Memorial 05 Ensinando design

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Experiências de ensino em design

Grupo de Pesquisa em Inovação, Design e Sustentabilidade

Experiências de ensino em DesignExperiências de ensino em design

Juntando as diversas experiências sobre as práticas de ensino de design ao longo da minha jornada acadêmica, comecei a fazer uma série de reflexões sobre como poderíamos preparar nossos alunos de design para encarar e ajudar a resolver os complexos desafios enfrentados pela sociedade, que foram sintetizados nas ODS da ONU. Que tipo de talentos precisaríamos identificar e que tipo de habilidades e competências precisaríamos desenvolver nesses alunos para que possam dar conta dos problemas contemporâneos do mundo? Mais ainda, como podemos desenvolver diretrizes para elaborar uma proposta pedagógica de um curso de design voltado para o futuro?

Para tentar achar respostas para essas perguntas, apresento a continuação uma série de relatos sobre minhas experiências de ensino ao longo desses dezessete anos de história acadêmica.

Experimentos com Gesso para tornar o material flutuante como bolhas de sabão.

Disciplina de Operações Morfológicas.

Recife, 2008.

Inquietações sobre o processo criativo

Nesta primeira experiência de ensino de design realizada no final de 2008, uma inquietação sobre a capacidade inventiva e a produção de alunos de arquitetura e design era tema frequente de conversa entre os professores do curso. Alguns professores estavam insatisfeitos com o reduzido grau de inovação e a pequena quantidade de alternativas que eram levantadas a partir da apresentação de um determinado tema de projeto.

Nesse momento, junto com Ney Dantas, nos propusemos a conduzir uma série de experimentos em torno do processo de

criação. Nossa principal hipótese era de que a existência de uma rígida hierarquia e linearidade das atividades estabelecidas nos métodos tradicionais de ensino causava uma restrição à criação e desenvolvimento de soluções inovadoras.

Para entender e propor soluções para esta inquietação, decidimos ofertar de forma conjunta uma disciplina experimental para os alunos de arquitetura e design, aproveitando a flexibilidade do currículo do curso de design.

A ideia de imaginar uma forma de gerenciar o processo de criação em design, algo que batizamos de CPM Creation Process Management, começou a ser construído de

forma experimental ao longo dos três se mestres disciplinares.

No primeiro semestre reafirmou-se a im portância do FAZER e da vivência com MATÉRIA no processo de criação. Contan do com a colaboração de Luciano Peres, professor e químico especialista em gesso do ITEPE, foram conduzidos diversos expe rimentos em laboratório para compreender, dentro das nossas possibilidades, os limites do material. Surgiram possibilidades como gesso semi flexível, gesso flutuante, gesso para blindagem, gesso com memória. Apesar do surgimento de propostas inovadoras, os alunos tiveram muita dificuldade de colocar a “mão na massa”. A importância de SENTIR e CONSTRUIR no processo de criação apareceram claramente como processos estruturadores.

No segundo semestre a disciplina procurou construir pontes entre o fazer e o pensar, para isso a ênfase saiu da matéria para um produto, não um objeto isolado mas um sistema. O desafio foi desenvolver propostas de mobiliário urbano para a orla da Praia de Boa Viagem, o cartão postal da cidade do Recife. Depois de diversas vivências na praia, como andar pela calçada de olhos vendados e construir maquetes conceituais com areia, os alunos conseguiram alcançar um SABER sensorial e quebraram o gelo entre a mente e a matéria, permitindo-lhes fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o que SIGNIFICAVA a idéia de mobiliário urbano para aquele contexto.

As propostas criavam espaços específicos e multi-programáticos. Assim a articulação entre a praia e os edifícios, o calçadão e a areia poderiam ser utilizados também como brinquedos, áreas de contemplação e descanso, apoio para prática de ginástica ou meditação. Ao final do semestre estava claro para os professores que juntamente com os processos de SENTIR E CONSTRUIR se agregaram os de SABER e SIGNIFICAR.

A constatação, no semestre anterior, de que o processo de significar restringia a liberdade de criação e inovação limitando a produção de alternativas extraordinárias,

Construção de Maquetes Conceituais na praia de Boa Viagem.Disciplina de Operações Morfológicas Recife, 2008.

Propostas de Mobiliário Urbano para a praia de Boa Vigem. Disciplina de Operações Morfológicas.

