em estudos e trabalhos de pesquisas realizadas.
As obras de Gervane são incontáveis, mas algumas delas expressam com mais profundidade as contradições sociais presentes no mundo e no seu entorno. Suas temáticas denunciam, entre outras coisas, a violência urbana.
Sua produção está situada entre a pintura, desenho, objeto e instalação, utilizando diversos suportes e materiais. Dentre suas obras podemos destacar O Garimpo, Coureiros, Atenção, Infância, Satã mirim está com fome. Considerando o conjunto de sua existência e obras, podemos afirmar que se trata de um dos artistas mais completos de todos os tempos.
Paulo Pires é um artista premiado que concorre com outros artistas em belas galerias de artes Brasil afora e até no exterior. Ele começou esculpindo em madeira, mas foi seduzido pelas pedras, sobretudo o arenito, extraído dos rios locais. Esses são elementos da natureza que simbolizam força, dureza, firmeza.
Segundo o pesquisador Luís Tomás Domingos (2018), da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira/ UNILAB:
A cultura africana pode nos ajudar a conceber e viver as relações do homem com a natureza para que não sejam puramente relações técnicas, mas estéticas; não relações do homem conquistador da natureza; mas, sim, relações de respeito recíproco, de participação e de complementaridade. E esta forma de relação íntima tem como finalidade realizar e manter um equilíbrio harmonioso entre homem e o universo.”
O próprio Paulo parece comungar dessa opinião ao externar à Juliana Arini que seu trabalho
É um jogo de formas, nem tudo é o que parece ser. Gosto de brincar com a imaginação da pessoa e de desafiar o olhar. Depois a pessoa acaba percebendo que a forma não era aquilo que ela imaginou (2019)
Segundo ele, parece que suas obras falam com ele. E isso vem de longe, da infância, quando foi incentivado por uma professora que lhe deu telas e tintas e a quem ele atribui parte de seu sucesso. A escrita também é uma de suas paixões, a qual ele se dedica com elevado espírito poético.
Suas obras já fazem parte da paisagem de cá e acolá. Nascido em Poxoréu, Mato Grosso, ele mantém relações estreitas com o estado de Rondônia, onde residiu até o início dos anos de 1990, quando retornou ao estado e radicou-se em Rondonópolis.
Sem título Escultura de granito, 33x24x23 cm
Namoro de pedra, 2002 Escultura de granito, 34x28x35 cm
Sem título Escultura de granito, 40x26x22 cm
Paty Wolff é natural de Cacoal, Rondônia, mas cuiabana por adoção. Geógrafa, com mestrado em geografia e pesquisando temas como campesinato, povos indígenas e tradicionais de Mato Grosso, periferias de Cuiabá, além da “decolonização da representação e do olhar sobre corpos negres em diáspora africana”. Paty parece incorporar à perfeição as palavras de Milton Santos, expoente da área para quem “O geógrafo é, antes de tudo, um filósofo, e os filósofos são otimistas, porque diante deles está a infinidade.”
E esta infinidade se manifesta na vida de Paty de tal forma que ela se apresenta como multiartista, tendo criações que vão desde a escrita, desenhos, ilustrações, pinturas, esculturas, cerâmicas até murais.
Como Pássaros no céu de Aruanda, Fulô de mangaba, Menina fulô, Colorê, Imemórias inte-r-rompidas, Rainha Tereza, Mulheres que correm com os lobos-guará, são algumas de suas obras que expressam o universo negro, com destaque para o feminino. Dalcastagnè (2007), ao discorrer sobre as imagens da mulher na narrativa brasileira, sua complexidade, pluralidade, afirma que variáveis de
raça, classe ou orientação sexual contribuem para que as mesmas se percebem no mundo de forma diferente. E são essas diferenças que Paty parece capturar tão bem!
Com trabalhos premiados, Paty ainda encontra tempo para assumir funções consideradas de gestão, como coordenadora no Centro Cultural Casa das Pretas. Situada na tradicional Praça da Mandioca, em Cuiabá, a casa tem o objetivo de empoderar jovens e mulheres negras e contribuir com a luta antirracista.
