Loathe thy Neighbor - 01 Teagan Hunter PT

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Tabela de Conteudos

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EPILOGO

— Eu sou uma heroına do caralho.

Eu sento com um sorriso satisfeito, admirando minhas realizaçoes.

M&M's verdes sao superiores, e e por isso que passei os ultimos cinco minutos separando todos eles do resto.

Meu barato dura dois segundos antes de eu perceber que estou sem fazer nada enquanto espero pela minha melhor amiga, que esta atrasada para o nosso cafe da manha de domingo novamente.

Soltando um bufo irritado, eu olho para o relogio na parede da lanchonete favorita do bairro que apenas serve comidas de cafe da manha e tortas, que sao muito famosas.

Este e o meu lugar preferido em toda a cidade.

O Gravy Train e uma antiga estaçao ferroviaria que foi transformada em lanchonete e ica localizada no meio de Harristown, Colorado. E um lugar pequeno, nada chique ou extravagante por dentro, e abriga nao so o melhor cafe da manha, mas tambem a melhor torta. E eu adoro torta.

Eles oferecem alguns sabores por dia, e meu favorito – cereja –esta disponıvel tres vezes por semana.

Domingos sao dias de torta de cereja.

Um barulho vem do outro lado da estande que ocupa uma parte consideravel da parte de tras do restaurante.

Lucy, uma colega regular daqui e tambem e a sındica do meu predio, esta encostada na parede do outro lado da longa mesa comunitaria onde gosto de sentar. Ela esta usando um poncho estampado descolado – um visual exclusivo para ela – e seu nariz esta eniado dentro de seu livro de palavras cruzadas. Eu a conheço ha tempo suiciente para saber que sempre que seu livro sai, ela nao vem a tona tao cedo.

— Serio, River? De novo? — Maya West, minha melhor amiga, me encara da ponta da mesa com uma carranca de desapontamento que ela aperfeiçoou ao longo dos anos.

O que ela esperava que eu izesse com meu tempo? Sentar aqui e girar os meus polegares? Eu tinha que me manter ocupada de alguma

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RIVER

forma. Ela deveria me conhecer melhor. Nao sou o tipo de pessoa que faz algo como pegar um jornal ou livro para me divertir. Manter minhas maos ocupadas mantem minha mente sa.

— O que? — Eu coloco um doce verde na minha boca enquanto ela se senta. Engulo com um grande gole do meu cafe agora frio, que e carregado com açucar suiciente para me colocar em coma. Meu pseudo-sobrinho, Sam, desliza para a cadeira ao lado dela. Eu coloco minha lıngua para fora para o meu garoto favorito, e ele retribui o gesto. Eu volto minha atençao para Maya. — Esses bebes preciosos nao pertencem a esse — eu rosno meu labio para as cores ofensivas — lixo.

— Todos eles tem o mesmo gosto — argumenta Maya, como sempre.

— Mentira! — Alguns fregueses olham para mim e fazem cara feia para minhas palhaçadas, e Sam ri, que e o que estou realmente buscando. Agora que ele tem doze e vai para os vinte, esta cada vez mais difıcil faze-lo rir enquanto faz a transiçao para sua adolescencia mal-humorada. Eu sinto falta quando tudo que eu tinha que fazer era cruzar os olhos para ele rir por cinco minutos seguidos.

— Voce e tao estranha. — Ela puxa sua cadeira para mais perto da mesa, jogando seu longo cabelo chocolate para tras do ombro. Nao e de se admirar que nao consiga encontrar alguem para namorar com voce.

Maya nao tem um osso mesquinho em seu corpo, entao suas palavras nao tem a intençao de machucar, mas machucam.

Especialmente depois de outro encontro fracassado na noite passada.

Minha vida de solteira tem sido um assunto um pouco assustador entre nos desde que terminei oicialmente as coisas com meu ex.

Estavamos juntos ha tres anos. Nosso relacionamento nao era muito serio e as coisas estavam paradas ha algum tempo, e um dia, percebi que eu estava pronta para mais, algo estavel, e meu ex nao era. Ele estava constantemente trocando de emprego... e os sofas de outras pessoas, e eu ja passei dessa fase na minha vida. Sabia que precisava cortar minhas amarras e seguir em frente.

Eu pulei de volta na cena do namoro no começo, indo a um encontro por semana pelo menos. Nao demorou muito para perceber o que eu estava querendo: estabilidade.

Nao estou dizendo que estou pronta para uma viagem ate o altar, mas encontrar algo... alguem... que promete um futuro eventualmente seria bom.

Depois de muitos encontros fracassados, eu diminuı o ritmo. Eu so saı com um punhado de caras no ano passado, todos eles fracassados.

Maya acha que estou sendo muito exigente, mas nao acho que tem nada de errado em saber o que voce esta (ou nao) disposto a ceder. E pedir demais que eu encontre um cara engraçado, gentil, que tenha um emprego ixo e seja gostoso?

Nao e como se eu precisasse encontrar o Único, mas orgasmos consistentes que nao vem do meu vibrador e alguem para se aconchegar alem do meu gato Morris soa muito bem, sem mencionar fazer outra coisa alem de trabalhar e sair com Maya e Sam, embora eu os ame profundamente.

— Eu nao sou estranha — digo a ela. — Eu sou... peculiar.

— Voce pode dizer isso de novo. — Ela levanta uma sobrancelha, lançando seus olhos em direçao a pilha de M&M verdes na minha frente. — Falando em namoro, como foi a noite passada?

Eu deslizo meus olhos na direçao de Sam, sem saber se quero derramar os detalhes da minha ultima desventura de encontro na frente do meu ailhado. Tenho certeza de que ele nao esta prestando muita atençao, mas ainda e estranho, considerando que continuo a velo como uma criança e nao um quase adolescente.

Maya percebe minha hesitaçao. — Ei, garoto, va pegar uma torta para nos, certo? Cereja para sua tia River, e claro. — Ela vasculha a bolsa por muito mais tempo do que o razoavel e, inalmente, coloca o cartao de debito na mao dele. — E um pouco de cafe. Voce sabe do que eu gosto.

Ele pega o cartao. — Voce deveria comprar uma carteira, mae. Nao acho seguro deixar o cartao solto na bolsa assim.

— Ao inves de deixa-lo na minha carteira, onde um ladrao saberia onde esta?

Ele revira os olhos em resposta, e ela sorri em triunfo.

— So para constar — digo enquanto Sam se afasta — estou do lado dele com isso.

— Diz a garota que separa seus M&M's por cor.

— Os verdes sao os melhores!

— Me lembre por que somos amigas mesmo? Nao temos nada em comum.

— E exatamente por isso, mantem as coisas mais interessantes. Alem disso, eu era a unica pessoa la para voce durante todo aquele escandalo de gravidez aos dezesseis anos.

Ela bufa uma risada. — Certo. Isso.

Quando eu tinha oito anos, a famılia de Maya se mudou para a casa ao lado e nos tornamos melhores amigas instantaneamente. Nao importava se eramos totalmente opostos e constantemente brigavamos por coisas ridıculas como qual boy band era melhor – eramos inseparaveis.

Somos amigos ha vinte anos e ja passamos por tudo: drama no colegio, gravidez na adolescencia, casamento, tornar-se parceiros de negocios, divorcio... o que voce quiser. Nao importa o que a vida jogue em nos, ainda somos estupidas como sempre.

Ela e a irma que eu nunca tive e sempre quis.

— Entao, ontem a noite? — Maya franze os labios perfeitamente carnudos, focando os seus surpreendentes olhos cinza em mim.

— Certo, certo. — Eu bato meu queixo. — A noite passada foi... interessante.

— Bom ou ruim?

— Bom... acho.

— Voce esta fazendo um otimo trabalho esclarecendo as coisas para mim — diz Maya.

—Bem, começou quando meu encontro–

— Cheddar! — Ela bate palmas, sorrindo como uma idiota. Admita que esse nome idiota de estudante universitario e meio velho demais para ainda ser usado.

E um nome ridıculo. Na verdade, Cheddar pode ter sido o primeiro cara que Maya nao tentou me convencer a dar uma chance. Saı com ele para provar que nao era tao exigente quanto ela airma.

Meu erro.

— Tudo começou com o Cheddar derramando sua bebida na mesa.

— O que ele estava bebendo?

— Por que isso e importante?

— Um pedido de bebida diz muito sobre uma pessoa. — Maya acena com a mao com impaciencia. — Vamos ver.

— Daiquiri de frozen de morango.

Assim que as palavras saem da minha boca, me arrependo de dizer a ela.

Ela esta rindo tanto que nem mesmo esta fazendo barulho, enquanto eu sento la jogando adagas em sua direçao. Cruzo os braços sobre o peito, recostando-me na cadeira, deixando que ela termine.

— Voce ja terminou? — Ela nao fez nenhum som alem de sugar o ar por pelo menos trinta segundos.

Finalmente, ela solta um suspiro, enxugando os olhos. — Ele alem de atender por Cheddar, bebe isso. Eu nao posso acreditar que nao se casou com ele na hora.

— Foi realmente estranho quando pedi meu uısque puro.

— Muito bem garota.

Eu sigo em frente. — De qualquer forma, o pedido da bebida e ele ter derramado eram algo que eu poderia superar. Talvez estivesse nervoso? Quem sabe? E quando ele mencionou que ainda morava com a mae? Seja como for, a economia e tudo isso. Mas...

— Por que tenho a sensaçao de que isso vai melhorar?

— Mas entao ele disse – e eu cito, porra – que torta de amora e o melhor tipo de torta.

Ela aperta o peito. — Ele disse o que!

Eu aceno, franzindo meus labios. — Eu tive a mesma reaçao. Na verdade, mandei uma mensagem para minha mae e a iz ligar com uma emergencia para sair de la.

Maya revira os olhos. — Voce percebe que estou zombando de voce, certo?

— O que? Voce sabe que a de cereja e o melhor tipo de torta!

— Voce nao pode continuar empurrando todos os Tom, Dick e Harry para longe por essas razoes estupidas. Nunca encontrara ninguem se continuar assim.

— Em primeiro lugar, eu nunca afastaria um pau.

— River… — Sua voz esta cheia de frustraçao, e eu entendo.

Eu sou meio exigente.

Mas e pedir demais para um cara me deixar... bem, animada?

— Talvez eu seja um pouco particular, mas ninguem me faz ir, sabe? Ninguem faz meu coraçao disparar ou me faz rir. Nenhum deles tem sido o tipo de cara que me faz icar em casa pensando nele. Ninguem me fez formigamento em todos os lugares certos. Nem um unico encontro – ugh.

Na minha visao periferica, eu vejo a maldiçao da minha existencia passar pelas portas do meu restaurante favorito – que frequento ha oito anos – como se ele fosse o dono do lugar.

Suas pernas vestidas com jeans se estendem pelo que parecem quilometros, e eu nem preciso olhar para saber que ele esta usando uma camiseta de alguma banda que nao faz um show ha quase trinta anos. Seu cabelo preto como carvao esta bagunçado como se o vento o soprasse para todos os lados, e seu rosto nao e raspado ha tres dias.

Ele parece desleixado, como se tivesse acabado de rolar para fora da cama e arrancar suas roupas do chao. Mas, de alguma forma, ele ainda e ridiculamente atraente... infelizmente.

— O que? O que esta errado? — Maya espia atras dela para a porta da frente da lanchonete, onde meus olhos vagaram. — Oh. Ele.

— Sim. — Eu enrolo meus labios em desgosto. — Ele.

Ela se volta para mim. — Eu nao entendo o seu problema com ele. Ele e super gostoso.

— Voce nao mora ao lado dele.

O proprio Lucifer nao apenas patrocina meu lugar favorito no mundo inteiro, ele tambem mora no apartamento do lado do meu.

Eu o vejo o tempo todo. Nas caixas de correio. No elevador.

Toda manha.

E exaustivo porque ele é exaustivo.

Como a traidora que e, Maya levanta a mao e acena. Ele abre um sorriso e tenho certeza de que ele pensa que esta derretendo a calcinha e acena de volta enquanto se dirige ao balcao da frente para fazer seu pedido.

Eu bato para baixo. — Pare com isso!

— Voce pare com isso! — Ela puxa a mao de volta. — Nao ha nada de errado com ele. Ele e–

— Super quente – sim, eu ouvi voce da primeira vez. Ele tambem e super irritante.

— Como assim?

— Para começar, ele–

— Ah, Sam. — Meu inimigo mortal se aproxima do limite. — E bom ver voce, mano,

— Aquilo! — Eu praticamente me levanto da cadeira, apontando um dedo acusador para ele. Ele espia a comoçao, sobrancelhas grossas franzidas com a minha interrupçao. — Isso aı! Ele diz coisas assim porque–

— Ei, Dean. — Sam cumprimenta seu antigo professor. — Como vai seu im de semana?

— Por causa disso. Eles sao Sam e Dean. Como os Winchesters. — Eu rolo meus olhos. — Me poupe — eu termino enquanto acomodo minha bunda, observando os dois conversando como velhos amigos.

O que eu acho que eles sao. Um pouco.

No ano passado, quando Maya e seu ex estavam se divorciando, Dean estava la para Sam de maneiras que apenas uma igura paterna pode fazer. Com ele sendo o professor de Sam e vendo-o na escola, os dois se tornaram proximos e, embora seja incrivelmente bobo, isso me deixa com um pouco de ciume.

E com tesao.

Que por sua vez me deixa realmente com raiva.

Eu o odeio. Ele e um idiota. Um idiota total. E por isso nao e meu tipo. Eu nao gosto dele. A atraçao e a falta de um homem esquentando minha cama e conversando, nada mais.

Alem disso, o que procuro não e Dean. Ele pode ter um emprego estavel e parecer estavel, mas isso nao compensa o quanto ele me irrita.

— Sabe, estou começando a pensar que talvez voce so diga que o odeia porque esta secretamente apaixonada por ele.

Eu solto uma risada sardonica. — Por favor. Nao e isso.

— Voce esta dizendo que nao o acha nada atraente?

— Nao.

— Nao, voce nao o acha atraente, ou nao, nao e isso que voce esta dizendo?

Eu mudo na minha cadeira. — Claro que o acho atraente.

— Huh. Interessante.

Eu inclino minha cabeça, juntando minhas sobrancelhas. — O que e?

— Dean te excita.

—O-o que?!— Eu gaguejei, sentando-me ereto. — Ele nao! Por que voce diria isso? Eu nunca disse isso.

— Voce nao precisava. Uma melhor amiga sabe dessas coisas.

— O que…

— Oh, querida. — Olhamos para baixo na mesa em direçao a Lucy, cujo nariz nao estava tao preso em seu livro como eu pensava. E obvio para mim tambem.

— Lucy! Que diabos?!

Ela levanta um ombro, um sorriso, provocando nos seus labios pintados de vermelho. — So estou dizendo a verdade, querida. Alem disso, nao e uma coisa ruim. Voce nao esta sozinho em seus sentimentos – Dean tambem me deixa com tesao.

Meus olhos se arregalam e minhas bochechas esquentam.

— Agora, vamos la. Voces duas nao me olhem assim. Estou velha, mas ainda ha movimento neste oceano, e o oceano esta deinitivamente na minha calcinha quando aquele homem passa pela porta.

Ela desliza a lıngua sobre os labios, e eu nunca quis que um buraco se abrisse e me engolisse tanto quanto neste momento, e isso inclui a vez em que caminhei pelo Wallmart com a saia eniada na minha calcinha... uma calcinha io dental.

Lucy toma um gole de cha e volta sua atençao para seu livro... supostamente.

Maya inclina a cabeça em direçao a minha, inclinando-se para sussurrar: — Entao isso aconteceu.

— Infelizmente, sim.

— Olha, nao e uma coisa ruim se voce tem uma queda por ele.

— So porque ele pode – e estou colocando muita enfase nessa palavra – talvez me deixar um pouco excitada nas minhas calças, nao signiica que seja uma paixao. Posso estar isicamente atraıda por alguem e ainda odiar sua coragem.

— Ou voce pode estar mentindo.

Eu gemo.

— Conie em mim, não é uma queda, Maya. Eu nem mesmo gosto dele. Na verdade, eu disse muitas vezes ao longo do ano passado que o odiava.

— Mas sem um bom motivo.

— Voce esta brincando comigo, certo? Existem muitos motivos!

— Diga um.

Apenas um? Ha assim muitas razoes para nao gostar do Dean.

Ele e detestavel. Sempre certo sobre tudo. Se intromete no meu cafe da manha com minha melhor amiga todos os domingos.

E sua pior ofensa?

O fato dele morar no apartamento ao lado. Ele esta sempre tocando aquele violao horrıvel em sua varanda ou berrando seu gosto horrıvel para musica a qualquer hora do dia. Gritando com a TV sobre qualquer esporte que ele sempre parece estar assistindo.

Ele e o pior vizinho de todos.

— Ele acorda com a mesma musica todos os dias.

— A maioria das pessoas acordam.

— Mas Old Time Rock & Roll repetidamente? Seu–

Ela aponta o dedo para mim. Essa musica e um classico. Voce nao tem permissao para falar mal disso.

— Classico ou nao, ele tem mesmo que explodir essa musica as cinco e meia da manha, incluindo ins de semana?

— Ele trabalha. Isso e mais do que eu posso dizer sobre metade dos caras com quem voce sai.

— Mas–

— Nao. Sem mas. Ele poderia abaixar a musica? Claro, mas voce nao pode culpa-lo por ganhar a vida, especialmente quando se trata de ensinar e tornar a vida das crianças melhor.

— Voce so esta dizendo isso porque ele e amigo do seu ilho.

— Entao? — Ela encolhe os ombros. — Agora diga outra coisa que nao seja absurda.

— Leo.

— Ah, qual e. Deixe Leo fora disso.

Aponto para Dean, que ainda esta na ila com Sam porque este lugar esta lotado em uma manha de domingo. — Nao posso deixar Leo fora disso quando ele o trouxe aqui.

— Leo e adorável.

— Ele e uma tartaruga!

— Mas–

— Uma tartaruga de apoio emocional!

— Sim, mas–

— Em um maldito restaurante!

Maya bufa. — Voce esta sendo uma desmancha-prazeres.

Eu olho para Dean, que agora esta conversando com outro cliente sobre a referida tartaruga. Eles estao balbuciando para ele como fariam com um bebe. Leo esta atraindo toda a atençao porque ele e tao ruim quanto o seu dono.

— Ele so esta fazendo isso para chamar a atençao.

— Talvez o apoio emocional nao seja para ele, mas para Leo? Voce alguma vez ja pensou sobre isso?

— Voce ja pensou que essa e a segunda coisa mais ridıcula que ja saiu da sua boca? Ultrapassado apenas por quando voce me disse que pode pegar a doença de Lyme comendo limao ruim?

— Eu vi no Facebook!

— Fique longe do Facebook!

— Mas o drama... e tao viciante… — ela murmura. — Pare de me distrair. Estamos falando sobre razoes reais e viaveis para odia-lo.

— Ele... ele e...

— O que? Ela se senta mais proximo, as sobrancelhas levantadas, esperando pela minha resposta. — Atraente? Engraçado? Amigavel? Bom com crianças? Tem um emprego ixo?

— Ele rouba minha torta!

Ela revira os olhos novamente. — Ele nao faz.

— Sim, ele faz. Intencionalmente. Todos os domingos. Sempre acontece.

— Esta exagerando.

— Eu nao estou.

— Voce tem certeza disso?

— Posso estar exagerando um pouco, mas voce sabe que estou certa sobre isso acontecer com frequencia. Ou chegamos tarde demais e ele ja roubou porque e domingo e as tortas boas sempre vao rapido aos domingos, com as pessoas entrando e saindo depois da igreja e levando todas – e exatamente por isso que quero chegar mais cedo — dou a ela um olhar penetrante, e ela encolhe os ombros timidamente — ou ele da alguma desculpa ridıcula para trocar qualquer lixo que ele conseguir para enganar o ingenuo Sam.

— Primeiro, voce pode pedir sem mim.

— Eu nao posso. Entao nao seria um verdadeiro encontro para o cafe da manha. Voce chegando quando eu ja estou com o rosto cheio de torta.

Me ignorando, ela continua. — Segundo, nao ha necessidade de insultos. Sam nao e ingenuo.

— Nao e? Porque ele acreditava que poderia ter febre ao dançar em uma discoteca em um sabado a noite.

— Ele nao acredita. Alem disso, ele esta apenas tentando ser legal com o professor – algo que voce deveria estar fazendo. Dean se inscreveu para treinar o time de futebol este ano, e seu sobrinho gosta de futebol.

— Seu ponto? Sam nao e meu ilho. Eu nao tenho que beijar a bunda de Dean para manter a paz durante o ano letivo.

— Huh. E aqui eu pensando que voce queria beijar a bunda de Dean.

— O que e tudo isso sobre a minha bunda?

E nunca falha.

Faça chuva ou faça sol, River White sempre vai estar no The Gravy Train nas manhas de domingo. Mesmo que sua melhor amiga Maya nao esteja, River esta aqui, porque River adora torta de cereja tanto quanto eu.

Na verdade, eu concluı que ela gosta de qualquer coisa doce. Ela sempre parece estar beliscando M&M's verdes, e como nos compartilhamos o mesmo elevador nos dias de mercearia muitas vezes, estou ciente das coisas que ela compra, mesmo quando nao quero, como daquela vez que ela comprou uma caixa de preservativos do tamanho de um atacado.

No ano em que morei aqui, nao conheci outra pessoa que me irritasse e me intrigasse tanto quanto a minha vizinha. Em um segundo, ela e doce e sorridente. No outro, esta pronta para arrancar a cabeça de alguem.

Normalmente esse alguem sou eu.

Se ha uma coisa sobre River que tenho certeza – alem de seu amor por torta – e seu odio por mim.

Eu deixo meus olhos vagarem sobre ela enquanto ela me encara com um olhar que diz, eu vou te matar, então eu vou ajudar a procurar o seu corpo.

Cheia de fogo e provavelmente um pouco de possessao demonıaca, ela tem pouco mais de um metro e sessenta e cinco. Seu cabelo ruivo escuro – forjado nas profundezas do inferno, tenho certeza – cai solto nas costas, implorando para ser puxado. Hoje ela esta usando o que passei a reconhecer como seu traje de “Tive outro encontro fracassado e comi meio litro de sorvete e meia caixa de biscoitos”: leggings e uma camisa com mais buracos do que queijo suıço.

No entanto, ela ainda e linda de morrer. E essa e a parte que mais me irrita.

Nao importa quantas vezes – e e muito frequente – River deixe seus sentimentos por mim claros, ainda estou inegavelmente atraıdo isicamente por ela, mesmo quando nao quero.

Ela e quase rude. Ela e detestavel. Mandona. E ela e a pior vizinha da porra do mundo inteiro.

2
DEAN

Eu so queria que meu pau entendesse tudo isso.

Eu me jogo em um banquinho em frente a minha inimiga.

— Voce estava dizendo algo sobre a minha bunda? — Eu coloco meu prato na mesa e coloco Leo na mesa ao meu lado. Ele mergulha de volta em sua concha, um pouco nervoso com o que esta a sua volta, mas vai voltar assim que perceber que nao ha ameaça. Para uma criatura que normalmente gosta de fazer coisas sozinho, ele e estranhamente amigavel. Ainda mais aos domingos, dia em que o levo ao parque e o deixo explorar.

— Voce esta me zoando?

O murmurio zangado de River me corta... e segue para o sul. Como sempre, eu ignoro.

Nao adianta reconhecer isso. Eu realmente nao gosto dela. E meu pau que gosta dela. Tambem gosto quando vejo uma forma em uma mesa de madeira que lembra uma boceta.

Nao e nada alem do meu pau falando. Nao e absolutamente nada pessoal e tudo mais, sao apenas imagens.

— Vamos, River. Eu nao preciso ouvir sobre suas merdas. Estou tentando desfrutar da minha torta. — Eu esfaqueio minha fatia com meu garfo, empurrando um pedaço saudavel em minha boca.

Ela me encara, com os labios torcidos de raiva.

Eu sorrio para ela em torno dos deliciosos produtos assados.

Nao sei por que ela me despreza tanto, mas eu estaria mentindo se dissesse que nao e divertido irritar ela e obter uma resposta.

Ela ferve, cerrando os dentes. — Te odeio.

— River!

Eu engulo, limpando minha boca no guardanapo. —Esta tudo bem, Maya. Esta nao e a primeira vez que River deixou claro seus sentimentos por mim.

— Voce pode dizer isso de novo. — Lucy, a sındica do predio que me ama totalmente, me apoia sem nunca desviar os olhos de seu livro de palavras cruzadas.

Para minha surpresa, as bochechas de River icam vermelhas. Nao achei que nada a envergonhasse.

— Ignore a minha melhor amiga.

Maya encara River, que encolhe os ombros.

— Eu quis dizer o que eu falei. — Ela cruza os braços em desaio. — Eu o odeio.

— Ela so esta brava porque eu consegui o ultimo pedaço de torta de cereja.

— Conseguiu? CONSEGUIU? — Ela inala profundamente. — Voce quer dizer que enganou um garoto ingenuo por isso.

— Ei! Eu nao sou ingenuo!

— Oh, voce nao e? — River se vira para Sam. — Entao me diga o que ele disse para voce trocar uma fatia de torta de cereja por uma de amora.

— Ele disse que viu uma das atendentes tocar na torta depois que ela cutucou o nariz. Achei que voce nao gostaria de comer torta de meleca, tia River. Eu iz isso por voce. — Ele sorri com orgulho para si mesmo.

Merda, esse garoto e muito facil. Eu disse a ele na semana passada que era ilegal comer torta de cereja naquele domingo em particular. Ele estava com medo de que River fosse presa e implorou para que eu comesse. Idiota.

— Voce nao pensou em questionar quando ele pediu uma torta de meleca para si mesmo?

Eu interrompi. — Eu pedi tudo de uma vez. Eu nao falei sobre meleca ate que estavamos vindo para ca com as tortas.

— Eu tenho tantas perguntas… — Ela estreita os olhos, tentando descobrir para onde isso esta levando.

— Manda ver. Sou um professor – recebo perguntas estupidas o tempo todo.

— Voce disse que nao existem perguntas estupidas. — Sam inclina a cabeça, olhando para mim acusadoramente.

— E eu realmente quis dizer isso para voce, Sam. Voce nunca me faz perguntas estupidas.

— Oh droga. Meu ilho é ingenuo — sussurra Maya, horrorizada. Tento nao rir e dar atençao a River. — Entao?

Você pagou pelo cafe da manha?

— Eu sempre pago o cafe da manha.

— Voce nao! Maya e eu revezamos. Em uma semana sou eu, e na proxima e ela. Sempre. Nos nunca deixamos de fazer isso. Nos…

Suas palavras morrem, e tenho certeza de que e porque ela inalmente percebeu que, nas manhas que estou aqui, nunca ha uma cobrança em seu cartao.

Podemos ser inimigos, mas fui criado com boas maneiras.

Alem disso, tenho um pouco de medo da minha mae se ela percebesse que seu ilho esta sendo um idiota, ela gritaria comigo se eu nao estivesse fazendo uma coisa cavalheiresca ao pagar pelo cafe da manha.

— Voce... Voce...

— Eu, eu, o que? — Eu zombo. — Voce ia dizer que eu sou um homem gentil, doce e incrivelmente atraente? Porque eu sei que voce nao estava prestes a me chamar de bundao.

Pego um M&M de seu estoque e jogo na boca, sorrindo.

— Seu bundao!

— Nao. — Eu empurro meu dedo contra a mesa. — Nao. Existem algumas regras na vida que eu obedeço. Se alguem compra uma torta para voce, absolutamente não pode chama-lo de bundao. Essas sao as regras, River.

Ela torce o nariz. — Eu nao me importo se voce me compra torta. Eu ainda te odeio.

— Mas agora um pouco menos, certo?

Ela nao diz nada, mas posso ver em seus olhos.

Eles mudam para Leo, entao rolam para tras em sua cabeça.

— Ei, seja legal com Leo. Ele nao merece sua raiva.

— A serio? Voce trouxe sua tartaruga – sinto muito, tartaruga de apoio emocional – para o cafe da manha. Novamente. Que diabos?

Ela pode ser ma comigo o quanto quiser, mas Leo? Sem chance. O pequenino passou por maus bocados.

— Escute, Sra. Sasshole. Leo nao e minha tartaruga de apoio emocional. Eu sou o seu treinador de suporte emocional. Ele foi ferido

quando morava com o seu ultimo dono. Estou ajudando a trata-lo e a icar saudavel.

Seus olhos se arregalam de surpresa.

Sim, River, não sou um idiota total. Claro, eu posso tocar minha música e roubar sua torta, mas eu tenho um coração.

Ela balança a cabeça. — Voce esta inventando isso.

Eu me inclino para a mesa. — Nao estou.

— Esta sim — ela argumenta, combinando com meus movimentos.

Eu mudo mais um centımetro.

Ela tambem.

Castanhos.

Seus olhos sao castanhos.

Nao sei por que so agora estou percebendo – provavelmente porque e o mais proximo que ja estive dela – mas seus olhos sao a combinaçao mais linda de dourado e verde que ja vi.

Sua lıngua aparece e desliza pelos seus labios, e eu acompanho o movimento.

Eu nao posso desviar o olhar porque foda-se sua boca e tao malditamente beijavel, e ja faz muito tempo desde que beijei alguem.

Isso dura tanto que estou sentado aqui, pensando em diminuir a distancia entre nos, como se nao fosse a porra da River White na minha frente. Como se ela nao me odiasse. Como se eu nao a odiasse.

— Nao estou — eu me forço a dizer em vez disso.

— Esta–

— Voces sabem, queridos, se quiserem seu proprio espaço privado, todos nos poderıamos sair — Lucy interrompe.

Nos nos separamos como se tivessemos sido pegos fazendo algo que nao deverıamos, e Leo volta para sua concha, assustado com o movimento repentino.

— Foi mal cara. — Passo o dedo pela cabana de plastico, tentando acalma-lo.

E a mim tambem.

River e quente e deixa meu pau duro, mas beija-la? O inferno teria que congelar primeiro.

A atraçao esta la, mas ela e minha vizinha que esta constantemente tentando arruinar o melhor apartamento que ja tive, fazendo reclamaçoes e me irritando. Eu amo minha casa demais para começar a namorar minha vizinha, e deixar as coisas se bagunçarem e eu ter que me mudar... de novo.

Eu nunca, jamais beijarei River White. Isso eu posso prometer.

— Vou fazer xixi. — River pula de seu banquinho e praticamente corre para o banheiro.

Ela esta puta comigo por ter pagado o seu cafe da manha.

Bom. Talvez ela pense duas vezes antes de olhar para mim novamente por respirar alto demais para o seu gosto.

— Se isso nao deixar os caras gostosos, nao sei o que deixa. Maya balança a cabeça para as costas de sua amiga.

— Ela com certeza e algo. — Dou outra mordida na minha torta de cereja, que, infelizmente, esta quase acabando.

Foi um pouco mesquinho da minha parte convencer Sam a me dar a ultima fatia de cereja? Certamente.

Eu me arrependo? Nem um pouco.

Foi ela quem começou a guerra entre nos, me denunciando para Lucy com queixas absurdas de barulho uma semana depois que me mudei, em vez de vir e me pedir para abaixar o volume. Eu estava disposto a nos deixar ter uma icha limpa depois da coisa com o gato dela, mas ela nao, aparentemente.

Alem disso, eu nao coloco minhas merda tao alto. Nao havia necessidade de ir para Lucy com aquela merda trivial como ela fez pela quarta vez agora.

Felizmente, Lucy tem pena de mim – tenho noventa e nove por cento de certeza de que ela esta apaixonada por mim – e nao leva as acusaçoes alem de me dar um aviso nao tao severo.

Vou parar de ser mesquinho assim que River tambem parar.

— Entao, Dean, voce esta ansioso para a volta das aulas de verao em algumas semanas? Esta animado para começar a treinar futebol?

Assentindo, engulo e tomo um gole do meu cafe. — Muito, para ambos. A unica parte que gosto no verao e passar mais tempo com Leo. Preiro estar na sala de aula.

Tambem e verdade.

Eu amo ensinar. Eu amo as crianças e as merdas que dizem. Adoro ver as expressoes em seus rostos quando algo encaixa em sua mente.

E ser treinador? Cara, mal posso esperar para começar. Quando o antigo assistente tecnico do time se mudou no inal do ano letivo, eu fui o primeiro da ila a me candidatar a vaga. Eu adorava jogar futebol no colegio e na faculdade. Eu sabia que nunca fui bom o suiciente para me tornar proissional, mas isso nao mudou o quanto eu amava o jogo.

Estou ansioso para espalhar meu amor pelo esporte.

— Sam, voce esta tentando, certo?

Ele espia por cima de seu telefone. — Eu nao tenho certeza — ele murmura, os olhos voando em direçao a sua mae, a preocupaçao neles clara como o dia. —Eu, uh, eu nao sei se posso.

Eu nao sinto falta do jeito que o sorriso de Maya vacila.

Ja vi Maya nos inais de semana o suiciente para saber que ela tem lutado desde o divorcio, dedicando horas extras no trabalho enquanto ainda tenta estar ao lado do ilho, e tenho certeza de que isso esta desgastando ela. O futebol e um esporte caro, e tenho certeza de que ela esta preocupada com os aspectos inanceiros tanto quanto com a falta de tempo.

— Eu te disse, vamos fazer funcionar — ela diz a ele.

— Mas seu horario no trabalho...

— Nao se preocupe com o meu horario de trabalho. Alem disso, Tia River pode levar e buscar voce dos jogos e treinos. Vai icar tudo bem. — Ela pisca para o ilho. — Promessa de mindinho, garoto.

Ótimo. Porque mais de River é exatamente o que eu preciso na minha vida.

Ele revira os olhos. — Mae, estou muito velho para promessas de dedo mindinho.

— Cara, voce nunca esta velho demais para promessas de dedo mindinho. Eles sao um contrato obrigatorio, nao importa sua idade.

Ele da de ombros, eniando o rosto de volta no telefone e se perdendo no que quer que esteja na tela.

p q q q j

— Crianças. — Maya bufa.

Eu ri. — Voce esta pregando para o coro.

— Eu nao sei como voce faz isso. Uma sala de aula cheia deles... — Ela balança a cabeça. — Eu mal posso lidar com o que tenho.

— Para ser justo, eu posso ir para casa a noite e ter uma noite livre de crianças, onde estouro minha musica ou toco meu violao. Eu tenho uma folga, voce nao. Essa e a diferença.

— Falando de suas noites... voce sabe que esta deixando River louca com isso, certo?

Eu sorrio. — Oh, estou ciente.

Ela ri da minha falta de remorso. — Por que voce insiste em torturar minha melhor amiga?

Nesse momento, River sai caminhando do banheiro. Nao consigo deixar de admirar a maneira como ela se comporta com coniança, mesmo com suas terrıveis leggings e sua camisa esfarrapada. Ela esta parecendo uma mendiga e meu pau ainda nao recebeu o aviso que nao existe nada de bom em icar animado com ela.

Maya limpa a garganta, chamando minha atençao.

Eu tiro meus olhos de River, fazendo o meu melhor para parecer que nao estou desejando sua melhor amiga.

— Porque ela insiste em me torturar.

Ela levanta uma sobrancelha e posso ver as perguntas se formando em seus labios.

— Voce ainda esta aqui? — River reclama, sem saber, salvandome de tudo o que Maya estava prestes a perguntar. Obrigado, porra. Ela desliza de volta para seu banquinho, olhando para mim. — Achei que se demorasse o suiciente, voce iria embora.

— Partir sem dizer adeus ao meu inimigo favorito? Acho que nao. Alem disso, ainda nao terminei minha deliciosa torta de cereja. E tao quente, tao doce... tão perfeito.

Suas narinas dilatam enquanto eu deslizo uma mordida em minha boca.

— Mmm — eu gemo. — Tao bom.

— Odeio. Voce.

— Voce gostaria de odiar.

— O que isso deveria signiicar?

— Vamos, River. Voce esta obviamente obcecada por mim. Ela torce o labio.

— Voce e nojento.

— Ou eu estou certo.

Ela solta um suspiro exasperado.

— E depois disso, estou saindo.

— O que? Por que? — Maya mostra o labio inferior em um beicinho.

— Ah, tao cedo? — Eu provoco.

Seus olhos gelados pousam em mim enquanto ela reune suas coisas. — Sim, eu quero parar na loja antes que Caroline abra para veriicar algumas coisas. Poderıamos ter passado mais tempo juntos se alguem nao estivesse atrasada...

— Culpe seu sobrinho. — Maya aponta o polegar em direçao ao ilho. — Foi culpa dele.

— E sempre culpa dele.

Ela encolhe os ombros. — Acho que alguem precisa ter um controle melhor sobre ele, entao.

— Esse e o seu trabalho.

— Ugh, nao me lembre. — Ela se levanta e envolve os braços em volta de River, pressionando um beijo em sua bochecha. — Voce nao precisa trabalhar o tempo todo, River. Estamos todos juntas neste negocio agora. Tire um dia de folga.

Nao que eu de a mınima para o que River faz, porque isso implicaria em pensar nela de qualquer forma alem dela me irritar, mas Maya esta certa.

River está sempre trabalhando. E um milagre que ela ate encontre tempo para reclamar de mim com a sındica do predio – ela quase nunca esta em casa.

— Eu sei, eu sei. Mas e meu bebe. Voce tem seu ilho para cuidar e eu tenho o meu. Alem disso, eu gostaria de sair do apartamento e nao pensar na minha pessima vida amorosa.

— Eu vou deixar, mas prometa-me que vai ser rapido. Combinado?

— Combinado. — River devolve o abraço. — Amo voce. Eu te ligo mais tarde. — Ela bagunça o cabelo de Sam, que e do mesmo tom do de sua mae.

— Tchau, garoto. Vou buscar voce para tomar um sorvete amanha de manha, ok?

— Sorvete no cafe da manha?

— Voce e quem manda. — Ela baixa os olhos para o prato vazio na minha frente. — Voce acabou de comer torta de cereja no cafe da manha.

— Tem frutas…

— Ok. Vou me certiicar de que eles joguem alguns morangos em seu sorvete. — Ela da uma piscadela para ele como se eu nao pudesse ve-la. — Morangos extras – sr. Evans disse isso.

Sam torce o nariz. — Pode parar?

— Tchau, Lucy. — River manda um aceno para ela.

— Tenha um bom dia, amor. Seu segredo esta seguro comigo. — Ela pisca e as bochechas de River esquentam novamente enquanto seus olhos correm em minha direçao.

— Que segredo? — Eu pergunto.

— Nao e nada — diz Maya, tentando encobrir a amiga.

— Oh, nao e nada. E uma suposiçao nojenta que estou secretamente apaixonado por voce, o que e absurdo se voce me perguntar. E perfeitamente claro que eu odeio voce.

Lucy acha que River esta se apaixonando por mim?

Interessante…

— Nao e ridıculo? — Ela revira os olhos. — Voce? Por favor. Voce teria tanta sorte.

Meus labios se contraem com sua coniança. Ela e tao segura de si.

— Nao acho que sorte seja a palavra que voce esta procurando aqui.

— Oh, conie em mim. E.

Eu bufo, empurrando para tras do meu banquinho, empilhando os pratos juntos e equilibrando-os em cima da cabana de Leo. Eu aceno em direçao a Maya e Sam. — Vejo voces na proxima semana. — Eu paro

ombro a ombro com River e me curvo ate que minha boca esteja pairando em sua orelha. — Conie em mim. Nao e. E nao se preocupe, sua paixao secreta esta segura comigo.

Ela estica o pescoço para olhar para mim, suas orbes verdes e marrons cheias de odio.

Eu sorrio. — Ate mais, River.

— Idiota, idiota, idiota. Conie em mim. Certo. Eca. Tanto faz. Voce pode eniar o seu sorriso sexy como o inferno no seu–

— Hum, River? Voce esta bem?

Eu olho para cima, parando na porta do Making Waves, a boutique que trabalhei pra caramba para fazer um sucesso.

— Voce esta bem, chefe? — Os olhos azuis bebe de Caroline estao cheios de preocupaçao quando ela me da um pequeno sorriso.

Eu suspiro.

— Sim, eu estou bem. E apenas…

— Dean de novo? — Ela sorri com conhecimento da causa.

— Ele e o pior.

— Foi isso que eu ouvi. — Ela pega outro conjunto de brincos, colocando-os na vitrine. — Embora eu nao tenha certeza de como alguem com uma voz assim pode ser o pior.

— Esse e exatamente o meu problema – você pode ouvi-lo de dois andares abaixo.

Ela ri, balançando a cabeça. Sim, mas nao estou reclamando disso. Cooper tambem nao reclama. Isso faz com que seja dois contra um, sem incluir o resto dos moradores que estao em suas varandas, torcendo por ele...

— Mas voce nao esta bem ao lado dele. E diferente.

— Tenho certeza que sim ela murmura, terminando de organizar a primeira joia e passando para a proxima.

Eu ignoro a maneira como ela diz isso, como se houvesse coisas que ela esta insinuando.

— Como foi o fechamento ontem a noite? — Eu deslizo para tras do balcao, ligando o computador para veriicar as coisas.

— Alguem entrou trinta minutos antes do fechamento e acabou comprando cinco peças. E nos deu o melhor dia do mes.

O alıvio passa por mim.

3
RIVER

Comecei a Making Waves sozinha ha cinco anos. Apesar da forma como estou vestida hoje, sempre amei roupas e acessorios. Encontrar a roupa e os sapatos certos pode mudar todo o meu humor – algo que eu deveria ter considerado quando acordei de mau humor – e adoro ajudar os outros a encontrar uma peça que os faça se sentir bem tambem.

Quando me formei na faculdade com bacharelado em administraçao de empresas, sabia que queria fazer aqueles quatro anos cansativos valerem a pena fazendo algo de que gosto.

Abrir uma empresa por conta propria nao foi nada facil. As vezes, era uma merda. Os negocios eram lentos, quase inexistentes no inıcio. Nos primeiros tres anos, era apenas eu. Nao podia me dar ao luxo de contratar mais ninguem. Eu teria morrido de medo nos primeiros seis meses se nao fosse por Maya se voluntariando todo o tempo para me ajudar a manter o novo negocio vivo.

Em um mes, os negocios inalmente aumentaram. Entao aconteceu de novo. E de novo. A tendencia continuou a subir, e eu estava tao sobrecarregada que tive que oicialmente contratar alguem ou teria me queimado completamente.

Caroline entrou cambaleando a procura de emprego na hora certa ha dois anos. Com Maya inalmente se divorciando de seu ex idiota e precisando de um emprego o mais rapido possıvel, eu sabia que ela seria a adiçao perfeita para o negocio tambem.

Houve muito suor e lagrimas, mas nos tres continuamos nossa tendencia de crescimento nas vendas, ate mesmo expandindo para ter uma loja movel para eventos locais, e no inıcio deste ano, começamos a trabalhar online.

Embora haja muitos dias em que sinto que tudo sera arrancado a qualquer momento, estou começando a sentir que realmente vou conseguir. Saber qual foi nosso melhor dia anterior deste mes e superalo... bem, compensa totalmente o fato de Dean ter roubado minha torta esta manha e me deixa irmemente de bom humor.

— Bom. Isso e bom.

— Respire, River. Parece que voce esta carregando o peso do mundo nos ombros. Estamos indo bem – melhor do que bem. Voce pode relaxar um pouco, sabe.

Eu lanço um olhar para ela por cima da tela do computador. Voce parece a Maya.

— Nao diga que eu disse isso, porque ela nunca parara de falar sobre isso, mas ela esta certa.

Eu pego meu telefone e o seguro. — Voce pode repetir isso? Preciso registrar para chantagem futuras.

— Vou leva-lo para o meu tumulo, obrigada. — Ela empurra minha mao. — Mas estou falando serio, chefe.

— Eu ouvi voce — murmuro. — E um top fofo. Um dos seus? — Pergunto para distraı-la, e porque é um top fofo.

Na verdade, toda a roupa dela e bonita. Suas longas pernas icam incrıveis em um par de jeans skinny simples com franjas na parte inferior, levando a um par de sapatos brancos lisos. A verdadeira estrela do show e sua blusa superdimensionada com padrao bloqueado que ica pendurada em um de seus ombros. E moderno e divertido.

Ela parece tao equilibrada, ao contrario de mim.

Que seja. Foi uma noite longa e difıcil, e nao da maneira que eu queria.

Estou quase começando a achar que Maya pode estar descobrindo algo sobre eu ser exigente...

As bochechas de Caroline icam vermelhas com a mudança de assunto. Ela revelou seu talento secreto para desenhar roupas ha cerca de seis meses. Tenho implorado a ela para fazer algumas peças para a loja, mas ela e extremamente tımida quanto a isso. Bem, isso e tudo mais, ao que parece.

Embora sua timidez tenha melhorado desde que ela se mudou para ca, ainda ha algumas coisas sobre as quais ela se cala, sendo suas habilidades de design uma delas.

A unica pessoa com quem a vi icar mais a vontade foi com o seu melhor amigo de infancia e colega de quarto, Cooper. Ela insiste que eles sao apenas amigos, mas eu juro que ha algo se formando entre eles. Nunca vi duas pessoas tao sintonizadas uma com a outra antes, mas acho que o mesmo poderia ser dito sobre Maya e eu, e posso conirmar que nao ha nada acontecendo entre nos.

E apenas minha mente privada de romance tentando encontrar algo que nao esta la.

Ela afasta uma das mechas penduradas no longo cabelo loiro escuro que esta preso em um coque bagunçado no topo de sua cabeça. — E sim.

— Poderia–

— Ficar lindo na vitrine da frente? — Ela sorri. — Eu sei, e amo voce por dizer isso. So nao estou pronta.

Eu ri. — Eu sou tao previsıvel?

— Sim, assim como sei que voce esta prestes a dizer Quando você estiver pronta, você sabe que estou aqui. Como sempre faz.

— Mas–

— River...

— Esta bem, esta bem. — Eu levanto minhas maos. — Nao vou dizer mais nada.

— Bom. Agora, o que voce esta fazendo aqui? — Caroline veriica o relogio em seu pulso, em seguida, sai do balcao e se dirige para a porta da frente. —Hoje e o seu dia de folga.