Recife, 2008.

forneceu bases para a proposta no terceiro e último semestre.

A disciplina deu ênfase às explorações formais. Resolvemos propor um desafio onde os alunos, por simples afinidade, deveriam escolher uma forma qualquer da natureza e explorá-la ao seu limite. Houve uma grande perplexidade inicial com os alunos, muitos travaram. A ideia de explorar uma forma sem atribuir um significado pareceu completamente sem sentido. Não se sabia por onde começar, que forma escolher, como sentir ou o que construir. Mesmo esta liberdade com poucos limites parecia aterradora.

Aos poucos os alunos começaram a explorar a forma das cascas de semente, texturas, animais etc. e a partir da segunda metade do semestre as coisas começaram a ficar mais claras. Os professores compre

enderam como a participação e o autoconhecimento do CRIADOR e da CRIATURA eram importantes neste desafio.

Instruímos os alunos a procurar entender o que a “criatura” queria, para assim estabelecer um diálogo com ela. Os processos de VISUALIZAR e de PRECISAR a forma ajudaram muito no estabelecimento deste diálogo. Ao final os alunos perguntaram às formas o que elas queriam ser e muitos produtos inovadores surgiram, como telefones celulares para deficientes visuais, bancos aranhas e travesseiros.

Desta terceira experiência percebemos que cada criador tem um tempo e uma forma diferente de se aproximar do problema. Isso nos levou a levantar uma hipótese, ainda por ser testada, que o processo de criação pode ser iniciado com ênfase em

designer pode procurar SIGNIFICAR, pode iniciar VISUALIZANDO, ou procurando SABER sobre aquela necessidade SENTIDA de criar algo.

Esta jornada de três semestres de disciplina e mais um ano de reflexão sobre os caminhos da criação nos levaram à elaboração inicial de um diagrama para gerenciamento dos processos de criação –CPM. À esquerda do diagrama estão os processos ditos “racionais “- sentir, saber e significar e à direita os processos “intuitivos” –visualizar, precisar e construir. Da mesma forma CRIADOR e CRIATURA também foram incluídos como sub-processos da Criação.

Este diagrama apresenta de forma didática processos que consideramos chave para a criação nos campos de arquitetura e design. Ele mostra como estes processos se inter-relacionam e como formam um sistema coeso que, através de cada módulo podem se ligar a outros processos formando estruturas diferenciadas. (por isso cada criação é única).

Anos mais tarde, as experiências realizadas para entender o processo de criação foram fundamentais na condução das oficinas de criação de propostas de mobiliário urbano para o Projeto do Parque Capibaribe, descrito anteriormente.

Este diagrama, gostaríamos de enfatizar, é uma representação bidimensional de um fenômeno mais complexo, que é tridimensional. Da mesma forma que os planetas, acreditamos que os processos da criação se

Diagrama do dos Processos de Criação. Disciplina de Operações Morfológicas.

Recife, 2009

Proposta de Travesseiro. Disciplina de Operações Morfológicas.

Recife, 2009

Prof. Carlo Vezzoli ministrando aula durante o 1 Curso Piloto da UFPE Projeto LeNSin.

Recife, 2017.

o ensino da sustentabilidade

na periferia

No Brasil, iniciativas em direção à sustentabilidade são parte da agenda de redes de pesquisa como a LeNS Brasil, da qual faço parte há mais de uma década. Tais iniciativas buscam discutir nosso papel como educadores e pesquisadores em um processo de aprendizagem social.

Nosso desafio é abrir um diálogo permanente que nos ajude a encontrar novas formas de aprender e compartilhar conhecimento, vislumbrando a aplicação de novos modelos e paradigmas de design que nos ajudem a superar nosso estilo de vida insustentável.

Dessa forma, em 2015, recebemos com grande interesse o convite do professor Carlo Vezzoli, do Politécnico de Milano, para participar do Projeto LeNSin.

Dentro das atividades do projeto, estava prevista a realização de um curso piloto em cada uma das universidades parceiras.

Assim, em junho de 2017, num período pós São João de muita chuva, que provocou falta de energia no campus, alagou a cidade, e em seguida foi tomada por uma greve dos motoristas de transporte público foi realizado o 1o Curso Piloto do projeto LeNSin no Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da da UFPE.