As bandeiras e denúncias dos movimentos antirracistas no Brasil têm sido determinantes para provocar o Estado Brasileiro a investir na elaboração de leis e na criação de órgãos e serviços destinados à garantia dos direitos das pessoas afetadas pelo racismo e pela discriminação. E essa mobilização não tem acontecido de maneira isolada em nosso país. (DONATO, 2016, p. 45).
E ainda, na condição de editora na Revista Digital Ruído Manifesto e membro do Coletivo Literário Maria Taquara –Mulherio das Letras - MT, Paty amplia seu raio de influência e de denúncias ao racismo e discriminação.
Paty
Utopia em construção, 2022 Técnica híbrida
Babu 78 (Adão Silva Segundo). O sobrenome “Segundo” é pomposo e até poderia nos remeter a aristocracia, mas pelas bandas do bairro “CPA”, em Cuiabá, ele é parte do nome civil do grafiteiro e muralista que, ainda jovem, assumiu a identidade de Babu e depois Babu 78.
Essa prática de crianças assumirem a identidade de outro acontece quando na infância se identificam com algum personagem que figura entre os heróis e heroínas de sua predileção. No caso de Babu, a história foi um pouquinho diferente. Quando a família mudou de endereço, foram morar numa casa em que o morador anterior era um garoto negro, de nome Babu, que andava de skate e que guardava semelhanças físicas com Adão. A confusão estava estabelecida. Foi daí que surgiu o seu codinome.
Os indivíduos e os grupos sociais carregam consigo elementos das culturas, das tradições, das linguagens e das histórias de sua origem, mas sua composição cultural resulta do encontro de vários elementos culturais que se conectam de diferentes formas em espaços e tempos variados.
E foi essa conexão sentida por Adão que fez com que ele se assumisse definitivamente como Babu, tendo vivido a adolescência em meio aos conflitos próprios da idade, acrescidos dos sentimentos das desigualdades pela condição juvenil, racial e econômica.
O universo do skate, do hip-hop, dos rolês nos ônibus que cortam o seu bairro e a cidade serviam como canalizadores para a sua energia criativa. E foi nesses momentos, provavelmente, que ele começou a pensar como na música que embala sonhos, “Se essa rua, se essa rua fosse minha,/ Eu mandava, eu mandava ladrilhar”.
E ele ocupou as ruas, painéis, os muros, alterou paisagens e galerias. Mas, foi um longo percurso. Sua ligação com as ruas é pura sensibilidade, “é filosofia pura”, como ressalta em entrevistas aos sites locais, ele conta que sua família sempre teve como princípios a relação entre trabalho e educação e que era impensável que ele não se comprometesse com uma dessas categorias: ou estudava ou trabalhava.
Sobre isso, GADOTTI (2010, p. 280) escreve:
A escola não resolveu a questão da transmissão do conhecimento para as camadas populares, isto é, não consegue fazer a síntese entre a cultura elaborada e a cultura popular, a cultura primeira do aluno.
Amar é Revolucionário, 2022
Acrílica sobre madeira, 310x300 cm
Sem título, 2017
Grafite, 149x107 cm Acervo Secel
E foi assim que ele acabou abandonando a escola e trabalhando em funções pouco remuneradas como recapeador na Prefeitura de Cuiabá, foi vendedor de churrasco grego e office boy. Durante todo esse tempo, jamais abandonou a pintura, que era, inicialmente, mais intuitiva. As técnicas e o entendimento das cores vieram com o tempo.
Influenciado pela religiosidade afro-brasileira familiar, sua arte traz componentes da natureza, da fé e da luz, que ele atribui à mãe baiana.
Babu 78 já pintou em quase todos os estados do Brasil, foi premiado e teve sua trajetória e arte retratadas em um documentário recente.
SOL Ferreira
PEQUIPLASTIA, 2022
Guache acrílica e caneta permanente em carretel de madeira, 24x33 cm
Sol Ferreira é um jovem artista negro que nasceu para brilhar. Mal chegou aos vinte anos e já conquistou prêmios nas categorias das artes visuais, melhor curta-metragem e poesia, onde aborda gênero e sexualidade, necropolítica e regionalismos.
