Thomas Green Morton

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Para provar seus poderes ao mágico James Randi, Thomaz diz que irá quebrar um ovo num prato e, em trinta minutos, transformará a gema e a clara em um pintinho, como diz ter feito nos anos 80

Capa / Thomaz Green Morton Fenômeno de US$ 1 milhão

O maior paranormal do País cobra US$ 20 mil por uma energização, só viaja de helicópteros para atender clientes e aceita desafio com prêmio milionário para provar que seus poderes não são truques

Rodrigo Cardoso Fotos: Edu Lopes Colaborou Fábio Farah

Com os pais, Glicério de Moraes Coutinho, de 85 anos, e Gessy de Souza Coutinho, 76, e abraçado ao filho Rafael, 22 anos, e a mãe dele e exesposa, Lígia, 47

quando os famosos se afastaram: “Gostava de ficar no meio dos artistas e senti falta do oba-oba deles”

Nos anos 50 o balneário mexicano de Acapulco virou uma espécie de playground de Hollywood. Para lá, astros do jet set americano, como Ava Gardner, John Wayne e Frank Sinatra, rumavam para descansar e repor as energias. Algo semelhante aconteceu na mineira Pouso Alegre, na década de 80. Atores da Globo, a Hollywood brasileira, como Dina Sfat, cantores e cantoras, como Gal Gosta e Tom Jobim, e políticos, como Sepúlveda Pertence, fugiam da agitação para se recolher na chácara de 1 hectare – apelidada por ele de Thomaz World – de um carioca de sotaque caipira que atende por Thomaz Green Morton de Souza Coutinho.

Barbudo e cabeludo, Thomaz, que recebeu tal nome em homenagem ao médico inglês considerado o pai da anestesia, virou uma espécie de guru das celebridades entortando garfos e moedas na frente delas, vertendo perfume das mãos, reconstituindo notas rasgadas, produzindo luzes, “energizando e curando” pessoas. Assim se transformou no mais famoso paranormal do País. “Entorto metais para desentortar mentes e provar que tenho poderes e que eles podem fazer bem a alguém”, diz Thomaz. “Mas a época do circo acabou.”

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• Fenômeno de US$ 1 milhão

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É verdade. O homem do “Rá”, cumprimento cósmico usado por Thomaz, deslumbrou-se com a fama e sofreu quando os famosos se afastaram. “Gostava de ficar no meio dos artistas, mas pirei com a fama e senti falta do oba-oba deles”, fala Thomaz. “A Gal (Costa) fazia comida na cozinha da minha casa e, de repente, sumiu. Me decepcionei com amigos da classe artística, com Gal, Baby (do Brasil), Rita Lee, Simone.”

Reportagens 24/06/2002
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Paparicado por artistas, políticos e cantores nos anos 80, Thomaz deslumbrou-se com a fama e sofreu

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Capa / Thomaz Green Morton Fenômeno de US$ 1 milhão - continuação

“Não é pelo dinheiro (que aceitou o desafio). Já ganhei US$ 1 milhão na vida’’ Thomaz Green Morton

A cantora Baby do Brasil foi a seguidora que mais difundiu o “Rá” do paranormal. A sintonia entre ele e Baby era tamanha que Thomaz tinha um galinheiro apelidado Baby e Pepeu (Gomes, que à época era casado com Baby). “Eu pintava os pintinhos sempre que eles trocavam a cor dos cabelos. Tinha pintinho vermelho, azul, rosa”, diz ele. Hoje evangélica, Baby voltou-se contra o antigo mestre, a quem chama de Lúcifer, segundo o próprio Thomaz. “A Baby pirou. Foi aqui que ela aprendeu a ser civilizada”, diz o paranormal. “Era surtada e eu dei uma equilibrada nela. Só que ela queria que eu resolvesse todos seus problemas. Não funciono como um pronto socorro e tive de me afastar.” Procurados, Baby e Pepeu Gomes não quiseram se pronunciar.

No fim dos anos 90, período em que esteve longe dos holofotes, Thomaz reconheceu, num processo de paternidade, ter tido uma filha fora do casamento, fato que culminou com o pedido de separação feito pela ex-mulher. Na mesma época respondeu a um processo por atropelamento em Pouso Alegre. Em 1997, ele processou o cantor Gilberto Gil, que na música “Dança de Shiva” insinua que os poderes de Thomaz sejam fraudes. “Ganhei o processo em 2000 e recebi R$ 40 mil de indenização”, diz Thomaz. Procurada, a assessoria de Gil informou que o cantor está em turnê nacional e não conseguiu localizá-lo.