O curso que foi oferecido para toda a comunidade acadêmica com o propósito de desenvolver propostas de Sustainable Product-Service Systems, S.PSS, para o Cluster de Moda de Pernambuco e chamou a atenção de graduandos, mestrandos, doutorandos e professores de várias instituições de Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e também do Pará.

Ao longo de duas semanas, o curso foi lecionado em parceria com o prof. Carlo

Vezzoli (Politécnico de Milão), Elisa Baquetti (Politécnico de Milão), Liu Xian (Tsinghua University, China), Xia Nan (Tsinghua University, China) Edurne Batista (Universidade del Mar del Plata, Argentina), Mariana Osório (Universidad del Rio de la Plata, Argentina) Aguinaldo dos Santos (UFPR), Rita Engler (UEMG), Priscilla Lepre (UFAL), Viviane Nunes (UFU), Liliane Chaves (UFF), Carla Pasa (UFPE) e eu, e suportado por vários estudantes de mestrado, iniciação científica, e doutorado dos cursos de Administração e Design da UFPE.

O método adotado para o curso foi estruturado em módulos flexíveis, personalizados para as necessidades específicas e contexto do curso piloto (perfil dos participantes, restrições de tempo, desafio proposto, empresas envolvidas, etc).

Cada módulo foi proposto em torno de uma quest, uma missão que os participan-

tes precisavam completar e apresentar em formato de pitch no final do dia. Na sequência, alunos e professores discutiam e validavam os principais conceitos por meio de um processo de mentoria.

Os módulos definidos para o curso foram:

Introdução ao S.PSS e DE, projeto de sistema para sustentabilidade, aula de campo, exploração de oportunidades, projeto de conceito e detalhamento do sistema.

A jornada começou com a introdução dos conceitos de S.PSS e Economia Distribuída e a proposição do desafio de design. Em seguida, uma excursão de campo foi organizada ao Cluster de Moda do Agreste Pernambucano nas cidades de Toritama e Caruaru, interior de Pernambuco, para coletar dados e dar aos participantes a oportunidade de "experimentar" algumas das questões descritas no desafio apresentado em sala de aula.

Participantes do Curso Piloto da UFPE aplicando a ferramenta de SWOT.

Projeto LeNSin. Recife, 2017.

Projeto LeNSin.

No módulo de Design de Sistemas para Sustentabilidade, os alunos confrontaram insights coletados durante a aula de campo com critérios de sustentabilidade utilizando ferramentas como o Sustainable Design Oriented Toolkit, (SDO). Além disso, estudos de caso foram apresentados por professores participantes da LeNSin Brasil.

sanato desenvolvidos a partir de sobras de jeans.

Conceitos de PSS elaborados pelos participantes do Curso

Piloto da UFPE

Projeto LeNSin.

Recife, 2017.

Nessa época, os alunos foram divididos em grupos para escolher os temas que iriam desenvolver para o desafio de design. Dois grupos estavam interessados em desenvolver alternativas S.PSS para a lavanderia de jeans, outro grupo se interessou por alternativas para a fabricação de calças, e um grupo se concentrou em propostas de arte-

Durante o módulo Explorando Oportunidades de Inovação, surgiram os primeiros conceitos de PSS. O processo foi apoiado por sessões de criatividade usando ferramentas como Tomorrow Headlines (manchetes de amanhã), Bodystorming e Brainwriting de ideias. Na sequência, para o módulo Design conceito do sistema, os alunos apresentaram e validaram ideias iniciais com professores e representantes do cluster de moda do agreste.

No módulo Detalhamento do Sistema, os alunos utilizaram ferramentas como prototipagem de PSS e Projeto de Serviço. Nessa

Visita técnica à Lavanderia Mamute.
Toritama - PE, 2017.

Representação das etapas propostas durante o Curso Piloto da UFPE. Projeto LeNSin. Recife, 2017.

fase, eles precisavam transformar todas as ideias em um conceito de design coerente e criativo utilizando ferramentas de animação e vídeo e protótipos, acompanhados de uma apresentação em formato de elevator pitch

As apresentações finais e informações detalhadas sobre cada um dos conceitos S.PSS encontram-se disponíveis na plataforma LeNSin em www.lens-international.org.

A primeira proposta, a Mamute Laundry, trata-se uma plataforma de conhecimento de código aberto, onde microempreendedores tem a possibilidade de criar, protóti-

pos e produzir coleções de jeans de forma eco- eficiente e em pequena escala.