Seu nome é poético e um convite instigante para que se conheça a arte e o artista, como na música de Milton Nascimento, O Sol.
E se quiser saber/ Pra onde eu vou/ Pra onde tenha Sol/ É pra lá que eu vou.../ E se quiser saber/ Pra onde eu vou/ Pra onde tenha Sol/ É pra lá que eu vou...
Cuiabano, morador da cidade vizinha de Várzea Grande, é formado em Teatro pela Unemat com intercâmbio com a SP Escola de Teatro; o que o levou a residir na cidade da garoa durante algum tempo.
Graduando em Letras pela UFMT, sua formação acadêmica nos remete à reflexão sobre os tempos em que negros e negras experienciaram a atuação no Teatro Experimental do Negro, criado em meados dos
anos de 1940, no Rio de Janeiro, e que abriu caminhos emancipatórios.
Para ROMÃO (2005, p. 119):
A educação no Teatro Experimental do Negro não encontra relação simplesmente com a escolarização. A educação do Teatro Negro incorporou ao projeto: a perspectiva emancipatória do negro no seu percurso político e consciente da inserção do mercado de trabalho (na medida em que pretendia formar profissionais no campo artístico do teatro); na dimensão da educação educativa e política e, na dimensão política, uma vez que o sentido de ser negro foi colocado na perspectiva da negação da suposta inferioridade natural dos negros ou da superioridade dos brasileiros.
O próprio Sol é símbolo desse processo emancipatório, tanto no que diz respeito à educação, quanto em sua atuação no mundo das artes e também na luta contra a transfobia e em defesa da comunidade LGBTQIA+, já que ele se identifica como trans masculino não binário, dizendo preferir o gênero neutro na identidade.
E essa é uma polêmica que está na ordem do dia e que Carboni e Maestri (2003) também abordam, ao tratar d’A Linguagem Escravizada: língua, história, poder e luta de classes. Diferente de Sol, mas não em contraposição, para eles,
A palavra nunca é neutra. Sobretudo na descrição do mundo social, ela se constituí uma representação da realidade determinada por uma percepção do mundo que adere, mais ou menos, a ela, fundamentando assim sua função referencial. Como vimos, a referência pelo gênero masculino aos seres dos sexos masculino e feminino foi produto de sociedade patriarcal do passado que reforça no presente a discriminaçãoopressão da mulher (CARBONI E MAESTRI, 2003, p. 109)
Sol se posiciona com muita firmeza, em entrevista para a jornalista Priscila Mendes, ao afirmar que é preciso celebrar as conquistas profissionais e os trabalhos realizados, reafirmando a capacidade laborativa “precisamos de oportunidades de trabalho que sejam mais do que o convite para uma fala numa roda de conversa”. E sendo tão jovem, mas com tanta competência, talento e desprendimento, Sol ainda brilhará em muitos trabalhos e em muitas rodas.
CURADORIA:
Calango Tchúpânu Manga, 2021 Guache acrílica e caneta permanente em ráfia, 70x200 cm
“Vê e Enxerga” é uma exposição e um chamamento muito criativo de Elaine Fogaça, uma jovem artesã e ilustradora, formada em Arquitetura e Urbanismo pela UNEMAT.
Vinda de Nova Olímpia, no interior de Mato Grosso, ela se destacou pela realização de eventos culturais. Logo, ela mirou novos horizontes, mudando-se para Cuiabá em 2020.
Black, Arthur, Luisa, Mergulho, Vôo, Mononoke são alguns de seus trabalhos que demonstram o seu comprometimento com as relações raciais. E isso é um grande feito para alguém tão jovem e que não deve ser menosprezado.
Outro elemento importante ao se pensar a juventude brasileira são as relações raciais. Discutir as juventudes hoje demanda pensar os diferentes marcadores de diferença (raça, classe social, sexualidades, gênero, geração, religião, etc). De acordo com Matisjacic e Silva (2016, p. 269), “para compreender as ‘juventudes’ é preciso compreender seus grupos e matizes. A juventude negra é a maior parcela entre os jovens, o que requer atenção específica (EUGÊNIO et al., 2017, p. 53)
Cheia de atitude, em 2021, Elaine criticou a instalação de grilhões em uma obra de artista local. Segundo ela, o grilhão representa um triste episódio da história da escravidão no Brasil, simbolizando assim a privação de liberdade.