Ao lado de amigos e familiares, ele faz a mentalização das 18h, que se repete diariamente e com a qual diz passar energia às pessoas

O clima de oba-oba em torno de Thomaz voltou à tona três meses atrás, quando ele aceitou o desafio do mágico americano James Randi, que há quatro anos oferece US$ 1 milhão para quem provar ter poderes paranormais. “Estou preparado há muito tempo para testar Thomaz”, diz Randi. “Vou provar que faz simples truques infantis. No meu país, há crianças que sabem um pouco de mágica e fazem o mesmo que ele para se divertir.”

O “desafio paranormal” virou quadro no Fantástico, da Globo, e vai ao ar todo domingo. Agora em rede nacional, pela maior emissora do País, os feitos de Thomaz, hoje com 55 anos, são novamente difundidos por artistas e incomodam quem acredita que o paranormal não passa de um charlatão. “Thomaz é um ilusionista e nem é muito bom. Ele não entortaria um garfo na minha frente porque eu entendo de mágica”, garante o padre Oscar González Quevedo, que dirige o Centro Latino- Americano de Parapsicologia. “Randi nunca vai perder o desafio porque

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exige que o fenômeno aconteça diante dele. Quem estuda parapsicologia sabe que os fenômenos existem, mas não podem ser controlados.”

Thomaz assinou no domingo 17 o contrato para receber James Randi no Brasil entre os dias 15 de julho e 20 de agosto. E ele promete: “Vou pegar um ovo fecundado, colocar a gema e a clara num prato e, em trinta minutos de energização, vou criar um pintinho”. Thomaz que, segundo conta, passou a ter poderes mentais quando um raio atingiu a varinha com que pescava, vive rodeado de mistério. No dia em que diz ter recebido tal choque, aos 12 anos, seu corpo, ele conta, se dividiu em duas partes, recebeu cargas de luz e energia por 12 horas. Desde então, Thomaz pára o que estiver fazendo todo dia às 18h para, com uma mentalização, passar energia às pessoas.

Ele possui uma mancha vermelha na testa, que chama de terceira visão •

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O Rá entre os famosos Marcos Winter, 35 anos, ator

“A Paloma (Duarte, esposa de Marcos) sofreu uma fratura no pé e precisava de um tratamento.

O problema foi apenas um pretexto para conhecê-lo. Fomos a Pouso Alegre e ficamos no sítio do Thomaz. Durante o tratamento observamos as essências que recendiam no ar, os talheres e moedas que entortavam e as luzes atravessando o quarto. Todos os fenômenos da natureza que ele evocava aconteciam, como as

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Diretor do quadro do Fantástico, o jornalista Luiz Petri, que propôs o desafio a Thomaz, tem dúvidas sobre os poderes do paranormal, mesmo se surpreendendo com algumas demonstrações. “Já o vi transmutar vinagre em perfume e entortar moedas que estavam na minha mão”, diz. Petri acredita que o sentimento de orgulho ferido aflorado com as provocações de Randi e a cobrança de admiradores fizeram o paranormal aceitar o desafio. “Não é pelo dinheiro. Já ganhei US$ 1 milhão na vida”, diz Thomaz.

Dinheiro parece não o preocupar mesmo. Desde os 33 anos, quando deixou de ser dono de farmácia, sustenta-se energizando clientes e cobrando, segundo diz, até US$ 20 mil por uma “terapia do amor”. Pelo valor, Thomaz recebe o cliente na chácara em Pouso Alegre e o energiza durante cinco dias. Às vezes não cobra nada, como fez com a atriz Paloma Duarte. “A Paloma tinha um problema no tendão e quis me dar US$ 5 mil, mas preferi a amizade dela”, diz Thomaz. O ator Marcos Winter, marido de Paloma, não confirma ter oferecido dinheiro ao paranormal.

Garantir a amizade de quem o visita, acredita Thomaz,

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diversas luzes atravessando a paisagem. A Paloma e eu nos emocionamos muito. Thomaz é um fenômeno porque nossa ciência comum, cheia de paradigmas, não explica suas realizações. A Paloma e eu ficamos envolvidos com a atmosfera. Hoje temos uma relação superbacana com Thomaz. Ele é uma grande figura e curtimos bater papo com ele e ficar em sua casa.