— Apenas checando as coisas. — Nao mencionei a ela que tambem estive aqui no inıcio da manha trabalhando no inventario, quando nao consegui dormir e enlouqueci dentro do meu apartamento.

— Voce nao conia em mim?

— Claro que conio em voce. Eu–

— Surgiu algum pedido grande?

— Nao. Eu–

— Voce precisava entrar?

— Bem, nao. Mas–

— Entao va para casa, River. Ela vira a placa aberta e endireita a blusa de um manequim antes de voltar para o balcao. — Nao ha razao para voce estar aqui. Vive tanto aqui que estou começando a achar que tem uma cama no escritorio. Quero dizer, esta parecendo que voce pode ter dormido aqui...

Soltei um gemido longo e cansado, esfregando os olhos. — Caramba, valeu.

— O seu encontro com o Homem-Cheese foi tao ruim que voce nao conseguiu dormir?

— O nome dele era Cheddar, Caroline. Cheddar! Claro que o encontro foi muito ruim.

— Desculpa. — Ela estremece. — Talvez voce devesse fazer uma pausa. Todos esses encontros fracassados estao te cansando. Quero dizer... — Ela olha para a minha roupa.

Eu suspiro derrotada. — Voce pode estar certa.

Ela puxa o telefone do bolso, estendendo-o para mim. — Voce pode repetir isso? Vou precisar para chantagem mais tarde.

Eu rolo meus olhos. — Lembre-me de novo por que eu contratei voce?

— Porque eu era a unica pessoa desesperada pelo salario insigniicante que voce estava oferecendo? O que me lembra... voce esta me pagando para estar aqui hoje, nao a voce. Entao…

Eu levanto uma sobrancelha. — Sua sutileza precisa ser trabalhada.

— Oh, eu nao estava tentando ser sutil, River. Voce precisa de uma pausa deste lugar. Tire pelo menos uma noite de folga. Nao vai te matar.

— Como voce sabe? Poderia. Nunca tentei e ainda estou viva. Por que arriscar agora?

— Esse e exatamente o problema – voce nunca tentou. Esta tudo bem aqui. Vai para casa.

Eu gemo. — Tudo bem. Eu vou embora.

— E va para casa, onde voce vai icar a noite toda — ela instrui. Quando eu abro minha boca, ela balança a cabeça e aponta o dedo para mim. — Nao. Eu nao quero ouvir isso. E sem ligar tambem.

Eu aperto meus labios juntos, balançando a cabeça, aceitando o meu destino. Pego minha bolsa, contornando o balcao.

— Casa e sem ligar — eu prometo.

— Bom. — Ela me agarra pelos ombros, conduzindo-me em direçao a porta da loja. — Tome um banho ou algo assim. Voce precisa relaxar.

Oh cara. Um banho. Agua tao quente que quase nao aguento. Velas e um bom livro. Isso soa como o paraıso... — Um banho parece bom.

— Tome um uısque. Ou coma um bolo. Comer bolo na banheira sempre me faz sentir melhor.

— Bolo na banheira? Mas torta...

— Entao pegue uma torta. Faça isso. Conie em mim.

— Qualquer coisa que voce mandar. — Eu envolvo meus braços em torno dela, apertando-a com força. — Obrigado, Caroline. Nao sei o que faria sem voce as vezes. Estou tao feliz que voce disse sim ao salario insigniicante.

Ela ri, me abraçando de volta. — Eu tambem. Agora va para casa.

— Eu pensei que eu fosse o chefe por aqui...

— Hoje nao. Eu te ligo amanha. — Ela praticamente me empurra para fora da porta, fechando a tranca atras de mim.

— E melhor voce se lembrar de desbloquear isso!

Ela revira os olhos, acenando para mim.

Respiro fundo e me viro em direçao ao meu predio, que ica a cinco quarteiroes de distancia.

Lar. Um bom banho. Um copo de uısque. Todos estao chamando meu nome.

Primeira parada, torta.

— Morris! Desça daı agora!

Miau. — Sim. Miau.

—Eu sou sua Dona. E melhor voce me ouvir, rapaz. Miau.

— Droga, Morris! Voce vai cair, enlouquecer e estragar toda essa experiencia para mim.

Isso e o que a minha vida se tornou, discutir com o meu gato enquanto eu tomo um banho, com uma fatia de torta na mao.

O merdinha inalmente pula para baixo, apenas para pular no vaso sanitario e em seu lugar favorito no apartamento: a pia do banheiro.

Ele mia de novo.

— Bom. Estou feliz que voce encontrou o seu lugar. Agora deixeme relaxar em paz. Juro, eu nunca terei ilhos — eu murmuro. — Se um gato e tao exigente, deve ser mais difıcil com as crianças.

Eu entro na banheira, com cuidado para manter minha torta com segurança acima da agua.

Quando eu estava procurando apartamentos pela primeira vez, o numero um na minha lista de itens obrigatorios era uma grande banheira. Pode parecer um requisito meio futil, mas nada se compara a uma boa imersao quando os demonios que vivem em meu utero tentam me matar uma vez por mes.

Ou quando preciso relaxar.

Como hoje.

Pego minha fatia de torta de maça holandesa do The Gravy Train, a minha segunda torta favorita que eles servem. Eu gemo quando o sabor atinge minha lıngua e afundo na banheira, a agua quente ja fazendo sua magica na tensao que esta começando a parecer permanente.

Maya e Caroline estao certas – Eu trabalho demais. So esta semana, eu coloquei mais de cinquenta horas no Making Waves. Tambem nao e a primeira vez que faço isso neste mes. Me sobrecarregar de trabalho e uma falha minha, uma tatica que uso para evitar tudo o mais que eu nao quero pensar.

E por isso que eu oicialmente alcancei um novo nıvel comendo torta e bebendo uısque na maldita banheira as duas da tarde.

Estou sobrecarregado e sem sexo.

Eu poderia ter consertado aquela coisa de sexo na noite passada com o meu encontro, mas nao havia nenhuma maneira de deixa-lo me levar para casa.

Cheddar. Eca. Um nome tao ridıculo. Eu nao deveria ter tentado provar que Maya estava errada e ir ao encontro para irrita-la porque ele era horrível – e nao apenas por causa de seu (falta de) gosto para tortas.

Nunca conheci uma pessoa mais chata em toda a minha vida.

Achei que talvez ele tivesse uma boa historia sobre seu apelido ridıculo, mas nao era nada mais do que ele se recusar a comer qualquer tipo de queijo alem de cheddar e seus colegas de quarto mexendo com ele por causa disso.

Essa foi a grande historia que ele levou quinze minutos para me contar enquanto esperavamos por nossa mesa, porque ele fez a reserva

para mais tarde do que combinamos. Seu raciocınio era: “Você sabe... porque as mulheres.”

Seu comentario misogino, juntamente com ele ser mais chato do que assistir tinta secar, me deixou ciente que eu nao iria a outro encontro com ele.

Foi quando mandei uma mensagem para minha mae para me tirar de la.

Eu mal esperei ate que estivessemos em uma mesa – aquela em que ele derramou sua bebida congelada.

Eca.

Ok, entao talvez eu tenha que parar de tomar decisoes precipitadas para me livrar desses encontros, mas pelo menos eu sei o que eu quero e nao vou me contentar com pouco.

Eu dou outra mordida na torta de maça, tentando me fazer sentir melhor sobre a minha incapacidade de encontrar um cara normal para namorar.

Talvez eu deva desistir.

Eu tenho bons amigos e meu negocio esta prosperando. Estou feliz onde estou na maioria dos dias. Nao ha razao para balançar o barco... mas cara, eu gostaria que alguem balançasse meu barco.

— Pare de reclamar de sua lamentavel vida sexual, River. Voce deveria estar relaxando, nao reclamando e gemendo. Este e um momento de calma, de paz. Relaxar. Des–

— STILL LIKE THAT OLD TIME ROCK ’N’ ROLL!

— Oh, Jesus amado!

Eu pulo e minha preciosa fatia de torta de maça voa.

E cai bem na agua do meu banho.

— Voce esta falando serio?! — Eu grito, olhando para a parede que esta vibrando com a musica horrıvel batendo no apartamento ao lado do meu.

Dean... de novo!

E a mesma coisa que aconteceu da ultima vez que tomei banho –ele estragou tudo como estragou tudo de bom em minha vida. Eu aposto que eu seria dez vezes mais relaxada, se eu nao tivesse ele como um vizinho.

Eu cansei. Estou completamente farta. Me empurro para fora da banheira, a agua espirrando para os lados, mas nao me importo.

Eu estou chateada. Furiosa. Absolutamente cansada de Dean Evans.

— Voce quer ouvir a merda que a nossa mae esta tentando fazer agora?

— Eu preciso de uma maldita cerveja para isso — eu murmuro enquanto coloco minha chave na fechadura e destranco a porta do meu apartamento.

Nao me importo que sejam apenas duas da tarde; o tom da voz da minha irma cheira a desespero, e eu sei que estou prestes a ouvir alguma merda.

— Diga-me quando estiver pronto. — Eu a ouço tomar um gole do que so posso presumir que seja um vinho da tarde, porque conheço minha irma.

— E triste que ja estejamos bebendo tao cedo.

— Ei! Estou no brunch. Nao ha problema em beber durante o dia, se voce chamar isso de brunch.

— As duas da tarde ainda sao brunch?

— Se me permite beber mimosas durante o dia, entao sim. Eu a imagino sorrindo vitoriosamente. — Voce ja esta pronto para isso?

— Deixe-me colocar Leo de volta em seu terrario primeiro. Equilibro o telefone entre a orelha e o ombro enquanto o coloco na bancada, abrindo as travas de sua cabana movel. — Acabamos de voltar do parque.

— Ah, como esta meu amiguinho?

— E o Leo – um merdinha.

— Como pode uma tartaruga ser um merdinha?

Acredite em mim, Holland. — Eu o pego e o coloco em sua casa. — Ele e travesso como o diabo.

—Voce nao parece excentrico, Dean.

—Bem, merda. Eu me sinto muito melhor ouvindo isso de voce.

—Eu não sou excentrica.

— Voce tem tipo, quatro gatos… — Eu faço meu caminho para a cozinha, usando meu cotovelo para abrir a torneira. Eu uso o mesmo

4 DEAN

cotovelo para bombear sabao em minhas maos e lavo como se estivesse me preparando para uma cirurgia. Nenhuma salmonella vai me pegar.

— Eles sao gatos adotivos, seu... seu... idiota!

— Os alunos do quinto ano tem respostas melhores do que essa.

— Isso e porque eles sao todos jovens e modernos. Eu sou velha e nao estou na moda.

Eu rio, desligando a agua e pegando o pano de prato pendurado na beirada da pia para secar minhas maos. — Ninguem fala mais que esta na moda, Holland.

— O que prova meu ponto.

— Voce e mais jovem do que eu.

— Por quinze meses! Isso nao conta.

— Isso conta, irmazinha. — Pego o telefone com a mao novamente e estico a dobra que se forma no meu pescoço. Abro a geladeira e pego uma cerveja.

— Isso sao garrafas que eu ouço tilintar?

— Essas sao as minhas cervejas de brunch, sim. — Eu seguro a garrafa contra o abridor que coloquei na geladeira. — E esse e o som da garrafa de cerveja do brunch se abrindo. — Eu abro a tampa e imediatamente tomo um gole forte. Inclinando minhas costas contra o balcao, cruzo uma perna sobre a outra. — Tudo bem, garota, vamos ouvir. O que nossa mae fez agora?

— Voce se lembra de Brett Johnson do colegio?

— Aquele cara que encontrou uma maneira de trazer sua madrasta a tona em todas as conversas e isso começou a se tornar muito assustador? Infelizmente sim.

— Mais que assustador. Acabei de icar cara a cara com a mamae, e adivinha com quem ela me arranjou?

— Nojento. Por que?

— Porque ela me odeia, e por isso.

— Mamae nao te odeia. E apenas óbvio que eu sou o favorito dela.

Minha irma ri levemente, mas sei que esse conhecimento doi, porque me doi tambem.

Nossos pais nao receberam o memorando “voce nao deve escolher favoritos”.

Eu sou o favorito da mamae e Holland e deinitivamente a do papai.

Nos percebemos isso cedo e nos acomodamos na realidade, prometendo um ao outro nunca deixar que isso se interpusesse entre nos. Ao contrario de muitos irmaos, Holland e eu nos damos bem como duas ervilhas numa vagem. Nos nao tınhamos escolha a nao ser nos apoiarmos um no outro crescendo na nossa casa. Sempre pareceu que nossos pais eram mais divorciados do que casados. Era difıcil navegar e seu favoritismo nao ajudava em nada para ajudar a aliviar as tensoes.

Ainda assim, nunca permitimos que eles afetassem nosso relacionamento. Alem de meu amigo de infancia Nolan – e acho que Leo, embora eu nunca diria isso a ela – ela e minha melhor amiga.

— Voce vai sair com ele?

— Eu tenho escolha? — Ela geme. — Voce sabe que a nossa mae vai me culpar de qualquer maneira. Pelo menos ela nao me armou com Sutton Barnes — ela resmunga.

Mesmo que ja façamos isso ha anos, ainda sorrio quando ela chama a mamae de nossa mae.

— A menos que… — Holland esta levando a conversa exatamente para onde eu pensei que ela faria.

Ah, entao é por isso que voce ligou – para me pedir para convencer a mamae a deixar voce fora deste encontro.

— E porque voce e meu irmao favorito.

— Uh-huh. — Eu tomo outro longo gole da minha cerveja.

— Por favor, Dean? Por favorzao? Eu nao quero ir nesse encontro porque tenho noventa e nove por cento de certeza de que esse cara esta comendo a sua madrasta. O motivo que a mamae me colocou com ele esta alem da minha compreensao.

— Ola, o sobrenome dele e Johnson. Voce sabe que a conta bancaria dele e grande e a mamae meio que... bem...

— Materialista? Sempre procurando uma maneira de subir na escala social, mesmo que isso signiique colocar seus ilhos em perigo? Um monstro?

— Holland...

— O que? Voce sabe que nao estou errada, Dean.

A parte triste e que ela esta certa. Nossos pais nao sao pessoas horrıveis. Eles estao apenas... obcecados por dinheiro.

Quando eu tinha treze anos, tiramos a sorte grande. Meu pai ganhou na loteria real e recebeu o pagamento de cerca de cento e cinquenta milhoes. Muito dinheiro para quase qualquer pessoa, mas era especialmente muito dinheiro para nos, uma famılia de quatro pessoas vivendo de salarios bem magros. Nos nao moravamos em The Heights –o bairro que parecia gerar nada alem de criminosos – como Nolan, mas estavamos certos na linha.

O dinheiro veio na hora certa e papai foi inteligente com seus ganhos. Ele reservou o suiciente para a faculdade para mim e para a Holland, depois investiu o resto em uma ideia de negocio que vinha arquitetando ha anos.

Funcionou e, no primeiro ano, ele recuperou o dobro do que havia investido.

Antes que percebessemos, estavamos nos mudando e começando a estudar na parte rica da cidade.

— Quero dizer, sim, voce esta meio certa — eu concordo. Exceto pela parte do monstro. Mamae nao quer te arranjar. Ela apenas–

— Quer eniar o nariz onde nao pertence? Como na minha vida amorosa?

Eu ri. — Isso. Se isso faz voce se sentir melhor, ela faz comigo tambem.

— E veja como isso acabou para voce!

Ela se refere ao meu ultimo relacionamento, que terminou em desastre e minha mudança para uma cidade diferente.

Holland pigarreou. — Desculpa. Eu nao deveria ter dito isso. Mas... isso signiica que voce vai me ajudar a sair dessa?

Eu quero minha irma namorando um cara que esta obviamente preso em sua madrasta? Nao.

Eu vou me dobrar para tira-la deste encontro? Tambem nao.

Mas vou falar com nossa mae e tentar faze-la ceder. Holland ja tem o suiciente com o nosso pai governando sua vida. Ela nao precisa adicionar a intromissao de nossa mae a mistura.

— Verei o que posso fazer. Voce sempre pode simplesmente nao ir, sabe disso.

— E decepcionar a nossa mae de novo? Ela ainda esta com raiva de mim depois da nossa ultima briga, acho que nao.

— Nao consigo imaginar que estar do lado ruim da mamae seja pior do que estar na lista de merdas do papai.

Que e exatamente onde estou e estive pela ultima vez... bem, sempre, ao que parece.

— Eu nao sei – eu nunca estive la.

— Deve ser legal. — Eu me empurro para fora do balcao e jogo minha garrafa de cerveja vazia na lixeira. — Falando no papai... quando voce vai perguntar a ele sobre a promoçao?

— Hum ... nunca. Ele nunca vai aceitar.

— Nunca se sabe. Nao custa tentar. Alem disso, seria bom. Voce poderia se mudar para ca e fugir daquela cidade, Holland. Isso nao e bom. Suga, mastiga e cospe tudo errado.

— Sabe, quando voce diz coisas assim, esta insinuando que nossos pais nao sao bons, certo?

— Mamae está se intrometendo em sua vida amorosa quando voce tem quase trinta anos.

— Dean… — Seu tom me diz para desistir.

E a mesma velha luta que travamos ha anos. Eu fui inteligente o suiciente para fugir enquanto ainda podia, mas nao a Holland. Meu pai a tem sob seu controle porque ela se sente em dıvida com ele por algum motivo. E por isso que ela ainda vive naquela comunidade infestada de babacas e ainda trabalha como secretaria dele, embora mereça um cargo melhor na empresa.

Como nao estou com vontade de discutir hoje, mudo de assunto a conversa.

— Quando e o seu encontro?

— Sexta-feira a noite.

— Olha, vou ligar para a mamae hoje a noite e ver se posso começar a falar docemente com ela para cancelar.

Ela grita alto no telefone. — Obrigada, obrigada, obrigada. Voce e o melhor irmao mais velho que uma garota poderia pedir.

— Lembre-se disso da proxima vez que eu precisar de algo.

— Por favor, voce sabe que eu sempre cuido de voce, Deanie Weenie — ela brinca.

Eu gemo com o uso do apelido que odeio.

— Agora voce esta abusando da sorte.

— Voce so esta bravo porque nao tem um apelido para me torturar.

Verdade.

— Que seja. Olha, eu tenho que ir. Preciso tomar banho. Estou nojento por ter icado no parque e preciso fazer meu almoço. A torta que eu comi esta manha simplesmente nao me encheu.

— Torta para o cafe da manha de novo?

— Diz a garota bebendo suco de laranja e champanhe.

— Mimosas sao totalmente uma comida para o cafe da manha! Torta nao e.

— Entao por que o Gravy Train vende no cafe da manha? — Eu retruco.

— Em primeiro lugar, esse nome e totalmente ridıculo, e voce sabe disso. Em segundo lugar... voce foi ao restaurante para o cafe da manha, nao foi? Por favor, me diga que voce nao torturou sua vizinha de novo.

Eu sorrio. — Eu nao torturei minha vizinha de novo.

— Mentiroso! Voce deveria ser legal com ela, Dean. Ela e uma garota muito doce. — Como voce sabe? Voce nunca a conheceu.

— Ela mora ao seu lado e de suas travessuras desde o ano passado e ainda nao te matou. Isso e uma grande indicaçao de que ela e muito legal.

Tento nao revirar os olhos sobre o fato de que outra pessoa –nada menos que minha propria irma – esta do lado de River.

Alguma vez eles pararam para pensar que eu torturo River porque ela e ma comigo sem motivo?

Claro, provavelmente estou muito velho para agir como um jovem, mas ela traz isso a tona em mim. A ferida de River esta muito apertada. Ela precisa aprender a relaxar e parar de levar tudo tao a serio. Ela esta se desgastando e descontando em todos os outros.

Vou levar isso em consideraçao na proxima vez que estiver planejando alguma vingança.

Holland nao se incomoda em esconder seu suspiro de cansaço. — Voce e demais, irmaozao

— Eu sei disso, irmazinha. Amo voce, garota.

— Tambem te amo... Deanie Weenie!

A linha ica muda.

Pirralha.

Depois de um banho rapido no chuveiro, estou de volta a cozinha retirando os ingredientes para um farto sanduıche de peru grelhado, bacon e queijo. Pego a frigideira do armario ao lado do fogao e ligo o fogo. Preciso que esse bebe se aqueça imediatamente. Estou faminto.

— Robo cantor! — Eu chamo meu dispositivo inteligente. Toque minha lista de reproduçao de Musica Matinal.

O Old Time Rock & Roll de Bob Seger zumbe baixinho pelo apartamento, e meu humor melhora instantaneamente.

Pego duas fatias de pao e coloco manteiga em cada um. Eu colocando peru e queijo, em seguida, coloco minha mao sobre a assadeira, para ver se esta pronto para o bacon.

— Vamos, panela. Voce sabe que estou morrendo de fome. — Eu balanço minha cabeça quando percebo que estou falando com um objeto inanimado. — Posso estar icando louco. Eu deveria pegar outra cerveja.

Pego outra na geladeira e abro a tampa. Eu normalmente nao bebo tao cedo, mas hoje estou dizendo foda-se.

Provavelmente e apenas o calor que me faz sentir tao cansado, mas este dia parece que esta durando cerca de dez anos.

Ou pode ser por eu ter falado com a minha irma. Ou lidando com River esta manha.

Ela sempre tem esse efeito em mim.

Quando a panela inalmente esta pronta, coloco algumas fatias de bacon e deixo que façam o que querem. A gordura começa a chiar e o cheiro faz meu estomago roncar.

Me viro ate a pia e abro a torneira para começar a enxaguar a faca e limpar a pia. Aprendi bem cedo, quando comecei a viver sozinho, que se nao limpar a medida que estou cozinhando, nunca vou terminar.

Nao sou um desleixado, mas poderia melhorar em algumas areas. Tento manter um apartamento limpo para o caso da minha mae decidir fazer uma de suas visitas surpresa – como ela fez na semana passada, quando me atacou por ter uma caixa de pizza na mesa da sala de estar.

— ...acalma minha alma — eu canto baixinho enquanto limpo. — Eu me lembro– Leo, acho que nunca vou me cansar dessa musica. E um maldito classico, nao e?

Ele nao responde.

Nao que nao esteja ouvindo, mas porque ele e uma tartaruga. Se ha uma coisa com que posso contar com o Leo e como ouvinte.

Ou pelo menos e o que digo a mim mesmo quando estou falando com ele sozinho dentro do meu apartamento como um maluco.

Estar sozinho nao me incomoda. Eu preiro assim. E por isso que iz tudo o que pude para fugir o mais rapido possıvel. Bem, isso e as pessoas – os cretinos ricos que dirigem o lugar e pegam o dinheiro da mamae e do papai.

A escola particular para a qual meus pais nos mandaram depois que tiramos a sorte grande nao era para mim. Os alunos eram todos idiotas elitistas, e tudo o que os professores faziam era beijar suas bundas.

No inal de tudo, acho que devo agradece-los. Eles sao um grande motivo pelo qual eu queria me tornar um professor. Se eu puder salvar algumas crianças de se sentirem tao perdidos quanto eu, icarei feliz.

E e isso que sou: feliz.

Eu ligo meu dispositivo inteligente, deixando as musicas me lavarem, e tomo um gole saudavel da minha cerveja.

— Ahh, muito melhor.

Eu estalo meus labios, em seguida, veriico o bacon. Esta quase pronto. So mais alguns minutos e entao poderei preparar o resto do meu almoço e partir para o paraıso do sanduıche.

Pego o pano de prato para me ocupar e começo a limpar as migalhas ao lado do fogao.

BANG, BANG, BANG!

Varios golpes fortes acertam minha porta da frente.

— O que…

Eu jogo o pano em direçao ao balcao e vou ate a entrada.

Eu olho atraves do olho magico, mas quem esta la fora esta cobrindo.

Aquilo so pode signiicar uma coisa…

— Que porra e essa, River? Eu abro a porta. — Por que voce esta batendo na minha porta como se fosse a polıcia. Eu estou–

Minhas palavras morrem na minha lıngua quando eu dou uma olhada nela.

River White esta diante de mim em nada alem de uma toalha. Uma pequena toalha.

Tipo tao pequenininha que tenho certeza de que se ela se inclinar, eu veria tudo.

E caramba, eu quero faze-la se curvar. Suas pernas curtas parecem longas no pedaço de tecido e abraça todas as suas curvas, nao deixando nada para a imaginaçao. Os longos cabelos ruivos que geralmente caem nas costas estao presos em um grampo. Sua pele esta umida, como se ela tivesse acabado de sair do banho e nao se secasse adequadamente.

Merda. Agora estou imaginando River no chuveiro...

— Serio? — Seu tom frio me tira da minha fantasia.

Ela cruza os braços sobre o peito amplo, a pequena toalha subindo com o movimento. Seus olhos castanhos estao ixos em mim, formando fendas inas.

River nao esta aqui para me mostrar o quao sexy ela ica com quase nada.

Ela esta chateada e procurando uma briga.

Novamente.

Eu sorrio, encostado no batente da porta.

— River — eu digo friamente. — A que devo — eu sigo meus olhos para cima e para baixo em seu corpo — este prazer?

— Sua musica horrıvel de gente velha arruinou o meu banho... de novo!

Eu rolo meus olhos. — Nao estava tao alto.

— Nos ja passamos por isso varias vezes, Dean. Seu alto e meu alto sao duas coisas diferentes, especialmente quando as paredes sao inas.

— Se elas fossem inas, eu seria capaz de ouvir as suas musicas atraves delas.

— Eu nao escuto musica.

— O que voce quer dizer com nao escuta musica?

— Quer dizer, eu nao escuto. Eu nao sou uma pessoa de musica. Mas esse nao e o ponto. A questao e–

— Voce nao gosta de musica? — Eu enrolo meu labio. — Não é uma pessoa de música? Entao voce e um monstro?

— Nao ouse tentar me tornar um vilao. Você é o idiota nesta situaçao.

— Porque estou ouvindo musica. Isso soa muito parecido com o enredo de Footloose para mim...

— Footloose e sobre dança.

— Nao estou dançando para voce, River.

— O que? Eca! — Ela geme, jogando a cabeça para tras, a toalha escorregando pelos seios apenas uma fraçao de centımetro. — Eu nao quero que voce dance para mim. Preiro cortar meu dedao do pe com uma colher enferrujada do que ver voce dançar.

— Isso nao e verdade. Voce nunca me viu dançar – eu poderia ter alguns movimentos doces.

— Eu duvido muito, muito disso. Nao ha nada de doce em voce.

— Oh, River, discordo.

— Implore o quanto quiser. E a verdade. — Ela me lança um olhar penetrante. — Basta abaixar a merda da musica, Dean.

— Voce sabe o que? Nao. Eu nao acho que vou.

— Se voce nao izer isso, eu vou–

— O que? Reportar-me a Lucy? Por favor. Essa mulher me ama. Ela nunca faz nada com as reclamaçoes futeis.

— Ela deveria levar a serio. Este edifıcio estaria muito melhor sem gente como voce.

— Com voce estando aqui? Ate parece.

— Fala serio. Voce e o incomodo aqui, nao eu.

Eu levanto uma sobrancelha para ela. — Diz a menina que dedura constantemente os vizinhos. Ate meus alunos sabem que dedurar nao e legal.

— Eu nao deduro, mas agora que voce mencionou, me sinto pessima por aquelas pobres crianças desorientadas que tem que sofrer durante o ano letivo com você como professor.

— Para que voce saiba, sou um excelente professor.

Ela bufa. — Assim como voce e um excelente dançarino.

— Sabe, estou começando a achar que o motivo pelo qual voce veio aqui foi para mostrar essa sua toalha minuscula. Alguem tem uma agenda sexual comigo?

— O que? Nao! Voce esta seriamente louco! Completamente maluco pra caralho.

— Acontece que acho que estou perfeitamente sao. Seus olhos fecham para fendas ameaçadoras enquanto ela da um passo em minha direçao. Eu icaria apavorado se ela nao fosse 20 centımetros mais baixa do que eu... e me excitasse tanto. — Abaixe. A. Musica.

Eu invadi seu espaço de volta. — Nao.

— Abaixe isso, Dean.

— Me obrigue.

— Ok.

Ela e rapida; Eu vou dou esse merito a ela.

River passa por mim como se eu nao fosse um obstaculo, correndo para o meu apartamento.

— Cade?

— Filha da... — Eu a sigo.

— Onde esta a sua caixa – FOGO! Incendio! Incendio! Incendio!

— O que? — Eu mal paro de rebater ela quando o cheiro me atinge. — Merda! Incendio!

Pego a mangueira de spray conectada a pia e aponto para o fogo.

— Nao! Nao! Agua –

Eu jogo.

E tudo vai para o inferno em um minuto.

As chamas lambem o fogao, a toalha que esta se desintegrando em nada e sobem pela parede. Parece que acontece em menos de dois segundos.

— Seu idiota! — River me puxa para voltar. — Agua e gordura nao combinam bem juntos!

— Por que voce nao me disse isso antes?

— Eu tentei! Por que voce nao sabe disso?

— Pare de discutir e ligue para o 911.

Ela sai correndo do apartamento e eu vou para o sofa, puxando um cobertor pelas minhas costas, jogando-o sobre o fogo.

Parece funcionar... por um momento.

Em seguida, as chamas explodiram atraves do material. Precisamos sair daqui imediatamente.

— Precisamos ir agora! — River grita quando ela volta correndo, ecoando meus pensamentos. Ela me puxa, tentando me puxar para fora do apartamento. — Vamos! Mova-se!

— Espere! Eu preciso pegar Leo.

— Oh meu Deus! SE APRESSE!

Eu me movo como um raio, tirando Leo de seu terrario e de volta para sua cabana em movimento. — Desculpe por voce estar de volta aqui, amigo. Estou apenas tentando salvar a sua vida.

Voce vai parar de falar com sua tartaruga e tirar ela daı? Eu realmente nao quero morrer aqui com você.

— Por que voce ainda esta aqui? — Eu atiro de volta para ela. — Esta preocupada com a minha segurança?

— Porque sou uma boa pessoa.

— Duvido disso. — Eu fecho a tampa. — Feito. Vamos. — Eu estendo minha mao para ela, e ela zomba disso.

— Por favor. Estou não segurando a sua mao, Dean.

Eu a ignoro e agarro a sua mao de qualquer maneira, puxando-a do apartamento e longe do fogo ainda crescente.

— Espere!

Paramos e River estende a mao para o alarme de incendio, puxando-o para baixo.

Ela sorri para mim. — Sempre quis fazer isso.

Ela pressiona seu aperto em mim, e eu ja posso ouvir as sirenes do lado de fora enquanto tento ignorar a maneira como gosto da sensaçao da sua mao na minha.

— A boa notıcia e que quem jogou o cobertor nas chamas ajudou a conter o fogo e ele nao se espalhou pelo apartamento.

Soltei um suspiro pesado. Visto que eu sou sua vizinha de porta e seria a mais provavel de sofrer danos, estou aliviada com as palavras do bombeiro.

— Ha! — Dean aponta para mim como se ele fosse o homem mais inteligente do mundo, sentindo-se ainda mais orgulhoso de si mesmo por ajudar a conter o fogo que começou.

— Mas quem jogou agua na gordura nao era muito inteligente e poderia ter queimado o predio inteiro.

Eu nem me incomodo em tentar esconder o meu sorriso enquanto Dean se encolhe, cheio de vergonha.

Bom. Idiota.

Quem nao sabe que a unica coisa que voce deinitivamente não pode fazer e jogar agua em uma panela com gordura?

E pensar que ele esta ensinando nossos jovens...

Porem, se eu estou sendo cem por cento justa... Eu nao sabia disso ate que eu também joguei agua em uma panela com gordura e quase queimei minha propria casa.

Suponho que Dean e eu agora tenhamos algo em comum.

Tecnicamente, duas coisas: incendios por causa de gordura e torta.

Mas nao estou dando a ele a satisfaçao de jamais admitir meu erro em voz alta.

Dean olha para o bombeiro. — Quais sao as mas notıcias?

— Voce queimou seu apartamento.

— Estou completamente ciente. — Seus dentes rangem, mandıbula apertada de frustraçao. — Eu quis dizer–

— Isso e uma tartaruga? — o bombeiro interrompe, apontando para Leo, que esta sentado entre nos em sua cabana na parte de tras da ambulancia. — Havia algum outro animal de estimaçao dentro do apartamento?

5 RIVER

— So o Leo aqui.

— Voce chamou sua tartaruga de Leo? — O homem bufa. — Que original.

— Obrigada! — Eu jogo minhas maos para cima. — Foi o que eu disse!

— Na verdade, o nome dele e Tolstoy.

— Uh-huh. Tenho certeza de que era isso que voce pretendia e nao acabou de inventar isso depois de nomear sua tartaruga com o nome da Tartaruga Ninja e as pessoas zombaram de voce por isso.

— Eu nao tenho que responder a voce, especialmente quando esta vestida como uma batata cozida. — Os olhos de Dean descem pelo meu corpo.

Eu nao tenho os mesmos arrepios que tive quando ele passou aquele olhar sobre o meu corpo coberto por uma toalha antes. Os cabelos do meu braço nao vao icar em pe, e todo o meu corpo nao vai formigar com algo que eu nao sinto ha muito tempo.

Nao. Agora, estou mortiicada.

Eu pareço ridıcula.

Como a idiota que sou, tao envolvida em minha raiva de Dean, corri ate a porta ao lado para gritar com ele em nada alem da minha toalha.

Quando percebi, era tarde demais para voltar atras. Ele estava abrindo a porta, e eu nao sou de desistir de um desaio – nao importa o quao ridiculamente vestida eu esteja.

Entao aconteceu o incendio, e a ultima coisa em minha mente foi vestir uma roupa. So queria sair do predio em chamas porque a ultima pessoa que quero morrer ao lado e ele.

Agora estou parada na parte de tras da ambulancia, enrolada em um cobertor parecido com um traje espacial, parecendo uma idiota, enquanto nossos vizinhos nos encaram por estragar o dia deles.

Fico feliz que Caroline esteja no trabalho e nao esteja por perto para testemunhar isso – embora eu tenha certeza de que Cooper, que esta tentando ao maximo conter um sorriso malicioso, contara o desastre em detalhes completos.

Eu aceno e ele inclina a cabeça para o lado.

Você está bem? ele murmura, como o cavalheiro que ele e.

Eu atiro para ele um polegar para cima e ele sorri, aceitando minha resposta.

Como posso sentir seus olhos em mim, eu olho para Dean, que esta olhando para mim com um olhar que nao consigo decifrar.

— O que?

Me ignorando, ele se volta para o bombeiro.

— Qual e o dano?

— Seu apartamento esta queimado. — O bombeiro ri quando o rosto de Dean se contorce de frustraçao. — Eu so estou brincando com voce, garoto. As vezes voce tem que encontrar uma maneira de rir em um trabalho tao difıcil como este.

Ele nao responde, apenas encara o primeiro a responder com olhos desinteressados.

O cara pigarreia. — Bem, como eu disse, o fogo foi semi-contido, muitos dos danos sao para a cozinha. No entanto, por causa do conceito aberto do apartamento, meus homens relataram que parte da sala de estar tambem foi daniicada.

— E o terrario do Leo?

— A casa do seu aspirante a Tartaruga Ninja esta intacta.

Dean solta um suspiro aliviado, um que tenho certeza que ele esta segurando desde que fugimos do predio. Nao consigo imaginar que a casa do Leo seja barata e, como minha mae era professora, estou mais do que ciente de como ele ganha pouco.

— Eu estou feliz em ouvir isso. Estou feliz que Leo esta bem. Lucy faz todo mundo pular, aparecendo do nada, como ela sempre faz.

— Aw, merda. Lucy, eu estou tão arrependido. Eu nao... eu nao estava pensando. River veio invadindo meu apartamento para me encher com mais uma reclamaçao sobre o barulho, quando tenho certeza de que ela estava apenas sozinha e precisava de companhia, mas estava com medo de perguntar. Eu–

— Seu bundao! — Eu grito com ele, tentando nao bater na cabeça dele.

Ele apenas sorri para mim, e eu me encolho.

Tenho certeza de que aparecer de toalha nao ajudou em nada, mas nao era isso que eu estava fazendo ali.

Dean arruinou mais um dia meu – primeiro roubando minha torta, depois me deixando toda irritada e estressada quando ja estou estressada. Em seguida, ele teve que estragar meu banho. A única coisa que eu tinha a meu favor hoje, ele estragou tudo.

Tudo isso e culpa dele, e me recuso a assumir qualquer parte da culpa por isso.

Nao. Nao vai acontecer.

Sempre.

Lucy da um tapinha no ombro de Dean. — Nao se preocupe, querido. Estou feliz que todos estejam bem, o dano foi contido e o apartamento abaixo de voce estava vazio. Vamos deixar o seguro cuidar de tudo. — Os cantos de seus labios se inclinam para baixo. — Lamento por voce ter que encontrar um novo lugar.

— O apartamento nao esta habitavel?

— Esta. No entanto, como sındica, não posso permitir que voce ique la, para a sua segurança. Tenho certeza que voce entende.

O rosto de Dean cai, toda a cor desaparecendo em um lash.

Seus ombros caem quando a realidade de tudo começa a se estabelecer.

— Eu vou segurar o apartamento para voce assim que as coisas voltarem ao bom estado — Lucy diz a ele.

— Oh inferno. Puta que pariu. Onde vou morar? Jamais voltaria para a casa dos meus pais, e a casa do meu melhor amigo e muito pequena para nos dois e Leo. — Seus olhos se arregalam de medo. Leo! Ah, merda, merda, merda. Eu poderia ir para um hotel, mas... oh, inferno. Merda. Estou completamente ferrado. Eu–

— Dean — Lucy diz com aquela voz suave dela enquanto ele engole o ar. — Nos vamos arrumar isso. Apenas respire. E relaxe...

— Relaxar? Eu nao consigo relaxar, Lucy! Eu quase queimei todo o seu predio!

— Oh, querido… — Ela o encara apenas a alguns metros de distancia, falando baixinho, tentando fazer com que ele se acalme.

O bombeiro assovia. — Estou neste negocio ha tempo suiciente para saber que o seguro pode ser lento como o diabo. Pode ser alguns meses difıceis para ele.

Meses? Dean poderia estar fora do seu lugar por tanto tempo? E o Leo tambem?

Merda. Isso me faz sentir mal por Leo.

E

acho que Dean tambem. Mas apenas por padrao.

— Droga. Vamos dar uma pausa para ele. — O cavalheiro balança a cabeça e se vira para mim, apontando o polegar para sua tripulaçao. — Vou enviar um dos meus homens para terminar de tomar as suas declaraçoes. Basta me avisar se precisar de mais alguma coisa.

— Obrigada — murmuro, atirando-lhe um sorriso rapido, em seguida, desviando meu olhar de volta para a cena na minha frente.

E difıcil tirar meus olhos de Dean.

Ele se eleva sobre Lucy, com a cabeça entre as maos enquanto ela fala com ele em voz baixa.

Ele esta mais chateado do que eu ja o vi antes – e isso inclui a vez que seu time de futebol perdeu o grande jogo... ou seja la o que foi que ele chorou por uma semana.

Tenho certeza de que tudo que esta por vir nos proximos meses esta passando por sua cabeça em um loop, incluindo a escola de verao, que ele esta programado para começar a lecionar em algumas semanas.

Uma sensaçao incomoda começa na base da minha espinha e desliza pelo meu pescoço.

Besteira.

Talvez eu esteja me sentindo mal por ele, e nao apenas porque ele e o dono de Leo.

Eu gosto do pequeno Leo, nao que eu va admitir, e nao quero que Dean tenha que desistir dele so para ter um lugar para icar. Isso nao e justo para nenhum deles.

Eu tenho um quarto vago...

Nao! Isso e ridıculo.

Nao posso deixar que Dean ique comigo. Nao ha absolutamente nada de bom que possa resultar disso. Vamos nos matar.

Nao ha como sobrevivermos.

Mas Leo...

— Ele pode icar comigo!

Eles giram a cabeça na minha direçao, e coloco minha mao sobre a boca enquanto minhas palavras sao registradas em meus proprios ouvidos.

O que diabos eu acabei de dizer?

Dean levanta aquela sobrancelha que ele sempre levanta, inclinando a cabeça para o lado. Eu odeio essa sobrancelha. — O que e que foi isso?

— Voce pode icar comigo.

Não! Pare de falar, River!

— O que?

Eu gemo, puxando meu traje espacial mais apertado em torno de mim, de repente me sinto mais exposta do que quando tudo que eu tinha cobrindo meu corpo era a menor toalha do mundo.

— Nao me faça dizer isso de novo, seu idiota.

— Nao, eu nao acho que entendi voce. Eu–

— A menos que sua cabeça esteja cheia de tanta fumaça quanto seu apartamento — Lucy fala, fazendo-o se encolher — voce a ouviu perfeitamente bem, querido.

Ela se move em minha direçao, batendo palmas com um sorriso nos labios que eu decididamente nao gosto. — É uma ideia maravilhosa, River.

— Voce nao pode estar falando serio. — Dean chega ao lado dela. — Nao tem como voce estar falando serio.

— Eu estou.

Puta merda.

Eu estou falando serio.

Estou disposta a deixar Dean icar comigo.

E apenas um mes ou dois, certo? Tenho certeza de que posso evitar mata-lo por tanto tempo.

— Voce esta me zoando? Ashton? Ashton Kutcher? Voce pode sair agora!

Eu franzo meus labios. — Sim, porque eu trouxe Ashton Kutcher aqui para ferrar com voce e nao para ferrar com ele eu mesma. Em seus sonhos, idiota.

— Isso estaria em seus sonhos.

Eu bufo e Lucy ri.

— Oh sim. — Ela aperta os labios, tentando conter um sorriso. Isso vai funcionar perfeitamente.

— Eu quero um contrato. — Eu aponto para ele. — Como um bom. Um legıtimo. Algo que vai impedir essa ameaça de me libertar pelo resto de seus dias.

— Ha tantas coisas erradas com essa airmaçao. A primeira e que voce realmente acha que eu sou a ameaça.

— Voce e aquele que toca musica muito alto! Isso e exatamente o que colocou voce nessa bagunça!

— Nao, o que me colocou nessa bagunça foi voce andando ate o meu apartamento parecendo sexy em nada alem de uma maldita toalha.

— Voce acabou de me chamar de sexy?

— Voce estava usando uma toalha, River. Uma toalha! Eu sou um homem – eu acharia que ate Lucy icaria sexy em uma toalha! — Dean estremece. — Quero dizer, sem ofensa, Lucy. E que... voce tem a idade da minha avo...

— Nenhuma ofensa tomada. — Ela acena com a mao. — Mas, so para voce saber, eu ico muito sexy em uma toalha.

Ela balança as sobrancelhas e os olhos de Dean crescem para o dobro do tamanho normal.

— E-eu… — Ele se debate, tentando encontrar as palavras certas para dizer. — Eu... umm...

Lucy ignora Dean sendo... bem, Dean.

— Voce pode ter seu contrato, River. Vou começar a trabalhar nisso esta noite e acertar tudo amanha de manha. O que precisa acontecer agora e que todos voltem para seus apartamentos e continuem com o dia. Voces dois precisam descansar. Voce teve um longo dia e uma boa noite de descanso e totalmente necessaria. — Ela sorri maliciosamente. — Pode ser a ultima chance de algumas pessoas para isso.

Eu gemo.

— Por que eu odeio absolutamente o jeito que isso soa?

— Porque, querida, provavelmente estou certa. Agora, deixe-me embrulhar tudo com esses bombeiros legais e estaremos todos de volta

para dentro antes que percebamos. Volto logo.

Lucy sai correndo, deixando eu e Dean sozinhos.

Acho que devo me acostumar, porque aparentemente ele vai morar comigo agora.

Por que eu disse que ele poderia icar comigo? Por que eu nao conseguia manter minha boca fechada? Maldito Leo por me fazer sentir mal.

Eu olho para a tartaruga, que nao parece tao feliz por estar de volta em sua cabana.

— Nao de a ele olhos malignos. Ele nao fez nada para voce.

— Porque ele e uma tartaruga, nao uma pessoa.

— Ele tem muita personalidade, o que e mais do que posso dizer de voce. — Ele zomba de mim.

— Eu sou cheia de personalidade – e uma personalidade brilhante. Eu sou um raio de sol do caralho.

— Oh, eu duvido muito disso.

— E assim que voce esta escolhendo falar comigo? A pessoa que e gentil o suiciente para permitir que voce more no apartamento dela quando voce tem um historico de incendio criminoso?

Dean move sua mandıbula para frente e para tras. Ele quer dizer algo sarcastico, mas ele morde a lıngua.

Homem inteligente.

Os bombeiros liberam todos os outros de volta para seus apartamentos. A maioria de nossos vizinhos nos da sorrisos tristes enquanto se arrastam de volta para dentro, mas alguns deles mandam olhares furiosos em nossa direçao.

— Foi tudo culpa dele. — Eu aponto para Dean. — Direcione a sua furia para esse cara.

Dean bate no meu dedo. — Pare com isso. Ja falamos sobre isso: voce me distraiu com...

— Minha toalha – sim, eu ouvi. Voce sabe, voce continua trazendo isso a tona. E quase como se voce tivesse uma pequena queda por mim ou algo assim.

Ele zomba. — Eu ja te disse, eu acharia qualquer um atraente em uma toalha.

— Isso e tudo o que voce precisa dizer a si mesmo para ajuda-lo a dormir no quarto de frente para o meu a noite. Falando nisso... — Eu me levanto da ambulancia, de frente para ele. — Essa coisa toda de voce se mudar e completamente temporaria.

— Eu tambem entendi assim.

— E so ate que seu lugar seja consertado ou voce encontre outro lugar.

Ele estreita os olhos. — Sim, entendi.

— E havera regras.

Ele exala. — Eu imaginei.

— Bom. Eu so quero ser clara.

— Voce esta sendo.

Eu me viro e começo a voltar para o predio – entao algo me atinge.

Dean disse que eu sou sexy.

Uma linha precisa ser desenhada o mais rapido possıvel.

Eu volto para ele, e ele me olha com olhos curiosos.

— Sim, River? — A sobrancelha sobe.

— Voce nao pode tentar dormir comigo.

Ele deixa cair o queixo, surpreso com o que eu disse.