Piranhe, 2022
Técnica Mista, 35x85 cm Acervo Particular
Deize, 2022
Técnica Mista, 35x85 cm
Acervo Particular
Elaine Fogaça
CURADORIA:
Amável Feroz, 2021
Aquarela sobre papelão, 42x59 cm
Acervo Particular
Rodolfo Luiz é outro jovem negro em ascensão no mundo das artes. Mas, mais especificamente em fotografia e audiovisual.
Aliando criatividade, talento e técnicas elaboradas ele retrata um mundo negro e periférico que conta muitas histórias. Se em tempos presentes a fotografia e o audiovisual servem para registrar as mazelas às quais negros e negras estão submetidos, em tempos passados a fotografia, as imagens, serviam para registrar um cenário de muita violência, dor e desumanidade.
Schwarcz (2018), escreve sobre as imagens entre e convenção e a ordem, na verdade, realiza uma leitura crítica da iconografia que cercou a escravidão.
Qualquer iconografia tem, portanto, e vale a pena repetir, data, intenção e autoria. Por isso elas nunca são ingênuas. O mesmo pode ser dito das fotografias. O Brasil conheceu uma situação “paradoxal” no que se refere a essa técnica: as fotografias entraram muito cedo aqui, com as primeiras experiências de Hercule Florence ocorrendo em 1834, ao mesmo tempo que fomos o último país a abolir a escravidão. Com isso, logramos formar um acervo vasto e variado de fotos da escravidão. (SCHWARCZ, 2018, p. 45)
Fotografia, 58x86 cm
Se a iconografia, as fotografias têm um papel histórico imprescindível, as obras de Rodolfo trazem um olhar para a contemporaneidade, para o cotidiano, de profunda sensibilidade e riqueza. Aliás, em seus retratos, o olhar dos indivíduos é algo marcante.
Ele problematiza que apesar dos negros serem fotografados, quem o faz, em geral são brancos, logo “a voz da fotografia continua sendo majoritariamente branca”.
Cuiabano, formado em Comunicação Social (Radialismo) pela UFMT, com especialização em fotografia de moda em Madrid, realiza trabalhos profissionais voltados ao meio publicitário, documental, campanhas políticas e moda.
Observar seus tocantes trabalhos nos traz memórias do Retrato 3X4 de Belchior. Impossível não se perguntar quantos dos seus retratados, negros ou negras, não passaram por situação similar.
Em cada esquina que eu passava, um guarda me parava/ Pedia os meus documentos e depois sorria/ Examinando o três-por-quatro da fotografia/ E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha
Suas primeiras fotos foram registradas com a câmera do pai. Um caso de amor instantâneo e, dali pra frente, seu futuro seria revelado em uma sucessão de cliques.
Rodolfo
CURADORIA:
Fotografia, 58x86 cm
Rodolfo Luiz
CURADORIA:
Fotografia, 58x86 cm
Fotografia, 62x43 cm
Fotografia, 62x43 cm
Fotografia, 62x43 cm
Fotografia, 62x43 cm
Fotografia, 62x43 cm
Discreta em suas redes sociais, Wania de Paula é dona de uma beleza e um charme próprio, que encanta pelo sorriso sempre estampado em suas fotos, repletas de cores, luz e que bem poderiam responder à questão colocada nas linhas iniciais do artigo de Berth (2019), “Estética e Afetividade: Noções de Empoderamento”, onde é problematizado:
Discussões apaixonadas se formam em torno da pergunta: estética é empoderamento? Talvez essas discussões pudessem ser reduzidas se entendêssemos os valores que circulam em torno da estética que é inerente à imagem e em que medida a forma com que padrões criados no cerne de uma sociedade plurirracial e patriarcal podem ser fatalmente excludentes e desestimulantes da autoestima de grupos historicamente oprimidos (BERTH, 2019, p. 70)
Wania parece ter encontrado e trilhado o caminho do empoderamento, feminino, racial e profissional. Pedagoga e fotógrafa, ela desenvolve trabalhos lúdicos e artísticos, empreendendo em assessoria cultural, coordenação e produção de mostras fotográficas, oficinas e campanhas publicitárias. É comum encontrarmos seu nome associado a outros artistas locais.