Elba Ramalho, 50 anos, cantora Uma vez peguei uma carona com o Thomaz. Estava no carro com uma amiga, o filho dele e uma sobrinha. Estava com medo pois era uma serra, caía uma tempestade e ele havia bebido. Raios caíam em cima do carro. De repente, ele colocou as mãos na nuca e o carro começou a andar sozinho. Thomaz ria enquanto as marchas eram mudadas sem ele mexer no câmbio. O carro andou sozinho meia hora em uma estrada cheia de curvas. Outra vez, passei uma semana na chácara do Thomaz. Ao lado dele, vi seres das naves espaciais. Eram de várias proporções e cores e andavam pelo quarto, no meu corpo, na minha testa, na minha mão, no meu peito. Também fizemos meditação em uma estrada deserta. Relampejava e ele trazia a luz dos raios até nós e a mancha na testa dele crescia.

compensa mais do que cobrar pela energização. Isso porque ele não se incomoda de recorrer a um cliente quando necessita de dinheiro. Há dois meses pediu US$ 10 mil a um amigo dono de uma distribuidora de medicamentos para concluir a construção de uma academia de ginástica na chácara. “Ele não precisa devolver o dinheiro”, diz Carlos Roberto Silva, 57 anos, dono da empresa, sem confirmar o valor. “Tem de haver uma reciprocidade. Quando estou com uma estafa, ele me energiza, transmuta açúcar em tranqüilizantes e fico bem.”

Sempre tem gente disposta a estender a mão para Thomaz. Quando tem de deixar Pouso Alegre para fazer um atendimento domiciliar, recorre a um proprietário de uma empresa de táxi aéreo que envia a ele um helicóptero – a chácara de Thomaz possui um heliporto. “Estou à disposição sempre que precisam de mim, então acho justo que estejam à minha disposição”, diz ele. Recentemente, Thomaz chegou da França, onde foi visitar o filho que estuda em Paris. Agora, prepara-se para viajar ao Japão, onde assistirá a jogos da Copa do Mundo. Nos dois casos, ganhou as passagens de amigos. “A fama me sustenta”, diz.

Conhecer a intimidade de Thomaz não é tarefa fácil. Geralmente, ele só atende os interessados sob a indicação de um amigo. Ao receber Gente, Thomaz estava de sunga em cima do telhado, lavando telha por telha com uma máquina de vapor de água. Somente três horas mais tarde, depois de tomar banho, surge de camiseta, colete, calça camuflada e cigarro de palha. Só então percebe-se a mancha vermelha que possui na testa, que chama de terceira visão. “Em 1979, tive um contato extradimensional e um raio de luz brilhou no centro da minha fronte. Desde então, passei a minar perfume das mãos”, conta.

Todo o muro que cerca a chácara “Thomaz World” é pichado com desenhos cósmicos, as iniciais do nome dele (T. G. M.) e vários Rás. A propriedade toda é protegida por uma cerca eletrificada. Chamado de louco pelos próprios empregados, Thomaz passa o dia fazendo “sacanagem cósmica”, como diz. É comum vê-lo levar o visitante até a borda da piscina para ver um suposto estrago feito por um cometa e empurrar o convidado para a água.

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Separado há cinco anos de Lígia Iemini Goz, com quem viveu por 16 anos e tem um filho, Rafael Thomaz Goz Coutinho, o paranormal tem mais duas filhas, uma do primeiro casamento e outra de um relacionamento extraconjugal. Lígia, 47 anos, foi a mulher de sua vida e o filho Rafael, 22, é sua paixão. “Quando o conheci, fomos a um restaurante e ele transformou um guardanapo em dinheiro e pagou a conta”, diz Lígia. Rafael, que mora em Paris, também acumula histórias. “Meus pais dizem que aos seis meses eu entortava colheres de papinha”, conta. “Certa vez, amigos de meus pais chegaram em casa e me perguntaram onde ele e minha mãe estavam. Respondi naturalmente: ‘Meu pai se desmaterializou e minha mãe está na cozinha’.” Se Thomaz cumprir o desafio proposto, talvez esses e outros fatos sejam explicados. Se isso não ocorrer, o paranormal continuará valendo-se de uma frase aos que insistem em taxá-lo de charlatão: “O real geralmente é explicável. Quando o real não é explicável, a

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“A fama me sustenta”

culpa não é do real e sim da explicação”.

