Caderno Casa Saudável - Quintal Vivo.

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EDIÇÕES PRIMO

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primatasdamontanha@gmail.com

Texto: Ricardo Moebus, Rodrigo Narciso, Rodrigo Quintela, Izabel Stewart, Gustavo Passos Colaboração Técnica: Leonardo Vianna e Vera Fróes Ilustrações, Diagramação e Preparação Gráfica: Sophia Felipe Referências: Félix Guattari, As Três Ecologias Francisco J. Abreu Matos, Farmácias Vivas Harri Lorenzi, Plantas Medicinais no Brasil Henry David Thoreau, Desobedecendo Maria das Graças L. Brandão, Circuito Plantas Medicinais

www.iecam.org.br 2012


De volta às raízes, às folhas, caules e flores É com alegria que trazemos a público esta pequena contribuição para a difusão do uso das plantas medicinais em seus territórios originais, escolha estratégica para enxergar a produção recíproca de saúde humana e ambiental. Pretendemos que este caderno, Volume 02 da série Casa Saudável editada pela PRIMO – Primatas da Montanha, possa ser um ato público em favor da valorização da flora nativa. Além dos efeitos propriamente terapêuticos que o uso das plantas medicinais possa trazer, almejamos também os efeitos ecológicos e antropológicos desta valorização, como promotora da conservação dos biomas em que vivemos. “Salvem plantas que salvam vidas” e “o cuidado recíproco entre homens e plantas”, resumem a intenção que anima esta iniciativa pela multiplicidade e diversidade da vida e pelo fortalecimento da auto-produção-de-cuidado. Desta forma, a defesa das plantas medicinais encontra-se em um privilegiado ponto de confluências e convergências entre a preservação da flora e fauna, a valorização das tradicionais tecnologias e saberes intuitivos de produção de cuidado, a resistência contra os monopólios nas práticas curativas e na produção de medicamentos. Pode-se obter das plantas medicinais, portanto, estes múltiplos impactos: *valorização do patrimônio genético contido na flora nativa, verdadeiro banco de germoplasma que nos cerca, com insubmissão aos padrões paisagísticos ou urbanísticos pré-estabelecidos, restritivos, muitas vezes excludentes da vegetação original; *utilização do patrimônio cultural imaterial contido nos tradicionais saberes populares intuitivos e empíricos sobre o uso das plantas; *preservação do patrimônio social contido nas redes sociais de solidariedade mútua, nas práticas coletivas de cuidado recíproco, na produção e reprodução de plantas, remédios e cuidados caseiros; *exercício do patrimônio político contido no direito ao cuidado de si, ao auto-governo do próprio corpo e das suas práticas cuidadoras. Ter a ousadia do simples gesto esquecido de recolher das ervas que habitam seu quintal, seus efeitos terapêuticos gratuitos, representa cada vez mais uma profunda desobediência à transformação da vida e da saúde em mercadoria.

Assa-peixe (Vermonia polyanthes L.) É um arbusto grande, de 01 a 05 metros de altura. Quando são fritas em gordura suas folhas liberam um aroma semelhante ao do peixe frito. Vem daí a origem de seu nome popular. É uma planta colonizadora de áreas abertas e facilmente encontrada em lotes e terrenos baldios. De sua florada obtém-se o famoso mel de assa-peixe, muito aromático. Na medicina tradicional é utilizada como diurético (estimulando a eliminação da urina), além de ser anti-reumática e muito usada em gripes, bronquites e resfriados.

Como usar: Você pode fazer chá de suas folhas e até das raízes, podendo utilizá-la logo após ser colhida, ou pode deixar secar e armazená-la. Dicas para a preparação de chás e colheita de raízes: De modo geral, para tudo que é macio, tenro (folhas moles, flores, sementes) é feito o chá abafado (infusão). Coloca-se água quente sobre a erva picada e abafa por 10 minutos. Para tudo o que é duro, (raízes, cascas, e folhas duras) é feita a fervura, (decocção), ferve-se a erva até 10 minutos. As raízes devem ser colhidas antes da evaporação do orvalho.


Candeia

Capeba

(Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish)

(Piper peltatum L., Piper umbellatum L.)

Pequena árvore de até 08 metros, suas cascas, folhas e flores tem poderosos efeitos antiinflamatórios. Pedaços de tronco e ramos grossos produzem uma chama tão viva que recebeu o nome de candeia por ser utilizada para iluminação durante as andanças noturnas.

Tem uma folha redonda muito grande e macia, com um pecíolo comprido, sendo utilizada para baixar a febre, como diurética e para melhorar o fígado. Alguns estudos sugerem a atividade desta planta contra a bactéria envolvida com a úlcera gástrica, a Helicobacter pylori. Também indicada contra inchaço nas pernas (edema). Externamente o cataplasma das folhas é utilizado para furúnculos e queimaduras.

Como usar: O chá abafado de raspas de madeira ou da casca deve ser aplicado em lavagens ou compressas locais, duas a três vezes por dia, para curar ferimentos externos. Dicas para a colheita de cascas: Antes da floração, e em partes, para não prejudicar a planta.

Como usar: Pode-se usar suas folhas refogadas ou cruas na salada, mas seu uso mais comum é o chá das folhas, geralmente deixando ferver alguns minutos. O cataplasma é feito macerando as folhas e colocando sobre a ferida, deixando agir no local. Dicas para a colheita de folhas: Colher bem desenvolvidas, depois da evaporação do orvalho e antes da floração.