Entao, ele cai na gargalhada.

E nao qualquer tipo de risada. Nao. E do tipo barulhento, o tipo que atrai todos os olhares em um raio de trinta metros.

Isso e exatamente o que esta acontecendo – todo mundo esta olhando para nos enquanto ele se dobra.

— Serio? — Eu fecho a cara, esperando por ele se recompor.

Quando ele inalmente acaba, para respirar, ele esta enxugando os olhos como se estivesse limpando as lagrimas.

— Oh, cara. Obrigado por isso. Eu precisava de uma boa risada. Tem sido um longo dia. — Dean sai da ambulancia, agarrando a cabana de Leo. Ele vem em minha direçao com coniança. — Nao se preocupe, River, nao terei problemas em resistir a voce.

— Nem mesmo com — eu deixo cair o traje espacial — isso?

Os olhos de Dean escurecem no momento em que o cobertor atinge o chao, sua mandıbula apertando com força enquanto suas narinas dilatam.

Ele tenta, eu dou isso a ele.

Mas ele nao pode lutar contra isso.

Lentamente, seus olhos descem pelo meu corpo e, assim como antes, posso sentir seu olhar me acariciando.

Exceto que desta vez, e melhor.

E quase como se eu nao estivesse vestindo nada.

Como se ele pudesse ver tudo de mim.

Ate as partes que eu escondo.

Lamento ter jogado o cobertor de lado por apenas um momento.

Entao o poder passa por mim e, pela primeira vez, durante o joguinho de vai e vem que jogamos no ano passado, sou eu quem esta no controle.

Dean e sempre aquele que da a ultima palavra. Ele e sempre aquele que vai embora, me deixando nervosa e irritada.

Hoje nao.

Nao, eu nao vou dar a ele a satisfaçao

Eu levanto meu queixo, nao recuando. — Parece que pode nao ser o caso, Dean.

Eu me giro no meu calcanhar, deixando-o parado ali olhando para mim.

E eu sei que ele esta encarando.

Porque seu olhar e tao quente quanto o incendio que ele começou.

Estou morando com River ha cinco minutos e ja quero me mudar.

Nao apenas porque ela e a reencarnaçao de Lucifer, da qual tenho noventa e nove por cento de certeza, especialmente depois daquela façanha que ela fez la fora.

Ou porque sou seu inimigo jurado por algum motivo desconhecido para mim.

Nao e nenhuma dessas coisas. E o maldito gato.

Aquele que esta sentado no sofa, rosnando para mim nos ultimos minutos. O mesmo que escapou do apartamento de River pelo menos dez vezes no ano passado e encontrou o caminho para dentro do meu, tentando chegar ate Leo.

Quando tento pega-lo e leva-lo para casa, ele ica agressivo como se eu fosse o unico invadindo seu espaço.

— Morris, seja legal. — River coloca uma das minhas malas perto do sofa, estendendo a mao e coçando entre as orelhas. — Assim que ele te conhecer, vai se acalmar. — Ela faz uma pausa, lançando um olhar na minha direçao. — Bem, talvez nao. Ainal, e você.

— Isso e maneira de tratar um convidado? — Eu coloco a minha outra mala ao lado da primeira.

O bombeiro estava certo sobre os danos do incendio: a maior parte foi contida na cozinha, apenas uma pequena mancha na sala de estar foi queimada.

O maior dano foi o causado pela fumaça. E evidente em todo o apartamento. Eu nao sou um grande fa de manter as portas fechadas –me faz sentir todo fechado – entao isso se espalhou rapido e para longe.

Tenho certeza de que vou ter que lavar todas as roupas que joguei nas malas pelo menos duas vezes, apenas para tirar o fedor.

Um incendio. Um maldito incendio de gordura.

Eu poderia ter queimado o predio inteiro hoje.

Eu poderia ter me machucado. Ou Leo. River.

6 DEAN

Porra, eu sou um idiota.

Eu olho em volta da minha nova sala de estar. Alem de algumas mudanças de cor, como pisos e armarios diferentes, e o mesmo apartamento que eu – tinha – acabado de queimar.

Deve ser um ajuste relativamente facil. Isso e bom, porque eu poderia usar algo facil, considerando que acabei de colocar fogo no meu apartamento e tudo.

Merda. Nao posso acreditar que River, de todas as pessoas, me acolheu.

A casa da minha irma estava uma bagunça, considerando que ela ainda mora em Assholetown.

A casa de Nolan e muito pequena e incompleta. O cara deveria se mudar para um bairro melhor.

E nao ha nenhuma maneira no inferno de eu estar indo para meus pais com isso. Meu pai comeria esse acidente como se fosse bacon, e meu velho adora bacon.

Um hotel teria sido minha unica outra opçao, e teria sido caro. Quando River ofereceu seu lugar, quase disse nao. Eu desembolsaria esse dinheiro apenas para ofender sua bondade. Mas entao o pensamento de pegar minha vida e mudar para um lugar completamente desconhecido por um numero indeinido de semanas, quando tenho tantas coisas para fazer...

E, bem, aqui estou.

Puta que pariu. Eu passo a mao pelo meu cabelo, puxando as pontas com força demais. Mas, merda, quero dizer, quao burro eu sou por me deixar entrar nessa bagunça? Com a minha sorte, isso vai levar meses para consertar. Isso vai atrapalhar completamente a programaçao de Leo, minha programaçao. Foi–

— Ei. — A voz de River interrompe meu panico. — Tudo vai icar bem. Lucy estava certa – ninguem se machucou, e isso e o mais importante. Apartamentos e coisas sao substituıveis. Pessoas e animais de estimaçao nao sao. Apenas se concentre nisso e o resto se encaixara.

Suas palavras sao suaves. Calmante ate, como se ela pudesse ler a ansiedade luindo em minha mente. E o tom mais doce que ela ja usou comigo.

— Uh, obrigado. — Eu levanto a mao, apertando minha nuca. E estranho receber a gentileza de River.

No entanto... e reconfortante.

— De nada. Ela limpa a garganta e aponta para o painel encostado na parede. — Pode colocar Leo aqui se funcionar para voce. Voce vai icar no meu escritorio e nao ha lugar para um tanque la. Vou entrar e reorganiza-lo amanha para que haja espaço para mais do que apenas um colchao de ar. Voce vai ter que dormir no sofa esta noite.

— Eu nao me importo com o sofa. Algumas noites eu desmaio no meu de qualquer maneira. Estou muito grato por ter um lugar para icar.

E e verdade. Mesmo que seja com River.

Ela balança a cabeça e começa a puxar bugigangas do painel, movendo-as para a estante que ocupa a outra parede. — Nao tenho muita comida aqui e estava planejando uma torta para o jantar, entao vamos precisar ir ao mercado tambem.

— Eu posso pagar por isso. Pode ser parte do meu aluguel por icar aqui. O que, de novo, eu agradeço.

Outro aceno curto. — E eu vou precisar passar na loja de ferramentas algum dia para pegar uma chave para voce. Maya tem a minha unica reserva.

Ela se move rapidamente de novo, como se nao quisesse que eu reconhecesse a sua gentileza.

Eu simplesmente nao entendo o porque.

— Qual e o seu ponto?

Ela para seus movimentos, olhando para mim atraves do cabelo ruivo bagunçado que mal consegue icar no grampo em que ela o prendeu. — Desculpe-me?

— Eu disse, qual e o seu ponto? Por que voce esta me deixando icar aqui e entao agindo assim quando eu continuo tentando te agradecer?

Suas sobrancelhas sobem uma fraçao. — E isso que voce esta fazendo?

— Sim.

— Nao parece ser assim.

— Nao e?

Outra migalha.

Eu aperto minha mandıbula. — Obrigado, River. Obrigado por me permitir icar aqui. Nao tenho certeza de como vou te retribuir.

Uma mao no quadril, ela bate o dedo no queixo. — Puxa, eu me pergunto como voce poderia me retribuir. Alem do aluguel, porque eu realmente espero isso. — Ela estala os dedos. — Ja sei! Que tal voce parar de roubar minha torta.

Eu estreito meus olhos. — Nao.

— Parece que alguem vai icar sem-teto, entao.

— Voce realmente acha que estou acreditando que o motivo pelo qual voce esta me permitindo icar aqui e para que eu pare de “roubar” sua torta?

— O fato de que voce acabou de colocar roubo entre aspas...— Ela balança a cabeça, sua raiva e palpavel. — Pare de questionar os meus motivos.

— Entao voce esta admitindo que tem motivos?

— O que? Nao.

— Entao o que e isso?

Ela rosna, jogando a cabeça para tras em frustraçao. — Por que esta analisando tanto? Voce nao pode simplesmente ser grato?

— Isso e o que eu estava tentando fazer, e voce estava sendo indiferente.

— Porque voce esta agindo estranho. — Ela passa por mim e vai ate a estante, colocando outra estatueta nela. Nossa, quantas dessas coisas ela tem?

— Estranho como?

— Eu nao sei... legal.

— Eu sempre sou legal com voce. Eu compro uma torta para voce.

Ela bate a estatua no chao, passando por mim novamente, pegando mais duas e levando-as de volta para a prateleira. — Voce me compra torta porque se sente culpado por pegar a minha. Isso nao e ser legal – isso e estar cobrindo a sua propria bunda.

Ela me pegou...

— Ok, entao pode haver alguma verdade nisso. Mas ainda assim. Eu considero voce uma amiga, River. — Ela bufa. — Talvez nao uma

amiga, mas pelo menos uma conhecida.

Depois de colocar os dois ultimos colecionaveis na prateleira onde ela os quer, ela se vira para mim.

Sua boca carnuda e desenhada em uma linha ina. Mesmo que ela pareça seria, nao posso fazer com que meus olhos nao vagueiam.

Ja sequei bastante a River no passado.

Eu seria um tolo se nao reconhecesse o quao atraente ela e.

Mas depois de ve-la naquela toalha, e como se eu nao pudesse tirar meus olhos dela.

Ela jogou fora seu pedaço de quase nada e trocou por um par de leggings azul-marinho e uma camisa grande. Seu cabelo esta a mesma bagunça de antes, e ela ainda nao esta usando nada de maquiagem. Ela passou a tarde tentando apagar um incendio que eu coloquei e ainda assim... ela parece incrıvel.

Ela da dois passos em minha direçao e eu arrasto meus olhos de seu corpo para seu olhar castanho.

— Voce e um pe no saco. Alto e desagradavel. O pior vizinho do mundo. — Abro a boca, mas ela aponta para mim. — Voce acabou de tentar queimar o predio inteiro, entao nem tente desmentir isso. — Eu concordo. — Nos estabelecemos que eu te odeio. Nao somos amigos. Somos vizinhos e, agora, companheiros de quarto. E isso aí. Nada mais. Portanto, nao ique pensando que vou me apaixonar pelos seus encantos e acabaremos sendo amigos em breve. Voce faz o seu trabalho, eu faço o meu.

Eu quero discutir. Principalmente para argumentar. Mas ela esta certa. A maneira mais facil de convivermos sem bater de cabeça a cada cinco minutos e nos limitarmos aos nossos respectivos cantos.

— Entendeu?

Eu aceno para ela. — Entendido.

— Bom. — Ela se vira e se dirige para a porta da frente. Calça os sapatos. — Vamos a loja.

— Achei que voce tivesse dito que deverıamos fazer nossas proprias coisas.

Ela range os dentes, nao gostando do meu comentario espertinho. — Toda essa emoçao do dia me deixou com fome. — Ela abre a porta. E voce arruinou minha torta, entao voce me deve o jantar. Vamos.

Meu estomago ronca com a mençao de comida, e eu percebo que estou morrendo de fome porque nunca cheguei a comer aquele maldito sanduıche.

Pego a cabana de Leo. — Pelo menos me deixe escolher o lugar.

Ela me lança um olhar. — E fofo que voce pense que e assim que funciona.

— Alguem ja te disse que voce e meio baixa para ser tao atrevida?

— Cale a boca e me alimente antes que eu ique com fome.

— Isso e voce normalmente? Cara, vai ser muito bom morar aqui, entao.

Ela resmunga algo que nao consigo entender, mas seja o que for, nao soa tao mal-humorado quanto eu esperava.

Tenho a sensaçao de que River nao vai odiar me ter como colega de quarto tanto quanto ela pensa que vai.

— Voce se importa se pararmos na loja de animais por um minuto? Preciso pegar algumas coisas para o terrario de Leo.

Uma das vantagens do predio em que moramos e a localizaçao. E um local privilegiado no coraçao da cidade. Quase tudo o que e importante esta a uma curta caminhada e, se nao estiver, voce pode andar de bicicleta. Se voce estiver se sentindo alegre, voce pode dirigir.

Depois de (naturalmente) parar no The Gravy Train para jantar –ica apenas no im do quarteirao – optamos por ir a pe ate a loja, ja que nao estavamos fazendo compras pesadas no mercado... ou foi o que pensei.

Estou carregando tres bolsas – uma em cada ombro e uma na minha mao - e River tem uma.

Ela comprou nada menos que tres litros de sorvete, sem mencionar pelo menos quatro tipos diferentes de biscoitos de queijo.

Estou começando a achar que ela nao passa muito tempo em casa e tambem nao come la com frequencia, o que faria sentido porque a mulher esta sempre trabalhando. E um milagre ela encontrar tempo para reclamar de mim quando mal ica em casa.

— Voce acabou de perguntar se estava tudo bem em entrar na loja de animais? Onde posso brincar com os animais?

— Vou tomar isso como um sim.

— Grande sim. So nao diga a Morris que iquei animada com isso.

— Ele nao vai sentir o cheiro em voce?

— Sim, mas direi a ele que a culpa e sua.

— E ele vai... acreditar nisso?

— Sim. — Ela encolhe os ombros. — Ele e tao ingenuo quanto Sam.

Eu rio... e so me preocupo com sua sanidade. — Sam e um bom garoto.

— Ele e o melhor garoto. Como sempre.

— Voce e tendenciosa.

— Eu posso ser tendenciosa. Ele fez parte da minha vida por quase metade dela. — Ela inclina a cabeça. — O que? Seus olhos se arregalaram.

— Nao e nada. Eu simplesmente nunca considerei a idade de Sam em relaçao a idade de Maya. Presumo que tenhamos a mesma idade, entao...

— Voce acabou de descobrir que Maya teve uma gravidez na adolescencia. — Ela acena com a cabeça. — Ela tem essa aparencia.

— Eu nao quis dizer nada com isso. De verdade.

— Estranhamente, eu acredito nisso — ela murmura, levantando a sacola reutilizavel – aquela que ela me fez comprar porque era bonita e eu devia a ela – mais alto.

— Voce precisa de ajuda com sua sacola?

Ela me ignora. — Tenho vinte e oito anos. Isso e quao velho voce e?

— Sim. Desde o mes passado.

— O que? Eu nao sabia que era seu aniversario no mes passado!

— Como voce icaria? Nao somos amigos, nem conhecidos. Apenas vizinhos, lembra?

Suas sobrancelhas se juntam, nao gostando de como eu jogo suas palavras de volta em sua cara. — Que seja. Nao e nada pessoal. Eu so gosto de aniversarios.

— Vou arquivar essa informaçao na minha pasta Coisas que agora sei sobre minha vizinha que me odeia para futuras nao interaçoes.

Eu recebo uma carranca por isso.

Eu paro em frente as portas da loja de animais de estimaçao e viro para River. — Olha, tem um monte de coisas fofas aqui.

— Como... hamsters? E coelhos? E porquinhos-da-ındia? — Ela engasga. —Oh meu Deus, onde os porquinhos-da-ındia ainda vivem na selva? Eu literalmente nunca pensei nisso ate agora. Onde vivem os hamsters? O que é mesmo um hamster?

Ela esta falando a mil por hora e ja me arrependo de perguntar se podemos parar, mas preciso de coisas para o terrario de Leo. Espero que River nao se importe que eu use o seu banheiro esta noite para esfregar seu tanque e limpa-lo para que eu possa começar a substituir as coisas.

— Temos coisas congeladas — eu a lembro. — Como aquele litro de sorvete que voce roubou das minhas maos.

Ela levanta um ombro. — Deveria ter colocado na sua bolsa mais rapido.

Ela tem sorte de ser apenas meu terceiro sabor favorito; do contrario, teria feito uma cena.

— Mas eu entendo. Nao vou perder muito tempo brincando com todas as criaturinhas adoraveis.

— Por que eu nao acredito em voce?

— Porque provavelmente estou mentindo. — Ela passa por mim como uma brisa, abrindo a porta. Ela olha para tras por cima do ombro, mechas soltas de seu cabelo vermelho voando com a brisa. — Vamos. Nao quero que meu sorvete derreta. —

Em que diabos eu me meti?

A cena do crime e iminente.

Dean esta morando no meu apartamento ha dois dias, e estou perto de chutar sua bunda para o olho da rua. Ou simplesmente pulando para mata-lo.

Fecho a geladeira com força e me viro para ele, olhando feio.

Ele coloca o garfo ao lado do prato de cafe da manha quase vazio e esfrega os olhos cansados. — E agora?

— Voce sabe o que.

Ele passa os dedos pelo cabelo escuro. — Olha, eu dormi como uma merda na noite passada, entao se voce pudesse falar a acusaçao que voce tem desta vez, eu agradeceria.

— E eu apreciaria se voce parasse de usar todo o meu creme. Nao e a primeira coisa minha que ele usa.

Quando acordei ontem, ele estava cavando meus ovos. Claro, eles sao apenas ovos, mas tınhamos acabado de ir ao supermercado na noite anterior e discutido sobre como o sistema de compras funcionaria.

Levamos dez minutos praticamente gritando um com o outro no corredor de batatas fritas, mas concordamos que ele compraria seus proprios mantimentos – e apenas os seus – e dividirıamos a geladeira por igual.

Aparentemente, a sua versao de igualdade e a minha eram duas coisas diferentes.

Mesmo com a loja fechada as segundas-feiras, fugi para a butique para evita-lo.

Acontece que ele comer meus ovos foi apenas a primeira de muitas ofensas que viriam.

Como deixar as suas meias suadas e fedorentas dentro de seus sapatos depois da academia. Tive que acender duas velas so para tirar o fedor da sala de estar.

Depois, ha sua briga constante com Morris, que Dean claramente odeia. (Tudo bem. O sentimento e mutuo.)

7 RIVER

E a maior reclamaçao de todas: nao posso simplesmente entrar pela porta e tirar o sutia.

Minhas costas estao começando a doer e esses meninos maus precisam ser livres. Ele esta estragando minha capacidade de voltar para casa e relaxar a noite.

Bem, para ser justo, ele sempre fez isso.

Mas isso e pior.

— Eu nao usei o seu creme, River.

Eu aceno em direçao a sua caneca, que contem cafe que esta longe de ser preto puro. — Entao o que esta em sua xıcara?

— Cafe. — Cafe e...

— Brilho do sol.

— Dean.

— E leite.

Eu fungo. — Voce espera que eu acredite nisso quando meu creme esta obviamente vazio?

— Eu nao sou a unica pessoa neste apartamento. Voce parou para pensar que você poderia ter usado o resto do seu creme?

— Nao. Eu saberia.

— Se fosse esse o caso, voce se lembraria de quando estavamos no supermercado dois dias atras e voce icou na frente do creme por cinco minutos escolhendo um e depois colocando-o de volta porque voce ainda tinha bastante em casa.

Ele diz isso com tanta coniança que quase acredito nele.

— Voce quase me pegou, mas me lembro perfeitamente de coloca-lo na minha cesta.

— Entao voce o tirou quando descemos o corredor de sorvete porque se icasse sem creme, simplesmente pararia no Gravy Train. Ele suspira novamente. — Conie em mim, eu nao roubei a sua merda.

— Eu nao acredito em voce.

Ele se levanta da cadeira e pega seu prato, levando-o para a pia. — Isso e muito ruim, porque e a verdade.

Eu cruzo meus braços, encostado no balcao, olhando para ele.

Ele enrola as mangas de sua camisa de uma maneira que faz seus antebraços estourarem, especialmente quando ele pega a esponja. Ele esfrega levemente o prato, depois o coloca na maquina de lavar antes de passar para os outros pratos na pia.

— Voce nao precisa fazer isso. Essa e a minha bagunça – eu posso limpar.

Ele me ignora e continua a pre-lavar todos os pratos como se a maquina de lavar louça nao tivesse sido inventada para fazer exatamente esse trabalho.

Que seja. Se ele quiser lavar tudo duas vezes, ele pode perder o seu tempo.

Seu labio inferior esta eniado entre os dentes enquanto ele se concentra no que esta fazendo.

O cheiro de algo que deinitivamente não e sabao chega sobre mim.

E o Dean. Canela e cedro.

O aroma vem daquele chiclete maldito que ele esta sempre mascando, e o cheiro amadeirado deve ser de sua colonia.

Eu me pego querendo me inclinar para ele, para me familiarizar melhor com a fragrancia, porque eu nunca senti uma combinaçao tao atraente antes.

Ele faz um barulho, e eu percebo que estou apenas parada aqui olhando e cheirando-o como uma idiota.

O que diabos estou fazendo? Por que ainda estou de pé aqui? Vá embora, River...

Exceto que por algum motivo, eu nao vou.

— Entao, ha algum plano para o dia? — Eu pergunto.

— Estou indo para a escola hoje para começar a preparar a minha sala para as aulas da proxima semana. Estava na minha agenda antes do incendio.

— Voce ensina ingles, certo?

— Sim.

— Sam disse que era sua aula favorita no ano passado. Surpreendente, porque aquele garoto odeia ler.

Um sorriso se forma nos labios de Dean. — Eu gosto de ouvir isso. Sam e um bom aluno. Ele sempre fazia perguntas tao... interessantes sobre as tarefas de leitura. Muitas vezes, aproximou-se deles de um angulo inesperado. Me surpreendeu, algo que e cada vez mais difıcil de fazer quanto mais eu ensino.

— Voce tem ensinado ha muito tempo?

— Cerca de quatro anos agora. Trabalhei na empresa do meu pai desde o segundo grau por um tempo, mas nao era o que eu queria fazer. Desisti, me candidatei na escola e tenho ensinado desde entao.

— Voce gosta disso?

— Eu amo isso. Nao me entenda mal, tem seus dias ruins, mas todo trabalho tem. — Ele encolhe os ombros. — Nao consigo me imaginar fazendo outra coisa.

Eu posso entender isso. E como eu me sinto sobre a Making Waves.

— Por que voce dormiu como uma merda na noite passada?

Outro suspiro enquanto ele olha para mim. — Por que voce esta fazendo tantas perguntas?

— Porque sou mais curiosa de manha. — Eu dou a ele um sorriso sarcastico.

Ele tem razao. Eu estou fazendo um monte de perguntas, e nao sei porque. Estou me sentindo incomumente tagarela – mas talvez eu seja sempre tagarela e simplesmente nao sei disso porque nunca ha mais ninguem aqui.

Eu deveria parar enquanto estou na frente. Nao quero icar confortavel tendo alguem aqui para conversar. Mais do que isso, nao quero que Dean ique muito confortavel aqui.

Ele inalmente me responde. — Eu nunca caı em um sono profundo de verdade.

— Eu nao te mantive acordado, certo?

Sobrancelhas grossas sobem, um sorriso provocador em seus labios. — Voce quer dizer a primeira, segunda ou terceira vez que voce entrou no escritorio?

Eu entrei as onze da noite, apenas quinze minutos depois que Dean se retirou para dormir, e acendi a luz.

Eu nem pensei sobre ele estar la. Foi completamente por habito.

Ele pulou do colchao de ar vestindo apenas uma cueca boxer cinza que não deixou nada para a imaginaçao.

Desviei meus olhos o mais rapido que pude, mas nao antes de dar uma olhada no que ele tinha a oferecer.

Houve um momento em que questionei por que o odiava novamente.

Entao, ele falou.

— Puta que pariu. Achei que você fosse um gremlin. Então eu dei uma boa olhada em você.

— E?

— Gremlins são muito mais fofos.

Eu mostrei o dedo do meio para ele, agarrei o caderno que estava procurando e saı sem apagar a luz.

Eu podia ouvi-lo xingando enquanto eu corria de volta para o meu quarto.

As outras vezes que eu entrei la nao foram nem por maldade. Eu realmente precisava de coisas. Foi apenas um bonus que interrompeu seu sono.

Mas ve-lo esta manha... A culpa pesa em meu estomago, especialmente porque eu posso perceber como ele esta se sentindo cansado.

Ha varios anos eu sofro de insonia. Para ser honesta, eu posso dizer que comecei a desenvolver na epoca em que comecei meu negocio. E o estresse diario de saber que tudo isso pode desmoronar a qualquer segundo, sabendo que ha dois outros funcionarios trabalhando no meu negocio.

Esses pensamentos literalmente me mantem acordada a noite.

E ridıculo com a loja indo tao bem quanto esta, mas tambem e valido porque, ei, esta indo bem. Na minha experiencia, isso signiica que tudo vai desabar a qualquer momento.

Foi por insistencia de Maya que inalmente consultei meu medico sobre isso no ano passado. Embora geralmente eu nao seja do tipo que toma remedios, eu sabia que, se eu quisesse ter sucesso, precisava dormir mais de tres horas por noite, sem interrupções.

Eu odeio falar disso, odeio ser dependente disso – ou de qualquer coisa, por falar nisso. Entao, faço tudo o que posso para evitar.

Yoga, meditaçao, reduçao do tempo de tela, qualquer coisa alem de desistir do meu trabalho para ajudar a reduzir o estresse.

Na maioria dos dias funciona. Nao estou tomando meus remedios com tanta frequencia agora.

Dean ainda esta olhando para mim com expectativa, entao eu apenas dou de ombros. — Nao estou acostumada a ter alguem la entao eu preciso veriicar algumas coisas.

Ele levanta a maldita sobrancelha de novo, sem acreditar, embora seja verdade.

Eu lutei ontem a noite sabendo que ele estava no outro quarto, mas so porque honestamente nao estou acostumada a ter outra pessoa no meu apartamento.

Nao tem nada a ver com o fato de que esse alguem e Dean.

Ele nao e ninguem para mim. Apenas meu vizinho do inferno.

— Vou trazer meu laptop de trabalho para casa esta noite, para nao incomoda-lo novamente.

— Obrigado. — Ele começa a esfregar outro prato. — Voce sempre trabalha ate tarde da noite?

Eu encolho os ombros. — As vezes. Normalmente quando nao consigo dormir ou se uma nova ideia me ocorre.

— A sua boutique esta tao ocupada?

Suas palavras me deixaram nervoso.

Eu nao gosto deles. Eles sao condescendentes. Como se meu sustento nao importasse tanto quanto seu precioso sono.

Como se minha loja fosse uma piada para ele.

Eu me empurro para fora do balcao, saindo apressada da cozinha e pelo corredor em direçao ao meu quarto para terminar de me preparar para o trabalho.

Talvez se eu me distrair, eu nao o mate.

Nao mata-lo provavelmente seria o melhor.

Eu acho.

Deslizando para o banquinho na minha penteadeira, eu começo a ajeitar meu cabelo no lugar. Eu puxo para cima em um coque perfeito, mas nao gosto do visual. Muito serio.

Tento fazer um bagunçado, e e muito... bem, bagunçado.

Eu puxo a faixa de cabelo, odiando tudo que tento.

Minha roupa chama minha atençao no espelho, e eu odeio isso tambem.

Não. Pare. Você está apenas deixando Dean chegar até você. Vocêama essa roupa. É a sua favorita. É ele. Isso é tudo.

Eu fecho meus olhos e respiro fundo para me acalmar.

Se Dean vai morar aqui, preciso adicionar mais ioga a minha rotina para me impedir de explodir.

Eu nao posso continuar deixando ele me atingir. Ele nao vale a pena a frustraçao.

Ele nao importa.

— River.

Eu abro meus olhos, surpresa ao encontrar Dean parado na minha porta. Ele esta encostado no batente, os braços cruzados. Essa maldita camisa esta esticada contra seu peito.

Por que ica tão bem nele?

— Tenho a sensaçao de que voce interpretou as minhas palavras de forma errada.

— Eu iz?

Ele concorda. — Sim. Eu nao quis dizer nada como isso. Eu so quis dizer... bem, nao tenho certeza. Acho que simplesmente nao percebi que sua pequena boutique... consumia tanto o seu tempo.

Eu bufo, me levantando.

Se eu nao for embora agora, vou seriamente mata-lo.

Ele levanta o braço, me impedindo de passar.

— Deixe-me passar.

— Eu tambem nao quis dizer nada com isso.

Eu olho para ele.

— Entao o que voce quer dizer, Dean?

— Nao sei. Nao tenho certeza do que estou tentando dizer e, francamente, estou preocupado que, nao importa o que eu diga, isso va te ofender.

— Voce provavelmente esta certo.

— Posso escrever isso?

— Dean.

— Tudo bem. Deixe-me começar de novo, entao? — Ele limpa a garganta. — E triste ver voce icar acordada ate tarde trabalhando no seu negocio, mas nao quero dizer isso de uma maneira ruim. Quero dizer como... gostaria que voce fosse capaz de descansar mais, para nao ter que sacriicar o seu sono... ou interromper o meu.

Eu sabia que haveria motivos egoıstas para suas palavras. Abro a boca, mas ele me vence.

— Mas eu tambem entendo nao querer entregar seu bebe para outra pessoa. Por outro lado, e uma grande conquista que sua loja esteja indo tao bem. Voce deveria estar orgulhosa Eu estou.

Esta na ponta da minha lıngua dizer a ele para me morder e forçar minha passagem. Eu nao preciso de sua validaçao.

Provavelmente e triste que meu primeiro instinto seja nao acreditar nele.

Tambem e provavel que seja infantil da minha parte.

Mas, ei, Dean traz esse meu lado a tona.

Eu aceno um agradecimento, porque no fundo eu acho que ha alguma sinceridade em suas palavras alem de ele querer dormir sem interrupçoes, e entao tento ir embora.

Ele nao me deixa.

Eu cerro meus dentes.

— O que?

— Estamos bem?

Eu rolo meus ombros para tras e olho para ele.

Nao ha como ele perder a minha respiraçao.

Seus vibrantes olhos verdes claros quase me derrubam.

Ele parece genuinamente preocupado por ter me ofendido.

Ele nunca me olhou assim antes, e isso quer dizer algo porque ele me ofendeu varias vezes ao longo dos meses em que era meu vizinho.

Desta vez, parece diferente.

Como se ele se importasse.

Sobre mim.

Para mim. Minha respiraçao começa a icar mais forte e, se ele percebe, nao da nenhuma indicaçao.

— River, estamos bem?

Meus olhos vao para sua boca... para seus labios perfeitamente esculpidos...

Aposto que eles se sentem assim. Suave.

Eu me pergunto se ele beija a maneira como se comporta. Com coniança.

Eu quero ser beijada com coniança novamente.

Bastaria eu icar na ponta dos pes e testar minhas teorias... Não! Pare de deixá-lo afetar você. Ele ainda é Dean.

— Voce esta me bajulando porque estou lhe fornecendo moradia?

— Voce vai jogar isso continuamente na minha cara?

— Sim.

Ele suspira e eu cedi.

Ele tem razao. Eu ico falando isso, mas nao quero que ele esqueça que e um convidado aqui e, a qualquer momento, posso tirar isso dele.

Sou eu quem esta por cima desta vez.

Acho que poderia recuar um pouco... — Nao.

— Bom. — Ele acena com a cabeça uma vez. — Nao, eu nao estou dizendo isso apenas para te bajular. Eu quis dizer isso.

— Bem, obrigada. Eu acho.

Seus labios se erguem nos cantos. — De nada. Eu acho.

Eu rolo meus olhos. — Posso ir agora? Eu preciso começar a trabalhar.

Lentamente, ele deixa cair o braço, permitindo-me inalmente passar.

Eu faço, dando a ele um amplo espaço.

Eu preciso de espaço. Aparentemente, estar perto dele me faz perceber coisas ridıculas como o quao bem ele cheira. Ou pior... como eu nao o afastaria se ele tentasse me beijar.

— Ei, River?

Eu olho por cima do ombro.

— Eu gosto do seu cabelo solto. Eu nao respondo.

Em vez disso, continuo pelo apartamento, prendendo minhas longas ondas em um rabo de cavalo e torcendo meu elastico de cabelo em torno delas.

Dean ri enquanto faço meu caminho para fora da porta.

— Saude! Um brinde ao Dia Internacional sem Crianças!

— Isso existe?

— Sim, embora tecnicamente demore mais um mes. — Nolan, meu melhor amigo, bebe sua cerveja de volta.

— Por que estamos comemorando hoje, entao?

— Porque nao ter crianças e a maneira de ser, e eu precisava de uma desculpa para beber um pouco de cerveja com meu melhor amigo.

— Eu vou beber a isso. — Eu tilinto minha garrafa na dele.

— Ja bebi por menos.

Eu ri. — Verdade.

Ele limpa a boca com as costas da mao.

— Tudo bem, entao deixe-me ver se eu entendi: voce esta morando com sua vizinha.

— Sim.

— Que e quente como o inferno.

— Ela e... ok.

— Besteira. Eu ja vi – ela e gostosa.

— Ah, voce a viu, mas ja falou com ela por tempo suiciente? Deinitivamente corta os pontos quentes.

— Quente e quente. — Ele revira os olhos. — Mas o que voce esta realmente tentando fazer e sentar aqui e me dizer que morar com sua vizinha sexy vai ser a morte para voce porque ela o irrita?

— Sim.

Ele balança a cabeça. — Se houver alguma coisa, isso vai matar sua vida sexual. — Ele ri para si mesmo. — Brincadeira ... ja esta morta.

— Foda-se, Nolan. — Eu dou o dedo do meio para ele e levanto minha garrafa de cerveja aos labios, tomando um gole.

Eu odeio que ele nao esteja errado.

Minha vida sexual é uma piada. Nao me lembro da ultima vez que tive um encontro que terminou comigo entre duas coxas quentes, em

8 DEAN

vez de em casa com o meu pau na mao direita.

Ja faz muito tempo. Muito tempo, se voce me perguntar.

A ultima garota com quem eu saı passou a noite inteira olhando para o telefone dela, e entao teve a audacia de icar ofendida quando sugeri que eu a levasse para casa em vez de voltar para minha casa.

Eu poderia te-la levado ao meu apartamento e provavelmente apreciado uma ou duas rodadas no lençol? Nao ha duvidas sobre isso.

Mas, merda, eu gosto de pelo menos um pouco de conversa decente antes.

Nao estou com pressa de me apaixonar nem nada, e nao estou dizendo que sou um cara heroico que nunca levou uma garota para casa so para fazer sexo; Estou somente entediado com a cena do namoro. Nao houve uma unica garota com quem eu tenha pensado duas vezes desde... merda, eu nem sei quanto tempo.

Nolan ri. — Ora, ora, Sr. Evans, isso nao e muito educado da sua parte.

— Por favor. Eu coloquei minha garrafa de volta na minha frente, envolvendo meus dedos em torno dela, pegando o rotulo azul e vermelho. — Todo mundo tem essas versoes prontas dos professores em suas cabeças, mas nos somos tao fodidos quanto o resto deles. Simplesmente somos os melhores em esconder isso.

— Isso mesmo. Nao quero assustar os pequenos. Pequenos idiotas.

Eu ri. — Um dia desses, cara, voce vai levar uma surra e acabar com cerca de dez desses merdinhas correndo por aı.

Ele zomba. — Por favor. Eu sei bem que nao devo me envolver nisso. Sao dezoito anos de responsabilidade. — Ele torce os labios, enojado com a ideia. — Nao, obrigado.

— Certo, Sr. Fobia de Compromisso. Eu esqueci.

— Pelo menos eu sei o que faço e o que nao quero.

Ai. — Eu nao acho que isso seja motivo de orgulho quando voce esta sempre correndo depois da fase de lua de mel.

— Isso e o que eu chamo de autopreservaçao.

— Isso se chama ser um covarde.

Ele nao reconhece isso, apenas inclina a cerveja para tras e a termina.

Porque ele sabe que estou certo.

Conheço Nolan desde os cinco anos. Nos nos conhecemos no ponto de onibus da mesma escola de merda e nos unimos por nenhum de nos ter uma daquelas lancheiras do Power Ranger que eram a ultima moda. Tudo o que tınhamos eram sacos de papel pardo que estouravam pelas emendas com guloseimas nutritivas.

A cada dia nos encontravamos e eu trocava o meu sanduıche de peru e queijo pelo seu de manteiga de amendoim com geleia. Ele odiava a manteiga de amendoim, mas era tudo que seu pai podia pagar.

Para Nolan nunca importou que minha famılia ganhou na loteria e nos saımos daquela merda.

Ele ainda era Nolan e eu ainda era Dean. Isso foi suiciente.

Somos proximos desde que nos conhecemos. E justo dizer que conheço Nolan bem, melhor do que ninguem.

E como eu sei que ele e um corredor e nao tem compromisso, o que tem tudo a ver com sua mae fugindo da sua famılia quando ele tinha cinco anos. Ele tem sido uma bola de amargura de descontentamento desde entao. Em qualquer relacionamento que ele ja teve, ele sempre sai antes de poder ser deixado.

Estou falando serio sobre ele conhecer uma garota que vai bater em sua bunda. Isso vai acontecer e mal posso esperar para estar la para testemunhar.

— Entao, o que essa garota esta fazendo agora? Alem de ser um anjo absoluto por deixar sua bunda idiota morar la depois que voce quase incendiou o predio.

Eu aperto minha mandıbula com a lembrança, ainda chateado comigo mesmo – daı o motivo de sentar no bar para happy hour, algo que raramente faço.

Como se ele pudesse ler minha mente e soubesse que eu precisava desabafar, Nolan me ligou e perguntou se eu queria uma cerveja. Eu agarrei a oportunidade rapidamente.

— Ela me acusa de roubar ou usar suas coisas todos os dias que estive morando la.

— Voce so esta la ha cinco dias.

— Eu sei. — Eu rio, mas nao ha humor nisso, porque nao acho nada disso engraçado. E exaustivo. — No primeiro dia, ela icou brava porque eu comi seus ovos ou algo assim. A segunda, ela estava chateada porque eu aparentemente usei todo o seu creme.

— Voce fez?

— Sim. — Ele ri. — No terceiro e no quarto dia ela icou brava porque eu disse que ela nao devia deixar a louça se amontoar na pia. Ela nao falou comigo desde entao.

— Se voce a odeia tanto, parece a situaçao ideal, entao.

— Oh, seria otimo, exatamente o que eu quero – exceto que ela ainda nao me deu a chave do apartamento.

Apesar de eu perguntar a ela todos os dias, ela ainda nao me deu a chave. Isso signiica que se eu quiser sair do apartamento, tenho que esperar ela chegar em casa para que eu possa voltar. E por isso que eu estava animado para tomar uma cerveja com Nolan. Eu tinha que estar na escola hoje para ajudar a contar o equipamento de futebol, e nao havia nenhuma maneira de chegar tarde o suiciente para esperar River voltar para casa.

Pensei em roubar as chaves dela e fazer uma copia eu mesmo, mas ela as mantem em seu quarto e me pareceu errado entrar la para pega-las.

Eu respeito alguns de seus limites.

— Como voce ainda nao tem a chave?

Eu encolho os ombros. — Nenhuma maldita pista, cara. Acredito que isso da a ela algum tipo de autoridade sobre a minha cabeça que ela tenha a palavra inal quando eu entro e saio.

— Considerando tudo o que voce me disse sobre todas as suas brigas com ela, isso nao me surpreenderia. Ainda nao consigo acreditar que nao a conheci mais do que de vista.

— Voce deveria vir uma noite, na proxima semana, para um jogo de beisebol. Voce pode conhece-la.

— Duas coisas. — Ele levanta um dedo. — Um, beisebol e chato pra caralho, e voce sabe que eu odeio isso. — Outro dedo sobe. — Dois, estou dentro, mas quero deixar registrado que nao acho que seja uma boa pratica convidar estranhos para um lugar em que voce esta dormindo temporariamente.

—Um — rebato — beisebol é entediante, mas pizza e cerveja nao, e esportes sao uma desculpa para isso. Dois, preciso de uma testemunha. Tenho a sensaçao de que ela ou seu gato vao me matar.

— Eu nunca atrapalharia um bom assassinato, especialmente quando o idiota merece.

— Entao, voce esta dentro?

— Assistir a sua companheira de quarto-barra-inimiga matar voce? — Ele sorri. — Foda-se, sim. — Nolan empurra sua garrafa vazia, balançando a cabeça quando o barman faz um gesto em direçao a ela, perguntando se ele quer outra.

— Por favor. Nao estou preocupado com River. — Eu zombo, terminando minha cerveja.

— Pelo que ouvi, voce deveria estar.

— Eu posso lidar com ela.

— Ela parece mal-humorada. E divertido.

— Ela e... uma coisa.

Nolan inclina a cabeça. — Voce disse isso de um jeito engraçado.

Eu levanto minhas sobrancelhas. — O que? Eu nao disse.

Ele me olha, curioso. Entao, um sorriso lento se forma em seus labios. — Oh, foda-se. Por que voce nao me contou?

— Contei o que? — Pego a garrafa de cerveja vazia, precisando de algo para me distrair, desconfortavel sob seu escrutınio. Ele esta olhando para mim diretamente e por muito tempo.

— Que voce tem uma queda por essa garota.

Eu solto uma risada, pedindo ao barman para outra bebida; Vou precisar de uma se tiver que sentar aqui e ouvir as merdas de Nolan. Por favor. Eu nao tenho nada por ela, seja la o que diabos isso quer dizer.

— Isso signiica que ela mantem seu pau e suas outras partes funcionando. — Ele se inclina e sussurra: — Voce sabe, como sentimentos e essas merdas.

— Tanto faz, cara. — Eu pego a cerveja que o barman silenciosamente desliza em minha direçao e tomo um longo gole. Limpo minha boca com as costas da mao. — River e quente? Sim ela e. Eu nao sou cego. Ela e o tipo de garota que eu normalmente escolheria, mas nao e uma coisa. A atraçao e puramente fısica.

— Entao voce nao se importa se eu convida-la para sair?

— Voce nem mesmo a conhece.

Ele sorri, e eu sei que ele percebeu que minha resposta nao foi um nao direto de cara. Ele deve ter sido. Nos dois sabemos disso.

— Nunca me impediu antes. Nao conheço muitas das garotas com quem saio.

Verdade. Nolan nao e exatamente o tipo de pessoa que quer conhecer voce.

E tanto faz. Eu nao julgo. Nao e como se eu nunca tivesse comido uma buceta e depois fosse embora antes de icar estranho. Você quer tomar café da manhã?

O pensamento dele fazendo isso com River... faz meu estomago parecer estranho. Errado.

— Se voce nao tem nada por ela, entao ela esta no jogo, certo?

— Nao.

A palavra sai dos meus labios por impulso, mas isso nao a torna menos verdadeira.

Na verdade, isso torna tudo muito mais honesto.

Nao quero namorar River, mas tambem nao quero que Nolan saia com ela.

E nao consigo descobrir porque.

Ele ri e se levanta do banquinho. — Foi o que eu pensei.

— Onde voce esta indo? O que voce quer dizer com isso que voce pensou?

— Estou saindo. — Ele enia a mao no bolso de tras, puxando a carteira e acenando para o barman. — Eu estive acordado desde o nascer do sol. Nem todos nos tiramos o verao de folga.

— A conta? — Essa palavra e a segunda vez que eu ouço o barman falar desde que entrei aqui, e e a minha parte favorita neste bar. Ninguem faz perguntas ou tenta fazer uma terapia. Voce pode pegar uma bebida e icar sozinho.

Nolan acena com a cabeça, entregando seu cartao, e o cara sai para cuidar de sua conta.

— O que voce quis dizer com isso e o que voce pensou? — Eu pergunto novamente quando estamos sozinhos.

— Vamos la, cara. Embora eu nao tenha certeza de porque e sempre a escolha certa quando se fala sobre nıvel de inteligencia, nao e ciencia de foguetes. Voce gosta dela, e nao apenas isicamente.

— Nao, eu nao.

— Voce gosta — o barman diz, deslizando o recibo de Nolan pelo balcao antes de se virar e sair novamente.

— O que...— Eu olho para suas costas recuando, entao balanço minha cabeça. — Ele esta errado.

— Ele nao esta errado. — Ele assina o recibo e o desliza de volta para o balcao. — E eu tambem nao. Voce gosta dela. Simplesmente nao vai admitir para si mesmo por algum motivo. Talvez seja porque esta hospedado la agora e nao quer causar problemas, o que e inteligente, mas voce nao pode me dizer que nao pensou em River antes.

— Eu–

— Nao apenas quando voce esta batendo uma com seu pau. Tenho certeza que voce faz muito isso, seu cachorro sujo.

Culpado da acusaçao.

Levou cada grama de força de vontade que eu tinha para nao envolver minha mao em volta do meu pau na primeira noite em que estive la. Cada vez que fechei meus olhos, tudo que eu podia ver era ela naquela porra de toalha minuscula, curvada para que eu pudesse ver tudo o que ela tem a oferecer. A unica coisa que me impediu foi saber que River estava deitada na cama do outro lado do corredor e me ouviria.

— Quero dizer, em um tipo de relacionamento.

Ele esta errado.

Nao penso em um relacionamento quando se trata de River.

Ela me detesta, e nunca poderıamos ser nada mais.

Aposto que o sexo seria explosivo...

Nolan suspira, tirando algum dinheiro de sua carteira e jogandoo no balcao. Ele desliza o cartao de credito de volta. — Olha, cara, eu tenho ouvido voce lamentar sobre o estado da sua vida amorosa desde que as coisas deram uma merda com a sua ex e voce voltou para a cena do namoro, falando sobre como nenhuma mulher desaiou voce, fez voce se sentir animado para mais do que apenas atividades no quarto –embora porque voce esta procurando por essa merda esteja alem da minha compreensao. Ei, o que quer que te faça feliz. — Ele balança a cabeça. — De qualquer forma, tudo o que estou dizendo e que River desaia voce, e nao ha como negar. Se ainda nao esta pensando em um relacionamento com ela, algo que eu duvido muito, talvez voce devesse.