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O Rá entre

os famosos Sérgio Reis, 62 anos, cantor

Um dia Thomaz transformou água em essência de hortelã, açúcar em essência verde que curou a rinite do meu filho. Ele tem um perfume, um aroma ruim, ardido, que ninguém tira. Fui a Passa Quatro, com minha mulher e meu pai, e não pudemos ficar num dos chalés porque o Thomaz tinha dormido lá há uma semana e deixado um cheiro forte de hortência que ninguém conseguia dormir nem com a janela aberta. Foi só ele voltar lá, entrar no chalé e sair que o perfume acabou. Neste dia, no restaurante, ele pegou do bolso dois papéis de alumínio, prateado e dourado, fez um desenho, colocou-os na mão de uma menina e ficou energizando. Surgiu uma pulseira com argolas douradas e prateadas. Às vezes, quando energiza, luzes começam a bater nas paredes de um lado para o outro.

Dulce Bornhausen, 48 anos Estava no quinto ano do tratamento de um câncer de tiróide. Ele foi em casa e me atendeu. Fiz com ele uma energização perto do mar. Graças aos

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de US$ 1 milhão - continuação

“Thomaz Green Morton é uma fraude”

“Thomaz é um mentiroso. Duvido que apareça quando chegar a hora da verdade. É um fujão e vai fugir de novo’’ James Randi

Mágico profissional, James Randi se diz um cético. Natural de Toronto, Canadá, onde construiu uma sólida reputação como mágico, o Incrível Randi, como é chamado, naturalizou-se norte-americano e estudou história do ilusionismo. Escreveu sobre a vida de Harry Houdini, um dos mágicos mais famosos do mundo e passou a questionar fenômenos metafísicos. Escreveu onze livros, como The Mask of Nostradamus, onde critica as previsões do astrólogo francês. Aos 73 anos, nunca se casou, vive em Fort Lauderdalle, na Flórida, onde dirige uma fundação educacional que leva seu nome.

De onde vem o dinheiro do desafio?

O dinheiro é de um empresário norte-americano. Ele confiou essa quantia a mim para descobrir se existe mesmo um paranormal no mundo. Mas não posso revelar o nome dele.

O que acha do paranormal brasileiro Thomaz Green Morton?

Há tempos ele vem se negando a ser testado por mim, mesmo com as pressões da Globo. Agora ele aceitou o desafio. Vamos ver o que acontece.

Thomaz demonstrou torcer metais, emitir luzes e exalar perfume das mãos. Isso tudo o impressiona? São simples truques infantis. No meu país há crianças que sabem um pouco de mágica e fazem isso para se divertir. Tem muitos mágicos honestos no Brasil que também

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meus médicos, fiquei boa, mas Thomaz me ajudou muito energizando meu corpo. Eu vi várias luzes passando pelo teto da minha casa e na praia. Ele também entortou todo o meu faqueiro de prata. Foi um prejuízo enorme. Meu marido (senador Jorge Bornhausen) não estava em casa enquanto o Thomaz me energizava porque é cético. Ao mostrar-lhe as coisas entortadas, ele perguntou quando Thomaz voltaria para desentortar! Tenho uma sobrinha que estava com psoríase, doença genética que provoca feridas e não tem cura. O Thomaz a convidou para ir à casa dele, ela foi, ficou uma semana e voltou curada. Hoje ela não tem nada.

fazem isso.

Por que artistas famosos e outras pessoas com credibilidade acreditam nele? Que experiência um cantor ou um ator tem? O fato de serem artistas e terem intelecto desenvolvido não os transforma em autoridades em qualquer assunto. Quando me vêem fazendo truques, acham que é real. O que isso prova? Thomas é um mentiroso, uma fraude. Vou provar isso. Estou preparado há tempo para testá-lo.

Thomaz diz que encara qualquer desafio ou pesquisa para provar que produz esses fenômenos. Ele é um mentiroso. Sempre se recusou a ser testado por mim. Duvido que apareça quando chegar a hora da verdade. É um fujão e vai fugir de novo.

(Cesar Guerrero)

O truque de Thomaz segundo quevedo

Um pouco de prática e habilidade são os únicos requisitos para o truque de entortar talheres. “É o mesmo principio da edição em vídeo. Você ressalta o antes e o depois, mas tenta esconder o que acontece durante”, explica o padre Oscar González Quevedo. Ele balança a colher para baixo e para cima com velocidade (1). A certa altura, o movimento confunde a visão e ele força a haste da colher com o polegar (2). O sorriso ajuda a disfarçar o uso da força (3).

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