Carqueja

Copaíba, Pau-d’óleo

(Baccharis genistelloides. Joch.Müll)

(Copaifera langsdorffii Desf.)

Subarbusto com 50 a 80 cm de altura, com caules e ramos trialados, é uma planta perene, comum em ambiente campestre. Muito amarga, é utilizada para problemas hepáticos, estomacais e intestinais. Possui propriedades digestivas, antiúlceras, antiácidas, hepatoprotetoras e reduz os níveis de açúcar no sangue. Tem um uso muito difundido em regimes para emagrecer, mas seu uso prolongado pode ser perigoso.

Árvore de grande porte comum na Mata Atlântica e Florestas do Cerrado. Seu uso tradicional é herança indígena, tendo sua principal aplicação no tratamento de feridas, como antisséptico, para evitar infecção e facilitar a cicatrização. Queimaduras e herpes também são tratadas com aplicação externa. Indicada para resfriados e tosses, tem ainda um uso confirmado por pesquisas laboratoriais para tratamento de úlcera de estômago.

Como usar: Faça uma infusão, derramando água quente em xícara com suas hastes e folhas picadas, e deixe por um minuto. Se não quiser um chá muito amargo, o melhor é tomá-lo logo após coar. Pode-se, além do chá, utilizá-la externamente macerando em feridas e úlceras. Não utilizar a planta quando estiver na floração, por causa da toxicidade. O indicado para chás é tomar uma xícara 3 vezes ao dia. Se tomar 7 dias, descansa 14 dias, se tomar 14 dias, descansa 28.

Como usar: O óleo é extraído do tronco, através de pequeno orifício feito no lugar certo, com todo o cuidado para não deixar ali uma ferida. O orifício deve ser tampado após a extração que acontece, em geral, na lua minguante ou nova. Você pode guardar o óleo e utilizá-lo externamente sobre feridas e machucados, e pode beber algumas gotinhas para tratar úlceras de estômago.


Embaúba ou imbaúba

Lobeira, fruta-de-lobo

(Cecropia glaziovii Snethl. e outras espécies)

(Solanum lycocarpum A. St. Hil.)

É uma árvore muito comum, com tronco geralmente fino e típica da vegetação de matas úmidas de litoral e de nossas serras. No tupi-guaraní, embaúba quer dizer pau oco. Chega a uns 15 metros de altura com vida média por ser uma árvore pioneira, ou seja, depois dela outras espécies mais definitivas virão. Tem uma madeira macia e meio oca, sendo muito apreciada por insetos, macacos e pelos pica-paus que a utilizam para fazerem seus ninhos. É indicada como diurética, para baixar a pressão arterial, como antiinflamatória, e tem atividade ansiolítica evidenciada em alguns estudos.

A fruta de lobo ou lobeira é uma árvore pequena, 03 metros de altura, com flores roxas e frutas redondas, maiores que uma laranja. Seu nome popular revela que o lobo-guará é um grande apreciador de seus frutos que podem representar até 50 % de sua dieta alimentar. O chá das folhas é utilizado contra infecções das vias urinárias e para melhorar cólicas abdominais e renais. A planta é usada ainda como diurética, calmante e antiinflamatória. Como usar: Tradicionalmente são feitos doces e geléias de seus frutos. Há ainda uso através do polvilho dos frutos imaturos. Mas o uso medicinal mais comum é o chá fervido de suas folhas. Dicas para colheita de frutos e sementes: Colher quando estiverem desenvolvidos e bem maduros. A colheita deve ser feita de preferência em dias de sol ou nublado.

Como usar: Utiliza-se as folhas na forma de cozimento, deixando ferver por 10 minutos.


Marcela

Picão, Carrapicho

(Achyrocline satureioides (Lam.) DC.)

(Bidens pilosa L.)

A macela, ou marcelinha, é uma erva perene, com florzinhas amarelas, que forma moita de 60 a 120 cm de altura, sendo nativa de campos e áreas abertas. Suas flores são usadas para enchimento de travesseiros. O chá de suas folhas, flores e ramos é usado para problemas gástricos, cólicas nervosas, como sedativo, contra diarréias, disenterias e como digestivo, analgésico, antiinflamatório e relaxante muscular. Estudos no Japão mostraram que extratos das flores inibiram desenvolvimento de células cancerosas.

Sazonal, com 50 a 130 cm de altura, é uma das plantas medicinais mais comuns de se achar. É considerada até mesmo uma erva daninha, com seu famoso carrapicho que gruda na roupa quando a gente passa: incrível estratégia eficaz de se espalhar por toda parte, pegando carona nos bichos. É diurética e utilizada contra angina, diabetes, disenteria e, também, como antiinflamatória e para baixar a febre. Estudos comprovam sua atividade, principalmente, para o fígado (hepatoprotetora e no combate a icterícia).

Como usar: Deixe as flores secarem em ambiente bem arejado, livre de mofo e insetos, e as utilize em travesseiros ou para fazer chás. Neste último caso despeje a água quente sobre a planta e deixe descansar por cinco minutos.

Como usar: Basta fazer o famoso chá de picão, no qual se deixa ferver todas as partes da planta.

Dicas para colheita de flores: Após a evaporação do orvalho, recém-abertas. Deixar sempre algumas para semearem espontaneamente.

A influência lunar ajuda na colheita. Na lua minguante colher tudo que cresce abaixo da terra. Na crescente e lua nova colher tudo que cresce acima da terra. A lua cheia é para observar e agradecer.


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