Ele tem razao. O maior obstaculo na minha vida amorosa é nao me sentir desaiado ou a vontade com ninguem. E tudo a mesma merda,

encontro diferente. A mesma variaçao nada excitante de jantar, ilme, cama. Enxague e repita, porra.

Nao e mais divertido. Nao ha perseguiçao. Sem emoçao.

Entao, eu acho que posso entender o ponto de Nolan sobre River.

Ela e divertida e me desaia – principalmente para nao cometer um crime, mas mesmo assim e um desaio.

Mas ainda... ela e River.

Ele da um tapinha no meu ombro, me dando um pequeno sorriso. — Eu te ligo mais tarde, cara.

Eu aceno, e ele sai.

Fico sentado aqui pensando em todas as maneiras pelas quais River pode ser a certa para mim... talvez em mais maneiras do que apenas no quarto.

— Ei, Maya, e River. Sua chefe e melhor amiga. — Acrescento essa parte apenas para que ela nao me odeie por incomoda-la novamente. — Mandei uma mensagem sobre isso, mas estou ligando tambem, porque, bem, voce me conhece – sou neurotica e obsessiva. O encontro com a fotografa foi adiado para amanha porque ela tem que levar o ilho ao medico. Sao dez agora, nao nove. Eu–

Minhas palavras morrem quando a porta do quarto e aberta e Dean atravessa o corredor.

Ele esta encharcado de suor.

Cada centımetro de sua camisa de treino azul claro esta grudada nele como uma segunda pele.

Eu sei que Dean faz exercıcios, nao apenas porque ele esta morando aqui ha cinco dias e sempre sai de casa no mesmo horario todas as noites para ir a academia, mas porque e obvio mesmo atraves daquelas camisas de botao e camisetas de banda que ele sempre usa.

O que eu nao esperava ser capaz de contar seu abdomen – todas as seis coisas de dar agua na boca.

Ele puxa os fones de ouvido sem io das orelhas, os musculos de seus braços saltam com a açao. Ele ainda esta respirando com diiculdade, como se tivesse corrido todo o caminho da academia ate aqui. Para ser honesta, eu nao colocaria isso no passado. Ele parece o tipo exibicionista.

Um par de shorts de ginastica esta baixo em seus quadris e–Uau. sim. Esse é deinitivamente o contorno do seu pau.

Ele limpa a garganta, e eu levanto meus olhos para os dele e para longe deste presente que ele me deu sem saber.

Suas sobrancelhas escuras estao levantadas, um sorriso brincalhao estampado em sua boca.

Pega. — Gosta do que ve, River?

Suas palavras sao provocantes, divertidas. Mas seus olhos? A maneira como eles estao queimando com intensidade?

9
RIVER

Eles dizem algo totalmente diferente.

Eu injo que ele nao esta me olhando como se desejasse que nao houvesse tanta distancia entre nos e puxo o telefone da minha orelha, esmagando o botao vermelho na tela. Faço uma nota mental para explicar a mensagem de voz para Maya mais tarde e viro o nariz para Dean, forçando minha atençao de volta para o computador na minha frente como se eu nao estivesse apenas tivesse babado nele antes.

— Eu ja vi melhores — eu digo tao friamente quanto posso.

Eu ouço a vacilaçao em minha propria voz.

Eu gosto do que vejo.

Gosto do que vejo muito mais do que deveria.

— Claro que sim. Em um daqueles encontros quentes que voce teve?

Eu seguro meu suspiro. As vezes eu esqueço que ele teve um lugar na primeira ila para meus varios contratempos de namoro. Morando na casa ao lado, tenho certeza de que ele viu todas as vezes que voltei para casa sozinha e todas as manhas que me arrastei para fora da cama parecendo uma bagunça quente, tentando pegar meu coraçao/ego ferido.

Ele ri secamente.

— Por favor, me diga que nao foi aquele cara vestindo a camisa havaiana. Isso vai doer.

Ah, sim. O cara da camisa havaiana.

O primeiro encontro que fomos foi na pista de boliche. Eu descartei sua roupa porque eu pensei que ele estava sendo peculiar. Ele contou algumas piadas e a noite nao foi um desastre completo, entao eu disse sim para um segundo encontro. Isso foi quando eu estava entrando na cena do namoro novamente e ainda estava otimista.

Eu era tao tola.

Eu o deixei me buscar para o segundo encontro, e imagine minha surpresa quando abri minha porta e vi que ele estava vestindo outra camisa havaiana.

Agora, eu amo roupas. Eu adoro moda e ser capaz de usar uma roupa para me expressar, mas ha algumas coisas em que estabeleço o limite.

As camisas havaianas sao uma delas.

Claro, porque isso foi apenas minha sorte, Dean teve que sair do elevador quando estavamos entrando. Ele tinha muito a dizer na manha seguinte no restaurante.

Essa foi a ultima vez que deixei um cara me buscar no meu apartamento; Eu nao precisava do comentario de Dean sobre minha vida amorosa. Eu tinha visto muitas mulheres entrando e saindo de sua casa no ano passado e nunca iz comentarios nao solicitados sobre suas escolhas.

— Para falar a verdade, era – e ele tinha uma vantagem sobre voce tambem. Havia um pacote de oito escondido sob aquelas camisas impressionantes.

Seus olhos brilham.

— Tudo que acabei de ouvir foi que voce contou meu abdomen.

Eu com certeza iz.

— Foi um tiro no escuro.

— Tiro no escuro, minha bunda — ele murmura, movendo-se em direçao a sua pilha de coisas.

Ele se agacha e começa a remexer, procurando uma muda de roupa.

— O que voce esta fazendo aqui?

— Trabalhando.

— Estou feliz que veio aqui quando eu estava fora e nao dormindo, como voce fez a semana toda. Temos uma evoluçao.

Eu estremeço.

— Ops. Eu vou trazer meu...

— Laptop de trabalho para casa – sim, eu ja ouvi isso antes.

— Sinto muito, voce esta sendo mal-humorado comigo?

Ele pausa seus movimentos e entao suspira.

— Talvez um pouco. Nao e sua culpa. — Ele se levanta, virandose para mim. — Bem, e... mas nao completamente. — Outro suspiro, seus ombros caindo na expiraçao. — Foi apenas uma longa semana.

Ele parece exausto. Atropelado. Como se ele estivesse correndo com a sua ultima perna.

— Prometo trazer meu laptop para casa.

— Tenho certeza que voce vai.

— Vou enviar uma mensagem de texto para Maya e garantir que ela me lembre.

Ele grunhe e se senta na beirada do colchao de ar.

Nao consigo imaginar que isso ajude no departamento de dormir. Dean e muito grande para dormir naquela coisa, e eu sei que nao e confortavel.

Tentamos resgatar sua cama de seu apartamento, mas para nos cheirava muito forte a fumaça. Nao tınhamos certeza se era apenas o cheiro queimado em nossas narinas ou se estava torrada, nao estavamos arriscando.

— No que voce esta trabalhando tao tarde? A loja fechou horas atras.

Eu clico no meu e-mail uma ultima vez, certiicando-me de que nao perdi nada. — Fotografo.

— Voce tem um fotografo?

Eu concordo. — Vendemos itens online, começamos no inıcio do ano. Ainda somos apenas nos tres gerenciando a loja e agora as vendas online, entao e muito trabalho extra para mante-la funcionando com eiciencia, mas ajudara a manter os negocios estaveis durante a temporada de turismo.

Muito trabalho e muito estresse adicionado. E por isso que corro aqui a noite para veriicar as coisas. Por que estou sempre entrando cedo e por que sou sempre a ultima a sair. Somos uma loja pequena, mas nossa loja online esta crescendo a cada dia e a internet e exigente demais.

— Caroline e Maya sabem que voce vai icar acordada ate tarde assumir o peso desse trabalho?

Ha algo em sua voz que quase soa como preocupaçao. Sua preocupaçao e doce – algo que nunca pensei que diria ao me referir a Dean – mas nao e necessaria.

No inal do dia, Making Waves e minha, e como nao estou no ponto de contratar confortavelmente mais funcionarios ou pagar os que ja tenho, e justo que caia sobre meus ombros.

— Sim.

— E o que elas tem a dizer sobre isso?

— Nao muito.

— Entao, elas so pensam que voce e boa em operar uma maquina bem lubriicada na oicina e nao se mata a noite?

— Nao. Elas sabem que as vezes trabalho em casa.

— Elas sabem com que frequencia?

Eu suspiro. — Que diferença faz para voce o tempo que passo trabalhando?

— Porque isso te desgasta e te deixa sobrecarregada e voce começa a agir de maneira extremamente agressiva.

Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Voce acabou de me chamar de cuzona?

— Agressiva, mas sim.

Meus labios se contraem, divertidos.

— Bem, entao.

Ele nao parece estar arrependido, e gosto que ele nao pareça arrependido. Que ele se atem as suas armas. Que nao tem medo de me criticar quando estou sendo uma pirralha, o que provavelmente e frequente.

— So estou falando como eu te vejo. — Ele ergue os ombros. Eu te conheço ha um ano e, nesse tempo, voce esta icando cada vez mais irritada. Talvez seja hora de ferias.

Eu estreito meus olhos para ele. — Ja parou para pensar que o motivo pode ser voce?

— Nao. Eu sou um anjo do caralho.

— Se quis dizer no sentido de que Lucifer ja foi um anjo, voce tem esse direito.

Ele bufa, mergulhando de volta em sua bolsa de pertences. Hilario vindo de voce, Pequena Senhorita Ligue Para a Sındica, porque minha musica esta muito alta em vez de apenas, eu nao sei, bater na minha porta como um vizinho normal faria.

— O que? Eu nunca chamei Lucy para voce.

Ele me olha por cima do ombro, seus olhos em fendas estreitas. — Por favor. Nao tente agir como uma inocente agora.

— Estou falando serio, Dean. Nunca chamei Lucy para voce. Eu queria muito, mas nunca consegui fazer isso. Alem de bater na sua parede, aquela tarde do incendio foi a primeira vez que agi com base na sua antipatia.

Ele me encara, as sobrancelhas grossas erguidas.

Elas lentamente caem de volta quando a percepçao de que nao estou mentindo o atinge.

Ele pensa que sou tao mesquinha? Que eu o delataria a nossa sındica do predio por sua musica estar muito alta?

Tive vontade de reclamar com Lucy sobre sua musica e seu comportamento geralmente insuportavel? Claro que sim. Todo santo dia.

Mas nao fui eu.

— Entao quem foi?

— Nao tenho certeza, mas eu adoraria conhece-los e apertar sua mao. Seu gosto musical e uma droga.

— Voce nao pode dizer isso se nao gosta de musica. — Balançando a cabeça, ele se levanta novamente, estica os braços para tras sobre a cabeça e tira a camisa com um movimento rapido.

Meu queixo cai tao facilmente quanto suas roupas escorregam.

Ele esta parado a menos de tres metros de mim sem camisa e, oh, meu Jesus amado.

Se eu pensei que seu corpo era impressionante quando estava coberto, eu estava errada. As costas de Dean nao sao nada alem de musculos tensos, as linhas deinidas e sexy.

Desde quando eu acho costas sexy?

Como se ele soubesse que estar sem camisa esta me prejudicando, ele ri. — Eu posso sentir voce olhando, River.

Desculpe, você tem um espelho? Claro que estou olhando!

Eu engulo em seco e me dou uma boa sacudida, voltando minha atençao para o meu computador.

Não olhe, não olhe, não olhe.

— Estranho, porque eu deinitivamente nao estava olhando. Outra risada. — Apenas admita que voce me acha tentador.

Eu torço meu nariz e me levanto, pegando meu caderno. — A unica coisa que voce me tenta a fazer e cometer assassinato. EuEle se vira e, pela segunda vez esta noite, ele me deixa sem palavras.

Normalmente nao sou do tipo que saliva por causa de um homem com o peito esculpido, mas... bom Deus .

Ainda posso ver as gotas de suor escorrendo pelos contornos de seu abdomen bem deinido, os musculos saltando enquanto meus olhos percorrem seu corpo como se ele pudesse sentir meu olhar o acariciando.

Claramente, ja faz muito tempo desde que vi um cara sem camisa porque minhas partes femininas estao formigando como nunca antes. Porra, ate meus mamilos estao duros, pelo amor de Deus!

— Sinto muito, voce estava dizendo algo, River?

Como se estivessem ligados a sua voz, eles apertam ainda mais, e eu agarro meu caderno como se fosse minha tabua de salvaçao, cobrindo as evidencias. Grande erro, porque o atrito aparentemente e exatamente o que eu preciso, e quase soltei um gemido.

Puta merda, estou sem fazer sexo, icando excitada com a porra de um caderno. Não tem nada a ver com um Dean sem camisa, é claro.

Ele se aproxima, e eu nao recuo, segurando minha posiçao.

Eu empurro meus ombros para tras. — So que eu te odeio.

— Serio? — Ele da mais um passo. E outro. Ele esta tao perto que posso sentir o cheiro de canela em seu chiclete.

Cada centımetro do meu corpo esta tenso porque tudo que consigo pensar e em como ele esta muito perto, mas muito longe ao mesmo tempo.

Ele da um ultimo passo, entao inclina a cabeça em direçao a minha. Ele nao esta me tocando, mas se eu nao estivesse prendendo a respiraçao, meu caderno estaria batendo em seu peito.

— Me odeia tanto que voce esta escondendo seus mamilos duros atras de um caderno?

O sopro da respiraçao me deixa em um gemido alto, e eu fujo da sala, com cuidado para nao roçar nele.

— Algo errado, colega de quarto? — ele grita, diversao clara em sua voz. — Surgiu alguma coisa sobre a qual voce gostaria de conversar?

— Deixe meus mamilos fora disso!

Sua risada ecoa pelo apartamento quando bato a porta do meu quarto. Idiota.

EU NAO CONSIGO DORMIR.

Passei a ultima hora me virando e me virando, e e inteiramente culpa de Dean.

Nao demorou muito para ele entrar no chuveiro depois que corri para o meu quarto. O tempo todo em que ele esteve la, tudo que eu conseguia pensar era como ele estava completamente nu com nada alem de alguns metros de drywall entre nos.

Como a agua deve estar boa correndo por suas costas... seu abdomen.

Seu penis.

Eu deveria ter icado mais envergonhada do que quando ele me pegou olhando para seu pau. Deveria ter icado vermelho como uma beterraba.

Mas seus olhos...

Por um rapido momento, pela menor fração de segundo, considerei diminuir a distancia como seus olhos estavam implorando que eu izesse.

Mas eu nao iz.

Agora estou escondida em segurança no meu quarto, onde nao serei tentada a fazer algo tolo como beijar Dean Evans.

E ele esta em seu quarto, onde tenho certeza que esta tao satisfeito consigo mesmo por me deixar toda excitada e deixar meus mamilos duros.

Eles ainda estao.

Inferno, meu corpo inteiro esta acordado porque toda vez que fecho meus olhos, vejo Dean sem camisa. Ou o contorno de seu pau.

Eca. Eu realmente preciso transar. Isso esta icando ridıculo se eu estiver deitada aqui pensando em Dean, entre todas as pessoas.

Talvez um encontro rapido com o meu brinquedo favorito ajude a aliviar...

Eu chego na minha mesa de cabeceira e pego meu vibrador. Ligo. Deino ele para a coniguraçao mais baixa (e mais silenciosa), deslizo minha calcinha para o lado.

Eu estou tão carente. Tao tensa que quase explodi antes mesmo de fazer contato com meu centro.

Eu abro minhas pernas e inclino meus quadris para cima, guiando o brinquedo sobre meu clıtoris, que esta pulsando de necessidade.

Meus olhos se fecham e tudo que vejo e um par familiar de olhos verdes.

Eu abro meus olhos de novo, puxando o brinquedo do meu corpo, por que diabos?

Uma coisa e se masturbar, outra e pensar em Dean enquanto faço isso.

O que os olhos não veem...

Eu fecho meus olhos, trago meu brinquedo de volta ao meu clitoris... e Deus me ajude, eu penso em Dean.

Seus olhos verdes. Esse sorriso perfeito. Seu cabelo preto meianoite, a sombra de sua barba de cinco horas, a leve covinha em seu queixo.

Eu evoco a imagem dele de apenas uma hora atras, parado sem camisa na minha frente. Eu o imagino caminhando em minha direçao, seu corpo duro e tenso pressionando contra o meu enquanto ele segura meu rosto. Seu polegar acaricia suavemente minha bochecha enquanto ele se inclina para me beijar e ...

E eu gozo. Forte.

Eu busco por ar, descendo do alto, meu coraçao disparando perigosamente rapido.

— Pegue isso, Dean. — Tiro o brinquedo debaixo dos cobertores. — Eu nao preciso de voce de verdade.

— Voce disse algo?

— PORRA! — Eu grito.

E meu vibrador voa pelo quarto enquanto meus braços se agitam. Thump.

Ele bate ruidosamente contra a parede... e deixa uma sensaçao agradavel. Eu fui pega me masturbando e entrei em pânico e joguei meu vibrador abrindo um buraco do tamanho de um cômodo na parede.

— Mae…

— Uh, esta tudo bem aı? — Dean chama pela porta.

— OH MEU DEUS! VA EMBORA!

— Nossa, tudo bem — ele diz. — Eu ouvi conversas e pensei que voce disse meu nome. Desculpe.

Seus passos ecoam pelo corredor enquanto eu ico la, prendendo a respiraçao, completamente mortiicada. Eu coloco minha mao sobre meu peito, tentando acalmar minha respiraçao. Se eu achava que minha frequencia cardıaca aumentou durante meu orgasmo ...

O que diabos aconteceu?

Depois de alguns minutos tentando relaxar, eu me coloco em uma posiçao sentada, penteando meu cabelo para tras. Eu estalo meus labios, minha boca seca.

Eu me arrasto para fora da cama e pego meu pobre vibrador.

— Desculpe por isso, amigo — eu sussurro, colocando-o de volta na minha mesa de cabeceira.

Eu silenciosamente abro a porta do meu quarto. Antes de entrar no corredor, espio pelo batente da porta e a minha esquerda.

A porta de Dean esta fechada e sua luz esta apagada.

Bom.

Eu me esgueiro pelo corredor e entro na cozinha. O mais silenciosamente que posso, pego um copo d'agua e bebo. Eu encho outro e coloco minhas costas contra o balcao, tentando me fazer relaxar.

Estou ainda mais tensa agora do que antes do meu orgasmo estrelar.

Claro que Dean iria estragar meu brilho. Esse e apenas o seu estilo, apenas a coisa que ele conseguiria fazer, cuzao.

Com o canto do olho, vejo meu tapete de yoga enrolado e encostado no sofa.

Sim! E exatamente disso que preciso. A yoga sempre me ajuda a me acalmar.

Volto na ponta dos pes para o meu quarto, pego meu telefone e fones de ouvido e, em seguida, volto para a sala de estar.

Eu desenrolo meu tapete e coloco tudo no lugar antes de abrir meu aplicativo de yoga favorito.

Antes de apertar o play, ico imovel, ouvindo atentamente para ver se acordei Dean com todos os meus movimentos.

Nada. Ele deve estar dormindo.

Eu tomo algumas respiraçoes suaves e aperto o play na minha rotina inicial.

Nao demora muito ate que eu esteja perdida nos movimentos, completamente focada no tom calmante do meu instrutor favorito.

Quando o vıdeo termina, eu continuo com minhas poses de resfriamento, determinada a tirar o resto do nervosismo que sinto.

Uma coceira na espinha me tira do transe.

Eu nao estou sozinha.

Dean esta me observando.

Seu olhar ardente e para mim. Nao preciso estar olhando para saber que o olhar dele e o mesmo que vi antes em seu quarto.

Ele esta gostando da vista.

E estou gostando da maneira como seus olhos estao me acariciando, seguindo cada movimento que faço enquanto me curvo, colocando minhas maos espalmadas contra o chao.

Mesmo com meus fones de ouvido, posso ouvir a ingestao aguda de Dean, minha bunda totalmente a mostra.

Estou vestindo nada alem de um par de shorts pretos e uma camisola rosa claro, meu traje padrao para dormir.

Eu me estico ao maximo, entao me curvo novamente, desta vez andando minhas maos e empurrando minha bunda ainda mais para cima.

— Foda-se — ele murmura, o desejo em sua voz grossa.

Eu nem consigo rir.

Eu tambem sinto a tensao inexplorada na sala.

Estou começando a suar, e nao e com o meu exercıcio.

As chamas de seu olhar lambem minha pele, e eu percebo agora que gozar pensando nele foi um erro.

Nao me sinto relaxada. Estou tudo menos relaxada.

Inalar, exalar.

Eu respiro fundo tres vezes, estico-me novamente sem a intençao de deixar Dean louco e, em seguida, me levanto.

Eu nao lhe dou atençao enquanto rolo meu tapete de yoga de volta para cima e o coloco longe.

Puxando um fone de ouvido da minha orelha, me viro em direçao ao meu publico.

Ele nao desvia o olhar. Nao se encolhe sob minha atençao.

Ele esta me olhando descaradamente, um copo d'agua nas maos, o luar da janela aberta e o terrario lançando luz suiciente para que eu o veja sentado na ilha na cozinha escura.

Nao consigo ver seus olhos, mas ainda posso senti-los.

Me sentindo corajosa, eu sigo em direçao a ele, nao parando ate que estou quase entre suas pernas abertas.

Eu deslizo o copo de suas maos e tomo um longo e forte gole, esvaziando-o antes de coloca-lo no balcao.

Ele apenas observa, sem dizer uma palavra enquanto estou la.

Tudo o que podemos ouvir e nossa respiraçao irregular.

Eu nao sei quantos minutos se passaram, mas meus mamilos estao de volta em posiçao de sentido e minha boceta esta novamente sentido como se eu nao lhe desse atençao a dias.

Estou começando a icar desconfortavel sob seu olhar profundo, e nao e algo sinistro. Esta mais para estou prestes a fazer algo na qual vou me arrepender.

— Gosta do que esta vendo? — Eu tento parecer esperta, preciso recuperar a aparencia de equilibrada, o que diabos estamos fazendo?

Nao podemos jogar jogos como este.

Eu nao posso estar me masturbando porque Dean me deixou toda quente e incomodada.

Ele nao pode olhar para mim como se quisesse me deixar nua.

— Sim — ele responde.

Sem nenhuma preocupaçao no mundo, ele ajusta seu pau obviamente duro dentro daquele moletom cinza que estou começando a odiar.

— Sim?

Uma sobrancelha desaiadora sobe.

— Bem, isso e muito ruim.

Embora eu queira correr, eu me afasto dele lentamente, vagando pelo corredor o mais indiferente que posso.

— Puta que pariu — ele resmunga enquanto fecho minha porta.

Puta que pariu, esta certo.

— O que diabos voce esta olhando?

A penugem de pelo branco perfura seu olhar azul brilhante e cheio de odio em mim do outro lado do sofa onde estive plantado o dia todo.

Morris nao gosta nem um pouco de mim. Ele deixou isso claro ontem a noite quando me levantei para usar o banheiro e ele me deu um tapa enquanto eu caminhava pelo corredor. Agora estou exibindo dois cortes no pe esquerdo que sei que doerao mais tarde, quando calçar os sapatos para a minha visita noturna a academia.

Com um miado irritado, o idiota se levanta e sai andando pelo corredor, me deixando curtir sem ser observado.

Eu olho para Leo e juro que ele revira os olhos para Morris.

— Igualmente, cara. Igualmente. — Estendo a mao, correndo meu dedo ao longo do vidro de seu terrario.

Ele parece tao cansado quanto eu.

Nao e sempre que eu levo dias apenas para relaxar. Nao sou um homem muito ocupado, mas sempre encontro algo para fazer para preencher meu tempo, como matricular-me em uma escola de verao ou meu trabalho voluntario no abrigo de animais local onde eu comprei Leo. Ficar parado nao e a minha praia.

Mas hoje, eu precisava disso.

Foi uma longa semana e estive constantemente ocupado lidando com seguros, Lucy – que eu juro que e um anjo – e as consequencias de quase incendiar minha propria casa.

Merda, estive tao ocupado que esqueci de contar aos meus pais sobre o incendio e recebi um belo telefonema da minha mae esta manha que consistia em muitos xingamentos e promessas de que trouxe você a este mundo, Dean Evans, e eu posso te tirar.

Posso agradecer a boca grande de Holland por isso.

Depois de acordar desse jeito horrıvel, decidi que um dia sem fazer nada parecia perfeitamente aceitavel. Especialmente porque eu nao dormi merda nenhuma na noite passada.

Nao conseguia parar de pensar em River... ou em como ela parecia curvada. Como ela parecia praticamente parada entre minhas

10 DEAN

p p p p pernas com os mamilos duros como pedras.

Eu tive que lutar pra caralho para nao estender a mao e toca-la. Assim como eu tive que lutar muito hoje para me convencer a nao acariciar meu pau com a imagem da sua bunda no ar.

Eu deveria ter vergonha de mim mesmo por evocar isso tantas vezes, mas eu recuso. Nao quando ela parecia tao boa quanto estava. Pare de pensar nisso, Dean. É uma má ideia ir para lá.

Eu foco minha atençao de volta no violao em minhas maos, puxando as cordas. Nao sou o melhor guitarrista que existe e nao toco com frequencia, mas e uma boa distraçao quando estou tentando relaxar.

As chaves escorregam pela fechadura da porta da frente e Morris corre de volta para a sala de estar, empoleirando-se perto da porta no momento em que River a abre.

— Oi, Baby. — Ela murmura como se ele nao fosse o demonio disfarçado, trocando a bolsa em suas maos por ele, levantando o gato e abraçando-o. Eu posso ouvir seu ronronar todo o caminho desde o sofa enquanto ela coça sob suas orelhas, salpicando-o de beijos.

Como se ela pudesse sentir meu olhar, ela vira os olhos para mim.

— Oh. Oi.

Sua voz pode ser monotona, mas ha algo diferente na maneira como ela esta olhando para mim. Nao consigo deinir o que estou vendo.

— Como foi seu dia? — Eu pergunto.

Ela franze o rosto. — Voce nao pode?

— Eu nao posso o que? Ser civilizado?

— Ser domestico. E estranho.

— Certo. — Eu concordo. — Foi mal. Vou pular as gentilezas da proxima vez e apenas rasgar a bunda assim que voce passar pela porta. Seus olhos se arregalam. — Voce andou peidando no meu sofa?

Eu nem mesmo digniico isso com uma resposta.

Em vez disso, eu me levanto do meu lugar de conforto e coloco meu violao de lado. Pego meu copo de agua e vou ate a cozinha para coloca-lo na pia.

Ela suspira. — Desculpa. Provavelmente nao foi uma resposta apropriada.

Agora sou eu que estou com os olhos arregalados quando me viro para ela. — Voce acabou de... se desculpar? Para mim ?

Ela quer revirar os olhos. Esta tudo em seu rosto. De alguma forma, ela se refreou, dando um suspiro mal reprimido enquanto colocava Morris no chao. Ele mia para ela, entao se afasta, indo para sua cama ao lado da mesa de TV.

River tira os sapatos e entra no apartamento. — Nao ique muito animado. Tambem pedi desculpas ao vaso de plantas que encontrei no corredor. Voce nao e especial. — Ela desliza para o banquinho no balcao. — Pode prestar atençao.

Eu aperto minhas sobrancelhas juntas. — Huh?

Ela acena com a cabeça em direçao ao copo que esta sob a torneira de agua da geladeira no momento em que começa a transbordar para a minha mao.

— Merda! — Eu o puxo para longe, e e uma coisa tola de se fazer. Agua espirra por toda parte.

Dou um passo, e minha coisa menos favorita no mundo acontece: eu piso na agua... com minhas meias.

— Filho da puta!

River ri.

De verdade, ri.

Eu viro minha cabeça em sua direçao. Nunca ouvi um som assim sair dela antes.

Se ela esta rindo quando estou por perto, e para mim, e isso pode ser classiicado mais como um bufo sarcastico do que qualquer outra coisa.

— Voce parecia Dean.

— Eu sou Dean.

Desta vez, ela revira os olhos. — Nao você Dean. Winchester. O que eu realmente gosto.

— Sabe, eu e aquele Dean temos muito em comum. E estranho voce nao gostar de mim tambem.

— Sinto muito, voce viu Jensen Ackles sem camisa?

— Voce me viu sem camisa?

Ela franze os labios. — Voce sabe que sim.

— E?

Ela engole em seco, a açao visıvel ate mesmo daqui, e se contorce em seu assento.

Ela limpa a garganta e acena com a mao, tentando parecer nao afetada.

— Nao estou impressionada.

— Nao foi isso que seus mamilos disseram. — Eu levanto minha perna, puxando minha meia molhada do meu pe, entao removo a outra. Eu as enrolo e coloco no bolso.

Se eu estivesse na minha casa, jogaria no chao.

Tenho a sensaçao de que nao iria cair muito bem com River.

— Tem uma reserva.

— Em um quarto com todas as janelas fechadas?

— Sim — ela diz. Entao ela aponta para a cozinha. — Segunda gaveta, ao lado do fogao.

— O que?

Ela bufa. — Toalhas de mao. Segunda gaveta, ao lado do fogao. Voce vai precisar deles para limpar sua bagunça. Eu nao tenho toalhas de papel.

— Voce se esqueceu de comprar alguns?

— Nao. Eu simplesmente nao os uso em casa. Reutilizar, reduzir, reciclar e tudo mais. Tento fazer a minha parte onde posso, e as toalhas de papel parecem inuteis quando ha guardanapos de pano lavaveis e toalhas perfeitamente boas que podem ser usados.

— Isso e... surpreendente.

— O que e?

— Voce sendo totalmente hipster e outras coisas.

— Se ser totalmente hipster signiica dar a mınima para o meio ambiente, entao sim, acho que sou uma “hipster”. — Ela usa aspas no ar em torno da palavra. — Voce precisa de ajuda?

— Voce vai continuar falando assim a noite toda?

— Assim como?

— So estou jogando fora essas perguntas aleatorias como se eu soubesse sobre o que diabos voce esta falando.

— Estou me referindo a sua bagunça. Voce precisa de ajuda para limpar isso? Voce esta demorando muito.

Eu balanço minha cabeça, indo em direçao a gaveta que ela apontou, e limpo minha bagunça.

River se levanta de seu banquinho, indo para a cozinha, passando por mim e tendo a audacia de me olhar de lado como se eu fosse o unico em seu caminho.

Terminada a limpeza, ico em pe, jogando a toalha no balcao ao meu lado. Eu inclino minhas costas contra o granito e cruzo os braços sobre o peito, observando enquanto ela corre ao redor, espiando em todos os armarios e embaralhando as coisas antes de fecha-los.

— Voce esta com fome ou algo assim? Precisa de um lanche? Voce parece extremamente mal-humorada hoje.

— Sim, realmente. — Ela puxa a porta da geladeira/freezer e leva cinco segundos ate que ela a feche com raiva tambem. — Eu estou morrendo de fome, e nao ha nada para comer neste apartamento.

— Nao acabamos de fazer compras no mercado?

— Sim, mas nada parece bom.

A verdade e que tambem estou morrendo de fome e, agora que estamos falando de comida, meu estomago esta começando a roncar. Fiz a mesma rotina tres vezes hoje antes de decidir comer algumas colheres de manteiga de amendoim direto do pote que estava claramente marcado com... bem, nao era meu nome.

Mas nao estou dizendo isso a ela.

— Vamos sair.

Ela enruga o nariz.

— Tipo... juntos? Em publico? — Eu a encaro com um olhar estreito.

— Sim.

— Onde as pessoas podem nos ver?

— River… — Eu aperto a ponta do meu nariz entre o polegar e o indicador.

— Tudo bem, tudo bem — ela cede. — Podemos ir para o Gravy Train. As pessoas ja nos conhecem la, entao nao vai ser estranho se formos vistos juntos.

— Voce esta agindo como se eu fosse uma especie de leproso.

— Voce disse isso, nao eu.

Eu me afasto do balcao, passando por ela. — Vou me vestir.

— Quer dizer que voce nao vai usar uma roupa que induz ao orgasmo por aı?

Eu giro de volta. — Voce sabe o que? Sim, acho que vou. Quer dizer, voce vai para a lanchonete parecendo uma merda no chao o tempo todo. Por que nao posso?

Ela mexe a mandıbula para frente e para tras com a minha mentira.

River pode nem sempre estar bem vestida, mas ela certamente nunca parece uma merda, mesmo quando esta tentando.

— Que seja. — Ela passa por mim como uma brisa, caminhando ate a porta da frente. — So nao ique muito perto de mim.

— Oh, eu estou perto - muito perto. Posso ate segurar sua mao para que todos saibam que estamos juntos.

— Por favor. Ela desliza os sapatos de volta enquanto eu caminho em sua direçao, pegando minha carteira e o telefone da mesa de centro e os enio no bolso. — Como se eles acreditassem nisso. Nos nos odiamos. Todo mundo sabe disso.

— Bom ponto. Voce nao e muito sutil quanto ao seu desgosto por mim.

— Voce pode me culpar? — ela joga de volta, agarrando sua bolsa enquanto eu abro a porta da frente e aceno para ela passar. Voce primeiro. Eu tenho a chave.

— Que eu ainda preciso de uma copia — eu a lembro enquanto me dirijo para o corredor. Eu perguntei a ela todas as manhas e noites desde que me mudei e ela ainda nao me deu uma copia.

— Entao voce disse cerca de dez vezes. Esta na minha lista de tarefas.

— Onde? No inal da lista?

Seu sorriso me diz que estou certo.

Antes que ela feche totalmente a porta, coloco a mao no bolso, pego a bola de meias molhadas e jogo no apartamento.

— Dean!

— O que? — Eu digo inocentemente. — Vou pega-las quando voltarmos. Eu nao iria para o Gravy Train com as meias molhadas no bolso.

— Mas voce vai levar sua tartaruga para la?

— Ela e minha tartaruga de apoio emocional!

— Claro que ela e. — Ela vira a fechadura e eu a sigo em direçao ao elevador, amando a forma como sua bunda ica com o jeans colado ao corpo que ela esta usando. — E Michael B. Jordan me pediu em casamento hoje.

— Aquele pobre coitado.

Ela bate na minha barriga. Espero que Morris roube suas meias e as esconda onde voce nunca as encontrara.

— E espero que Michael B. Jordan tenha proposto – seria bom alguem inalmente tirar voce de minhas maos.

— Isso implica que voce tem algum tipo de controle sobre mim, e posso garantir que nao poderia estar mais longe da verdade.

— Nao poderia? — Eu sorrio enquanto esperamos pelo elevador. — Voce parece muito obcecada por mim.

— Sonhe.

O elevador chega e as portas se abrem para mostrar outro residente do predio eniado la dentro, parado no canto do fundo.

Nao me lembro do nome da mulher – algo com um T – mas ela sorri calorosamente para nos quando entramos no elevador e paramos em frente a ela.

A viagem e silenciosa enquanto descemos dez andares.

Quando o elevador chega ao saguao, ela sorri para nos brilhantemente enquanto sai do elevador. — Eu sempre soube que voces dois iriam icar juntos eventualmente.

— Que porra e essa… — eu sussurro, uma vez que ela esta fora do alcance da voz.

— Pela primeira vez, concordo com voce — diz River. Ela torce o nariz enquanto saımos do elevador. — As pessoas pensam que

estamos... namorando? — Ela estremece, empurrando as portas principais do predio. — Ai credo.

Eu me arrepio com a reaçao dela.

Ela me odeia, eu entendo, mas insinuar para mim que namorar comigo seria nojento por alguma razao.

— Ai.

— Nao aja como se isso machucasse seus sentimentos. Voce sabe que nos namorando seria horrıvel.

— E.

— Sinto muito, voce esta insinuando que se namorassemos não seria um desastre?

— Pode ser bom. Especialmente por sua reputaçao.

Ela gargalha. — Por favor. Qualquer coisa, seria exatamente o oposto.

— O que foi que voce me disse antes? — Eu coço meu queixo. Ah, isso mesmo – tudo o que voce precisa dizer a si mesma para ajudala a dormir no quarto em frente ao meu a noite.

Ela levanta os olhos para o ceu.

— Cuidado — digo a ela. — Se continuar revirando os olhos assim, eles vao icar presos desse jeito.

Ela faz de novo, com um talento extra dessa vez.

Eu rio, agarrando a porta do The Gravy Train e abrindo para ela. Ela nao se esquiva enquanto meus dedos roçam em suas costas para guia-la para o restaurante.

Entramos na ila e ha pelo menos cinco pessoas a nossa frente. River nao esta feliz com isso.

— Eu juro, se alguem pegar o ultimo pedaço de torta de cereja, eu vou enlouquecer. — Ela esta la com os braços cruzados sobre o peito, batendo o pe contra o velho e gasto ladrilho xadrez preto e branco. Ela parece irritada, e e adoravel como esta icando incomodada. — Como o pior tipo de raiva que uma pessoa pode sentir. Virando mesas e tudo mais.

— Voce leva sua torta a serio quando esta com fome.

— Eu levo minha torta a serio o tempo todo. — Ela me olha de lado enquanto damos um passo a frente. — Algo que voce deve se

lembrar da proxima vez que quiser tentar rouba-la.

— E roubar se for dado a mim?

— Considerando que voce engana uma criança pobre e ingenua para “dar” a voce, sim – isso e roubo.

Eu ri. — Cara, aquele garoto e ingenuo. Maya deveria trabalhar nisso.

Um sorriso orgulhoso curva os labios de River. — Ela e uma boa mae.

— Ela e. — Eu concordo. — Eu vejo muitos pais entrando em minha sala de aula que nao sao. Me faz perceber que, mesmo quando eu pensava que estava mal quando era criança, poderia ter sido pior.

— De onde voce e originalmente?

— Nao muito longe. Cerca de uma hora e meia ao sul.

— Por que se mudou para ca?

Eu me viro para ela, surpresa. — Sinto muito, voce esta tentando me conhecer ou algo assim?

— Na verdade, estou apenas tentando me distrair da fome que esta rasgando o meu estomago para nao pular essa ila ridıcula e começar a roubar guloseimas direto do balcao.

— Ha tres pessoas na nossa frente agora. A ila nao é ridıcula. Ela encolhe os ombros e subimos novamente.

— Agora duas.

Ela rosna e eu rio.

Ficando na ponta dos pes, ela balança de um lado para o outro, tentando ver o que esta acontecendo a sua frente, sua paciencia se esgotando enquanto o casal de idosos no balcao – que tenho quase certeza de que estava por perto quando os dinossauros estavam – se moviam lentamente.

Suas pernas parecem longas dentro de seus jeans skinny, e eu sei que e uma ilusao de otica porque ela mal chega aos meus ombros em um dia bom.

A camisa de mostarda e bolinhas pretas que ela esta usando sobe com seus movimentos, me dando uma olhada em sua pele.

E agora tudo em que consigo pensar e na noite passada.

Como ela parecia boa ao luar fazendo a porra da pose que estava fazendo. Ela poderia estar la embaixo inventando uma merda completa e eu nao saberia. Eu a teria observado a noite toda se pudesse.

O resto da ila a nossa frente desaparece e avançamos para o caixa.

A mulher atras do balcao pisca duas vezes, claramente surpresa em nos ver.

— River. Dean. Voces estao aqui... juntos? — Ela expressa isso como uma pergunta, seus olhos curiosos disparando entre nos.

— Sim. — Eu sorrio para ela. — So estou pegando um pouco de jantar, Darlene.

— Juntos?

Tento esconder minha risada, mas e difıcil, especialmente quando posso sentir o aborrecimento vindo de River em ondas.

— Sim. Juntos. Posso tomar um cafe e uma fatia de cereja primeiro, depois um Don’t Go Bacon My Heart.

— Sinto muito, River, mas voce acabou de perder a ultima de cereja. Seus olhos castanhos se enchem de furia.

Opa.

— O que?

A palavra e cortada e ate Darlene da um passo para tras.

— I-Infelizmente, querida. Vendemos tudo ha poucos minutos.

— Mas e sabado a noite! Eu sempre como torta de cereja nas noites de sabado. Todos estao tao empolgados com o dia da noz-peca que faz a de cereja desaparecer do radar. — Os olhos de River caem em fendas. — Foi aquele homem dinossauro, nao foi?

Darlene nao responde, mas o gole grosso ja diz o suiciente.

— Eu sabia! — River explode. — E isso. Eu vou atras dele. Ela da dois passos antes de envolver meu braço em volta de sua cintura, segurando-a no lugar.

— O que voce vai fazer? Vai roubar uma fatia de torta de um velho?

— Sim! — Ela se contorce em minhas maos, tentando se libertar para fazer exatamente isso.

A parte mais triste e: eu acredito nela. Ela esta desesperada neste momento.

— Voce nao pode roubar torta dos clientes, River, especialmente os antigos. Esse homem esta facilmente na casa dos noventa. Pelo que voce sabe, este pode ser o ultimo pedaço de torta de sua vida.

— Pode ser minha tambem! Ela tenta correr de novo e eu a aperto com mais força.

Grande erro.

O atrito que ela esta causando esta fazendo meu pau solitario chorar com a pouca atençao que esta recebendo. Se ela nao parar, sera obvio que estou gostando muito de te-la esfregando contra mim.

Conhecendo River, duvido que deixaria esse constrangimento sair ileso.

Eu coloco meus labios em seu ouvido. — Lembra o que seu pequeno show de yoga fez comigo ontem a noite? Eu nem toquei em voce, e ja fez aquilo comigo. Voce quer se contorcer contra mim agora?

Como eu sabia que faria, funciona e ela para de lutar contra mim.

Eu relaxo meu controle sobre ela, mas nao a solto totalmente, nao conio nem um pouco nela.

Suas bochechas estao vermelhas quando ela se endireita, alisando sua camisa. — Voce pode me deixar ir agora, Dean.

Eu nao posso.

— Posso coniar em voce? — Eu digo, meus labios um pouco perto de sua orelha.

— Sim.

— Voce promete nao perseguir um pobre e indefeso homem velho e se comportar?

Ela grunhe. — Sim.

— Ok. — Lentamente, eu a solto e dou um passo para tras, deixando escapar um suspiro de alıvio porque eu realmente poderia usar o espaço.

Se ela percebeu alguma coisa se esfregando contra ela, guardou para si mesma, sem dizer nada enquanto ajeitava suas roupas e se

arrumava.

— Agora, va pegar uma mesa enquanto eu termino de fazer o pedido.

— Tudo bem, mas so porque se eu for, voce tera que pagar pelo meu jantar.

Ela sai na direçao de onde o velho foi e eu agarro seu pulso, puxando-a de volta para mim.

Eu balanço minha cabeça enquanto ela olha para mim inocentemente.

— O outro lado — digo a ela.

Ela faz beicinho e nao gosta, mas faz o que eu digo a ela, cambaleando para encontrar um lugar para nos do outro lado da lanchonete.

Quando ela esta fora do alcance da voz, volto minha atençao para a caixa registradora.

— Desculpe por isso, Darlene.

Ela esta exibindo um sorriso torto, balançando a cabeça para mim.

— O que? — Eu pergunto.

— Oh garoto. Voce tem uma situaçao ruim por ela.

Eu puxo minhas sobrancelhas juntas e decido ignorar seu comentario absurdo. — Vou tomar um cafe e um Couldn’t If I Fried.

Ela da uma risadinha. — Claro que e isso que voce quer.

—O que?

— Faz sentido, considerando que River pediu o...

— Don't Go Bacon My Heart eu termino. — Ok, entendi, mas voce esta lendo muito sobre isso. Eu sempre peço o Couldn’t If I Fried.

— E ela sempre pede bacon.

Ela pede?

Tanto faz. E daı se sempre pedirmos refeiçoes com nomes ridiculamente fofos que parecem que combinam? Nao signiica absolutamente nada.

— Ouça, se eu der dez a mais, voce pode dizer aquele cara que pediu a torta de cereja que ela caiu no chao e colocar na minha mesa?

Aquele sorriso bobo que nao deixou seu rosto cresce. — Para River? Ou para voce?

— Darlene…

Ela ri. — Me de vinte e voce consegue um acordo, querido.

Eu pago nossas refeiçoes – mais o suborno extra – e vou ate a mesa que River pegou.

Ela esta sentada la, furiosa, atirando adagas contra o velho na lanchonete, praticamente olhando para um buraco em suas costas.

— Deixe-o em paz, River.

— Ele roubou minha torta, Dean, e voce sempre rouba minha torta. As pessoas estao sempre roubando minha maldita torta e isso nao e nada legal.

— Voce poderia tentar chegar aqui mais cedo, sabe. Entao talvez tenha a chance de conseguir sua torta preciosa.

— Voce diz isso como se eu fosse o unico de nos que gosta de torta. — Ela engasga, os olhos arregalados. — Puta merda. Juro que se voce so esta comprando a torta porque sabe que gosto e voce nem mesmo a ama de verdade e adora como se fosse feita para ser amada e adorada, vou matar voce. Nao, primeiro vou expulsa-lo do meu apartamento e depois mata-lo.

— Bem, isso e duplamente terrıvel da sua parte.

— E verdade.

Ela pega o garfo da mesa, segurando-o na minha direçao de uma maneira que ela acha ser ameaçadora, mas tenho certeza de que ser ameaçada por uma criança mal-humorada e faminta e assim.

— Relaxa, turbo — eu digo, arrancando o garfo dela. — Eu realmente amo e adoro a torta da maneira que deve ser amada e adorada.

Ela solta um suspiro aliviado, sentando-se de volta na cabine. — Bom. Porque eu odiaria ter que matar voce.

— Desenvolvendo um fraco por mim, hein?

— Nao. So nao quero sujar meus sapatos com sangue. Eles sao meus favoritos.

Eu ri. — Justo.

— Aqui estao aqueles cafes. — Darlene coloca uma xıcara na frente de cada um de nos. — E eu encontrei isso para voce, River.

Ela pisca para ela enquanto desliza sobre um prato com um unico pedaço de torta de cereja e sai correndo.

Todo o rosto de River se ilumina, e algo em meu peito muda. Eu nao sei o que exatamente. Tudo o que sei e que foram os melhores vinte dolares que gastei durante toda a semana.

Ela se move mais rapido do que eu ja vi, pegando o garfo de volta e apunhalando a torta, empurrando um pedaço muito maior do que ela pode segurar na boca.

Ela geme, e la se vai meu pau saltando querendo atençao novamente.