Já a proposta da Lavato, consiste num conceito de S.PSS que busca transformar o lodo resultante do processo de lavagem das calças jeans em tijolos para construção de calçadas.

O VIP, outro dos conceitos de PSS, propõe a criação de um espaço colaborativo para a produção de moda socio-ética, promovendo assim o empoderamento dos trabalhadores, principalmente mulheres do distrito da moda.

Finalmente, Mulheres de Argila propôe projeto social para ajudar mulheres baixa renda da comunidade do Alto Moura ( localizada a 200 Km do Recife), arredores a se tornarem economicamente ativas na região, produzindo peças sanato a partir das sobras de tecido processo de Fabricação de calças jeans.

A realização deste Primeiro Curso deixou várias lições aprendidas sobre desafio de ensinar um curso sobre para a sustentabilidade na periferia as quais destacamos as seguintes:

Em primeiro lugar, a mistura de alunos diferentes disciplinas de conhecimento mostrou-se bastante eficaz no processo aprendizagem. Junto com isso, a participa ção de docentes de outras universidades resultou num prolífico processo de são de ideias sobre como replicar o de design.

Numa proposta de sala de aula invertida, entrar em contato direto com o problema através de uma visita ao local, apesar restrições de tempo, deve ser considerado um elemento essencial num curso visto que melhora o processo criativo resulta em um processo mais empático. Além disso, esse estudo de campo o vínculo entre os membros da resultando em uma boa atmosfera parte prática do curso.

Apresentação de um dos grupos participantes dos Diálogos South to South coordenados pelo prof. Mariano Ramires. Rede LeNSin. Recife, 2019.

Cartaz de divulgação do evento Diálogos South to South promovidos pela Rede LeNSin Recife, 2019

Diálogos de cooperação South to South

Costumo dizer que os resultados do projeto LeNSin foram, e continuam sendo incríveis. Além do intercâmbio de conhecimentos, a rede de parceiros que se formou em todos os continentes é o mais gratificante.

Em função disso, o professor Mariano Ramirez pesquisador da University of New South Wales, Sydney, Austrália, e coordenador da Rede LeNSin Oceania veio a Recife para uma curta estadia no ano de 2019, nos brindando com uma série de palestras e atividades de extensão.

O evento chamado Diálogos South to South discutiu como o design e a inovação podem contribuir para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A proposta tinha como objetivo fomentar as relações de colaboração entre instituições da Austrália e da América La-

dutos, serviços e sistemas sustentáveis com impactos positivos à sociedade, à economia e ao meio ambiente.

Na proposta foram apresentadas duas oficinas para os alunos e professores do dDesign. A primeira oficina intitulada de “Mudança para o comportamento sustentável” explorou estratégias de eco-design para comportamento de consumo responsável.

Enquanto que a segunda “Design e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” trabalhou junto com os participantes, soluções criativas no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O interessante desta experiência foi ver como temáticas comuns ao design, podem ser trabalhadas desde perspectivas diferentes, mas complementares. O olhar sobre a sustentabilidade, compartilhado pelo professor Mariano desencadeou uma rica troca de conhecimentos e práticas de ensino que evidenciaram divergências e pontos de vista em comuns da nossa atividade acadêmica e profissional. Assim, esse olhar desde periferias diferentes deu início a uma

conversa que ainda não terminou, os diálogos South to South.

Os Diálogos South to South, definiram uma série de futuras atividades de cooperação internacional entre instituições parceiras, com vistas a elaboração de projetos conjuntos, materiais didáticos, publicações, intercâmbios internacionais e supervisão de trabalhos de pós-graduação. O projeto foi temporariamente suspenso por conta da pandemia de COVID 19, mas aos poucos começamos a retomar as atividades propostas na agenda.

Ensino de Moda: uma ciranda de todas as artes

Em todos esses anos que moro em Recife, uma das coisas que me chama muito a atenção é o dinamismo da cena da moda na capital pernambucana. Lembra um pouco de Harajuku, o agitado distrito da moda japonesa localizado em pleno cora-

Participantes do evento Diálogos South to South promovidos pela Rede LeNSin. Recife, 2019.

Reportagem sobre desfile de moda dos alunos do curso de design da UFPE na Fenearte.

Recife, 2019.