Seu trabalho traz a marca das pessoas comuns e das comunidades tradicionais, que em suas mãos, olhares e lentes são visibilizadas e dão colorido ao mundo fotográfico.
Zé Pretinho, 2019 Fotografia, 62x45 cm
Prosa Cuiabana, 2010 Fotografia, 84x63 cm
Dona Maria, 2010 Fotografia, 80x63 cm
Wania de Paula
CURADORIA:
Arte?, 2015 Fotografia, 66x63 cm
Fazendo arte, 2015 Fotografia, 58x86 cm
Negritude ON, 2015 Fotografia, 62x45 cm
Negritude ON, 2015 Fotografia, 62x45 cm
Vai encarar?Negritude ON, 2015 Fotografia, 62x45 cm
Arte é para todos, 2015 Fotografia, 38x63 cm
Arte é para todos, 2015 Fotografia, 38x63 cm
ALFAYA, Javier. Pilar estruturante do novo projeto nacional. In Seminário O papel da cultura no novo projeto nacional de desenvolvimento. (Agosto 2009). São Paulo: Fundação Maurício Grabois: Anita Garibaldi, 2013.
ALMEIDA, Jane Soares de. Mulheres na Educação: Missão, vocação e destino? A Feminilização do Magistério ao Longo do Século XX. In O Legado Educacional do Século XX no Brasil. 2ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006 (Coleção Educação Contemporânea).
BELEM, Ivan. Gervane de Paula, lá do Araés, uma mão africana que conquistou o mundo. In Gervane de Paula – O pintor. Cuiabá, MT, 2011.
BORGES, Edson. Racismo, preconceito e intolerância. São Paulo: Atual, 2002.
CARBONI, Florence. MAESTRI, Mário. A linguagem escravizada: língua, história, poder e luta de classes. São Paulo: Expressão Popular. 2003.
CARDOSO, Cláudia Pons. História das mulheres negras e pensamento feminista negro: algumas reflexões. Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder. 2008.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo. Editora Ática. 13ª edição. 2005.
COSTA, Marilane. A pequena burguesia negra cuiabana – Um estudo sobre a formação de sua consciência política. 1ª ed. Cuiabá/MT: Do autor, 2012.
DALCASTAGNÈ, Regina. Imagens da mulher na narrativa brasileira| UnB /CNPq Revista O eixo e a roda: v. 15, 2007.
DONATO, Cássia Reis. Coleção Cadernos de Direitos Humanos: Cadernos Pedagógicos da Escola de Formação em Direitos Humanos de Minas Gerais |EFDH-MG. Direitos Humanos e Cidadania - Proteção, Promoção e Reparação dos Direitos Étnico-Raciais.V.12. Belo Horizonte: Marginália Comunicação, 2016.
KROLOW, Fabiane. Et.alli. Cidade possível, Araés: olhares Para o Bairro Araés – Cuiabá-MT. In RELACult – Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade. V. 05, nº 03, set-dez., 2019, artigo nº 1406.
MORAES, João Quartim de. Peculiaridades da formação do Estado brasileiro. In Seminário: Desvendar o Brasil, suas singularidades, contradições e potencialidades/ organizador Adalberto Monteiro; coordenação editorial: Priscila Lobregatte – São Paulo: Anita Garibaldi: Fundação Maurício Grabois, 2009.
MOURA, C. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1998.
RIBEIRO, Esmeralda. Et.alli. Serão sempre as terras do senhor? Cadernos Negros. São Paulo. Quilomhhoje. Editora Anita, 1994
ROMÃO, Jeruse. Educação, instrução e alfabetização no Teatro Experimental do Negro. In História da Educação do Negro e outras histórias. Organização: Jeruse Romão. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. – Brasília, 2005.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre as imagens: entre a convenção e a ordem. In Dicionário da Escravidão e Liberdade – 50 textos críticos. São Paulo. Companhia das Letras, 2018.