Eu me mexo na cadeira, tentando ajustar meu pau dolorido sem tornar o que estou fazendo muito obvio.

Acho que nunca a tinha visto tao feliz antes, e isso inclui a vez em que ela pensou ter visto Hugh Jackman passando pela lanchonete.

Ela ate sorri para mim.

E eu me pego sorrindo de volta.

— Esta e a melhor coisa que me aconteceu durante toda a semana.

— O que? Jantar comigo?

Seu sorriso diminui, mas nao desaparece. — Se jantar com voce signiica torta gratis, entao sim. Embora eu me pergunte como Darlene conseguiu arranjar isso...

Suas palavras morrem enquanto ela inclina a cabeça, me estudando.

— O que? — Eu me inquieto sob sua inspeçao.

— Voce teve algo a ver com isso?

— O que? Nao. — Mas minha voz soa muito alta ate mesmo para meus proprios ouvidos. Eu limpo minha garganta. — Claro que nao.

— Esta desenvolvendo um ponto fraco por mim, Dean? — Ela pergunta com um sorriso malicioso, jogando minhas palavras de volta.

Pode ser.

Eu rolo meus olhos. — Cale a boca e coma sua torta, River.

Ela faz, e nao para de sorrir para mim o tempo todo. Essa sensaçao estranha no meu peito perdura.

— Voce sabia que esta sem ovos?

Eu estreito meus olhos para Dean enquanto ele entra na sala de estar, empurrando uma garfada de comida em sua boca. — Por que voce esta contando meus ovos?

Um sorriso de merda se estende por sua boca, e estou irritada com o quao bom ele parece, embora tenha um pedaço de ovo grudado no labio. — Porque eu nao quero que voce morra de fome. Lembro de duas noites atras, quando voce tentou mutilar um velho por roubar sua torta, e gostaria de evitar uma repetiçao.

Ok, entao talvez eu tenha sido um pouco temperamental na outra noite.

Mas a culpa foi inteiramente de Dean.

Ele foi o unico que me deixou tao excitada que eu nao poderia não cuidar de mim, o que naturalmente levou a desordem e um treino de im de noite.

Os olhos de Dean vagando sobre mim durante a minha sessao de yoga improvisada me deixaram mais acordada do que nunca, e eu nao adormeci ate quase o nascer do sol. Quando eu inalmente saı da cama na manha seguinte e vi o buraco que meu brinquedo deixou na parede, eu sabia que nao poderia enfrentar Dean.

Eu corri para a Making Waves mesmo sendo meu dia de folga, pulando o cafe da manha para nao ter que arriscar um encontro indesejado com meu colega de quarto. Meu dia inteiro icou desequilibrado depois disso.

Como eu disse, totalmente culpa dele.

— Duvido muito que voce esteja preocupado com meus habitos alimentares. — Levo meu cafe aos labios e assopro o lıquido quente.

Nao e preciso ser um genio para saber que ele andou roubando meus ovos e quase todas as outras comidas na geladeira e na despensa com o meu rotulo. E como se as regras que desenhamos cuidadosamente nao signiicassem absolutamente nada para ele.

Ele sorri para mim enquanto se joga na outra extremidade do sofa. E o mesmo sorriso que ele tem me dado desde que se mudou, como se ele soubesse que te-lo aqui esta me matando.

E isso e.

11
RIVER

Mentalmente... isicamente.

Estou tensa. Mais cansada do que o normal, com certeza. Te-lo por perto esta me estressando. O relaxamento e coisa do passado. E nao me reiro apenas ao tipo “relaxar sem as calças” ou “deixar meus peitos voarem livremente” – esse e um nıvel totalmente diferente de lazer.

Quero dizer, apenas sentar no meu proprio sofa e assistir algo de baixa qualidade na televisao. Ou entrar na minha propria cozinha e comer meio litro de sorvete sem sentir que seu julgamento vai me afetar. Simplesmente existindo no meu proprio espaço e nao me sentindo no limite ou como um hospede no meu proprio apartamento. Nem me fale sobre a maneira como ele regularmente anda por este lugar como esta agora, vestido com aquele moletom cinza caindo e uma camiseta branca lisa como se ele fosse um deus do sexo.

Eu odeio cada momento disso.

Especialmente a noite, quando eu deito na cama pensando sobre o fato de que Dean Fodido Evans esta deitado do outro lado do corredor... e como pode ser bom cruzar a soleira de seu quarto e se enrolar na cama ao lado dele. Para deixa-lo me tocar com as maos do jeito que fazia com os olhos.

Para beija-lo.

— Obrigada pelo inventario — digo a ele. — Vou marcar isso da proxima vez que izermos nossas compras de supermercado... e voce vai notar o plano cuidadosamente elaborado que traçamos.

Dou a ele um breve sorriso, deixando-o saber que nao vou aceitar mais suas merdas, incluindo ele roubando minha comida.

Ele ri.

Ele tem a porra da audacia de rir.

— Voce quer dizer escrever nossos nomes em nossa porcaria como se estivessemos no jardim de infancia ou algo assim? Vamos, River. Nao e grande coisa se usarmos as coisas um do outro. Eu sei que voce usa algumas das minhas coisas.

— Eu nao uso nada seu.

Ele levanta as sobrancelhas e eu trabalho hora extra para nao deixar meus ombros caırem.

Merda. Ele sabe.

Para ser justo, e culpa dele eu usar as coisas dele. Ele cheira tão bem. Tao bem que quero me banhar em seu perfume...

Entao eu me banho.

Posso ter começado a usar seu sabonete lıquido no chuveiro.

Mas posso realmente ser culpada? Esse cheiro de cedro luindo sobre mim... droga. Quase nao me sinto tao solteira e solitaria quando o uso.

Triste, mas verıdico.

— Eu nao — eu repito, mantendo minha compostura.

Ele me olha como se nao acreditasse em mim, mas desiste de qualquer maneira.

— Entao — ele começa, empurrando sua comida e misturando-a. — O que esta em sua agenda hoje?

Felizmente, com Dean morando aqui, tenho me distraıdo com o trabalho. Fiz questao de sair cedo todos os dias e icar ate tarde todas as noites apenas para evitar tempo extra com ele.

Grosseiro? Sim.

Necessario para nao cometer assassinato? Tambem sim.

Tenho certeza de que poderia invocar algo e me esgueirar para a loja, mas preciso de um dia de folga.

Eu amo a Making Waves – e o meu bebe – mas ate eu preciso respirar de vez em quando, e esta semana tem sido muito difıcil. Eu poderia fazer uma pausa.

Alem disso, tenho a sensaçao de que depois de aparecer na loja ontem quando eu nao deveria estar la, se Caroline e Maya descobrissem que eu iz isso de novo... bem, vamos apenas dizer que enfrentar a ira delas nao esta na minha lista de coisas: Eu quero fazer em breve.

— Pela primeira vez em muito tempo, absolutamente nada. Voce vai trabalhar?

Ele balança a cabeça. — A escola de verao nao começa ate a proxima semana.

— Alguma coisa para cuidar do apartamento?

— Impasse com o seguro.

— Voce vai estar em casa hoje, entao?

Ele concorda. — Sim.

— Oh.

Ele da uma mordida no que quer que seja meu que esta comendo, mastiga e engole. Voce quer que eu saia da sua frente depois do cafe da manha para que voce possa ter o lugar so para voce?

E la vai ele, me fazendo gostar dele um pouco mais de novo.

Seria mais facil minha vida se eu nao o tivesse por perto o tempo todo e pudesse realmente relaxar na minha propria casa? Sim.

Mas vou expulsa-lo pelo dia em que ele ja estiver passando por toda a merda que esta passando? Nao.

Ele pode ser a pessoa mais desagradavel do mundo, mas nao sou cruel.

Ele estica as pernas, colocando os pes na mesa de centro. Estendo a mao e bato neles, mas ele me desconsidera, deixando-os onde estao.

Morris, que esta se escondendo debaixo da mesa, estica a pata e da um tapa nele, me apoiando.

— Filho da… Dean puxa seus pes para baixo, pegando a dica nao tao sutil.

Ele olha furiosamente para Morris enquanto ele sobe no meu colo, se enrolando em uma bola e ronronando.

— Por que voce perguntaria isso?

— So porque eu mesmo tive uma festa da preguiça outro dia. Aposto que voce tambem poderia ter uma.

— Voce esta dizendo que estou tensa?

— Considerando que voce estava fazendo yoga a meia-noite no outro dia, sim. — Ele olha para mim com um sorriso tımido. A menos que voce nao estivesse acordada porque estava estressada e fosse algo totalmente diferente.

Nao tımida. Sinistro.

Por uma fraçao de segundo, esqueci que Dean e o diabo disfarçado.

— Nao me sinto bem em icar parada — digo a ele. — É por isso que eu estava fazendo yoga. — Mentira parcial. — Nao tinha nada a ver com mais nada.

— Eu tambem nao sou bom em icar quieto. E por isso que me inscrevo na escola de verao todos os anos e passo tantas horas no abrigo.

— Abrigo?

Ele aponta o polegar por cima do ombro. — Onde consegui esse idiota.

Leo, que esta descansando em uma cama de pedras, levanta a cabeça, e eu juro que ele faz contato visual direto comigo como se soubesse que estamos falando sobre ele.

— Voce nao estava brincando sobre ele ser sua tartaruga de apoio emocional?

— Eu sou seu treinador de suporte emocional. E nao. Por que eu mentiria sobre isso?

— Porque e estranho.

— Por que ele e uma tartaruga?

— Sim. — Tomo outro gole cuidadoso do meu cafe. — Nao seria tao estranho se fosse tipo, eu nao sei, um gato ou algo assim.

— Nah. — Dean balança a cabeça. — Eu odeio gatos.

— Ei! — Eu aponto para meu colo. — Morris pode ouvir voce!

— Eu disse o que disse, Morris.

Miau.

— Tenho certeza de que isso signiica que o sentimento é mútuo na linguagem dos gatos.

Ele ri. — Voce provavelmente esta certa.

— O que fez voce ter uma tartaruga de apoio emocional? — Dean abre a boca para me corrigir e eu rolo meus olhos. — Voce sabe o que eu quero dizer.

— Eu gostaria de ter uma boa historia, mas estava passando pelo abrigo pouco depois de me mudar para ca e vi uma placa que dizia São necessários voluntários. Eu nao conhecia ninguem na cidade ainda e tinha tempo antes das aulas começarem, entao imaginei por que nao? Eu nao tinha nada melhor para fazer. — Seu tom e casual, mas a maneira como ele olha para Leo com um sorriso nos labios conta uma historia diferente. — Cerca de uma semana depois de me tornar voluntario, esse carinha foi trazido. Ele foi capturado e cuidado por alguns anos antes de ser acidentalmente atropelado por um daqueles grandes carros Power Wheels. Sua casca estava muito quebrada e a famılia nao queria conserta-la, entao o entregaram ao abrigo. Felizmente, ele foi capaz de ser remendado de volta, mas pode levar muito tempo para uma concha cicatrizar. Eu me senti pessimo por ele.

p p p p

Ele e uma tartaruga, sabe? Nao um gato fofo ou cachorrinho gordinho. Ninguem ia dar a ele uma hora do dia. Entao, eu o levei para casa. Ele esta comigo desde entao.

Ele coloca a mao no terrario e Leo vai ate o vidro, batendo a cabeça contra a palma da mao de Dean como se tivessem feito um milhao de vezes antes.

Meu coraçao derrete.

Ele afasta a mao, colocando sua atençao de volta no prato. — De qualquer forma, nao consigo ir com tanta frequencia durante o ano letivo porque estou muito ocupado, mas tento dedicar pelo menos dois dias da semana ao abrigo durante o verao.

Ele pode falar como se so tivesse entrado no abrigo porque estava entediado, mas esta claro que tem um ponto fraco em seu coraçao por coisas quebradas.

Ele olha para mim, mastigando o resto de sua comida. — O que? — ele pergunta, engolindo. — Por que voce esta olhando assim para mim?

— Nada. — Eu balancei minha cabeça. — Nao e nada.

So que nao e. Estou começando a achar que Dean pode nao ser tao ruim quanto eu pensava.

Ainda e irritante? Sim.

Mas talvez haja mais nele do que eu pensava... e isso pode ser perigoso.

— Voce nunca me respondeu — diz ele.

— O que voce perguntou?

— Voce quer que eu me afaste do apartamento hoje?

— Nao.

— Legal. Quer fazer algo divertido comigo, entao? Algo para ajudar a desabafar e talvez ajuda-la a relaxar?

— Claro.

Espere o que?

Por que digo isso? E por que eu quero dizer isso?

— Voce esta brincando.

Eu ico olhando para o predio vermelho em estilo de um galpao que eu ja passei muitas vezes, mas nunca entrei.

— Nao.

— Isso e o que voce tinha em mente?

— Sim. — Ele abre a porta. — Vamos.

— Voce esta falando serio?

— Morte.

— Nao estamos um pouco velhos para isso?

— Estamos muito velhos para nos divertir? Nao. Agora, vamos.

— Por que diabos nao?

Com um encolher de ombros, eu passei por ele no que e apropriadamente chamado de The Skate Barn, um rinque de patinaçao.

A primeira coisa que noto e o cheiro – velho. Nao e totalmente desagradavel, mas cheira a antiquado, com certeza. O segundo e a decoraçao. Ha velhos posters de shows, folhetos e ingressos grampeados nas paredes. Esta desordenado, mas de uma forma artıstica.

Para minha surpresa, o lugar nao esta completamente morto. Ha cerca de dez pessoas no chao voando ao redor do ringue, e alguns retardatarios no meio se movendo mais devagar. Ha uma musica suave tocando nos alto-falantes e algumas crianças correndo loucamente na pequena sala de jogos.

— Este lugar e…

— Impressionante! — Dean bate palmas. — Oh cara. Eu nao estive em um destes em muito tempo. Eu vi na minha viagem no ano passado, eu morei aqui, mas nao tive a chance de dar uma olhada ainda.

— Eu tambem nunca estive. Acho que nem mesmo piso em um desses desde que tinha cinco anos.

— Serio? Tınhamos um na minha cidade natal. Ao longo do ensino medio, estava sempre lotado nas sextas-feiras a noite. O lugar mais quente para ir, com certeza.

— Acho que voce e um otimo patinador, entao?

Ele encolhe os ombros. — Eu me viro. Voce?

Vai ser muito constrangedor e não estou ansiosa por isso. — Eu vou me virar tambem.

— Bom. Vamos pegar alguns patins.

Dean coloca a mao na parte inferior das minhas costas, e minha pele zumbe exatamente como fez na outra noite, quando ele fez o mesmo movimento.

E bobagem. Nao e como se eu nunca tivesse feito isso comigo antes.

Mas o toque de Dean... e diferente.

Firme, mas gentil. Como se ele estivesse me tocando porque quer me manter segura e perto e porque ele nao consegue se conter.

Eu gosto disso.

Dean pede patins em nossos tamanhos, entao vamos ate um banco vazio e trocamos nossos sapatos pelo estilo de quatro rodas.

Ele termina primeiro, enquanto eu luto.

— Preciso de ajuda? — Ele pergunta, se elevando acima de mim com as maos nos quadris.

Eu olho feio para ele, tirando meu cabelo do rosto. — Eu nao sou uma criança. Posso amarrar meus proprios patins.

— Tem certeza? Porque nesse ritmo, icaremos aqui o dia todo.

— Voce pode sair sem mim.

Ele me lança um olhar que diz que acredita no contrario.

Em seguida, cai de joelhos, e eu ico parada enquanto ele enrola a mao em volta da minha panturrilha.

Se eu pensei que ter a mao dele nas minhas costas estava fazendo minha pele vibrar antes, eu estava errada.

Isso? E de outro nıvel.

Nao e como se esta fosse a primeira vez que Dean me tocou. Ele me colocou contra ele na lanchonete apenas duas noites atras, mas eu estava muito focada em comida para prestar atençao em como era estar em seus braços.

Se a sensaçao de ter a mao dele na minha perna e alguma indicaçao, perdi um grande momento.

Lentamente, como se ele pudesse sentir a diferença tambem, ele arrasta a mao pela minha panturrilha, levantando minha perna ate que meu patins esteja encostado em sua coxa gigante. Seus dedos se movem rapidamente enquanto ele endireita meus cadarços.

— Voce deve amarrar o cabelo para que nao voe na sua cara la fora.

— Eu pensei que voce gostava do meu cabelo solto?

Ele olha para mim com a sobrancelha levantada. — Desde quando voce se preocupa com o que eu gosto?

Eu nao respondo a ele.

Em vez disso, faço o que ele me diz, enrolando meu cabelo comprido em um coque e prendendo-o desordenadamente no topo da minha cabeça.

Ele coloca meus pes agora amarrados de volta no chao, entao pula nos dele com facilidade, como se tivesse nascido usando um par de patins ou algo assim.

Ele estende a mao para mim. — Esta pronta?

—Como sempre estarei.

Eu o deixei me puxar para cima. Eu realmente nao ando de patins ha muito tempo, provavelmente desde que eu tinha cerca de oito anos. Dessa vez, Maya e eu decidimos que seria divertido tentar escalar o pinheiro perto de nossa casa... entao começamos a cair e assustar nossos pais e a nos mesmos. Jogamos nossos patins na lixeira na manha seguinte.

— Vamos. — Ele começa a nos levar para o chao. — Eu sei que voce disse que ja faz muito tempo que voce nao usa isso, entao, quando chegarmos la, posso ajudar a te orientar se voce precisar. Eu vou–

Ele para e eu corro direto para ele.

Aqueles comediantes que caem exageradamente com os braços agitando-se e os pes balançando para frente e para tras como se nao pudessem encontrar traçao ate que batessem no chao?

Sim, sou eu agora.

Minhas pernas voam debaixo de mim e eu caio direto na minha bunda.

Dean tomba junto comigo.

— Merda! — ele grita enquanto desce.

O ar e expulso dos meus pulmoes quando ele cai em cima de mim, todos os dez bilhoes de quilos de musculos pressionando contra mim.

Ele se levanta, empurrando-se de cima de mim ate que esta pairando como se estivesse prestes a fazer uma lexao ou algo assim. — Merda! Porra! Merda! Voce esta bem?

Eu gemo e ele olha para baixo com olhos preocupados.

— Voce esta bem?

— Sim?

E uma pergunta porque, francamente, tudo doi.

Ele se inclina tao perto que posso ver pelo menos tres tons diferentes de verde em seus olhos.

— Por favor, me diga que voce nao bateu com a cabeça.

— Eu nao bati. — Ele exala, aliviado. — Mas tenho quase certeza de que meu coccix e inexistente neste momento.

Ele ri, fechando os olhos e encostando a testa na minha. — Eu posso trabalhar com uma bunda quebrada, mas nao uma concussao.

Eu paro de respirar novamente.

Eu paro de me mover.

Tenho quase certeza de que o tempo tambem para, porque nao sei dizer quanto tempo passa enquanto icamos deitados aqui, Dean em cima de mim e eu tentando nao respirar, como se eu fosse um cadaver em um programa de TV e a camera e ampliada no meu rosto.

Ele afunda mais. Eu juro que posso sentir seus labios contra os meus.

E eu juro que quero sentir mais.

— River?

— Sim?

Ele engole. Uma vez. Novamente.

— Eu... uh... eu–

— Bem, esta e uma reviravolta interessante.

Inclinamos rapidamente nossas cabeças em direçao a voz que vem de cima.

— Ei, Lucy — Dean fala casualmente.

Nossa sındica do predio esta de pe sobre nos, seus labios pintados de roxo brilhante se estendendo de orelha a orelha, as maos nos quadris.

Dean sai de cima de mim, sentando ao meu lado, puxando os joelhos para cima. Eu me levanto para sentar, meu coccix doendo seriamente com os movimentos.

— Como voce esta?

Lucy aperta os labios com a tentativa ridıcula de Dean de agir como se ela nao tivesse apenas nos pegado quase nos beijando.

Deus. Porra. Merda.

Dean Evans quase me beijou!

E quase o deixei.

— O que voces crianças estao fazendo aqui? — ela pergunta.

— Patinaçao.

— No chao? Horizontalmente?

O rosto de Dean ica tao vermelho quanto meu cabelo.

Lucy ri. — Estou apenas brincando, mas estou feliz em ver que inalmente aconteceu. Sempre soube que voces dois iriam icar juntos.

O que há com as pessoas dizendo isso?

Franzindo minha sobrancelha, eu olho para Dean, e ele parece estar tao confuso quanto eu.

Ele limpa a garganta. — O que voce esta fazendo aqui?

— Estou apenas começando a praticar.

— Praticar?

Lucy acena com a cabeça. — Roller derby.

Suas sobrancelhas apontam para a linha do cabelo. — Você joga roller derby?

—Costumava jogar. Eu era muito boa. Sem lei e como me chamavam, porque eu era pessima em seguir as regras. — Ela encolhe os ombros. — Agora eu apito. Eu posso estourar as bolas.

Tenho certeza que o apelido de Lawless tambem teve muito a ver com o fato de que ela se assemelha a Xena com seus longos cabelos negros e franja romba.

— Isso ainda e muito foda, especialmente para… — Suas palavras morrem, os olhos se arregalando quando ele percebe o que estava prestes a dizer e como esta completamente impotente para se convencer do contrario.

Eu posso estar gostando de ve-lo se contorcer sob a observaçao de Lucy um pouco demais.

— Alguem da minha idade? — ela fornece para ele, inclinando a cabeça. — Quantos anos voce acha que eu tenho, Dean?

Ele engole ruidosamente. — Eu so quis dizer... uh... eu quis dizer...

Ela ri. — Eu so estou brincando. Sei que nao sou um brotinho. Nao signiica que nao posso me divertir, certo?

Ela pisca, e eu me pergunto se ela de alguma forma ouviu nossa conversa anterior do lado de fora, porque soa quase exatamente como o que Dean me disse.

— Certo — ele concorda calmamente.

Ja vi Dean ser muitas coisas antes, mas nunca envergonhado como esta agora, olhando diretamente para seu colo e sem fazer contato visual com a nossa sındica.

Lucy me da outra piscadela e faz um gesto em direçao ao rinque. — Vejo voces crianças la dentro, certo?

Ela patina como se tivesse nascido sobre rodas, mas nenhum de nos faz mençao de segui-la.

— Ela vai totalmente aumentar meu aluguel depois desse comentario — diz Dean, olhando para ela.

— Nah, Lucy e muito legal. Prova: voce ainda esta morando no predio quando esta sendo claramente denunciado de forma consistente. Isso me lembra... por que acha que sou eu quem esta denunciando voce?

— Porque voce mora na casa ao lado e provavelmente eu a aborreço mais.

— Isso e provavelmente cem por cento correto, mas, infelizmente, nao sou eu.

— Por que nao?

Eu espreito para ele, e ele esta me observando com olhos intensos. — Nao tenho certeza.

Eu queria denunciar Dean nos ultimos meses, mas sempre que pego meu laptop para fazer login no sistema e registrar uma reclamaçao, nunca envio o formulario. Escrevi pelo menos dez no ano passado. Todos eles acabam no lixo.

Nao sei o que me impede.

— E esse ponto fraco que voce esta desenvolvendo por mim?

Ponto fraco? Por ele? Ele sonharia. De jeito nenhum eu tenho algo que se pareça com um fraquinho por ele. Ele e o homem mais detestavel do planeta. Se os alienıgenas invadissem a Terra e tivessemos que enviar um sacrifıcio com eles para salvar a humanidade, eu escoltaria pessoalmente Dean ate a nave deles.

Então por que você não o denunciou? E a melhor pergunta... por que ia deixar ele te beijar?

— Conie em mim, nao ha ponto fraco.

— Certo. — Ele ri, balançando a cabeça. Ele se levanta com facilidade e estende a mao na minha direçao. — Vamos. Vamos ver o quanto somos pessimos nisso.

— Voce so pode estar brincando comigo...

Eu rosno, batendo minha cabeça contra a porta e segurando a maçaneta ate que os nos dos dedos estejam brancos.

Trancado para fora novamente.

Eu gostaria de ter parado na loja de ferragens com ela a reboque a forçado a me fazer uma chave no dia em que fomos para o rinque de patinaçao, mas a unica coisa que estava passando pela minha mente e que quase a beijei.

Quase beijei River e se Lucy nao tivesse nos interrompido, eu o teria feito.

Inferno, mesmo quase uma semana depois, eu provavelmente ainda estaria beijando ela.

Longamente. Com força. De todas as maneiras que pensei quando nao conseguia dormir a noite e nao queria puxar o meu pau com ela no quarto do outro lado do corredor.

Agora, eu nao quero beija-la. Estou muito irritado com ela.

Eu bato na porta. — Droga, River! Me deixe entrar!

Uma mulher mais velha do outro lado do corredor sai de seu apartamento, com o rosto contraıdo em desaprovaçao. Ela ja me deu olhares semelhantes antes, e agora que sei que nao e River, aposto que é ela quem está reclamando de mim com Lucy.

Eu dou a ela um sorriso tenso.

— E uma coisa de jogo sexual.

Ela engasga, segurando o peito e correndo mais rapido pelo corredor em um esforço para se afastar de mim.

Nao sinto pena de assusta-la. Estou muito frustrado.

Preciso da chave deste apartamento, e isso muda... agora.

Eu bati na porta mais uma vez. — River! Abra, caramba!

—Uau.

Eu me viro, assustado com o som.

12
DEAN

River esta parada cerca de tres portas abaixo, em frente ao elevador. Ela esta encostada na parede, com os braços cruzados, me olhando com uma sobrancelha levantada.

— Dizendo as velhas que estamos jogando jogos sexuais e me xingando. E eu pensei que voce era um cavalheiro, Dean.

Eu zombo. — Voce nao tem essa noçao. — Ela encolhe os ombros. — Agora, abra a porta.

— Voce nao esta tecnicamente errado. — Ela se afasta da parede, caminhando em minha direçao com o passo mais lento do mundo –provavelmente porque ela caiu pelo menos dez vezes enquanto patinava. Com o mesmo passo de caracol, ela puxa as chaves do bolso e desliza a correta na fechadura, torcendo duas vezes e empurrando a porta aberta, gesticulando para eu ir primeiro.

— Eu posso ser um idiota as vezes, mas as mulheres sempre vao primeiro.

Ela resmunga algo que nao consigo entender e passa por mim. Eu a sigo para dentro.

— Qual e teu problema? — Ela joga a bolsa na mesa ao lado da porta, em seguida, tira os sapatos.

Eu mal segurei meu suspiro. Ela esta parada no meio da entrada comigo praticamente pressionado contra a porta, exigindo respostas como se eu fosse o idiota nesta situaçao.

— Voce esta brincando ne? — Seus labios franzidos me dizem que ela nao esta, e desta vez eu deixo meu suspiro sair. — Eu nao tenho a chave, River. Ainda. Ja faz um tempo que estou aqui e nao tenho como ir e vir quando quiser.

— Eu estive ocupada. Eu nao tive tempo de chegar a loja e conseguir sua propria copia.

— Por duas semanas?

— Por duas semanas? — Ela zomba de mim como se tivesse doze anos. — Sim. Caso voce nao tenha percebido, eu tenho um negocio.

— Oh, acredite em mim – as repetidas noites interrompidas de sono me fazem perceber o quao ocupada voce esta.

Embora ela tenha prometido trazer seu laptop do trabalho para casa, ela sempre “esquece”. Nesse ponto, tenho certeza de que ela esta começando a me deixar infeliz.

Ela nao parece nem um pouco arrependida, e eu sei que nao vou chegar a lugar nenhum com isso.

— Voce pode, por favor, me dar uma chave? Eu realmente nao acho que isso seja pedir muito.

—Eu–

— Se nao for por mim —eu a cortei, — entao pelo menos faça isso por Leo. Ele precisa de cuidado e atençao.

Seu olhar vagueia em direçao ao terrario montado no painel e a criatura adoravel descansando dentro.

Com uma bufada, ela revira os olhos na minha direçao. — Vou fazer disso uma prioridade – irei logo de manha. Por que voce vai e vem no domingo, ainal?

— Eu estava no abrigo antes, entao me encontrei com um amigo. Eu tenho uma vida, voce sabe.

— Voce tem amigos?

— Por que isso e surpreendente?

— Porque nao consigo imaginar alguem sendo amigo de voce por vontade propria.

Eu empurro a porta, fechando a distancia entre nos. Tenho muitos amigos, River.

— Soa exatamente como algo que uma pessoa sem amigos diria. Eu nao icaria surpreso se voce deixasse o apartamento todos os dias para sentar no parque sozinho, apenas para fazer parecer que sua vida nao e triste.

— Isso e muito rico vindo de voce. Se esqueceu, ja somos vizinhos ha um ano. Eu vi voce voltar para casa sozinha muitas noites ao longo dos meses.

Ela ergue o nariz. — Eu tenho padroes.

— Ou talvez seja porque voce nao consegue um cara para te levar para casa.

Ela inala uma respiraçao aiada, minhas palavras doendo. Seu peito arfa, e ela esta perto o suiciente para que eu possa sentir seus seios como fantasmas contra o meu corpo. Eu seria um maldito mentiroso se dissesse que meu pau nao saltou com o quase contato.

Merda. Mesmo quando ela esta nos meus ultimos nervos, como agora, eu quero beija-la.

O que diabos há de errado comigo?

E tudo o que consigo pensar.

Esta na minha cabeça a primeira coisa pela manha quando ela esta na cozinha fazendo seu cafe e assobiando a mesma melodia irritante de sempre. Quando ela olha para mim por acordar e existir. Quando ela chega em casa do trabalho parecendo estressada e cansada. A noite, quando estou deitado naquele colchao de ar de merda, rezando para dormir.

Eu penso sobre tudo isso. A. Porra. Do. Tempo. Todo.

Esta me matando lentamente. Esta semana inteira foi uma tortura.

A pior parte? Nao parece que tenha afetado River de forma alguma.

Eu preciso saber se isso aconteceu. Seus labios se curvaram em um rosnado. — Bundao.

— Ai. Estou tão magoado com o seu insulto superinteligente.

— Pau no cu.

— Sim, eu tenho os dois, baby.

Ela olha incisivamente para minha virilha. — Poderia ter me enganado.

Eu cerro meus dentes. — Isso foi frio, mas acho que nao deveria ter esperado nada menos da propria Rainha do Gelo.

— Eu so sou fria com voce.

— Diz a garota que obviamente passa mais tempo enroscada em seu sofa sozinha do que com os amigos.

— Voce esta insinuando que eu nao tenho nenhum amigo porque eu sou fria?

— Voce insinuou que eu nao tinha primeiro.

— Porque eu conheço voce!

— E eu conheço você.

Ela funga com altivez, girando para longe de mim e colocando distancia entre nos.

Soltei um suspiro de alıvio silencioso, esperando que ela nao ouvisse.

— Eu tenho muitos amigos, muito obrigada. — Ela se move para a cozinha, alcançando o armario ao lado da geladeira e puxando um copo. — Eu apenas preiro passar minhas noites sozinha.

— Voce com certeza tinha essa desculpa bloqueada e carregada, nao e? So estou dizendo que deveria sair mais. Comece um hobby. Sua agenda social, sem duvida, nao esta cheia.

Eu acertei um nervo. Posso ver em sua mandıbula, o modo como tiques.

— Eu tenho hobbies.

— Como?

— Evitar voce.

— Boa sorte com isso, ja que estamos morando juntos agora.

— E com esse lembrete, eu preciso de uma porra de uma bebida.

— Ela geme, murmurando algo, mas a unica palavra que consigo entender claramente e arrependimento.

Ela se curva, entrando no armario embaixo da torradeira. Uma garrafa de uısque cai pesadamente no balcao e ela abre a tampa, derramando dois dedos de bebida em seu copo.

Sem hesitar, ela joga o alcool de volta, em seguida, despeja um pouco.

— Eu–

Ela ergue o dedo e bebe a segunda bebida.

— Ah. — Ela estala os labios. — Muito melhor. Talvez agora eu possa lidar com voce. Agora, com o que quer me insultar em seguida?

— Voce esta bebendo seu uısque errado. E feito para ser saboreado, nao engolido como uma dose barata.

Com um rolar de olhos, ela serve outra bebida... e vira de novo.

Seu olhar cai para a garrafa e ela encolhe os ombros. — Voce quer saber? Foda-se. — Ela pega a garrafa e o copo, caminhando pelo corredor. — Eu estou tomando banho. Se eu me afogar, vou assombrar sua bunda!

A porta do banheiro bate e nao consigo deixar de rir.

Nolan estava certo.

River me desaia como ninguem jamais fez... especialmente a minha sanidade.

Provavelmente e por isso que me encontro indo em sua direçao como um manıaco.

Ela nao reage quando empurro a porta, quase como se ela esperasse que eu a seguisse. Seu uısque esta no balcao, e ela esta curvada sobre a banheira em nada alem de sua camiseta e calcinha, mexendo com a agua.

Sua bunda esta para cima e traz de volta todas as memorias de sua sessao de yoga, que eu conjurei muitas vezes para ser considerada saudavel.

Estar perto dela o tempo todo... esta icando na minha cabeça. Fazendo-me notar coisas sobre ela. Forçando-me a ve-la quando ela nao esta tao exausta o tempo todo.

Isso esta me fazendo gostar dela. Fazendo-me querer estar perto dela, e nao apenas irrita-la.

— Isso sao tartarugas na sua bunda?

— Sim.

Eu estreito meus olhos. — Eu pensei que voce odiava tartarugas.

— Por que voce assumiria isso?

— Porque voce odeia Leo e sempre tira sarro dele.

— Correçao. — Ela estende a mao e fecha a torneira. — Eu te odeio e tiro sarro de voce. Agora pode sair? Voce esta estragando meu banho.

Quando ela se vira, nao perco tempo prendendo-a contra a pia, prendendo-a.

Seu corpo pressiona com força contra o meu, e tudo dentro do meu cerebro entra em curto-circuito quando sinto seus seios.

Ela e macia e se encaixa contra mim como se fosse onde ela deveria estar.

— O-o que voce esta fazendo, Dean? — Sua lıngua aparece, traçando seus labios carnudos que parecem tao, tão bons.

Eu me inclino em direçao a ela, querendo prova-los. Precisando prova-los.

— O que eu estou fazendo?

Merda. O que estou fazendo?

Por que tenho esse desejo ridıculo de toca-la? Para provar ela?

E River! Isso nao faz sentido.

E, no entanto, aqui estou... olhando para seus labios, que muitas vezes vomitam palavras de odio.

Mas nada disso importa neste momento.

Eu preciso beijar ela.

— Eu vou te beijar. — Sua respiraçao acelera e eu olho em seus olhos. — Posso beijar voce?

Sua cabeça se move quase imperceptivelmente.

Entao, eu beijo River White, porra.

E ela me beija de volta. Com força.

Seus braços vao ao redor do meu pescoço, seus dedos batendo no meu cabelo ja bagunçado. Eu a apalpo como um viciado em drogas que tem medo de nunca mais receber outro golpe, passando minhas maos para cima e para baixo em seus lados, sobre sua bunda. Tudo sobre ela. Com muito medo de nao conseguir toca-la novamente.

Meu pau ica incrivelmente duro, e nao ha nenhuma maneira que nao o sinta pressionando contra ela. Eu me arrisco e me jogo nela. Ela engasga.

Eu faço de novo. Outro suspiro.

Sem aviso, ela se afasta e nos dois estamos ofegantes como se tivessemos acabado de terminar uma maratona para a qual estavamos mal preparados.

— O que... o que... eu... nos ...

Entao nossas bocas se fundem novamente.

Nao sei quem alcança quem primeiro. Nao sei qual braço vai ao redor de quem primeiro. Nao sei como vou ingir que nao sei como sao os labios dela.

Estou completamente fodido.

Eu desacelero minha boca, transformando o nosso beijo frenetico em algo mais calmo ate que nossos labios nao estao mais se movendo. Eu fecho meus olhos, descansando minha testa contra a dela.

— Eu... foda-se — murmuro.

Ela ri. — Eu concordo.

Abrindo meus olhos, eu me afasto, olhando para ela. — O que e que foi isso?

— Nao sei. Voce e quem me abordou.

— Foi voce quem nao me afastou.

— Foi voce quem gostou... embora eu ache que tambem gostei.

— Ela engole. — Por que?

Eu sorrio. — Voce me viu sem camisa?

Ela nao ri. Seus olhos castanhos queimam em mim.

Eu posso praticamente ver seus pensamentos passando por sua cabeça. Eles sao os mesmos que estao atacando os meus.

Por que eu a beijei? O que isso signiica? O que fazemos agora?

Nao sei. Nao sei. E eu nao sei, porra.

Tudo que sei e que quero fazer de novo.

— Por que voce fez isso, Dean?

— Porque eu nao poderia deixar de fazer isso.

— Nao pode signiicar nada. Eu te odeio.

— Nao quero que signiique nada, porque eu tambem te odeio. Entao, estamos nos beijando novamente.

RIVER

— Voce chegou cedo! O inferno congelou?! — Maya aperta o peito dramaticamente enquanto eu entro na Making Waves. Ela desliza em minha direçao, pegando a bandeja de cafes da minha mao. — Oh, espere – nao importa. Voce esta sempre adiantada.

— Ha. Engraçada. — Se eu tivesse algo para jogar na espertinha. — Mas nao vejo como minha pontualidade seja uma coisa ruim.

— E uma coisa ruim quando voce vive praticamente no trabalho.

— Caroline estende a mao sobre o balcao, pega um cafe da bandeja e toma um gole do lıquido bem quente, olhando para mim por cima da borda com olhos acusadores.

— Oh, sinto muito, voce não queria ajuda com o inventario hoje?

Ela faz uma careta, enxugando o pequeno traço de brilho labial da tampa de seu copo. — Eu odeio inventario.

— Foi o que eu pensei. — Eu coloco o saco de tortas que estou segurando no balcao, pegando meu proprio cafe. — Eu trouxe o cafe da manha.

— Saude. Eu estou morrendo de fome. Deixei minha barra de proteına em casa por acidente.

Maya, que normalmente nao come açucar de manha, agarra o saco, rasgando-o e dando uma grande mordida na primeira guloseima que consegue colocar as maos. — Eca. Mirtilo. — Ela o empurra de volta para dentro e pega outra coisa.

— Maya!

— O que? Voce sabe que eu odeio mirtilo. — Eu mal posso entende-la enquanto ela fala com a boca cheia, puxando outra da bolsa. — Ha! Eu vejo o morango saindo disso. Isso!

Ela morde, gemendo enquanto mastiga e engole a guloseima que eu queria para mim.

Recuperando suas maneiras, ela pega um guardanapo da bandeja e limpa a boca. — Eu sei que voce e uma workaholic completa, mas por que voce esta aqui meia hora mais cedo?

— Eu acordei cedo. Nao consegui dormir.

Maya franze a testa, pulando no balcao, sentando-se de pernas cruzadas. Ela sabe que eu odeio, mas nao digo nada hoje. — Voce

13

q g j experimentou sua medicaçao? Eu sei que voce so gosta de usar para emergencias, mas talvez esta seja uma?

— Nao estou nesse ponto ainda.

— Quanto voce dormiu na noite passada?

— Cerca de tres horas.

— Oh, voce esta certa entao. Deinitivamente, nao chegou no ponto de medicaçao. Como voce poderia estar? Quer dizer, voce dormiu três horas inteiras. Nao ha necessidade de mais. — Caroline toma um gole de cafe como se ela fosse aquele maldito meme do Caco e "nao e da conta dela".

Eu olho para ela. — Voce nao esta nada util hoje.

Ela ri, sem medo de mim. — Voce sabe que estou apenas reclamando, embora esteja preocupada. — Seus labios puxam para baixo nos cantos. — Voce precisa de uma pausa da loja?

— De jeito nenhum! Nao. Nao e nada disso. Minha falta de sono na verdade nao era minha insonia.

Os olhos de Maya se arregalam. — Voce e Dean transaram?

— O que? Nao!

Meu coraçao dispara com a sugestao, porque tudo em que consigo pensar e no beijo.

Nao tenho certeza quem parou de beijar quem primeiro, mas Dean nao disse uma palavra quando saiu do banheiro. Ele se retirou para seu quarto e eu entrei na banheira com meu uısque e nao saı por quase duas horas. Foi um milagre eu nao ter icado de ressaca depois.

Eu estava com muito medo de sair e encara-lo porque beijar Dean Evans foi o melhor beijo da minha vida.

Eu quero fazer isso de novo. E de novo. Imediatamente. Para todo sempre.

Seus ombros murcham. — Oh. Querida. O que esta acontecendo entao?

Merda. Pense em algo, River. Pense em algo imediatamente!

— Minhas costas, de patinar na semana passada. Ainda estou dolorida.

Ela levanta as sobrancelhas. — Ainda?

— Sim. Caı nao menos do que dez vezes. Nao e como se eu fosse curar durante a noite.

— Tem certeza que e isso?

Não. — Claro.

— Ainda nao consigo acreditar que voce saiu com Dean. Eu suspiro com a declaraçao de Caroline. — Nao foi um encontro.

—Oh, totalmente foi. Um encontro idiota tambem. Voce nem beijou. — Eu viro minha cabeça em direçao a Maya, pegando o cafe da manha que comprei de suas maos. — Ei! Devolva isso! — Ela luta para o volume de negocios.

— Nao. Turnovers sao para pessoas que não são idiotas. Ela faz beicinho. — Voce so esta aborrecida, eu estou certa. Eu rio zombeteiramente. — Por favor. Voce nao poderia estar mais errada.

— Entao voce beijou?

— Nao!

Isso nao e uma mentira completa. Nao nos beijamos durante a patinaçao.

Esperamos uma semana inteira, uma semana excepcionalmente longa em que ingimos que nada aconteceu. Dançando ao redor um do outro no apartamento ainda mais do que ja havıamos estado. Brincando, discutindo e cutucando um ao outro ainda mais do que o normal.

Ate que inalmente, Dean fez seu movimento. Meus labios ainda estao formigando.

— Voces dois deveriam se beijar. Ou alguma coisa. Voce esta apaixonada por ele ha tempo o suiciente.

— Caroline!

Seus olhos azuis se alargam enquanto ela inge inocencia, embora esteja longe disso. — O que? Nao sabia que era segredo.

— Espere – ela confessou que tem uma queda para voce? Maya pergunta a Caroline. — Eu tentei faze-la confessar e ela nem se mexeu.

— Sem conissao, mas quero dizer, vamos la — Caroline gesticula em minha direçao — e obvio.

— Nao confessei porque nao ha nada a confessar. Eu não tenho uma queda.

— Claro que nao. — Maya da de ombros. — Assim como eu nao tenho uma queda por Henry Cavill e nao me masturbei pensando nele pelo menos tres vezes esta semana.

Caroline engasga. — E quarta-feira, sua promıscua!

Maya pisca para ela, e as duas começam a rir.

— Voces duas estao começando a me cansar tanto quanto Dean. — Eu tomo outro grande gole do meu cafe, precisando dele para lidar com elas.

— Para alguem que nao tem uma queda, com certeza voce fala muito sobre ele.

Maya parece muito orgulhosa de si mesma por dizer isso, ate que ela ve a expressao no meu rosto.

— Ele nem mora la ha muito tempo. O que ele esta fazendo agora? — ela pergunta. — Oh cara. Voce ainda nao o matou, nao e? E isso que esta te estressando? Desova do corpo? Voce sabe que eu ouço aqueles podcasts de crimes reais – posso ajudar com isso.

— Em primeiro lugar, obrigada. Fico feliz em saber que se algum dia eu adquirisse o hobby de assassinato, voce me protegeria. — Ela sorri para mim. — Nao e uma coisa especıica com Dean. E tudo. Ele e barulhento. Ele come meus ovos e usa meu creme. Ele cheira a — céu academia. E sua maior falha de todas? Ele existe.

Caroline aperta os labios, seus olhos se voltando para Maya, que tambem esta lutando contra um sorriso. Elas estao se olhando como se compartilhassem um segredo, e eu quero saber disso.

— O que?

Elas nao respondem.

— Serio? Por que voces duas estao sorrindo assim uma para a outra?

Maya salta do balcao.

— Olha, so vou dizer isso uma vez, e vou dizer de uma distancia segura porque voce esta cansada e e mais provavel que jogue algo em mim. Ela solta um suspiro dramatico. — Voce parece uma daquelas crianças no parquinho que puxa rabo-de-cavalo ou diz que o garoto por

ç p q q p q g p quem estao apaixonados e nojento ou tem piolhos. Voce pode continuar a recusar, mas precisa dar uma boa olhada em por que voce esta se pressionando tanto para que a gente acredite em voce. Tudo bem gostar de Dean, River.

— Ugh. Eu–

Eu fecho minha boca enquanto ela levanta suas sobrancelhas perfeitamente desenhadas.

— Nos nao vamos te julgar. Na verdade, pode ser bom para voce. Talvez possa inalmente transar. — Ela abana as sobrancelhas. — Ou, voce sabe, se concentrar em algo diferente do trabalho.

Eu arrasto meu olhar para Caroline, que esta balançando a cabeça e me olhando assim como Maya.

Elas acham que eu tenho uma queda. Acham que estou apenas enterrando isso. Negando.

Elas estao erradas.

Eu não gosto de Dean.

Sua maldita musica e violao me mantem acordada. Ele rouba a minha torta. Ele tem uma tartaruga de apoio emocional, pelo amor de Deus.

Claro, ele e inteligente e pode ser engraçado quando nao esta ocupado me deixando louca. E, sim, ele tem uma carreira estavel, e nao vamos esquecer o quao inegavelmente atraente ele e... ou que essas sao todas as coisas que procuro em um relacionamento.

Mas ele e Dean.

Nao temos nada em comum alem do nosso amor por tortas. Nos nunca funcionarıamos.

Alem disso, eu o odeio.

Eu não posso gostar dele ... certo?

Nao importa que eu goste da maneira como seus olhos me acariciam. Nao importa que quando ele me toca, mesmo que seja apenas um sussurro supericial, eu sinto isso em todos os lugares.

E realmente nao importa que quando ele me beijou, parecia que tudo o que eu estava perdendo foi encontrado de repente.

Ele e Dean. Nao posso colocar pensamentos bobos como esse na minha cabeça sobre meu novo colega de quarto, especialmente quando

e ele.