ção de Tokyo. Ao igual que na capital nipônica, aqui em Recife, em qualquer época do ano é possível participar de eventos e desfiles de moda, assim como visitar as coloridas lojas de moda autoral espalhadas pelos quatro cantos da cidade.

Talvez seja esse um dos motivos pelos quais, muitos dos alunos do Curso de Design se interessam por essa área. Da mesma forma, vários dos meus orientandos de mestrado e doutorado, que trabalham com design de moda a muito tempo, ingressam no mestrado com o interesse de realizar pesquisas na área de moda tendo como foco a criação e produção de moda sustentável.

Aproveitando, mais uma vez, as vantagens do currículo do Curso de Design, algumas das orientandas da área de moda como Mabel Guimarães, ex-bolsista Pibic, Victoria Fernandez, Gabriela Lyra, e mais recentemente o aluno Paulo Medeiros, aproveitaram para realizar seu estágio docência numa proposta de disciplina que lhes permitisse aplicar todo o conhecimento e a experiência profissional.

A disciplina intitulada de Indústria da Moda, Produção e Consumo é ofertada para os alunos do curso através de uma proposta que busca estudar a cadeia produtiva da moda, desde a pesquisa de tendências até a costura final, trabalhando de forma colaborativa para chegar a um resultado único e muito interessante, como na última vez que a disciplina foi ofertada,

antes da pandemia, em junho de 2019, que culminou com a apresentação de um desfile de moda na Fenearte, uma das mais importantes feiras de artesanato da região Nordeste.

Nessa ocasião, foram apresentados ao público uma coleção de 16 conjuntos de pecas inspirados na "Ciranda de todas as artes", tema da feira. Para a elaboração das peças, queríamos deixar os alunos e alunas livres para criar o que quisessem, com qualquer tecido, qualquer cor, qualquer ideia. E o tema da ciranda casou perfeitamente, porque a diversidade da coleção representou muito bem a pluralidade da ciranda.

Gosto de citar este exemplo porque condensa toda uma série de experiências sobre como conectar academia e mercado de uma forma quase natural, permitindo que os alunos ganhem um aprendizado que não é encontrado nos livros de design.

Projetão: o ensino do processo de inovação

Aliado sustentabilidade, presente meçar, de trocar associada inovação.

O conceito ao longo ria. Começando bre seph ção

área, ção

Drucker, motivo

senso gosto como um processo de busca de soluções para um determinado público que tem o potencial de ser transformado em um modelo de negócio viável, factível e sustentável.

Mentores da disciplina de Projetão, Guilherme Ranoya, Cristiano Araújo, Luciano Meira, José Cavalcanti, Leonardo Castillo, Geber Cardenas e Silvio de Paula.

Recife Antigo, 2019.

Por volta de 2015, a convite do meu colega e amigo, o professor André Neves também do departamento de design, fui participar de um experimento de ensino revolucionário. Tratava-se de uma “disciplina” de projeto oferecida pela dupla formada por Cristiano Araújo e Geber Ramalho, brilhantes professores do Centro de Informática da UFPE.

Projetão, que discipli na, juntava alunos e professores de diversos cursos da UFPE, como engenharia de software, ciência da computação, psicologia, design e engenharia biomédica, para conjuntamente propor diversas maneiras de resolver os problemas da vida real.

Divididos em grupos de 12 e 16 integrantes, os alunos de diversos cursos de graduação da UFPE escolhem uma demanda real da sociedade, como as contempladas dentro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, e desenvolvem soluções inovadoras. Não é só o desenvolvi-

Reunião dos alunos da disciplina de projetão com os mentores para discutir detalhes do projeto. Centro de Informática da UFPE.

Recife, 2018.

o produto final, como um aplicativo ou o protótipo de um artefato (daí minha conversa inicial sobre inovação).

Para escolher o problema, objeto do trabalho, os alunos precisam observar o local em que ele está inserido, seja uma escola, hospital ou praça; entender quem são as pessoas que estão ali; quais suas dores e desejos; e qual o problema e o impedimento para que o desejo seja atendido.