VALADARES, Loreta. As faces do feminismo. Coordenação editorial Carlos Antonio Megaço Valadares. São Paulo. Ed. Anita, 2007.il.
VOLPATO, Luiza R. R. Cativos do Sertão – vida cotidiana e escravidão em Cuiabá em 1850-1888. São Paulo: Ed. Marco Zero, 1993.
*COSTA, Marilane Alves: Mestra em Educação. Professora do IFMT.
Projeto Educativo MACP e MAS
Ana Lia Rodrigues – Educativo MACP - UFMT
Ana Flavia Freire – Educativo MAS-MT
O Projeto Educativo da Exposição: À Flor da Pele – Arte Negra no Museu tem sido marcado pela parceria entre o MAS/MT - Museu de Arte
Sacra de Mato Grosso e o MACP - Museu de Arte e Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso. Os dois museus cooperam com o objetivo comum de proporcionar espaço de experiência artística e diálogo crítico, bem como levantar questionamentos históricos e culturais a partir de obras artísticas.
O programa educativo desta temporada inclui o agendamento de visitas escolares do nível básico, da rede pública ou privada e de estudantes de graduação e pós-graduação. Nesses agendamentos, o MACP conta com a parceria do Cineclube Coxiponés - equipamento cultural do Centro Cultural da Pró Reitoria De Cultura, Extensão e Vivência da UFMT - que apresenta documentários _ Hermenêutica de Gervane (Cristiano Costa, 2022), Se essa rua fosse Nunes (Felippy Damian, 2021)_ sobre a poética de Benedito Nunes e de Gervane de Paula, concomitante à visita da exposição para enriquecer o debate.
Além dessas obras cinematográficas, sob a curadoria de equipe do cineclube Coxiponés, uma seleção de curta-metragem sobre a temática antirracista é apresentada em diálogo com a exposição para público especifico de educadores que, com o ensejo da exposição, desejam trabalhar a temática com seus alunos.
Ainda sobre o tópico da negritude, convidamos pesquisadores, curadores e artistas para o diálogo com público em formatos de Roda de Conversa em meio a projetos, como por exemplo, “Enegrecendo o Museu”, bate-papo proposto pela artista ocupante do Ateliê Livre MACP, Paty Wolff. As Rodas de Conversas são transmitidas e disponibilizadas pela web.
As ações educativas propostas pelo MAS-MT, unidade museológica da SECEL – Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso,
tem como objetivo atividades artísticas que valorizem os talentos de artistas negros que temos em nosso estado. Serão desenvolvidos oficina de estêncil com o artista e grafiteiro Babu 78, vídeos #ACERVO com os artista Paty Wolf, Gervane de Paula, Paulo Pires, Babu 78, e artistas in memoriam que possuem obras no acervo de arte da SECEL, além de oficinas de bonecas de pano negras ministradas por estudantes de turismo do IFMT em consonância com o projeto museu-comunidades-turismo do MAS - MT. O Museu também oferecerá duas transmissões online pelo canal do YouTube, uma Roda de Conversa com Curadores da exposição “ A flor da Pele – Arte Nega no Museu” a crítica de Arte e Profa. Dra. Ludmila Brandão e o Artista Gervane de Paula e uma palestra com o Prof. Dr. Ary Albuquerque, do Dep. de História da UFMT, com a temática “Cultura e Resistência - A perseguição contra artistas negros e suas consequências até os dias atuais”, promovendo a reflexão e debate sobre a dificuldade da inserção destes artistas no sistema artístico nacional. Nesse sentido, a programação do MAS-MT foi construída com temáticas que estão relacionadas com a exposição presente no museu, com classificação livre, para que o processo de ensino e aprendizagem, possa trazer experiências variadas de educação, entretenimento, reflexão e conhecimento.