Empurrando meu peito para fora, eu levanto meu queixo.

— Voce esta errada. Eu nao tenho uma queda.

As palavras soam fracas ate mesmo para meus proprios ouvidos. Oh inferno.

Ainal, eles poderiam ter razao. Eu tenho uma queda por Dean.

Nao sou boa em nao trabalhar. Nao esta no meu sangue.

Mas esta noite, eu nao pestanejei quando o relogio bateu sete e eu cliquei no sinal de Fechado.

Pela primeira vez em nem sei quanto tempo, estou subindo de elevador para o meu andar as sete e meia.

Eu nao quero estar no trabalho. Eu quero estar em casa.

Estou tentando nao analisar o que isso pode signiicar quando saio do carro.

Eu paro quando vejo Dean parado no corredor.

A ultima vez que ele esteve aqui, terminou em um beijo.

E errado esperar que isso aconteça novamente?

Nao conversamos sobre o beijo de tres noites atras. Nao estamos evitando ativamente um ao outro, mas nenhum de nos fez mençao de falar... ou beijar novamente. Estamos apenas coexistindo. Parece que algum tipo de barreira foi quebrada, mas nos dois estamos com muito medo de realmente cruza-la.

Lentamente, faço meu caminho em direçao a ele.

Ele esta encostado na parede oposta ao seu apartamento, os braços cruzados sobre o peito, sem prestar atençao em mim.

Ele abandonou a gravata para a escola de verao, mas estou surpresa em ver que ele ainda esta usando seu traje de trabalho, ja que inalmente mandei fazer uma chave para ele ontem. Certamente ele ainda nao a perdeu.

Entao, novamente, se ele tivesse, eu perderia essa vista.

Ele parece bem... muito bem.

A luz do sol do anoitecer esta se iltrando no inal do corredor, e esta lançando um brilho suave que faz parecer que ele esta em um daqueles comerciais de colonia que sao excessivamente sexuais e nao fazem nenhum sentido.

Lindo. Digno de poster.

Dou mais um passo em direçao a ele – entao congelo quando ouço.

Uma risadinha.

Esta vindo de dentro do apartamento dele.

Uma garota de cabelo escuro se curva sob a ita isolante que foi colocada.

Dean sorri para ela. — Divertindo-se?

— Imensamente.

Ele balança a cabeça. — Voce nunca vai parar de me provocar, nao e?

— Sem chance.

— Merda.

Ela ri de novo, empurrando-o de brincadeira. Ela parece vagamente familiar, e eu acho que e uma das garotas que Dean teve no passado.

Ela e maravilhosa. Absolutamente deslumbrante. Alta e esguia. Parece que tambem poderia estar em um daqueles comerciais de perfume.

Lembro-me de por que algo entre Dean e eu nunca poderia funcionar – ele e um idiota de grau A.

Ele esta transando pelas costas dessa garota, ou ele esta me enganando.

Eu tambem nao vou tolerar.

— Vamos la — ela diz. — Vamos pegar algo para comer. Entao podemos ir para a segunda rodada.

Eles se voltam para mim, e eu me enio atras da coisa mais proxima que consigo encontrar – o vaso de planta pelo qual peço

desculpas quase todas as semanas, porque estou sempre encontrando.

— River? Merda. Fui pega.

Eu espreito ao redor da samambaia. — Oh. Oi. Nao vi voce ai.

Os olhos de Dean estao arregalados. Ele esta surpreso em me ver. — Voce chegou em casa mais cedo.

Sim. Desculpe estragar seu encontro com minha presença. Eu sou apenas a garota que você beijou até perder os sentidos na outra noite. Nada demais.

Eu limpo minha garganta. — Sim. — Estou aqui para te ver. — Acabei o trabalho mais cedo, para variar.

Meus olhos voam para a garota bonita, e eu dou a ela o sorriso mais brilhante que posso arranjar.

Ela retribui, olhando entre mim e Dean com olhos curiosos.

— Eu, uh, eu estava querendo te apresentar a alguem. Essa e–

— Na verdade, eu tenho que ir... Morris. Eu preciso cuidar de Morris.

As sobrancelhas de Dean franzem juntas. — Ele esta bem. Acabei de veriicar como ele estava.

— E uma coisa de mae de gato. Voce nao entenderia. — Eu passo por ele e seu par. Eu deslizo minha chave na maçaneta e giro, em seguida, volto para a dupla. — Nao se preocupe, eu nao vou esperar.

Eu corro para dentro do meu apartamento o mais rapido que posso, batendo a porta e desabando sobre ela.

O que diabos? Quem ele pensa que é? Por que ele icaria tão indiferente com isso? Por que ele não me disse que estava saindo com alguém antes de me beijar?

Minha mente esta girando e eu respiro fundo algumas vezes, tentando me acalmar, mas e difıcil.

Estou fumegando. Com tanta raiva que estou vibrando.

Espere, nao. Essa e a porta.

Dean entra no apartamento, me movendo como se eu nao pesasse nada, e para ele provavelmente pesa.

A porta se fecha com o meu peso sobre ela, e tudo que posso pensar e que isso deve ser estranho para sua amiga no corredor.

Ele se eleva sobre mim, as maos nos quadris, seus olhos verdes geralmente brilhantes, pelo menos dois tons mais escuros.

— Que diabos foi aquilo? — Sua voz e baixa, quase um sussurro.

— O que foi o que?

— River…

— Dean… — Eu zombo de seu tom profundo.

Em seguida, seus grandes braços estao me encaixotando, minhas costas apoiadas contra a porta. Ele esta perto. Tao perto que quase posso sentir o gosto da canela em seu halito.

— Apenas fale comigo, River. Nao fuja do que esta te incomodando.

Eu encontro seu olhar forte. — Nao estou feliz com voce.

— Isso eu percebi. Quer me dizer por que?

— Voce me beijou. Voce me beijou e agora esta com outra garota. Me diz para falar com voce, mas nao falou comigo quando nao mencionou que esta saindo com alguem.

— Eu juro...— ele murmura, fechando os olhos. Quando ele os abre, eles icam mais escuros. — Se voce demorasse dois segundos para conhece-la, saberia que a garota parada no corredor nao e alguem que estou vendo e escondendo de voce. Ela e minha irma mais nova.

Irma dele?

Ah nao. Eu não me lembro dele mencionar ter uma irma antes, mas eu nao prestei muita atençao a qualquer detalhe sobre ela alem de que ainda vive em sua cidade natal.

— Eu... oh.

Merda. Eu apenas agi como um idiota ciumento por sua irma. Irmã dele!

O que diabos aquele beijo fez comigo?

— Sim. Oh.

— Eu... nao sabia.

— Eu entendi. So estou tentando muito nao icar ofendido pelo fato de voce pensar que ando por aı beijando pessoas quando estou em

um suposto relacionamento.

— Eu nao sabia — digo novamente, desta vez mais quieta.

— Isso nao e quem eu sou. — Ele desliza para mais perto, encaixando-se contra mim. Eu posso senti-lo icando duro, e aquela dor que esta crescendo dentro de mim desde que ele se mudou me deixa no limite. — Eu beijo com um proposito.

— Entao por que voce nao me beijou de novo?

—Porque voce nao perguntou.

Meu peito esta pesado. Estou implorando por ar e implorando para que ele se aproxime de uma vez.

Eu preciso que Dean me beije novamente.

—Dean?

Ele move seus quadris para frente e eu suspiro.

—Sim?

— Me beija novamente.

Ele ri e esta escuro, seu lado diabolico saindo para brincar. Nao.

Eu gemo, batendo minha cabeça na porta duas vezes. — Por que nao?

Ele abaixa a cabeça, seus labios percorrendo a pele macia do meu pescoço. Subindo, subindo, subindo ate que estejam no meu ouvido.

Quero me inclinar para o toque tentador, mas resisto.

Eu ja me envergonhei o suiciente esta noite.

— Se eu te beijar de novo, River — ele sussurra, aqueles labios malditos roçando em mim com cada sılaba — Eu nao vou parar.

— Isso e tao ruim assim?

— E quando eu quero fazer voce esperar. E quando eu tenho planos. — Ele se afasta de mim, seus olhos doem com a ideia de ir embora sem um beijo.

— Certo. Sua irma. Aquela garota no corredor.

Minhas bochechas icam vermelhas, e nao e so porque Dean acabou de me pressionar contra a porta com seu pau obviamente duro esfregando em mim.

Ele ri do meu constrangimento. — Se isso faz voce se sentir melhor, ela sabe que voce pensava que estavamos namorando e nao so vai tirar sarro de mim por isso, ela vai me bater com cerca de dez mil perguntas sobre por que voce reagiria daquela maneira.

— E o que voce vai dizer a ela?

— Que voce me beijou, e agora voce quer me beijar de novo e transformar em uma coisa toda como sexo e outras coisas. — Ele acena com a mao.

— Eu nunca disse nada sobre sexo! E você que me beijou!

— Eu defendo a insanidade temporaria.

— E isto? — Eu aponto entre nos. — Agora mesmo?

— Voce e uma bruxa. Voce usou magia em mim. Um feitiço de seduçao.

— Eles vao me apedrejar ate a morte.

— Entao foi bom conhecer voce.

Eu bufo.

— Fico feliz em saber que voce ainda me odeia.

— E voce?

— Eu o que?

— Voce ainda me odeia?

Nao sei.

O Dean que e meu colega de quarto parece diferente do Dean que rouba minha torta. Diferente daquele que escuta uma musica alta e horrıvel. Ele ate me enfurece em um nıvel diferente agorasexualmente.

Ele ainda e muito desagradavel em seu proprio direito, mas estou começando a acreditar que posso te-lo julgado mal antes.

E nao e so porque seus beijos me fazem sentir como se eu estivesse pegando fogo das melhores maneiras.

E mais profundo do que isso.

— Nao tenho certeza. Voce ainda me odeia?

Um lado de seus labios se curva para cima e ele olha para o chao, esfregando a nunca. —Acho que nunca odiei.

Meu coraçao bate forte.

Espere – nao.

Essa e a maldita porta de novo.

— Parceiro! Deanie Weenie! Voce se perdeu aı? — Sua irma bate na porta. — Ainda estamos jantando? Estou morrendo de fome e ansiando pelo The Gravy Train. — Deanie Weenie? Eu levanto uma sobrancelha em sua direçao.

Com o rosto palido, ele engole em seco. — Finja que voce nao ouviu isso.

— Ah nao. Eu quero detalhes.

Eu giro no meu calcanhar e abro a porta da frente. Sua irma tropeça um pouco para tras, mas rapidamente se recompoe.

Ela sorri para mim, seu grande sorriso branco quase cegando. Voce deve ser a vizinha de quem tanto ouvi falar.

— Huh. — Eu olho para Dean. — Voce tem falado de mim, Deanie Weenie?

O olhar mortal que ele da a irma quase me faz ter urticaria. Ele paira sobre nos dois, com as maos nos quadris, postura ameaçadora.

Sua raiva ferve em seus olhos. — Eu vou matar voce.

Ela rejeita sua ameaça. —Por favor. Entao quem vai lidar com o nosso pai por voce? — Ela se vira para mim. — Eu sou a Holland.

— River.

— Tenho certeza que voce esta se perguntando de onde Dean tirou seu apelido.

Eu balanço minha cabeça. — Muito mesmo.

— Holland, nao se atreva.

Eu me viro para ele, batendo em seu peito. — Silencio.

— Quando era criança, ele gostava de icar nu. Ele se despia de tudo quando e onde podia, entao começava a agitar seu weenie ao vento como aquele movimento de helicoptero. — Ela mexe os quadris como eu vi os caras fazerem antes. —Ele gritava, Weenie de Deanie, Weenie de Deanie! Ela encolhe os ombros. — Naturalmente, pegou... e os pesadelos tambem.

Dean xinga e aperta a ponte do nariz. — Lamento por ter te convidado para jantar.

— Que bom que voce nao me convidou.

— Isso mesmo – voce acabou de me enviar uma mensagem e so apareceu.

— Eu queria ver os danos que voce causou ao seu apartamento pessoalmente. Ela balança a cabeça e sorri na minha direçao. — Voce pode acreditar neste idiota? Jogou agua em uma panela cheia de gordura.

— Oh, posso acreditar – eu testemunhei.

— Eu sinto muito. Achei que nossos pais o criaram melhor do que isso. Pagaram por aquela escola particular chique e faculdade e tudo mais. Ainda tao denso.

— Ok — diz Dean, empurrando sua irma de brincadeira em direçao a porta. — Voce terminou. Va para fora. Estamos indo embora.

— Ah, tao cedo? — Ela me lança outro sorriso, lutando contra ele. — Foi otimo inalmente conhece-la. Eu amo os itens que voce vende em sua loja. Teremos que conversar por mais tempo da proxima vez.

Ela sabe sobre minha loja?

— Esta sera a unica vez que voces duas se encontrarao se eu tiver algo a dizer sobre isso.

Dean a empurra porta afora, fechando na cara dela enquanto ela ri.

Ele mantem a porta fechada com um braço e olha para mim.

— Ignore tudo o que ela acabou de dizer. Ela nao esta bem.

— Acho que ela esta perfeitamente bem.

— Voce esta confusa agora.

— Voce tem razao. Eu acabei de pedir a voce de todas as pessoas para me beijar... de novo. Claramente, meu julgamento nao e coniavel.

— Eu me ofendi um pouco com isso. — Ele limpa a garganta, os olhos icando serios. — Nos, uh, provavelmente deverıamos conversar sobre... o que esta acontecendo, hein?

Ele parece tao nervoso quanto eu, por que o que diabos esta acontecendo? O que estamos fazendo?

— Isso pode ser uma boa ideia.

— Quando eu voltar do jantar? Espera por mim?

Eu concordo.

Ele me lança aquele sorriso que esta começando a crescer em mim, entao sai pela porta, sem tirar os olhos de mim o tempo todo.

E meu coraçao bate novamente.

— Voces dois se beijaram.

Eu olho para minha irma mais nova irritante. — Cale a boca, Holland.

— Isso e uma conirmaçao?

— Isso e um cala-boca e cuide da sua vida.

— Isso e totalmente um sim.

Seguimos pelo corredor ate o elevador e apertamos o botao do elevador.

— Sabe, sempre pensei que voce pudesse ter uma queda por ela. — Ela bate o ombro no meu.

Eu resmungo e ela ri.

— Nao e o que voce pensa — eu digo.

— Entao, algo está acontecendo entre voces dois?

Esta? Nos nos beijamos e foi incrıvel, mas nao tenho certeza do que signiica... ou se signiica alguma coisa.

Seria absurdo pensar que poderia haver algo entre nos... nao seria?

E de River que estamos falando. Somos inimigos desde o momento em que mudei minha primeira caixa para o meu apartamento e Morris saiu, entrou furtivamente em minha casa e agarrou meu sofa. Nao houve um momento depois que ela nao me odiasse.

Como algo entre nos poderia realmente funcionar?

— Nao tenho certeza — digo a Holland.

— Voce quer que haja?

— Nao tenho certeza. — Ela balança a cabeça como se entendesse, embora nao haja como ela entender, porque eu nao entendo. — Acho que gosto dela, mas nem sempre estivemos nos melhores termos.

— Ouvi dizer que sexo de odio e bom.

Eu olho para ela. — Achei que tivessemos concordado em nunca discutir nossas vidas sexuais.

14
DEAN

— Eu disse que ouvi, nao que estivesse falando por experiencia propria. Mas agora que voce mencionou...

Eu balanço minha cabeça, cobrindo meus ouvidos. — Nao. Nao. Nem pense nisso.

Ela revira os olhos. — Mas voce a beijou, certo?

Irritado, jogo minha cabeça para tras. — Sim, nos nos beijamos.

— Ha! Eu sabia!

— Foi apenas uma vez. Mentira.

Foi mais de uma vez. Inferno, foi uma sessao de amassos completa.

Foi mais do que um beijo, mas nao aconteceu desde entao.

Nao por falta de desejo, mas porque nao sei como ela reagiria se eu cedesse aos desejos que tenho quando se trata dela. Nao sei o que River quer com isso. Nao sei o que eu quero com isso.

Eu so sei que quero toca-la novamente.

Eu quero prova-la novamente. E assim por diante.

— Ai credo. Voce esta totalmente pensando em beija-la agora, nao e?

Sim. — Nao.

— Mentiroso.

— Cale a boca, Holland.

Ela ri, e eu sei que vai ser uma longa noite.

Meu queixo cai quando abro a porta do apartamento de River. Bunda.

Isso e exatamente o que esta em exibiçao. River esta curvada e torcida em uma pose que eu nao saberia dizer o nome se minha vida dependesse disso.

Ela esta vestindo nada alem de um top e uma calcinha que parece cueca boxer para mulheres.

Um homem poderia se acostumar a voltar para casa e ver uma cena dessas.

— Voce esta em casa — diz ela enquanto se manobra para icar em uma posiçao vertical. — Achei que chegaria muito mais tarde.

— Tambem achei. Minha irma fala muito — digo a ela, fechando a porta da frente e tirando os sapatos. Morris corre e começa a farejalos. Ele provavelmente vai fugir com um deles antes que a noite acabe, so para me irritar. — O dever chamou, no entanto. Holland teve que sair mais cedo.

E por dever, quero dizer nosso pai e algum pedido estupido que poderia ter esperado ate de manha.

Mas nao quero pensar no meu pai idiota.

Eu quero me concentrar no que esta bem na minha frente. River. Mais especiicamente, River em sua calcinha, com a bunda para cima.

— Fazendo yoga?

Ela acena com a cabeça. — Tive um pouco de... tensao para superar.

— Eu percebi. — Eu entro no apartamento, sentando em um dos banquinhos na ilha da cozinha. — Bem, nao me deixe impedi-la. Por favor, continue. — Eu nem mesmo me preocupo em esconder meu sorriso.

Nem River. Nao, ela se curva de novo, esticando a bunda so para mim. Eu isicamente mordo meus dedos para nao estender a mao para ela.

E eu quero toca-la. Muito.

Eu quero correr meus dedos sobre suas curvas. Quero sentir o peso dela sob minhas maos. Quero ver se ela e tao lexıvel na cama quanto imagino.

Meu pau ica duro so de pensar nisso.

Eu abro minhas pernas, me ajustando.

— Pervertido — ela diz.

— Provocadora — eu rebato.

Ela nao esta errada. Estou sendo um pervertido agora, mas nao a vejo fugindo ou fazendo qualquer tentativa de se esconder.

Nao, ela nao esta fazendo nada disso.

River gosta dos meus olhos nela tanto quanto eu gosto de assistir.

Ela termina a sessao e nao ouso me mexer do banquinho, embora seja difıcil me conter.

Quando ela termina, vai ate a cozinha para tomar um copo d'agua.

Eu observo o tempo todo, ela faz isso tambem.

— Como foi seu jantar? — Ela pergunta, olhando para mim por cima da borda do copo.

— E realmente sobre isso que voce quer falar agora?

— Nao. — Com um suspiro, ela coloca o copo na pia e pousa as maos no balcao atras dela. — Por que voce me beijou, Dean?

— Eu ja disse o porque.

— Nao realmente. Voce disse que fez isso porque voce nao poderia não me beijar. Essa nao e uma resposta real.

— Nao e?

— Nao. E uma desculpa. Voce quase me beijou na pista de patinaçao tambem, nao e?

Eu concordo. — Se Lucy nao tivesse nos interrompido, eu teria.

— Por que?

Eu me empurro para fora do meu banquinho e ando ao redor da ilha ate que estou de pe em frente a ela, espelhando sua posiçao. — Pelo mesmo motivo de quando eu inalmente te beijei.

— O que–

Eu balanço minha cabeça, e sua boca para de se mover.

— Pare de perguntar o por que, River. Nao sei porque. Nao sou de dançar em torno de porcaria. Se eu tivesse uma resposta alem da que ja dei, eu te falaria. Nao podemos simplesmente deixar isso acontecer como esta acontecendo e parar de questionar?

— Nos podemos? Porque eu nao sei sobre voce, mas me assusta. Nao e estranho que, de repente, queiramos pular no osso um do outro quando estivemos brigando um com o outro no ano passado?

— Deinitivamente me interessa que voce queira pular sobre meus ossos.

— Dean… — ela resmunga.

Eu ri. — Estou brincando. Mais ou menos. Mas, tambem, e realmente tao surpreendente? Quer dizer, estamos morando juntos agora. Estamos nos vendo mais, de perto e em contato ıntimo. Da ultima vez que veriiquei, somos dois adultos solteiros que estao solteiros ha algum tempo. Estamos estressados e provavelmente sem sexo. Nao seria completamente insano tirar vantagem da situaçao em que estamos e aliviar um pouco essa tensao.

Ela morde o labio inferior, reletindo sobre minhas palavras enquanto olha para o chao no espaço entre nos.

Nao acredito que o que estou dizendo esta longe da verdade. Foi o que eu descobri durante um jantar com Holland. Ela estava tagarelando sobre algo a ver com o trabalho, e eu nao tinha nenhum interesse em prestar atençao.

Meus pensamentos se voltaram para River quase imediatamente.

Eu nao estou errado. Nos estamos passando mais tempo juntos, vendo um ao outro em uma luz totalmente nova. Deve haver uma descoberta de uma nova desejabilidade.

Alem disso, se estamos realmente sendo honestos conosco, sempre houve algum nıvel de atraçao entre nos.

O que isso esta dizendo? Amor e odio sao duas faces da mesma moeda?

Se ha uma coisa que icou clara para mim desde que morei com River, e que nao a odeio.

De jeito nenhum.

— Voce acha que estou errado? — Eu pergunto a ela.

— Nao. Isso parece uma avaliaçao justa da nossa situaçao.

— Eu concordo.

— E voce esta me beijando, o que? Aliviando a tensao? E isso que voce quer fazer? Ser companheiros de beijo?

Eu ri.

Beijar ela?

Oh, beijar e apenas o começo do que eu quero fazer com ela.

Eu quero ver o que a faz gritar. O que faz os dedos dos pes dela enrolarem. O que a faz pedir e implorar. Eu quero ve-la escalar os picos mais altos e cair novamente e novamente. Quero ver como ela se parece mais vulneravel.

Quero fazer muito mais do que apenas aliviar a tensao com uma rapidinha.

— Eu quero te foder, River. — Sua garganta balança com a minha franqueza, e dou um passo a frente. — Nao sera apenas uma coisa unica, porque sou meio ganancioso assim. — Outro passo. — Eu quero levar meu tempo. Aprender sobre seu corpo. Suas peculiaridades. Suas fraquezas. Eu quero aprender você.

Sua respiraçao esta icando mais aguda, o peito arfando com... antecipação?

Ela gosta do som disso tanto quanto eu.

— Voce esta propondo amizade com benefıcios?

Eu puxo meus labios para cima.

— Voce acabou de nos chamar de amigos? — Estendo a mao, eu escovo meus dedos ao longo da pele que esta aparecendo entre sua camisa e calcinha. Sua pele se ergue com o leve toque. — Eu disse que voce esta ganhando um ponto fraco por mim.

— E eu pensei que nos concordamos que voce icou temporariamente louco.

Devo ter icado, nao e? Aqui estou sugerindo a garota que me odeia que comecemos algum tipo de arranjo sexual enquanto ela me permite morar em seu apartamento.

Ela ri, provavelmente pensando a mesma coisa.

— Sem rotulos, entao — ela diz. — Sem pressao. E apenas o que e.

— E apenas uma coisa que estamos fazendo, nao vamos dar grande importancia a isso.

— Certo. E nada de anal. Nada de dormir com outras pessoas tambem.

— Podemos voltar para aquela conversa do anal mais tarde. Ela sorri, balançando a cabeça. — E quando meu apartamento estiver

pronto...?

— Isso esta acabado. Sem apego. Voltamos a ser vizinhos. Nao vamos tornar isso estranho. So estamos aliviando a tensao.

Eu concordo. — Decidido. Entao, e essa a sua maneira de dizer que quer fazer isso? Preciso de uma resposta clara sobre isto, River.

Ela solta um suspiro profundo, em seguida, fecha a distancia entre nos. Eu envolvo meu braço em volta de sua cintura, e ela suspira quando a puxo para perto, como se ela tivesse esperado a noite toda para me sentir novamente.

— Eu estou completamente desesperada ou tao louca quanto voce… — Ela inclina a cabeça para tras, olhando para mim. — Sim, eu–Eu a beijo.

Ela geme e me beija de volta com a mesma força.

E loucura dizer que senti falta disso? Senti falta de sua boca na minha. Senti falta da sensaçao de seu corpo sob minhas maos. Os sons que ela faz. Sua ansiedade.

Ela.

Sim, amigo, isso é muito louco.

Ah, foda-se. Eu gosto de um pouco de loucura.

Eu varro minhas maos para baixo em suas curvas, deslizo-as sob sua bunda e a puxo para cima, girando-a para coloca-la no topo da ilha.

— O que voce esta fazendo? — Ela pergunta, quebrando a conexao entre nossas bocas.

— Tentando beijar voce. Pare de falar.

— Nao. — Ela me empurra e eu dou um passo para tras, atendendo ao seu pedido e dando-lhe espaço. Ela ri, entao agarra minha camisa, me puxando de volta para ela. — Nao, não. So não aqui, nao.

— O que? Por que nao? Voce sabe quantas vezes eu pensei em voce deitada neste mesmo balcao?

Seus olhos castanhos aumentam de desejo. — Porque tenho quase certeza de que posso sentir Leo olhando para nos e e estranho.

Eu olho para ele por cima do ombro, e ela esta certa. Ele está olhando para nos.

— Voce esta tentando me bloquear, homenzinho? Eu pensei que eramos mais irmes do que isso.

River da uma risadinha, e eu percebo entao que poderia ouvir aquele som pelo resto dos meus dias e nao me cansar dele.

— Leve-me para o seu quarto.

— Meu quarto? Voce quer foder em um colchao de ar?

Ela franze o rosto. — Bom ponto. Vamos para o meu quarto. Ela nao precisa me dizer duas vezes.

Eu a pego em meus braços, e ela envolve suas pernas em volta da minha cintura enquanto eu dou longos passos pelo corredor, sem perder tempo.

Ela solta pequenos sons cada vez que meu pau roça contra ela, e eu mal posso esperar para ouvir como ela soa quando estou dentro dela.

— Pode ser que voce queira fechar a porta — ela diz quando chego ao seu quarto.

Eu levanto uma sobrancelha em questao, mas sigo suas instruçoes.

— Morris — ela explica. — Ele provavelmente tentara atacar se ele ver voce em cima de mim.

— Oh, voce apenas presume que vou estar por cima, hein? — Eu a deixo cair na beira da cama sem cerimonia. Elevando-se sobre ela, eu olho para baixo enquanto ela pisca para mim com olhos divertidos. Se voce acha que estou fazendo todo o trabalho, voce esta louca.

Revirando os olhos, ela enganchou um dedo na alça do cinto da minha calça e me puxou para mais perto, passando o cinto pela ivela. Enquanto ela trabalha para desfaze-lo, eu rapidamente desabotoo os botoes da minha camisa social. Estou jogando o material pelo quarto quando seus dedos encontram meu zıper, e o som e alto quando ela o arrasta pelo caminho.

Ela trabalha minhas calças nas minhas coxas e, se possıvel, eu juro que ico mais duro quando ela rola a lıngua sobre os labios ao ver meu pau lutando contra minha cueca boxer.

— O que voce esta fazendo, River? —Minha voz esta aspera e aspera, e tenho que trabalhar para fazer as palavras saırem.

— Chupando seu pau.

— Eu estava brincando.

Ela me olha com olhos pesados. — Eu nao estou.

Suas unhas arranham levemente sobre minhas coxas enquanto ela puxa minha cueca para baixo e libera minha ereçao.

Ela nao perde tempo antes de me tocar, envolvendo a mao em volta do meu pau e me dando uma carıcia leve.

Eu posso deinitivamente dizer que ja faz muito tempo porque aquele toque e muito bom.

Ela se inclina mais perto e traz sua boca para mim, achatando sua lıngua e acariciando ao longo da parte inferior do meu pau.

Eu posso morrer.

— Puta que pariu — murmuro.

Seus olhos voam para os meus. — Voce vai segurar meu cabelo?

Quase gozo apenas com o pedido dela.

Eu deslizo minha mao em seu cabelo, envolvendo as longas mechas vermelhas em volta do meu punho e puxando-as para cima.

— Mais apertado — ela me diz, e meu pau pula.

Porra. — Voce esta tentando me envergonhar e me fazer gozar rapido demais?

Ela nao responde.

Ela nao pode.

Seus labios estao muito ocupados em torno do meu pau duro.

— Filha da… —Eu agarro seu cabelo com mais força.

Com um ritmo torturante, ela desliza sua boca sobre mim, e eu vejo enquanto desapareço centımetro a centımetro.

Ela segura meu olhar enquanto começa a trabalhar em mim apenas com a boca, chupando e usando sua lıngua para me torturar enquanto eu ajudo a guia-la em um ritmo que eu amo. A cada estocada, ela me leva mais fundo e, a cada estocada, ico cada vez mais perto da borda.

Ela raspa as unhas nas minhas coxas, e a pontada de dor me faz praguejar da melhor maneira.

Ela ri e faz isso de novo.

Eu entendi bem antes – River e deinitivamente uma bruxa.

Quando ela tenta tirar sua boca de mim, eu ajusto meu aperto e seus olhos se arregalam de excitaçao. Eu lentamente a conduzo de volta

ao meu comprimento ate que estou completamente acomodado em sua boca. Ela geme ao meu redor enquanto eu a seguro la por alguns instantes, e eu sei que se continuar assim, sem duvida vou explodir minha carga direto em sua garganta.

E muito cedo para isso.

Eu balanço meus quadris algumas vezes, entao solto meu aperto. Ela relaxa, saindo de cima de mim com respiraçoes duras.

— Voce esta bem?

Ela acena com a cabeça, os olhos vidrados de desejo. — Faça isso novamente.

Eu rio e balanço minha cabeça. — Nao dessa vez.

— Dean…

Eu liberto as mechas vermelhas do meu alcance e alcanço-a, puxando-a para icar de pe.

Ela nao esta vestindo muito, mas eu quero que ela use muito menos.

Eu agarro a bainha de sua camisa e ela levanta os braços, me ajudando a tira-la dela. Eu a deixo cair no chao.

Eu tiro o resto das minhas roupas, em seguida, recuo para olhar para ela. Ha um brilho suave do luar entrando pela janela do outro lado da sala, e a atinge em todos os angulos certos.

River e sempre linda.

Mas River esta sem camisa com nada alem de uma calcinha, seu cabelo profundamente vermelho uma bagunça de minhas maos, um rubor em sua pele e um olhar em seus olhos que diz Foda-me, por favor?

E um visual totalmente novo para ela.

— Voce e linda.

Seu rubor aumenta.

Eu chego nela, segurando seus seios com minhas maos, correndo meus polegares sobre os seus mamilos endurecidos. Eu passo uma mao por sua barriga e direto em sua calcinha.

Eu nao paro ate que meus dedos encontrem o caminho entre suas dobras, e meu Deus, ela esta molhada.

— Meu pau em sua garganta fez isso?

Um gemido.

Um aceno de cabeça.

— Bom.

Eu deslizo meus dedos dentro dela, e sua respiraçao engata quando ela encosta a cabeça no meu ombro.

— Oh, inferno. Eu sabia que voce era o diabo.

Eu rio e enio meus dedos mais fundo. Eu uso meu polegar para acariciar seu clitoris enquanto deslizo minha outra mao em volta de seu pescoço e trago seus labios nos meus.

Eu a beijo, usando minha lıngua em sincronia com os movimentos dos meus dedos. Ela balança na minha mao, gemendo e me puxando, querendo mais.

Ela afasta os labios dos meus. — Dean.

E tudo o que ela diz, e eu sei que ela esta pronta.

Eu puxo minha mao de seu corpo. — Va para a cama.

— Que posiçao?

— Sim.

Ela ri. — Estou falando serio.

— Eu tambem — digo, agarrando sua cintura e guiando-a para tras. — Eu quero voce em todas elas.

Seus olhos escurecem quando caımos na cama, e eu coloco minha boca na dela.

Sem aviso, eu a viro, colocando sua bunda no ar exatamente onde eu gosto.

— Voce tem ideia de quanto tempo eu queria coloca-la nesta posiçao exata? — Eu digo, passando minhas maos sobre ela, apertando. — Sempre me provocando com essa merda de yoga.

Eu dou a ela um leve tapa, testando.

Ela geme.

Eu faço de novo.

— Pare de provocaçao — diz ela, empurrando sua bunda mais para fora. — Apenas me foda.

— Eu quero provar voce.

— Mais tarde. Por favor.

Dou outro tapa nela. — Preservativo?

— Cabeceira. Gaveta superior.

— Nao se mova.

Eu rolo para fora da cama para pegar a camisinha. Enquanto a coloco, ela começa a empurrar a calcinha para baixo e eu afasto sua mao.

— Nao. —Eu volto para minha posiçao. — Minha.

— Ugh. — Ela geme, balançando os quadris. — Voce poderia se apressar pelo menos?

Meus labios em sua orelha, eu digo — Voce realmente quer estar mandando em mim agora? Porque eu poderia prolongar isso a noite toda.

— Voce realmente quer tentar me ameaçar agora? Porque eu poderia me afastar disso e cuidar de mim mesma com um de meus muitos vibradores. Sua escolha.

Eu golpeio sua bunda novamente e tiro sua calcinha.

— Isso e o que eu pensei —diz ela presunçosamente. — Agora, foda-me ja.

Eu dou alguns puxoes no meu pau, em seguida, me alinho com seu nucleo, empurrando em seu calor.

— Oh, merda… — Eu assobio quando ela começa a me apertar. Tem sido muito tempo desde que eu senti algo tao bom. — Porra.

— E isso que estou tentando fazer. Tapa!

Ela choraminga com o tapa em sua bunda, e eu deslizo lentamente, observando enquanto ela se estica ao redor do meu pau como se ele fosse feito para ela.

Agarrando seu quadril com uma mao, movo a outra para cima em seu corpo para torcer aquele cabelo dela que estou realmente começando a amar em volta do meu punho, e acerto.

Eu juro que vejo estrelas.

Ela e tao gostosa. Melhor do que eu imaginava. Eu sei que vou ter diiculdade em seguir as regras de não me apegar, porque eu deinitivamente poderia me apegar a esse sentimento.

Ela grita e eu a penetro novamente.

Nos encontramos um ritmo enquanto eu entro nela, nossa pele se chocando, nossa respiraçao icando cada vez mais pesada. Nao demora muito ate que ambos estejamos oscilando perto da liberaçao.

— River?

Eu desacelero meu ritmo e me inclino, capturando sua boca com a minha, fazendo estocadas curtas e rapidas.

— Estou perto — ela murmura, respondendo a minha pergunta silenciosa atraves dos beijos.

— Obrigado, porra. — Eu descanso minha testa contra sua tempora, empurrando dentro dela novamente. — Toque-se. Goze comigo.

Ela coloca a mao entre as pernas e brinca com o clitoris, e adoro que ela nao tenha medo de fazer isso.

— Tao perto — ela sussurra. — Mais.

Eu empurro dentro dela sem restriçao, e ela grita quando seu orgasmo toma conta, sua boceta apertando em torno de mim, me implorando para segui-la ate o limite.

Eu acelero meu ritmo, e leva menos de um minuto antes de segui-la para a felicidade.

Ela desaba no colchao e eu caio em cima dela, deixando minha cabeça cair entre seus ombros.

Nossas respiraçoes sao altas e asperas. Ansiamos por ar, por qualquer tipo de alıvio.

— Bem, isso aconteceu. — Ela quebra o silencio primeiro.

Eu rio, rolando de cima dela e caindo de costas, um braço sob a minha cabeça enquanto trabalho para acalmar minha respiraçao. — Sim, aconteceu.

Ficamos em silencio e a realidade do que acabou de acontecer começa a se estabelecer.

Assim como o panico.

O que diabos estamos pensando?! Nao podemos fazer isso! Voce nao pode simplesmente voltar ao normal depois de iniciar um relacionamento apenas sexual casual com seu vizinho/colega de quarto temporario.

Você é um idiota, Dean. Completo e absoluto idiota. Não há como isso acabar bem.

Ela rola para o lado, de frente para mim.

— Ei, Dean?

— Hum? —Eu digo, virando minha cabeça em direçao a ela.

— Quer comer uma torta?

E assim, eu sei que vamos icar bem.

Uma melodia suave me tira do meu sono tranquilo.

A musica e familiar e reverbera na minha cabeça como se estivesse vindo de algum lugar proximo.

Tipo “bem ao meu lado” meio perto.

Embora eu nao esteja pronta para acordar ainda, eu arrasto meus olhos e olho ao redor.

Verde. Muito verde.

Como meus bombons de chocolate favoritos. Isso me faz querer muito M&M.

Meu estomago ronca so de pensar em comida.

A cama estremece de tanto rir e a musica para.

— Alguem esta com fome — diz Dean, olhando para mim com o violao nas maos.

— Se alguém nao tivesse me mantido acordada a noite toda e me alimentado adequadamente, meu estomago nao estaria roncando.

— Ei, voce e que insistiu em apenas torta e depois outra rodada.

— E foi voce quem me acordou no meio da noite para a proxima.

Ele nao parece nem um pouco arrependido e, honestamente, pela primeira vez nao estou nem um pouco chateada com a minha falta de sono. Mesmo estando dolorida da melhor maneira possıvel, me sinto como um milhao de dolares. Desgastada, mas saciada... e talvez um pouco faminta por mais.

Ele levanta um ombro, sorrindo para mim. — Eu te disse que eu nao estava fazendo sexo. So estou tentando compensar todos os meses que iquei sem.

— Certo. — Eu me coloco em uma posiçao sentada, descansando minhas costas contra a cabeceira da cama. — Tenho certeza.

Meu movimento puxa o cobertor, e ele cai perigosamente baixo, atraindo meus olhos para sua ereçao muito obvia.

Ao contrario de mim, que coloquei a minha calcinha e camisola de volta depois do meu banho, Dean dormiu nu na noite passada. Eu descobri que ele so esta dormindo de cueca boxer por minha causa.

15
RIVER

— Por que parece que voce nao acredita que ja faz meses que nao durmo com alguem?

— Voce esqueceu que somos vizinhos?

— Nao?

— Eu vi as meninas entrando e saindo do seu apartamento no ano passado. Estou ciente de que voce nao esta sofrendo por entretenimento.

Suas sobrancelhas negras se erguem. — Andou me espionando, River?

— Por favor. Tenho tantas coisas melhores para fazer com meu tempo.

— Uh-huh. Gosta de icar em casa no sofa com seus biscoitos e sorvete?

— Oh meu Deus. Voce me viu com um saco de salgadinhos no elevador uma vez.

— Uma vez por semana.

Eu o viro. Ele ri.

Em seguida, chega a mesa de cabeceira, pegando seu telefone celular e jogando-o no meu colo. — Ligue para o seu optometrista.

O que?

Ele acena com a cabeça em direçao ao telefone, movendo os dedos de volta para as cordas do violao, puxando-as sem pensar. — Seu oftalmologista – ligue para ele.

— Por que?

— Porque, claramente, voce precisa veriicar seus olhos.

Eu reviro os olhos, jogando seu telefone de volta na mesa de cabeceira. — Por favor. Nao tente sentar aqui e me dizer que estou vendo coisas.

— Oh, nao estou dizendo que voce esta vendo coisas. Apenas dizendo que voce nao esta prestando atençao ao que esta bem na sua frente. "Todas aquelas garotas" que voce tem visto? E a mesma garota.

Eu enrugo meu nariz, balançando minha cabeça. — Nao, nao e.

— Eu posso garantir a voce, e.

Meus olhos se arregalam. — Voce vai me dizer que essa e sua irma de novo, nao e?

Seus labios se curvam em um sorriso. — Ela pinta o cabelo com frequencia – a unica mecha rebelde que ela tem. Fico lisonjeado por voce pensar que sou tao pegador que consigo pegar todas as garotas o tempo todo. — Ele da um tapinha no peito nu. — Me da o calor e carinhos.

— Eca. — Eu bato nele, mas ele se esconde atras de seu violao. — Cale-se. Vou voltar para a cama, eu ja nao posso lidar com voce hoje.

Eu balanço para baixo no colchao, agarrando os cobertores e puxando-os ate o meu queixo.

Ele ri e seus dedos roçam nas cordas do violao.

Essa suave melodia de antes enche a sala, e meus olhos icam pesados rapidamente. E tao calmante que posso ate voltar a dormir.

Entao, eu ouço.

E macio. Quieto. Lindo.

Eu ja reclamei sobre os shows improvisados de Dean em sua varanda antes, mas sinceramente, eu os amo.

Nao sei quantas noites iquei sentado na minha sala com as janelas abertas, ouvindo-o tocar.

Ele nao canta com frequencia, mas quando o faz, eu paro tudo o que estou fazendo e ouço.

Sua voz nao e perfeita. Nao e como se ele tivesse um talento maluco e inexplorado que vinha escondendo e que um dia se tornara um mega superstar.

Mas e bom o suiciente para atrair voce, te fazer prestar atençao.

Os acordes diminuem e tambem sua voz, e eu rolo de volta, espiando para ele.

— Que musica era essa?

— Night Moves de Bob Seger. Uma das minhas favoritas. E sobre foder.

Ele pisca para mim e eu coro.

Ele continua a tocar as cordas, e uma dor começa a se formar entre minhas coxas enquanto me lembro de como seus dedos estavam

em mim... sob mim... na noite passada.

Nunca iz sexo tres vezes em uma noite. Inferno, nao consigo me lembrar de alguma vez que tive isso mais de uma vez antes. Os outros caras com quem estive sempre foram um tipo de coisa e na maioria das vezes eles nem se importavam se eu saısse.

Nao Dean.

Ele estava atento. Muito atento.

Eu me senti adorada. Sexy. Em maos capazes. Ele me fez sentir como se nunca se cansasse de mim.

Ja sei que se nao tomar cuidado, posso me acostumar a me sentir assim.

Quando eu empurro de volta para a posiçao sentada, ele se vira para mim.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele diz.

— Em um minuto.

Pego seu violao de suas maos e coloco no chao ao lado da cama. Eu o substituo por mim.

Eu escorrego em seu colo e suas maos automaticamente encontram meus quadris, encaixando-me contra ele como se eu pertencesse a ele.

— O que voce esta fazendo?

— Beijando voce.

Eu largo meus labios nos dele e faço exatamente isso.

Ele me beija de volta, rapidamente assumindo o controle da situaçao e passando sua lıngua pelos meus labios. Eu abro para ele, deixando-o explorar minha boca enquanto balanço meus quadris contra ele, tentando encontrar a fricçao que estou desejando tanto.

Ele ri, se afastando e sorrindo para mim.

— Experimentou e agora voce nao se cansa de mim, hein? Momento arruinado.

Eu rolo meus olhos e tento me afastar, mas ele me mantem no lugar.

— Estou brincando, estou brincando. Nao va. Eu gosto da sensaçao de voce aqui em cima. Voce se sente bem.

— Bem, voce estragou tudo, entao — eu jogo minhas maos para o ar, em seguida, cruzo-as sobre o meu peito — pode muito bem me perguntar o que voce ia me perguntar.

Ele acena em direçao ao outro lado da sala.

— O que ha com o buraco na parede?

Eu sinto a cor sumir do meu rosto.

Merda. O buraco do vibrador.

— Uh…

Pense em algo. Pense em algo!

— O apartamento era assim.

Ele aperta os labios, tentando nao rir disso.

— Veio com um buraco na parede, hein?

— Sim. E decorativo. O seu nao veio com isso?

Por que diabos você está piorando isso?!

— E com isso que voce vai?

— Indo com? — Eu empurro meu peito para fora. — E a verdade.

— Uh-huh. Nao tem nada a ver com a noite em que voce estava aqui se masturbando e jogou algo na porta quando eu te assustei. Minha boca se abre.

Ele ri e estende dois dedos, fechando-o.

— Como voce soube disso?!

Outra risada. — Bem, eu nao tinha certeza, mas agora tenho.

Eu olho feio para ele. — É por isso que eu odeio voce.

— Nao, nao e.

— Como voce chegou a conclusao de que eu estava me masturbando?

— Voce deinitivamente disse meu nome quando entrei em seu quarto. Voce jogou algo na porta e era obvio que estava assustada, o que signiica que estava fazendo algo pervertido. Acabei de somar dois mais dois e assumi que voce estava la sacudindo seu feijao e pensando em mim.

— Ok, primeiro, absolutamente ninguém chama isso desse jeito. Nao e chamado de feijao, e voce certamente nao o aperta. Nao aperte meu clitoris nunca. — Eu coloco meu dedo em seu peito com cada palavra. — E em segundo lugar, voce realmente acha que eu estava me masturbando para voce e disse seu nome quando gozei?

— Absolutamente.

Ele diz isso com tanta coniança. Ele tem tanta certeza. E irritante como ele e arrogante.

E tao gostoso.

Uhg!

— Voce esta absolutamente delirando, sabia disso?

— Diga-me a falha na minha logica.

— Nao disse o seu nome na conclusao!

— Mas voce estava se masturbando? — Ele sorri como se tivesse acabado de ganhar a porra de um premio.

Eu gemo, jogando minha cabeça para tras.

O movimento fez meus quadris se moverem e Dean grunhiu com o contato com seu pau.

Eu faço de novo. Outro grunhido. E de novo.

Ele me puxa para ele, batendo as maos no meu cabelo e puxando meus labios de volta aos dele em um beijo aspero. Eu nao paro de mover meus quadris, e ele nao para de me beijar ate que estejamos ofegantes e precisando de mais.

Ele afasta a boca. — Voce ainda o tem?

Nao tenho ideia do que ele esta falando e, honestamente, nem quero ouvi-lo falar agora. Eu so quero continuar beijando ele. Tento puxa-lo de volta para mim, mas ele resiste.

Eu rosno, frustrada.

— Eu ainda tenho o que?

— O que seja que voce jogou na parede – seu vibrador ou consolo ou o que quer que seja.

Desta vez sou eu quem recua.

Ele esta olhando para mim, seus olhos escuros de necessidade.

— Voce quer?

— Sim.