Semanalmente, os universitários são desafiados a resolverem uma quest, um desafio com uma série de perguntas relacionadas ao problema-tema escolhido. onde eles precisam mostrar se as decisões que estão tomando são coerentes, justificando, por exemplo, se o problema escolhido é relevante.

são denominados mentores, contribuem na construção das propostas, cada um sob sua ótica. Assim, a ciência da programação e a engenharia de softwares ficam, obviamente, com questões ligadas à programação. O design é incumbido de entender a jornada do usuário e de propor soluções que possam resolver os problemas de forma criativa e eficaz. A psicologia, ajuda a embasar a escuta do outro, a identificar demandas e desejos dos usuários assim como e compreender melhor o comportamento das pessoas. A engenharia biomédica, a química e a administração de empresas, incorporadas recentemente, vieram para incluir a diversidade de olhares.

O Projetão não prevê ensinar conceitos de administração, de programação, de psico-

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logia alunos o processo criativo de descoberta de problemas e proposição de soluções inovadoras.

A disciplina se estende para fora da sala de aula. Dentro da própria universidade os alunos começam a usar as demais disciplinas para se aprofundar no problema. É uma mudança considerável na forma de ensinar porque as coisas podem fazer mais sentido a partir da resolução de problemas. Isso muda radicalmente o comportamento dos estudantes

Embora a disciplina não tenha pretensão de criar empreendedores, este foi um de seus “efeitos colaterais”. Os projetos finais são apresentados numa jornada denominada de Demo Day no Porto Digital, no Recife, considerado um dos principais par-

Alunos da disciplina de projetão fazendo uma demonstração do projeto de Guarda Volumes para Praia, “Guardaqui”. Recife, 2018.

propostas são apresentadas para grupos de empreendedores e investidores de startups sediadas no Porto Digital.

Foi o caso da In Loco, startup unicórnio do nordeste que teve o embrião concebido na disciplina de Projetão. Quando cursaram a disciplina, os alunos fundadores da In Loco desenvolveram um aplicativo para shoppings com navegação para espaços internos (uma espécie de GPS), jogos e ofertas especiais para os consumidores que tivessem o app instalado. André Ferraz, sócio fundador da empresa, conta que o produto exigia uma solução de navegação que funcionasse em locais fechados. “Descobrimos que essa tecnologia ainda não existia e decidimos criar a nossa própria geolocalização indoor Fizemos muita pesquisa

Alunos e professores da disciplina de Projetão preparando as apresentações para o Demo Day.

acadêmica semanas, interessante precisão. logia

acrescenta “surgiu oportu nidade para desenvolver o primeiro modelo de negócio. Sem a disciplina Projetão provavelmente, a In Loco e a nossa história empreendedora não existiriam.”

O Projetão já chamou a atenção do Ministério da Educação e fomos convidados para replicar o modelo de projetão nos Institutos Federais do país. Assim, em dezembro de 2019, junto com o professor Cristiano Araújo, da engenharia da computação, visitamos três institutos de Minas Gerais com o intuito de rodar um curso piloto nesses locais.

da oseus interdisciplinaridade possibilidade empatia com estudantes e professores das outras áreas do conhecimento, dando ao aluno a possibilidade de entender o que é o trabalho do outro, do engenheiro, do psicólogo, do designer.

Recife, 2017.

Palestra sobre perspectivas do design contemporâneo. Simpósio de Design Sustentavel 2021.

Curitiba, 2021.

Aprendendo a ensinar de forma remota

É muito provável que em 2020 ninguém esperasse uma mudança radical dos nossos hábitos por conta da pandemia de Covid -19. Após os primeiros meses de isolamento total, percebemos que a vida precisava continuar de alguma forma, e para nós, professores e pesquisadores foi necessário encarar de vez o desafio de aprender a trabalhar de forma retoma.

Não imaginava que o aprendizado do projeto LeNSin já nos tinha ensinado o caminho. A organização da primeira conferência distribuída, The LeNS World Distributed Conference em abril de 2019, representou, para todos os participantes da rede, um grande aprendizado coletivo sobre as possibilidades da chamada “presencialidade remota”, na qual, chineses, italianos, brasileiros, mexicanos e sul africanos nos conectávamos simultaneamente para compartilhar e debater ideias sobre variados assuntos da sustentabilidade.

Em meados de 2020 decidi encarar a pandemia como uma grande oportunidade de aprendizado.

Assim, fui um dos primeiros a ofertar disciplinas em modo remoto na graduação e pós-graduação em design da UFPE, explorando e aprendendo a usar diversas ferramentas como Zoom, Meet, Slack, Miro, Trello, Discord e Strateegia, dentre outras.