Por fim, os educativos desta exposição MACP e MAS que ocupam dois importantes núcleos educativos e culturais da cidade, procuraram planejar suas ações e estar aberto para propostas de modo a oferecer oportunidade para o público em geral ter o contato à flor da pele com toda a potencialidade desta exposição. Compreender que arte produzida no estado, que compõe um acervo longevo, tem cores, mas nem sempre elas ganharam o destaque de seus matizes, ou suas matrizes.
Projeto
PROGRAMAÇÃO
MACP- UFMT
Museu de Arte e Cultura
Popular da Universidade Federal de Mato Grosso
Outubro:
MAS- MT Museu de Arte Sacra de Mato Grosso
Agendamentos de grupos escolares, acadêmicos e turísticos durante todo o período da exposição
Setembro
Roda de conversaEsquenta exposição
Com Ludmila Brandão, Gervane de Paula e Paty Wolff
Data: 27 de setembro
Local: Ateliê Livre do MACP
Outubro
Revoada Circuito de Arte e Cultura do IFMT
Data: 10 e 11 de outubro
Local: MACP e Cineclube
Coxiponés (UFMT)
Novembro
Roda de conversa com curadores e o ECCO
(Programa de Pós-graduação em Estudos de cultura
Contemporânea da UFMT)
Data: 07 de novembro
Local: MACP
Roda de conversa com Artistas negros e negras da exposição À flor da pele
Celebração da Consciência
Negra: 20 de novembro na UFMT – “Resistir, existir e ocupar para transformar”.
Coletivo Negro
Universitário UFMT
Data: 18 de novembro
Local: MACP
Enegrecendo o Museu com Paty Wolff
Data: 30 de novembro
Local: Ateliê Livre do MACP
Oficina de bonecas negras
Data: Todos os finais de semana de outubro
Ministrantes: Estagiários do curso de turismo
Local: MAS-MT
Roda de conversa online com Ludmila Brandão e Gervane de Paula
Data: 26 de outubro de 2022
Local: Canal do Youtube do MAS-MT.
Horário: 19h
Stencil Art - Oficina com Babu 78
Data: 29 de outubro de 2022
Local: MAS-MT.
Horário: 10h ao 12h
Vagas: 20
Inscrição: Sympla
Novembro:
#ACERVO vídeo do Babu 78
Lançamento nas mídias
Data: 2 de novembro de 2022
Oficina de bonecas Negras
Data: Todos os finais de semana de novembro
Ministrantes: Estagiários do curso de Turismo
Local: MAS-MT
#ACERVO vídeo
Gervane de Paula
Lançamento nas mídias
Data: 9 de novembro de 2022
Mediação especial sobre a exposição “À flor da pele” e decolonialidade
Data: 12 de novembro de 2022
Horário: 10h às 11h e 14h às 15h
Local: MAS-MT
#ACERVO vídeo Paty Wolf
Lançamento nas mídias
Data: 16 de novembro de 2022
#ACERVO vídeo Paulo Pires
Lançamento nas mídias
Data: 23 de novembro de 2022
Palestra “Cultura e Resistência – A perseguição contra artistas na Ditadura Militar e suas consequências nos dias atuais.”
Palestrante convidado: Prof. Dr. Ary Albuquerque(UFMT)
Horário:19h
Data: 24 de novembro de 2022.
Local: Online no canal do youtube do MAS-MT
Roda de conversa sobre “Cultura e ResistênciaA perseguição contra artistas na Ditadura Militar e suas consequências nos dias atuais.”
Convidada: Profª Drª Ana Carolina da Silva Borges (UFMT)
Horário: 19h
Data: 24 de novembro de 2022.
Local: Online no canal do youtube do MAS-MT
#ACERVO vídeo
Artistas In Memoriam Lançamento nas mídias do MAS-MT
Data: 30 de novembro de 2022
Dezembro:
#ACERVO vídeo
Artistas In Memoriam Lançamento nas mídias do MAS-MT
Data: 7 de dezembro de 2022
#ACERVO vídeo
Artistas In Memoriam Lançamento nas mídias do MAS-MT
Data: 14 de dezembro de 2022
Mediação especial sobre a exposição “À flor da pele”