— Vai buscar.

Seu rosto esta duro. Serio. Puta merda. Ele quer dizer isso.

Eu me inclino para o lado e ele se segura em mim enquanto eu alcanço a ultima gaveta da minha mesa de cabeceira e puxo meu brinquedo.

— Isso... nao parece que eu pensei que seria.

— O que? Voce pensou que eu estava aqui apenas montando em um grande pau, ingindo que era seu?

— Se fosse esse o caso, voce teria icado extremamente desapontada quando viu a coisa real e percebeu o que estava perdendo todo esse tempo.

Eu balancei minha cabeça.

— Tao seguro de si.

Embora ele nao esteja errado...

Ele olha para o brinquedo com uma expressao um tanto perplexa no rosto.

— Como voce usa isso?

— E um vibrador de clitoris. Voce apenas... bem, voce o coloca em seu clitoris e o deixa fazer seu trabalho.

— Faça isso.

Eu aperto minhas sobrancelhas juntas. — Huh?

— Faça isso. Use-o. Eu quero assistir.

— Voce esta falando serio?

— Sim. Eu disse que quero aprender sobre voce. Eu nao deveria estar falando serio?

— Quero dizer… — Eu mordo meu labio, entao dou de ombros.

— E que, na minha experiencia, os caras nao sao muito receptivos a brinquedos no quarto. Faz com que se sintam inadequados.

— Idiotas — diz Dean. — Essa e uma forma besta de dizer que os deixa com ciumes ou que nao querem aprender. Eles deveriam querer sua parceira feliz, e se leva um brinquedo, leva um brinquedo. Nao estou dizendo que eles tambem nao deveriam trabalhar nisso, mas, quero dizer, foda-se. E sexo, nao ciencia do foguete.

Eu ri.

Eu amo o quao lexıvel ele e sobre isso, como ele nao esta intimidado e so quer me fazer feliz.

Amo tanto que nao posso deixar de pressionar meus labios nos dele.

Ele me beija de volta com fome, devorando minha boca como se fosse a ultima vez que vamos nos beijar.

Seu aperto aumenta, as maos passando pelos meus quadris e minha bunda. Suas palmas me apertam com força suiciente para balançar ao longo da linha do prazer doloroso.

Meu clitoris roça seu pau duro, e se izermos isso por muito mais tempo, estarei voltando da transa seca sozinha.

Como se ele pudesse ler minha mente, ele se afasta, encostando sua testa na minha.

— Estive imaginando voce aqui com essa coisa quase todas as noites... e muitas vezes no chuveiro. Inferno, eu nao posso nem dizer o numero de vezes que as imagens surgiram quando estou fazendo algo ridıculo como lavando os pratos ou algo assim. Adoraria ver se minha fantasia corresponde a realidade. — Outro aperto. — Se voce estiver no jogo, e claro.

Nao sei se estou com tanto tesao ou se a ideia de me masturbar na frente dele me excita, mas...

Eu rolo fora dele, vibrador ainda na mao, e deito ao lado dele.

Sinto seus olhos em mim enquanto ico confortavel, na mesma posiçao que assumiria se estivesse fazendo isso sem uma audiencia.

Uma plateia... O pensamento de Dean observando eu me masturbar provavelmente deveria assustar, me deixar nervosa. Mas isso nao acontece.

Eu sei como e ter seus olhos em mim quando faço minha yoga.

Ele assistindo-me me masturbar? Estou icando molhado so de pensar nisso.

Eu abro minhas pernas e puxo minha calcinha para o lado.

p p p

— Voce faz isso de calcinha? — Eu aceno, e ele engole. — Puta merda, isso e quente.

Eu ri. — E preguiçoso.

— Nao, River diz ele, jogando o cobertor completamente para fora da cama e agarrando seu pau. — Signiica que voce estava tao excitada que nem se incomodou em tirar a calcinha. Eu prometo a voce, isso e quente pra caralho.

Quando ele fala assim...

Eu ligo o brinquedo e ele ri.

— O que?

— Nada. —Ele balança a cabeça. — So agora eu sei qual era o zumbido que ouvi.

Minhas bochechas icam vermelhas e eu o desligo, cobrindo meu rosto com as maos.

Ele os puxa de volta para baixo.

— Nao, nao. Nao tenha vergonha.

— Como posso nao ter? Voce me ouviu me masturbando!

— Voce ja me ouviu tomar banho antes?

— Sim?

— Entao voce tambem me ouviu fazendo isso. — Ele se inclina e me beija suavemente. — Agora — diz ele, os labios ainda apoiados nos meus, — me ensine o que o seu corpo gosta, River.

Ele pega minhas maos e as guia de volta entre minhas pernas. Exceto que, desta vez, e ele quem puxa minha calcinha para o lado.

Sua garganta balança para cima e para baixo quando ele olha para minha boceta, e eu nunca me senti tao exposta e tao fodidamente encantada ao mesmo tempo antes.

O jeito que ele esta olhando para mim como se eu fosse algum tipo de presente... e estimulante.

Ele escova o polegar sobre meu clitoris e sorri para mim quando eu suspiro.

— Toque-se. Mostre-me.

Eu ligo o brinquedo de volta e o coloco no lugar.

Ele nao move a mao, mantendo minha calcinha empurrada para o lado. Imediatamente, todos os meus sentidos se iluminam e eu suspiro, amando a sensaçao de suas maos em mim em combinaçao com o brinquedo.

Os labios de Dean se separaram, observando o vibrador trabalhar sua magia nas minhas terminaçoes nervosas. Lentamente, ele começa a acariciar seu pau, e eu percebo que poderia ve-lo fazer isso todos os dias pelo resto da minha vida e nunca icar entediada.

Seus olhos nunca me deixam enquanto eu trabalho o brinquedo na minha area mais sensıvel, meus quadris se movendo no ritmo das ondulaçoes. Sua lıngua se lança para umedecer os labios ressecados, mas seus golpes nunca icam mais apressados. Ele esta genuinamente gostando de me assistir, e este momento e todo sobre mim.

Em qualquer dia, este brinquedo pode me levar onde preciso estar em menos de cinco minutos.

No momento, leva menos de tres.

Eu fecho meus olhos enquanto meu orgasmo corre atraves de mim, e empurro meus quadris para fora da cama, perseguindo o alto por tanto tempo quanto possıvel.

Quando todos os tremores passam, eu desligo o brinquedo e abro os olhos novamente.

Ele ainda esta segurando minha calcinha para o lado. Ainda olhando para minha buceta. Ainda nao quer tirar os olhos de mim.

Ele esta suando, ofegante como se fosse ele quem acabou de gozar.

Eu lambo meus labios e engulo, tentando recuperar o folego.

— Voce esta bem?

Ele inalmente olha para mim. Fome.

E tudo o que vejo nos olhos de Dean.

— Ha uma parte muito, muito pequena de mim que quer icar ofendido por voce gozar tao rapido e tao forte, mas puta merda. — Ele se encaixa entre minhas pernas, prendendo minha cabeça com os braços, deixando cair sua boca na minha. — Foi a coisa mais quente que ja testemunhei e quero fazer de novo.

— Agora?

Ele balança a cabeça. — Nao.

Ele desliza pelo meu corpo, abrindo caminho entre as minhas pernas. Ele puxa minha calcinha para o lado, entao me da aquele sorriso diabolico que estou começando a amar.

— Eu quero uma chance.

Ele desaparece entre minhas pernas e eu caio no paraıso.

Tento ignorar o conhecimento de que tudo isso acabara desaparecendo.

— Eu pensei que eramos amigas.

Eu arrasto meus olhos dos documentos na minha frente, olhando para minha melhor amiga. Ela esta inclinada sobre o balcao da frente do Making Waves, desenhando cırculos na bancada sem pensar.

— Nos somos?

— Sim? Entao por que voce nao me disse que voce e Dean izeram sexo?

— O-o que? — Eu gaguejo. — Como voce sabia?

— Eu nao sabia, mas agora eu sei. — Ela sorri, batendo palmas e pulando para cima e para baixo. — Oh meu Deus. Eu sabia que esse dia chegaria!

Eu bufo. — Voce e pessima, sabia disso?

— Estou ciente.

— Como voce sabia?

Ela levanta um ombro esguio. — Uma melhor amiga simplesmente sabe dessas coisas. Alem disso, voce esta com aquele brilho acabei de foder. Cara, eu sinto falta desse brilho.

Ela suspira de saudade, e tenho certeza de que esta pensando no recente desmoronamento de seu casamento com o pai de Sam.

Ela balança a cabeça. — Mas isso nao importa. Eu tenho assim muitas perguntas. Quando isso aconteceu? Como isso aconteceu? Voces estao namorando agora? Quando voce vai se casar?

— Acalme-se, sua aberraçao.

— Eu nao posso! — Ela grita. — Estou tao animada por voce. Finalmente! — Mais palmas. — Eu esperei tanto para voces dois acordarem e perceberem que tem sentimentos um pelo outro.

— Sentimentos? Ah nao. Nao ha sentimentos.

Ela para de pular e me olha com aqueles olhos cinza surpreendentes dela. — Voce ainda esta negando?

— Nao, porque nao ha nada a negar. Eu não tenho sentimentos por Dean.

— Voce esta tentando me convencer ou a si mesma?

— Voce. — Quando ela nao para de olhar como se fosse vir para mim, empilho os documentos inanceiros que estava vasculhando, coloco-os de volta na pasta de direito e jogo sobre o balcao. Eu descanso minha cabeça em uma mao. — O que voce quer saber?

Ela relete minha posiçao.

— Voces nao estao namorando?

— Nao.

— Mas voces estao dormindo juntos?

— Sim.

— Quantas vezes voce ja fez sexo?

— Quatro e meio.

Ela engasga, excitaçao em seus olhos. — Quando?

— Tudo começou ha duas noites.

— E?

Eu sei o que ela esta perguntando, mesmo sem ela dizer isso.

Eu faço de tudo para conter meu suspiro enquanto penso em como Dean esta na cama.

Ele esta atento. Exigente, mas gentil. Aspero de todas as maneiras certas.

— E incrıvel.

— Sua cachorra da sorte. — Ela faz beicinho. — A unica razao pela qual eu nao estou com ciumes e porque eu renunciei ao idiota.

— Por causa do pau com quem voce foi casada.

— Precisamente. — Ela acena com a cabeça, afastando-se do balcao. — Como isso aconteceu?

— Bem… — eu retiro. — Ele me beijou no domingo. Nao discutimos muito no começo, mas a tensao estava la, sabe? Tudo meio que veio a tona e... — Eu aceno com minha mao. — Aqui estamos.

— Entao, se voces nao estao namorando, mas estao dormindo juntos, voces sao... o que? Amigos com benefıcios?

— Nao estamos rotulando. E apenas algo divertido para passar o tempo e aliviar um pouco o estresse.

Ela inclina a cabeça, franzindo os labios, me estudando. — Hum. Opa. Eu sei disso hmm.

Isso hmm signiica que ela tem algo a dizer, mas nao quer dizer isso.

— O que?

— E so que… —ela começa, e eu chamei isso de certo. E assim que ela sempre começa o hmms. — Voce acha que e uma boa ideia?

— Qual parte?

— Tudo isso. Voce nao esta preocupada se vai icar tudo... confuso? Preocupada em se apaixonar por ele?

Eu me apaixonar pelo Dean? Ha!

— Nao. — Eu balancei minha cabeça. — Somos adultos. Podemos manter casual.

Outra inclinaçao da cabeça.

— O que. — Desta vez, nao sai como uma pergunta. Estou começando a icar irritada.

— Voce gosta dele?

— Quer dizer, eu o deixei me ver nua, entao eu tenho que gostar dele em algum nıvel, certo?

Ela franze a testa com a minha resposta.

— Voce sabe o que quero dizer, River.

— Eu tenho uma minuscula – e quero dizer minúscula – queda por Dean? Sim. Eu vou fazer algo sobre isso? Nao. Nao vai a lugar nenhum. Ele vai se mudar assim que seu apartamento estiver pronto e

vamos voltar a ser vizinhos. Isso e apenas temporario. Estamos na mesma pagina com isso.

— Ele e seu vizinho. Nao e como se ele se mudasse seria um relacionamento a distancia.

— Ah — eu digo. — E isso mesmo – ele mora na casa ao lado, entao se as coisas derem errado com a gente, terei que continuar morando ao lado dele ou me mudar, e eu amo meu apartamento. Eu preiro muito mais correr o risco de ser um pouco estranho saber que nos vimos nus do que sentimentos se envolvendo e nos tendo que navegar por isso. Voce sabe o que eu quero dizer?

Ela solta um suspiro. — Sim, eu posso entender isso. E so... tome cuidado, sabe? Eu nao quero que voce se machuque.

— Eu sou uma garota crescida, Maya. Eu vou icar bem.

Espero.

— Voce poderia pelo menos ter me avisado que estava convidando alguem. Eu teria, nao sei, colocado um maldito sutia.

— Nao olhe para os peitos dela. — Aponto para meu melhor amigo, que ainda esta parado na porta, um pacote de seis cervejas em uma das maos. — River, conheça Nolan. Entre, cara.

Ele estende a mao livre. — Ja nos conhecemos brevemente, mas e um prazer conhece-la oicialmente. Desculpe, ele e um idiota e nao disse a voce que eu estava vindo.

Apertando sua mao, ela me encara.

Eu encolho os ombros. — O que? Eu queria outra pessoa para assistir ao jogo para uma mudança.

— Eu nao sou tao ruim.

— Voce nao e?

Posso dizer que ela quer discutir, mas ela sabe que estou certo.

Ha apenas duas noites, ela voltou para casa e me encontrou no sofa assistindo a um jogo. Ela nem mesmo tirou a roupa de trabalho, apenas se jogou no sofa, comeu nada menos que dez asas e me forçou a explicar todo o esporte para ela.

Nunca direi isso, mas foi o melhor jogo que ja assisti.

— Vou trabalhar no meu escritorio ou algo assim. Eu tenho algumas coisas que posso cuidar enquanto voce encara as bundas de outros caras.

— Eu so quero deixar registrado que nao vou icar olhando para a bunda de outros caras. Eu nem gosto de beisebol — diz Nolan.

— Entao, voce estaria olhando para os traseiros se eles nao estivessem presos aos jogadores? — ela o provoca.

Seus olhos se arregalam, em panico.

— Deixe-o em paz, River — digo a ela. — Va trabalhar.

— Eu vou, eu vou, mas so porque eu tenho um monte de trabalho a fazer e nao porque eu vou deixar voce mandar em mim. So nao quero mais icar perto de voce.

16 DEAN

— O que eu disse a voce sobre sua estatura e seu atrevimento? Ha muito pouco de voce e muito disso.

Ela faz uma careta. — Te odeio.

— Mentirosa.

Girando nos calcanhares, ela se vira para Nolan. — Nao vou contar a ninguem que voce assiste por causa das bundas. Eu sei que e por isso que eu suporto isso.

Ele ri. — Obrigado.

Ela vira seus olhos raivosos para mim mais uma vez antes de sair pisando forte pelo corredor.

Nao consigo tirar o sorriso bobo do meu rosto enquanto a vejo se afastar.

Quando ela desaparece em seu quarto, eu me viro para Nolan e ele levanta a sobrancelha.

— O que? — Eu digo, pegando o pacote de seis de sua mao.

— Nada. Eu gosto dela, cara. Ela e agressiva.

— Se por agressiva voce quer dizer irritante, entao sim. — Eu aceno para ele me seguir ate no apartamento. — O primeiro arremesso ja foi feito. Coloquei as asas no forno para esquentar. Vou coloca-los na geladeira.

Saio para a cozinha e Nolan vai para a sala.

— E aı, idiota? — Eu o ouço dizer a Leo.

Ele zombou muito de mim por levar o garotinho para casa no inıcio, mas ele cresceu apegado como eu.

Coloco todas as cervejas na geladeira, menos duas, e veriico as asas. Estou indo para a sala de estar quando a porta do quarto de River se abre. Eu paro no meio do caminho quando ela sai.

Arqueando uma unica sobrancelha, ela levanta a camisa, mostrando-me seus seios.

Ela deixa cair a blusa, me sopra um beijo e corre para o escritorio como se nada tivesse acontecido.

Luto para nao derrubar as cervejas, coloco-a em meus braços e mostro que ha consequencias por agir assim.

Provocação do caralho.

Morris passa por mim e entra na sala, correndo direto para Nolan quando ele se senta no sofa.

Para minha surpresa, Morris pula direto no colo de Nolan, enrolando-se em uma bola como se ele pertencesse la.

— Os gatos me amam — explica ele, dando de ombros, passando a mao pela penugem branca do gato. Ele olha ao redor do apartamento.

— Eu posso ver porque voce concordou em icar aqui. Este lugar e muito melhor do que o seu. — Nolan pega a cerveja que entrego a ele e abre a tampa. — Obrigado, cara.

Eu me sento na outra extremidade do sofa, abrindo minha propria bebida. — E exatamente o mesmo apartamento, apenas invertido.

— Sim, mas este e... mais acolhedor e confortável. Voce nao tinha uma unica foto pendurada em seu lugar e quase nenhum mobiliario. Parecia... frio. Chato. — Ele toma um gole de sua cerveja, voltando sua atençao para o jogo na TV.

Ele tem razao.

Eu nunca percebi como meu apartamento parecia solitario ate que comecei a icar com River. Eram as pequenas coisas, como aquelas bugigangas idiotas em forma de s'mores que ela tem nas prateleiras, ou as muitas almofadas que ela amontoou no sofa. Ate mesmo a unica obra de arte que ela tem pendurada acima da TV e o suiciente para fazer com que pareça mais um lar e nao apenas um lugar para dormir.

Eu nao percebi o quao vazia minha vida era antes... e nao quero dizer apenas no sentido literal.

Viver com River no mes passado foi absolutamente exaustivo as vezes. Ela e temperamental graças a sua insonia, e teimosa e tem um jeito de gostar das coisas, o que as vezes e difıcil de controlar.

Mas entao existem todos os momentos intermediarios.

Ela e engraçada. Inteligente. Uma das pessoas mais trabalhadoras que ja conheci. Ela e atenciosa e dedicada as pessoas em sua vida. E por mais que ela me frustre, ela me intriga.

Pela primeira vez em muito tempo, nao estou procurando preencher minha vida com atividades. Eu estou bem em apenas existir neste espaço com ela. Eu nao me incomodo em tentar icar por aqui e conversar com outros professores na escola de verao, e eu nao me pego mais rolando meu telefone na academia muito depois que minha sessao de treino acabou. So quero correr para casa e icar com ela.

Isso me assusta, considerando nosso acordo e como ele e temporario.

Mas tambem me faz pensar como seria se desse uma chance real a essa coisa entre nos...

Eu relaxo no sofa e tento nao pensar muito sobre coisas que nao deveria estar pensando. Dou um longo gole na minha cerveja.

— Entao, quando voces começaram a dormir juntos?

Bolhas de cerveja voltam, pingando da minha boca e descendo pelo queixo.

Limpo a bagunça com as costas da mao e Nolan ri.

— Que porra e essa, cara?

— Desculpe, mas nao sinto muito. — Ele encolhe os ombros. Entao, quando começou?

Eu olho em direçao ao corredor, certiicando-me de que River ainda esta escondido em segurança dentro do quarto, onde ela nao pode ouvir nossa conversa.

— O que te faz pensar que estamos dormindo juntos? Pergunto quando tenho certeza de que a barra esta limpa. Eu mantenho minha voz baixa, no entanto, apenas no caso.

Ele me lança um olhar de Não me engane. — Por um lado, voce esta mais feliz. Isso signiica uma de duas coisas: seu time de futebol esta chutando algumas bundas ou voce esta tendo seu pau chupado com frequencia.

— Jesus, Nolan.

— Apenas Nolan esta bem — diz ele.

Eu balanço minha cabeça, e ele levanta uma sobrancelha questionadora.

Eu rolo meus olhos. — Cerca de duas semanas atras. — Eu tomo outro gole da minha cerveja. — Mas e apenas sexo.

Ele sorri, sentindo-se muito orgulhoso de si mesmo, tenho certeza. — Eu sabia disso, porra.

— Voce nao sabia de merda nenhuma.

— Sabia sim. Voce normalmente fala nas minhas orelhas sobre essa mulher, mas de repente voce estava todo confuso. Eu te conheço ha

muito tempo, Dean. Quando voce nao fala sobre o que esta fazendo, signiica que sabe que nao deveria estar fazendo.

— Eu nao deveria dormir com ela?

— Nao, cara, voce deinitivamente deveria – voces dois ja dançaram em torno disso por tempo suiciente. E aquela merda de amigos com benefıcios, apenas sexo, que estao alimentando um ao outro que voces sabem que nao deveriam estar fazendo.

— Cara, estou te dizendo, e so...

— Sexo. Oh, eu ouvi. Eu simplesmente nao acredito em voce. Por que diabos nao?

— Porque nunca e apenas sexo para voce.

— Eu ja iz sexo casual antes — eu argumento.

— Claro, mas nao com ninguem com quem voce realmente se importe. Ha uma grande diferença entre os dois.

— Eu–Porra. Ele tem razao. Estou tao cansado de ver ele somar pontos.

Eu conheço River ha um ano. Naquela epoca, fomos vizinhos, inimigos, companheiros de quarto e agora amantes. E como se as linhas começassem a confundir o que eramos, desistimos e pulamos com força total.

O que estamos fazendo e estupido, nao ha como negar isso. Mas nao fazer isso tambem nao parece certo. Porque por mais que nao queira, gosto de River. Ela.

Nao apenas seu corpo ou a maneira como ela se sente desmoronando ao meu redor.

Embora eu nao queira pensar muito sobre isso ou admitir, vou ter diiculdade em me afastar disso quando for hora de seguir nossos caminhos separados.

Nolan sorri. — Voce gosta dela, nao e?

— Eu nao estaria dormindo com ela se nao gostasse.

— Voce sabe o que eu quero dizer.

Eu gemo, jogando minha cabeça para tras e passando a mao pelo meu cabelo, frustrada comigo mesma.

É uma forma de aliviar a tensão e pronto. Nada mais.

E so isso. Tudo que deveria ser.

Entao, por que começo a querer mais com ela? Eu nao tenho interesse em um relacionamento com ninguem ha muito tempo. Por que diabos eu de repente sinto que pode nao ser uma ideia maluca com River, de todas as pessoas?

Eu juro que estou icando louco.

— Ela sabe? — Nolan pergunta.

Ele pode dizer que gosto dela. Ele nao tem que me ouvir dizer isso para saber.

— Nao. Tenho noventa e cinco por cento de certeza de que ela ainda me odeia. Isso tudo e apenas sexo para ela.

Ele ri levemente, voltando para a TV. — Conie em mim, ela nao te odeia. Ela gostaria de odiar, mas nao quer.

Foda-me se eu nao espero que ele esteja certo.

— Voce sempre tem que monopolizar a cama?

— A ultima vez que veriiquei, e minha cama – posso monopolizar tudo que eu quiser. — Ela me empurra, tentando me forçar a sair, mas sou muito pesado. — Por que voce ainda esta aqui?

— Porque minha cama e um colchao de ar, e por isso.

E porque você dorme melhor quando estou aqui.

Eu iquei na cama de River quase todas as noites desde que começamos a dormir juntos. Principalmente porque estamos sempre transando ou brincando, mas tambem porque esta icando cada vez mais obvio que ela dorme melhor quando estou aqui. Nas poucas noites em que nao iquei, acordei com ela no colchao de ar ao meu lado.

— A culpa e sua — ela diz, ainda se empurrando e nao chegando a lugar nenhum.

Aceitando a derrota com um bufo, ela abandona sua missao. Ela estende a mao para a mesa de cabeceira ao seu lado, pegando seu laptop e puxando-o para o colo.

O brilho da tela ilumina seu rosto, e ela parece tao fofa quando esta se concentrando.

Uma ruga se forma entre suas sobrancelhas e ela torce o labio inferior entre os dedos. Seus longos cabelos vermelhos estao empilhados em um coque bagunçado no topo de sua cabeça, e ela esta usando seu traje padrao para dormir, uma camisola e calcinha.

Eu continuo tentando convence-la a tentar dormir nua como eu, mas ela nao cede.

— Trabalhando ate tao tarde? — Eu pergunto.

— A rotina nunca para. — Ela bate no teclado algumas vezes. Nossa loja online esta indo muito bem e estou adicionando mais itens ao site para atender as demandas. Alem disso, tenho estado um pouco distraıda ultimamente e iquei para tras. Ou pelo menos minha versao de por tras.

— Voce e muito apaixonada pelo seu trabalho.

Ela olha para mim e ica claro que ela esta indo para a defesa.

Eu levanto minhas maos. — Nao quero ofender isso. Verdadeiramente. Sua etica de trabalho e inspiradora. Um pouco preocupante que voce nao leva mais tempo para se desligar e se afastar, mas ainda assim inspirador.

Seus olhos brilham de surpresa e outra coisa que nao consigo decifrar.

— Obrigada — ela murmura. — Isso e... bom, eu gosto de ouvir isso de voce.

De você.

Nao sei por que essas duas palavras surgem de maneira diferente, mas acertam.

Elas parecem... ıntimas.

Aquela sensaçao de antes, aquela que fazia meu peito parecer estranho... esta de volta.

— De nada. — Eu limpo minha garganta, esfregando no local. — Voce sempre foi tao workaholic?

Ela torce os labios, pensando.

— Nao — ela decide. — Acredite ou nao, eu costumava ser divertida. Acho que enterrei minha solidao no trabalho e ela pegou. O negocio esta crescendo e estou atingindo metas com as quais sempre sonhei. — Ela encolhe os ombros. — Entao, eu nunca desisto.

Quero perguntar se ela ainda se sente solitaria ou se esta atrasada no trabalho porque nao esta mais se escondendo atras dele. Quero saber se isso e coisa minha ou outra coisa.

Mas isso se parece muito com cruzar uma linha.

— Eu posso relacionar. O que isso esta dizendo? Encontrar algo que voce ama e nunca trabalhar um dia na sua vida?

— Esse ditado e uma besteira. — Eu rio de sua ousadia. — So porque vem de um lugar de amor e paixao, nao signiica que nao precise de muito trabalho.

— Verdade. Sou apaixonado por ensinar, mas e exaustivo como o inferno.

— Por que voce entrou nisso exatamente? Voce trabalhou para seu pai antes de se formar, certo? O que deu errado aı?

Eu estremeço, nao sou fa de explicar essa parte da minha vida para as pessoas. — Entao. Historia engraçada.

— As pessoas nunca estao dispostas a contar uma historia engraçada quando dizem isso.

— Verdade. —Eu rolo em minhas costas, colocando minhas maos sob minha cabeça. Nao perco a maneira como seus olhos percorrem meu corpo quando o cobertor desliza ate meus quadris. — Meus pais ganharam na loteria e meu pai começou um negocio com os ganhos.

— Como literalmente ganhou na loteria?

— Sim.

— Entao voce e rico?

Eu ri. — Quanto voce acha que os professores recebem?

— Mas seus pais...

— Eles tem dinheiro. Holland ganha um bom dinheiro trabalhando para meu pai, mas desde que abandonei os negocios da famılia e tudo, estou por conta propria.

— Eles cortaram voce?

— Nao havia nada para cortar. Crescemos lutando e, quando encontraram ouro, meus pais foram inlexıveis de que, alem de uma boa educaçao, se nao ajudassemos a manter a riqueza luindo, estarıamos por conta propria.

— Isso parece...

— Um pouco ridıculo, considerando que tiveram tudo entregue a eles? Sim. — Eu encolho os ombros. — Mas esta tudo bem. Eu nao gosto de todo o estilo de vida glamoroso que eles adotaram. Eu gosto mais de coisas discretas.

— Ah, falando como um verdadeiro homem falido.

Eu ri. — E voce? Como foi sua vida em casa?

— Nada emocionante. Meus pais ainda estao juntos. Nenhum drama real. Cerca de madeira e toda essa porcaria. — Ela levanta um ombro. — Eu cresci cerca de trinta minutos de distancia. Fui para a faculdade por um tempo e, quando voltei, sabia que queria morar na cidade. — Ela gesticula ao redor da sala. — Entao aqui estou. Nao ha nada que escrever.

— Eu nao acho que isso seja verdade — eu digo baixinho. — Ha muito o que escrever quando se trata de voce.

Seus labios puxam nos cantos, e se nao fosse pela luz do laptop, eu perderia o sorriso.

Eu fecho meus olhos, ouvindo seus dedos batendo contra o teclado.

— E voce? ela pergunta quando eu acho que ela esta completamente focada em outras coisas.

— O que tem eu?

— Voce sempre se esconde em seu trabalho? Ja se sentiu sozinho?

Eu não iz. Não até isso. Não até que eu percebesse o que poderia estar perdendo.

— Nao mais — eu digo.

Ela acena com a cabeça uma vez, mas nao olha para mim.

Adormeço tentando nao pensar demais na ideia de que esta noite e a primeira vez que durmo aqui sem o prefacio de sexo... e o que isso pode signiicar.

— Eu juro, se eu perder a torta de cereja por sua causa, eu vou icar–

— O que? — Dean me interrompe. — Muito louca? — Eu atiro punhais nele quando ele joga minhas palavras de volta para mim, mas ele me ignora. — Foi você quem insistiu em se sujar de novo depois do banho.

— Isso foi cem por cento sua culpa.

— Sinto muito, eu iz voce chupar meu pau?

Eu coro com sua grosseria.

Eu simplesmente nao pude evitar. Ele saiu do banheiro com nada alem de uma toalha, a agua descendo seu abdomen.

Eu so queria ver onde ele caiu.

Processe-me.

— Que diabos! — Eu bato nele, espiando pela calçada enquanto caminhamos em direçao ao restaurante para fazer o cafe da manha de domingo, garantindo que ninguem nos ouça. — Voce nao pode simplesmente dizer algo assim, especialmente em publico.

— Ou o que?

— Ou... ou... eu vou acabar com voce!

— Acabar comigo? — Ele abre a porta do The Gravy Train. — O que voce e, uma maiosa?

— Acho que voce nao sabera ate saber — digo, passando por ele e entrando na lanchonete.

Ele nao parece nem um pouco assustado.

Entramos na ila que ja esta formada no balcao de pedidos, e nao perco a maneira como Dean nao tira a mao da parte inferior das minhas costas.

— Serio, Dean, se eles estiverem sem torta de cereja...

Ele se move em minha direçao, cortando minhas palavras enquanto empurra seu corpo contra o meu. O calor se iniltra em mim e gotas de suor começam a se formar no meu pescoço.

17 RIVER

Quero prender meu cabelo em um coque para ajudar a esfriar, mas nao consigo. As maos de Dean estao em meus quadris, me apertando de forma provocadora. A sombra da barba que ele esta sempre exibindo faz cocegas no meu rosto quando ele se inclina, levando seus labios ao meu ouvido.

— Se eles nao tiverem cereja, vou compensar voce.

— Me compensar?

Eu o sinto acenar com a cabeça.

— Vou deixar voce chupar meu pau de novo.

Eu aperto minhas coxas.

Estamos dormindo juntos ha tres semanas e ainda nao estou acostumada com as palavras sujas que saem de seus labios.

Nao tenho certeza se algum dia vou me acostumar com elas... ou supera-las.

— Pare com isso! — Eu assobio.

Seu aperto ica mais forte em mim, puxando meu corpo rente ao dele.

Nao ha engano no que estou sentindo.

Ele esta icando duro.

No meio da lanchonete.

Bem a vista.

Respiro fundo e tento me afastar, mas ele nao deixa.

— Nem pense em se mover.

Eu nao.

— Entao pare de me provocar.

— Tudo bem, mas apenas porque sua melhor amiga e o ilho dela acabaram de entrar. — Ele acena para Maya, sorrindo para ela. — Ei, pessoal.

— Voce esta atrasada hoje — ela comenta, olhando para nos, sem perder o quao perto estamos. — Espero que ainda tenham torta de cereja para voce.

— Espero que nao — diz Dean, e eu tenho um ataque de tosse, percebendo seu duplo sentido.

Dou uma cotovelada no estomago dele e ele grunhe, esfregando o local em que bati, inalmente se afastando de mim.

Agradeço o espaço e sinto falta do seu calor, tudo ao mesmo tempo.

Pego meu cabelo comprido na mao, puxando-o do pescoço e enrolando em um coque bagunçado.

— Ei, Sam —digo ao meu sobrinho.

Ele grunhe, sem tirar os olhos do telefone em suas maos. Maya revira os olhos. — Pre-adolescentes.

— Coro — Dean diz a ela, apontando para si mesmo. Ela balança a cabeça. — Ainda nao sei como voce faz isso.

— Muitos e muitos uısques e tortas. — Ele acena em direçao a nossa mesa de costume. — Por que voces duas nao vao pegar nosso lugar? Sam e eu podemos cuidar disso. Certo, Sam?

Outro grunhido convincente dele.

— Nao se esqueça da minha torta de cereja — digo a Dean por cima do ombro enquanto Maya e eu vamos para a mesa.

— Oh sim. Eu vou resolver isso. Ele pisca para mim e eu sorrio.

— Por favor, me diga que nao era algum tipo de codigo sexual — ela diz enquanto pegamos nossos assentos favoritos.

— Nao foi.

— Mentirosa. Eu rio e ela sorri para mim.

— Voce sabe, por mais que eu esteja um pouco desconiada da sua atitude sem compromisso sobre isso que voces dois estao fazendo, eu amo ver voce sorrir muito. Ja faz muito tempo que voce nao e feliz.

— Sempre fui feliz.

Ela balança a cabeça. — Nao este tipo de felicidade. E diferente. Isso e diferente.

Me sinto diferente.

— Estou dormindo mais — digo a ela, o que nao e mentira.

Eu tenho dormido bem. Minha insonia nao acabou, porque nao e assim que a insonia funciona, mas ter Dean la a noite ajuda a acalmar minhas preocupaçoes e aliviar minha mente. Ele me da algo para me concentrar, alem dos meus pensamentos acelerados.

Mais do que isso, pela primeira vez em muito tempo, nao quero me concentrar apenas no trabalho e me esconder atras dele.

Eu quero viver o momento... com ele.

— Mesmo com sua agenda de sexo? — ela provoca. — Cadela sortuda.

Nos rimos, rindo como tolas, chamando a atençao de alguns outros clientes, incluindo Dean.

Quando ele levanta uma sobrancelha, eu aceno para ele e ele da de ombros, voltando-se para Sam. Eles estao conversando e agindo como velhos amigos, e eu adoro como ele e capaz de tirar Sam de sua concha. Como ele fala com ele e se relaciona com ele em um nıvel que ninguem mais parece fazer.

— E Dean, voce sabe — Maya diz.

Eu sei que e. Ela nao tem que me dizer isso.

Ele me faz rir tanto quanto me deixa louca. Faz meu corpo vibrar de todas as maneiras certas, tanto quanto ele faz as erradas.

Como voce pode odiar tanto alguem e ainda se sentir tao bem por causa dela?

Talvez você não o deteste de forma alguma...

Silencio aquela voz que continua surgindo na minha cabeça.

Eu tenho que odia-lo.

Se nao o izer, devo admitir que talvez... apenas talvez... eu nunca o odiei.

E prometemos sem pressao, sem planos para o futuro. Isso e apenas para aliviar a tensao.

— Boas notıcias. — Dean coloca dois pratos na mesa. Consegui pegar uma torta.

— Mas notıcias — acrescenta Sam. — Nao e cereja.

— Realmente convocou meu ilho para dar as mas notıcias para tirar a ira de voce? — Maya encara Dean acusadoramente.

— Sim.

Eu ri de sua resposta quando ele deslizou para o assento ao meu lado, seu braço roçando no meu.

— Desculpe pela torta de cereja, River.

O calor sobe pelas minhas bochechas, e ouso dar uma olhada nele.

Ele me da um sorriso de lobo, balançando as sobrancelhas para cima e para baixo.

Volto minha atençao para a minha torta, eniando uma garfada de uma delıcia pegajosa na minha boca para evitar me inclinar e beijalo.

— Ok, uau. — Maya balança o dedo entre nos duas. — Eu gosto de voces dois juntos. Essa dinamica e... uau.

— Dean e seu namorado, tia River?

Eu paro no meio da mordida. Os olhos de Maya se arregalaram, seu queixo caiu quando ela percebeu o que acabou de fazer.

Desculpe, ela murmura.

Eu vasculho meu cerebro, tentando descobrir como responder a isso.

— Eu–

— Sim — diz Dean. — Isso e legal?

Sam sorri, balançando a cabeça. — Totalmente.

Eles continuam falando como se nada tivesse acontecido. Como se meu coraçao nao estivesse martelando no meu peito. Como se nao fosse explodir com uma palavra.

Sim.

Ele disse isso tao facilmente. Tao calmo.

Tao certo. E parecia tao... certo.

Por que parecia tão certo?

O pe de Maya roça minha canela. Eu olho para ela, e ela inclina a cabeça, perguntando silenciosamente se estou bem.

Eu encolho os ombros.

Porque nao sei se estou bem.

E nao sei como lidar com isso.

O celular de Maya começa a vibrar em sua bolsa e ela vasculha, tentando encontra-lo.

Aproveito para escapar.

— Eu ja volto — murmuro, me levantando do banquinho e correndo para o banheiro sem olhar para tras para a mesa.

Eu me inclino contra a porta e inalo varias respiraçoes profundas.

Estou sobrecarregada. Confusa. Animada.

Decepcionada.

Nao da resposta de Dean, mas porque nao era real.

Por que estou desapontada por não ser real? O que diabos está acontecendo?

Alguem bate na porta.

— Ocupado! — Eu falo.

— Nao me diga. Abra.

E o Dean.

E pela primeira vez em semanas, nao quero ve-lo.

— Nao.

— River, vou derrubar essa porta. Eu posso fazer isso e voce sabe. Me deixe entrar.

Com um suspiro derrotado, eu viro a fechadura.

Ele empurra a porta, deslizando para dentro e colocando a fechadura de volta no lugar.

Ele se vira para mim, seus olhos aiados e preocupados.

— Esta tudo bem? Voce simplesmente desapareceu la fora.

— Sim. Tudo esta bem — eu minto.

Ele estreita os olhos.

— Eu nao acredito em voce.

— Bem — eu digo, estampando um sorriso atrevido, — isso e muito ruim. Mas agora que tenho voce sozinho...

g q

Pego a gola de sua camisa, puxando-o para baixo, para um beijo, silenciando todas as perguntas e duvidas que passam pela minha mente.

Suas grandes maos vao para meus quadris instantaneamente, e ele me puxa com força contra ele. Ele ja esta icando duro, e quase tenho que me perguntar se o homem esta sempre andando por aı com o braço torto.

Ele me leva para tras ate que bato na pia. Com pouco esforço, ele me pega e me coloca no balcao, pisando entre minhas pernas. A saia que estou usando esta amassada em volta da minha cintura, e posso sentir o ar frio atingindo meu nucleo ja aquecido.

Nao ha meio termo sobre isso.

Dean esta duro.

Sua ereçao roça minha boceta e eu gemo.

Maos deslizam pelo meu pescoço e no meu cabelo, puxando o coque bagunçado livre. Ele enrosca os dedos nas mechas vermelhas onduladas, brincando com os ios como se fossem as cordas de seu violao.

Ele afasta sua boca, ofegante, e pressiona sua testa contra a minha.

— Voce esta me matando.

— O mesmo.

— Nao deverıamos estar fazendo isso aqui.

— Nao deverıamos — eu concordo. — Mas…

— Mas…

Seus labios encontram os meus novamente, e estamos perdidos em outro beijo acalorado, bocas se movendo juntas em uma tempestade apaixonada.

Alguem bate na porta e nos o ignoramos, completamente perdidos um no outro.

Nao sei quem sobe primeiro para respirar, mas ambos estamos ofegantes.

— Maya.

— O que? — ele pergunta, confuso.

— Maya – ela esta la fora esperando por nos.

Ele balança a cabeça.

— Ela ja foi. Era o seu ex-marido ligando – emergencia familiar com a mae dele ou algo assim.

— Oh.

Seus olhos icam dois tons mais escuros.

— Oh. — Como podemos ler a mente do outro, nos movemos ao mesmo tempo.

Ele trabalha para desabotoar sua calça jeans e eu empurro minha calcinha pelas minhas pernas.

Ele esmaga sua boca na minha e desliza sua mao entre minhas pernas, deslizando um dedo dentro de mim. Depois, dois.

Em seguida, ele esta me puxando para a borda do balcao e afundando em mim com um impulso profundo.

Ele engole meus gemidos com a boca, me penetrando sem parar. Fodendo-me com força. Rápido.

Ate eu nao estar mais assustada ou preocupada.

Ate eu parar de pensar no fato de que nao odeio Dean Evans.

E eu começo a me apaixonar.

— Eu nao posso acreditar que voce trouxe sua tartaruga para um jogo de roller derby1 .

— Eu nao posso acreditar que voce nao pode acreditar. Coloquei a cabana movel de Leo na cadeira ao lado da minha. — Ele tem parecido solitario recentemente. Com toda a chuva que estamos tendo, nao tive a chance de leva-lo ao parque. Ele precisa de alguma açao.

— Achei que as tartarugas fossem solitarias.

— Algumas sao, mas como ele cresceu com as pessoas, esta bastante acostumado com elas e nao se assusta facilmente. Ele e mais curioso do que qualquer coisa. — Eu bato na cabana com a minha junta, e ele bate o nariz contra ela. — Alem disso, veja como ele e fofo. Voce realmente acha que posso deixa-lo em seu terrario o tempo todo?

— Voce e tao estranho — ela murmura. Voce gosta do minha estranheza.

— Essa e a unica coisa que gosto em voce.

— Oh, eu tenho autoridade para isso, nao e verdade. — Eu coloco meus labios em seu ouvido, e ela estremece com o contato. — Voce gosta do meu abdomen. Minha boca. Meu peni–

Ela cobre a boca com a mao e eu rio, puxando-a para longe.

— Habilidades culinarias — eu termino.

— Em primeiro lugar, cozinhar e você sabe o que nem tem o mesmo som de vogal – voce esta alcançando. Em segundo lugar, eu sei melhor do que ninguem que suas habilidades culinarias sao lixo. — Seu cabelo ruivo balança enquanto ela mexe a cabeça.

— Muito em breve, River. Cedo demais.

Eu estava preocupado na semana passada no The Gravy Train que algo havia mudado entre nos, mas tudo voltou ao lugar quando saımos do banheiro.

Porem, algo a estava incomodando quando ela entrou, e eu aposto que era eu dizendo a Sam que estavamos namorando. Acontece que eu estava encurralado em um canto e tive que cobrir com alguma coisa. O humor de River mudou no momento em que eu disse que era seu namorado.

18 DEAN

Nao tenho certeza se ela icou chateada com o que eu disse, ou se ela queria que fosse verdade.

Qualquer uma das respostas me deixa suando.

Meu agente de seguros ligou esta manha para me informar que meu apartamento estara pronto na proxima semana, cerca de duas semanas antes do esperado. Por um lado, estou feliz por ter acabado com este iasco de incendio tao cedo. Mas eu estaria mentindo se dissesse que nao estou chateado porque meu tempo com River esta sendo encurtado.

Parece que o relogio deste jogo que estamos jogando esta diminuindo e estamos nos aproximando da campainha inal.

A parte mais louca? Eu quero continuar jogando.

So nao tenho ideia de qual time River esta.

— Nao tenho literalmente nenhuma ideia sobre esse esporte — diz ela, folheando o programa. — Voce vai ter que explicar.

— Seu palpite vai ser tao bom quanto o meu. Eu sou virgem de roller derby.

— Nao se preocupe — Caroline diz na nossa frente. — Vou pedir a Cooper que explique a voce quando ele voltar com os lanches. Ele ama isso.

— Coop esta aqui? Obrigado porra. Achei que teria que suportar passar mais uma noite sozinho com River.

— Ei!

— Estou brincando, estou brincando. — Eu jogo meu braço em volta de seus ombros, mas ela me empurra.

— Nao me toque — ela diz.

— Uh-huh. Apenas lembre-se disso mais tarde, quando voce estiver me implorando para fazer exatamente o oposto.

Uma risadinha vem atras de nos e espio quem esta ouvindo.

E a mulher do elevador, aquela que disse que sempre soube que ıamos icar juntos. Ainda nao consigo lembrar o nome dela.

— Um casal tao fofo. — Ela sorri. — Quando voces dois começaram a namorar?

— Uh… — Eu coço minha barba por fazer.

Uma coisa e dizer a uma criança de 12 anos que estamos namorando para nao explicar o termo ADF2 , outra e usar a mesma mentira com outra pessoa.

Isso começa a tornar a mentira muito mais real.

— Ha pouco mais de um mes — River responde.

Eu levanto uma sobrancelha para ela, e ela encolhe os ombros com um sorriso.

Cerca de dez pessoas ao nosso redor, a maioria do nosso predio e algumas da lanchonete, murmuram e resmungam. Alguem sentado tres assentos grita de alegria.

— Paguem, otarios!

Caroline gira em sua cadeira, carrancuda para nos. — Voces dois acabaram de me custar cinquenta dolares.

O dinheiro começa a mudar de maos, todos repassando para a velhinha sentada no inal. E Mailbox Betty, um apelido ganho por icar sempre sentada perto das caixas de correio bisbilhotando pacotes e conversas. Todos no predio sabem que ela e a rainha da fofoca.

— Eu disse a todos voces! — Ela recolhe o dinheiro que vem em sua direçao. — Tive um palpite.

— Um palpite? Voce e apenas uma morcega velha intrometida!

— Alguem grita de duas ileiras a esquerda atras de nos.

— Uh, o que diabos esta acontecendo? — River pergunta, olhando ao redor da multidao. — Caroline?

Ela estremece, seus olhos azuis de desenho animado cheios de terror e remorso.

— Historia engraçada…

Eu ri, lembrando o que River disse sobre essa frase.

— Estava acontecendo uma especie de... piscina — continua Caroline. — No predio e na lanchonete.

— Uma piscina?

— Como uma piscina de apostas gigante — eu digo. Sento-me, cruzando os braços com um sorriso divertido. — Seus idiotas, voces tem apostado em nosso status de relacionamento, nao e?

Varios deles balançam a cabeça para cima e para baixo.