Uma das primeiras disciplinas que meus colegas e eu adaptamos para o modo remoto foi a disciplina de Projetão, que depois de três semestres contínuos de aulas on-line, continua demonstrando as vantagens da presencialidade remota.

Os alunos conseguem realizar todas as quests aplicando ferramentas digitais de design como netnografia, jornada do usuário, sondas culturais. Conseguem também construir protótipos utilizando ferramentas como Figma e Miro. Da mesma forma, a comunicação e o trabalho de grupo é mediado por aplicativos e plataformas diversas como Discord, Trello ou Slack. Já para

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as demonstrações dos projetos e apresentações do Demo Day utilizamos o Wonder.me, uma plataforma que simula os espaços de uma conferência, assim como acontecia no ambiente físico, antes da pandemia.

Da mesma forma, e seguindo aquele formato do Café da Sustentabilidade, evento que organizávamos antes da pandemia no nosso laboratório de pesquisa, decidi, para minha disciplina de pós-graduação Fun-

damentos em Design de Artefatos Digitais, organizar encontros síncronos, convidando pesquisadores de todo o Brasil para falar sobre diversas formas de fazer pesquisa qualitativa em design. Após cada sessão, dávamos continuidade ao debate na plataforma strateegia.digital, onde os alunos discutiam e comentavam cada uma das questões chaves que foram levantadas durante o momento síncrono com o pesquisador convidado.

Apresentação sobre Netnografia para os alunos da disciplina de Métodos de Pesquisa Qualitativa em Design Recife, 2021.

Apresentação das ODS durante o Curso de Emprendimientos Sociales en Brazil. Recife, 2021.

Apresentação da empresa Nguzu para a disciplina de Projetão

Recife, 2021.

Teve também outro momento daqueles que deixa o professor vibrando de emoção. Foi a atividade de extensão realizada em 2021 intitulada “Emprendimientos Sociales en Brazil” que atendeu a um chamado da Diretoria de Relações Internacionais, DRI, e representou a UFPE em uma proposta de internacionalização, que teve como público-alvo participantes vinculados à instituições parceiras da ANDIFES – Associação Nacional dos Diretores das Instituições Federais de Ensino Superior, no México, Argentina, Colômbia, Chile, San Tomé e Príncipe e várias universidades brasileiras.

O curso lecionado em português e espanhol foi um momento de troca cultural e de conhecimentos técnicos muito proveitosos, onde a comunicação dos participantes foi mediada pelas mesmas ferramentas utilizadas em outras dinâmicas.

Em resumo, nesses quase dois anos de pandemia foram mais de quatro mil horas conectado à internet, participando dos mais

cluindo palestras, cursos, aulas, conferencias, bancas, seminários, colóquios, reuniões e debates. Fazendo uma “conta de padaria” seria o equivalente às horas que um piloto faria por ano voando todos os dias, ida e volta, na rota Recife - São Paulo.

Essa imersão no ambiente digital nos fez questionar quais seriam as possibilidades para o futuro da educação em design. Talvez um dos grandes aprendizados foi o fato de saber que o ambiente FIGITAL, ou seja, a fusão do ambiente físico e do ambiente digital, se apresenta como uma excelente oportunidade que precisa ser debatida de forma mais ampla para entender qual é o impacto, os benefícios e os desafios desse novo mundo de possibilidades que se abriu como uma caixa de pandora no meio da nossa jornada. Professor, seu microfone está desligado!

Reflexão Final

Dediquei todos esses anos ao trabalho de ensino-pesquisa-extensão com uma missão: o compromisso de formar novas gerações de designers que utilizem os aprendizados sobre inovação e sustentabilidade para transformar o mundo num lugar melhor para todas e todos os que habitamos esse planeta. Daqui pra frente não será diferente. A minha missão continua sendo a de plantar sementes para que haja um futuro promissor para as próximas gerações.

O ano de 2022 iniciou com a esperança de que estamos próximos do fim da pandemia de COVID-19. No nível pessoal, o ano em curso simboliza o começo de um novo setênio e a retomada de algumas metas, sonhos e desejos que ficaram engavetados nesses dois anos de reflexão.

Um desses sonhos é a realização de outro pós-doutorado que deve ocorrer para fortalecer as parceira já iniciada internacionalmente com a rede LeNSin. A Itália deve ser o destino e o tema do Design para Inovação Social deve estar em pauta nesse projeto de pesquisa.