Eu ri.

Claro que sim.

— O que! — River explode, pulando de sua cadeira. — Voces tem apostado seriamente em nos? — Mais acenos. — Isso e tão confuso em muitos nıveis. — Ela volta seu olhar aquecido para Caroline. — E voce sabia? Participou?

Ela tem a decencia de parecer envergonhada.

— O vencedor pode pagar o aluguel de um mes inteiro.

— Voce esta tão demitida! — River diz.

O queixo de Caroline cai e eu balanço minha cabeça.

— Nao, voce nao esta.

— Cale a boca, Dean. Ela tambem. — Ela aponta para os outros jogadores. — E ha! A piada e com todos voces porque nao estamos namorando. Somos apenas amigos com benefıcios.

Varias pessoas trocam olhares, todas se olhando para ver se alguem tinha essa informaçao.

Entao, um por um, todos caem na gargalhada.

— Oh, querida — Mailbox Betty diz, enxugando seus olhos. — O que voces dois sao não sao amigos com benefıcios. Voces estao namorando.

— Nao, nao estamos! — River argumenta de volta. Deinitivamente não estamos namorando.

Eu me arrepio com a dureza em sua voz. Como se ela nao conseguisse sequer imaginar alguem sugerindo tal coisa de maneira seria. Como se namorar comigo fosse a pior coisa do mundo.

Acho que agora nao preciso me preocupar – ela claramente nao sente o mesmo que eu sobre continuar com isso.

Essa dor peculiar retorna, e eu esfrego meu peito, tentando fazer ela ir embora.

Varias pessoas nos dao um sorriso triste com a insistencia contınua de River. Algumas pessoas juntaram as cabeças, sussurrando e apontando.

Está bem então…

Um par de patins desliza em minha periferia enquanto Lucy patina para parar na nossa frente. Ela remove o protetor bucal, levando as maos aos quadris.

— Quem ganhou? — ela pergunta.

— Lucy! — River adverte. — Voce tambem?

Nossa sındica do predio sorri. — Quem voce acha que organizou isso?

Eu rio, e isso chama a atençao de River.

— Por favor, nao me diga que você também está nisso. Diga-me que isso nao e uma versao de Ela é tudo isso ou algo em que o cara gostoso faz a garota idiota dormir com ele em troca de uma aposta.

— Em primeiro lugar, estou tao feliz em saber que voce me acha gostoso. Em segundo lugar, nao, nao estou nisso. Estou tao surpreso quanto voce. — Eu olho ao redor do grupo. — E lisonjeado que todos se preocupam tanto com a minha vida sexual.

Alguns deles riem.

River cai de volta em sua cadeira. — Idiotas. Todos eles.

— Apenas uma diversao inofensiva — diz Lucy, batendo seu skate contra o pe de River. — Nao queremos dizer nada com isso, querida, embora eu esteja feliz que voces dois inalmente icaram juntos.

— Mas nos–

— Oh, apenas de um tempo e aceite, River — Caroline fala. Estou surpreso porque ela e normalmente muito tımida e quieta. — Voces estao dormindo e morando juntos. Voces fazem tudo juntos, inclusive irritam o resto de nos com a sua vontade, eles não vão falar mal. Basta dizer o que e: voce esta namorando.

— So para constar, estou com ela — diz Lucy. Ela me olha. Ouvi as boas notıcias sobre o seu apartamento. Voce esta animado para voltar la?

River congela perto de mim.

Porra. Eu coloco um sorriso falso para Lucy. — Sim. Mal posso esperar.

Ela balança a cabeça, sorrindo para mim, mas seu sorriso nao alcança seus olhos. — Bom. Isso e... bom. Bem, e melhor eu começar a apitar. O jogo esta prestes a começar. Agradeço por voce ter vindo ver esta velha patinar em um monte de cırculos.

Ela bate no pe de River novamente, chamando sua atençao.

— Voce nao esta sozinha em seus sentimentos.

Com uma piscadela, ela desliza para o centro da pista.

— O que e que foi isso? — Eu pergunto.

River encolhe os ombros, olhando para Lucy, o rosto torcido em confusao.

— Eu nao tenho ideia.

— Huh.

— Ei, pessoal Cooper diz, deslizando entre os assentos. — O que eu perdi?

Caroline coloca o polegar sobre o seu ombro.

— Voce deve cinquenta dolares a Mailbox Betty.

Mal trocamos dez frases desde que Lucy deu a notıcia de que meu apartamento esta quase pronto.

Por um lado, ico feliz que River nao diga nada sobre isso. Eu nao tenho que ouvir se ela esta animada ou nao por eu estar saindo

E por outro, isso me deixa absolutamente louco.

— Voce ia me contar, certo? — Ela se vira para me encarar, olhando para mim com olhos redondos. — Sobre o seu apartamento. Voce ia me contar antes de sair?

— Nao. Eu so ia arrumar minhas coisas e sair. Seu queixo cai e eu rio.

— Sim, River. Claro que eu ia te contar. Por que nao?

— Seria... eu nao sei. — Ela levanta um ombro. — Estranho? Dissemos que querıamos evitar isso.

Dissemos muitas coisas, como nenhum anexo.

Eu estraguei tudo regiamente.

Fiquei muito confortavel aqui no mes passado. Voltar para o meu apartamento vai ser difıcil, provavelmente mais difıcil do que eu pensava.

Nao vai ser mais difıcil do que superar essa coisa que estamos fazendo e ingir que nada aconteceu.

Mas se é isso que River quer...

Eu levanto minha mao para seu ombro e arrasto meus dedos para baixo em seu braço em golpes lentos e doces. Sua pele se endurece sob meu toque, e posso ver seus mamilos tambem. — Nos dissemos isso, mas acho que espero que voce me conheça melhor agora. Depois de... tudo.

— Tudo — ela repete baixinho.

Estou com River ha mais de um mes, vi partes dela que so sonhei em ver.

Mas neste momento?

E o mais nu que ja estivemos.

Deitado na sala silenciosa, nada entre nos alem de um lençol.

— Quando?

E sussurrado tao baixo que quase nao ouço.

— Na proxima semana — digo a ela.

Ela exala lentamente e acena com a cabeça.

Inclinando-se para frente, ela coloca seus labios contra os meus. Nao me beijando, apenas descansando-os la enquanto ela me empurra de costas. Ela balança a perna sobre meu quadril, montando em mim.

Meu pau roça contra o calor entre suas pernas, e o desejo que sempre pareço ter por ela ganha vida.

— Entao e melhor fazermos valer a pena, Dean. E nos fazemos.

RIVER

Eu iz algo hoje que nao iz em todos os cinco anos que fui proprietaria do Making Waves.

Liguei dizendo que estava doente.

Caroline era compreensiva e eu desprezava a pena em sua voz. Quase me vesti e fui trabalhar so para irrita-la por causa disso.

Em vez disso, iquei plantada no sofa o dia todo assistindo programas de TV de merda para os quais nao dou a mınima.

Ja se passou quase uma semana desde que Dean foi embora e desde que eu o vi, embora ele ainda more ao lado.

Eu era uma covarde completa na manha de sua mudança. Corri para o trabalho mais cedo para evitar o constrangimento inevitavel e iz questao de chegar em casa muito tarde, quando sabia que ele ja teria partido ha muito tempo.

Agora, depois de uma semana sem um vislumbre dele, o arrependimento esta afundando como uma pedra. Meu estomago esta todo torcido em nos.

Punhos batem contra a minha porta, e meu coraçao palpita com antecipaçao.

Dean.

— River. — A voz de Maya lutua atraves da porta. Não Dean.

Otimo. Caroline deve ter dito a ela que eu nao fui trabalhar.

Eu sei que preciso responder, ou ela vai icar parada o dia todo, e nao preciso arriscar que ela esbarre em Dean.

Com relutancia, eu me levanto do sofa, tentando ignorar o terrario perdido enquanto passo pelo console e abro a porta da frente.

Seus olhos varrem sobre mim enquanto ela avalia meu estado com uma carranca.

Estou ciente de que estou usando minha “roupa de termino de namoro” padrao – minhas leggins e minha camiseta com um monte de buracos – mesmo que tecnicamente nao tenhamos terminado.

Nunca estivemos juntos, entao como poderıamos?

19

— Eu te disse.

Eu suspiro, me afastando da porta enquanto ela me segue para dentro.

— Nao quero ouvir suas coisas de eu te disse isso, Maya. Eu te amo como uma irma, mas vou te dar um tapa.

— Eh, eu poderia ganhar de voce. Eu ja iz antes.

— Foi uma luta, e voce estava gravida. Eu nao consegui bater em voce!

— Uma vitoria e uma vitoria. — Ela ri. — Eu trouxe torta. Nao e cereja, mas e maça holandesa.

— Basta coloca-la no balcao. Eu nao estou com fome.

Ela desaparece na cozinha, depois volta e se senta na beirada do sofa, onde me enrolei novamente.

— Voce esta horrıvel.

— Caramba, valeu. Eu realmente precisava de um chute quando ja estou caıda. — Ela tenta tirar meu cabelo do rosto e eu afasto sua mao. — Pare com isso. Estou bem.

— Voce nao parece bem. Voce parece de coraçao partido.

— Isso via acontecer quando partirem seu coraçao.

Ela franze os labios. — Como voce pode estar com o coraçao partido se nao estava namorando?

Eu nao digo nada.

Um sorriso malicioso desliza em seu rosto.

— Voce ama ele. Voce esta apaixonada por ele.

— Eu estou apaixonada por Dean? Por favor. Eu– OUCH!

Ela me bate com força na bunda .

— Que diabos, Maya? — Eu grito, esfregando minha nadega ja dolorida.

— Isso doi? Eu concordo. — Bom. Agora pare com isso e va dizer ao seu vizinho idiota que voce esta apaixonada por ele.

Suas palavras parecem loucas.

Mas em meu coraçao, nao importa o quanto eu tente negar, sei que sao verdadeiras.

Por mais que eu nao queira estar, estou apaixonada por Dean Evans.

Por todas as razoes pelas quais nao deveria estar apaixonada por ele, tenho mais dez motivos para que eu deveria.

Ele me irrita, mas tambem me faz rir. Discutimos muito, mas ele me desaia. Quase nao temos nada em comum, mas sempre me divirto com ele. Eu quero estar perto dele tanto quanto nao quero. Ele e gentil, ele e inteligente. Motivado e engraçado.

E ele de alguma forma conseguiu capturar completamente meu coraçao.

Eu esfrego onde ela me bateu. — Voce acabou de bater na minha bunda – provavelmente deixou um vergao – tudo por brincadeira?

— Nao. Sua bunda estava la por acaso, e e bastante estaladiça.

Ela pisca e um sorriso desliza pela minha raiva.

Eu balancei minha cabeça. — Sua vadia.

— Voce vai viver... mas so se levantar e falar com ele.

— Maya, eu te amo – amo mesmo – mas nao posso simplesmente ir ate la e icar tipo, Ei, eu te amo.

— E por que diabos nao?

— Porque ele nao sente o mesmo — murmuro, olhando para qualquer lugar, menos para ela.

— O que te faz dizer isso?

Eu aceno a mao em torno do meu apartamento triste e solitario. — Ele nao icou. Essa e a minha primeira indicaçao.

— Voce pediu a ele para icar?

Bem nao.

Mas eu sabia que ele nao faria. Ele nao tinha razao para isso. Nos concordamos. Uma vez que seu apartamento estava pronto, nos terminamos.

Ele icar signiicaria que icamos apegados.

Nao devıamos nos apegar.

Diga isso ao meu coração.

— Voce nao fez isso, entao realmente nao sabe se ele teria. — Ela ri sarcasticamente. — Voces dois... eu juro… — Ela aperta a ponta do

nariz. — Dean te ama. Aposto que vale um ano inteiro em torta de cereja do The Gravy Train que o homem esta de ponta-cabeça por voce.

Em que mundo ela acha que Dean esta apaixonado por mim?

Nos estivemos brigando um com o outro desde o dia em que ele se mudou. Morris escapuliu para fora e entrou em seu apartamento. Ele era como um pau quando trouxe para casa.

Nao nos demos bem por um unico dia depois disso. Nao ha absolutamente nenhuma maneira de ele estar secretamente apaixonado por mim.

Eu movo minha cabeça negativamente. — De jeito nenhum.

— Sim.. Todo mundo ve, menos voces dois, por algum motivo. Eu, Caroline, Lucy... todos nos vemos. Todo mundo, menos voce.

— Diga-me, o que voce ve que eu nao?

— Para começar, existem suas razoes estupidas para odia-lo. Eles sao disfarces obvios para a luxuria.

— Elas–

Ela levanta a mao. — Entao ha a maneira que nao importa o que aconteça, nao importa quantos insultos voce lance a ele ou quantas vezes voce faça cara feia, voce ainda e seu unico foco em uma sala. Ela sorri. — Lembro-me de uma vez que chovia la fora. Voce estava icando encharcada, tentando andar tao rapido quanto suas perninhas iriam leva-lo ate a lanchonete, mas simplesmente nao era rapido o suiciente.

— Sam apareceu com um guarda-chuva para mim. — Ela sorri.

— Isso foi Dean. Ele viu voce chegando e sabia que recusaria qualquer ajuda dele, entao colocou um guarda-chuva nas maos de Sam e o enviou para resgata-la.

Isso foi... Dean?

Eu lembro desse dia. Fiquei tao grata e comprei sorvete para Sam todos os dias durante uma semana inteira. O pequeno idiota.

— E nao vamos esquecer todas as vezes que ele comprou torta para voce.

— Roubou minha torta, voce quer dizer.

— E comprou tambem. Eu percebi logo no inıcio que ele estava pagando por isso e simplesmente deixou acontecer. Eu queria dar um tapa nele toda vez que te deixava toda nervosa por roubar sua torta e voce gritava com ele, mas ele nunca confessaria o que estava fazendo.

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— Ela revira os olhos. — Entao, ha todas as vezes em que ele vai a loja comprar presentes para sua mae e irma.

— Dean faz compras na boutique?

— Oh sim. Ela ri. — Frequentemente, na verdade. Natal, aniversarios, presentes de aniversario. Ele colocou uma boa quantia de dinheiro la.

— Eu nunca o vi la.

— Porque ele sabe que voce o expulsaria. Ele sempre faz compras quando voce nao esta la.

Eu... eu nao posso acreditar em tudo isso.

O que mais Dean esta por tras? E o que tudo isso signiica?

Nada. Porque ele não está aqui agora.

— Estou lhe dizendo, River, ele esta apaixonado por voce... embora nem eu tenha certeza de que ele sabe.

Ela esta errada.

So porque ele faz coisas para mim, isso nao signiica que ele me ama. Signiica apenas que ele e legal e talvez um pouco masoquista.

— Olha — diz Maya, levantando-se. — Eu so queria dar uma olhada em voce e trazer uma torta. Eu preciso voltar ao trabalho. Minha chefe e uma durona e nao quero me meter em encrenca.

Ela franze a testa quando eu nem sorrio de sua piada.

Com um suspiro, ela me da um tapinha no ombro e se dirige para a porta.

Quando eu ouço a maçaneta girar, eu olho para ela.

— Diga a ele, River.

Entao, ela se foi.

Eu ico aqui por mais meia hora antes de icar de pe e entrar no chuveiro.

Eu preciso de uma distraçao.

Algo para manter minha mente longe desse sentimento. Preciso me dedicar ao trabalho, de volta ao maximo, como antes, quando nao tive a chance de icar sentada me preocupando com minha vida amorosa.

Qualquer coisa para me impedir de pensar em Dean.

EU ODEIO ISSO AQUI.

Eu olho ao redor do meu apartamento vazio com uma sensaçao de peso no estomago.

Nao gosto disso so porque estou praticamente começando do zero e nao ha nada dentro.

E tudo o mais que esta errado.

Nada esta onde deveria estar. O layout esta invertido e nao ha nada aqui que pareça certo.

E engraçado... Eu adorava meu apartamento. Era meu lugar favorito no mundo. Um espaço so meu. Algo so para mim.

Agora, quando olho em volta, noto todas as coisas que estao faltando.

Começando com ela.

Eu suspiro, esfregando minha mao pelo meu cabelo e puxando as pontas em frustraçao. Estou entediado pra caralho. A solidao que nao senti no mes passado esta começando a aparecer.

Eu poderia ligar para Nolan e ver se ele quer uma cerveja, mas nem isso parece atraente. Tudo o que ele fara o tempo todo e olhar para mim com aquele olhar de eu lhe disse que ele treinou desde que me mudei, e preiro nao ser lembrado de como isso se tornou uma bagunça.

A concha de Leo bate contra o vidro de seu terrario e eu rolo minha cabeça para o lado para encontra-lo olhando para mim. Ele parece tao lamentavel quanto eu.

— Eu sei, amigo. Eu tambem sinto falta dela. Como se passou apenas uma semana quando parece um ano?

Eu quero ve-la.

Eu preciso ver ela.

Quero saber por que ela nao estava la na manha em que me mudei. Por que acordei com uma cama fria e nao a vi desde entao. Por que ela esta se escondendo em seu apartamento me evitando, quando isso nao parece nada com as promessas que izemos.

Quero saber por que ela nao me pediu para icar.

20 DEAN

Por que diabos eu quero icar?

Tenho que parar de pensar nisso. Tenho que parar de pensar nela.

Dissemos que voltarıamos a ser como as coisas eram antes. Era apenas sexo, apenas aliviando um pouco a tensao.

Sem compromisso.

Eu preciso me desprender dela. Eu me levanto do sofa.

Se ela quer que as coisas sejam normais entre nos, entao voltem ao normal.

Hoje e domingo e devo estar no The Gravy Train comprando uma torta de cereja.

E exatamente onde pretendo estar.

A semana toda eu me senti como um espetaculo de circo.

Toda vez que encontro outra pessoa no predio, ela me encara ou me da um sorriso triste, e sempre que entro no The Gravy Train, a mesma coisa acontece.

Como agora.

Acho que a notıcia de que estou voltando para o meu apartamento e de que River e eu nao estamos mais passando tempo juntos, tem viajado rapidamente entre os intrometidos.

Eu entro na ila para pedir meu cafe da manha, com Leo aninhado em segurança ao meu lado.

Normalmente, quando eu o trago aqui, ha pessoas escalando para ve-lo.

Hoje nao.

E como se eu fosse uma especie de paria e nao entendo por que.

Eu olho ao redor da lanchonete antiga, e quase todos que me olham nos olhos rapidamente desvia o olhar.

Tudo bem então. Esquisito.

Entao, eu a vejo.

E de repente nao vejo mais nada.

Ela esta sozinha. Uma xıcara de cafe e um saco de M&M'S que eu sei que ela passou muito tempo separando sentados na frente dela.

Seu cabelo ruivo, cuja visao faz meus dedos formigarem quando me lembro vividamente da sensaçao de te-lo enrolado em meu punho, esta puxado em um coque arrumado, algumas mechas caindo em torno de seu rosto. Sua camisa branca lisa se destaca contra o brilho de seu cabelo e seu short laranja queimado. Suas pernas estao cruzadas, a de cima balançando para frente e para tras com impaciencia enquanto espera por Maya e Sam.

Seus dedos estao ocupados empurrando os bombons de chocolate, e e o unico foco de sua concentraçao, entao ela leva um tempo para perceber meu olhar de desejo queimando atraves dela –mas eu sei no segundo que ela percebe.

Arrepios se formam em sua pele, e ela vira a cabeça na minha direçao.

Mesmo do outro lado da lanchonete, a diiculdade em respirar quando nossos olhos colidem e obvia.

Eu quero engolir essa respiraçao com a minha porque, porra, eu sinto falta de seus labios.

Ela se endireita em seu banquinho, empurrando os ombros para tras e desviando o olhar.

Eu sorrio, avançando na ila.

Eu acho que e para onde estamos indo com isso.

— Ei, Darlene — digo com um sorriso quando chego ao balcao da frente.

Ela nao retribui minhas gentilezas. Em vez disso, ela suspira. O que vai ser, Dean?

Ok…

— So uma fatia de cereja e um cafe, por favor.

— Estamos sem cereja.

— Sem? —Eu deslizo meu olhar para a estaçao de tortas, que obviamente contem duas tortas de cereja completas. Eu aponto para eles. — Ha alguns bem aı.

— Como eu disse, estamos sem — ela insiste.

Ah. Eu vejo.

Ela esta com raiva de mim pelo que aconteceu com River, embora nada tenha acontecido com ela.

— Posso pegar a maça entao?

— Sem. — Abobora?

— E verao, garoto. Voce sabe que isso e sazonal.

— E quanto ao blackberry?

—Voce esta com sorte – nos apenas temos alguns.

E claro. Porque esse e o tipo menos favorito de River.

Pego minha carteira para pagar e espreito para ela. Ela esta me olhando com um sorriso satisfeito no rosto. Pirralha.

— Darlene, eu, hum, iz algo para te chatear? Seus olhos voam na direçao de River. — Nao.

Eu suspiro. — Voce sabe que nao terminamos, certo? Nos nao estavamos namorando. Ela estava apenas me deixando icar la. Isso e tudo.

Darlene me olha ixamente. Eu nao nasci ontem, Dean. Eu sei que voces dois tiveram uma coisa e sei que voce saiu e voltou para o seu apartamento. Ela aponta para River. — Eu tambem sei que aquela garota nao apareceu aqui com um sorriso desde entao e perdeu o dia da torta de cereja toda a semana passada. — Um aceno de cabeça. — Se voce vai icar com a parte de "apenas colegas de quarto'', pode querer torna-la mais verossımil.

Com isso, ela sai correndo para pegar meu pedido.

Eu ico la parado, surpreso. River nao apareceu desde que me mudei? Isso e interessante.

E muito surpreendente.

Talvez minha mudança tenha tido mais efeito sobre ela do que eu pensava.

Obrigado — digo a Darlene quando ela desliza a torta e o cafe sobre o balcao. Eu jogo para ela uma grande gorjeta em seu frasco, apenas para faze-la se sentir mal por icar do lado de River.

Ela grunhe de novo e eu pego minha fatia, equilibrando meu prato na cabana de Leo com facilidade, algo que aperfeiçoei no ano passado.

Vou ate a mesa de River. Deslizo para o banquinho em frente a ela. Nao para ser um idiota e ferrar com ela, mas porque sempre me sento aqui aos domingos. Alem disso, e uma mesa da comunidade. Eu posso sentar onde eu quiser.

Lucy, que eu nem percebi antes, esta sentada em seu canto de sempre. Ela ri quando eu me abaixo, e eu lanço uma piscadela para ela.

— Ei, Lucy.

Outra risada. — Dean.

Pego meu prato da cabana de Leo e trabalho para nos situar.

— River — eu digo a ela, pegando um M&M verde.

Ela desliza todos para longe antes que eu agarre um. — Bundao. Ela nao esta me chamando de bundao. Ela esta usando como meu nome.

Meus labios se contraem. — Sem Maya e Sam hoje?

— Nao.

— Como voce tem estado?

— Estou indo muito bem — ela se encaixa. — Vou icar ainda melhor aqui em breve.

— E mesmo?

— Sim. Eu– oh bom! Aqui estao eles!

Ela estende as maos para as duas tortas cheias sendo empurradas em sua direçao.

— Obrigada, Darlene — ela diz. — Voce e a melhor.

— Qualquer coisa por voce, querida. — Ela sorri docemente para ela, entao atira adagas na minha direçao antes de retornar ao seu lugar atras do balcao.

River coloca suas tortas na mesa e abre a tampa de uma delas. Ela pega o garfo que eu nem percebi que ela tinha e enia nele.

Bem no meio.

— Isso esta errado em muitos nıveis. — Eu balancei minha cabeça.

Ela me ignora enquanto enia uma garfada de torta de cereja quente na boca, gemendo dramaticamente em torno do utensılio.

O som vai direto para o meu pau e ele estremece de excitaçao.

Em seguida, ela arrasta a lıngua lentamente sobre os talheres, certiicando-se de tirar até a última migalha dele, e eu tenho que abrir minhas pernas, precisando de espaço no meu jeans.

Eu engulo em seco, tentando me controlar.

Ela me da um sorriso malicioso.

Ela sabe o que esta fazendo comigo.

Faz pouco mais de uma semana desde que estive dentro dela, e isso e muito tempo para mim, especialmente com ela me torturando como ela faz.

— Uau. Acho que eles podem ter colocado um amor extra nisso hoje. Isso esta incrıvel!

Outra mordida. Outro fodido gemido.

Entendo. E uma vingança. Por todas aquelas vezes em que “roubei” a torta dela, embora tecnicamente sempre comprasse algumas para ela.

Mas ha algo mais nisso que parece... vingativo, especialmente porque estamos em publico e nao posso fazer nada a respeito.

E como se ela estivesse com raiva de mim por ir embora, quando foi ela que nunca me pediu para icar.

Parte de mim gostaria que estivessemos em qualquer outro lugar agora para que eu pudesse falar com ela sobre isso.

Outra parte de mim sabe que icar sozinho com River so vai levar a uma coisa, e deinitivamente nao faz parte do nosso plano de “voltar a ser vizinhos”.

Sem compromissos. Apenas vizinhos.

Da ultima vez que veriiquei, a maioria dos vizinhos nao fode um garfo bem na sua frente.

Que comece o jogo, River.

RIVER

— Espera!

Eu conheço essa voz.

Eu aperto o botao Fechar a porta do elevador repetidamente. Sem uso.

O braço de Dean desliza entre as portas no ultimo minuto, e ele as separa, balançando para dentro.

— Ei, cara — ele sacode o cabelo molhado — Eu disse espere Seus labios se abrem quando ve que sou eu, surpreso.

Ele se recupera rapidamente, sua lıngua saindo para umedecer os labios.

Tento esquecer como e bom sentir sua lıngua molhando outros lugares.

— Voce. — Seus olhos se fecham enquanto ele puxa o saco de supermercado encharcado que esta segurando mais alto. — Voce pressionou Fechar porta, nao e?

— Culpada. — Eu sorrio. Nao faz sentido tentar negar.

— Esta chovendo do lado la fora.

Eu encolho os ombros e ele se vira para a frente do elevador com um bufo irritado quando o elevador começa a subir.

Gotas de agua plop, plop, plop no chao.

Incapaz de me ajudar, eu roubo um olhar para ele com o canto do meu olho.

Mesmo encharcado, ele parece bem.

Seu cabelo preto esta uma bagunça, aquela barba sempre presente ao longo de sua mandıbula ainda esta la. Aquelas pernas longas e musculosas dele estao vestidas com um par de jeans que abraçam sua bunda muito bem. Ele esta usando uma camiseta do Metallica que esta molhada e apertada o suiciente para dar a imaginaçao algo em que se agarrar.

So nao preciso usar minha imaginaçao.

Eu sei exatamente o que esta sob essa camisa.

21

Sei o quanto ele gosta quando eu despejo beijos em seu estomago. O quanto isso o faz se contorcer e xingar quando eu corro minha lıngua sobre os musculos que ele trabalhou tao duro para construir. E como isso realmente o deixa selvagem quando eu arrasto minhas unhas em sua pele quando estou de joelhos por ele.

Sua mandıbula se contrai e sei que ele esta ciente de que estou olhando para ele. Tudo nele.

Incluindo a protuberancia que cresce constantemente a cada andar que passa.

Ele tambem esta pensando nisso?

E possıvel ouvir os trovoes mesmo dentro do elevador, e estou grata por eles cobrirem minha respiraçao gaguejante.

— Como esta Morris? — ele pergunta, quebrando a tensao.

Eu sei que ele nao esta realmente perguntando sobre meu gato. Ele abomina Morris.

— Melhor do que nunca — minto.

Ele grunhe.

A energia no predio acaba e o elevador para repentinamente. Eu perco o equilıbrio, caindo direto em Dean, que deixa cair suas compras em um esforço para me pegar.

Vai escurecer.

— Merda — ele murmura, envolvendo um braço em volta de mim e me puxando contra ele.

A energia oscila novamente e somos abalados para o outro lado.

Minhas costas estao contra a parede, um dos braços de Dean em volta de mim, o outro pressionado contra o teto acima de nossas cabeças.

As luzes piscam de volta a vida, e o elevador continua sua subida, mas desta vez muito, muito mais lento.

Nao nos movemos e mal respiramos.

Seus dedos lexionam na minha cintura enquanto ele abaixa a cabeça, seus labios encontrando um ponto no meu ombro exposto. Um beijo suave. Entao outro. E um terceiro. Tudo em uma linha, traçando meu pescoço enquanto seus dedos vao na direçao oposta.

Ele brinca com a barra do meu short curto de algodao, mergulhando os dedos perigosamente perto de lugares que ele nao deveria tocar enquanto continua a beijar meu pescoço. Nao tem como ele nao me sentir apertando minhas coxas juntas. De jeito nenhum ele nao sente o calor vindo entre elas.

Seus labios estao no meu ouvido quando o elevador apita, anunciando sua chegada ao nosso andar.

Seus dedos cavam em minhas coxas e ele fecha a outra mao em um punho que bate contra a parede uma vez. Em dobro. Como se ele estivesse lutando consigo mesmo.

O frio toma conta de mim quando ele se afasta, olhando para mim com olhos vıtreos e cheios de luxuria.

— Pronto — ele diz baixinho, a voz rouca como se ele fosse o unico morrendo. — Agora estamos ambos molhados.

Ele pega suas coisas e desaparece.

As portas se fecham e eu respiro pela primeira vez em muito tempo.

Se voce tivesse me dito ha mais de um mes que eu estaria de volta aqui na minha banheira bebendo uısque e comendo torta, eu teria rido.

Mas e exatamente o que estou fazendo.

Eu corto uma garfada de torta de cereja e dou uma mordida.

Imagine minha surpresa quando isso nao faz nada para saciar a fome dentro de mim.

E completamente culpa de Dean.

Suas travessuras no elevador ainda me deixam fora de controle horas depois.

Assim que recuperei minha compostura e cheguei ao meu apartamento, eu sabia que precisava fazer algo para me acalmar. Tentei meditaçao. Yoga. Ate tentei me masturbar, mas simplesmente nao era o mesmo que Dean tinha feito comigo.

Nada funcionou.

Nao ajuda que eu estava tao exausta esta manha quando meu alarme tocou que liguei dizendo que estava doente. Isso e duas vezes em duas semanas.

Eu culpo Dean por isso tambem.

E difıcil ve-lo. Para estar perto dele. Estou tentando continuar como planejamos, como se nada tivesse acontecido. Nao tornando isso estranho.

Mas a verdade e que e pura tortura ter que ve-lo.

A parte mais enlouquecedora de tudo isso e que esse sofrimento foi principalmente ideia minha. Claro, foi Dean quem sugeriu que aliviassemos a tensao crescente, mas eu tinha que ser tao inlexıvel sobre as regras? Por que alguma vez pensei que poderıamos voltar a ser como as coisas costumavam ser depois de tudo o que foi dito e feito?

Eu sabia.

Sabia que havia uma chance de eu me apaixonar por Dean. Mesmo que fosse minusculo no inıcio, estava la.

Mesmo assim, concordei com nosso acordo.

Eu queria um gosto tao ruim.

Agora eu tenho que viver com as consequencias de me apaixonar por ele.

Por que diabos eu achei que isso era uma boa ideia?

Porque Maya está certa – você nunca o odiou.

Eu nao iz.

Eu nao.

Mas eu gostaria de realmente odia-lo. Isso tornaria tudo muito mais facil.

Abandono minha torta e coloco o recipiente para viagem na borda, afundando ainda mais nas bolhas, saboreando o calor da agua. Eu permito que meus olhos se fechem, e aquelas malditas orbes verdes me assombram novamente.

Elas estavam la ontem a noite tambem. E na noite anterior. E o anterior.

Elas estao sempre la, olhando para mim no vazio de outra forma escuro.

Os olhos de Dean.

Brilhantes, bonitos e convidativos.

Eu sinto falta deles. Do seu calor. Sua risada. Esse sorriso. Ate mesmo ele roubando todas as minhas compras e brigando com Morris.

Eu sinto falta dele.

— STILL LIKE THAT OLD TIME ROCK ’N’ ROLL

Eu grito, pulando com o som repentino. Agua espirra por todo o banheiro, e ico instantaneamente irritada.

Eu não perdi isso.

— Dean! —Eu grito com o barulho, embora ele nao possa me ouvir.

Eu me empurro para fora da banheira, arrancando minha toalha da prateleira e caminho pelo apartamento.

Hoje não, Dean Evans. Hoje não.

Eu me seco rapidamente e desta vez tenho o bom senso de pelo menos envolver meu robe em volta da minha forma antes de abrir minha porta da frente e ir direto para a dele. Eu bato na madeira com tanta força que posso ouvir o barulho do meu apartamento.

BANG! BANG! BANG!

— Dean! — Eu grito novamente. — Abaixe isso! Alguns segundos se passam... e o volume aumenta.

— Oh, voce deve estar brincando comigo. — Eu rosno, batendo na porta novamente. — Dean Evans! Abra esta porta agora ou eu juro que vou–

Eu tropeço quando a porta e aberta, mas me recupero rapidamente, projetando meu queixo enquanto ele se inclina sobre mim com olhos brincalhoes.

Ele se encosta no batente da porta, cruzando os braços. Os musculos saltam e pulsam, e tento nao prestar atençao neles enquanto dou a ele um olhar de desprezo.

— River. O que te traz aqui?

Ha algo muito errado comigo.

Eu sabia que toca-la no elevador era uma ma ideia. Mas eu sabia que nao toca-la era igualmente ruim.

Levei cada grama de força que pude reunir para ir embora, apenas deixa-la em paz. Eu nunca tive que lutar tanto comigo mesmo antes.

River quer que as coisas voltem ao que eram antes. Ela esta insistindo nisso desde que me mudei.

Se e isso que ela quer, farei por ela.

Giro o botao do meu aparelho de som e a musica enche a sala.

Nao tenho duvidas de que e muito alto. Na verdade, estou disposto a apostar que ela estara batendo na minha porta em tres...

Dois…

Um…

BANG! BANG! BANG!

Eu sorrio.

Ve? Algo está errado comigo.

Eu nao posso evitar, no entanto. Eu sinto falta dela. Quero e usarei qualquer desculpa para estar perto dela. Mesmo que isso signiique que ela esta vindo aqui para gritar, pelo menos vou conseguir ve-la novamente.

Com passos lentos, faço meu caminho pelo corredor, deixando-a ferver antes de abrir.

Ela tropeça para tras, mas se recupera rapidamente. Ela empurra o queixo para fora, empurrando os seios para cima e me encontrando de frente.

Eu sorrio para ela, notando que desta vez ela foi pelo menos inteligente o suiciente para vestir um robe antes de vir ate aqui.

—River. O que te traz aqui?

—Nos realmente vamos ter uma repetiçao disso de novo? Da ultima vez que veriiquei, nao acabou muito bem para voce.

22 DEAN

Droga. Eu nunca vou viver sem esse fogo, vou?

Esqueça isso.

Eu inclino minha cabeça. — Mas acabou bem para voce, nao foi?

Ela sabe exatamente a que estou me referindo – todas as noites que passei em sua cama, todas as noites em que a iz gritar e a ajudei a encontrar alıvio.

Ela revira os olhos. — Sim, e daı? Eu adoro ainda morar ao seu lado, especialmente agora que voce pode me torturar da mesma maneira que fazia antes.

— E isso que estou fazendo? — Eu me inclino, perto demais porque posso sentir o cheiro loral do banho de espuma. — Torturando voce?

— Sim! — Ela joga as maos para o alto, e eu mal consigo segurar minha risada.

Ela parece ridıcula agora. Cabelo preso desordenadamente por um grampo. Um robe felpudo rosa brilhante enrolado em volta dela. Pes descalços e nenhum ponto de maquiagem.

Deus, eu a quero.

— Nao inja que nao sabe o que esta fazendo, Dean. Aquela manobra no elevador nao foi legal.

— Assim como nao foi legal voce praticamente fodendo aquele garfo com a lıngua na lanchonete ontem. Se voce quiser jogar jogos bobos, eu tambem posso brincar.

Com um rosnado, ela empurra meu peito, me empurrando para o meu apartamento.

Eu rio sombriamente. —O que? Vai ceder tao cedo?

— Nao!

Ela bate a porta, me perseguindo mais para dentro.

—O que voce esta fazendo, Dean? Voce esta me deixando louca! Devıamos voltar ao normal, nao nos torturar mais.

Eu trabalho minha mandıbula para frente e para tras, a frustraçao borbulhando enquanto ela me lembra das regras mais uma vez.

— Certo, as regras. — Eu bufo. — Foda-se as regras.

Ela aperta um dedo zangado em minha direçao. — Voce concordou com elas, Dean. Voce tambem disse isso. Quando seu apartamento estivesse pronto, nos terminamos. E foi o suiciente.

— Isso foi antes de eu saber que voce me possuiria completamente!

Ela tropeça com minhas palavras em voz alta.

Meu peito murcha, como se um peso tivesse sido tirado de meus ombros, e de repente e obvio para mim o que estava acontecendo o tempo todo.

Eu estava me apaixonando por ela.

Ah Merda.

Eu a amo Estou apaixonado por River White.

Eu tenho estado apaixonado por ela, provavelmente por mais tempo do que eu gostaria de admitir. Eu nunca a odiei. Acabei de conhece-la grama por grama porque era divertido mexer com ela.

Sempre a admirei, sempre desejei ve-la.

Nunca foi odio. Nunca fomos inimigos.

Somos apenas idiotas que nao conseguem ver o que esta bem na nossa frente.

— O-o que? Ela olha boquiaberta para mim com olhos arregalados.

Eu expiro lentamente e dou um passo em direçao a ela. Entao outro.

Ela engole quando estamos a apenas quinze centımetros de distancia.

— Voce me possui, River.

— Eu... Nao. Eu nao.

Eu concordo. — Voce faz. Voce sabe, e isso me deixa louco.

Ela me olha com os olhos cheios de surpresa, preocupaçao e confusao e muitas das mesmas coisas que estou sentindo.

— Nao sei quando aconteceu – talvez sempre tenha sido assim –mas e verdade. Voce e inteligente e engraçada. Voce me desaia a cada

fodido segundo de cada dia, sempre me mantendo na ponta dos pes. E voce e linda pra caralho em cima disso.

Ela zomba.

— Sim, tao gostosa agora.

— Mesmo agora, porque voce e tao autenticamente voce. Sem se desculpar por quem e e o que voce quer.

— Por favor. Quase nao consigo decidir o que quero para o jantar na maioria das noites.

— Pare de tentar me convencer do contrario.

Ela lança a lıngua para fora, umedecendo os labios. Seus olhos voam para o lado, olhando para qualquer lugar, menos para mim.

— Isso nao era o que deveria ser — ela disse calmamente. Eu concordo.

— Eu sei. Mas e apenas o que e. Sua respiraçao esta icando mais forte.

— Sem rotulos.

Outro passo.

— Eu sei.

— Sem pressao.

Outro, e estamos tao perto que posso ver os redemoinhos de cor em seus olhos.

— Eu sei.

— Sem compromissos, Dean.

Eu deslizo meu dedo sob seu queixo e inclino seu rosto para cima. Seu labio inferior esta preso entre os dentes e seus olhos estao cheios de tantas emoçoes.

Eu dou a ela um sorriso preguiçoso.

— Ops.

— Voce saiu — ela sussurra, deixando cair a testa no meu queixo. Eu pressiono um beijo no topo de sua cabeça.

— Voce nao me pediu para icar.

— Eu queria. Eu estava assustada. As regras…

q g

— Fodam-se as regras — eu repito.

Entao eu seguro seu rosto e clamo sua boca.

Eu a beijo lentamente. Suavemente.

Eu digo a ela que a amo sem usar as palavras.

Nos dois estamos ofegando quando eu inalmente puxo meus labios dos dela.

— Esta e uma ma ideia.

— Totalmente horrıvel — eu concordo.

— Somos vizinhos. E se isso nao funcionar? Entao o que acontece? Ja falhamos em tentar fazer as coisas nao icarem estranhas e voltar a ser como eram antes. Como vamos navegar atras de algo real?

— Acho que o que tınhamos era real.

— Estou falando serio.

— Eu tambem, mas se voce quer uma resposta para isso, que tal isto: se as coisas piorarem entre nos, voce pode ir embora.

Ela rosna. — Dean...

Eu ri. — Estou brincando. Um pouco. — Eu lambo meus labios secos. — Duvido que tenhamos que nos preocupar com o fato de nao dar certo.

— Por que voce diz isso?

— Porque nos sobrevivemos morando juntos uma vez, quando voce realmente me odiava. Nos vamos sobreviver novamente.

Ela mastiga o labio inferior, pensando sobre isso.

Finalmente, ela acena com a cabeça. — Ok.

— Ok?— Eu pergunto baixinho, roçando levemente minha boca sobre a dela.

— Ok, mas eu tenho que te dizer uma coisa primeiro.

— O que?

— Eu tambem as quebrei... as regras. Eu me apeguei.

Eu ri. — Nao brinca.

— Eu nao te odeio, Dean.

— Eu sei, River. — Eu suspiro contra seus labios. — Eu tambem nao te odeio.

EPILOGO

River

— DEAN! Serio! — Eu bato na porta da frente. — Eu estou tão cansada disso!

A musica e desligada e ele abre a porta, sem camisa.

Em nada alem de uma toalha.

— O que!

Eu levanto uma sobrancelha para ele, rolando meus olhos sobre seu corpo impecavel. — E melhor voce nao atender sua porta assim o tempo todo.

— E se eu izer?

— Entao sua namorada vai icar muito brava.

Ele revira os olhos. — Pelo menos ique muito brava aqui.

Ele me puxa para dentro, deixando a porta se fechar atras dele.

Ele me pressiona contra a parede mais proxima, seus labios caindo no meu pescoço. A barba por fazer em seu queixo roça minha pele, e se solta com o contato.

Ja posso sentir seu pau endurecendo.

Estamos namorando oicialmente ha tres meses, e um simples toque dele ainda deixa meu corpo em chamas.

E difıcil pensar que houve um tempo em que eu o odiei.

Ele ainda me irrita muito, mas isso apenas signiica que as coisas sempre serao interessantes entre nos. Ele ainda rouba minha torta, mas ainda a compra. E por todas as vezes em que ele e o pior vizinho de todos, ele compensa sendo o melhor namorado de todos.

Nao consigo me lembrar de uma epoca em que fui mais feliz.

— Por que voce esta batendo na minha porta, ainal? ele murmura contra mim.

— Sua musica estava muito alta.

— Isso seria culpa do seu gato.

— Morris? O que ele fez?

Ele olha para mim, as sobrancelhas tensas. — O idiota encontrou o caminho para dentro do meu apartamento. Ele se esgueirou ate o

banheiro e derrubou meu alto-falante do balcao. Tive que improvisar para o meu banho depois da academia.

— Lembre-me de agradece-lo.

— Ele arruinou o meu alto-falante, meu caro alto-falante. Nao estamos agradecendo a ele. Isto e como a terceira coisa que ele jogou no meu balcao nos ultimos meses. Isso nem inclui todas as vezes que ele se esgueirou aqui antes para me aterrorizar. — Ele ica boquiaberto. Voce tem treinado ele para me torturar, River?

Eu ri. — Nao, mas isso nao e uma ma ideia.

Ele balança a cabeça. — E exatamente por isso que tenho Leo. Ele e quieto, nao me responde e nao estraga minha merda. Eu voto para trocarmos Morris por outra tartaruga.

Eu suspiro. — De jeito nenhum!

— Vale a pena tentar. — Ele encolhe os ombros. — Voce sabe... existe uma maneira de evitarmos que seu gato se esgueire para o meu apartamento.

— Voce aprende a fechar sua porta e eu aprenderei a fechar a minha?

Ele sorri para mim. — Ou eu me mudo.

— Comigo?

Ele balança a cabeça lentamente, os olhos hesitantes. Nervoso.

Este momento e uma das poucas vezes em que vi Dean icar vulneravel e nao em seu jeito arrogante de sempre.

— Voce quer morar comigo? — Eu repito.

— Sim. A menos que voce preira morar comigo.

— Voce esta falando serio?

— Sim.

Dean quer morar junto. Aquilo e enorme. Mas, verdade seja dita, estou pensando nisso ha algum tempo.

Depois de icarmos oicialmente juntos, decidimos que morarıamos separados. Nao querıamos colocar nenhuma pressao extra em nosso relacionamento, e todos os motivos que tınhamos para fazer isso faziam sentido na epoca.

Agora, nao consigo pensar em uma unica razao para não vivermos juntos.

Ele encolhe os ombros. — Por que nao? Quer dizer, a sugestao e tao surpreendente? Da ultima vez que veriiquei, estamos namorando agora. Ja faz um tempo. Nao seria completamente insano da nossa parte dar o proximo passo. — Ele roça seus labios contra os meus. — Alem disso, pense em todas as maneiras de usar nosso tempo extra juntos.

Um sorriso lento aparece em meus labios quando ele usa uma variaçao do mesmo discurso que fez quando propos nosso acordo sexual justo. — Voce realmente acabou de usar o mesmo discurso comigo de novo?

— Depende. Funcionou de novo?

— Voce nao se lembra do que aconteceu da ultima vez que me apaixonei?

— Bem claramente. E eu nao sei sobre voce, mas estou muito feliz com os resultados.

— Eu tambem.

Seu sorriso se alarga. — Entao o que voce diz? Quer dar uma chance aos colegas de quarto de novo?

— Hmm… — Eu bato meu queixo. — Acho que nao e a pior ideia que voce ja teve.

— Preciso de uma resposta clara sobre este assunto, River.

Eu ri. — Sim, eu–

Assim como na primeira vez que entramos em um acordo maluco, ele me beija.

Assim como da primeira vez, meu coraçao vai a loucura.

E e seguro dizer que nao odeio Dean Evans.

Notas

[←1]

Roller derby é um esporte jogado por duas equipes de cinco membros que panam, na mesma direção, em volta de uma pista. A parda consiste em uma série de pequenos jogos, nas quais ambas as equipes nomeiam um jammer, que marca pontos ao ultrapassar os membros da outra equipe. Uliza-se pans de rodas paralelas, um capacete, joelheiras, tornozeleiras, punhos e boqueira.

Sigla para Amigos De Foda

[←2]
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