Da mesma forma, aparecem no radar novas iniciativas de internacionalização, como a possibilidade de participar da chamada de um edital da Fundación Carolina e o Grupo Tordesillas, ou por que não um novo projeto Erasmus+ Capacity Building, os quais irão permitir experimentar novas formas de ensino e aprendizado nas disciplinas que leciono na UFPE.

O envolvimento com novas propostas de ensino seguem em pauta, como por exemplo, as iniciativas institucionais de internacionalização e de ensino a distância, as quais devem trazer novos desafios e oportunidades de crescimento profissional.

Da mesma maneira, perspectivas para o envolvimento com atividades administrativas também se delineiam no cenário futuro, apesar de já ter ocupado os cargos de coordenador da graduação e da pós-graduação, e de ter sido vice-chefe do depar-

tamento de design, o que abona ao meu currículo um pouco mais de dez anos de experiência como gestor.

Pelos caminhos da sustentabilidade

O exercício de escrever sobre esta jornada “pelos caminhos da sustentabilidade” me fez aflorar muitos sentimentos. Ao tentar evocar o passado para escrever esta história, ficou evidente que o caminho que trilhamos é feito de desafios e conquistas que nos trazem alegrias e tristezas, conflitos e debates que vão nos moldando como profissionais e pessoas.

O caminho não é linear. Por vezes se torna tortuoso, íngreme, calmo ou com solavancos, mostrando-nos que a vida não é uma linha reta e sim uma espiral (ou talvez um labirinto?). Nessa espiral, a cada ciclo que iniciamos, a vida nos desafia, nos anima ou nos desanima, trazendo e levando pessoas, com as que trilharemos lado a lado as novas histórias dessa jornada, em ciclos que se encerram e que se renovam, como na natureza, sábia, serena, completa.

Minha longa caminhada, com seus ciclos e setênios, me trouxe hoje até aqui, como postulante ao cargo de professor titular do Departamento de Design.

Encerro esse memorial com um trecho do poema The Hill We Climb, de Amanda Gorman, que dedico às gerações presentes e futuras de designers da UFPE.

The Hill We Climb

In this truth, in this faith we trust, for while we have our eyes on the future, history has its eyes on us.

This is the era of just redemption. We feared at its inception.

We did not feel prepared to be the heirs of such a terrifying hour.

But within it we found the power to author a new chapter, to offer hope and laughter to ourselves.

So, while once we asked, how could we possibly prevail over catastrophe, now we assert, how could catastrophe possibly prevail over us?

We will not march back to what was, but move to what shall be: a world that is bruised but whole, benevolent but bold, fierce and free.

We will not be turned around or interrupted by intimidation because we know our inaction and inertia will be the inheritance of the next generation, become the future. Our blunders become their burdens.

But one thing is certain.

If we merge mercy with might, and might with right, then love becomes our legacy and change our children’s birthright.

So let us leave behind a world better than the one we were left.

Aos meus orientandos, com gratidão

De esquerda à direita:

Natal Anacleto Chicca Junior.

Priscila Ramalho Lepre

Adriana de Azevedo Costa

Lucídio Cardoso Leão Júnior

Gabriela de Medeiros Boeira

Susiane Michelle dos Santos

Lia Alcântara Rodrigues

Gabriela Lyra Teixeira

Maria Gabriela Cavalcanti de Castro

Tarciana Araújo Brito de Andrade

Victoria Fernandez

Gabriella Maria de Oliveira Martins

Rafael Rattes Lima Rocha de Aguiar

André Oliveira Arruda

Flávia Wanderley Pereira de Lira

Lorena Gomes Torres de Oliveira

Mabel Gomes Guimaraes

Alice Tavares Figuereido

João Paulo Fonseca de Menezes

Caroline Fernanda de Paula Lima

Laura Maria Abdon Fernandes

Viviane Magalhães Galindo

Sarah Caroline Mazeu Branco

Cibele Oliveira de Albuquerque

João Cézar Cavalcanti Rocha

Paulo Fonseca Medeiros Filho

Maria Eduarda Macêdo Freire

José Carlos Porto Arcoverde Jr.

Isadora Carolina Crespo Pereira

Referências

Referências

BONSIEPE, Gui. Del Objeto a la Interface. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1993.

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Grupo de Pesquisa em Inovação, Design e Sustentabilidade

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